Immunitas

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REVISTA ESCOLAR

IMMUNITAS JUNHO 2022 | BIOLOGIA

ANÁLISE DA PANDEMIA: COVID-19 DOENÇAS AUTOIMUNES AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

ENTREVISTA A ESPECIALISTAS TESTEMUNHO DE DOENTES

A IMUNIDADE


01 03

Prefácio

04-05

Quem Somos

02

ÍNDICE

Introdução

Imunidade

07-10

Imunidade: Contextualização histórica

11-13

O nosso exército

14-16

Agenda de Imunização 2030

17-21

Efeito da alimentação

22-23

Entrevista ao Nutricionista

03

Vacinas

25-28

Vacinas

29-32

Tipos de Vacinas

33-35

Plano Nacional de Vacinação

36-37

Mitos

04

COVID-19

39-42

Pandemia de COVID-19

43-46

Teorias da Conspiração

47-48

Tipos de Vacinas

49-50

Mitos - Vacinas COVID-19

05

Doenças

52-53

Quando as nossas defesas atacam

54-56

Síndrome de Guillain-Barré

57-62

Lúpus (com entrevista)

63-66

Diabetes (com entrevista)

67

Informação desviante

68-69

Datas Comemorativas


PREFÁCIO Quando uma substância estranha entra no nosso

É importante para nós que a informação

corpo, o organismo gera uma reação imediata

apresentada seja confiável, tendo em conta o

para a combater. A isto chama-se imunidade. É

atual contexto social nas redes. Desta forma,

esta que assegura a nossa proteção e a de quem

esta revista é a consequência de largas horas de

nos rodeia. Mas subsiste uma questão: como

pesquisa

alcançá-la e preservá-la? A resposta passa por

epilogando num resultado do qual nos podemos

manter a população informada e ciente do papel

orgulhar. Conhecemo-nos no 5ºano e tinhamos

da imunidade na saúde à escala mundial. Com

em comum o amor à música. No desenvolver da

esta ideia em mente, resolvemos criar um

nossa

projeto que condensasse toda a informação

aprendizagem, espírito competitivo e um certo

complexa de forma acessível para o público em

aborrecimento perante a vida comum a parte da

geral, contribuindo assim para a despromoção da

nossa

desinformação. Foi no âmbito da disciplina de

comummente encontradas como um grupo, quer

Biologia que desenvolvemos este trabalho, de

mergulhadas em jogos de cartas, quer em longas

forma a complementar as nossas aprendizagens

tardes de estudo, sempre unido e pronto a

ao longo dos últimos anos. Somos um grupo de

enfrentar os obstáculos do mundo.

e

análise

amizade,

geração.

de

artigos

ligou-nos

o

Atualmente,

científicos,

amor

à

somos

alunas da turma B do 12º ano do Externato Cooperativo da Benedita, vindas por este meio apresentar-vos a revista Immunitas, coleção de artigos originais em redor do relevante tema que é a imunidade.

PREFÁCIO | PÁGINA 3


QUEM SOMOS Catarina Fialho, 18 anos Desde pequena que Catarina, a mais comunicativa, tenciona prestar um grande contributo à humanidade com uma participação ativa na pesquisa pela cura de uma das doenças mais mortais na nossa sociedade, o cancro. Agora, com 18 anos, esse seu sonho revela-se uma incerteza, mas isso não lhe tira a determinação que sempre teve e o seu desejo de infância de cruzar o seu futuro com a área da saúde. Apesar destas dúvidas quanto ao que o amanhã lhe reserva, que se mostram fonte de uma leve ansiedade, Catarina desanuvia enquanto se deixa absorver pelas páginas dos seus romances prediletos ou pelo vislumbre do oceano diante de si, sempre acompanhado pelo cheiro a maresia que tanto adora.

Diana Quitério, 18 anos Há anos presa num dilema sobre o futuro e o sentido da sua existência, Diana, a mais teimosa, debate-se interiormente entre um amanhã ligado à justiça ou à saúde, uma indecisão que reflete a sua maior certeza: querer fazer a diferença no mundo. Agora no auge dos seus 18 anos e ainda com a derradeira decisão por tomar, prefere cogitar na infinidade de sonhos que tem por concretizar e no mundo que a rodeia. Convicta de que a sua vida se rege pela Lei de Murphy, tenta antagonizar o tédio que a sociedade lhe oferece com uma das suas maiores paixões: escrever, deixando as palavras fluírem no papel para seu deleite. A imaginação? Essa vem das muitas séries

QUEM SOMOS | PÁGINA 4

que vê para combater a monotonia do mundo.


Madalena Machado, 17 anos Aos 17 anos, Madalena, a mais sensata do grupo, divide o seu tempo entre as futilidades do dia a dia e as imensas atividades de que tanto desfruta. Com o sonho de marcar a diferença, foi enquanto brincava aos médicos com a irmã que descobriu a sua vocação, na área da saúde. As muitas incertezas da sua vida são fonte de inquietude, que alivia ao tocar um qualquer instrumento musical, uma das suas grandes paixões, ou ao praticar o seu desporto preferido, basquetebol. Quando a realidade a aborrece, pode ser encontrada a desfrutar do sol enquanto se perde num maravilhoso policial, ou mesmo a divertir-se com a adrenalina causada pelo mundo virtual. Aventureira nata, está sempre disposta a alinhar em novos desafios.

Margarida Sardinha, 18 anos À tenra idade de 18 anos, Margarida, a única no grupo que mantém um sentido de organização, medita sobre a condição humana e a destruição lenta, mas certa, do universo pela sua própria espécie. De modo a apaziguar tal angústia, ela entrega-se aos prazeres fantasiosos de Dungeons and Dragons, literatura distópica a não fictícia, assim como distrações digitais de inúmeros géneros. Ela entretém o seu mal de vivre com um consumo, talvez excessivo, de café e bebidas dele resultantes, além da prática de badminton. Apesar de considerar o futuro como algo imprevisível, ato que pensa trazer pouco benefício à sociedade como um todo, levanta-se diariamente para num futuro consideravelmente próximo poder deixar a sua marca no mundo, convencendo de vez a União Europeia a autorizar a pesquisa e plantação de organismos geneticamente modificados.

QUEM SOMOS | PÁGINA 5


IMUNIDADE


Imunidade Contextualização Histórica O conceito de imunologia surgiu em 1882, criado pelo biólogo Elie Metchnikoff. Esta é a

área da biologia e da medicina que estuda a imunidade.

O

Dicionário

Merriam-Webster

define imunologia como sendo a capacidade de resistir a uma doença em particular, ao prevenir o

desenvolvimento

de

microrganismos

patogénicos ou ao combater os efeitos dos seus produtos. Os avanços neste campo têm vindo a notar-se ao longo dos últimos anos, em resultado de um trabalho desenvolvido pelos especialistas por séculos. Imunologia, como a conhecemos hoje em dia, é um ramo da biologia que cobre o estudo dos sistemas imunológicos em todos os organismos.

HISTÓRIA | PÁGINA 7


A

imunologia

mede

o

sobre indivíduos que se recuperaram da peste que

funcionamento fisiológico do sistema imunitário

assolava Atenas nesse tempo. Estes indivíduos,

em estados de saúde e de doença; disfunções do

que já haviam contraído a doença, recuperaram e

sistema resultantes em distúrbios imunológicos

tornaram-se “imunes” ou “isentos”. No entanto, a

(tais

primeira

como

hipersensibilidades,

e

contextualiza

doenças deficiência

autoimunes, imunológica

e

tentativa

intencionalmente

reconhecida

imunidade

a

de

induzir

uma

doença

rejeição de transplantes); e características físicas,

infeciosa chegou no século X, na China, onde a

químicas e fisiológicas dos componentes do

varíola foi endémica. O processo de "variolação"

sistema imunológico imunologia é aplicada em

envolveu a exposição de pessoas saudáveis a

várias disciplinas da medicina, particularmente nas

materiais de lesões causadas pela doença, seja por

áreas

oncologia,

colocação sob a pele, ou, mais frequentemente,

reumatologia, virologia, bacteriologia, parasitologia,

inserção de crostas em pó de pústulas de varíola

psiquiatria e dermatologia.

no nariz. Infelizmente, a variolação resultava,

Da vacina para a varíola em 1796 às diversas

ocasionalmente,

vacinas para a COVID-19 em 2020, a área da

limitando assim a sua aceitação. Seria apenas com

imunidade tem crescido em importância e eficácia

o

com um desenvolvimento com potencial futuro. O

tecnologias e da emancipação das ciências que se

conceito de imunidade a doenças remonta pelo

amplificaria, no futuro, o ramo da imunologia.

de

transplante

de

órgãos,

em

desenvolvimento

morte e

ou

expansão

desfiguração, de

novas

menos à Grécia no século V aC. Tucídides escreveu

HISTÓRIA | PÁGINA 8

JORNADA | PÁGINA 4

MARGARIDA SARDINHA


Fase I A Fundação da Imunologia 1901

Fase II Dos Anticorpos aos Linfócitos B 1930

Terapia de soro

Grupos sanguíneos

Emil Behring (1854-1917)

Karl Landsteiner (1868-1943)

Médico, investigador e empresário

Serologista

Prémio Nobel 1901

Prémio Nobel 1930

Antissoro do tétano Shibasaburo Kitasato (1853-1931) Investigador

1908 Fagocitose Elie Metchnikoff (1845-1916) Biologista e imunologista Prémio Nobel 1908

Teoria da cadeia lateral Paul Ehrlich (1854-1915) Médico e imunologista Prémio Nobel 1908

1913 Complemento Charles Richet (1850-1935) Fisiologista Prémio Nobel 1913

1950 Produção de anticorpos pelas células do plasma Astrid Fagraeus (1913-1997) Imunologista

1960 Tolerância imune adquirida Peter Brian Medawar (1915-1987) Biólogo e imunólogo Prémio Nobel 1960

1965 Linfócitos B Max Cooper (1933-) Médico e imunologista

1972 Estrutura química dos anticorpos Rodney Porter (1917-1985)

1919 Complemento Jules Bordet (1870 -1961) Médico Prémio Nobel 1919

Gerald Edelman (1929-2014) Bioquímico, Bioquímico e imunólogo Prémio Nobel 1972

1984 Redes idiotípicas

Almroth Wright (1861-1947)

Niels Jerne (1911-1994)

Bacteriologista e imunologista

Imunologista Prémio Nobel 1984

HISTÓRIA | PÁGINA 9

Opsonização


1989

1984 César Milstein (1927 - 2002) - Bioquímico

Recetores de reconhecimento de padrões

Georges Köhler (1946 - 1995) - Imunologista

Charles Janeway (1943-2003)

Prémio Nobel 1984

Imunologista

Anticorpos monoclonais

1990

1987

Complexo de histocompatibilidade maior

Recombinação Susumu Tonegawa (1939-)

George D. Snell (1903-1996)

Biólogo molecular

Jean Dausset (1916-2009)

Prémio Nobel 1987

Baruj Benacerraf (1920-2011) Geneticistas Prémio Nobel 1980

Fase III Linfócitos T, da função à instrução

Peter Doherty (1940-) - Veterinário e imunologista Prémio Nobel 1996

Teoria da seleção clonal Frank Macfarlane Burnet (1899-1985)

2011 Base molecular da imunidade inata

Médico e imunologista

Jules Hoffmann (1941- ) - Bioquímico e imunologista

1960 Tolerância imune adquirida Brian

Restrição da imunidade celular Rolf Zinkernagel (1944-) - Médico e imunologista

1958

Peter

1996

Medawar

(1915-1987)

Médico e imunologista Prémio Nobel 1960

Linfócitos T

Bruce Beutler (1957- ) - Imunologista e geneticista Prémio Nobel 2011

Células dentríticas Ralph Steinman (1943-2011) Imunologista Prémio Nobel 2011

Jacques Miller (1931-) Imunologista

HISTÓRIA | PÁGINA 10

Recirculação de linfócitos James L. Gowans (1924) Imunologista

2018 Bloqueio dos pontos de controlo para tratamento do cancro Tasuku Honjo (1942) - Imunologista James Allison (1948-) - Imunologista Prémio Nobel 2018


O nosso exército O sistema imunitário Criado para defender o corpo contra invasores como

microrganismos,

parasitas,

células

cancerígenas e órgãos transplantados, o sistema imunológico ou imunitário tem a capacidade de distinguir o que pertence ao organismo do que não pertence. Este processo baseia-se nos antigénios, substâncias presentes na maioria dos corpos, tanto nos invasores como, por exemplo, nos alimentos. A resposta imunológica normal, ou seja, a reação do sistema imunitário aos antigénios, consiste em: 1. Reconhecer um antigénio estranho possivelmente nocivo; 2. Ativar forças para defesa do corpo; 3. Atacar o antigénio; 4. Controlar o antigénio e finalizar o processo. Caso

se

verifique

uma

disfunção

no

sistema

imunológico, este pode também atacar os tecidos do próprio corpo, característica das doenças autoimunes. O organismo humano possui uma série de defesas, incluindo:

barreiras

físicas,

glóbulos

brancos,

linfoides.

O NOSSO EXÉRCITO| PÁGINA 11

moléculas, como anticorpos e proteínas, e órgãos


Barreiras físicas

Órgãos linfáticos

A primeira linha de defesa do corpo contra os

Além dos glóbulos brancos, o sistema imunológico

organismos invasores é constituída por barreiras

inclui também os vasos e órgãos linfáticos, primários

mecânicas ou físicas, como a pele, a córnea dos olhos

ou secundários. Os órgãos linfáticos primários são

e

particularmente importantes pois é neles que se

as

membranas

que

revestem

os

aparelhos

respiratório, digestivo, urinário e reprodutor.

realiza a produção de leucócitos, e incluem a medula

Enquanto estas barreiras permanecerem intactas,

óssea, onde os glóbulos são produzidos, e o timo,

muitos

onde as células T (glóbulos brancos especializados) se

invasores

não

conseguirão

penetrar

o

organismo, no entanto, quando uma barreira se

multiplicam

rompe (por exemplo, devido a uma queimadura), o

antigénios estranhos.

risco de infeção aumenta. As barreiras encontram-se

são

treinadas

para

reconhecer

defendidas por secreções que contêm enzimas

Moléculas

destruidoras de bactérias. O suor, as lágrimas nos

As imunidades inata e adquirida interagem, tendo

olhos, as secreções no aparelho respiratório e

uma influência ou mútua e direta, ou através de

digestivo e as secreções na vagina são exemplos de

moléculas que ativam outras células do sistema

barreiras.

imunológico, como parte da fase de mobilização das doenças.

