REVISTA ESCOLAR
IMMUNITAS JUNHO 2022 | BIOLOGIA
ANÁLISE DA PANDEMIA: COVID-19 DOENÇAS AUTOIMUNES AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
ENTREVISTA A ESPECIALISTAS TESTEMUNHO DE DOENTES
A IMUNIDADE
01 03
Prefácio
04-05
Quem Somos
02
ÍNDICE
Introdução
Imunidade
07-10
Imunidade: Contextualização histórica
11-13
O nosso exército
14-16
Agenda de Imunização 2030
17-21
Efeito da alimentação
22-23
Entrevista ao Nutricionista
03
Vacinas
25-28
Vacinas
29-32
Tipos de Vacinas
33-35
Plano Nacional de Vacinação
36-37
Mitos
04
COVID-19
39-42
Pandemia de COVID-19
43-46
Teorias da Conspiração
47-48
Tipos de Vacinas
49-50
Mitos - Vacinas COVID-19
05
Doenças
52-53
Quando as nossas defesas atacam
54-56
Síndrome de Guillain-Barré
57-62
Lúpus (com entrevista)
63-66
Diabetes (com entrevista)
67
Informação desviante
68-69
Datas Comemorativas
PREFÁCIO Quando uma substância estranha entra no nosso
É importante para nós que a informação
corpo, o organismo gera uma reação imediata
apresentada seja confiável, tendo em conta o
para a combater. A isto chama-se imunidade. É
atual contexto social nas redes. Desta forma,
esta que assegura a nossa proteção e a de quem
esta revista é a consequência de largas horas de
nos rodeia. Mas subsiste uma questão: como
pesquisa
alcançá-la e preservá-la? A resposta passa por
epilogando num resultado do qual nos podemos
manter a população informada e ciente do papel
orgulhar. Conhecemo-nos no 5ºano e tinhamos
da imunidade na saúde à escala mundial. Com
em comum o amor à música. No desenvolver da
esta ideia em mente, resolvemos criar um
nossa
projeto que condensasse toda a informação
aprendizagem, espírito competitivo e um certo
complexa de forma acessível para o público em
aborrecimento perante a vida comum a parte da
geral, contribuindo assim para a despromoção da
nossa
desinformação. Foi no âmbito da disciplina de
comummente encontradas como um grupo, quer
Biologia que desenvolvemos este trabalho, de
mergulhadas em jogos de cartas, quer em longas
forma a complementar as nossas aprendizagens
tardes de estudo, sempre unido e pronto a
ao longo dos últimos anos. Somos um grupo de
enfrentar os obstáculos do mundo.
e
análise
amizade,
geração.
de
artigos
ligou-nos
o
Atualmente,
científicos,
amor
à
somos
alunas da turma B do 12º ano do Externato Cooperativo da Benedita, vindas por este meio apresentar-vos a revista Immunitas, coleção de artigos originais em redor do relevante tema que é a imunidade.
PREFÁCIO | PÁGINA 3
QUEM SOMOS Catarina Fialho, 18 anos Desde pequena que Catarina, a mais comunicativa, tenciona prestar um grande contributo à humanidade com uma participação ativa na pesquisa pela cura de uma das doenças mais mortais na nossa sociedade, o cancro. Agora, com 18 anos, esse seu sonho revela-se uma incerteza, mas isso não lhe tira a determinação que sempre teve e o seu desejo de infância de cruzar o seu futuro com a área da saúde. Apesar destas dúvidas quanto ao que o amanhã lhe reserva, que se mostram fonte de uma leve ansiedade, Catarina desanuvia enquanto se deixa absorver pelas páginas dos seus romances prediletos ou pelo vislumbre do oceano diante de si, sempre acompanhado pelo cheiro a maresia que tanto adora.
Diana Quitério, 18 anos Há anos presa num dilema sobre o futuro e o sentido da sua existência, Diana, a mais teimosa, debate-se interiormente entre um amanhã ligado à justiça ou à saúde, uma indecisão que reflete a sua maior certeza: querer fazer a diferença no mundo. Agora no auge dos seus 18 anos e ainda com a derradeira decisão por tomar, prefere cogitar na infinidade de sonhos que tem por concretizar e no mundo que a rodeia. Convicta de que a sua vida se rege pela Lei de Murphy, tenta antagonizar o tédio que a sociedade lhe oferece com uma das suas maiores paixões: escrever, deixando as palavras fluírem no papel para seu deleite. A imaginação? Essa vem das muitas séries
QUEM SOMOS | PÁGINA 4
que vê para combater a monotonia do mundo.
Madalena Machado, 17 anos Aos 17 anos, Madalena, a mais sensata do grupo, divide o seu tempo entre as futilidades do dia a dia e as imensas atividades de que tanto desfruta. Com o sonho de marcar a diferença, foi enquanto brincava aos médicos com a irmã que descobriu a sua vocação, na área da saúde. As muitas incertezas da sua vida são fonte de inquietude, que alivia ao tocar um qualquer instrumento musical, uma das suas grandes paixões, ou ao praticar o seu desporto preferido, basquetebol. Quando a realidade a aborrece, pode ser encontrada a desfrutar do sol enquanto se perde num maravilhoso policial, ou mesmo a divertir-se com a adrenalina causada pelo mundo virtual. Aventureira nata, está sempre disposta a alinhar em novos desafios.
Margarida Sardinha, 18 anos À tenra idade de 18 anos, Margarida, a única no grupo que mantém um sentido de organização, medita sobre a condição humana e a destruição lenta, mas certa, do universo pela sua própria espécie. De modo a apaziguar tal angústia, ela entrega-se aos prazeres fantasiosos de Dungeons and Dragons, literatura distópica a não fictícia, assim como distrações digitais de inúmeros géneros. Ela entretém o seu mal de vivre com um consumo, talvez excessivo, de café e bebidas dele resultantes, além da prática de badminton. Apesar de considerar o futuro como algo imprevisível, ato que pensa trazer pouco benefício à sociedade como um todo, levanta-se diariamente para num futuro consideravelmente próximo poder deixar a sua marca no mundo, convencendo de vez a União Europeia a autorizar a pesquisa e plantação de organismos geneticamente modificados.
QUEM SOMOS | PÁGINA 5
IMUNIDADE
Imunidade Contextualização Histórica O conceito de imunologia surgiu em 1882, criado pelo biólogo Elie Metchnikoff. Esta é a
área da biologia e da medicina que estuda a imunidade.
O
Dicionário
Merriam-Webster
define imunologia como sendo a capacidade de resistir a uma doença em particular, ao prevenir o
desenvolvimento
de
microrganismos
patogénicos ou ao combater os efeitos dos seus produtos. Os avanços neste campo têm vindo a notar-se ao longo dos últimos anos, em resultado de um trabalho desenvolvido pelos especialistas por séculos. Imunologia, como a conhecemos hoje em dia, é um ramo da biologia que cobre o estudo dos sistemas imunológicos em todos os organismos.
HISTÓRIA | PÁGINA 7
A
imunologia
mede
o
sobre indivíduos que se recuperaram da peste que
funcionamento fisiológico do sistema imunitário
assolava Atenas nesse tempo. Estes indivíduos,
em estados de saúde e de doença; disfunções do
que já haviam contraído a doença, recuperaram e
sistema resultantes em distúrbios imunológicos
tornaram-se “imunes” ou “isentos”. No entanto, a
(tais
primeira
como
hipersensibilidades,
e
contextualiza
doenças deficiência
autoimunes, imunológica
e
tentativa
intencionalmente
reconhecida
imunidade
a
de
induzir
uma
doença
rejeição de transplantes); e características físicas,
infeciosa chegou no século X, na China, onde a
químicas e fisiológicas dos componentes do
varíola foi endémica. O processo de "variolação"
sistema imunológico imunologia é aplicada em
envolveu a exposição de pessoas saudáveis a
várias disciplinas da medicina, particularmente nas
materiais de lesões causadas pela doença, seja por
áreas
oncologia,
colocação sob a pele, ou, mais frequentemente,
reumatologia, virologia, bacteriologia, parasitologia,
inserção de crostas em pó de pústulas de varíola
psiquiatria e dermatologia.
no nariz. Infelizmente, a variolação resultava,
Da vacina para a varíola em 1796 às diversas
ocasionalmente,
vacinas para a COVID-19 em 2020, a área da
limitando assim a sua aceitação. Seria apenas com
imunidade tem crescido em importância e eficácia
o
com um desenvolvimento com potencial futuro. O
tecnologias e da emancipação das ciências que se
conceito de imunidade a doenças remonta pelo
amplificaria, no futuro, o ramo da imunologia.
de
transplante
de
órgãos,
em
desenvolvimento
morte e
ou
expansão
desfiguração, de
novas
menos à Grécia no século V aC. Tucídides escreveu
HISTÓRIA | PÁGINA 8
JORNADA | PÁGINA 4
MARGARIDA SARDINHA
Fase I A Fundação da Imunologia 1901
Fase II Dos Anticorpos aos Linfócitos B 1930
Terapia de soro
Grupos sanguíneos
Emil Behring (1854-1917)
Karl Landsteiner (1868-1943)
Médico, investigador e empresário
Serologista
Prémio Nobel 1901
Prémio Nobel 1930
Antissoro do tétano Shibasaburo Kitasato (1853-1931) Investigador
1908 Fagocitose Elie Metchnikoff (1845-1916) Biologista e imunologista Prémio Nobel 1908
Teoria da cadeia lateral Paul Ehrlich (1854-1915) Médico e imunologista Prémio Nobel 1908
1913 Complemento Charles Richet (1850-1935) Fisiologista Prémio Nobel 1913
1950 Produção de anticorpos pelas células do plasma Astrid Fagraeus (1913-1997) Imunologista
1960 Tolerância imune adquirida Peter Brian Medawar (1915-1987) Biólogo e imunólogo Prémio Nobel 1960
1965 Linfócitos B Max Cooper (1933-) Médico e imunologista
1972 Estrutura química dos anticorpos Rodney Porter (1917-1985)
1919 Complemento Jules Bordet (1870 -1961) Médico Prémio Nobel 1919
Gerald Edelman (1929-2014) Bioquímico, Bioquímico e imunólogo Prémio Nobel 1972
1984 Redes idiotípicas
Almroth Wright (1861-1947)
Niels Jerne (1911-1994)
Bacteriologista e imunologista
Imunologista Prémio Nobel 1984
HISTÓRIA | PÁGINA 9
Opsonização
1989
1984 César Milstein (1927 - 2002) - Bioquímico
Recetores de reconhecimento de padrões
Georges Köhler (1946 - 1995) - Imunologista
Charles Janeway (1943-2003)
Prémio Nobel 1984
Imunologista
Anticorpos monoclonais
1990
1987
Complexo de histocompatibilidade maior
Recombinação Susumu Tonegawa (1939-)
George D. Snell (1903-1996)
Biólogo molecular
Jean Dausset (1916-2009)
Prémio Nobel 1987
Baruj Benacerraf (1920-2011) Geneticistas Prémio Nobel 1980
Fase III Linfócitos T, da função à instrução
Peter Doherty (1940-) - Veterinário e imunologista Prémio Nobel 1996
Teoria da seleção clonal Frank Macfarlane Burnet (1899-1985)
2011 Base molecular da imunidade inata
Médico e imunologista
Jules Hoffmann (1941- ) - Bioquímico e imunologista
1960 Tolerância imune adquirida Brian
Restrição da imunidade celular Rolf Zinkernagel (1944-) - Médico e imunologista
1958
Peter
1996
Medawar
(1915-1987)
Médico e imunologista Prémio Nobel 1960
Linfócitos T
Bruce Beutler (1957- ) - Imunologista e geneticista Prémio Nobel 2011
Células dentríticas Ralph Steinman (1943-2011) Imunologista Prémio Nobel 2011
Jacques Miller (1931-) Imunologista
HISTÓRIA | PÁGINA 10
Recirculação de linfócitos James L. Gowans (1924) Imunologista
2018 Bloqueio dos pontos de controlo para tratamento do cancro Tasuku Honjo (1942) - Imunologista James Allison (1948-) - Imunologista Prémio Nobel 2018
O nosso exército O sistema imunitário Criado para defender o corpo contra invasores como
microrganismos,
parasitas,
células
cancerígenas e órgãos transplantados, o sistema imunológico ou imunitário tem a capacidade de distinguir o que pertence ao organismo do que não pertence. Este processo baseia-se nos antigénios, substâncias presentes na maioria dos corpos, tanto nos invasores como, por exemplo, nos alimentos. A resposta imunológica normal, ou seja, a reação do sistema imunitário aos antigénios, consiste em: 1. Reconhecer um antigénio estranho possivelmente nocivo; 2. Ativar forças para defesa do corpo; 3. Atacar o antigénio; 4. Controlar o antigénio e finalizar o processo. Caso
se
verifique
uma
disfunção
no
sistema
imunológico, este pode também atacar os tecidos do próprio corpo, característica das doenças autoimunes. O organismo humano possui uma série de defesas, incluindo:
barreiras
físicas,
glóbulos
brancos,
linfoides.
O NOSSO EXÉRCITO| PÁGINA 11
moléculas, como anticorpos e proteínas, e órgãos
Barreiras físicas
Órgãos linfáticos
A primeira linha de defesa do corpo contra os
Além dos glóbulos brancos, o sistema imunológico
organismos invasores é constituída por barreiras
inclui também os vasos e órgãos linfáticos, primários
mecânicas ou físicas, como a pele, a córnea dos olhos
ou secundários. Os órgãos linfáticos primários são
e
particularmente importantes pois é neles que se
as
membranas
que
revestem
os
aparelhos
respiratório, digestivo, urinário e reprodutor.
realiza a produção de leucócitos, e incluem a medula
Enquanto estas barreiras permanecerem intactas,
óssea, onde os glóbulos são produzidos, e o timo,
muitos
onde as células T (glóbulos brancos especializados) se
invasores
não
conseguirão
penetrar
o
organismo, no entanto, quando uma barreira se
multiplicam
rompe (por exemplo, devido a uma queimadura), o
antigénios estranhos.
risco de infeção aumenta. As barreiras encontram-se
são
treinadas
para
reconhecer
defendidas por secreções que contêm enzimas
Moléculas
destruidoras de bactérias. O suor, as lágrimas nos
As imunidades inata e adquirida interagem, tendo
olhos, as secreções no aparelho respiratório e
uma influência ou mútua e direta, ou através de
digestivo e as secreções na vagina são exemplos de
moléculas que ativam outras células do sistema
barreiras.
imunológico, como parte da fase de mobilização das doenças.
Glóbulos brancos
O NOSSO EXÉRCITO| PÁGINA 12
e
Essas
moléculas
incluem
citosinas,
anticorpos e proteínas do sistema de complemento.
A segunda linha de defesa envolve os glóbulos
Estas substâncias não estão contidas nas células,
brancos, ou leucócitos, que se deslocam na corrente
encontrando-se dissolvidas na parte líquida do
sanguínea, entrando nos tecidos para detetar e atacar
sangue, o plasma.
os invasores. Esta defesa pode ser inata ou adquirida;
Algumas destas moléculas estimulam a inflamação,
passiva ou ativa.
resultante
Imunidade passiva é ganha quando se recebe
imunológico ao tecido afetado. Sangue é enviado ao
anticorpos diretamente em vez de ser o seu sistema
tecido a fim de ajudar as células a chegar ao seu
imunitário a produzi-los. É o que ocorre nos recém-
destino. Neste processo, os vasos sanguíneos sofrem
nascidos, que adquirem imunidade passiva por meio
dilatação, permitindo a passagem de um maior
da placenta, e nos que, por necessidade de proteção
volume
imediata,
com
característicos vermelhidão, calor e inchaço. O
anticorpos. Este processo oferece proteção imediata
objetivo de qualquer inflamação é conter a infeção de
mas pouco duradora, de apenas algumas semanas.
forma a evitar a sua propagação. Apesar de ser
Imunidade ativa, por outro lado, resulta da exposição
incómoda, a inflamação é uma indicação de que o
do organismo a uma doença, provocando a criação de
sistema imunológico está a funcionar eficazmente.
recebem
transfusão
de
sangue
anticorpos pelo seu sistema imunitário. Pode ser adquirida naturalmente, por exposição à doença, ou por vacinação. Esta estratégia resulta numa defesa muitas vezes vitalícia, ainda que apenas esteja ativa a longo prazo.
de
da
atração
fluidos
e
das
células
células,
do
sistema
resultando
nos
Resposta imunológica Uma resposta imunológica bem-sucedida aos invasores exige reconhecimento, ativação e mobilização, regulação e, finalmente, resolução.
1. Reconhecimento O primeiro passo na resposta imunológica é o
apresentadoras de antigénios. Uma vez ativadas, as
reconhecimento
sistema
células do sistema imunitário ingerem ou matam a
imunológico faz a distinção entre o que é próprio e
célula invasora, por vezes ambos, pela ação de mais
estranho ao corpo, usando os antigénios das células
que um tipo de célula defensora.
como moléculas de identificação.
Certas células do sistema imunológico, como os
dos
invasores.
O
são
macrófagos ou células T ativadas, libertam secreções
denominadas antigénios de leucócitos humanos
que atraem outras células ao foco do problema,
(ALH/HLA)
de
mobilizando, assim, as defesas do organismo. Por
histocompatibilidade (CPH/MHC). A combinação de
vezes, o organismo invasor secreta substâncias que,
HLA’s é praticamente única para cada indivíduo,
por si, atraem as células do sistema imunitário.
As
principais
reconhecida Quando
moléculas ou
pelo
as
de
identificação
complexo
próprio
moléculas
principal
sistema de
uma
imunológico. célula
não
correspondem a nenhuma reconhecida, a célula é identificada como invasora, acionando a resposta imunitária. Isto pode ocorrer com microrganismos originadores de doenças, mas também com células de
3. Regulação De modo a evitar dano ao organismo, a resposta imunológica deve ser cuidadosamente regulada. Esta função é dada às células T reguladoras (ou supressoras), que produzem citocinas, inibidoras da resposta imunológica. Estes mensageiros químicos
órgãos transplantados, por exemplo. Enquanto os leucócitos e linfócitos B têm a capacidade de reconhecer as células invasoras diretamente, os linfócitos T necessitam de ajuda das células apresentadoras de antigénios, como os macrófagos. Estas células ingerem e decompõem os célula. A célula T recebe esta mistura, reconhecendo a molécula de HLA e sendo consequentemente
Este processo termina com a eliminação do invasor, após o qual a maioria das células defensoras são autodestruídas e ingeridas pelas restantes células, denominadas células de memória. Estas últimas são retidas como parte da imunidade adquirida, onde, aquando de um ataque futuro, lembrarão as células, de modo a obter uma resposta mais eficaz. Em suma, o sistema imunitário, em toda a sua
2. Ativação e mobilização
complexidade,
tem
uma
função
essencial
no
A ativação dos leucócitos e linfócitos B dá-se
funcionamento normal do nosso organismo, servindo
imediatamente,
como a sua principal defesa.
quando
reconhecem
as
células
invasoras, enquanto a ativação das células T é mais demorada, dependente da ação das células
MARGARIDA SARDINHA
O NOSSO EXÉRCITO| PÁGINA 13
ativada.
4. Resolução
JORNADA | PÁGINA 4
invasores, combinando-os com as moléculas HLA da
evitam que a resposta continue indefinidamente.
Agenda de Imunização 2030
Nos últimos anos, o agravar de problemas
ambientais
e
sociais,
como
as
alterações
climáticas e as crises humanitárias, tem sido fonte
de
grande
organizações
e
preocupação
governos.
Face
entre a
estas
circunstâncias atípicas, o mundo enfrenta um número crescente de ameaças à saúde pública, com
surtos
e
novas
doenças
a
serem
identificados anualmente. A situação requere uma capacidade de resposta rápida, eficiente e flexível por parte das entidades competentes, que têm a imunização mundial como solução. Apoiados pelos resultados das últimas décadas, os especialistas admitem que esta é a estratégia mais viável e com mais potencial de êxito. Surgiu, assim, a Agenda de Imunização 2030 (IA2030),
uma
iniciativa
promovida
pela
AGENDA DE IMUNIZAÇÃO| PÁGINA 14
Organização Mundial de Saúde (OMS), que pretende fazer desta uma história de sucesso.
