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CAPA | FERNANDA GENTIL

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Foto Elvis Moreira

CORRA FERNANDA GENTIL, CORRA

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Após fazer carreira no jornalismo esportivo, ela se desafia. Mulher e mãe, a jornalista tem pique para ser atriz, escritora e, agora, apresentadora do “Se Joga” (Globo)

_ POR NATÁLIA CARVALHO

Fernanda Gentil ao lado de Sandra Annenberg, no Prêmio Comunique-se, em 2017

“Se alguém desconfiou de mim por eu ser mulher ou achou que eu não fosse conseguir por esse mesmo motivo, não tive tempo de ver essa pessoa, porque estava muito focada em alcançar meus objetivo”

FERNADA GENTIL, 33 anos, é muitas em uma só. Mulher, mãe, jornalista, escritora e atriz, começou a carreira na cobertura esportiva, em 2009. Após dez anos na área, ela, que se define “movida a desafios”, ingressa em uma nova fase, agora no entretenimento, com o vespertino “Se Joga” (Globo).

Ela teve contato com o mundo esportivo desde cedo. Seus pais sempre a incentivaram a praticar esportes, o que a fez se apaixonar pelo estilo de vida saudável. Já federada no vôlei de praia, Fernanda se encontrou em um momento crucial de sua vida. Precisava decidir se seguiria dedicada ao esporte como profissão ou se faria uma graduação. Uma certeza ela tinha: não queria se distanciar do mundo dos esportes. Foi então que optou pelo jornalismo, pois assim teria a oportunidade de viver e falar de um assunto que tanto gosta.

Fernanda soube desde cedo o que queria. O SporTV era seu maior sonho e, após muita dedicação, em 2009 conseguiu integrar o time de jornalistas esportivos do canal pago. Em dez anos no esporte, cobriu duas olimpíadas e três copas do mundo. “Após passar por vários produtos e funções no canal, bateu em mim a sensação de missão cumprida e, ao mesmo tempo, uma vontade de novos desafios”, diz.

Foram muitos anos atuando em um ambiente predominantemente masculino, porém, ser mulher e estar na cobertura espotiva nunca foi uma questão para a jornalista. “Se alguém desconfiou de mim por eu ser mulher ou achou que eu não fosse conseguir por esse mesmo motivo, não tive tempo de ver essa pessoa, porque estava muito focada em alcançar meus objetivos”.

De personalidade cativante e espírito inquieto, Fernanda não fica muito tempo em um local e gosta de se aventurar em diferentes áreas. Em 2016, lançou seu primeiro livro, “Gentil como a Gente”

(Intrínsesa, 2016, 288 págs.), que tem como base o blog onde costumava escrever causos e conflitos de um casal que passa a viver junto. A página na internet bombou e o livro ganhou vida, com as histórias já publicadas e algumas novas, de autoria própria.

Alguns anos depois, Fernanda se desafiou de novo. Em 2019, fez parte do elenco do filme “Ela Disse, Ele Disse”. O público teve a oportunidade de ver uma outra versão da jornalista, a de atriz, no papel da mãe de uma adolescente. “A ideia de participar do filme chegou como um convite da Thalita Rebouças, uma amiga muito querida, e eu topei. Adoro aprender e descobrir se consigo ou não. Se eu sentir que posso acrescentar o mínimo que seja, me desenvolver como pessoa, eu quero fazer. O filme entrou exatamente em todos esses requisitos e foi uma delícia de fazer”, lembra.

Fernanda foi das telas para os palcos – haja pique! Em parceria com o ator e produtor Léo Fuchs, conhecido pelo trabalho em “Meu Passado Não me Condena”, ela voltou a escrever e encenar histórias sobre a vida pessoal e profissional de maneira descontraída na peça “Sem Cerimônia”. “Foi mais um desafio imenso pra mim, mas mais que isso, uma oportunidade para eu passar as mensagens que sempre quis passar”.