Glóbulos brancos

O NOSSO EXÉRCITO| PÁGINA 12

e

Essas

moléculas

incluem

citosinas,

anticorpos e proteínas do sistema de complemento.

A segunda linha de defesa envolve os glóbulos

Estas substâncias não estão contidas nas células,

brancos, ou leucócitos, que se deslocam na corrente

encontrando-se dissolvidas na parte líquida do

sanguínea, entrando nos tecidos para detetar e atacar

sangue, o plasma.

os invasores. Esta defesa pode ser inata ou adquirida;

Algumas destas moléculas estimulam a inflamação,

passiva ou ativa.

resultante

Imunidade passiva é ganha quando se recebe

imunológico ao tecido afetado. Sangue é enviado ao

anticorpos diretamente em vez de ser o seu sistema

tecido a fim de ajudar as células a chegar ao seu

imunitário a produzi-los. É o que ocorre nos recém-

destino. Neste processo, os vasos sanguíneos sofrem

nascidos, que adquirem imunidade passiva por meio

dilatação, permitindo a passagem de um maior

da placenta, e nos que, por necessidade de proteção

volume

imediata,

com

característicos vermelhidão, calor e inchaço. O

anticorpos. Este processo oferece proteção imediata

objetivo de qualquer inflamação é conter a infeção de

mas pouco duradora, de apenas algumas semanas.

forma a evitar a sua propagação. Apesar de ser

Imunidade ativa, por outro lado, resulta da exposição

incómoda, a inflamação é uma indicação de que o

do organismo a uma doença, provocando a criação de

sistema imunológico está a funcionar eficazmente.

recebem

transfusão

de

sangue

anticorpos pelo seu sistema imunitário. Pode ser adquirida naturalmente, por exposição à doença, ou por vacinação. Esta estratégia resulta numa defesa muitas vezes vitalícia, ainda que apenas esteja ativa a longo prazo.

de

da

atração

fluidos

e

das

células

células,

do

sistema

resultando

nos


Resposta imunológica Uma resposta imunológica bem-sucedida aos invasores exige reconhecimento, ativação e mobilização, regulação e, finalmente, resolução.

1. Reconhecimento O primeiro passo na resposta imunológica é o

apresentadoras de antigénios. Uma vez ativadas, as

reconhecimento

sistema

células do sistema imunitário ingerem ou matam a

imunológico faz a distinção entre o que é próprio e

célula invasora, por vezes ambos, pela ação de mais

estranho ao corpo, usando os antigénios das células

que um tipo de célula defensora.

como moléculas de identificação.

Certas células do sistema imunológico, como os

dos

invasores.

O

são

macrófagos ou células T ativadas, libertam secreções

denominadas antigénios de leucócitos humanos

que atraem outras células ao foco do problema,

(ALH/HLA)

de

mobilizando, assim, as defesas do organismo. Por

histocompatibilidade (CPH/MHC). A combinação de

vezes, o organismo invasor secreta substâncias que,

HLA’s é praticamente única para cada indivíduo,

por si, atraem as células do sistema imunitário.

As

principais

reconhecida Quando

moléculas ou

pelo

as

de

identificação

complexo

próprio

moléculas

principal

sistema de

uma

imunológico. célula

não

correspondem a nenhuma reconhecida, a célula é identificada como invasora, acionando a resposta imunitária. Isto pode ocorrer com microrganismos originadores de doenças, mas também com células de

3. Regulação De modo a evitar dano ao organismo, a resposta imunológica deve ser cuidadosamente regulada. Esta função é dada às células T reguladoras (ou supressoras), que produzem citocinas, inibidoras da resposta imunológica. Estes mensageiros químicos

órgãos transplantados, por exemplo. Enquanto os leucócitos e linfócitos B têm a capacidade de reconhecer as células invasoras diretamente, os linfócitos T necessitam de ajuda das células apresentadoras de antigénios, como os macrófagos. Estas células ingerem e decompõem os célula. A célula T recebe esta mistura, reconhecendo a molécula de HLA e sendo consequentemente

Este processo termina com a eliminação do invasor, após o qual a maioria das células defensoras são autodestruídas e ingeridas pelas restantes células, denominadas células de memória. Estas últimas são retidas como parte da imunidade adquirida, onde, aquando de um ataque futuro, lembrarão as células, de modo a obter uma resposta mais eficaz. Em suma, o sistema imunitário, em toda a sua

2. Ativação e mobilização

complexidade,

tem

uma

função

essencial

no

A ativação dos leucócitos e linfócitos B dá-se

funcionamento normal do nosso organismo, servindo

imediatamente,

como a sua principal defesa.

quando

reconhecem

as

células

invasoras, enquanto a ativação das células T é mais demorada, dependente da ação das células

MARGARIDA SARDINHA

O NOSSO EXÉRCITO| PÁGINA 13

ativada.

4. Resolução

JORNADA | PÁGINA 4

invasores, combinando-os com as moléculas HLA da

evitam que a resposta continue indefinidamente.


Agenda de Imunização 2030

Nos últimos anos, o agravar de problemas

ambientais

e

sociais,

como

as

alterações

climáticas e as crises humanitárias, tem sido fonte

de

grande

organizações

e

preocupação

governos.

Face

entre a

estas

circunstâncias atípicas, o mundo enfrenta um número crescente de ameaças à saúde pública, com

surtos

e

novas

doenças

a

serem

identificados anualmente. A situação requere uma capacidade de resposta rápida, eficiente e flexível por parte das entidades competentes, que têm a imunização mundial como solução. Apoiados pelos resultados das últimas décadas, os especialistas admitem que esta é a estratégia mais viável e com mais potencial de êxito. Surgiu, assim, a Agenda de Imunização 2030 (IA2030),

uma

iniciativa

promovida

pela

AGENDA DE IMUNIZAÇÃO| PÁGINA 14

Organização Mundial de Saúde (OMS), que pretende fazer desta uma história de sucesso.

Por definição, imunizar é o ato de tornar imune ou resistente a um determinado agente infecioso, normalmente responsável por uma doença ou infeção específica e transmissível. A inoculação de vacinas é um dos métodos mais viáveis para alcançar esta condição de imunidade, uma vez que estimula o sistema imunológico do indivíduo e assegura a resposta desejada, promovendo a proteção do próprio e de quem o rodeia.


número de pessoas imunes e, consequentemente, um

particular às de difícil alcance. Confrontadas com as

menor índice de contágio. Assim, as vacinas são vistas

mais recentes estatísticas, que admitem que cerca de

como uma das mais importantes ferramentas de

1,5 milhões de mortes adicionais poderiam ser

saúde pública e o seu desenvolvimento por técnicas

evitadas se a cobertura global de vacinação fosse

progressivamente mais complexas tem sido um dos

aprimorada, agências como a OMS, o Fundo das

maiores e mais promissores avanços científicos do

Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Vaccine

século XXI. Ao longo das últimas décadas, a eficácia

Alliance, a Fundação Bill & Melinda Gates e a Coalition

da

sido

for Epidemic Preparedness Initiative (CEPI), têm unido

comprovada uma e outra vez, tendo contribuído

esforços e financiado a expansão dos benefícios das

significativamente para a diminuição das taxas de

vacinas ao maior número número de pessoas possível.

mortalidade e morbilidade a nível mundial. Segundo a

O exemplo mais recente de colaboração entre estas e

OMS, é até possível equiparar estes resultados aos

outras organizações, durante o cenário de pandemia

que se obtiveram com outras intervenções de igual

global de SARS-CoV-2, demonstrou o potencial de

dimensão na saúde pública, tais como o saneamento

uma participação e empenho mundiais no combate a

básico ou a água potável. As estimativas mais

estes problemas. Garantir um acesso generalizado às

recentes apontam para que cerca de 2 a 3 milhões de

vacinas, os mais eficazes agentes de controle e

mortes sejam evitadas anualmente por conta das

prevenção de doenças transmissíveis e até mortais, é

vacinas, o que torna a imunização um dos pilares da

crucial para que estas consigam atingir o seu impacto

saúde global. Dados como estes apoiam a visão dos

máximo na saúde global. Uma das grandes metas é

especialistas e das organizações de saúde para quem

alcançar e ampliar o efeito de uma imunidade de

a vacinação à escala mundial é a melhor solução face

grupo, que tornará mais fácil erradicar doenças,

aos desafios que se impõem. O objetivo está traçado,

impedindo a sua propagação futura e surtos

porém existem ainda muitos obstáculos a ser

relacionados. Nas palavras de Amina Mohammed,

ultrapassados até que este possa finalmente ser

Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas, "Somos

cumprido. A maior fonte de inquietude são as

encorajados pelo desenvolvimento de vacinas seguras e

desigualdades que persistem no mundo, uma vez que

eficazes, mas a verdade é simples ninguém está seguro

conduzem a grandes desequilíbrios na distribuição

até que todos - todos, em todos os lugares - estejam

dos benefícios da imunização. A cobertura é

seguros, e nenhum país está seguro até que todos os

amplamente variável entre países. Populações como

países estejam seguros. Somente trabalhando juntos

as mais pobres, as mais marginalizadas ou as mais

podemos recuperar e construir um mundo onde todos

vulneráveis, em ambientes frágeis e dilacerados por

prosperem em paz, dignidade e igualdade num planeta

conflitos, têm poucos acessos aos serviços de

saudável. É possível, juntos.". Esta perspetiva sobre a

vacinação. A cada ano, 20 milhões de crianças não

situação é partilhada pela OMS, que admite que a saúde

recebem nem mesmo todas as vacinas básicas e

pública global depende da cooperação internacional e da

muitas

disponibilidade dos países para agir com eficácia na

imunização

das

perdem

grandes

as

massas

vacinas

que

tem

vão

sendo

introduzidas. Destas, mais de 13 milhões não recebem

vacinas

imunização,

por

segundo

meio a

de

OMS.

programas Apenas

com

tentativa de travar as ameaças emergentes.

de a

A imunização é tida como um dos cuidados primários

superação de problemas como estes será possível

de saúde e um dos mais fundamentais direitos

garantir o financiamento, fornecimento, distribuição e

humanos, pelo que deverá ser providenciada a todos,

AGENDA DE IMUNIZAÇÃO| PÁGINA 15

administração de vacinas a todas as populações, em

JORNADA | PÁGINA 4

Uma maior taxa de vacinação implica um maior


sem exceção. Para que estes altos níveis de cobertura

Estes objetivos gerais fazem parte de um plano

sejam

são

flexível e apto a quaisquer revisões que surjam no

indispensáveis programas nacionais de imunização

contexto de instabilidade do panorama mundial atual

fortes e um controlo inteligente das doenças, algo

e, decerto, da próxima década.

mais simples quando o mundo é visto como um só.

Questões como a falta de confiança e o custo das

Assim, a OMS propôs a Agenda de Imunização 2030

vacinas,

com o intuito de coordenar e definir as ações a nível

populacionais, as mudanças climáticas e desastres

global. Cocriada por países e organizações de todo o

naturais, os conflitos e as instabilidades políticas

mundo, a agenda foi apresentada na Assembleia

foram o ponto de partida para a delineação de

sustentados

e

até

exequíveis,

Mundial da Saúde e delineia uma estratégia e visões globais ambiciosas e abrangentes para a imunização no decorrer da década de 2021–2030. A iniciativa baseia-se nas lições retiradas do plano de imunização global em vigor durante a última década, o Plano de Ação Global para Vacinas, o que permitiu conhecer logo de partida os fatores decisivos para o sucesso do projeto. Com a visão de "Um mundo onde todos, em todos os lugares, em todas idades, beneficiam plenamente de vacinas para uma boa saúde e bem-estar" no horizonte, a IA2030 pretende inspirar e alinhar as atividades de toda

a

sociedade

de

forma

a

promover

o

investimento na imunização, considerado também um investimento no futuro. Atualmente, sabe-se que a

desigualdades,

as

deslocações

estratégias eficazes. No total, foram definidas sete prioridades estratégicas, todas com objetivos e áreas de foco próprios. Foram igualmente estabelecidos quatro princípios fundamentais que irão moldar a natureza das ações realizadas para atingir cada meta. Pretende-se

criar

programas

de

imunização

resistentes e que possam ser incluídos nos cuidados de saúde primários, assegurando deste modo a sua disponibilidade a todos. A IA2030 incentiva ainda a pesquisa e investigação associadas à descoberta de novas vacinas, atribuindo um papel essencial às instituições de pesquisa e aos desenvolvedores e fabricantes de vacinas. O foco é a criação de vacinas que protejam a saúde das populações a longo prazo e aumentem a sua esperança e qualidade de vida. Atualmente,

as

descobertas

anuais

mostram-se

promissoras, com um total de 19 introduções de

beneficiando indivíduos de todas as faixas etárias e

novas vacinas, fora as de COVID-19, relatadas em

provocando uma diminuição drástica no número de

2020. Segundo a OMS, mais de 20 doenças fatais

mortes

infeciosas.

podem agora ser prevenidas graças à imunização e,

Inevitavelmente, isto reflete-se num mundo mais

com a melhoria de técnicas que se tem verificado,

saudável e próspero. Deste modo, os três principais

admite-se um aumento neste número nos próximos

objetivos da IA2030 são claros:

anos. Para tal, é forçoso um investimento científico e

derivadas

de

doenças

Reduzir a mortalidade e a morbidade de doenças que se podem evitar por meio de vacinas para todos ao longo da vida; Aumentar o acesso equitativo e o uso de vacinas novas e existentes; Garantir boa saúde e bem-estar para todos, fortalecendo a imunização na atenção primária à saúde e contribuindo para a cobertura universal de saúde e desenvolvimento sustentável.

económico

por

parte

de

todos

os

países

e

organizações, previsto nas estratégias definidas na IA2030. Estas novas descobertas implicam ainda uma segunda fase, na qual as vacinas são implementadas nos programas de imunização nacionais e se tornam acessíveis. A última década foi inspiradora sob este ponto de vista, já que, desde 2010, 116 países introduziram novas vacinas, até aí excluídas dos seus planos de vacinação, mas ainda há um longo caminho a percorrer. DIANA QUITÉRIO

JORNADA | PÁGINA 4

AGENDA DE IMUNIZAÇÃO| PÁGINA 16

vacinação salva e promove a saúde das populações,

as


Efeito da Alimentação Na imunidade

A

alimentação é uma prática inerente à

existência dos seres vivos. Quando feita de maneira adequada, representa uma ferramenta fundamental para a manutenção da saúde e qualidade de vida. É sabido que os alimentos fornecem nutrientes imprescindíveis para o fortalecimento do sistema imunológico, tais como as Vitaminas A, C, D e E, e os minerais Zinco, Selénio, Ferro e Magnésio. Assim, principalmente em tempos de pandemia, devido às limitações impostas às rotinas e hábitos comuns, alimentar-se de forma saudável é crucial. Neste sentido, a escolha dos alimentos ingeridos deve ser feita de maneira consciente, tendo em conta os nutrientes presentes. O objetivo principal deste artigo é, portanto, informar sobre e motivar hábitos alimentares saudáveis que auxiliem na manutenção da saúde física e mental, com vista a melhorar a imunidade. ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 17


O sistema imunitário, responsável pela manutenção

anticorpos e a capacidade do corpo de responder

da saúde do indivíduo, é influenciado por um

à presença de agentes invasores. A vitamina A é

conjunto de fatores, entre os mesmos: a atividade

um nutriente que o corpo humano não é capaz de

física, o sono, e a alimentação. É possível modelar a

produzir por conta própria, obtido apenas através

alimentação

a

de uma dieta nutritiva ou através de suplementos

manutenção da qualidade de vida, principalmente ao

alimentares. Está presente em alimentos de

consumir alimentos variados e com boa qualidade

origem animal, como o fígado, leite e ovos; e em

nutricional em quantidade adequada.

vegetais e frutas de cor alaranjada e verde-escura,

Deste modo, o primeiro passo para uma alimentação

tomando como exemplo a abóbora, cenouras,

saudável prende-se com a seleção dos alimentos.

manga, rúcula, couve e espinafres.