Por definição, imunizar é o ato de tornar imune ou resistente a um determinado agente infecioso, normalmente responsável por uma doença ou infeção específica e transmissível. A inoculação de vacinas é um dos métodos mais viáveis para alcançar esta condição de imunidade, uma vez que estimula o sistema imunológico do indivíduo e assegura a resposta desejada, promovendo a proteção do próprio e de quem o rodeia.
número de pessoas imunes e, consequentemente, um
particular às de difícil alcance. Confrontadas com as
menor índice de contágio. Assim, as vacinas são vistas
mais recentes estatísticas, que admitem que cerca de
como uma das mais importantes ferramentas de
1,5 milhões de mortes adicionais poderiam ser
saúde pública e o seu desenvolvimento por técnicas
evitadas se a cobertura global de vacinação fosse
progressivamente mais complexas tem sido um dos
aprimorada, agências como a OMS, o Fundo das
maiores e mais promissores avanços científicos do
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Vaccine
século XXI. Ao longo das últimas décadas, a eficácia
Alliance, a Fundação Bill & Melinda Gates e a Coalition
da
sido
for Epidemic Preparedness Initiative (CEPI), têm unido
comprovada uma e outra vez, tendo contribuído
esforços e financiado a expansão dos benefícios das
significativamente para a diminuição das taxas de
vacinas ao maior número número de pessoas possível.
mortalidade e morbilidade a nível mundial. Segundo a
O exemplo mais recente de colaboração entre estas e
OMS, é até possível equiparar estes resultados aos
outras organizações, durante o cenário de pandemia
que se obtiveram com outras intervenções de igual
global de SARS-CoV-2, demonstrou o potencial de
dimensão na saúde pública, tais como o saneamento
uma participação e empenho mundiais no combate a
básico ou a água potável. As estimativas mais
estes problemas. Garantir um acesso generalizado às
recentes apontam para que cerca de 2 a 3 milhões de
vacinas, os mais eficazes agentes de controle e
mortes sejam evitadas anualmente por conta das
prevenção de doenças transmissíveis e até mortais, é
vacinas, o que torna a imunização um dos pilares da
crucial para que estas consigam atingir o seu impacto
saúde global. Dados como estes apoiam a visão dos
máximo na saúde global. Uma das grandes metas é
especialistas e das organizações de saúde para quem
alcançar e ampliar o efeito de uma imunidade de
a vacinação à escala mundial é a melhor solução face
grupo, que tornará mais fácil erradicar doenças,
aos desafios que se impõem. O objetivo está traçado,
impedindo a sua propagação futura e surtos
porém existem ainda muitos obstáculos a ser
relacionados. Nas palavras de Amina Mohammed,
ultrapassados até que este possa finalmente ser
Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas, "Somos
cumprido. A maior fonte de inquietude são as
encorajados pelo desenvolvimento de vacinas seguras e
desigualdades que persistem no mundo, uma vez que
eficazes, mas a verdade é simples ninguém está seguro
conduzem a grandes desequilíbrios na distribuição
até que todos - todos, em todos os lugares - estejam
dos benefícios da imunização. A cobertura é
seguros, e nenhum país está seguro até que todos os
amplamente variável entre países. Populações como
países estejam seguros. Somente trabalhando juntos
as mais pobres, as mais marginalizadas ou as mais
podemos recuperar e construir um mundo onde todos
vulneráveis, em ambientes frágeis e dilacerados por
prosperem em paz, dignidade e igualdade num planeta
conflitos, têm poucos acessos aos serviços de
saudável. É possível, juntos.". Esta perspetiva sobre a
vacinação. A cada ano, 20 milhões de crianças não
situação é partilhada pela OMS, que admite que a saúde
recebem nem mesmo todas as vacinas básicas e
pública global depende da cooperação internacional e da
muitas
disponibilidade dos países para agir com eficácia na
imunização
das
perdem
grandes
as
massas
vacinas
que
tem
vão
sendo
introduzidas. Destas, mais de 13 milhões não recebem
vacinas
imunização,
por
segundo
meio a
de
OMS.
programas Apenas
com
tentativa de travar as ameaças emergentes.
de a
A imunização é tida como um dos cuidados primários
superação de problemas como estes será possível
de saúde e um dos mais fundamentais direitos
garantir o financiamento, fornecimento, distribuição e
humanos, pelo que deverá ser providenciada a todos,
AGENDA DE IMUNIZAÇÃO| PÁGINA 15
administração de vacinas a todas as populações, em
JORNADA | PÁGINA 4
Uma maior taxa de vacinação implica um maior
sem exceção. Para que estes altos níveis de cobertura
Estes objetivos gerais fazem parte de um plano
sejam
são
flexível e apto a quaisquer revisões que surjam no
indispensáveis programas nacionais de imunização
contexto de instabilidade do panorama mundial atual
fortes e um controlo inteligente das doenças, algo
e, decerto, da próxima década.
mais simples quando o mundo é visto como um só.
Questões como a falta de confiança e o custo das
Assim, a OMS propôs a Agenda de Imunização 2030
vacinas,
com o intuito de coordenar e definir as ações a nível
populacionais, as mudanças climáticas e desastres
global. Cocriada por países e organizações de todo o
naturais, os conflitos e as instabilidades políticas
mundo, a agenda foi apresentada na Assembleia
foram o ponto de partida para a delineação de
sustentados
e
até
exequíveis,
Mundial da Saúde e delineia uma estratégia e visões globais ambiciosas e abrangentes para a imunização no decorrer da década de 2021–2030. A iniciativa baseia-se nas lições retiradas do plano de imunização global em vigor durante a última década, o Plano de Ação Global para Vacinas, o que permitiu conhecer logo de partida os fatores decisivos para o sucesso do projeto. Com a visão de "Um mundo onde todos, em todos os lugares, em todas idades, beneficiam plenamente de vacinas para uma boa saúde e bem-estar" no horizonte, a IA2030 pretende inspirar e alinhar as atividades de toda
a
sociedade
de
forma
a
promover
o
investimento na imunização, considerado também um investimento no futuro. Atualmente, sabe-se que a
desigualdades,
as
deslocações
estratégias eficazes. No total, foram definidas sete prioridades estratégicas, todas com objetivos e áreas de foco próprios. Foram igualmente estabelecidos quatro princípios fundamentais que irão moldar a natureza das ações realizadas para atingir cada meta. Pretende-se
criar
programas
de
imunização
resistentes e que possam ser incluídos nos cuidados de saúde primários, assegurando deste modo a sua disponibilidade a todos. A IA2030 incentiva ainda a pesquisa e investigação associadas à descoberta de novas vacinas, atribuindo um papel essencial às instituições de pesquisa e aos desenvolvedores e fabricantes de vacinas. O foco é a criação de vacinas que protejam a saúde das populações a longo prazo e aumentem a sua esperança e qualidade de vida. Atualmente,
as
descobertas
anuais
mostram-se
promissoras, com um total de 19 introduções de
beneficiando indivíduos de todas as faixas etárias e
novas vacinas, fora as de COVID-19, relatadas em
provocando uma diminuição drástica no número de
2020. Segundo a OMS, mais de 20 doenças fatais
mortes
infeciosas.
podem agora ser prevenidas graças à imunização e,
Inevitavelmente, isto reflete-se num mundo mais
com a melhoria de técnicas que se tem verificado,
saudável e próspero. Deste modo, os três principais
admite-se um aumento neste número nos próximos
objetivos da IA2030 são claros:
anos. Para tal, é forçoso um investimento científico e
derivadas
de
doenças
Reduzir a mortalidade e a morbidade de doenças que se podem evitar por meio de vacinas para todos ao longo da vida; Aumentar o acesso equitativo e o uso de vacinas novas e existentes; Garantir boa saúde e bem-estar para todos, fortalecendo a imunização na atenção primária à saúde e contribuindo para a cobertura universal de saúde e desenvolvimento sustentável.
económico
por
parte
de
todos
os
países
e
organizações, previsto nas estratégias definidas na IA2030. Estas novas descobertas implicam ainda uma segunda fase, na qual as vacinas são implementadas nos programas de imunização nacionais e se tornam acessíveis. A última década foi inspiradora sob este ponto de vista, já que, desde 2010, 116 países introduziram novas vacinas, até aí excluídas dos seus planos de vacinação, mas ainda há um longo caminho a percorrer. DIANA QUITÉRIO
JORNADA | PÁGINA 4
AGENDA DE IMUNIZAÇÃO| PÁGINA 16
vacinação salva e promove a saúde das populações,
as
Efeito da Alimentação Na imunidade
A
alimentação é uma prática inerente à
existência dos seres vivos. Quando feita de maneira adequada, representa uma ferramenta fundamental para a manutenção da saúde e qualidade de vida. É sabido que os alimentos fornecem nutrientes imprescindíveis para o fortalecimento do sistema imunológico, tais como as Vitaminas A, C, D e E, e os minerais Zinco, Selénio, Ferro e Magnésio. Assim, principalmente em tempos de pandemia, devido às limitações impostas às rotinas e hábitos comuns, alimentar-se de forma saudável é crucial. Neste sentido, a escolha dos alimentos ingeridos deve ser feita de maneira consciente, tendo em conta os nutrientes presentes. O objetivo principal deste artigo é, portanto, informar sobre e motivar hábitos alimentares saudáveis que auxiliem na manutenção da saúde física e mental, com vista a melhorar a imunidade. ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 17
O sistema imunitário, responsável pela manutenção
anticorpos e a capacidade do corpo de responder
da saúde do indivíduo, é influenciado por um
à presença de agentes invasores. A vitamina A é
conjunto de fatores, entre os mesmos: a atividade
um nutriente que o corpo humano não é capaz de
física, o sono, e a alimentação. É possível modelar a
produzir por conta própria, obtido apenas através
alimentação
a
de uma dieta nutritiva ou através de suplementos
manutenção da qualidade de vida, principalmente ao
alimentares. Está presente em alimentos de
consumir alimentos variados e com boa qualidade
origem animal, como o fígado, leite e ovos; e em
nutricional em quantidade adequada.
vegetais e frutas de cor alaranjada e verde-escura,
Deste modo, o primeiro passo para uma alimentação
tomando como exemplo a abóbora, cenouras,
saudável prende-se com a seleção dos alimentos.
manga, rúcula, couve e espinafres.
Ingerir
modo
alimentos
a
naturais
contribuir
e
com
para
alto
valor
O ácido ascórbico, forma ativa da vitamina C,
nutricional tem sido cada vez mais desafiante, na era
atua como antioxidante, exercendo um papel de
da alimentação industrializada, método que em
diferenciação
muitos casos compromete a qualidade da mesma.
combater os radicais livres que se formam no
Tendo
estes
organismo em consequência do tabaco, poluição,
alimentos contribuem para o desenvolvimento de
radiação, entre outros fenómenos. Esta vitamina é
obesidade e doenças do foro cardiovascular, como a
também necessária para a síntese de colagénio,
diabetes ou hipertensão arterial, que reduzem a
que representa um quarto das proteínas totais do
qualidade e expetativa de vida. Nesse sentido, é
organismo humano e constitui a principal proteína
importante aprender mais sobre o valor nutricional
da pele, ossos e dentes. A vitamina C é
dos alimentos e qual a maneira mais adequada de os
comumente encontrada em citrinos, como a
inserir na dieta. Essa consciencialização irá dar a
laranja e tangerina. No entanto, está presente
entender que é possível tornar o menu diário mais
também noutros alimentos, tais como o kiwi, a
variado,
salsa fresca, papaia, castanhas e morangos. Estes
baixíssima
qualidade
saboroso
e,
nutricional,
principalmente,
nutritivo,
de
contribuem para prevenção de certas doenças,
indispensáveis numa dieta saudável:
inflamações e envelhecimento precoce.
contribui
para
manter
a
de
para
então uma lista com as vitaminas e minerais
A
fontes
essencial
alimentos,
vitamina
como
anticorpos,
melhorando assim o bem estar do sujeito. Segue-se
A
vitamina
C,
A vitamina D possui micronutrientes essenciais
integridade estrutural das células, atuando ao
para
nível da ação antioxidante, fortalecimento da
principalmente o regulamento do ciclo celular,
imunidade
imprescindível para o fortalecimento do sistema
e
regeneração
de
tecidos.
A
manutenção das células é importante para imunidade. A vitamina A auxilia o sistema imunitário a identificar, adaptar-se a e combater novos vírus, bactérias e outros microorganismos nocivos que entrarem em contato com o organismo. Ao ser absorvido pelo organismo, este nutriente estimula a produção de
os
imunológico,
processos
além
de
imunobiológicos,
atuar
como
imunomodulador no caso de certas doenças. Num país solarengo, a produção endógena de Vitamina D é geralmente assegurada, desde que haja exposição ao sol pelo menos meia hora por dia. Na alimentação, é possível obter esta vitamina em
JORNADA | PÁGINA 4
ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 18
de
óleos de fígados de peixes, nos peixes gordos, em
indivíduo. A ausência de selénio no organismo
bebidas e cremes vegetais, nalguns cereais de
torna o indivíduo mais propenso a contrair
pequeno almoço e no pão.
doenças virais. Felizmente, a deficiência deste mineral leva anos a desenvolver-se quando há
A
vitamina
E
trata-se
nutriente
uma ingestão alimentar adequada. As sementes,
antioxidante com alta capacidade de modulação
ovos, cogumelos, cereais e derivados são alguns
do sistema imunitário, a nível da multiplicação de
dos alimentos onde é possível encontrar maior
linfócitos.
papel
teor de selénio. Nas carnes, está muito presente
importante na proteção da membrana plasmática.
no bife bovino e no fígado de galinha, enquanto
Pode ser encontrada nos óleos de soja, milho,
no peixe se destacam a sardinha e o atum.
Desempenha
de
um
ainda
um
trigo e palma. O
zinco
é
um
mineral
que
atua
como
O ferro é um mineral essencial a uma alimentação
antioxidante, semelhante à vitamina C. No
saudável
da
sistema imunológico, desempenha a função de
de
proliferação e maturação das células de defesa.
transportar o oxigénio no sangue. Os alimentos
Por consequência, a carência desse mineral pode
de origem animal mais ricos em ferro são a carne,
resultar em infeções. O zinco contribui para
o peixe e os ovos. No que toca aos alimentos de
atividades
origem vegetal a escolher, feijão, lentilhas,
como regulador enzimático. Encontra-se nos
castanhas e linhaça são as opções a ter em conta.
alimentos de origem animal, incluindo a carne
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a
vermelha e branca, mas também nas ostras, frutos
deficiência de ferro é o distúrbio nutricional mais
do mar, leite e gema do ovo. É, também, possível
prevalente no mundo, e está associado a defeitos
encontrar o mineral nas sementes, castanhas,
tanto na resposta imune adaptativa quanto na
nozes, cereais integrais e leguminosas, embora a
resposta imune inata do organismo, acarretando
absorção de zinco proveniente de alimentos de
alterações significativas nas funções protetoras
origem vegetal seja inferior. Algo a ter em conta é
do organismo.
a necessidade de consumir zinco diariamente,
e
o
hemoglobina,
principal
proteína
com
constituinte a
função
O magnésio contribui no processo de produção de proteínas servindo de transporte de energia, manter
o
bom
funcionamento
celular.
Desempenha funções importantes ao nível da maturação, diferenciação e fortalecimento das síntese de nucleótidos e ácidos nucleicos. É nos cereais integrais, nozes, vegetais de folha verde e nas frutas e legumes que se podem encontrar grandes fontes deste mineral.
atuando
uma vez que o corpo não o consegue armazenar. A dieta desempenha um papel importante na determinação dos tipos de microorganismos da flora intestinal. Uma dieta rica em fibras e vegetais, com variedade de fruta, grãos integrais e leguminosas parece apoiar o crescimento e a manutenção de microorganismos benéficos. Certos dos mesmos quebram as fibras em ácidos de cadeia curta, que demonstraram estimular a atividade das células do sistema imunológico. Estas fibras são, por vezes,
O selénio atua diretamente na regulação do
chamadas de prebióticos, dado que alimentam os
sistema imunitário e é imprescindível à saúde do
microorganismos. Alimentos prebióticos incluem alho,
ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 19
células imunitárias. Está também envolvido na
fundamentais,
JORNADA | PÁGINA 4
ao
biológicas
cebola, aspargos, alcachofras, folhas de dente-de-
Vários estudos associam a deficiência de selénio à
leão, bananas e algas marinhas. Os alimentos
COVID-19, como um em que, entre os falecidos, foi
probióticos, por outro lado, contêm bactérias vivas
comum entre os casos a grave deficiência de selénio.
úteis, enquanto os alimentos prebióticos contêm
Quanto mais baixos os níveis desse mineral, mais
fibras e oligossacarídeos que alimentam e mantêm
exposto a complicações virais está o indivíduo.
colónias
Alimentos
Na atual situação pandémica, é necessário estar
probióticos incluem kefir, iogurte com culturas ativas
ciente dos tipos específicos de alimentos que podem
vivas, vegetais fermentados, chucrute, tempeh, chá
melhorar nosso sistema imunológico para combater a
de kombucha e kimchi. Portanto, uma dieta contendo
COVID-19.
alimentos probióticos e prebióticos pode ser benéfica.
dietéticas profissionais para resistir a infeções virais,
saudáveis
dessas
bactérias.
Seguem-se
algumas
orientações
que também podem e devem ser aplicadas no contexto não pandémico, uma vez que são sempre uma mais valia:
O primeiro indício de SARS-CoV-2 surgiu na China
Comer
em dezembro de 2019, tornando-se mais tarde na
morango, melão, toranja, abacaxi, mamão, laranja,
pandemia de COVID-19, que nos trouxe uma crise
goiaba) (4 porções).
sanitária global. O estado nutricional, afetado por
Comer vegetais frescos (alho, gengibre, couve,
certos fatores, como estilo de vida, idade, esta do de
limão, coentro, brócolo, pimenta verde) (5
saúde e sexo, é um fator importante na manutenção
porções) e leguminosas (feijão e lentilha).
de um sistema imunológico forte contra o vírus,
Comer cereais integrais e nozes, cerca de 180 g
sendo a ingestão adequada de zinco, ferro e vitaminas
(milho não processado, aveia, trigo, painço, arroz
A, B-12, B-6, C e E essencial para o bom
integral ou raízes como inhame, batata ou
funcionamento da função imunológica. É importante
mandioca)
frisar que estes nutrientes não prometem a cura da
A carne vermelha pode ser consumida uma ou
COVID-19, apenas auxiliando no combate à mesma.
duas vezes por semana e as aves 2 a 3 vezes por
O
impactos
semana. Consumir alimentos de origem animal
significativos na saúde, incluindo mudanças nos
(por exemplo, peixe, peixe, ovos e leite) e 160 g
padrões alimentares, hábitos de sono e atividade
de carne e feijão é, no entanto, recomendado.
física. Nalguns casos, estimulou comportamentos
Escolher frutas frescas e vegetais crus para
sedentários que afetam a saúde mental e física, além
lanches, em vez de alimentos ricos em açúcar, sal
de levarem a um risco aumentado de obesidade. Em
ou gordura.
geral, a vitamina C tende a formar um sistema
Evitar lanches irregulares.
imunológico forte, enquanto no que diz respeito à
Não cozinhar demais os vegetais, pois leva à
COVID-19, estudos evidenciaram que o zinco
perda de nutrientes importantes.
melhora os sintomas da doença, devido ao seu
Ao usar frutas e legumes secos ou enlatados,
potencial terapêutico, que contribui na modulação do
escolher variedades sem adição de açúcar ou sal.
sistema imunitário, ou seja, a sua atividade é direta
Preparar e servir os alimentos a temperaturas
contra o vírus. Uma das suas funções consiste em
aceitáveis (≥72°C por 2 minutos).
reduzir a formação de coágulos, fator de morte em
Limitar a ingestão de sal a 5g por dia.
confinamento
obrigatório
pacientes com COVID-19.
teve
frutas
diariamente
(maçã,
banana,
JORNADA | PÁGINA 4
ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 20
Sistema imunitário e alimentação: a relação com a COVID-19
Consumir gorduras insaturadas (abacate, peixe,
Nutrir-se ao fazer uma seleção adequada dos
nozes, soja, azeite, óleo de milho e girassol) em
alimentos é crucial para a saúde, uma vez que a
vez de gorduras saturadas (manteiga, carne gordurosa, óleos de coco e palma, queijo e creme). Beber 8-10 copos de água todos os dias. Ajuda a transportar nutrientes no sangue, elimina os
alimentação saudável se trata de uma estratégia para prevenção de e recuperação após doenças. Como tal, o conhecimento sobre quais alimentos devem ser escolhidos para melhor a imunidade é
resíduos e regula a temperatura do corpo.
imprescindível
na
tomada
de
decisão
no
Evitar refrigerantes gaseificados, concentrados e
processo de escolha alimentar. Agradecemos a
todas as bebidas que contenham açúcar.
participação do nutricionista Filipe Oliveira, que
Manter um estilo de vida saudável: atividade
contribuiu para o enriquecimento deste artigo.
física, meditação e sono regular. Quer o contexto de uma pandemia, quer no dia-a-dia comum, boas práticas alimentares são sempre recomendadas
para
minimizar
contaminação
por
ingestão
o de
risco
de
alimentos
contaminados. Como tal, seguem algumas medidas a tomar: Lavar os legumes e frutas antes de comer. Desinfetar objetos e superfícies sempre antes e após o uso. Usar diferentes tábuas de cortar e utensílios para alimentos
cozidos
e
crus
para
evitar
a
contaminação cruzada. Usar luvas ao preparar uma refeição para o público. Não expor ou vender alimentos desembrulhados ao balcão. Desinfetar com frequência as superfícies que entraram em contacto com outras pessoas, como maçanetas, balcões, etc. ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 21
MADALENA MACHADO
Entrevista
Falámos com Filipe Oliveira, nutricionista de profissão, com o objetivo de compreendermos o impacto que a alimentação tem no nosso sistema imunitário.