No palco, Fernanda está, pela primeira vez, mais próxima do público, sem uma câmera como condutora do que deseja falar que, no caso da peça, é propagar mensagens de amor e respeito ao próximo. “O retorno do público é o que me move para continuar com o ‘Sem Cerimônia’. Sem ele não existiria peça. Sempre com muito carinho, sempre de maneira muito quente, muito próxima, a gente promove até uma corrente no final da peça. É uma corrente do bem, com o único objetivo de ligar mais as pessoas mesmo sem se conhecerem. As lágrimas e as gargalhadas só me indicam >

Momentos de Fernanda Gentil no espetáculo “Sem Cerimônia”

Da esq. à dir.: Érico Brás, Fernanda Gentil e Fabiana Karla no “Se Joga” (Globo)

que realmente é uma receita que está dando certo”, comenta.

Dentro de casa

Fernanda teve o primeiro contato com a maternidade aos 22 anos. Muito nova, abraçou a criação do sobrinho, Lucas, que é filho biológico do irmão de sua mãe. O pequeno tinha apenas um ano e quatro meses quando a mãe biológica faleceu, e foi aí que a jornalista sentiu pela primeira vez o real significado do amor de mãe.

Após oito anos, chegou em sua vida Gabriel, que possibilitou à jornalista viver um outro aspecto da maternidade: o de gerar uma vida.

Em suas redes sociais, a apresentadora divide com os seguidores o dia a dia com os filhos e a relação com a também jornalista Priscila Montandon. Como toda mãe, e com a ajuda da companheira, se preocupa com a educação dos filhos. “Procuro tratar de todos os assuntos com eles de forma bem natural. Cada fase exige um tipo de abordagem e uma linguagem específica, e é muito importante estarmos atentas a isso pra não pularmos etapas e nem queimarmos cartuchos”, compartilha.

No momento em que a sociedade discute e aprende sobre a causa feminista e o machismo tóxico, a apresentadora se preocupa em introduzir os pequenos à realidade com muito diálogo. “Com o Gabriel tento quebrar esse conceito muito comum na idade dele de ‘meninos versus meninas’. Acho que essa segregação de atividades, cores e esportes por gênero é também a origem de muitas coisas ruins que a gente vê quando eles crescem”, diz. “Lucas, outro dia, estava assistindo futebol comigo e entrou uma comentarista falando do jogo. Eu olhei pra ele e provoquei: “ih, alá a mulher comentando futebol’. Ele me olhou, quase que com preguiça, e respondeu: ‘que que tem?’. Ou seja, bingo! Estamos no caminho certo”.

Dividida entre as exigências profissionais e os compromisso do lar, a jornalista se desdobra para sempre se

fazer presente no dia a dia dos meninos. “A quantidade de tempo que eu consigo ficar em casa, infelizmente, é sempre menor do que a que eu gostaria. E ainda assim me sinto privilegiada, porque sei da rotina de outras mulheres que precisam acordar antes de mim, dormir depois de mim, e ainda dar conta de muito mais coisas que eu”, fala. “Então, o mínimo que eu posso fazer é agradecer pelo que eu tenho, pelo trabalho, e valorizar muito mais a qualidade do tempo que tenho com a minha família, do que a quantidade”.

Há quatro anos, Fernanda falou publicamente sobre seu relacionamento com Priscila. Falar sobre o namoro nunca foi uma questão para as duas, mas sim “quando” falar. “O dia que o fiz só ficou marcado pra mim como um dia de muito carinho, acolhimento, abraço e amor, em casa e no trabalho”, lembra.

Fernanda sempre entendeu sua posição de privilégio sendo uma mulher famosa, branca, com uma boa condição financeira, e que vive dentro do que ela mesmo nomeia como “bolha”. Sabendo que essa não é a realidade de muitas pessoas, falar abertamento sobre seu relacionamento também foi uma maneira que encontrou de humanizar sua figura, se igualar e se aproximar de pessoas que vivenciam realidades distantes da sua. “Entendi que justamente por isso é importante que nós, da bolha, mostremos que temos muito mais a ver com o pessoal fora dela. Seja pela sexualidade, maneira de pensar, cor da pele, time ou pelo jeito de criar um filho”, observa.

Agora, seu mais novo desafio é a linha de entretenimento da Globo, com o “Se Joga”, onde divide a apresentação com Fabiana Karla e Érico Brás. Fernanda se preparou para entender um novo mundo, com linguagem e conteúdo diferente do que estava acostumada. “E sigo aprendendo”, finaliza. c

“O mínimo que posso fazer é agradecer pelo que tenho, pelo trabalho, e valorizar muito mais a qualidade do tempo que tenho com minha família, do que a quantidade”

Foto Elvis Moreira

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