Ingerir

modo

alimentos

a

naturais

contribuir

e

com

para

alto

valor

O ácido ascórbico, forma ativa da vitamina C,

nutricional tem sido cada vez mais desafiante, na era

atua como antioxidante, exercendo um papel de

da alimentação industrializada, método que em

diferenciação

muitos casos compromete a qualidade da mesma.

combater os radicais livres que se formam no

Tendo

estes

organismo em consequência do tabaco, poluição,

alimentos contribuem para o desenvolvimento de

radiação, entre outros fenómenos. Esta vitamina é

obesidade e doenças do foro cardiovascular, como a

também necessária para a síntese de colagénio,

diabetes ou hipertensão arterial, que reduzem a

que representa um quarto das proteínas totais do

qualidade e expetativa de vida. Nesse sentido, é

organismo humano e constitui a principal proteína

importante aprender mais sobre o valor nutricional

da pele, ossos e dentes. A vitamina C é

dos alimentos e qual a maneira mais adequada de os

comumente encontrada em citrinos, como a

inserir na dieta. Essa consciencialização irá dar a

laranja e tangerina. No entanto, está presente

entender que é possível tornar o menu diário mais

também noutros alimentos, tais como o kiwi, a

variado,

salsa fresca, papaia, castanhas e morangos. Estes

baixíssima

qualidade

saboroso

e,

nutricional,

principalmente,

nutritivo,

de

contribuem para prevenção de certas doenças,

indispensáveis numa dieta saudável:

inflamações e envelhecimento precoce.

contribui

para

manter

a

de

para

então uma lista com as vitaminas e minerais

A

fontes

essencial

alimentos,

vitamina

como

anticorpos,

melhorando assim o bem estar do sujeito. Segue-se

A

vitamina

C,

A vitamina D possui micronutrientes essenciais

integridade estrutural das células, atuando ao

para

nível da ação antioxidante, fortalecimento da

principalmente o regulamento do ciclo celular,

imunidade

imprescindível para o fortalecimento do sistema

e

regeneração

de

tecidos.

A

manutenção das células é importante para imunidade. A vitamina A auxilia o sistema imunitário a identificar, adaptar-se a e combater novos vírus, bactérias e outros microorganismos nocivos que entrarem em contato com o organismo. Ao ser absorvido pelo organismo, este nutriente estimula a produção de

os

imunológico,

processos

além

de

imunobiológicos,

atuar

como

imunomodulador no caso de certas doenças. Num país solarengo, a produção endógena de Vitamina D é geralmente assegurada, desde que haja exposição ao sol pelo menos meia hora por dia. Na alimentação, é possível obter esta vitamina em

JORNADA | PÁGINA 4

ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 18

de


óleos de fígados de peixes, nos peixes gordos, em

indivíduo. A ausência de selénio no organismo

bebidas e cremes vegetais, nalguns cereais de

torna o indivíduo mais propenso a contrair

pequeno almoço e no pão.

doenças virais. Felizmente, a deficiência deste mineral leva anos a desenvolver-se quando há

A

vitamina

E

trata-se

nutriente

uma ingestão alimentar adequada. As sementes,

antioxidante com alta capacidade de modulação

ovos, cogumelos, cereais e derivados são alguns

do sistema imunitário, a nível da multiplicação de

dos alimentos onde é possível encontrar maior

linfócitos.

papel

teor de selénio. Nas carnes, está muito presente

importante na proteção da membrana plasmática.

no bife bovino e no fígado de galinha, enquanto

Pode ser encontrada nos óleos de soja, milho,

no peixe se destacam a sardinha e o atum.

Desempenha

de

um

ainda

um

trigo e palma. O

zinco

é

um

mineral

que

atua

como

O ferro é um mineral essencial a uma alimentação

antioxidante, semelhante à vitamina C. No

saudável

da

sistema imunológico, desempenha a função de

de

proliferação e maturação das células de defesa.

transportar o oxigénio no sangue. Os alimentos

Por consequência, a carência desse mineral pode

de origem animal mais ricos em ferro são a carne,

resultar em infeções. O zinco contribui para

o peixe e os ovos. No que toca aos alimentos de

atividades

origem vegetal a escolher, feijão, lentilhas,

como regulador enzimático. Encontra-se nos

castanhas e linhaça são as opções a ter em conta.

alimentos de origem animal, incluindo a carne

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a

vermelha e branca, mas também nas ostras, frutos

deficiência de ferro é o distúrbio nutricional mais

do mar, leite e gema do ovo. É, também, possível

prevalente no mundo, e está associado a defeitos

encontrar o mineral nas sementes, castanhas,

tanto na resposta imune adaptativa quanto na

nozes, cereais integrais e leguminosas, embora a

resposta imune inata do organismo, acarretando

absorção de zinco proveniente de alimentos de

alterações significativas nas funções protetoras

origem vegetal seja inferior. Algo a ter em conta é

do organismo.

a necessidade de consumir zinco diariamente,

e

o

hemoglobina,

principal

proteína

com

constituinte a

função

O magnésio contribui no processo de produção de proteínas servindo de transporte de energia, manter

o

bom

funcionamento

celular.

Desempenha funções importantes ao nível da maturação, diferenciação e fortalecimento das síntese de nucleótidos e ácidos nucleicos. É nos cereais integrais, nozes, vegetais de folha verde e nas frutas e legumes que se podem encontrar grandes fontes deste mineral.

atuando

uma vez que o corpo não o consegue armazenar. A dieta desempenha um papel importante na determinação dos tipos de microorganismos da flora intestinal. Uma dieta rica em fibras e vegetais, com variedade de fruta, grãos integrais e leguminosas parece apoiar o crescimento e a manutenção de microorganismos benéficos. Certos dos mesmos quebram as fibras em ácidos de cadeia curta, que demonstraram estimular a atividade das células do sistema imunológico. Estas fibras são, por vezes,

O selénio atua diretamente na regulação do

chamadas de prebióticos, dado que alimentam os

sistema imunitário e é imprescindível à saúde do

microorganismos. Alimentos prebióticos incluem alho,

ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 19

células imunitárias. Está também envolvido na

fundamentais,

JORNADA | PÁGINA 4

ao

biológicas


cebola, aspargos, alcachofras, folhas de dente-de-

Vários estudos associam a deficiência de selénio à

leão, bananas e algas marinhas. Os alimentos

COVID-19, como um em que, entre os falecidos, foi

probióticos, por outro lado, contêm bactérias vivas

comum entre os casos a grave deficiência de selénio.

úteis, enquanto os alimentos prebióticos contêm

Quanto mais baixos os níveis desse mineral, mais

fibras e oligossacarídeos que alimentam e mantêm

exposto a complicações virais está o indivíduo.

colónias

Alimentos

Na atual situação pandémica, é necessário estar

probióticos incluem kefir, iogurte com culturas ativas

ciente dos tipos específicos de alimentos que podem

vivas, vegetais fermentados, chucrute, tempeh, chá

melhorar nosso sistema imunológico para combater a

de kombucha e kimchi. Portanto, uma dieta contendo

COVID-19.

alimentos probióticos e prebióticos pode ser benéfica.

dietéticas profissionais para resistir a infeções virais,

saudáveis

dessas

bactérias.

Seguem-se

algumas

orientações

que também podem e devem ser aplicadas no contexto não pandémico, uma vez que são sempre uma mais valia:

O primeiro indício de SARS-CoV-2 surgiu na China

Comer

em dezembro de 2019, tornando-se mais tarde na

morango, melão, toranja, abacaxi, mamão, laranja,

pandemia de COVID-19, que nos trouxe uma crise

goiaba) (4 porções).

sanitária global. O estado nutricional, afetado por

Comer vegetais frescos (alho, gengibre, couve,

certos fatores, como estilo de vida, idade, esta do de

limão, coentro, brócolo, pimenta verde) (5

saúde e sexo, é um fator importante na manutenção

porções) e leguminosas (feijão e lentilha).

de um sistema imunológico forte contra o vírus,

Comer cereais integrais e nozes, cerca de 180 g

sendo a ingestão adequada de zinco, ferro e vitaminas

(milho não processado, aveia, trigo, painço, arroz

A, B-12, B-6, C e E essencial para o bom

integral ou raízes como inhame, batata ou

funcionamento da função imunológica. É importante

mandioca)

frisar que estes nutrientes não prometem a cura da

A carne vermelha pode ser consumida uma ou

COVID-19, apenas auxiliando no combate à mesma.

duas vezes por semana e as aves 2 a 3 vezes por

O

impactos

semana. Consumir alimentos de origem animal

significativos na saúde, incluindo mudanças nos

(por exemplo, peixe, peixe, ovos e leite) e 160 g

padrões alimentares, hábitos de sono e atividade

de carne e feijão é, no entanto, recomendado.

física. Nalguns casos, estimulou comportamentos

Escolher frutas frescas e vegetais crus para

sedentários que afetam a saúde mental e física, além

lanches, em vez de alimentos ricos em açúcar, sal

de levarem a um risco aumentado de obesidade. Em

ou gordura.

geral, a vitamina C tende a formar um sistema

Evitar lanches irregulares.

imunológico forte, enquanto no que diz respeito à

Não cozinhar demais os vegetais, pois leva à

COVID-19, estudos evidenciaram que o zinco

perda de nutrientes importantes.

melhora os sintomas da doença, devido ao seu

Ao usar frutas e legumes secos ou enlatados,

potencial terapêutico, que contribui na modulação do

escolher variedades sem adição de açúcar ou sal.

sistema imunitário, ou seja, a sua atividade é direta

Preparar e servir os alimentos a temperaturas

contra o vírus. Uma das suas funções consiste em

aceitáveis (≥72°C por 2 minutos).

reduzir a formação de coágulos, fator de morte em

Limitar a ingestão de sal a 5g por dia.

confinamento

obrigatório

pacientes com COVID-19.

teve

frutas

diariamente

(maçã,

banana,

JORNADA | PÁGINA 4

ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 20

Sistema imunitário e alimentação: a relação com a COVID-19


Consumir gorduras insaturadas (abacate, peixe,

Nutrir-se ao fazer uma seleção adequada dos

nozes, soja, azeite, óleo de milho e girassol) em

alimentos é crucial para a saúde, uma vez que a

vez de gorduras saturadas (manteiga, carne gordurosa, óleos de coco e palma, queijo e creme). Beber 8-10 copos de água todos os dias. Ajuda a transportar nutrientes no sangue, elimina os

alimentação saudável se trata de uma estratégia para prevenção de e recuperação após doenças. Como tal, o conhecimento sobre quais alimentos devem ser escolhidos para melhor a imunidade é

resíduos e regula a temperatura do corpo.

imprescindível

na

tomada

de

decisão

no

Evitar refrigerantes gaseificados, concentrados e

processo de escolha alimentar. Agradecemos a

todas as bebidas que contenham açúcar.

participação do nutricionista Filipe Oliveira, que

Manter um estilo de vida saudável: atividade

contribuiu para o enriquecimento deste artigo.

física, meditação e sono regular. Quer o contexto de uma pandemia, quer no dia-a-dia comum, boas práticas alimentares são sempre recomendadas

para

minimizar

contaminação

por

ingestão

o de

risco

de

alimentos

contaminados. Como tal, seguem algumas medidas a tomar: Lavar os legumes e frutas antes de comer. Desinfetar objetos e superfícies sempre antes e após o uso. Usar diferentes tábuas de cortar e utensílios para alimentos

cozidos

e

crus

para

evitar

a

contaminação cruzada. Usar luvas ao preparar uma refeição para o público. Não expor ou vender alimentos desembrulhados ao balcão. Desinfetar com frequência as superfícies que entraram em contacto com outras pessoas, como maçanetas, balcões, etc. ALIMENTAÇÃO | PÁGINA 21

MADALENA MACHADO


Entrevista

Falámos com Filipe Oliveira, nutricionista de profissão, com o objetivo de compreendermos o impacto que a alimentação tem no nosso sistema imunitário.

Filipe Oliveira nasceu a 2 de junho de 1992, nas Caldas da Rainha. É licenciado em dietética pela Escola Superior de Saúde de Leiria, parte do Instituto Politécnico de Leiria. Desenvolve a sua atividade em clínicas e instituições particulares de solidariedade social. Tem interesse em mudar comportamentos e fomentar hábitos alimentares mais saudáveis na população, nomeadamente nos mais novos.

Immunitas:

Existem

doenças

autoimunes

que

Além disso devemos também fornecer ao organismo

impliquem alterações alimentares? Se sim, pode dar

alimentos com densidade nutricional em detrimento

um exemplo?

de alimentos com densidade calórica.