Filipe Oliveira nasceu a 2 de junho de 1992, nas Caldas da Rainha. É licenciado em dietética pela Escola Superior de Saúde de Leiria, parte do Instituto Politécnico de Leiria. Desenvolve a sua atividade em clínicas e instituições particulares de solidariedade social. Tem interesse em mudar comportamentos e fomentar hábitos alimentares mais saudáveis na população, nomeadamente nos mais novos.
Immunitas:
Existem
doenças
autoimunes
que
Além disso devemos também fornecer ao organismo
impliquem alterações alimentares? Se sim, pode dar
alimentos com densidade nutricional em detrimento
um exemplo?
de alimentos com densidade calórica.
ENTREVISTA: NUTRICIONISTA | PÁGINA 22
Filipe Oliveira: Existem variadas doenças autoimunes que implicam alterações alimentares. Na doença
I: Suplementos vitamínicos são uma forma eficiente
autoimune o sistema imunitário “confunde” as células
de robustecer o sistema imunitário, ou deve ser dada
com agentes invasores e ataca-as, em vez de as
prioridade à alimentação?
proteger. O lúpus eritematoso sistémico, doença
F: Na minha ótica devemos primar por uma
celíaca, diabetes mellitus 1, esclerose múltipla e
alimentação
anemia hemolítica são alguns exemplos. No caso da
alimentos sazonais e frescos. Temos uma variedade
doença celíaca, (esta) tem implicações na dieta, uma
de alimentos e condições climatéricas excelentes para
vez que é necessário fazer uma dieta isenta de glúten.
uma produção agrícola eficiente. Só em casos
equilibrada,
dando
preferência
por
excepcionais pode-se recorrer à suplementação I: Que alimentos ou dietas sugere para fortalecer o
vitamínica caso a pessoa não consigo obter um
sistema imunitário?
determinado nutriente com a dieta.
F: A melhor dieta é aquela que conseguimos manter durante a nossa vida. Deve ser variada e equilibrada
I: Chás e infusões herbais podem atuar como
para fortalecer o sistema imunitário. Paralelamente à
suplementos à alimentação para revigorar o sistema
dieta é extremamente importante equilibrar a mente,
imunitário?
praticar exercício físico e ingerir uma quantidade razoável de água, para o organismo estar em homeostase.
F: Sem dúvida alguma. A fitoterapia é excelente e
I: Considera que a sua área de trabalho ganhou mais
temos uma variedade de ervas, plantas e raízes que
importância desde o início da pandemia?
nos permitem obter um conjunto de propriedades em
F: Há um interesse em começar um regime alimentar
vista ao benefício do corpo humano.
saudável. Com a história do vírus, a questão do sistema imunitário acabou por ser muito falado e,
I: Observou efeitos da pandemia de Covid-19 na
assim, a preocupação em ter e manter um sistema
alimentação das pessoas?
imunológico fortalecido foi premissa levando, assim,
F: Sim. O stress, medo e ansiedade fez com que a
muitas pessoas à procura de um estilo de vida
maioria das pessoas alterasse os hábitos alimentares.
saudável. E um interesse em procurar alimentos mais
Podemos observar duas situações em pandemia /
equilibrados e saudáveis.
confinamento: os dedicados à cozinha e alimentação de prato; e os dedicados ao sofá e alimentação de
I: Considera que há falta de profissionais na sua
petisco.
área? F: Não (há) falta de profissionais, porém existem
I: Considera que a nutrição é um campo pouco
atividades e projetos diferenciadores que poderão
explorado ou com poucos recursos?
impactar a nutrição.
F: A alimentação tem sido muito explorada. No entanto, existem muitas teorias e mitos que acabam
I: O que diria a algum estudante interessado em
por confundir as pessoas de forma desnecessária.
trabalhar na área? F: É uma área desafiante, perceber todo o processo
I: Quais são as principais dificuldades que enfrenta
bioquímico do nosso organismo, e (compreender)
diariamente, como nutricionista?
algo que é transversal a todos os seres vivos, a
F: A falta de motivação e interesse em fazer mais e
alimentação. Mas também temos de ser conscientes
melhor. Somos bombardeados com notícias mais
de que a precariedade é muito frequente na área.
sensíveis e estamos a passar uma fase atípica o que
Porém se formos dinâmicos e com interesse em fazer
condiciona a nossa disposição e interesse em lutar por
diferente e melhor teremos sempre um lugar
nós.
garantido. ENTREVISTA: NUTRICIONISTA | PÁGINA 23
Immunitas: Obrigada pela sua colaboração!
VACINAS
Vacinas A inoculação em ação Tanto os níveis de contágio, como os próprios surtos associados a doenças infeciosas, têm registado um decréscimo nas últimas décadas, sendo este acompanhado pela igual diminuição nas
respetivas
taxas
de
mortalidade
e
morbilidade. Estes resultados são fruto da inoculação de vacinas, cujo desenvolvimento é considerado um fator transformador da saúde pública. Com o estabelecimento dos programas nacionais de imunização na década de 60, as vacinas mostraram ser uma das ferramentas com maior impacte na saúde e na qualidade de vida das populações a nível mundial.
À altura já havia sido observado em trabalhadores
primeira vacina contra a varíola, uma doença
responsáveis pela ordenha de vacas que uma infeção
infeciosa provocada pelo vírus Orthopoxvirus variolae,
com varíola bovina podia evitar o contágio futuro de
da família Poxiviridae. Com base em trabalhos e
varíola, ou minimizar os sintomas da mesma, pelo
observações anteriores, o médico e naturalista
menos. Tais observações serviram como base para o
britânico, conhecido como o “pai da imunologia”,
experimento que Jenner viria a realizar: uso de
provou o interesse da varíola bovina como agente
matéria extraída de uma lesão provocada pela varíola
imunizante contra a varíola. A varíola bovina é uma
bovina para inocular James Phipps, um menino de 8
doença, geralmente leve, que afeta o gado bovino,
anos. Apesar de sofrer uma reação local e se sentir
podendo ser transmitida ao ser humano caso este lide
mal por alguns dias, dois meses depois, a criança foi
diretamente com o animal. Uma vez portadores do
exposta a material retirado de lesões de varíola, não
vírus, os bovinos apresentam sintomas semelhantes
desenvolvendo a doença e mantendo o seu estado
aos característicos do corpo humano quando infetado
saudável. O naturalista concluiu, então, que Phipps
com varíola, entre os quais as típicas lesões cutâneas.
estava imune à mesma. Hoje sabe-se que a experiência só alcançou o sucesso porque os vírus
VACINAS | PÁGINA 25
Em 1796, Edward Jenner desenvolveu com sucesso a
estando intimamente relacionada com o ramo da
mesma
ser
imunologia. Esta área está ainda incumbida de definir
denominado “vacinação” e o material inoculado de
os parâmetros de segurança para a utilização das
“vacina”, do latim vacca.
mesmas, procedendo, para tal, à avaliação da resposta
As investigações levadas a cabo pelo britânico
imune desencadeada pela imunização. O principal
comprovaram a utilidade e eficácia da vacinação para
foco da vacinologia é o desenvolvimento de vacinas
a prevenção e controlo da varíola, dada como
que previnam doenças infeciosas, porém, com os
erradicada pela Assembleia Mundial da Saúde séculos
avanços das últimas duas décadas, admite-se o seu
mais tarde, em 1980. Apesar do ceticismo dos
potencial no controlo de doenças não infeciosas,
críticos, Jenner dedicou o restante da sua vida à
como o cancro, as doenças neurodegenerativas ou
defesa entusiástica e contínua da imunização, abrindo
até mesmo os vícios. Investigações já começaram a
caminho para uma nova era revolucionária no ramo
ser realizadas neste sentido e os resultados revelam-
da imunologia. Estavam, assim, lançadas as bases para
se promissores.
o crescimento da compreensão sobre a natureza das
Segundo o CDC, Centers for Disease Control and
doenças
Prevention, toda a preparação antigénica que vise
família.
O
infeciosas
procedimento
e
o
viria
a
desenvolvimento
da
imunidade que dominou todo o século XIX.
estimular uma resposta imunitária por parte do corpo
Todavia, os resultados dos trabalhos produzidos nesta
contra uma determinada doença, causada por um
época viriam apenas a refletir-se no século seguinte,
agente patogénico específico, é considerada uma
quando
de
vacina. A Organização Mundial de Saúde adianta que
desenvolvimento de vacinas contra múltiplas doenças
existem, hoje, pelo menos 28 doenças humanas
infeciosas, como a difteria e a febre tifoide, que se
infeciosas contra as quais foram já desenvolvidas
estende
mundo
vacinas seguras com eficácia comprovada. Apesar
contemporâneo, as novas tecnologias e o ritmo de
destes números serem animadores, é objetivo global
estudo e compreensão, quer de novos agentes
investir cada vez mais na área da vacinologia e
patogénicos, quer do próprio sistema imunológico,
expandir os benefícios da mesma a toda a população,
permitem desenvolver vacinas seguras e eficazes a
especialmente a de difícil alcance. Pretende-se
uma velocidade sem precedentes, o que facilita a
aumentar a lista de doenças erradicadas e atingir um
prevenção e controlo de doenças infeciosas. Segundo
estado de imunidade de grupo.
a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma aposta
As
na cobertura de vacinação global, bem como no
ferramentas
delineamento de estratégias de imunização eficientes,
maximizando o seu potencial de proteção. De forma
é a resposta para a erradicação de doenças que
natural e automática, o sistema imunológico do corpo
originam surtos mais ou menos graves quase
humano atua como defesa mais ou menos eficaz
anualmente, causando a morte de milhões de
contra os agentes patogénicos que o atacam,
pessoas. As vacinas são, portanto, consideradas a
incluindo bactérias, vírus, fungos e parasitas. Estes
chave para uma saúde pública mais forte, sendo
organismos,
responsáveis pela prevenção de 2 a 3 milhões de
conseguinte, pela própria doença, incluem na sua
mortes a cada ano, de acordo com a última estimativa
constituição os chamados antigénios – proteínas
da OMS.
únicas presentes na superfície de determinado
Atualmente, a vacinologia é a ciência responsável pela
patogénico. A entrada de um antigénio no corpo
investigação e desenvolvimento de novas vacinas,
induz uma resposta imunológica, que muitas vezes
teve
até
início
aos
um
dias
período
de
hoje.
frenético
No
vacinas,
agentes auxiliares
imunizantes do
responsáveis
sistema
pela
consiste na produção de anticorpos.
ativos,
são
imunitário,
infeção
e,
por
JORNADA | PÁGINA 4
VACINAS | PÁGINA 26
responsáveis por ambas as doenças pertencem à
Estes, ao reconhecer os ditos antigénios, conseguem
Deste modo, tanto o tempo de resposta, como a
neutralizar o agente patogénico, acabando, depois,
própria probabilidade de desenvolver doença, serão
em conjunto com o restante sistema imunológico, por
menores. Diz-se, então, que foi atingida a imunidade.
eliminá-lo.
Este estado de proteção não é obtido no instante em
A produção de anticorpos é acompanhada pela
que a vacina é administrada, sendo necessário esperar
formação de células de memória, os denominados
um determinado período de tempo para que tal
linfócitos T, que permanecem vivas mesmo depois da
aconteça. Por vezes, com o objetivo de reforçar esta
desintegração do patogénico estar concluída. Deste
condição imunitária, são inclusive recomendadas
modo, se o corpo for novamente exposto ao mesmo
doses múltiplas de uma mesma vacina, inoculadas
agente, ou a um parecido, a resposta do sistema
com semanas ou meses de intervalo entre si, que
imunitário será muito mais rápida e eficaz, uma vez que estas células reconhecerão os antigénios nocivos de imediato e iniciarão desde logo a produção dos anticorpos correspondentes. Diminui, portanto, o risco de desenvolver doença. Porém, como cada anticorpo reconhece apenas um antigénio específico, a exposição pela primeira vez a um patogénico implica um maior tempo de resposta por parte do sistema imunológico, que necessita de perceber quais os anticorpos mais adequados para, finalmente, iniciar a sua produção. Durante este período, que pode levar vários dias, o corpo encontra-se especialmente suscetível a desenvolver a doença, sendo o aumento deste risco proporcional ao tempo que o sistema imunitário demora a reagir. A administração de uma vacina permite, então, agilizar este processo, estimulando as defesas
permitem a produção de anticorpos a longo prazo. É de notar que a administração de uma vacina pode levar ao surgimento de sintomas menores, como febre e dores de cabeça, que perduram até a imunidade estar desenvolvida. Este tipo de reação corporal é uma resposta comum à entrada de uma substância estranha no organismo e só deve ser motivo de preocupação se persistir por um número de dias ou semanas superior ao esperado. O desenvolvimento de uma nova vacina é um processo complexo e muito rigoroso, envolvendo testes e análises laboratoriais no decorrer de quase todas as etapas. Numa primeira fase, procede-se à identificação do agente patogénico responsável pelos altos níveis de incidência de determinada doença na população,
devendo
estudar-se
os
mecanismos
biológicos envolvidos na evolução da mesma – patogenia. Uma vez concluída esta investigação, inicia-se, então, a segunda fase, que consiste na
esteja apto a combater agentes patogénicos de modo
avaliação do potencial associado ao desenvolvimento
mais rápido e eficiente. A maioria das vacinas contém
de uma vacina capaz de diminuir a taxa de
partes enfraquecidas, ou inativas, de um determinado
propagação ou gravidade da doença em causa.
antigénio que, apesar de não se encontrarem em
Obtido um parecer positivo, pode ter início a
quantidade suficiente para provocar a doença, farão
produção da mesma, primeiro experimental apenas e
agir o sistema imunológico normalmente, levando,
só depois em massa, para fins de utilização.
portanto, à produção de anticorpos e células de
Tal como acontece com os medicamentos, antes de
memória. Estas permanecerão no corpo mesmo
serem
depois de neutralizados e eliminados os antigénios
vacinação de um país, as vacinas devem passar por
específicos, pelo que, em caso de infeção futura, o
testes laboratoriais extensivos e rigorosos que
sistema
atestem a sua fiabilidade.
imunitário
estará
habilitado
a
um
reconhecimento imediato do patogénico contra o qual a vacina foi desenvolvida.
introduzidas
no
programa
nacional
de
VACINAS | PÁGINA 27
naturais do corpo para que, no futuro, o organismo
Cada um dos seus componentes atende a um
Em cada país, analisa-se os dados do estudo e
propósito específico e é testado no decorrer do
autoriza-se, ou não, o uso da preparação antigénica. A
processo de fabricação, tanto a nível de eficácia como
posterior
a nível de segurança. A primeira vacina desenvolvida,
permitindo que os especialistas acompanhem o
também designada vacina experimental, é testada em
impacte
animais, sendo avaliado o seu potencial de prevenção
administrada a um grande número de pessoas, por um
da doença. De acordo com a OMS, apenas no caso de
longo período de tempo. Estes resultados são usados
ser desencadeada uma resposta imune adequada,
para ajustar as políticas de utilização da vacina e
deverá submeter-se a vacina ao próximo leque de
otimizar os seus efeitos.
ensaios clínicos, já realizados em seres humanos.
Para ser tida como ideal, uma vacina deve ser: segura,
Estes
segundos
testes
clínicos
são
processos
trifásicos cuidadosos cujos resultados permitirão, ou não,
a
distribuição
da
vacina
e
consequente
imunização da população. Na primeira fase, a vacina é administrada a um pequeno número de voluntários, geralmente jovens adultos saudáveis, com o objetivo de avaliar, mais uma vez, a segurança dos componentes utilizados e confirmar a resposta imune induzida, bem como determinar a dosagem certa a ser inoculada. Na segunda fase, a vacina é administrada novamente, desta
vez
a
centenas
de
voluntários,
cujas
características deverão ser semelhantes às do público alvo da preparação antigénica. Os resultados obtidos após a conclusão desta etapa devem estar de acordo com todos os anteriores. É de notar a inclusão de um grupo que não recebe a vacina, o chamado o grupo
monitorização da
vacina,
decorre
mesmo
continuamente,
quando
esta
é
com efeitos adversos mínimos; eficaz, fornecendo uma proteção vitalícia contra as doenças após a inoculação de uma única dose; barata; estável durante os processos de transporte e armazenamento; e fácil de administrar. Nem todas as vacinas cumprem estes critérios na íntegra, contudo a proteção contra a doença para a qual foram desenvolvidas está sempre garantida, embora nunca alcance os 100%. Infelizmente, indivíduos com problemas de saúde subjacentes ao sistema imunológico ou alergias graves a componentes de certas vacinas não podem ser vacinados, pelo que a imunidade de grupo revelase essencial. Para que tal seja possível, é necessária uma boa cobertura de distribuição associada a uma elevada eficácia da vacina. Assim, mesmo a parte da população que não pode ser protegida está sujeita a uma
menor
probabilidade
de
ser
exposta
ao
patogénico nocivo.
VACINAS | PÁGINA 28
de controlo, para determinar se as mudanças registadas são, de facto, fruto da vacinação ou de
Em suma, o desenvolvimento de vacinas revolucionou
fatores externos. Normalmente, há ensaios para
o mundo, em especial, o ramo da imunologia,
avaliar as diferentes formulações da vacina. Por
permitindo a redução das taxas de incidência de
último, na terceira fase, a vacina é inoculada em
doenças infeciosas, responsáveis por milhões de
milhares de voluntários para determinar a sua eficácia
mortes anualmente. A Organização Mundial de Saúde
contra a doença pretendida e estudar a sua fiabilidade
estima que o número de vidas salvas devido à
num maior grupo. Na maioria das vezes, estes testes
administração de vacinas ultrapassa já as largas
são realizados em vários países, ou locais dentro de
centenas de milhão, sendo este um número que
um mesmo país, para assegurar que os resultados se
cresce todos os anos. Proteja-se a si e a quem o
aplicam a diferentes populações.
rodeia. Vacine-se.
Com a conclusão de todos estes ensaios clínicos, segue-se uma série de análises para aprovações de políticas regulatórias e de saúde pública. DIANA QUITÉRIO
Tipos de Vacinas A pesar de ser uma área em constante desenvolvimento, resultado do avultado investimento
monetário de que é alvo, a grande revolução na vacinologia deu-se ao longo dos últimos anos por
mérito de um conjunto de fatores decisivos que permitiram, quer a otimização das vacinas já desenvolvidas, quer a produção de novas vacinas através de métodos inéditos e transformadores. Atualmente, existem seis tipos de vacinas aprovados e reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), todos eles baseados em diferentes abordagens de preparação e com características próprias. Esta diversidade de imunizantes aumenta exponencialmente a probabilidade de ser desenvolvida uma vacina eficaz e segura contra determinadas doenças, anualmente responsáveis por um elevado número de mortes. Hoje, mais do que nunca, é possível acreditar num futuro próspero e livre de doenças fatais, infeciosas ou não, como a malária e o cancro. A par da aposta na formação de cientistas e
Hoje em dia, o início do processo de desenvolvimento
profissionais de saúde pública em vacinologia, que
de uma vacina baseia-se totalmente nas noções
tem vindo a aumentar drasticamente nos últimos 20
teóricas sobre imunologia. Nesta primeira fase, o
anos, os avanços tecnológicos e científicos notáveis
principal foco de um vacinologista é a recolha de
foram e são cruciais à rápida evolução da vacinologia
informação, devendo, para isso, ter em conta os
e ao consequente desenvolvimento de novas vacinas
seguintes elementos: o modo como o sistema
mais seguras. Durante grande parte da história, as
imunológico
preparações antigénicas foram desenvolvidas quase
responsável pela doença que se pretende combater; o
exclusivamente através de pesquisas empíricas, sem
grupo para o qual a vacina está a ser desenvolvida,
grande fundamento teórico e com a ausência de
estando este condicionado a variantes como faixas
imunologistas durante todo o processo. Porém,
etárias, sexo ou até mesmo a localização geográfica
atualmente, os desafios que se impõe exigem um
da população a vacinar; e, por último, qual o melhor
conhecimento imunológico substancialmente mais
método de desenvolvimento da vacina, de forma a
profundo, do qual resultam vacinas mais eficazes e
maximizar o seu potencial e eficácia. Este último
capazes de combater agentes patogénicos mais
aspeto é de particular importância, uma vez que
resistentes, como é o caso da bactéria responsável
define e orienta os trabalhos de investigação e
pela tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, ou do
pesquisa que precedem a dita produção da vacina.
HIV, retrovírus da subfamília dos Lentiviridae na
Atualmente, os vacinologistas têm à sua disposição
origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
três abordagens principais que estabelecem o método
Só deste modo é possível controlar os surtos que
de desenvolvimento a ser aplicado na vacina
ameaçam a segurança sanitária global, de forma mais
pretendida. As grandes diferenças residem na forma
ou menos recorrente, e fortalecer os sistemas
como o agente patogénico é utilizado durante o
imunológicos da população, em particular dos mais
processo, podendo ser empregue na sua totalidade ou
frágeis.
em subunidades, pequenas porções suficientes para
responde
ao
agente
patogénico
TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 29
desencadear a resposta imunológica desejada.
É ainda possível recorrer à extração do seu material
implica a cultura de vírus ou bactérias em instalações
genético, que fornecerá às células as instruções
laboratoriais especiais que ofereçam segurança. As
necessárias para a síntese de proteínas específicas.
vacinas inativadas não fornecem uma imunidade
Destas diferenças deriva, então, o nome de cada
muito forte, apresentando uma menor taxa de
abordagem:
eficácia e efeitos colaterais substancialmente mais
abordagem
do
patogénico
inteiro,
abordagem de subunidades e abordagem genética.
ligeiros
Os diferentes métodos de desenvolvimento de uma
atenuadas. Por este motivo, há a necessidade de
vacina permitem distinguir seis principais tipos de
administrar doses de reforço a fim de assegurar uma
vacinas,
combater,
resposta imune a longo prazo. São utilizadas na
preferencialmente, certo tipo de agentes patogénicos
prevenção de doenças como a hepatite A, a gripe, a
e estimular sistemas imunitários com determinadas
poliomielite e a raiva. Este tipo de vacinas não
características. A OMS aprova e reconhece como tipo
evidencia
de vacina as vacinas inativadas, as vacinas vivas
imunocomprometidos, embora possa não conferir
atenuadas, as vacinas de vetor viral, as vacinas de
proteção
subunidades,
combinada.
projetados
para
recombinantes,
polissacarídeas
e
conjugadas, as vacinas toxoides e as vacinas de RNA mensageiro
(mRNA).
A
cada
tipo
de
vacina
correspondem efeitos secundários e uma taxa de eficácia próprios, pelo que é importante consultar um médico antes de proceder à sua administração, de forma a evitar a alteração do estado de saúde e bem-
comparadas
qualquer a
quem
às
risco sofra
vacinas
para de
vivas
indivíduos
imunodeficiência
Vacinas vivas atenuadas As vacinas vivas atenuadas têm por base a abordagem do agente patogénico inteiro, utilizando uma
versão
viva,
embora
enfraquecida,
do
microrganismo responsável pela doença a combater. Geralmente, são desenvolvidas para proteção contra vírus,
embora
possam
igualmente
promover
a
Vacinas inativadas
imunidade contra bactérias. O designado estado de
As vacinas inativadas, desenvolvidas com recurso à
atenuação pode ser alcançado por meio de vários
abordagem do patogénico inteiro, incluem na sua
métodos, sendo o mais comum a transferência do
composição, tal como o próprio nome indica, um
agente patogénico entre culturas de células ou
microrganismo sujeito a uma inativação prévia. Regra
embriões não humanos. Esta técnica permite reduzir a
geral, esta é realizada através do uso de calor, de
capacidade de replicação do vírus ou bactéria em
radiação
células
ou
de
produtos
químicos,
como
o
humanas,
inibindo,
portanto,
a
sua
formaldeído ou a formalina. Todos estes métodos
proliferação em massa no interior do corpo, após
destroem a capacidade de replicação do agente
administração da vacina. Apesar de enfraquecido, o
patogénico, impedindo, assim, que este adote uma
microrganismo mantém-se reconhecível pelo sistema
forma mais virulenta capaz de provocar doença. A
imunitário. Todos os métodos implicam a limitação da
utilização destas técnicas não compromete, contudo,
reprodução
as condições inerentes ao patogénico que permitem
incapaz de provocar manifestações significativas da
ao sistema imunológico reconhecê-lo posteriormente.
doença ou a sua transmissão a terceiros, embora seja
É de notar que este tipo de vacina apresenta um
sempre suficiente para que ocorra a estimulação de
tempo de produção relativamente longo, uma vez que
uma resposta imune forte.
do
agente
patogénico,
tornando-o
JORNADA | PÁGINA 4
TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 30
estar do vacinado.
quando
As vacinas vivas atenuadas conferem uma imunidade
ão diversos os vírus atualmente utilizados com este
eficaz e, regra geral, duradoura, sendo apenas
fim, sendo os principais os adenovírus e os vírus
necessária uma ou duas doses, na maioria dos casos,
Influenza, da família Orthomyxoviridae.
para se obter uma proteção vitalícia contra o agente
As vacinas de vetor viral foram recentemente
patogénico e a doença que o mesmo provoca. São
utilizadas no controlo dos surtos de Ébola, doença
utilizadas na prevenção de doenças como o sarampo,
provocada pelo vírus homónimo, e no combate à
caxumba e rubéola (vacina combinada), a varíola, a
pandemia de SARS-CoV-2. Vários estudos estão
febre amarela e a varicela. É sempre aconselhado
ainda a ser desenvolvidos no sentido de desenvolver
procurar aconselhamento médico antes da vacinação,
vacinas deste tipo contra outras doenças infeciosas,
não sendo este tipo de vacina indicado para
como a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida e a
indivíduos com o sistema imunológico enfraquecido
doença causada pelo vírus Zika.
ou condições de saúde de longo prazo.
deve ser completamente excluída a possibilidade de
Vacinas de subunidade, recombinantes, polissacarídeas e conjugadas
se desenvolver doença leve após a sua inoculação.
As
Segundo a OMS, este é o caso da vacina contra o
polissacarídeas e conjugadas, apesar de serem
sarampo: cerca de 5% das crianças desenvolvem
produzidas por métodos diferentes, são consideradas
erupção cutânea e até 15% sofrem com febre após a
como um só tipo de vacinas, resultante de uma
vacinação. Sempre que efeitos colaterais deste
abordagem de subunidades. Em comum, têm o uso de
género se verifiquem, é recomendado o parecer
uma parte específica dos vírus ou bactérias alvo,
médico antes da toma da vacina. É de referir ainda
normalmente associada ao seu revestimento externo,
que este tipo de vacinas requer armazenamento
como uma proteína, um polissacarídeo ou uma
refrigerado, pelo que não é o mais adequado para uso
cápsula. Estas partes isoladas estão quimicamente
em ambientes onde acesso a estas condições esteja
ligadas a proteínas transportadoras, funcionando
comprometido.
como antigénios fracos e estimulando uma resposta
Apesar deste tipo de vacinas incluir um agente patogénico com potencial virulento diminuto, não
vacinas
de
subunidade,
recombinantes,
imune, em geral muito forte. A longo prazo, podem,
Vacinas de vetor viral
contudo, ser necessárias algumas doses de reforço. Este tipo de vacinas, mais especificamente algumas
abordagem do patogénico inteiro, são desenvolvidas
vacinas de subunidade e as vacinas recombinantes,
com recurso à modificação de um vírus para posterior
pode ainda ser desenvolvido por meio da engenharia
utilização
são
genética. Neste caso, o gene responsável pela síntese
incorporadas subpartes específicas – as proteínas –
de proteínas com função vacinal é isolado e inserido
do agente de interesse num segundo vírus inofensivo,
num outro vírus em cultura, o designado vírus
sobre o qual há já uma base de conhecimento
portador. Quando este se reproduz, são produzidas as
bastante ampla. Este funciona como vetor, sendo da
proteínas
sua responsabilidade unicamente o transporte dos
reconhecerá
elementos que desencadearão a resposta imune
imunidade.
como
vetor.
Simplificadamente,
pretendida e a consequente imunidade. O vírus vetor é, portanto, manipulado até ser incapaz de provocar doença por si só.
vacinais, e
que
contra
o as
sistema quais
imunitário
desenvolverá
TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 31
As vacinas de vetor viral, igualmente criadas com a
A inoculação com este tipo de vacinas raramente
Apesar de ser uma abordagem estudada há décadas,
causa efeitos colaterais, pelo que é adequada em
só recentemente foi aprovada a primeira vacina de
indivíduos com sistema imunológico enfraquecido ou
RNA mensageiro, na sequência da pandemia de
condições de saúde prolongadas. Geralmente, estas
SARS-CoV-2.
vacinas são utilizadas na prevenção de doenças como
especialistas a considerar o potencial destas vacinas,
a hepatite B, o HPV (vírus do papiloma humano), a
com
coqueluche e a doença por Haemophilus influenzae do
económicos baixos, no tratamento e prevenção de
tipo b. É, ainda, de notar que a maioria das vacinas
doenças como o cancro e as alergias.
tempos
A de
eficácia
da
fabricação
mesma curtos
levou e
os
custos
incluídas no calendário infantil são vacinas de Atualmente, dois novos tipos de vacina são o alvo
subunidade.
principal de estudos e testes, sendo os resultados
Vacinas toxoides
bastante promissores. Trata-se das vacinas de DNA e
As vacinas toxoides, produzidas com base na
das vacinas de vetores recombinantes. As primeiras
abordagem de subunidades, incluem as toxinas
são pensadas de forma a incluir o DNA do agente
criadas
o
patogénico. Este, uma vez injetado no corpo, é
desenvolvimento de imunidade contra as mesmas.
reproduzido e reconhecido pelo sistema imunológico,
Desta forma, a resposta imune é sempre direcionada
que induz uma forte imunidade a longo prazo. Por
a uma toxina específica quimicamente inativada, não
outro lado, as vacinas de vetores recombinantes
sendo, no entanto, a imunidade vitalícia, a menos que
consistem na inserção de genes do agente patogénico
sejam administradas várias doses de reforço ao longo
num vírus vivo. Este, ao reproduzir-se no interior do
do tempo. As vacinas toxoides são utilizadas na
corpo, produz as proteínas que o sistema imunitário
prevenção de doenças como o tétano e a difteria.
deverá reconhecer e contra as quais desenvolve
pelo
agente
patogénico,
permitindo
imunidade. Será necessária a realização de mais testes
Vacinas de RNA mensageiro As
vacinas
de
RNA
mensageiro
de segurança até que a administração destes tipos de
resultam
da
abordagem genética, a mais recente e inovadora
vacinas seja aprovada, mas o cenário atual é animador.
estratégia utilizada no desenvolvimento de vacinas. Na sua composição, incluem sequências de material genético (mRNA) pertencente ao agente patogénico, bactéria ser geneticamente sequenciado. Esta porção TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 32
de RNA criada é envolta numa capa de gordura, de modo a que não se desintegre, e, uma vez no interior das
células
humanas,
fornece
as
evolução tecnológica e científica dos últimos anos. Como resultado, existem, hoje, inúmeros tipos de vacinas com potencial para assegurar a proteção da população contra doenças graves de forma a melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar.
instruções
necessárias à síntese de proteínas específicas. Estas desencadeiam uma resposta imune, induzindo a proteção pretendida, que é geralmente forte. A administração deste tipo de vacinas não motiva o desenvolvimento de qualquer doença por si só.
DIANA QUITÉRIO
JORNADA | PÁGINA 4
que são copiadas e sintetizadas após o vírus ou
O campo da vacinologia tem beneficiado da rápida
Plano Nacional de Vacinação Uma análise E m 1796, o cientista e médico Edward Jenner
desenvolveu a primeira vacina, tendo sido o responsável pela criação do conceito de vacina que temos nos dias que correm. No entanto, foi só um século mais tarde, no século XX, que a vacinação em massa teve início. Esta apresenta várias vantagens para a sociedade, uma vez que alcança a tão desejada imunidade de grupo, estado de proteção que revela uma extrema importância na erradicação de várias doenças que até à data se revelam mortais.
áreas de intervenção, entre elas: coordenação e
de vacinação implementado onde se encontram as
desenvolvimento de Planos e Programas de Saúde,
vacinas recomendadas para cada cidadão. Portugal
coordenação e garantia da vigilância epidemiológica,
não é exceção, sendo a Direção-Geral da Saúde
regulação da qualidade em saúde e gestão das
(DGS) a responsável pela atualização do programa
emergências em Saúde Pública. Coordenado e
nacional de vacinação (PNV). Fundada no dia 4 de
regulado pela DGS, o programa nacional de vacinação
outubro de 1899, atualmente dirigida pela Dr. Graça
foi implementado em 1965 com o objetivo de reduzir
Freitas, a DGS é um serviço central do Ministério da
a morbilidade e a mortalidade causada pelas doenças
Saúde, sendo uma referência para todos os campos
infecciosas que podem ser evitadas através da
da saúde. Centrada nos interesses e no bem-estar
vacinação.
dos portugueses, esta instituição apresenta inúmeras
PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO | PÁGINA 33
Hoje em dia, a maioria dos países tem um programa
O PNV apresenta, desde a sua criação, cinco
contra a rubéola (doença cutânea) e a parotidite
princípios básicos que garantem a sua eficácia:
(doença glandular). Já no século XXI, começaram a
• Universalidade, destinando-se a todas as pessoas
fazer parte do programa as vacinas contra a
que em Portugal tenham indicação para vacinação;
Haemophilus influenza b (infeção bacteriana grave), a
• Gratuitidade, para o utilizador;
hepatite B (doença hepática) e o vírus do papiloma
• Acessibilidade;
humano - HPV (infeção sexualmente transmissível).
• Equidade;
Atualmente, o PNV engloba vacinas contra 13
• Aproveitamento de todas as oportunidades de
doenças,
vacinação.
Streptococcus
as
últimas
adicionadas
pneumoniae
foram
(doença
a
da
respiratória),
Neisseria meningitidis B e a Neisseria meningitidis C Para além destes princípios, o programa que tem
(doenças neurológicas).
trazido importantes ganhos para a saúde tem como
A seleção das vacinas para o plano de vacinação tem
objetivos:
como base critérios epidemiológicos, características
• Proteger os indivíduos e a população em geral
das
contra as doenças com maior potencial para
científicas. As escolhidas são administradas na idade
constituírem ameaças à saúde pública e individual e
provada como a mais eficaz. É recomendada a
para as quais há proteção eficaz por vacinação;
aplicação de grande parte das vacinas nos recém-
• A nível individual pretende-se que a pessoa
nascidos, pois o seu sistema imunitário é imaturo e
vacinada fique imune à doença ou, nos casos em que
inexperiente. Ainda que nos primeiros meses de vida,
isso não é possível, que tenha uma forma mais ligeira
os anticorpos da mãe, passados para o filho através
da doença quando contactar com o agente infecioso
da placenta, forneçam alguma proteção, estes não são
que a causa;
eficazes no combate a todas as doenças. Apesar da
• A nível da população pretende-se eliminar,
gradual maturação do sistema imunitário até aos 2
controlar ou minimizar o impacto da doença na
anos de vida, a criança continua suscetível a inúmeras
comunidade, sendo necessário que a percentagem de
infeções.
pessoas vacinadas na população seja a mais elevada
precocemente, para evitar doenças graves, que
possível.
podem causar lesões permanentes ou até fatais. O
vacinas
É
disponíveis,
estudos
fundamental
vacinar
e
evidências
as
crianças
PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO | PÁGINA 34
passar dos anos leva a uma diminuição da eficácia do Apesar de oficialmente o PNV só ter sido instituído
sistema imunitário, o que leva a um maior risco de
em outubro de 1965, no início da década de 60 já
doenças infecciosas. Deste modo, é sugerido que
eram administradas dezenas de milhares de vacinas
adultos com mais de 65 anos se vacinem contras as
em Portugal. A primeira vacina que fez parte do
mais variadas doenças, especialmente contra o
programa foi a vacina contra a poliomielite (doença
pneumococo, a Neisseria meningitidis e o H. influenzae,
neurológica). Em 1966, foram logo acrescentadas
causadoras de infeções generalizadas e meningites.
outras 4 vacinas, contra: a tosse convulsa (doença
Resta uma questão: será que o PNV está completo?
respiratória), a difteria (doença respiratória), o tétano
Haverá diferenças entre o PNV e os restantes
(infeção bacteriana grave) e a varíola (doença
programas
infecciosa considerada erradicada pela OMS). Em
anteriormente referido, as vacinas que pertencem ao
1974, foi adicionada a vacina do sarampo (doença
plano português têm em atenção as doenças que
cutânea), e posteriormente foram inseridas a vacina
existem em Portugal e na Europa. Deste modo, é
da
Europa?
E
do
mundo?
Como
expectável que o programa da Malásia apresente
algumas diferenças quando comparado com o
característica apenas dos países industrializados
português.
ocidentais. Tanto a Malásia como a Colômbia não
Além da eventualidade de epidemias, também os
possuem nos seus programas vacinas contra a
recursos monetários de cada país influenciam a
meningite, sendo uma das possíveis razões a falta de
escolha das vacinas. Tome-se como exemplo o
recursos monetários.
programa de vacinação da Colômbia. Este país da América do Sul apresenta um plano de vacinação mais
Nos 50 anos de vida do PNV, mais de 7 milhões de
extenso, tendo mais vacinas que o plano português.
crianças e vários milhões de adultos foram vacinados.
Apesar de possuir 10 vacinas em comum com o PNV,
No entanto, tem-se verificado uma ligeira redução do
o programa da Colômbia dispõe ainda da vacina da
número de crianças vacinadas. Este programa tem
tuberculose,
sazonal,
garantido imunização a inúmeras doenças comuns e
hepatite A e febre amarela. gripe sazonal, hepatite A
encontra-se atualizado para a prevenção de eventuais
e febre amarela. A inexistência destas vacinas no PNV
epidemias nos dias de hoje.
rotavirús,
varicela,
gripe
é simples de explicar. O mesmo acontece com o rotavirús, uma doença muito
mais
desenvolvimento,
preocupante
em
causando
dezenas
países de
em
mortes
nestes países, daí esta vacina em Portugal só ser administrada em grupos de risco. Já no caso da febre amarela, endémica das áreas tropicais, como é o caso da Colômbia, não faz sentido esta vacina ser tomada em Portugal. Outra doença é a hepatite A, que se transmite
principalmente
por
comida
ou
água
infetada, então devido às reduzidas condições sanitárias da Colômbia, é recomendada a utilização da vacina contra esta doença. Outro excelente exemplo da influência dos fatores acima mencionados no plano de vacinação é o da Malásia. País situado no sudeste asiático, possui um plano de vacinação algo reduzido, PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO | PÁGINA 35
tendo um total de 8 vacinas contra 12 doenças. Em comparação com o PNV, a Malásia apresenta 6 vacinas em comum com Portugal, sendo as duas restantes a vacina contra a tuberculose e contra a encefalite japonesa. Uma vez que a encefalite japonesa é uma doença predominante em partes rurais da Ásia, não se justifica a utilização desta vacina em Portugal. Em contrapartida, a Malásia não dispõe das vacinas contra o HPV e a pneumonia. A primeira é esclarecida pela falta de fundos monetários e de recursos deste país, já a segunda é uma doença CATARINA FIALHO
Mitos "Desmitoficando" as vacinas É um facto que a vacinação permite a proteção individual e de grupo. Quando surgem novas
vacinas, é comum surgirem também algumas incertezas por parte da população, e, sendo o não
esclarecimento das mesmas um fator gerador de mitos ou movimentos anti-vacina. Com o objetivo de educar a população para a inoculação, seguem-se alguns dos mitos mais conhecidos, e a respetiva desmistificação, sustentada por informação científica factual.
As vacinas são desnecessárias
A s vacinas causam autismo
Hoje em dia, algumas das doenças contra as quais a
Esta crença surgiu com base num artigo publicado em
população é vacinada têm poucos casos a ser
1998, que associava a vacina tríplice, destinada ao
reportados
a
sarampo, à papeira e à rubéola, ao aumento do
poliomielite ou a difteria. Este facto leva as pessoas
número de casos de autismo. Porém, após terem sido
a pensarem, erradamente, que as vacinas já não são
identificados erros graves e escassez de argumentos
necessárias. A vacinação da população leva a que a
sólidos neste estudo, os seus autores desmentiram
incidência destas doenças seja diminuta, porém não
publicamente as conclusões, em 2010, e o autor
é nula. No caso de se parar a inoculação, os grupos
principal viu revogada a sua licença para exercer
mais vulneráveis ficarão expostos, conduzindo a um
medicina. Há, de facto, evidência científica de que as
aumento da disseminação da doença. Estes números
vacinas não estão associadas ao autismo, com base
crescentes já se fazem notar em doenças como o
num estudo dinamarquês realizado em centenas de
sarampo. Segundo a Organização Mundial da Saúde
milhares de crianças, em 2002. Ficou provado que
(OMS), só na primeira metade de 2019 foram
não havia qualquer tipo de relação entre a idade no
reportados cerca de 90 mil casos de sarampo nos 50
momento da vacinação e o tempo decorrido desde a
países que integram a região europeia, um valor
mesma e o desenvolvimento do transtorno autista.
em
alguns
países,
tais
como
superior ao registado durante todo o ano de 2018 (84 462 casos).
MITOS | PÁGINA 36
A vacinação tem alto risco É frequente ver-se nos noticiários a associação entre
Por exemplo, apenas uma morte foi relatada ao
a morte de um vacinado e a vacina que tomou,
Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos
mesmo que a causa de morte nada tenha a ver com a
Estados Unidos entre 1990 e 1992. A taxa geral de
vacina. É desta má transmissão de informação por
incidência de reações alérgicas graves em vacinas é
parte dos média que surge o mito que atribui à
geralmente estimada em um caso para cada um ou
vacinação um elevado risco. A incorreta interpretação
dois milhões de injeções.
dos telespetadores pode também contribuir para o seu fortalecimento. Na verdade, a incidência de morte devido a vacinação é tão rara que nem é possível ser calculada.