ENTREVISTA: NUTRICIONISTA | PÁGINA 22

Filipe Oliveira: Existem variadas doenças autoimunes que implicam alterações alimentares. Na doença

I: Suplementos vitamínicos são uma forma eficiente

autoimune o sistema imunitário “confunde” as células

de robustecer o sistema imunitário, ou deve ser dada

com agentes invasores e ataca-as, em vez de as

prioridade à alimentação?

proteger. O lúpus eritematoso sistémico, doença

F: Na minha ótica devemos primar por uma

celíaca, diabetes mellitus 1, esclerose múltipla e

alimentação

anemia hemolítica são alguns exemplos. No caso da

alimentos sazonais e frescos. Temos uma variedade

doença celíaca, (esta) tem implicações na dieta, uma

de alimentos e condições climatéricas excelentes para

vez que é necessário fazer uma dieta isenta de glúten.

uma produção agrícola eficiente. Só em casos

equilibrada,

dando

preferência

por

excepcionais pode-se recorrer à suplementação I: Que alimentos ou dietas sugere para fortalecer o

vitamínica caso a pessoa não consigo obter um

sistema imunitário?

determinado nutriente com a dieta.

F: A melhor dieta é aquela que conseguimos manter durante a nossa vida. Deve ser variada e equilibrada

I: Chás e infusões herbais podem atuar como

para fortalecer o sistema imunitário. Paralelamente à

suplementos à alimentação para revigorar o sistema

dieta é extremamente importante equilibrar a mente,

imunitário?

praticar exercício físico e ingerir uma quantidade razoável de água, para o organismo estar em homeostase.


F: Sem dúvida alguma. A fitoterapia é excelente e

I: Considera que a sua área de trabalho ganhou mais

temos uma variedade de ervas, plantas e raízes que

importância desde o início da pandemia?

nos permitem obter um conjunto de propriedades em

F: Há um interesse em começar um regime alimentar

vista ao benefício do corpo humano.

saudável. Com a história do vírus, a questão do sistema imunitário acabou por ser muito falado e,

I: Observou efeitos da pandemia de Covid-19 na

assim, a preocupação em ter e manter um sistema

alimentação das pessoas?

imunológico fortalecido foi premissa levando, assim,

F: Sim. O stress, medo e ansiedade fez com que a

muitas pessoas à procura de um estilo de vida

maioria das pessoas alterasse os hábitos alimentares.

saudável. E um interesse em procurar alimentos mais

Podemos observar duas situações em pandemia /

equilibrados e saudáveis.

confinamento: os dedicados à cozinha e alimentação de prato; e os dedicados ao sofá e alimentação de

I: Considera que há falta de profissionais na sua

petisco.

área? F: Não (há) falta de profissionais, porém existem

I: Considera que a nutrição é um campo pouco

atividades e projetos diferenciadores que poderão

explorado ou com poucos recursos?

impactar a nutrição.

F: A alimentação tem sido muito explorada. No entanto, existem muitas teorias e mitos que acabam

I: O que diria a algum estudante interessado em

por confundir as pessoas de forma desnecessária.

trabalhar na área? F: É uma área desafiante, perceber todo o processo

I: Quais são as principais dificuldades que enfrenta

bioquímico do nosso organismo, e (compreender)

diariamente, como nutricionista?

algo que é transversal a todos os seres vivos, a

F: A falta de motivação e interesse em fazer mais e

alimentação. Mas também temos de ser conscientes

melhor. Somos bombardeados com notícias mais

de que a precariedade é muito frequente na área.

sensíveis e estamos a passar uma fase atípica o que

Porém se formos dinâmicos e com interesse em fazer

condiciona a nossa disposição e interesse em lutar por

diferente e melhor teremos sempre um lugar

nós.

garantido. ENTREVISTA: NUTRICIONISTA | PÁGINA 23

Immunitas: Obrigada pela sua colaboração!


VACINAS


Vacinas A inoculação em ação Tanto os níveis de contágio, como os próprios surtos associados a doenças infeciosas, têm registado um decréscimo nas últimas décadas, sendo este acompanhado pela igual diminuição nas

respetivas

taxas

de

mortalidade

e

morbilidade. Estes resultados são fruto da inoculação de vacinas, cujo desenvolvimento é considerado um fator transformador da saúde pública. Com o estabelecimento dos programas nacionais de imunização na década de 60, as vacinas mostraram ser uma das ferramentas com maior impacte na saúde e na qualidade de vida das populações a nível mundial.

À altura já havia sido observado em trabalhadores

primeira vacina contra a varíola, uma doença

responsáveis pela ordenha de vacas que uma infeção

infeciosa provocada pelo vírus Orthopoxvirus variolae,

com varíola bovina podia evitar o contágio futuro de

da família Poxiviridae. Com base em trabalhos e

varíola, ou minimizar os sintomas da mesma, pelo

observações anteriores, o médico e naturalista

menos. Tais observações serviram como base para o

britânico, conhecido como o “pai da imunologia”,

experimento que Jenner viria a realizar: uso de

provou o interesse da varíola bovina como agente

matéria extraída de uma lesão provocada pela varíola

imunizante contra a varíola. A varíola bovina é uma

bovina para inocular James Phipps, um menino de 8

doença, geralmente leve, que afeta o gado bovino,

anos. Apesar de sofrer uma reação local e se sentir

podendo ser transmitida ao ser humano caso este lide

mal por alguns dias, dois meses depois, a criança foi

diretamente com o animal. Uma vez portadores do

exposta a material retirado de lesões de varíola, não

vírus, os bovinos apresentam sintomas semelhantes

desenvolvendo a doença e mantendo o seu estado

aos característicos do corpo humano quando infetado

saudável. O naturalista concluiu, então, que Phipps

com varíola, entre os quais as típicas lesões cutâneas.

estava imune à mesma. Hoje sabe-se que a experiência só alcançou o sucesso porque os vírus

VACINAS | PÁGINA 25

Em 1796, Edward Jenner desenvolveu com sucesso a


estando intimamente relacionada com o ramo da

mesma

ser

imunologia. Esta área está ainda incumbida de definir

denominado “vacinação” e o material inoculado de

os parâmetros de segurança para a utilização das

“vacina”, do latim vacca.

mesmas, procedendo, para tal, à avaliação da resposta

As investigações levadas a cabo pelo britânico

imune desencadeada pela imunização. O principal

comprovaram a utilidade e eficácia da vacinação para

foco da vacinologia é o desenvolvimento de vacinas

a prevenção e controlo da varíola, dada como

que previnam doenças infeciosas, porém, com os

erradicada pela Assembleia Mundial da Saúde séculos

avanços das últimas duas décadas, admite-se o seu

mais tarde, em 1980. Apesar do ceticismo dos

potencial no controlo de doenças não infeciosas,

críticos, Jenner dedicou o restante da sua vida à

como o cancro, as doenças neurodegenerativas ou

defesa entusiástica e contínua da imunização, abrindo

até mesmo os vícios. Investigações já começaram a

caminho para uma nova era revolucionária no ramo

ser realizadas neste sentido e os resultados revelam-

da imunologia. Estavam, assim, lançadas as bases para

se promissores.

o crescimento da compreensão sobre a natureza das

Segundo o CDC, Centers for Disease Control and

doenças

Prevention, toda a preparação antigénica que vise

família.

O

infeciosas

procedimento

e

o

viria

a

desenvolvimento

da

imunidade que dominou todo o século XIX.

estimular uma resposta imunitária por parte do corpo

Todavia, os resultados dos trabalhos produzidos nesta

contra uma determinada doença, causada por um

época viriam apenas a refletir-se no século seguinte,

agente patogénico específico, é considerada uma

quando

de

vacina. A Organização Mundial de Saúde adianta que

desenvolvimento de vacinas contra múltiplas doenças

existem, hoje, pelo menos 28 doenças humanas

infeciosas, como a difteria e a febre tifoide, que se

infeciosas contra as quais foram já desenvolvidas

estende

mundo

vacinas seguras com eficácia comprovada. Apesar

contemporâneo, as novas tecnologias e o ritmo de

destes números serem animadores, é objetivo global

estudo e compreensão, quer de novos agentes

investir cada vez mais na área da vacinologia e

patogénicos, quer do próprio sistema imunológico,

expandir os benefícios da mesma a toda a população,

permitem desenvolver vacinas seguras e eficazes a

especialmente a de difícil alcance. Pretende-se

uma velocidade sem precedentes, o que facilita a

aumentar a lista de doenças erradicadas e atingir um

prevenção e controlo de doenças infeciosas. Segundo

estado de imunidade de grupo.

a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma aposta

As

na cobertura de vacinação global, bem como no

ferramentas

delineamento de estratégias de imunização eficientes,

maximizando o seu potencial de proteção. De forma

é a resposta para a erradicação de doenças que

natural e automática, o sistema imunológico do corpo

originam surtos mais ou menos graves quase

humano atua como defesa mais ou menos eficaz

anualmente, causando a morte de milhões de

contra os agentes patogénicos que o atacam,

pessoas. As vacinas são, portanto, consideradas a

incluindo bactérias, vírus, fungos e parasitas. Estes

chave para uma saúde pública mais forte, sendo

organismos,

responsáveis pela prevenção de 2 a 3 milhões de

conseguinte, pela própria doença, incluem na sua

mortes a cada ano, de acordo com a última estimativa

constituição os chamados antigénios – proteínas

da OMS.

únicas presentes na superfície de determinado

Atualmente, a vacinologia é a ciência responsável pela

patogénico. A entrada de um antigénio no corpo

investigação e desenvolvimento de novas vacinas,

induz uma resposta imunológica, que muitas vezes

teve

até

início

aos

um

dias

período

de

hoje.

frenético

No

vacinas,

agentes auxiliares

imunizantes do

responsáveis

sistema

pela

consiste na produção de anticorpos.

ativos,

são

imunitário,

infeção

e,

por

JORNADA | PÁGINA 4

VACINAS | PÁGINA 26

responsáveis por ambas as doenças pertencem à


Estes, ao reconhecer os ditos antigénios, conseguem

Deste modo, tanto o tempo de resposta, como a

neutralizar o agente patogénico, acabando, depois,

própria probabilidade de desenvolver doença, serão

em conjunto com o restante sistema imunológico, por

menores. Diz-se, então, que foi atingida a imunidade.

eliminá-lo.

Este estado de proteção não é obtido no instante em

A produção de anticorpos é acompanhada pela

que a vacina é administrada, sendo necessário esperar

formação de células de memória, os denominados

um determinado período de tempo para que tal

linfócitos T, que permanecem vivas mesmo depois da

aconteça. Por vezes, com o objetivo de reforçar esta

desintegração do patogénico estar concluída. Deste

condição imunitária, são inclusive recomendadas

modo, se o corpo for novamente exposto ao mesmo

doses múltiplas de uma mesma vacina, inoculadas

agente, ou a um parecido, a resposta do sistema

com semanas ou meses de intervalo entre si, que

imunitário será muito mais rápida e eficaz, uma vez que estas células reconhecerão os antigénios nocivos de imediato e iniciarão desde logo a produção dos anticorpos correspondentes. Diminui, portanto, o risco de desenvolver doença. Porém, como cada anticorpo reconhece apenas um antigénio específico, a exposição pela primeira vez a um patogénico implica um maior tempo de resposta por parte do sistema imunológico, que necessita de perceber quais os anticorpos mais adequados para, finalmente, iniciar a sua produção. Durante este período, que pode levar vários dias, o corpo encontra-se especialmente suscetível a desenvolver a doença, sendo o aumento deste risco proporcional ao tempo que o sistema imunitário demora a reagir. A administração de uma vacina permite, então, agilizar este processo, estimulando as defesas

permitem a produção de anticorpos a longo prazo. É de notar que a administração de uma vacina pode levar ao surgimento de sintomas menores, como febre e dores de cabeça, que perduram até a imunidade estar desenvolvida. Este tipo de reação corporal é uma resposta comum à entrada de uma substância estranha no organismo e só deve ser motivo de preocupação se persistir por um número de dias ou semanas superior ao esperado. O desenvolvimento de uma nova vacina é um processo complexo e muito rigoroso, envolvendo testes e análises laboratoriais no decorrer de quase todas as etapas. Numa primeira fase, procede-se à identificação do agente patogénico responsável pelos altos níveis de incidência de determinada doença na população,

devendo

estudar-se

os

mecanismos

biológicos envolvidos na evolução da mesma – patogenia. Uma vez concluída esta investigação, inicia-se, então, a segunda fase, que consiste na

esteja apto a combater agentes patogénicos de modo

avaliação do potencial associado ao desenvolvimento

mais rápido e eficiente. A maioria das vacinas contém

de uma vacina capaz de diminuir a taxa de

partes enfraquecidas, ou inativas, de um determinado

propagação ou gravidade da doença em causa.

antigénio que, apesar de não se encontrarem em

Obtido um parecer positivo, pode ter início a

quantidade suficiente para provocar a doença, farão

produção da mesma, primeiro experimental apenas e

agir o sistema imunológico normalmente, levando,

só depois em massa, para fins de utilização.

portanto, à produção de anticorpos e células de

Tal como acontece com os medicamentos, antes de

memória. Estas permanecerão no corpo mesmo

serem

depois de neutralizados e eliminados os antigénios

vacinação de um país, as vacinas devem passar por

específicos, pelo que, em caso de infeção futura, o

testes laboratoriais extensivos e rigorosos que

sistema

atestem a sua fiabilidade.

imunitário

estará

habilitado

a

um

reconhecimento imediato do patogénico contra o qual a vacina foi desenvolvida.

introduzidas

no

programa

nacional

de

VACINAS | PÁGINA 27

naturais do corpo para que, no futuro, o organismo


Cada um dos seus componentes atende a um

Em cada país, analisa-se os dados do estudo e

propósito específico e é testado no decorrer do

autoriza-se, ou não, o uso da preparação antigénica. A

processo de fabricação, tanto a nível de eficácia como

posterior

a nível de segurança. A primeira vacina desenvolvida,

permitindo que os especialistas acompanhem o

também designada vacina experimental, é testada em

impacte

animais, sendo avaliado o seu potencial de prevenção

administrada a um grande número de pessoas, por um

da doença. De acordo com a OMS, apenas no caso de

longo período de tempo. Estes resultados são usados

ser desencadeada uma resposta imune adequada,

para ajustar as políticas de utilização da vacina e

deverá submeter-se a vacina ao próximo leque de

otimizar os seus efeitos.

ensaios clínicos, já realizados em seres humanos.