As vacinas têm químicos perigosos O alumínio e timerosal são dois ingredientes que
investigado por várias entidades, incluindo a OMS, na
estão presentes em algumas das vacinas, cruciais na
sequência da controvérsia surgida em torno das
produção de uma resposta imune mais forte e na
vacinas, nos anos 90. Concluiu-se não haver ligação
diminuição da taxa de contaminação por bactérias e
entre este componente e a saúde dos vacinados. No
fungos. No que toca ao alumínio, há estudos que
entanto, foi retirado por precaução, não porque fosse
comprovam a não existência de problemas a longo
prejudicial, mas para que os receios em torno de
prazo. Já o timerosal, usado como conservante, foi
algumas vacinas desaparecessem.
As vacinas provocam doenças autoimunes Circula o mito de que as vacinas combinadas,
e múltiplos micróbios, através do contacto com
responsáveis pela proteção de várias doenças,
superfícies ou mesmo na interação com outras
favorecem os efeitos secundários e sobrecarregam o
pessoas. A relação entre a vacinação e as doenças
sistema imunitário. No entanto, as vacinas contam
autoimunes ainda está sob investigação, mas os
com estudos que atestam a sua segurança e eficácia.
estudos existentes mostram pouca evidência de que
O quotidiano também contradiz a ideia de sobrecarga,
estão relacionadas.
já que todos têm exposição diária constante a novos
MITOS | PÁGINA 37
MADALENA MACHADO
COVID-19
Pandemia de Covid-19 Análise No final da primavera de 2022, a pandemia de COVID-19 parece estar a abrandar, talvez
até na reta final. Este é, então, um momento excelente para avaliarmos a evolução da pandemia em Portugal, analisando se as medidas tomadas pelas autoridades tiveram resultados apreciáveis. O que nos dizem os dados? Em Portugal, assim como no resto do mundo, até à data de escrita deste artigo foram verificados quatro picos distintos de infeção por COVID-19. Analisar a pandemia no país implica comparar as situações anterior e posterior ao extremo de infeções, para averiguar as medidas tomadas e a sua eficácia.
Pico 1 - 20.11.2020
Apesar de ter dado ao povo português uma quadra
O primeiro pico de infeção por COVID-19 em
festiva mais normal mesmo num ano tão anormal,
Portugal teve o valor máximo de casos positivos a 20
teve severas consequências na taxa de infeção por
de novembro de 2020. A este ponto da pandemia era
COVID-19. Esta situação pode fazer-nos pensar
apenas obrigatório o uso de máscara em certos
sobre o que devemos valorizar: liberdades individuais
espaços, além de a maioria da população se deslocar
ou o melhor para a população.
como normal para o seu emprego. Este aumento
Após as celebrações, o número de infeções voltou a
deveu-se também ao início da testagem voluntária e
baixar, facto que se deve também ao retorno do
em postos de trabalho, processo que fez encontrar e
estado de emergência para o ano novo, trazendo
isolar casos assintomáticos , que anteriormente não
consigo restrições na circulação na via pública e entre
seriam reportados. A principal medida tomada nesta
concelhos.
altura foi a obrigatoriedade do trabalho remoto
Pico 3- 23.07.2021
quando possível, ato que ajudou a fazer descer a taxa de infeção.
pico de infeção por COVID-19 em Portugal. Este pico coincide com as férias de verão, nas quais as pessoas
Pico 2 - 18.01.2021 Foi após a época festiva que o número de casos diários de COVID-19 voltou a aumentar, tendo o registado no dia 18 de janeiro de 2021. Na génese deste foco estiveram as festas de família características da época, assim como, as grandes festividades realizadas aquando a passagem de ano. Apesar de o país se ter encontrado em estado de As
medidas
de
segurança
foram
implementadas de 9 a 23 de dezembro, deixando a véspera de Natal para que as famílias se pudessem juntar.
começaram a viajar e a relaxar as medidas de proteção. Este também é um período em que os jovens se juntam, criando focos de infeção muito facilmente. O início da vacinação deu-se também neste período de tempo, o que pode ter dado às pessoas uma sensação de segurança excessiva, levando a que participassem em atividades que as poriam em perigo de infeção. Este pico desceu naturalmente, notavelmente aquando do final das férias de verão das escolas.
PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 39
valor máximo do segundo pico de infeção sido
emergência.
A 23 de julho de 2021 deu-se o ponto máximo do 3º
Retorno à normalidade
Pico 4- 06.02.2022 No início de fevereiro de 2022, verificou-se um pico
Dia 22 de abril de 2022 foi a data em que o mandato
de
foi
de uso obrigatório de máscara foi levantado em
provavelmente resultado dos aglomerados aquando
Portugal, com possibilidade de alteração da mesma
das eleições que ocorreram a 30 de janeiro. Este
medida sazonalmente. A obrigatoriedade de uso de
último pico não foi, relativamente aos restantes picos,
máscara
muito acentuado, fenómeno que provavelmente se
caracterizados pela especial vulnerabilidade das
deve à elevada taxa de vacinação da população, assim
pessoas que os frequentam e (...) pela utilização
como às campanhas de uso de máscara nos locais de
intensiva
voto.
E/2022). Ou seja, o uso de máscara é, por agora,
infeções
e
mortes
em
Portugal.
Isto
mantém-se,
sem
no
entanto,
em
alternativa”(Decreto-Lei
“locais
n.º
30-
ainda obrigatório em transportes públicos e táxis,
Vacinação e mortes
hospitais, lares, e estabelecimentos semelhantes.
Em Portugal, a COVID-19 tem, à data deste artigo,
O decreto-lei declara também "a situação de alerta
uma taxa de letalidade (quociente entre número de
em todo o território nacional continental" até às
mortes e número de infetados) de cerca de 0.54%,
23:59 do dia 05 de maio de 2022, na sequência da
relativamente baixa quando comparando com o resto
situação epidemiológica da covid-19, assim como a
do mundo. É de relembrar que este valor é
desativação das áreas exclusivas a doentes covid-19
influenciado pelo elevado número de testes feitos à
nos hospitais e centros de saúde.
população, que apanham casos assintomáticos ou com sintomas leves, ambos com pouco risco de morte por COVID. Entre os fatores que influenciam esta
Estudos de caso
taxa encontram-se a pirâmide demográfica do país,
Uma boa forma de avaliar a pandemia de COVID-19
isto é, a distribuição de idades dos habitantes e a
globalmente é a análise das estratégias de diversos
acessibilidade dos cuidados médicos. Posto isto,
países, assim como os subsequentes resultados.
Portugal encontra-se atualmente numa situação favorável em relação à taxa de letalidade, dado que apesar da nossa pirâmide demográfica ser mais pesada nas idades mais avançadas, o nosso sistema
PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 40
público de saúde é relativamente adequado para a
Perú De acordo com o sítio na web worldometers.info, o Perú é o país onde a COVID-19 foi mais devastadora, com 5.948 mortes por milhão de habitantes. Apesar
população. No entanto, este sistema tem visto várias
de ter sido o país da América Latina a impor
falhas que caso não sejam investigadas podem
confinamentos mais cedo, em março de 2020, estes
resultar em consequências graves para a saúde da
só duraram até ao final de junho do mesmo ano.
população.
Mesmo
Apesar de ter sido única, a situação de rutura do
continuavam a aumentar, apesar de terem as
sistema de saúde a meio da pandemia foi o que levou
fronteiras fechadas.
ao início do processo de vacinação intensivo, devido à
Ainda assim, o principal problema neste país é a taxa
gravidade do contexto pandémico na altura, no final
de mortalidade da doença, valor que se deve
de janeiro de 2021. Confrontadas com um número
pincipalmente ao fraco sistema de saúde, que recebe
crescente de casos de COVID-19, as autoridades de
pouco investimento e, como tal, não tem a
saúde
quantidade
convidaram
o
Vice-Almirante
Henrique
Gouveia e Melo para coordenar o processo de vacinação.
durante
de
o
confinamento,
camas
de
as
cuidados
infeções
intensivos
necessárias ao tratamento da COVID-19 de todos os
infetados, cerca de 1,600 para um número crescente
Devido ao mais recente pico de infeção, o governo
de infetados de cerca de 4 mil por dia, entre a
neozelandês alterou a sua estratégia em relação a
população
medidas preventivas, passando de um plano focado
de
cerca
(countrymeters.info).
de
Verificou-se
33
milhões
também
uma
em manter o vírus fora do país para um baseado na
escassez de oxigénio nos hospitais, essencial para o
convivência com o vírus. Tem-se verificado um
tratamento da doença.
aumento de casos recentemente, no entanto a taxa
Outro fator que tem vindo a contribuir para o
de mortalidade continua baixa. Isto deve-se à eficácia
deterioramento da situação no Perú é a lentidão com
do sistema de saúde neozelandês, assim como a
que as vacinas estão a ser administradas, tendo
compreensão pela população.
apenas 4% da população sido vacinada ao início de
As medidas tomadas por Portugal no decorrer da
junho de 2021, enquanto os países vizinhos tinham já esse valor em 10% a 40%. Isto deve-se apenas à logística, dado que o país já adquiriu doses suficientes da vacina para inocular toda a população. No que toca à taxa de infeção da doença, o Perú está numa situação decadente, dado que funciona sobre uma economia de comércio e trabalho informal, levando a que muitos cidadãos tenham de escolher entre ir trabalhar, mesmo durante confinamento, ou não comer nessa semana. O governo peruano impôs algumas medidas para atenuar este impacte nos trabalhadores informais, no entanto poucos possuem conta bancária, cerca de 42%, levando estas medidas a ter baixa eficácia. Além do mais, os peruanos vivem comumente
em
habitações
sobrelotadas,
sem
capacidade de armazenamento de alimentos durante tempo suficiente para sobreviverem ao confinamento, levando a que não o possam respeitar, deslocando-se para os mercados de rua, pontos de infeção.
pandemia
foram
adequadas,
considerando
as
recomendações dos especialistas. Ainda assim, a situação da época festiva de 2020 deixou mais a desejar. Um ponto positivo, no entanto, foi o processo de vacinação liderado pelo Vice-Almirante Gouveia e Melo, pela sua eficiência e eficácia, fazendo diminuir a taxa de mortalidade do vírus em Portugal rapidamente. Comparado com o resto do mundo, Portugal está em média bem posicionado no que toca tanto à taxa total de casos por milhão de habitantes, como à taxa de mortalidade da doença, devido à relativa eficácia das medidas tomadas, apesar da inconsciência de parte da população. No que toca aos restantes países, o Perú é um exemplo de um sistema imperfeito e a Nova Zelândia um exemplo a seguir. Como não se sabe o que este vírus nos reserva para o futuro, deve manter-se a caução e avaliar o próximo passo quando a sua altura chegar.
Nova Zelândia Por outro lado, a Nova Zelândia é um exemplo a uma taxa de mortalidade de cerca de 2%. Durante a maioria da pandemia até agora, a Nova Zelândia tem conseguido manter o número de novos casos a um máximo de 14 casos por milhão de habitantes na maioria da pandemia. Este país sofreu 2 picos de infeção por COVID-19, um no início da pandemia e outro mais recentemente, devido ao desconfinamento durante o verão, época de festas, e à difusão da variante Delta do vírus.
PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 41
seguir, tendo tomado medidas que permitiram ter
Graficamente... Casos confirmados diários Verificou-se um crescimento mais íngreme aquando os picos de infeção mencionados no artigo, entre períodos de significativamente menos infeções. É de notar que o valor real de casos positivos poderá ser maior devido à margem de erro dos testes realizados.
Testes diários Como é de esperar, os períodos de maior testagem em Portugal correspondem aos momentos antes, durante e após os picos de infeção. Este facto pode dever-se à ansiedade naturalmente causada pela cobertura mediática da pandemia.
Percentagem de população vacinada Podemos identificar um crescimento gradual da percentagem de vacinados, resultante do processo faseado da toma da vacina. O mesmo se repete na 2ª fase de vacinação, em que a percentagem não vacinada acumula com a anterior, parecendo, então,
PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 42
maior.
Variação de visitantes Resultante das medidas de confinamento impostas, o número
de
visitantes
na
maioria
dos
estabelecimentos diminuiu após a maioria dos picos de infeção, facto que contribuiu para a resolução dos mesmos.
Teorias da Conspiração COVID-19 e as mirabolantes teorias da conspiração
Teorias da conspiração estão a infetar a '' Asinternet. O ódio tornou-se viral, estigmatizando pessoas e grupos. O mundo tem de se unir também contra esta doença", destacou António Guterres, secretário geral da ONU. Durante o confinamento geral, surgiram imensas dúvidas sobre a pandemia de COVID-19 por parte de toda a população. O que é e de onde veio este vírus? Como é que se propagou em tão grande escala e a um ritmo tão acelerado? Todas estas questões criaram solo fértil para teorias da conspiração, que se disseminaram por todo o globo, devido em grande parte ao poder das redes sociais e dos meios de comunicação. A maior consequência da propagação destas teorias é a promoção da desinformação. É inegável, a par da pandemia de COVID-19, enfrenta-se também uma pandemia de fake news e, infelizmente, nem todos têm a capacidade de filtrar a informação mais correta. Mas afinal, quais são as teorias mais apoiadas sobre este popular vírus e qual a sua origem?
a premissa de que forças poderosas e mal-intencionadas estão por detrás dos mesmos. São usualmente desenvolvidas pelos conspiradores a partir de suspeitas, com foco em quem beneficia do acontecimento ou da situação. É normal surgirem nas redes sociais, especialmente em tempos de crise e incerteza.
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 43
As teorias da conspiração são tentativas de explicar certos fenómenos ou acontecimentos, com
Segundo
a
Comissão
Europeia,
as
teorias
da
conspiração têm seis características em comum:
além disso, é crucial que se verifique a fiabilidade da fonte e se o conteúdo é equilibrado e razoável. Assim,
Um alegado plano secreto;
a Comissão Europeia fornece várias dicas, com o
Um grupo de conspiradores;
objetivo de auxiliar a população nesta demanda.
A designação de pessoas ou grupos como bodes
Normalmente, trata-se de uma teoria da conspiração
expiatórios;
quando:
A divisão do mundo entre "bons e maus";
O autor é um perito autoproclamado que não está
Elementos de prova que parecem confirmar a
ligado a nenhuma organização ou instituição
teoria da conspiração;
respeitável, afirmando ainda ter credenciais que
Falsas sugestões de que nada acontece por acaso
não serão válidas;
e que não há coincidências, de que nada é o que
A fonte de informação não é clara e é partilhada
parece e tudo está interligado.
apenas por peritos autoproclamados;
E qual é o modus operandi dos conspiradores?
O autor apresenta a sua informação como a única
Aproveitando-se descaradamente dos tempos de
verdade válida e fornece perguntas em vez de
medo e incerteza que a população mundial enfrenta,
respostas.
os conspiradores recorrem principalmente às redes
À medida que a crise da COVID-19 vai piorando, o
sociais para espalhar a sua teoria, que no fundo não
mundo
passa de pura desinformação. Para tal, recorrem a
desinformação. As teorias da conspiração atuam
falsos especialistas na área, de modo a passar uma
como um vírus, que se dissemina online à velocidade
imagem de validação científica da teoria. É recorrente
do SARS-CoV-2 offline. De seguida, apresentamos
serem publicados artigos isolados nas suas páginas ou
algumas destas estranhas e mirabolantes teorias. A
perfis que normalmente não têm qualquer tipo de
posição tomada é a nossa opinião, sustentada por
revisão por profissionais da área e que vão,
informação factual.
vai
experienciando
uma
pandemia
de
geralmente, contra o que é divulgado pelos meios de comunicação convencionais. Com a finalidade de facilitar a defesa contra quaisquer refutações, os conspiradores manipulam a realidade, referem a escassa informação válida sobre o assunto ou recorrem mesmo a variados ad hominem, incluindo na conspiração qualquer um que discorde das suas teses. TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 44
E qual a intenção que os conspiradores têm ao provocar todo este alarido? Alguns alegam que seja para terem mais adeptos na sua legião. No entanto, é provável que outros o façam com a pura intenção de manipular a verdade ou por razões políticas ou financeiras (ao atingir os países). Após a explicação, no tópico anterior, do modus operandi dos conspiradores, será decerto mais fácil detetar uma teoria da conspiração. Para tal, é fundamental que se questione sobre a autoria e as razões por detrás de um determinado artigo. Para
1ª Teoria: A COVID-19 foi criada num laboratório chinês Esta será talvez uma das teorias mais plausíveis, uma vez que o epicentro da pandemia teve lugar em território chinês, na província de Wuhan. Esta cidade curiosamente aloja um instituto de virologia, o Wuhan Institute of Virology. De facto, aqui têm tido lugar várias experiências com coronavírus de morcegos, com o objetivo de avaliar a possibilidade de emergência de uma pandemia, como a que se vive no momento. Shi Zhengli, uma das virologistas que trabalhava nesta pesquisa, admitiu ter verificado várias vezes se o processo decorria como planeado. No entanto, para tristeza de muitos conspiradores, o novo
SARS-CoV-2
não
revela
nenhuma
correspondência com nenhuma das amostras de vírus
estudadas no Wuhan Institute of Virology, após
Examiner, um jornal americano conservativo, publicou
terem sido realizadas sequenciações genéticas. Para
uma notícia em que afirmava que o Instituto de
além disso, nada muda o facto de o SARS-CoV-2 ser
Virologia de Wuhan estava associado ao programa de
um vírus zoonótico, isto é, com origem numa
armas biológicas de Beijing. Mais tarde, este jornal
população animal (neste caso, os morcegos) e que
terá adicionado ao artigo original que a informação
atingiu
provavelmente seria falsa. Esta é outra teoria que
a
população
humana
via
um
animal
intermediário.
pode ser facilmente refutada pelo facto de o novo
2ª teoria: O exército militar norteamericano importou o SARS-CoV-2 para a China
SARS-CoV-2 ser um vírus zoonótico, isto é, com origem numa população animal de morcegos.
chinês, como resposta às conspirações de que o país
Menção honrosa: COVID-19 não existe ou não é mais do que uma gripe
tem sido alvo. Via Twitter, Zhao Lijian, atual vice-
Alguns conspiradores aficionados acreditam que a
diretor
do
COVID-19, de facto, não existe. Este vírus será então
Ministério de Relações Externas da China, terá
um plano da elite com o objetivo de retirar a
afirmado que seria possível que o exército militar
liberdade à população global. No início da pandemia,
norte-americano tivesse importado o vírus para a
a maioria destes conspiradores acreditava que tudo
China. Estas afirmações seguiram sustentadas por
não passaria de "uma gripezinha", entre eles chefes
dois artigos da Global Research, um portal conhecido
de estado, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. O
pelas teorias da conspiração. Mas como é que isto se
problema ocorre quando esta crença levou à
processaria?
terá
organização de protestos anti-confinamento e anti-
ocorrido aquando da participação do exército norte-
máscaras por todo o mundo, que conduziram a focos
americano nos Jogos Militares Mundiais de 2019, que
de infeção, por meio desses ajuntamentos. Decerto
decorreram em Wuhan. No entanto, logo no início de
não é necessário justificar o porquê de esta teoria ser
2020, o chefe do Centro de Controlo e Prevenção de
falsa, pois supõe-se que qualquer pessoa, que não
Doenças Gao Fu designou um mercado de marisco
tenha estado confinada num bunker durante dois
situado nos subúrbios de Wuhan como o berço da
anos, terá tido atenção à realidade que se vive no
epidemia,
presente.
Esta teoria terá surgido por parte do próprio governo
do
Departamento
Supostamente,
apontando
que
de
a
o
Informação
importação
vírus
tinha
sido
transmitido inicialmente através de uma espécie animal.
Ao redor do globo são múltiplas as manifestações anti vacinação que se vêm acontecer contra as medidas de controlo da pandemia decretadas pelos governos.
De acordo com o Pew Research Center, cerca de 3 em
"Festival da Liberdade", onde se defendia que as
cada 10 americanos acredita que a COVID-19 foi
restrições comprometem os direitos humanos e
criada intencionalmente por cientistas chineses em
liberdades. Foi também nas ruas de Paris e em mais
laboratório, como uma arma de guerra biológica, por
de 200 cidades da França, que muitos milhares de
mais descabido que possa parecer. Esta conspiração
pessoas protestaram contra o comprovativo de
ganhou popularidade quando o Washington
vacinação, que permite o acesso a certos
Em Zagreb, capital croata, cerca de três mil pessoas participaram numa manifestação designada como
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 45
3ª teoria: A COVID-19 foi criada como uma arma biológica
estabelecimentos. Em Portugal, ocorreram alguns
perigosas e causam danos na sociedade, num grupo
movimentos pelas cidades, nomeadamente nas ruas
ou pessoa, para além do facto de passarem por fake
de Lisboa. O coordenador da task-force, vice-
news. Podem levar também à discriminação ou até
almirante Gouveia e Melo, que está na frente de
mesmo incitar crimes de ódio. Um dos maiores
coordenação da vacinação em Portugal, foi recebido
problemas causados é o facto de espalharem a
por insultos, aquando das visitas a centros de
desconfiança relativa às instituições públicas e à
vacinação. Em resposta aos jornalistas, Gouveia e
informação científica divulgada em meios confiáveis.
Melo lembrou que "Isto é uma democracia e as
Um dos resultados dessa desconfiança são as torres
pessoas têm direito a manifestar-se", reforçando a
5G que foram incendiadas em vários países e as
ideia de que não há necessidade de qualquer
denúncias
preocupação em relação a estas pessoas. Para além
de
técnicos
de
empresas
de
telecomunicações assediados durante o trabalho.
disso, frisou ainda que "O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos." Um dos principais alvos de teorias de conspiração terá sido o famoso co-fundadador da Microsoft, Bill Gates. Em entrevista à agência de notícias britânica Reuters, afirma ter sido surpreendido pela quantidade descomunal de teorias da conspiração sobre a COVID-19 associadas à sua pessoa. Outro alvo das conspirações
foi
o
Doutor
Anthony
Fauci,
imonulogista norte-americano e principal conselheiro epidemiologista da Casa Branca. E o que estes conspiradores tanto inventam sobre estas personalidades? Apontam que Fauci e Gates foram os criadores da pandemia, com o objetivo de tentar controlar as pessoas, através de microchips 5G inseridos nas vacinas, e lucrar com a propagação do
É
possível
assim
concluir
que
as
teorias
da
conspiração são um meio de partilha de falsa informação, que pode conduzir a ceticismo por parte da população relativamente à verdadeira informação. É certo que é complicado alterar esta tendência, devido à liberdade de expressão existente nas redes e meios sociais. Portanto, a maneira mais fácil de combater a desinformação passa em maior parte pelo destinatário, que deverá saber filtrar adequadamente a informação que recebe, não confiando à primeira vista na mesma, nem espalhando desapropriadamente estas teorias. No fundo, o essencial é tomar uma atitude crítica em relação ao conteúdo que se encontra online.
SARS-CoV-2. É óbvio que tal coisa não se verifica. Aliás, Bill Gates e a sua esposa já terão apoiado financeiramente a resposta global à pandemia através da fundação que partilham, a Fundação Bill & Melinda
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 46
Gates. Em entrevista, Fauci terá criticado fortemente os
conspiradores
que
espalham
este
tipo
de
alegações, afirmando que todas as teorias que surgiram acerca da sua pessoa são um ataque pessoal e à ciência. Defende ainda que refutar qualquer uma dessas alegações é incrivelmente fácil. Em Portugal, são registados milhares de artigos diários com notícias falsas sobre a Covid-19, essencialmente nas redes sociais. Ao serem fortemente disseminadas, as teorias da conspiração revelam-se por vezes
MADALENA MACHADO
Vacinas COVID-19 A11 de março de 2020, a Organização Mundial
de Saúde declarava o estado de pandemia da COVID-19, nome atribuído à doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. Os níveis de transmissão, contágio e mortalidade elevados preocupavam comunidade
governos, científica,
o
organizações que
e
rapidamente
impulsionou a corrida às vacinas. A vacinação contra a COVID-19 surgiu como resposta
protege e promove a saúde humana e animal. Na sequência dos seus pareceres positivos, a Comissão Europeia concedeu, até agora, cinco autorizações de introdução no mercado às vacinas desenvolvidas por: BioNTech-Pfizer, Moderna, AstraZeneca, Janssen Pharmaceutica NV e Novavax. Em Portugal, quatro destas estão a ser administradas.
Vacina Comirnaty Com autorização para utilização de emergência concedida a 31 de dezembro de 2020 pela OMS, a
central e de reforço às medidas preventivas
vacina
tomadas no escalar da situação, tendo como
desenvolvida
pela
objetivo prevenir o surgimento de doença grave
Pfizer,
parceria
e suas consequências, reduzindo, assim, a
biotecnologia alemão BioNTech. De acordo com os
pressão exercida sobre os sistemas de saúde dos países afetados.
Comirnaty, em
uma
vacina
farmacêutica com
o
de
mRNA,
foi
norte-americana laboratório
de
estudos publicados, tem uma eficácia de 95%, sendo recomendada a qualquer indivíduo com idade superior a 16 anos, incluindo mulheres grávidas ou
De todas as vacinas estudadas em laboratório e em
lactantes. É uma vacina segura para pessoas com
animais, apenas 7 em cada 100 são consideradas boas
patologias associadas a um maior risco de doença
o suficiente para serem sujeitas a testes clínicos em
grave, como hipertensão, diabetes, asma ou doença
humanos. Destas, só uma em cada cinco é bem-
hepática,
sucedida. Face a tais estatísticas, o elevado número
complementares sobre o seu impacte a longo prazo
de vacinas contra a COVID-19 em desenvolvimento
em pessoas imunocomprometidas. Indivíduos com
ou em ensaios clínicos, no início da pandemia, era
histórico de reações alérgicas graves a quaisquer
promissor. Segundo a Organização Mundial de Saúde
componentes da vacina não a devem tomar.
(OMS), em dezembro de 2020, mais de 200 vacinas
A vacina Comirnaty deve ser administrada no
candidatas
em
músculo do braço em duas doses, começando o efeito
desenvolvimento. Um mês depois, janeiro de 2021,
de proteção a desenvolver-se 12 dias após a toma da
pelo menos 52 encontravam-se já na fase de
primeira. O intervalo mínimo entre doses é de 19 dias,
testagem em humanos. À data deste artigo, no
porém a recomendação da OMS é de 21 a 28 dias.
mundo, mais de 10 estão autorizadas a ser
Após a administração da vacina é comum o
administradas com fins de vacinação em massa,
aparecimento de alguns efeitos secundários, mais ou
havendo um total de mais de 11 biliões de doses
menos prováveis, como dor, inchaço e vermelhidão
tomadas.
no local da injeção, dor de cabeça, dor muscular,
Na União Europeia, da qual Portugal faz parte, a
febre, sensação de mal estar, vómito ou até mesmo
entidade responsável pela avaliação clínica das
diarreia. O tratamento destes sintomas, que não
vacinas e medicamentos a ser utilizados é a Agência
devem ser motivo de grande alarme, deve estar de
Europeia de Medicamentos (EMA), agência que
acordo com o aconselhamento médico.
para
a
COVID-19
estavam
embora
sejam
necessários
estudos
VACINAS: COVID-19 | PÁGINA 47
Vacina Spikevax Anteriormente
designada
Vaccine
Os estudos que visam garantir a segurança da
Moderna, a vacina Spikevax é uma vacina baseada em
administração em indivíduos de idades inferiores
mRNA
norte-
ainda estão a ser desenvolvidos. Grávidas, lactantes
americana Moderna. A 30 de abril de 2021, recebeu a
ou pessoas que sofram de doenças como a obesidade,
validação de emergência da OMS, que após um
doenças cardiovasculares, doenças respiratórias ou a
acompanhamento médio de dois meses constatou
diabetes, podem igualmente tomar a VAXZEVRIA
uma eficácia de 94,1% contra o vírus. É recomendada
depois de obter o parecer do seu médico de família.
para pessoas com 6 ou mais anos, incluindo grávidas e
A dosagem recomendada para esta vacina é de duas
lactantes, não havendo, até à data, nenhuma
doses (0,5ml cada), ambas administradas por via
contraordenação específica para indivíduos com
intramuscular, com um intervalo de 8 a 12 semanas,
problemas de saúde. No caso particular das pessoas
mínimo de 21 dias. De notar que a intervalos mais
imunocomprometidas,
longos
desenvolvida
pela
apesar
COVID-19 farmacêutica
de
nenhum
teste
está
associada
uma
maior
eficácia
na
apontar para qualquer consequência direta da
promoção da imunidade. Após a vacinação é comum a
administração da Spikevax, prevê-se que a imunidade
manifestação de reações adversas que variam de
desencadeada não seja tão forte quanto o esperado
leves a moderadas, como febre, fatiga, dores de
numa pessoa saudável.
cabeça, calafrios e náuseas. O seu desaparecimento
A vacina Spikevax deve ser administrada em duas
ocorre em poucos dias.
VACINAS: COVID-19 | PÁGINA 48
doses, geralmente no músculo da parte superior do braço, com 28 dias de intervalo, mínimo de 25 dias.
Vacina JCOVDEN
As quantidades estão dependentes da faixa etária:
A
adultos e adolescentes a partir dos 12 anos recebem
adenoviral, antiga COVID-19 Vaccine Janssen, é
100 microgramas/dose; crianças entre os 6 e os 11
fabricada
anos recebem 50 microgramas/dose. Um dose
multinacional Johnson & Johnson. Com uma eficácia
adicional pode ser administrada a pessoas com um
comprovada de 67%, esta vacina é recomendada para
sistema imunológico gravemente enfraquecido, pelo
pessoas com idades superiores a 18 anos, não sendo
menos 28 dias após a toma da segunda dose. Regra
aconselhado o seu uso em crianças até que mais
geral, os efeitos colaterais decorrentes da vacinação
dados
são leves ou moderados e passam rapidamente.
conhecimentos sobre os efeitos da JCOVDEN em
Incluem vermelhidão, dor e inchaço no local da
grávidas, lactantes e pessoas imunocomprometidas
injeção, cansaço, calafrios, urticária, náuseas e
ainda são limitados pelo que a sua administração em
vómitos. Em casos mais graves, pode ocorrer
indivíduos nestas condições deve efetuar-se na
miocardite ou pericardite.
sequência de um parecer médico positivo por motivos
Vacina VAXZEVRIA
de precaução.
Antes designada COVID-19 Vaccine AstraZeneca, a
A vacina JCOVDEN é administrada numa só dose,
vacina VAXZEVRIA é fabricada pela biofarmacêutica
geralmente na parte superior do braço. Caso se
britânica
a
pretenda dar uma dose de reforço, esta deve ter lugar
Universidade de Oxford. Com uma eficácia de
pelo menos dois meses após a primeira. A vacinação
63,09% contra a infeção sintomática pelo SARS-CoV-
pode dar origem a alguns efeitos secundários, comuns
2, a vacina tem por base a técnica inovadora de
às restantes vacinas, entre eles: dores de cabeça,
vetores recombinantes, sendo recomendada para
febre, dores musculares e articulares, vermelhidão,
pessoas com mais de 18 anos.
náuseas e vómitos.
AstraZeneca,
em
colaboração
com
vacina
JCOVDEN, pela
nesse
de
farmacêutica
sentido
vetor
recombinante
Janssen,
estejam
ramo
disponíveis.
da
Os
DIANA QUITÉRIO
Mitos Vacinas Covid-19 E m tempos de incerteza, tudo parece de desconfiar. O problema surge quando uma certa
parte da população decide levar essa premissa demasiado a sério. A crise da COVID-19 certamente não ajudou e as mais macabras teorias da conspiração foram elaboradas, trazendo ainda mais desconfiança às novas vacinas desenvolvidas. Desmistificar estas teorias tornou-se essencial para que a informação científica correta prevaleça sobre a desinformação que circula.
A rapidez na criação das vacinas é
de desconfiar
Mas a vacina não é segura?
Algo que certamente explica a rapidez com que as
Em Plandemic (vídeos conspiracionistas, lançados em
vacinas foram produzidas é a quantia de dinheiro
2020, que promovem informações erradas sobre a
investida no seu desenvolvimento. Além disso,
pandemia do COVID-19), afirma-se falsamente que
a biotecnologia por detrás das vacinas da Pfizer e da
qualquer vacina COVID-19 "matará milhões", tal
Moderna já era trabalhada há anos: estas vacinas
como outras vacinas outrora fizeram. Outra teoria
induzem o sistema imunitário a fabricar defesas, sem
afirma que Bill Gates tem um plano secreto para usar
ser necessário inocular o vírus, nem as suas proteínas.
as vacinas para implantar microchips rastreáveis na
É apenas utilizado o código genético do novo vírus,
população. No início da pandemia, no clima de
que ficou disponível poucos dias após ter sido
incerteza inicial, as poucas vozes de oposição foram
identificado e isolado. A pandemia permitiu que
crescendo. Um estudo recente observou que, embora
os ensaios clínicos decorressem rapidamente, uma
os grupos de antivacinas no Facebook estejam em
vez que, com tantos infetados, não foi preciso esperar
menor número que os grupos pró-vacinação, há uma
muito
estavam,
maior interconexão com aglomerados de indecisos.
efetivamente, a ter um efeito protetor. “Mas esta
Existem boas razões para ser cauteloso sobre a
vacina altera o DNA”. As vacinas da Pfizer/BioNTech
segurança de qualquer nova vacina ou tratamento e
e da Moderna utilizam a biotecnologia do RNA
levantaram-se
mensageiro, que contém o esquema para a produção
qualquer aprovação de vacina será apressada. No
de antigénios, como já foi mencionado anteriormente.
entanto, é factual que as vacinas salvam milhões de
Este facto serviu de combustível para o mito de que
vidas todos os anos. Além disso, é crucial ter em
supostamente estas vacinas causariam alterações do
conta que antes de uma vacina ser aprovada, deve
ADN. Obviamente que esta afirmação não passa de
passar por uma série de testes clínicos para mostrar
um disparate. Já dizia o ex-diretor do Centro para
que é segura e eficaz num grande número de pessoas.
para
perceber
se
as
vacinas
vacina com RNAm é como um email enviado ao sistema imunitário que mostra como é o vírus e dá instruções para o matar e depois, como uma mensagem de Snapchat, desaparece.”
legítimas
de
que MITOS: VACINAS COVID-19 | PÁGINA 49
Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA: “uma
preocupações
A hidrocloroxina é um tratamento
As vacinas contêm 5G
A hidrocloroxina trata-se de um medicamento
Diversos vídeos e publicações surgiram nas redes
utilizado no tratamento da malária. Terá surgido como
sociais, que evidenciavam uma relação entre o 5G e
possível solução de combate à Covid-19 aquando de
as vacinas. Supostamente, estas estariam a ser
um estudo publicado na França, que apresentava
utilizadas para monitorizar a população com vista ao
resultados promissores em laboratório, por inibir o
roubo de informação. Ao contrário do que estas
SARS-COV-2 in vitro, parecendo ter uma atividade
publicações indicam, as vacinas contra a Covid-19
antiviral
espalhou-se
não transformam as pessoas imunizadas em antenas
rapidamente quando Donald Trump e Jair Bolsonaro
do sinal 5G. Nenhuma das fórmulas aprovadas pelas
vieram a público diversas vezes manifestar-se acerca
agências reguladoras contém substâncias capazes de
da sua eficácia. Então porque razão o tratamento com
emitir qualquer sinal eletromagnético ou frequência.
esta substância acabou por ser suspendido? Em
Algo desse género nem faria sentido, uma vez que
meados de 2020, o Infarmed decidiu recomendar a
uma antena se trata de um dispositivo complexo, que
suspensão do tratamento com hidroxicloroquina em
envolve vários elementos, enquanto que uma vacina é
doentes com Covid-19, a par da Organização Mundial
o produto de um conjunto de ingredientes orgânicos.
de Saúde, na sequência de um estudo publicado pela
São coisas distintas, portanto.
eficaz
potente.
Esta
informação
revista The Lancet, em maio de 2020. Este terá sido realizado com cerca de noventa mil doentes com Covid-19 e as conclusões obtidas pelos seus autores referem “não ter conseguido confirmar o benefício da hidroxicloroquina nestes doentes”, resultando num acréscimo dos efeitos secundários, incluindo “um
MITOS: VACINAS COVID-19 | PÁGINA 50
aumento da mortalidade”.
MADALENA MACHADO
DOENÇAS
Quando as nossas defesas atacam Doenças autoimunes O sistema imunitário, na sua função como defensor do organismo, tem como objetivo neutralizar
quaisquer agentes invasores, eliminando-os do nosso corpo. No entanto, o ser humano é imperfeito, levando por vezes este poder de ataque a virar-se contra o próprio organismo. Como combater o nosso próprio sistema de defesa? Como nos afetam estes distúrbios? Venha descobri-lo, com esta análise às doenças autoimunes.
O que caracteriza as doenças autoimunes? Psoríase, Doenças
autoimunes
são
caracterizadas
doença
de
pele
comum,
não
contagiosa, apesar dos populares rumores. O tipo
anomalias nas quais o sistema imunitário ataca as
mais comum surge em áreas de pele elevadas e
células do nosso corpo, em vez de atacar os agentes
avermelhadas cobertas de uma área esbranquiçada de
invasores. São comummente crónicas e afetam maioritariamente mulheres em idade reprodutiva. Existe a ideia de que este tipo de doença, particularmente as que se mostram na pele, é contagiosa. No entanto, sabe-se que são resultado apenas de distúrbios do sistema imunitário individual, não sendo assim transmíssivel por toque ou, por exemplo, por nadar na mesma piscina. Alguns dos exemplos mais comuns de doenças autoimunes são: Artrite reumatoide, doença inflamatória crónica, caracterizada pela inflamação das articulações e que DOENÇAS AUTOIMUNES| PÁGINA 52
uma
por
pode conduzir à destruição do tecido articular e
células de pele mortas. Afeta 1% a 3% da população portuguesa e localizando-se principalmente nos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, unhas e região lombar. Este tipo de doença tem um grupo de sintomas em comum, como fadiga, dores musculares, febre, edemas e dor articular, assim como inflamação localizada. Estas doenças podem ainda ter fases alternadas entre ativa e dormente, em que os sintomas
flutuam
e
podem
até
desaparecer
temporariamente.
periarticular (Sociedade Portuguesa de Reumatologia
Como combater doenças autoimunes?
- SPR);
Diagnóstico
Diabetes tipo 1, o tipo de diabetes mais raro, que
O primeiro passo para combater uma doença é
atinge maioritariamente crianças e jovens. Ocorre
diagnosticá-la o mais cedo possível. No caso das
quando as células beta do pâncreas deixam de
doenças autoimunes, este processo requere um
produzir insulina, resultado de uma destruição
número elevado de exames e consultas médicas para
massiva das mesmas por parte do sistema imunitário
identificar o tipo de distúrbio em causa, dado que os
(Associação protetora dos diabéticos portugueses -
sintomas destas doenças são comuns a muitas outras
APDP);
Fonte : https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/doencas-autoimunes-quando-o-inimigo-e-seu-proprio-organismo
É, portanto, importante visitar o médico de família
utilizadas fototerapia, laser e cremes hidratantes para
regularmente para manter os exames médicos de
doenças cutâneas como a psioríase, porém o mais
rotina em dia.
recomendado pelos médicos é um estilo de vida mais saudável.
Fatores de risco Outro modo de combater doenças autoimunes é ter
Considerando o estigma negativo comumente
em conta os fatores de risco, uma vez que as suas
associado às doenças autoimunes, é essencial
causas exatas ainda não foram identificadas. Estes fatores incluem obesidade, tabagismo e genética. Deve ter-se ainda em consideração que estas doenças podem aumentar o risco de doença cardíaca
informar o público sobre as mesmas, a fim de combater
a
desinformação
e
evitar
consequências relacionadas com a resultante
e, como tal, aconselha-se adotar hábitos como viver
discriminação. Para tal, a Immunitas contactou
ativamente, ter uma dieta saudável e equilibrada, e
algumas pessoas que vivem com estas doenças,
tomar atenção à pressão arterial.
com o objetivo de melhor compreender o seu ponto de vista sobre as mesmas.
Cura DOENÇAS AUTOIMUNES| PÁGINA 53
Doenças autoimunes não têm uma cura geral, já que a sua causa ainda é desconhecida. Tradicionalmente, são
tratados
os
sintomas
com
recurso
a
imunossupressores, como os corticóides. No entanto, o uso destas substâncias deixa o organismo com defesa fragilizada, ficando o doente mais suscetível a outros tipos de infeções e doenças, além de múltiplos outros efeitos secundários. Podem também ser
MARGARIDA SARDINHA
Síndrome Guillain-Barré Cerca
de 4 em cada 100 mil pessoas são
diagnosticadas anualmente com a síndrome de Guillan-Barré (SGB), uma doença inflamatória que afeta os nervos periféricos. Sem distinção no sexo, mais frequente em adultos, esta patologia
rara
apresenta
uma
taxa
de
recuperação elevada, apesar da inexistência de cura. Porém, cerca de 4% a 7% dos infetados
SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ| PÁGINA 54
acabam por falecer.