Para ser tida como ideal, uma vacina deve ser: segura,

Estes

segundos

testes

clínicos

são

processos

trifásicos cuidadosos cujos resultados permitirão, ou não,

a

distribuição

da

vacina

e

consequente

imunização da população. Na primeira fase, a vacina é administrada a um pequeno número de voluntários, geralmente jovens adultos saudáveis, com o objetivo de avaliar, mais uma vez, a segurança dos componentes utilizados e confirmar a resposta imune induzida, bem como determinar a dosagem certa a ser inoculada. Na segunda fase, a vacina é administrada novamente, desta

vez

a

centenas

de

voluntários,

cujas

características deverão ser semelhantes às do público alvo da preparação antigénica. Os resultados obtidos após a conclusão desta etapa devem estar de acordo com todos os anteriores. É de notar a inclusão de um grupo que não recebe a vacina, o chamado o grupo

monitorização da

vacina,

decorre

mesmo

continuamente,

quando

esta

é

com efeitos adversos mínimos; eficaz, fornecendo uma proteção vitalícia contra as doenças após a inoculação de uma única dose; barata; estável durante os processos de transporte e armazenamento; e fácil de administrar. Nem todas as vacinas cumprem estes critérios na íntegra, contudo a proteção contra a doença para a qual foram desenvolvidas está sempre garantida, embora nunca alcance os 100%. Infelizmente, indivíduos com problemas de saúde subjacentes ao sistema imunológico ou alergias graves a componentes de certas vacinas não podem ser vacinados, pelo que a imunidade de grupo revelase essencial. Para que tal seja possível, é necessária uma boa cobertura de distribuição associada a uma elevada eficácia da vacina. Assim, mesmo a parte da população que não pode ser protegida está sujeita a uma

menor

probabilidade

de

ser

exposta

ao

patogénico nocivo.

VACINAS | PÁGINA 28

de controlo, para determinar se as mudanças registadas são, de facto, fruto da vacinação ou de

Em suma, o desenvolvimento de vacinas revolucionou

fatores externos. Normalmente, há ensaios para

o mundo, em especial, o ramo da imunologia,

avaliar as diferentes formulações da vacina. Por

permitindo a redução das taxas de incidência de

último, na terceira fase, a vacina é inoculada em

doenças infeciosas, responsáveis por milhões de

milhares de voluntários para determinar a sua eficácia

mortes anualmente. A Organização Mundial de Saúde

contra a doença pretendida e estudar a sua fiabilidade

estima que o número de vidas salvas devido à

num maior grupo. Na maioria das vezes, estes testes

administração de vacinas ultrapassa já as largas

são realizados em vários países, ou locais dentro de

centenas de milhão, sendo este um número que

um mesmo país, para assegurar que os resultados se

cresce todos os anos. Proteja-se a si e a quem o

aplicam a diferentes populações.

rodeia. Vacine-se.

Com a conclusão de todos estes ensaios clínicos, segue-se uma série de análises para aprovações de políticas regulatórias e de saúde pública. DIANA QUITÉRIO


Tipos de Vacinas A pesar de ser uma área em constante desenvolvimento, resultado do avultado investimento

monetário de que é alvo, a grande revolução na vacinologia deu-se ao longo dos últimos anos por

mérito de um conjunto de fatores decisivos que permitiram, quer a otimização das vacinas já desenvolvidas, quer a produção de novas vacinas através de métodos inéditos e transformadores. Atualmente, existem seis tipos de vacinas aprovados e reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), todos eles baseados em diferentes abordagens de preparação e com características próprias. Esta diversidade de imunizantes aumenta exponencialmente a probabilidade de ser desenvolvida uma vacina eficaz e segura contra determinadas doenças, anualmente responsáveis por um elevado número de mortes. Hoje, mais do que nunca, é possível acreditar num futuro próspero e livre de doenças fatais, infeciosas ou não, como a malária e o cancro. A par da aposta na formação de cientistas e

Hoje em dia, o início do processo de desenvolvimento

profissionais de saúde pública em vacinologia, que

de uma vacina baseia-se totalmente nas noções

tem vindo a aumentar drasticamente nos últimos 20

teóricas sobre imunologia. Nesta primeira fase, o

anos, os avanços tecnológicos e científicos notáveis

principal foco de um vacinologista é a recolha de

foram e são cruciais à rápida evolução da vacinologia

informação, devendo, para isso, ter em conta os

e ao consequente desenvolvimento de novas vacinas

seguintes elementos: o modo como o sistema

mais seguras. Durante grande parte da história, as

imunológico

preparações antigénicas foram desenvolvidas quase

responsável pela doença que se pretende combater; o

exclusivamente através de pesquisas empíricas, sem

grupo para o qual a vacina está a ser desenvolvida,

grande fundamento teórico e com a ausência de

estando este condicionado a variantes como faixas

imunologistas durante todo o processo. Porém,

etárias, sexo ou até mesmo a localização geográfica

atualmente, os desafios que se impõe exigem um

da população a vacinar; e, por último, qual o melhor

conhecimento imunológico substancialmente mais

método de desenvolvimento da vacina, de forma a

profundo, do qual resultam vacinas mais eficazes e

maximizar o seu potencial e eficácia. Este último

capazes de combater agentes patogénicos mais

aspeto é de particular importância, uma vez que

resistentes, como é o caso da bactéria responsável

define e orienta os trabalhos de investigação e

pela tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, ou do

pesquisa que precedem a dita produção da vacina.

HIV, retrovírus da subfamília dos Lentiviridae na

Atualmente, os vacinologistas têm à sua disposição

origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

três abordagens principais que estabelecem o método

Só deste modo é possível controlar os surtos que

de desenvolvimento a ser aplicado na vacina

ameaçam a segurança sanitária global, de forma mais

pretendida. As grandes diferenças residem na forma

ou menos recorrente, e fortalecer os sistemas

como o agente patogénico é utilizado durante o

imunológicos da população, em particular dos mais

processo, podendo ser empregue na sua totalidade ou

frágeis.

em subunidades, pequenas porções suficientes para

responde

ao

agente

patogénico

TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 29

desencadear a resposta imunológica desejada.


É ainda possível recorrer à extração do seu material

implica a cultura de vírus ou bactérias em instalações

genético, que fornecerá às células as instruções

laboratoriais especiais que ofereçam segurança. As

necessárias para a síntese de proteínas específicas.

vacinas inativadas não fornecem uma imunidade

Destas diferenças deriva, então, o nome de cada

muito forte, apresentando uma menor taxa de

abordagem:

eficácia e efeitos colaterais substancialmente mais

abordagem

do

patogénico

inteiro,

abordagem de subunidades e abordagem genética.

ligeiros

Os diferentes métodos de desenvolvimento de uma

atenuadas. Por este motivo, há a necessidade de

vacina permitem distinguir seis principais tipos de

administrar doses de reforço a fim de assegurar uma

vacinas,

combater,

resposta imune a longo prazo. São utilizadas na

preferencialmente, certo tipo de agentes patogénicos

prevenção de doenças como a hepatite A, a gripe, a

e estimular sistemas imunitários com determinadas

poliomielite e a raiva. Este tipo de vacinas não

características. A OMS aprova e reconhece como tipo

evidencia

de vacina as vacinas inativadas, as vacinas vivas

imunocomprometidos, embora possa não conferir

atenuadas, as vacinas de vetor viral, as vacinas de

proteção

subunidades,

combinada.

projetados

para

recombinantes,

polissacarídeas

e

conjugadas, as vacinas toxoides e as vacinas de RNA mensageiro

(mRNA).

A

cada

tipo

de

vacina

correspondem efeitos secundários e uma taxa de eficácia próprios, pelo que é importante consultar um médico antes de proceder à sua administração, de forma a evitar a alteração do estado de saúde e bem-

comparadas

qualquer a

quem

às

risco sofra

vacinas

para de

vivas

indivíduos

imunodeficiência

Vacinas vivas atenuadas As vacinas vivas atenuadas têm por base a abordagem do agente patogénico inteiro, utilizando uma

versão

viva,

embora

enfraquecida,

do

microrganismo responsável pela doença a combater. Geralmente, são desenvolvidas para proteção contra vírus,

embora

possam

igualmente

promover

a

Vacinas inativadas

imunidade contra bactérias. O designado estado de

As vacinas inativadas, desenvolvidas com recurso à

atenuação pode ser alcançado por meio de vários

abordagem do patogénico inteiro, incluem na sua

métodos, sendo o mais comum a transferência do

composição, tal como o próprio nome indica, um

agente patogénico entre culturas de células ou

microrganismo sujeito a uma inativação prévia. Regra

embriões não humanos. Esta técnica permite reduzir a

geral, esta é realizada através do uso de calor, de

capacidade de replicação do vírus ou bactéria em

radiação

células

ou

de

produtos

químicos,

como

o

humanas,

inibindo,

portanto,

a

sua

formaldeído ou a formalina. Todos estes métodos

proliferação em massa no interior do corpo, após

destroem a capacidade de replicação do agente

administração da vacina. Apesar de enfraquecido, o

patogénico, impedindo, assim, que este adote uma

microrganismo mantém-se reconhecível pelo sistema

forma mais virulenta capaz de provocar doença. A

imunitário. Todos os métodos implicam a limitação da

utilização destas técnicas não compromete, contudo,

reprodução

as condições inerentes ao patogénico que permitem

incapaz de provocar manifestações significativas da

ao sistema imunológico reconhecê-lo posteriormente.

doença ou a sua transmissão a terceiros, embora seja

É de notar que este tipo de vacina apresenta um

sempre suficiente para que ocorra a estimulação de

tempo de produção relativamente longo, uma vez que

uma resposta imune forte.

do

agente

patogénico,

tornando-o

JORNADA | PÁGINA 4

TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 30

estar do vacinado.

quando


As vacinas vivas atenuadas conferem uma imunidade

ão diversos os vírus atualmente utilizados com este

eficaz e, regra geral, duradoura, sendo apenas

fim, sendo os principais os adenovírus e os vírus

necessária uma ou duas doses, na maioria dos casos,

Influenza, da família Orthomyxoviridae.

para se obter uma proteção vitalícia contra o agente

As vacinas de vetor viral foram recentemente

patogénico e a doença que o mesmo provoca. São

utilizadas no controlo dos surtos de Ébola, doença

utilizadas na prevenção de doenças como o sarampo,

provocada pelo vírus homónimo, e no combate à

caxumba e rubéola (vacina combinada), a varíola, a

pandemia de SARS-CoV-2. Vários estudos estão

febre amarela e a varicela. É sempre aconselhado

ainda a ser desenvolvidos no sentido de desenvolver

procurar aconselhamento médico antes da vacinação,

vacinas deste tipo contra outras doenças infeciosas,

não sendo este tipo de vacina indicado para

como a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida e a

indivíduos com o sistema imunológico enfraquecido

doença causada pelo vírus Zika.

ou condições de saúde de longo prazo.

deve ser completamente excluída a possibilidade de

Vacinas de subunidade, recombinantes, polissacarídeas e conjugadas

se desenvolver doença leve após a sua inoculação.

As

Segundo a OMS, este é o caso da vacina contra o

polissacarídeas e conjugadas, apesar de serem

sarampo: cerca de 5% das crianças desenvolvem

produzidas por métodos diferentes, são consideradas

erupção cutânea e até 15% sofrem com febre após a

como um só tipo de vacinas, resultante de uma

vacinação. Sempre que efeitos colaterais deste

abordagem de subunidades. Em comum, têm o uso de

género se verifiquem, é recomendado o parecer

uma parte específica dos vírus ou bactérias alvo,

médico antes da toma da vacina. É de referir ainda

normalmente associada ao seu revestimento externo,

que este tipo de vacinas requer armazenamento

como uma proteína, um polissacarídeo ou uma

refrigerado, pelo que não é o mais adequado para uso

cápsula. Estas partes isoladas estão quimicamente

em ambientes onde acesso a estas condições esteja

ligadas a proteínas transportadoras, funcionando

comprometido.

como antigénios fracos e estimulando uma resposta

Apesar deste tipo de vacinas incluir um agente patogénico com potencial virulento diminuto, não

vacinas

de

subunidade,

recombinantes,

imune, em geral muito forte. A longo prazo, podem,

Vacinas de vetor viral

contudo, ser necessárias algumas doses de reforço. Este tipo de vacinas, mais especificamente algumas

abordagem do patogénico inteiro, são desenvolvidas

vacinas de subunidade e as vacinas recombinantes,

com recurso à modificação de um vírus para posterior

pode ainda ser desenvolvido por meio da engenharia

utilização

são

genética. Neste caso, o gene responsável pela síntese

incorporadas subpartes específicas – as proteínas –

de proteínas com função vacinal é isolado e inserido

do agente de interesse num segundo vírus inofensivo,

num outro vírus em cultura, o designado vírus

sobre o qual há já uma base de conhecimento

portador. Quando este se reproduz, são produzidas as

bastante ampla. Este funciona como vetor, sendo da

proteínas

sua responsabilidade unicamente o transporte dos

reconhecerá

elementos que desencadearão a resposta imune

imunidade.

como

vetor.

Simplificadamente,

pretendida e a consequente imunidade. O vírus vetor é, portanto, manipulado até ser incapaz de provocar doença por si só.

vacinais, e

que

contra

o as

sistema quais

imunitário

desenvolverá

TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 31

As vacinas de vetor viral, igualmente criadas com a


A inoculação com este tipo de vacinas raramente

Apesar de ser uma abordagem estudada há décadas,

causa efeitos colaterais, pelo que é adequada em

só recentemente foi aprovada a primeira vacina de

indivíduos com sistema imunológico enfraquecido ou

RNA mensageiro, na sequência da pandemia de

condições de saúde prolongadas. Geralmente, estas

SARS-CoV-2.

vacinas são utilizadas na prevenção de doenças como

especialistas a considerar o potencial destas vacinas,

a hepatite B, o HPV (vírus do papiloma humano), a

com

coqueluche e a doença por Haemophilus influenzae do

económicos baixos, no tratamento e prevenção de

tipo b. É, ainda, de notar que a maioria das vacinas

doenças como o cancro e as alergias.

tempos

A de

eficácia

da

fabricação

mesma curtos

levou e

os

custos

incluídas no calendário infantil são vacinas de Atualmente, dois novos tipos de vacina são o alvo

subunidade.

principal de estudos e testes, sendo os resultados

Vacinas toxoides

bastante promissores. Trata-se das vacinas de DNA e

As vacinas toxoides, produzidas com base na

das vacinas de vetores recombinantes. As primeiras

abordagem de subunidades, incluem as toxinas

são pensadas de forma a incluir o DNA do agente

criadas

o

patogénico. Este, uma vez injetado no corpo, é

desenvolvimento de imunidade contra as mesmas.

reproduzido e reconhecido pelo sistema imunológico,

Desta forma, a resposta imune é sempre direcionada

que induz uma forte imunidade a longo prazo. Por

a uma toxina específica quimicamente inativada, não

outro lado, as vacinas de vetores recombinantes

sendo, no entanto, a imunidade vitalícia, a menos que

consistem na inserção de genes do agente patogénico

sejam administradas várias doses de reforço ao longo

num vírus vivo. Este, ao reproduzir-se no interior do

do tempo. As vacinas toxoides são utilizadas na

corpo, produz as proteínas que o sistema imunitário

prevenção de doenças como o tétano e a difteria.

deverá reconhecer e contra as quais desenvolve

pelo

agente

patogénico,

permitindo

imunidade. Será necessária a realização de mais testes

Vacinas de RNA mensageiro As

vacinas

de

RNA

mensageiro

de segurança até que a administração destes tipos de

resultam

da

abordagem genética, a mais recente e inovadora

vacinas seja aprovada, mas o cenário atual é animador.

estratégia utilizada no desenvolvimento de vacinas. Na sua composição, incluem sequências de material genético (mRNA) pertencente ao agente patogénico, bactéria ser geneticamente sequenciado. Esta porção TIPOS DE VACINAS | PÁGINA 32

de RNA criada é envolta numa capa de gordura, de modo a que não se desintegre, e, uma vez no interior das

células

humanas,

fornece

as

evolução tecnológica e científica dos últimos anos. Como resultado, existem, hoje, inúmeros tipos de vacinas com potencial para assegurar a proteção da população contra doenças graves de forma a melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar.

instruções

necessárias à síntese de proteínas específicas. Estas desencadeiam uma resposta imune, induzindo a proteção pretendida, que é geralmente forte. A administração deste tipo de vacinas não motiva o desenvolvimento de qualquer doença por si só.

DIANA QUITÉRIO

JORNADA | PÁGINA 4

que são copiadas e sintetizadas após o vírus ou

O campo da vacinologia tem beneficiado da rápida


Plano Nacional de Vacinação Uma análise E m 1796, o cientista e médico Edward Jenner

desenvolveu a primeira vacina, tendo sido o responsável pela criação do conceito de vacina que temos nos dias que correm. No entanto, foi só um século mais tarde, no século XX, que a vacinação em massa teve início. Esta apresenta várias vantagens para a sociedade, uma vez que alcança a tão desejada imunidade de grupo, estado de proteção que revela uma extrema importância na erradicação de várias doenças que até à data se revelam mortais.

áreas de intervenção, entre elas: coordenação e

de vacinação implementado onde se encontram as

desenvolvimento de Planos e Programas de Saúde,

vacinas recomendadas para cada cidadão. Portugal

coordenação e garantia da vigilância epidemiológica,

não é exceção, sendo a Direção-Geral da Saúde

regulação da qualidade em saúde e gestão das

(DGS) a responsável pela atualização do programa

emergências em Saúde Pública. Coordenado e

nacional de vacinação (PNV). Fundada no dia 4 de

regulado pela DGS, o programa nacional de vacinação

outubro de 1899, atualmente dirigida pela Dr. Graça

foi implementado em 1965 com o objetivo de reduzir

Freitas, a DGS é um serviço central do Ministério da

a morbilidade e a mortalidade causada pelas doenças

Saúde, sendo uma referência para todos os campos

infecciosas que podem ser evitadas através da

da saúde. Centrada nos interesses e no bem-estar

vacinação.

dos portugueses, esta instituição apresenta inúmeras

PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO | PÁGINA 33

Hoje em dia, a maioria dos países tem um programa


O PNV apresenta, desde a sua criação, cinco

contra a rubéola (doença cutânea) e a parotidite

princípios básicos que garantem a sua eficácia:

(doença glandular). Já no século XXI, começaram a

• Universalidade, destinando-se a todas as pessoas

fazer parte do programa as vacinas contra a

que em Portugal tenham indicação para vacinação;

Haemophilus influenza b (infeção bacteriana grave), a

• Gratuitidade, para o utilizador;

hepatite B (doença hepática) e o vírus do papiloma

• Acessibilidade;

humano - HPV (infeção sexualmente transmissível).

• Equidade;

Atualmente, o PNV engloba vacinas contra 13

• Aproveitamento de todas as oportunidades de

doenças,

vacinação.

Streptococcus

as

últimas

adicionadas

pneumoniae

foram

(doença

a

da

respiratória),

Neisseria meningitidis B e a Neisseria meningitidis C Para além destes princípios, o programa que tem

(doenças neurológicas).

trazido importantes ganhos para a saúde tem como

A seleção das vacinas para o plano de vacinação tem

objetivos:

como base critérios epidemiológicos, características

• Proteger os indivíduos e a população em geral

das

contra as doenças com maior potencial para

científicas. As escolhidas são administradas na idade

constituírem ameaças à saúde pública e individual e

provada como a mais eficaz. É recomendada a

para as quais há proteção eficaz por vacinação;

aplicação de grande parte das vacinas nos recém-

• A nível individual pretende-se que a pessoa

nascidos, pois o seu sistema imunitário é imaturo e

vacinada fique imune à doença ou, nos casos em que

inexperiente. Ainda que nos primeiros meses de vida,

isso não é possível, que tenha uma forma mais ligeira

os anticorpos da mãe, passados para o filho através

da doença quando contactar com o agente infecioso

da placenta, forneçam alguma proteção, estes não são

que a causa;

eficazes no combate a todas as doenças. Apesar da

• A nível da população pretende-se eliminar,

gradual maturação do sistema imunitário até aos 2

controlar ou minimizar o impacto da doença na

anos de vida, a criança continua suscetível a inúmeras

comunidade, sendo necessário que a percentagem de

infeções.

pessoas vacinadas na população seja a mais elevada

precocemente, para evitar doenças graves, que

possível.

podem causar lesões permanentes ou até fatais. O

vacinas

É

disponíveis,

estudos

fundamental

vacinar

e

evidências

as

crianças

PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO | PÁGINA 34

passar dos anos leva a uma diminuição da eficácia do Apesar de oficialmente o PNV só ter sido instituído

sistema imunitário, o que leva a um maior risco de

em outubro de 1965, no início da década de 60 já

doenças infecciosas. Deste modo, é sugerido que

eram administradas dezenas de milhares de vacinas

adultos com mais de 65 anos se vacinem contras as

em Portugal. A primeira vacina que fez parte do

mais variadas doenças, especialmente contra o

programa foi a vacina contra a poliomielite (doença

pneumococo, a Neisseria meningitidis e o H. influenzae,

neurológica). Em 1966, foram logo acrescentadas

causadoras de infeções generalizadas e meningites.

outras 4 vacinas, contra: a tosse convulsa (doença

Resta uma questão: será que o PNV está completo?

respiratória), a difteria (doença respiratória), o tétano

Haverá diferenças entre o PNV e os restantes

(infeção bacteriana grave) e a varíola (doença

programas

infecciosa considerada erradicada pela OMS). Em

anteriormente referido, as vacinas que pertencem ao

1974, foi adicionada a vacina do sarampo (doença

plano português têm em atenção as doenças que

cutânea), e posteriormente foram inseridas a vacina

existem em Portugal e na Europa. Deste modo, é

da

Europa?

E

do

mundo?

Como

expectável que o programa da Malásia apresente


algumas diferenças quando comparado com o

característica apenas dos países industrializados

português.

ocidentais. Tanto a Malásia como a Colômbia não

Além da eventualidade de epidemias, também os

possuem nos seus programas vacinas contra a

recursos monetários de cada país influenciam a

meningite, sendo uma das possíveis razões a falta de

escolha das vacinas. Tome-se como exemplo o

recursos monetários.

programa de vacinação da Colômbia. Este país da América do Sul apresenta um plano de vacinação mais

Nos 50 anos de vida do PNV, mais de 7 milhões de

extenso, tendo mais vacinas que o plano português.

crianças e vários milhões de adultos foram vacinados.

Apesar de possuir 10 vacinas em comum com o PNV,

No entanto, tem-se verificado uma ligeira redução do

o programa da Colômbia dispõe ainda da vacina da

número de crianças vacinadas. Este programa tem

tuberculose,

sazonal,

garantido imunização a inúmeras doenças comuns e

hepatite A e febre amarela. gripe sazonal, hepatite A

encontra-se atualizado para a prevenção de eventuais

e febre amarela. A inexistência destas vacinas no PNV

epidemias nos dias de hoje.

rotavirús,

varicela,

gripe

é simples de explicar. O mesmo acontece com o rotavirús, uma doença muito

mais

desenvolvimento,

preocupante

em

causando

dezenas

países de

em

mortes

nestes países, daí esta vacina em Portugal só ser administrada em grupos de risco. Já no caso da febre amarela, endémica das áreas tropicais, como é o caso da Colômbia, não faz sentido esta vacina ser tomada em Portugal. Outra doença é a hepatite A, que se transmite

principalmente

por

comida

ou

água

infetada, então devido às reduzidas condições sanitárias da Colômbia, é recomendada a utilização da vacina contra esta doença. Outro excelente exemplo da influência dos fatores acima mencionados no plano de vacinação é o da Malásia. País situado no sudeste asiático, possui um plano de vacinação algo reduzido, PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO | PÁGINA 35

tendo um total de 8 vacinas contra 12 doenças. Em comparação com o PNV, a Malásia apresenta 6 vacinas em comum com Portugal, sendo as duas restantes a vacina contra a tuberculose e contra a encefalite japonesa. Uma vez que a encefalite japonesa é uma doença predominante em partes rurais da Ásia, não se justifica a utilização desta vacina em Portugal. Em contrapartida, a Malásia não dispõe das vacinas contra o HPV e a pneumonia. A primeira é esclarecida pela falta de fundos monetários e de recursos deste país, já a segunda é uma doença CATARINA FIALHO


Mitos "Desmitoficando" as vacinas É um facto que a vacinação permite a proteção individual e de grupo. Quando surgem novas

vacinas, é comum surgirem também algumas incertezas por parte da população, e, sendo o não

esclarecimento das mesmas um fator gerador de mitos ou movimentos anti-vacina. Com o objetivo de educar a população para a inoculação, seguem-se alguns dos mitos mais conhecidos, e a respetiva desmistificação, sustentada por informação científica factual.

As vacinas são desnecessárias

A s vacinas causam autismo

Hoje em dia, algumas das doenças contra as quais a

Esta crença surgiu com base num artigo publicado em

população é vacinada têm poucos casos a ser

1998, que associava a vacina tríplice, destinada ao

reportados

a

sarampo, à papeira e à rubéola, ao aumento do

poliomielite ou a difteria. Este facto leva as pessoas

número de casos de autismo. Porém, após terem sido

a pensarem, erradamente, que as vacinas já não são

identificados erros graves e escassez de argumentos

necessárias. A vacinação da população leva a que a

sólidos neste estudo, os seus autores desmentiram

incidência destas doenças seja diminuta, porém não

publicamente as conclusões, em 2010, e o autor

é nula. No caso de se parar a inoculação, os grupos

principal viu revogada a sua licença para exercer

mais vulneráveis ficarão expostos, conduzindo a um

medicina. Há, de facto, evidência científica de que as

aumento da disseminação da doença. Estes números

vacinas não estão associadas ao autismo, com base

crescentes já se fazem notar em doenças como o

num estudo dinamarquês realizado em centenas de

sarampo. Segundo a Organização Mundial da Saúde

milhares de crianças, em 2002. Ficou provado que

(OMS), só na primeira metade de 2019 foram

não havia qualquer tipo de relação entre a idade no

reportados cerca de 90 mil casos de sarampo nos 50

momento da vacinação e o tempo decorrido desde a

países que integram a região europeia, um valor

mesma e o desenvolvimento do transtorno autista.

em

alguns

países,

tais

como

superior ao registado durante todo o ano de 2018 (84 462 casos).

MITOS | PÁGINA 36

A vacinação tem alto risco É frequente ver-se nos noticiários a associação entre

Por exemplo, apenas uma morte foi relatada ao

a morte de um vacinado e a vacina que tomou,

Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos

mesmo que a causa de morte nada tenha a ver com a

Estados Unidos entre 1990 e 1992. A taxa geral de

vacina. É desta má transmissão de informação por

incidência de reações alérgicas graves em vacinas é

parte dos média que surge o mito que atribui à

geralmente estimada em um caso para cada um ou

vacinação um elevado risco. A incorreta interpretação

dois milhões de injeções.

dos telespetadores pode também contribuir para o seu fortalecimento. Na verdade, a incidência de morte devido a vacinação é tão rara que nem é possível ser calculada.


As vacinas têm químicos perigosos O alumínio e timerosal são dois ingredientes que

investigado por várias entidades, incluindo a OMS, na

estão presentes em algumas das vacinas, cruciais na

sequência da controvérsia surgida em torno das

produção de uma resposta imune mais forte e na

vacinas, nos anos 90. Concluiu-se não haver ligação

diminuição da taxa de contaminação por bactérias e

entre este componente e a saúde dos vacinados. No

fungos. No que toca ao alumínio, há estudos que

entanto, foi retirado por precaução, não porque fosse

comprovam a não existência de problemas a longo

prejudicial, mas para que os receios em torno de

prazo. Já o timerosal, usado como conservante, foi

algumas vacinas desaparecessem.

As vacinas provocam doenças autoimunes Circula o mito de que as vacinas combinadas,

e múltiplos micróbios, através do contacto com

responsáveis pela proteção de várias doenças,

superfícies ou mesmo na interação com outras

favorecem os efeitos secundários e sobrecarregam o

pessoas. A relação entre a vacinação e as doenças

sistema imunitário. No entanto, as vacinas contam

autoimunes ainda está sob investigação, mas os

com estudos que atestam a sua segurança e eficácia.

estudos existentes mostram pouca evidência de que

O quotidiano também contradiz a ideia de sobrecarga,

estão relacionadas.

já que todos têm exposição diária constante a novos

MITOS | PÁGINA 37

MADALENA MACHADO


COVID-19


Pandemia de Covid-19 Análise No final da primavera de 2022, a pandemia de COVID-19 parece estar a abrandar, talvez

até na reta final. Este é, então, um momento excelente para avaliarmos a evolução da pandemia em Portugal, analisando se as medidas tomadas pelas autoridades tiveram resultados apreciáveis. O que nos dizem os dados? Em Portugal, assim como no resto do mundo, até à data de escrita deste artigo foram verificados quatro picos distintos de infeção por COVID-19. Analisar a pandemia no país implica comparar as situações anterior e posterior ao extremo de infeções, para averiguar as medidas tomadas e a sua eficácia.