SGB é uma rara doença neurológica que conduz à
Dentro do espetro da doença existem ainda algumas
desmielinização e/ou degeneração axonal dos nervos
variantes, sendo a principal diferença a fisiopatologia.
periféricos, através de um mecanismo de mimetismo
Entre elas estão a neuropatia axonal motora aguda,
molecular. Isto significa que o sistema imunológico do
semelhante à AIDP, sem os sintomas sensoriais;
corpo ataca erroneamente parte do sistema nervoso
neuropatia axonal sensório-motor aguda, variante
periférico, rede de nervos localizados fora do cérebro
predominante na Ásia, América Central e América do
e da espinal medula. Todos os nervos que controlam
Sul; e a síndrome de Miller-Fisher (MFS), variante rara
os movimentos dos membros ou os músculos
dos nervos cranianos, caracterizada pela visão dupla e
respiratórios podem, portanto, ser afetados. Estes
perda de equilíbrio.
nervos são constituídos por fibras revestidas por uma
Atualmente,
bainha isolante, denominada mielina, que garante o
desconhecida.
seu bom funcionamento e promove a transmissão das
desmielinização tenha origem autoimune, isto é, as
mensagens nervosas. Quando o sistema nervoso é
defesas do organismo, em vez de atacarem os corpos
afetado por esta doença, a mielina é alterada ou até
estranhos (vírus, bactérias, etc.), atacam o próprio
mesmo destruída.
corpo, ao criarem anticorpos nocivos, designados
A síndrome é caracterizada pela fraqueza progressiva,
autoanticorpos, que danificam a mielina e, por
podendo resultar em paralisia. Na maioria das vezes,
consequente,
começa ao nível das pernas, podendo subir até atingir
dolorosas. Usualmente, quem sofre da síndrome
os músculos da respiração, afetando em seguida os
sofreu de uma infeção viral ou bacteriana nos dias ou
nervos da cabeça e do pescoço. É também designada
semanas que precederam os sintomas. Sabe-se que a
por polirradiculoneuropatia aguda desmielinizante
síndrome é comummente provocada por bactérias e
inflamatória (AIDP), ou por polirradiculoneuropatia
virús,
aguda
responsável
desmielinizante
pós-infeciosa,
frequentemente ocorre após uma infeção.
pois
como
a
causa No
exata
entanto,
causam
a por
da
acredita-se
reações
Campylobacter certas
síndrome que
é a
inflamatórias
pillori
(bactéria
gastroenterites),
citomegalovírus, o vírus Epstein Bar e o vírus Zika.
os
A
ingestão
de
estreptoquinase
certos e
medicamentos
danazol,
bem
como
como
a
atingida, a paralisia pode evoluir e culminar em consequências
mais
graves
paciente:
batimento
cardíaco);
taquicardia
responsáveis pelo desenvolvimento da SGB. As
bradicardia (abrandamento do batimento cardíaco);
últimas vacinas desenvolvidas para erradicar o vírus
hipotensão (quedas súbitas da pressão arterial);
SARS-CoV-2
potenciais
hipertensão (aumento da pressão arterial); e, por
causas, em particular a vacina da farmacêutica
vezes, obstipação intestinal. Nesta fase, podem
Janssen. Apesar dos seus benefícios, no verão de
ocorrer complicações com os pacientes internados
2021 foi confirmada pelo Infarmed e pela EMA
por um longo período de tempo, como o risco de
(Agência Europeia de Medicamentos) a possibilidade
formação de coágulos sanguíneos. Por último, a
desta vacina provocar a síndrome de Guillan-Barré.
terceira fase é a de recuperação, onde os sintomas
Além da vacina da Janssen, também a vacina
regridem,
Vaxzevria
recuperação
admitidas
(anteriormente
como
COVID-19
Vaccine
com
do
o
administração de vacinas, podem também ser fatores
foram
(aceleração
para
duração
pode
ser
de
vários
completa,
meses.
mas
A
algumas
sequelas podem persistir, dependendo da gravidade
doença neurológica.
da síndrome.
A síndrome Guillan-Barré é acompanhada de alguns
O diagnóstico da SGB é iniciado assim que o médico,
sintomas mais ou menos graves que podem trazer
com base nos sintomas do paciente, suspeita da
transtornos à vida do portador. A doença desenvolve-
doença. De modo a confirmar a diagnose, existem
se em três fases: na primeira fase, é comum o doente
dois exames: a punção lombar e o eletromiograma. O
sentir dormência, formigueiro, sensações de choque
primeiro é um procedimento médico no qual é
elétrico e vibrações, especialmente nas mãos e nos
inserida uma agulha entre duas vértebras lombares
pés. A fraqueza muscular é de intensidade variável,
até que seja atingido o espaço onde se encontra o
podendo até chegar à paralisia de um membro.
líquido cefalorraquidiano, que rodeia o cérebro e a
Normalmente, o dano é simétrico, afetando os dois
medula espinhal. São depois realizadas análises à
lados do corpo ao mesmo tempo. Dor intensa, cãibras
pequena porção de líquido extraída para procurar
nas costas, nádegas e coxas, nervos afetados na
uma elevação anormal de proteínas evocativas da
cabeça e no diafragma, que podem conduzir a
síndrome de Guillain-Barré. Por sua vez, no segundo,
paralisia do movimento dos olhos ou dos músculos
é realizado um registo da atividade elétrica dos
faciais, desconforto ou dificuldade para engolir e
nervos periféricos e músculos e da transmissão
ainda falta de ar, são outros sintomas que podem
elétrica entre ambos. Caso o eletromiograma revele o
surgir nesta fase. Dura geralmente entre uma a três
bom
semanas, e pode ser necessário o internamento do
deterioração dos nervos que lhes dão ordens, o
paciente. A segunda fase tem uma duração variável,
paciente é diagnosticado com SGB.
desde alguns dias a algumas semanas, trazendo a
Habitualmente,
estabilização dos sintomas. Porém, até que esta seja
imediatamente após o diagnóstico, de modo a
funcionamento
o
dos
doente
músculos,
é
mas
a
hospitalizado
prevenir dano mais severos nos nervos. Existem dois tratamentos preferenciais entre os profissionais de
SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ| PÁGINA 55
AstraZeneca) inclui uma advertência sobre esta
saúde, ambos eficazes e com a finalidade de limitar a
Só após esta neutralização é que os outros sintomas
gravidade da síndrome. O primeiro dos dois, a
relacionados com a SGB são tratados. Além dos
plasmaferese terapêutica, é um procedimento em que
sintomas dolorosos e temporários consequentes da
o sangue passa por um circuito extracorpóreo que
síndrome Guillain-Barré, esta doença neurológica
separa o plasma dos outros componentes do sangue.
afeta a vida do paciente por muito tempo. Quer numa
O plasma removido é substituído por soluções de
criança ou num adulto, a doença tem um impacte
reposicão, por exemplo por uma solução colóide
emocional, social e financeiro na vida do paciente e
(plasma)
dos entes queridos. A cessação da atividade
ou
uma
cristalóide/colóide.
combinação Esta
técnica
de
solução
remove
os
profissional por vários meses pode até ser necessária
autoanticorpos do sangue do paciente que destroem
nas formas mais graves da síndrome de Guillain-
a mielina. O outro tratamento é a injeção de
Barré.
imunoglobulinas intravenosas (IVIg), consistindo na
dependendo de sua gravidade, pode considerar-se a
injeção no paciente de anticorpos de sangues de
reorientação profissional ou a reorganização do
vários dadores. Estas imunoglobulinas neutralizam os
tempo de trabalho. O testemunho que se segue é um
anticorpos nocivos, que provavelmente estão na
bom exemplo de como a SGB altera a vida do seu
origem da síndrome.
portador.
Posteriormente,
se
houver
sequelas,
e
Testemunho José Luis Morais, 55 anos, foi diagnosticado
pela frente, alimentado pela motivação de
com síndrome de Guillan-Barré após ir ao
reconquistar o que a doença lhe roubou. Já
hospital por estar a sentir-se mal. No dia
mais estável, iniciou a sua recuperação e hoje
seguinte, deixou de andar, de falar e até de
em dia, com a ajuda da fisioterapia e da
respirar de forma autónoma, ficando assim
terapia
tetraplégico. Esteve internado, durante 160
caminhar, comer e respirar sozinho. José é um
dias, no Hopital Lusíadas Lisboa, local onde foi
exemplo de força que não desistiu perante a
reanimado cinco vezes. Felizmente, José
adversidade.
da
fala,
já
consegue
sentar-se,
SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ| PÁGINA 56
sobreviveu, mas tem agora um longo caminho
Fonte : https://www.lusiadas.pt/blog/doencas/sintomas-tratamentos/sindrome-guillain-barre-um-caso-fora-comum
CATARINA FIALHO
Lúpus Lúpus,
derivado
nome masculino de dois números, do
latim
do
étimo
lupus,
cujo
significado é lobo. Este nome designa uma doença autoimune cuja maior taxa de incidência é no sexo feminino, entre os 18 e os 55 anos. Atualmente, em Portugal, estima-se a existência de quatro mil casos, sendo 80% diagnosticados em mulheres.
A primeira vez que esta patologia foi detetada foi no
complemento
século XIII, quando o médico Rogerius descreveu as
membrana plasmática que auxilia no combate à
lesões faciais como uma mordida de um lobo.
infeção), o que conduz a inflamações na pele, nas
Durante a Idade Média e até meados do século XIX,
articulações, nos pulmões, nos rins, no sangue e no
lúpus era descrito apenas como algo dermatológico,
coração. No segundo, as únicas manifestações da
sendo somente em 1872 que o dermatologista Kaposi
doença são na pele, apresentando as lesões cutâneas
descreveu pela primeira vez muitas das manifestações
formas de disco, dando assim o nome a este tipo. A
sistemáticas
terceira
do
lúpus.
Estas
incluíam
nódulos
(sistema
condição
é
composto
causada
proteínas
por
da
certos
subcutâneos, artrite com hipertrofia sinovial nas
medicamentos, sendo os sintomas similares com os
pequenas e grandes articulações, linfadenopatia,
sintomas do lúpus sistémico, ainda que menos
febre, perda de peso, anemia e ainda envolvimento do
severos.
sistema nervoso central. Foram, no entanto, apenas
comummente associados são a hidralazina, medicação
no século XX alcançados notáveis avanços científicos,
para a hipertensão; a procainamida, tratamento da
devido à descoberta da célula de lúpus eritematoso
arritmia cardíaca; e ainda a isoniazida, usada para
na medula óssea dos pacientes. Apesar destas
tratar a tuberculose. Este tipo de lúpus deixa,
descobertas, lúpus é, mesmo hoje em dia, um enigma
usualmente, de apresentar sintomas seis meses após
clínico.
a paragem da medicação. Finalmente, o último ocorre
Apresenta-se como doença autoimune crónica, na
quando a mãe do bebé passa ao mesmo, através da
qual o sistema imunitário em vez de proteger o corpo
placenta, certos anticorpos provocadores da doença.
ataca os tecidos podendo causar inflamação e dor em
Os sintomas de lúpus variam de acordo com a fase
qualquer parte do corpo. Existem 4 tipos de lúpus:
em que a doença se encontra e quais os órgãos,
lúpus sistémico, lúpus discóide, lúpus induzido por
tecidos e/ou articulações que são afetados. Existe,
fármacos e ainda lúpus neonatal. O primeiro, mais
portanto, uma grande variedade de manifestações,
comum, consiste na produção e eliminação defeituosa
consoante a parte do organismo que afetam. Entre
de anticorpos, na circulação e deposição tecidual de
elas destacam-se: manifestações articulares, cujos
imunocomplexos e ainda na ativação do sistema do
sintomas variam desde artralgias intermitententes a
Alguns
dos
fármacos
que
lhe
estão
LÚPUS| PÁGINA 57
poliartralguas agudas; manifestações cutâneas, cujas
de lúpus, sendo, no entanto, necessário realizar mais
lesões da pele incluem eritema malar em asa de
testes para confirmar o diagnóstico.
borboleta, ausência de pápulas e de pústulas e
Examinar as análises laboratoriais, bem como ter em
fotossensibilidade; manifestações cardiopulmonares,
conta o histórico familiar, são fatores importantes para
com sintomas como pleurisia recidivante, com ou sem
garantir um diagnóstico correto. Usualmente, são
derrame
neurológicas,
realizados exames ao sangue, à urina, e ainda um
caracterizadas por dificuldade de concentração e
exame designado anticorpo antinuclear (ANA) que
transtorno de personalidade; manifestações renais,
testa a presença de autoanticorpos e que se for
com a proteinúria como sintoma mais comum; e
positivo é sinal que sofre de uma doença autoimune.
manifestações
Por vezes, quando em dúvida, o médico pode recorrer
pleural;
manifestações
hematológicas,
incluindo
anemia,
leucopenia e trombocitopenia.
à realização de biópsias tanto da pele como dos rins.
Apesar de ainda não ser conhecida uma causa exata
O tratamento do lúpus deve ser orientado pelo
do lúpus, acredita-se que existe uma série de fatores
reumatologista de acordo com o tipo da doença,
que,
sintomas
quando
combinados,
resultam
no
apresentados
e
frequência
com
que
desenvolvimento desta doença. Três dos principais
acontecem. Apesar de não existir um tratamento que
fatores são, como em muitas doenças, as hormonas, a
cure o lúpus, o médico pode indicar o uso de alguns
genética e o ambiente. O primeiro não está ainda
medicamentos que ajudam a aliviar os sintomas
comprovado que realmente cause esta patologia,
durante os períodos de crise, entre os quais: anti-
verificando-se, contudo, que com o aumento do
inflamatórios, coritcoides e imunossupressores. É
estrogénio existe um aumento dos sintomas de lúpus.
ainda recomendada a prática de exercício físico
Ao longo dos últimos anos, investigadores da John
regular, o uso de protetor solar e alimentação
Curtin School of Medical Research, parte da
saudável. Existem outros tratamentos que podem ser
Universidade Nacional da Austrália identificaram mais
complementares
de 50 genes associados ao lúpus, no entanto, estes
vitaminas e suplementos, acunpuntura e terapia
não são condição suficiente para causar a doença.
mente-corpo, não existindo, porém, qualquer prova de
Grupos
que estes sejam eficazes no tratamento de lúpus.
étnicos
como
Africanos,
Asiáticos
e
ao
do
médico,
por
exemplo:
Hispânicos possuem um maior risco de desenvolver
Para complementar o artigo, segue-se uma entrevista
lúpus, talvez devido aos genes que têm em comum.
realizada com Sofia Ribeiro, diagnosticada com lúpus.
Se já existir histórico de doenças autoimunes na família, a probabilidade de contrair lúpus é maior. Por último, um agente ambiental, como um vírus ou um químico, pode representar um motivo para provocar a doença. Ainda não se sabe ao certo se a doença se
LÚPUS| PÁGINA 58
deve à existência de um agente em específico, mas luz ultravioleta, infeções, exposição a pó de sílica em ambientes industriais e agrícolas, exaustão, stress, cirurgia, ou até mesmo gravidez são alguns dos fatores mais comumente identificados. Após a análise dos sintomas, o médico pode suspeitar da existência
CATARINA FIALHO
Entrevista
Falámos com Sofia Silva Ribeiro, diagnosticada com lúpus há mais de 11 anos. Sofia acredita que “é possível viver com qualidade a partir do conhecimento, aceitação e responsabilização pela nossa doença.”
É psicóloga, aluna de Doutoramento em Psicologia da saúde no ISCTE, com um projeto que “pretende desenvolver uma intervenção digital para promover a qualidade de vida de mulheres com lúpus.” O seu trabalho está disponível na sua página de Instagram, @psicologasofiasilvaribeiro.
Immunitas: Como soube que algo estava errado?
S: Descobri que tinha lúpus quando fui a uma
Sofia Ribeiro: Foi em 2010, quando comecei a sentir
consulta de reumatologia, num reumatologista já com
os primeiros sintomas e basicamente eu acordava de
muita muitos anos de experiência. Primeiro ele deu-
manhã com dores articulares e rigidez que não me
me três possíveis diagnósticos: artrite reumatoide,
permitiam, por exemplo, atar os atacadores das
doença de Behçet ou lúpus. Foi quando fiz alguns
sapatilhas ou apertar o botão das calças, precisava de
exames que ele acabou por me diagnosticar Lúpus.
ajuda para me vestir de manhã. Na primeira aula da
Assim contando parece que foi simples, mas até
manhã não conseguia tirar apontamentos, porque não
chegar aqui demorou bastantes meses, não sei se
conseguia pegar na caneta, além de me sentir
chegou até a um ano, e passei por vários médicos
bastante cansada e muitas vezes ter febre ao início da
como disse na pergunta anterior. Acabou por ser um
manhã. Então quando estes sintomas surgiram eu
processo longo e bastante doloroso, porque antes de
senti que alguma coisa não estava bem e que não era
descobrir
suposto eles existirem, mesmo estando sobre algum
medicados
stress, como implica o primeiro ano da universidade, e
continuavam e simplesmente não sabia o que é que
foi aí que decidi procurar ajuda médica. Comecei por
tinha.
um
fisiatra
por
ter
dor
articular
diagnóstico, devidamente
não e
por
conseguimos isso
as
ser
dores
e
suspeitaram de várias coisas, mas depois do fisiatra
I: Como é que a sua vida mudou desde o seu
fui a muitos outros médicos tentar descobrir o que é
diagnóstico?
que eu tinha. . I: Como e quando descobriu que tem lúpus?
ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 59
procurar
o
S: Na verdade tendo em conta o que eu partilhei
preocupação de como é que podemos estar amanhã.
antes, o facto de ter o diagnóstico em si até ajudou a
Mas os desafios da vida com uma doença crónica
melhorar a minha qualidade vida porque finalmente
depende muito da doença e das limitações que ela
aquilo que eu tinha, tinha um nome e os médicos
traz à própria pessoa. No meu caso felizmente as
conheciam e sabiam como tratar. Comecei a
limitações são muito poucas e por isso, para mim o
medicação e comecei a sentir-me bastante melhor
grande desafio foi aceitar a doença. Eu demorei sete
logo após as primeiras tomas, porque os sintomas
anos a conseguir falar sobre o lúpus, conseguir
começaram a ficar controlados ou seja no fundo a
partilhar que tinha e adaptar a minha vida ao
primeira mudança, a primeira sensação foi de alívio.
diagnóstico. Depois os desafios prendem-se com o
Senti que mudou para melhor porque finalmente
próprio dia-a-dia com aquilo que são os sintomas e a
consegui tratar aquilo que eu sentia. Claro que se eu
forma como eles acabam por influenciar as decisões
comparar com os anos sem sintomas a mudança foi
que nós tomamos, e as decisões que nós tomamos na
muito grande, porque eu tinha sintomas que afetam
nossa vida influenciam os nossos sintomas.
as atividades no dia-a-dia, como o cansaço, as dores,
Outro desafio que eu considero que existe é o
as dores de cabeça que também tinha bastantes, tudo
cansaço dos sintomas em si, ou seja, quando nós
isso para quem está a iniciar a universidade é bastante
passamos vários dias com dor ou com fadiga, muitas
desafiante. No fundo acaba por ser uma grande
vezes acumulamos um cansaço que há dias em que
mudança, e há uma grande adaptação necessária,
nós voltamos, não diria voltar a não aceitar, mas
porque com 18 anos passei a viver com dor e cansaço
voltamos a sentir alguma revolta com o diagnóstico, e
praticamente
tomava
a ter pensamentos mais de adaptativas como:
medicação e acho que esse foi o maior desafio. Foi
“Porque é que isto me está acontecer?”, “Estou farta
aceitar que apesar da minha idade havia muitas coisas
de estar cansada todos os dias” ou “Quando é que eu
que eu antes fazia que deixei de conseguir fazer. Hoje
tenho um dia sem dores?”, e esse desafio de voltar a
vejo que a minha vida se adaptou totalmente ao meu
aceitar, e de voltar a retomar o nosso equilíbrio, a
diagnóstico e ele tornou-se até o meu propósito e é
nossa vida também é grande e é continuo tendo em
por causa do lúpus que eu trabalho todos os dias.
conta que é uma doença crónica.
diários
mesmo
quando
ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 60
Claro que se eu pudesse escolher não tinha lúpus, mas tendo eu penso que a minha vida acabou por se
I: Partilhe alguns mitos com que já se deparou sobre
adaptar e eu hoje sou considero que sou muito mais
o lúpus.
do que o meu diagnóstico e consigo felizmente ter
S: Acho que o principal mito é que não é possível
uma vida muito confortável, feliz e com qualidade.
viver com qualidade com lúpus. Ainda existem alguns artigos na internet que ditam uma esperança média
I: Quais são os maiores desafios de viver com uma
de vida para as pessoas com lúpus e que estão
doença crónica?
baseados em estudos muito muito antigos, que hoje
S: Eu acho que o primeiro grande desafio de viver
em dia felizmente já não se aplicam. E por isso penso
com uma doença crónica é aceitar que vamos ter essa
que este é o mito que é mais importante
doença para a vida toda, que não existe uma cura e
desmistificar, para que quem recebe este diagnóstico
que provavelmente teremos a vida toda a
não pense que a sua vida acabou, ou que tem poucos
anos de vida, ou que não é possível viver bem com o
I: Viver com lúpus afetou a sua carreira? Se sim,
diagnóstico. Porque é possível vivermos bem e com
como?
qualidade e ter uma vida dita “normal” mesmo com o
S: No fundo acredito que afetou mas no sentido
lúpus. Existem outros mitos associados à doença,
positivo, porque basicamente definiu aquilo que eu
como as mulheres que têm lúpus não podem
faço hoje, se eu faço o que faço é porque tenho
engravidar que também é um mito, ou que é uma
lúpus, e portanto o lúpus afetou a minha carreira mas
doença contagiosa, esse infelizmente é muito grave
num sentido positivo, porque me ajudou a perceber
porque pode ter muitas consequências sociais, mas eu
como é que eu, enquanto psicóloga, posso ajudar
acho que já se está a dissipar, acho que a maior parte
outras pessoas com lúpus, ou até com outras doenças
das pessoas já não acreditam nele. Por outro lado,
crónicas. Em termos negativos felizmente não, não
também podemos considerar mitos o facto das
sinto que tenha afetado a minha carreira.
pessoas não acreditarem no impacto que as emoções têm na doença, porque têm bastante impacto, e daí a
I: De que forma a convivência com esta doença a
psicologia ter muito a dizer também no lúpus. Depois
afetou a nível psicológico?
também não acreditarem que o nosso estilo de vida,
S: Eu acredito que no início do meu diagnóstico pode
como a alimentação e atividade física, têm impacto na
ter afetado por me ter feito sentir emoções mais
doença. E penso que estes serão assim os mitos que
negativas, como raiva ou tristeza por ter o
mais me chamam à atenção e que eu própria acreditei
diagnóstico, e isso fez-me ter comportamentos em
em alguns deles quando tive o diagnóstico.
que eu escondia o diagnóstico e não consegui adaptar o meu dia-a-dia, a minha vida ao lúpus. E isso
I: Que conselhos daria a outros com a mesma doença?
também afetou a minha qualidade de vida, porque
S: Acho que o principal conselho que eu daria às
fazia com que eu não tivesse comportamentos
pessoas que tem lúpus é para tentarem conhecer a
adaptativos e que me ajudassem a viver com mais
doença através de fontes fidedignas de informação,
qualidade. Hoje em dia, acredito que em termos
para se rodearem de exemplos de superação e de
psicológicos
pessoas que as possam ajudar, que tenham vivido os
diagnóstico e vivo bem com ele. Claro que, como
mesmos desafios, e que tenham também exemplos de
todas as pessoas com ou sem lúpus, tenho dias piores
esperança para dar. Depois que tentem trabalhar no
e dias melhores, e tenho dias em que tenho algumas
controlo da doença, em conhecer o seu Lúpus, porque
emoções negativas ainda associadas ao lúpus, mas
existe um lúpus para cada pessoa, e que tentem
esses dias já não são representativos. O próprio lúpus
conhecê-lo para conseguir controlá-lo da melhor
pode causar sintomas de foro psicológico ou
forma e sentirem-se mais eficazes a fazê-lo. E para
psiquiátrico como as alterações de humor, algumas
juntar ao conhecer e controlar o lúpus, diria que é
perdas de memória e perdas de concentração e claro
essencial trabalhar na aceitação do lúpus. Por isso, eu
que quando os meus sintomas são mais ativos, eu
diria que o principal conselho resumidamente é:
também
conheçam e aceitem o lúpus, aprendam a viver com
felizmente são raros e não afetam a normalidade da
ele e a controlá-lo e que não deixem que seja ele a
minha vida.
tenho
muito
alguns
confortável
desses
com
sintomas,
o
mas
ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 61
controlar a vossa vida.
estou
I: O que a levou a criar a sua página de Instagram?