Pico 1 - 20.11.2020

Apesar de ter dado ao povo português uma quadra

O primeiro pico de infeção por COVID-19 em

festiva mais normal mesmo num ano tão anormal,

Portugal teve o valor máximo de casos positivos a 20

teve severas consequências na taxa de infeção por

de novembro de 2020. A este ponto da pandemia era

COVID-19. Esta situação pode fazer-nos pensar

apenas obrigatório o uso de máscara em certos

sobre o que devemos valorizar: liberdades individuais

espaços, além de a maioria da população se deslocar

ou o melhor para a população.

como normal para o seu emprego. Este aumento

Após as celebrações, o número de infeções voltou a

deveu-se também ao início da testagem voluntária e

baixar, facto que se deve também ao retorno do

em postos de trabalho, processo que fez encontrar e

estado de emergência para o ano novo, trazendo

isolar casos assintomáticos , que anteriormente não

consigo restrições na circulação na via pública e entre

seriam reportados. A principal medida tomada nesta

concelhos.

altura foi a obrigatoriedade do trabalho remoto

Pico 3- 23.07.2021

quando possível, ato que ajudou a fazer descer a taxa de infeção.

pico de infeção por COVID-19 em Portugal. Este pico coincide com as férias de verão, nas quais as pessoas

Pico 2 - 18.01.2021 Foi após a época festiva que o número de casos diários de COVID-19 voltou a aumentar, tendo o registado no dia 18 de janeiro de 2021. Na génese deste foco estiveram as festas de família características da época, assim como, as grandes festividades realizadas aquando a passagem de ano. Apesar de o país se ter encontrado em estado de As

medidas

de

segurança

foram

implementadas de 9 a 23 de dezembro, deixando a véspera de Natal para que as famílias se pudessem juntar.

começaram a viajar e a relaxar as medidas de proteção. Este também é um período em que os jovens se juntam, criando focos de infeção muito facilmente. O início da vacinação deu-se também neste período de tempo, o que pode ter dado às pessoas uma sensação de segurança excessiva, levando a que participassem em atividades que as poriam em perigo de infeção. Este pico desceu naturalmente, notavelmente aquando do final das férias de verão das escolas.

PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 39

valor máximo do segundo pico de infeção sido

emergência.

A 23 de julho de 2021 deu-se o ponto máximo do 3º


Retorno à normalidade

Pico 4- 06.02.2022 No início de fevereiro de 2022, verificou-se um pico

Dia 22 de abril de 2022 foi a data em que o mandato

de

foi

de uso obrigatório de máscara foi levantado em

provavelmente resultado dos aglomerados aquando

Portugal, com possibilidade de alteração da mesma

das eleições que ocorreram a 30 de janeiro. Este

medida sazonalmente. A obrigatoriedade de uso de

último pico não foi, relativamente aos restantes picos,

máscara

muito acentuado, fenómeno que provavelmente se

caracterizados pela especial vulnerabilidade das

deve à elevada taxa de vacinação da população, assim

pessoas que os frequentam e (...) pela utilização

como às campanhas de uso de máscara nos locais de

intensiva

voto.

E/2022). Ou seja, o uso de máscara é, por agora,

infeções

e

mortes

em

Portugal.

Isto

mantém-se,

sem

no

entanto,

em

alternativa”(Decreto-Lei

“locais

n.º

30-

ainda obrigatório em transportes públicos e táxis,

Vacinação e mortes

hospitais, lares, e estabelecimentos semelhantes.

Em Portugal, a COVID-19 tem, à data deste artigo,

O decreto-lei declara também "a situação de alerta

uma taxa de letalidade (quociente entre número de

em todo o território nacional continental" até às

mortes e número de infetados) de cerca de 0.54%,

23:59 do dia 05 de maio de 2022, na sequência da

relativamente baixa quando comparando com o resto

situação epidemiológica da covid-19, assim como a

do mundo. É de relembrar que este valor é

desativação das áreas exclusivas a doentes covid-19

influenciado pelo elevado número de testes feitos à

nos hospitais e centros de saúde.

população, que apanham casos assintomáticos ou com sintomas leves, ambos com pouco risco de morte por COVID. Entre os fatores que influenciam esta

Estudos de caso

taxa encontram-se a pirâmide demográfica do país,

Uma boa forma de avaliar a pandemia de COVID-19

isto é, a distribuição de idades dos habitantes e a

globalmente é a análise das estratégias de diversos

acessibilidade dos cuidados médicos. Posto isto,

países, assim como os subsequentes resultados.

Portugal encontra-se atualmente numa situação favorável em relação à taxa de letalidade, dado que apesar da nossa pirâmide demográfica ser mais pesada nas idades mais avançadas, o nosso sistema

PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 40

público de saúde é relativamente adequado para a

Perú De acordo com o sítio na web worldometers.info, o Perú é o país onde a COVID-19 foi mais devastadora, com 5.948 mortes por milhão de habitantes. Apesar

população. No entanto, este sistema tem visto várias

de ter sido o país da América Latina a impor

falhas que caso não sejam investigadas podem

confinamentos mais cedo, em março de 2020, estes

resultar em consequências graves para a saúde da

só duraram até ao final de junho do mesmo ano.

população.

Mesmo

Apesar de ter sido única, a situação de rutura do

continuavam a aumentar, apesar de terem as

sistema de saúde a meio da pandemia foi o que levou

fronteiras fechadas.

ao início do processo de vacinação intensivo, devido à

Ainda assim, o principal problema neste país é a taxa

gravidade do contexto pandémico na altura, no final

de mortalidade da doença, valor que se deve

de janeiro de 2021. Confrontadas com um número

pincipalmente ao fraco sistema de saúde, que recebe

crescente de casos de COVID-19, as autoridades de

pouco investimento e, como tal, não tem a

saúde

quantidade

convidaram

o

Vice-Almirante

Henrique

Gouveia e Melo para coordenar o processo de vacinação.

durante

de

o

confinamento,

camas

de

as

cuidados

infeções

intensivos

necessárias ao tratamento da COVID-19 de todos os


infetados, cerca de 1,600 para um número crescente

Devido ao mais recente pico de infeção, o governo

de infetados de cerca de 4 mil por dia, entre a

neozelandês alterou a sua estratégia em relação a

população

medidas preventivas, passando de um plano focado

de

cerca

(countrymeters.info).

de

Verificou-se

33

milhões

também

uma

em manter o vírus fora do país para um baseado na

escassez de oxigénio nos hospitais, essencial para o

convivência com o vírus. Tem-se verificado um

tratamento da doença.

aumento de casos recentemente, no entanto a taxa

Outro fator que tem vindo a contribuir para o

de mortalidade continua baixa. Isto deve-se à eficácia

deterioramento da situação no Perú é a lentidão com

do sistema de saúde neozelandês, assim como a

que as vacinas estão a ser administradas, tendo

compreensão pela população.

apenas 4% da população sido vacinada ao início de

As medidas tomadas por Portugal no decorrer da

junho de 2021, enquanto os países vizinhos tinham já esse valor em 10% a 40%. Isto deve-se apenas à logística, dado que o país já adquiriu doses suficientes da vacina para inocular toda a população. No que toca à taxa de infeção da doença, o Perú está numa situação decadente, dado que funciona sobre uma economia de comércio e trabalho informal, levando a que muitos cidadãos tenham de escolher entre ir trabalhar, mesmo durante confinamento, ou não comer nessa semana. O governo peruano impôs algumas medidas para atenuar este impacte nos trabalhadores informais, no entanto poucos possuem conta bancária, cerca de 42%, levando estas medidas a ter baixa eficácia. Além do mais, os peruanos vivem comumente

em

habitações

sobrelotadas,

sem

capacidade de armazenamento de alimentos durante tempo suficiente para sobreviverem ao confinamento, levando a que não o possam respeitar, deslocando-se para os mercados de rua, pontos de infeção.

pandemia

foram

adequadas,

considerando

as

recomendações dos especialistas. Ainda assim, a situação da época festiva de 2020 deixou mais a desejar. Um ponto positivo, no entanto, foi o processo de vacinação liderado pelo Vice-Almirante Gouveia e Melo, pela sua eficiência e eficácia, fazendo diminuir a taxa de mortalidade do vírus em Portugal rapidamente. Comparado com o resto do mundo, Portugal está em média bem posicionado no que toca tanto à taxa total de casos por milhão de habitantes, como à taxa de mortalidade da doença, devido à relativa eficácia das medidas tomadas, apesar da inconsciência de parte da população. No que toca aos restantes países, o Perú é um exemplo de um sistema imperfeito e a Nova Zelândia um exemplo a seguir. Como não se sabe o que este vírus nos reserva para o futuro, deve manter-se a caução e avaliar o próximo passo quando a sua altura chegar.

Nova Zelândia Por outro lado, a Nova Zelândia é um exemplo a uma taxa de mortalidade de cerca de 2%. Durante a maioria da pandemia até agora, a Nova Zelândia tem conseguido manter o número de novos casos a um máximo de 14 casos por milhão de habitantes na maioria da pandemia. Este país sofreu 2 picos de infeção por COVID-19, um no início da pandemia e outro mais recentemente, devido ao desconfinamento durante o verão, época de festas, e à difusão da variante Delta do vírus.

PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 41

seguir, tendo tomado medidas que permitiram ter


Graficamente... Casos confirmados diários Verificou-se um crescimento mais íngreme aquando os picos de infeção mencionados no artigo, entre períodos de significativamente menos infeções. É de notar que o valor real de casos positivos poderá ser maior devido à margem de erro dos testes realizados.

Testes diários Como é de esperar, os períodos de maior testagem em Portugal correspondem aos momentos antes, durante e após os picos de infeção. Este facto pode dever-se à ansiedade naturalmente causada pela cobertura mediática da pandemia.

Percentagem de população vacinada Podemos identificar um crescimento gradual da percentagem de vacinados, resultante do processo faseado da toma da vacina. O mesmo se repete na 2ª fase de vacinação, em que a percentagem não vacinada acumula com a anterior, parecendo, então,

PANDEMIA DE COVID-19 | PÁGINA 42

maior.

Variação de visitantes Resultante das medidas de confinamento impostas, o número

de

visitantes

na

maioria

dos

estabelecimentos diminuiu após a maioria dos picos de infeção, facto que contribuiu para a resolução dos mesmos.


Teorias da Conspiração COVID-19 e as mirabolantes teorias da conspiração

Teorias da conspiração estão a infetar a '' Asinternet. O ódio tornou-se viral, estigmatizando pessoas e grupos. O mundo tem de se unir também contra esta doença", destacou António Guterres, secretário geral da ONU. Durante o confinamento geral, surgiram imensas dúvidas sobre a pandemia de COVID-19 por parte de toda a população. O que é e de onde veio este vírus? Como é que se propagou em tão grande escala e a um ritmo tão acelerado? Todas estas questões criaram solo fértil para teorias da conspiração, que se disseminaram por todo o globo, devido em grande parte ao poder das redes sociais e dos meios de comunicação. A maior consequência da propagação destas teorias é a promoção da desinformação. É inegável, a par da pandemia de COVID-19, enfrenta-se também uma pandemia de fake news e, infelizmente, nem todos têm a capacidade de filtrar a informação mais correta. Mas afinal, quais são as teorias mais apoiadas sobre este popular vírus e qual a sua origem?

a premissa de que forças poderosas e mal-intencionadas estão por detrás dos mesmos. São usualmente desenvolvidas pelos conspiradores a partir de suspeitas, com foco em quem beneficia do acontecimento ou da situação. É normal surgirem nas redes sociais, especialmente em tempos de crise e incerteza.

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 43

As teorias da conspiração são tentativas de explicar certos fenómenos ou acontecimentos, com


Segundo

a

Comissão

Europeia,

as

teorias

da

conspiração têm seis características em comum:

além disso, é crucial que se verifique a fiabilidade da fonte e se o conteúdo é equilibrado e razoável. Assim,

Um alegado plano secreto;

a Comissão Europeia fornece várias dicas, com o

Um grupo de conspiradores;

objetivo de auxiliar a população nesta demanda.

A designação de pessoas ou grupos como bodes

Normalmente, trata-se de uma teoria da conspiração

expiatórios;

quando:

A divisão do mundo entre "bons e maus";

O autor é um perito autoproclamado que não está

Elementos de prova que parecem confirmar a

ligado a nenhuma organização ou instituição

teoria da conspiração;

respeitável, afirmando ainda ter credenciais que

Falsas sugestões de que nada acontece por acaso

não serão válidas;

e que não há coincidências, de que nada é o que

A fonte de informação não é clara e é partilhada

parece e tudo está interligado.

apenas por peritos autoproclamados;

E qual é o modus operandi dos conspiradores?