No fundo tento levar uma vida saudável dentro
S: Decidi criar a minha página do Instagram porque ao
daquilo que é possível, tomando sempre muita
longo
é
consciência do meu corpo, escutando sempre que os
desenvolver uma intervenção para ajudar mulheres
sintomas estão a reaparecer para atuar sobre eles.
com Lúpus a viverem mais adaptadas ao seu
Mas neste momento, felizmente, não estou a fazer
diagnóstico,
qualquer tipo de tratamento farmacológico.
do
doutoramento,
e
este
o
meu
processo
objetivo
tem
muitas
aprendizagens, teóricas e práticas, da vida com lúpus que eu acredito que pode ajudar muitas outras pessoas com lúpus. Além disso, eu estou a fazer o meu doutoramento com uma bolsa de doutoramento, e isso significa que existe um investimento da sociedade no meu projeto, e, portanto, também me faz sentido retribuir à comunidade. Muitas vezes na academia aquilo que nós produzimos são artigos científicos em inglês e teses de doutoramento que, infelizmente, não são acessíveis ao público em geral, e portanto com a minha página pretendo dar à comunidade acesso direto e fácil numa linguagem acessível, àquilo que é o que eu vou aprendendo ao longo
do
meu
acrescentando
um
doutoramento, pouco
da
mas
também
minha
própria
experiência enquanto pessoa com lúpus. I: Realiza algum tratamento? Se sim, qual? S: Felizmente, neste momento, não necessito de realizar nenhum tratamento farmacológico, porque tenho o lúpus bastante controlado. A única opção neste
momento
seria
tomar
medicação
por
ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 62
prevenção, para o caso de surgir algum sintoma no futuro e eu optei por não o fazer com o conhecimento da minha médica. Aquilo que eu tenho é muito cuidado, ou o cuidado possível em relação à alimentação,
pratico
exercício
físico
com
acompanhamento profissional, e tento reduzir o stress.
I: Obrigada pela sua colaboração!
Diabetes C om
uma taxa de incidência a crescer
anualmente, diabetes mellitus, é uma doença metabólica crónica que provoca uma elevação permanente da glicemia. Hoje em dia, estima-se que no mundo existam cerca de 400 milhões de pessoas com diabetes, sendo que, em Portugal, 13% da população adulta portuguesa sofre desta patologia.
Um
dos
principais
nutrientes,
necessário
Esta, se não controlada, pode provocar complicações
indispensável para o crescimento, desenvolvimento e
fetais e no parto, sendo que o bebé estará também
manutenção das funções vitais dos seres humanos, é
mais propenso a desenvolver diabetes tipo 2.
a glicose. Este monossacarídeo é utilizado como fonte
Apesar de existir uma diferenciação no tipo de
de energia pelas células. Uma vez presente na
diabetes, os sintomas da diabetes tipo 1 são similares
corrente sanguínea, o pâncreas liberta insulina, uma
aos da tipo 2. Estes são provocados pela quantidade
hormona que promove a entrada da glicose nas
de glicose existente no sangue, isto é, estão
células. Quando os níveis de produção de insulina são
associados ao aumento do seu nível, hiperglicemia, ou
diminutos, as células começam a apresentar um
à sua diminuição, hipoglicemia. Quando um diabético
défice de glicose, o que causa um aumento na taxa de
apresenta uma elevada quantidade de açúcar no seu
açúcar no sangue. Com o tempo, este açúcar pode ser
sangue, superior a 140 mg/dL (hiperglicemia), pode
o motor de vários problemas de saúde.
ter visão turva, boca seca e sede, transpiração
Existem três tipos de diabetes, sendo o mais comum a
excessiva, cansaço, enjoos, e, em casos mais graves,
diabetes tipo 2, que corresponde a aproximadamente
pode entrar em coma. Se, pelo contrário, os níveis de
90% dos casos. Esta patologia é frequentemente
sacarídeos no sangue forem inferiores a 70mg/dL
diagnosticada em adultos, cujo organismo, embora
(hipoglicemia), o doente pode sentir-se fraco, com
produza insulina, torna-se resistente à mesma,
tonturas, tremores, visão turva, ansiedade e dores de
diminuindo, assim, a sua eficácia. O segundo tipo mais
cabeça. Tal como na hiperglicemia, em casos
comum é o tipo 1, no qual o pâncreas deixa de
extremos, pode igualmente ficar em coma.
produzir insulina. Geralmente, este desenvolve-se em
A diabetes é desenvolvida devido à redução da
crianças e adolescentes, podendo, contudo, aparecer
produção de insulina, ou até mesmo, à não produção
em adultos ou até mesmo em idosos. Por sua vez, o
desta
terceiro tipo corre na sequência de uma gravidez. Um
aumentam a probabilidade de gerar esta doença,
novo ambiente hormonal, associado a um excesso de
entre eles, estão: a hipertensão arterial; a obesidade;
peso, sedentarismo e alimentação pouco equilibrada,
a privação de sono; o sedentarismo; e o tabagismo. O
pode provocar a chamada diabetes gestacional.
histórico familiar, bem como doenças do pâncreas ou
hormona.
Existem
alguns
fatores
doenças endócrinas, são também fatores de risco.
que
DIABETES| PÁGINA 63
e
Para garantir um diagnóstico correto, o médico não pode basear-se apenas nos sintomas do doente, sendo também necessário realizar alguns exames. O exame mais simples consiste na análise do valor da glicemia em jejum: se for verificada a presença de dois valores de glicemia em jejum superiores a 126 mg/dL, é diagnosticado diabetes; se o valor for inferior a 126 mg/dL, mas igual ou superior a 100 mg/dL, o diagnóstico é de pré-diabetes. O teste que apresenta mais exatidão no diagnóstico é a prova de tolerância à glicose oral, no qual é ingerido uma bebida com 75 gramas de glicose: caso, duas horas depois, o valor de glicemia seja superior a 200 mg/dL, o diagnóstico é de diabetes; se o valor for superior a 140 mg/dL e inferior a 200 mg/dL, trata-se de pré-diabetes. Outra possibilidade é a realização do exame hemoglobina glicosada, onde é medida a média da glicemia nos últimos dois a três meses: se for igual ou superior a 6,5 %, o diagnóstico é de diabetes. Uma vez que o diabético tipo 1 não produz insulina, necessita de administrar a hormona várias vezes ao dia. Esta deve ser feita a par de uma vigilância correta da glicemia e de uma alimentação saudável e prática de exercício regular. Já o diabético tipo 2 pode controlar os valores da glicose sem ser necessária medicação, ao adotar um estilo de vida saudável, ao restringir alimentos hipercalóricos e ao praticar exercício físico. No entanto, caso não seja suficiente existem medicamentos que facilitam a ação da insulina. Ainda que não exista cura, controlar os níveis de glicose no sangue pode prolongar a vida e
DIABETES | PÁGINA 64
evitar certas complicações, como doenças cardíacas e renais. Conhecer e controlar a diabetes, bem como, adotar uma vida saudável, são pontos-chave para a prevenção desta doença. Para melhor demonstrar o que é viver com esta doença, Vera Aleixo, diabética tipo 1, respondeu a algumas perguntas, apresentadas de seguida. CATARINA FIALHO
Entrevista
As doenças autoimunes como a Diabetes tipo 1 podem, por vezes, prejudicar a vida do doente, obrigando-o a alterar o seu estilo de vida ou a estar sujeito a tratamentos intensivos. Contudo, o paciente é encorajado a aceitá-la e aprender a viver com a mesma. Falámos com Vera Aleixo, criadora da página @vera.diabetes na rede social Instagram. No seu perfil, apresenta diversas receitas baixas em hidratos de carbono e em calorias, pensadas para os que, como ela, sofrem de diabetes tipo 1, colecionada num ebook disponível no mesmo local. Além das receitas, mostra-nos também as suas vivências e desmistifica o que é viver com esta doença, com foco na aceitação e em encarar as dificuldades “de frente, com coragem”.
Immunitas: Como é que soube que algo estava
Um novo mundo nos é apresentado e é assustador.
errado?
Entre insulinas e avaliações capilares. Hiperglicemias
Vera Aleixo: Desconfiamos que algo estava errado
e hipoglicemias. Corpos cetónicos. Alimentação.
pela perda repentina de peso, falta de apetite e
Muda a vida de quem recebe o diagnóstico e de todo
cansaço extremo a baixo esforço.
o círculo familiar e social.
I: Como e quando descobriu que tem diabetes?
I: De que forma a convivência com esta doença a
V: Levou algum tempo até se chegar ao diagnóstico.
afetou a nível psicológico?
Nessa altura não era muito recorrente a diabetes em
V: Não considero que me tenha afetado a nível
crianças/jovens,
psicológico, mas molda de alguma forma a nossa
e
alguns
sintomas
foram
personalidade.
Tornamo-nos
pessoas
resilientes.
um período complicado, associado a perda de peso e
Aprendemos que nada é certo todos os dias e que
energia. O diagnóstico foi feito aos meus 14 anos de
não há dias iguais. Percebemos que de alguma forma
idade, após ser levada pelos meus pais ao Serviço de
precisamos sempre programar tudo, até uma simples
Urgência do hospital de residência. Entrei no hospital
ida ao cinema. A nossa cabeça está em constante
já com perda de consciência.
movimento. Sempre em cálculos. Gerimos muita informação ao mesmo tempo e isso sim, acarreta
I: Como é que a sua vida mudou desde o seu
algum desgaste emocional, que por vezes nos leva a
diagnóstico?
desejar umas férias da DM
V: Após o diagnóstico de DM1 tudo muda. Todos os conceitos de viver que conhecemos mudam. Há uma reaprendizagem de tudo.
I: Realiza algum tratamento? Se sim, qual?
ENTREVISTA - DIABETES| PÁGINA 65
desvalorizados e atribuídos à mudança de idade. Foi
V: Todas as pessoas com DM1 são insulinotratados.
Por
exemplo,
se
alguém
precisar
tomar
um
Ou seja, fazemos tratamento com insulina. Ninguém
comprimido não precisa se esconder, certo? Porque
sobrevive sem insulina. Quando o nosso pâncreas
razão para aplicar insulina tem de o fazer?
deixa de a produzir, temos de ser nós a faze-lo. Durante 27 anos, utilizei canetas de insulina, com
I: Que conselhos daria a outros com a mesma
diversas aplicações diárias. Desde Outubro de 2021,
doença?
que sou utilizadora de sistema de perfusão subcutânia
V: Cada um tem uma maneira muito própria de ver e
de insulina (bomba de insulina).
viver com a diabetes. Cabe-nos a cada um, individualmente, encontrar a forma que lhe seja mais
I: Quais são os maiores desafios de viver com uma
confortável. Pessoalmente, acredito que aceitar e
doença crónica?
falar abertamente com aqueles que nos rodeiam, sem
V: Não ver a doença crónica como uma doença, mas
medos, ajuda no processo. Fazer de conta que não
sim como algo que faz parte de nós. Falando da DM é
existe nunca trará bons resultados. No fundo é uma
algo permanente, 24h/24H, 7 dias/semana. Não dá
doença silenciosa. Valores alterados hoje, trarão
para esquecer, para fazer de conta que não existe. Por
sequelas no futuro. Por isso, aconselho sempre a não
isso, o maior desafio é aceitar e integra-la na nossa
negligenciarem o cuidado diário. A procurarem
rotina do dia-a-dia, de forma natural.
informação. A estudar e a entender a própria diabetes. Ela é muito diferente de pessoa para pessoa
I: Viver com diabetes tipo 1 afetou a sua carreira? Se
e não podemos querer ser igual a ninguém.
sim, como? V: Não. Nunca afetou de forma alguma a minha carreira profissional. I: O que a levou a criar a sua página de instagram? V: O meu perfil foi criado na fase de aceitação. Onde partilhar experiências fazia-me estar mais focada. Foi sendo uma descoberta. O perfil tem crescido e
ENTREVISTA - DIABETES| PÁGINA 66
evoluído, tal como eu, em relação à forma de ver, sentir e viver a diabetes. I: Partilhe alguns mitos com que já se deparou sobre a diabetes tipo 1. V: Para mim, o mito que mais me marca/marcou é sermos “vistos” como coitadinhos. Como pessoas doentes. O administrar insulina em espaços públicos, infelizmente ainda é muito criticado. As pessoas ficam incomodadas. Não entendem que é uma medicação.
Immunitas: Obrigada pela sua colaboração!
Informação desviante Um problema atual É inquestionável que a informação, hoje em dia, chega de forma acessível e rápida. À distância de apenas um clique, é possível aceder aos websites dos mais conceituados
Deste modo, podem ser adotadas medidas, tal como: Maior fiscalização nas publicações nas redes sociais: bloquear contas falsas, contas que incitem a desinformação (alegados formadores de opinião, que implantam mentiras forjadas para atraírem
jornais, quer nacionais, quer internacionais.
visualizações);
Infelizmente, nos últimos tempos instalou-se a
Utilizar mecanismos que apurem a autenticidade
necessidade de ler a informação de várias
das publicações de forma imediata;
fontes, para assegurar a leitura de uma notícia fiável.
Garantir uma maior transparência em relação a conteúdos patrocinados; Ter atenção aos alegados formadores de opinião, uma vez que implantam todo o tipo de histórias para ganhar visualizações. É então crucial que a população, ao navegar na
maior facilidade na adulteração de sites de notícias
internet, tenha especial atenção no que toca às fontes
falsas, tornando-os semelhantes aos sites fiáveis. Por
de toda a informação, sendo a desinformação
consequente, estes órgãos de comunicação são
existente no decorrer da pandemia um bom exemplo
utilizados como fonte de informação. Apesar deste
do porquê. Os mitos em relação às vacinas sempre
problema preocupante, a velocidade com que as
estiveram presentes, desde a sua criação, e já foram
notícias se disseminam nos mais variados meios,
muitas vezes desmentidos por especialistas. No
como redes sociais, sites de notícias falsos, blogues,
entanto, as “forças da resistência à ciência” insistem
entre outros, tem demonstrado um perigo crescente.
em divulgá-los, com o intuito de criar discordância.
Esta disseminação é preocupante, na medida em que
Uma vez que, atualmente, a procura de informação
as fake news alimentam a descrença, a dúvida e
rápida sobrepõe-se à procura de informação fiável, é
podem incitar ao ódio. É instalada a incerteza, através
necessário educar a sociedade a primar a informação
da fabricação de informação, em que se misturam
factual, para que não sejam “sugados” para o lado da
vídeos
descontextualizados,
desinformação, numa espiral que lhes condiciona a
mentiras, com o objetivo de influenciar a opinião
capacidade de olhar para os episódios decorrentes da
pública e minar a credibilidade das instituições
vida social e estatal com discernimento.
democráticas e dos media. As redes sociais, como o
Felizmente, uma quantidade exorbitante de fact-
Facebook, Instagram ou Twitter podem ter um papel
checkers
determinante nesta luta contra a desinformação.
desmentiram
Devido ao seu grande público-alvo, era expectável
Revistas como esta funcionam como um modo de
que fossem as primeiras a distinguir as fake news da
combate à desinformação, para que no futuro as
informação legítima, a fim de zelar pela segurança de
vacinas, e não só, sejam encaradas com maior
todos os seus utilizadores.
positividade e confiança.
manipulados
ou
internacionais muitas
e das
nacionais
atuaram
mirabolantes
e
teorias.
MADALENA MACHADO
INFORMAÇÃO DESVIANTE| PÁGINA 67
Com a evolução da tecnologia, tem-se verificado uma
DATAS JANEIRO
ABRIL
MAIO
31
07
08
Dia dos leprosos
Dia mundial da saúde
Dia mundial da Cruz Vermelha
11
FEVEREIRO 11 Dia mundial do doente
14 Dia doente coronário
18
Dia mundial da doença de Parkinson
Dia mundial das doenças raras
Dia europeu melanoma
18
29 Dia internacional da imunidade
DATAS COMEMORATIVAS | PÁGINA 68
Dia internacional da Síndrome de Down
24 Dia mundial da tuberculose
Dia mundial da vacina contra a SIDA
26 Dia mundial da esclerose múltipla
28
JUNHO 13 19
21
11
Dia mundial da hemofilia
Dia mundial do doente
MARÇO
Dia mundial do lúpus
17
Dia internacional da Síndrome de Asperger
18
10
Dia mundial da consciencialização do albinismo
25 Dia mundial do vitiligo
Dia internacional da saúde feminina
COMEMORATIVAS JULHO
OUTUBRO
NOVEMBRO
22
06
12
Dia mundial do cérebro
Dia mundial da paralisia cerebral
Dia mundial da pneumonia
28 Dia mundial da hepatite
SETEMBRO 21 Dia mundial da doença de Alzheimer
23 Dia da síndrome das pernas inquietas
29 Dia mundial do coração
09
14
Dia mundial dos cuidados paliativos
Dia mundial da Diabetes
12
21
Dia mundial das doenças reumáticas
Dia europeu da fibrose quística
14 Dia mundial da visão
15
DEZEMBRO
Dia nacional da luta contra a dor
01
24
Dia mundial da luta contra a SIDA
Dia mundial do combate à pólio
29 Dia mundial da psoríase
03 Dia internacional da pessoa com deficiência
04 Dia nacional da pessoa com esclerose múltipla
09 Dia nacional da pessoa com deficiência
DATAS COMEMORATIVAS | PÁGINA 69
Dia internacional dos portadores de alergia crónica
WEBGRAFIA O principal objetivo da presente revista passa por combater a desinformação que domina sobre tema imunidade. Com isto em mente, os artigos apresentados são resultado de intensa pesquisa dos mais variados estudos, teses e sites fiáveis. É fundamental a transparência da informação publicada, pelo
WEBGRAFIA | PÁGINA 70
que se encontram aqui disponíveis as fontes utlizadas. Para consulta, aceda aos códigos QR abaixo.
Imunidade
Vacinas
COVID-19
Doenças
"NENHUM MÉDICO JAMAIS CUROU NINGUÉM DE NADA NA HISTÓRIA DO MUNDO. O SISTEMA IMUNITÁRIO CURA E É A ÚNICA COISA QUE CURA." BOB WRIGHT