O autor apresenta a sua informação como a única

Aproveitando-se descaradamente dos tempos de

verdade válida e fornece perguntas em vez de

medo e incerteza que a população mundial enfrenta,

respostas.

os conspiradores recorrem principalmente às redes

À medida que a crise da COVID-19 vai piorando, o

sociais para espalhar a sua teoria, que no fundo não

mundo

passa de pura desinformação. Para tal, recorrem a

desinformação. As teorias da conspiração atuam

falsos especialistas na área, de modo a passar uma

como um vírus, que se dissemina online à velocidade

imagem de validação científica da teoria. É recorrente

do SARS-CoV-2 offline. De seguida, apresentamos

serem publicados artigos isolados nas suas páginas ou

algumas destas estranhas e mirabolantes teorias. A

perfis que normalmente não têm qualquer tipo de

posição tomada é a nossa opinião, sustentada por

revisão por profissionais da área e que vão,

informação factual.

vai

experienciando

uma

pandemia

de

geralmente, contra o que é divulgado pelos meios de comunicação convencionais. Com a finalidade de facilitar a defesa contra quaisquer refutações, os conspiradores manipulam a realidade, referem a escassa informação válida sobre o assunto ou recorrem mesmo a variados ad hominem, incluindo na conspiração qualquer um que discorde das suas teses. TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 44

E qual a intenção que os conspiradores têm ao provocar todo este alarido? Alguns alegam que seja para terem mais adeptos na sua legião. No entanto, é provável que outros o façam com a pura intenção de manipular a verdade ou por razões políticas ou financeiras (ao atingir os países). Após a explicação, no tópico anterior, do modus operandi dos conspiradores, será decerto mais fácil detetar uma teoria da conspiração. Para tal, é fundamental que se questione sobre a autoria e as razões por detrás de um determinado artigo. Para

1ª Teoria: A COVID-19 foi criada num laboratório chinês Esta será talvez uma das teorias mais plausíveis, uma vez que o epicentro da pandemia teve lugar em território chinês, na província de Wuhan. Esta cidade curiosamente aloja um instituto de virologia, o Wuhan Institute of Virology. De facto, aqui têm tido lugar várias experiências com coronavírus de morcegos, com o objetivo de avaliar a possibilidade de emergência de uma pandemia, como a que se vive no momento. Shi Zhengli, uma das virologistas que trabalhava nesta pesquisa, admitiu ter verificado várias vezes se o processo decorria como planeado. No entanto, para tristeza de muitos conspiradores, o novo

SARS-CoV-2

não

revela

nenhuma

correspondência com nenhuma das amostras de vírus


estudadas no Wuhan Institute of Virology, após

Examiner, um jornal americano conservativo, publicou

terem sido realizadas sequenciações genéticas. Para

uma notícia em que afirmava que o Instituto de

além disso, nada muda o facto de o SARS-CoV-2 ser

Virologia de Wuhan estava associado ao programa de

um vírus zoonótico, isto é, com origem numa

armas biológicas de Beijing. Mais tarde, este jornal

população animal (neste caso, os morcegos) e que

terá adicionado ao artigo original que a informação

atingiu

provavelmente seria falsa. Esta é outra teoria que

a

população

humana

via

um

animal

intermediário.

pode ser facilmente refutada pelo facto de o novo

2ª teoria: O exército militar norteamericano importou o SARS-CoV-2 para a China

SARS-CoV-2 ser um vírus zoonótico, isto é, com origem numa população animal de morcegos.

chinês, como resposta às conspirações de que o país

Menção honrosa: COVID-19 não existe ou não é mais do que uma gripe

tem sido alvo. Via Twitter, Zhao Lijian, atual vice-

Alguns conspiradores aficionados acreditam que a

diretor

do

COVID-19, de facto, não existe. Este vírus será então

Ministério de Relações Externas da China, terá

um plano da elite com o objetivo de retirar a

afirmado que seria possível que o exército militar

liberdade à população global. No início da pandemia,

norte-americano tivesse importado o vírus para a

a maioria destes conspiradores acreditava que tudo

China. Estas afirmações seguiram sustentadas por

não passaria de "uma gripezinha", entre eles chefes

dois artigos da Global Research, um portal conhecido

de estado, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. O

pelas teorias da conspiração. Mas como é que isto se

problema ocorre quando esta crença levou à

processaria?

terá

organização de protestos anti-confinamento e anti-

ocorrido aquando da participação do exército norte-

máscaras por todo o mundo, que conduziram a focos

americano nos Jogos Militares Mundiais de 2019, que

de infeção, por meio desses ajuntamentos. Decerto

decorreram em Wuhan. No entanto, logo no início de

não é necessário justificar o porquê de esta teoria ser

2020, o chefe do Centro de Controlo e Prevenção de

falsa, pois supõe-se que qualquer pessoa, que não

Doenças Gao Fu designou um mercado de marisco

tenha estado confinada num bunker durante dois

situado nos subúrbios de Wuhan como o berço da

anos, terá tido atenção à realidade que se vive no

epidemia,

presente.

Esta teoria terá surgido por parte do próprio governo

do

Departamento

Supostamente,

apontando

que

de

a

o

Informação

importação

vírus

tinha

sido

transmitido inicialmente através de uma espécie animal.

Ao redor do globo são múltiplas as manifestações anti vacinação que se vêm acontecer contra as medidas de controlo da pandemia decretadas pelos governos.

De acordo com o Pew Research Center, cerca de 3 em

"Festival da Liberdade", onde se defendia que as

cada 10 americanos acredita que a COVID-19 foi

restrições comprometem os direitos humanos e

criada intencionalmente por cientistas chineses em

liberdades. Foi também nas ruas de Paris e em mais

laboratório, como uma arma de guerra biológica, por

de 200 cidades da França, que muitos milhares de

mais descabido que possa parecer. Esta conspiração

pessoas protestaram contra o comprovativo de

ganhou popularidade quando o Washington

vacinação, que permite o acesso a certos

Em Zagreb, capital croata, cerca de três mil pessoas participaram numa manifestação designada como

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 45

3ª teoria: A COVID-19 foi criada como uma arma biológica


estabelecimentos. Em Portugal, ocorreram alguns

perigosas e causam danos na sociedade, num grupo

movimentos pelas cidades, nomeadamente nas ruas

ou pessoa, para além do facto de passarem por fake

de Lisboa. O coordenador da task-force, vice-

news. Podem levar também à discriminação ou até

almirante Gouveia e Melo, que está na frente de

mesmo incitar crimes de ódio. Um dos maiores

coordenação da vacinação em Portugal, foi recebido

problemas causados é o facto de espalharem a

por insultos, aquando das visitas a centros de

desconfiança relativa às instituições públicas e à

vacinação. Em resposta aos jornalistas, Gouveia e

informação científica divulgada em meios confiáveis.

Melo lembrou que "Isto é uma democracia e as

Um dos resultados dessa desconfiança são as torres

pessoas têm direito a manifestar-se", reforçando a

5G que foram incendiadas em vários países e as

ideia de que não há necessidade de qualquer

denúncias

preocupação em relação a estas pessoas. Para além

de

técnicos

de

empresas

de

telecomunicações assediados durante o trabalho.

disso, frisou ainda que "O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos." Um dos principais alvos de teorias de conspiração terá sido o famoso co-fundadador da Microsoft, Bill Gates. Em entrevista à agência de notícias britânica Reuters, afirma ter sido surpreendido pela quantidade descomunal de teorias da conspiração sobre a COVID-19 associadas à sua pessoa. Outro alvo das conspirações

foi

o

Doutor

Anthony

Fauci,

imonulogista norte-americano e principal conselheiro epidemiologista da Casa Branca. E o que estes conspiradores tanto inventam sobre estas personalidades? Apontam que Fauci e Gates foram os criadores da pandemia, com o objetivo de tentar controlar as pessoas, através de microchips 5G inseridos nas vacinas, e lucrar com a propagação do

É

possível

assim

concluir

que

as

teorias

da

conspiração são um meio de partilha de falsa informação, que pode conduzir a ceticismo por parte da população relativamente à verdadeira informação. É certo que é complicado alterar esta tendência, devido à liberdade de expressão existente nas redes e meios sociais. Portanto, a maneira mais fácil de combater a desinformação passa em maior parte pelo destinatário, que deverá saber filtrar adequadamente a informação que recebe, não confiando à primeira vista na mesma, nem espalhando desapropriadamente estas teorias. No fundo, o essencial é tomar uma atitude crítica em relação ao conteúdo que se encontra online.

SARS-CoV-2. É óbvio que tal coisa não se verifica. Aliás, Bill Gates e a sua esposa já terão apoiado financeiramente a resposta global à pandemia através da fundação que partilham, a Fundação Bill & Melinda

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO | PÁGINA 46

Gates. Em entrevista, Fauci terá criticado fortemente os

conspiradores

que

espalham

este

tipo

de

alegações, afirmando que todas as teorias que surgiram acerca da sua pessoa são um ataque pessoal e à ciência. Defende ainda que refutar qualquer uma dessas alegações é incrivelmente fácil. Em Portugal, são registados milhares de artigos diários com notícias falsas sobre a Covid-19, essencialmente nas redes sociais. Ao serem fortemente disseminadas, as teorias da conspiração revelam-se por vezes

MADALENA MACHADO


Vacinas COVID-19 A11 de março de 2020, a Organização Mundial

de Saúde declarava o estado de pandemia da COVID-19, nome atribuído à doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. Os níveis de transmissão, contágio e mortalidade elevados preocupavam comunidade

governos, científica,

o

organizações que

e

rapidamente

impulsionou a corrida às vacinas. A vacinação contra a COVID-19 surgiu como resposta

protege e promove a saúde humana e animal. Na sequência dos seus pareceres positivos, a Comissão Europeia concedeu, até agora, cinco autorizações de introdução no mercado às vacinas desenvolvidas por: BioNTech-Pfizer, Moderna, AstraZeneca, Janssen Pharmaceutica NV e Novavax. Em Portugal, quatro destas estão a ser administradas.

Vacina Comirnaty Com autorização para utilização de emergência concedida a 31 de dezembro de 2020 pela OMS, a

central e de reforço às medidas preventivas

vacina

tomadas no escalar da situação, tendo como

desenvolvida

pela

objetivo prevenir o surgimento de doença grave

Pfizer,

parceria

e suas consequências, reduzindo, assim, a

biotecnologia alemão BioNTech. De acordo com os

pressão exercida sobre os sistemas de saúde dos países afetados.

Comirnaty, em

uma

vacina

farmacêutica com

o

de

mRNA,

foi

norte-americana laboratório

de

estudos publicados, tem uma eficácia de 95%, sendo recomendada a qualquer indivíduo com idade superior a 16 anos, incluindo mulheres grávidas ou

De todas as vacinas estudadas em laboratório e em

lactantes. É uma vacina segura para pessoas com

animais, apenas 7 em cada 100 são consideradas boas

patologias associadas a um maior risco de doença

o suficiente para serem sujeitas a testes clínicos em

grave, como hipertensão, diabetes, asma ou doença

humanos. Destas, só uma em cada cinco é bem-

hepática,

sucedida. Face a tais estatísticas, o elevado número

complementares sobre o seu impacte a longo prazo

de vacinas contra a COVID-19 em desenvolvimento

em pessoas imunocomprometidas. Indivíduos com

ou em ensaios clínicos, no início da pandemia, era

histórico de reações alérgicas graves a quaisquer

promissor. Segundo a Organização Mundial de Saúde

componentes da vacina não a devem tomar.

(OMS), em dezembro de 2020, mais de 200 vacinas

A vacina Comirnaty deve ser administrada no

candidatas

em

músculo do braço em duas doses, começando o efeito

desenvolvimento. Um mês depois, janeiro de 2021,

de proteção a desenvolver-se 12 dias após a toma da

pelo menos 52 encontravam-se já na fase de

primeira. O intervalo mínimo entre doses é de 19 dias,

testagem em humanos. À data deste artigo, no

porém a recomendação da OMS é de 21 a 28 dias.

mundo, mais de 10 estão autorizadas a ser

Após a administração da vacina é comum o

administradas com fins de vacinação em massa,

aparecimento de alguns efeitos secundários, mais ou

havendo um total de mais de 11 biliões de doses

menos prováveis, como dor, inchaço e vermelhidão

tomadas.

no local da injeção, dor de cabeça, dor muscular,

Na União Europeia, da qual Portugal faz parte, a

febre, sensação de mal estar, vómito ou até mesmo

entidade responsável pela avaliação clínica das

diarreia. O tratamento destes sintomas, que não

vacinas e medicamentos a ser utilizados é a Agência

devem ser motivo de grande alarme, deve estar de

Europeia de Medicamentos (EMA), agência que

acordo com o aconselhamento médico.

para

a

COVID-19

estavam

embora

sejam

necessários

estudos

VACINAS: COVID-19 | PÁGINA 47


Vacina Spikevax Anteriormente

designada

Vaccine

Os estudos que visam garantir a segurança da

Moderna, a vacina Spikevax é uma vacina baseada em

administração em indivíduos de idades inferiores

mRNA

norte-

ainda estão a ser desenvolvidos. Grávidas, lactantes

americana Moderna. A 30 de abril de 2021, recebeu a

ou pessoas que sofram de doenças como a obesidade,

validação de emergência da OMS, que após um

doenças cardiovasculares, doenças respiratórias ou a

acompanhamento médio de dois meses constatou

diabetes, podem igualmente tomar a VAXZEVRIA

uma eficácia de 94,1% contra o vírus. É recomendada

depois de obter o parecer do seu médico de família.

para pessoas com 6 ou mais anos, incluindo grávidas e

A dosagem recomendada para esta vacina é de duas

lactantes, não havendo, até à data, nenhuma

doses (0,5ml cada), ambas administradas por via

contraordenação específica para indivíduos com

intramuscular, com um intervalo de 8 a 12 semanas,

problemas de saúde. No caso particular das pessoas

mínimo de 21 dias. De notar que a intervalos mais

imunocomprometidas,

longos

desenvolvida

pela

apesar

COVID-19 farmacêutica

de

nenhum

teste

está

associada

uma

maior

eficácia

na

apontar para qualquer consequência direta da

promoção da imunidade. Após a vacinação é comum a

administração da Spikevax, prevê-se que a imunidade

manifestação de reações adversas que variam de

desencadeada não seja tão forte quanto o esperado

leves a moderadas, como febre, fatiga, dores de

numa pessoa saudável.

cabeça, calafrios e náuseas. O seu desaparecimento

A vacina Spikevax deve ser administrada em duas

ocorre em poucos dias.

VACINAS: COVID-19 | PÁGINA 48

doses, geralmente no músculo da parte superior do braço, com 28 dias de intervalo, mínimo de 25 dias.

Vacina JCOVDEN

As quantidades estão dependentes da faixa etária:

A

adultos e adolescentes a partir dos 12 anos recebem

adenoviral, antiga COVID-19 Vaccine Janssen, é

100 microgramas/dose; crianças entre os 6 e os 11

fabricada

anos recebem 50 microgramas/dose. Um dose

multinacional Johnson & Johnson. Com uma eficácia

adicional pode ser administrada a pessoas com um

comprovada de 67%, esta vacina é recomendada para

sistema imunológico gravemente enfraquecido, pelo

pessoas com idades superiores a 18 anos, não sendo

menos 28 dias após a toma da segunda dose. Regra

aconselhado o seu uso em crianças até que mais

geral, os efeitos colaterais decorrentes da vacinação

dados

são leves ou moderados e passam rapidamente.

conhecimentos sobre os efeitos da JCOVDEN em

Incluem vermelhidão, dor e inchaço no local da

grávidas, lactantes e pessoas imunocomprometidas

injeção, cansaço, calafrios, urticária, náuseas e

ainda são limitados pelo que a sua administração em

vómitos. Em casos mais graves, pode ocorrer

indivíduos nestas condições deve efetuar-se na

miocardite ou pericardite.

sequência de um parecer médico positivo por motivos

Vacina VAXZEVRIA

de precaução.

Antes designada COVID-19 Vaccine AstraZeneca, a

A vacina JCOVDEN é administrada numa só dose,

vacina VAXZEVRIA é fabricada pela biofarmacêutica

geralmente na parte superior do braço. Caso se

britânica

a

pretenda dar uma dose de reforço, esta deve ter lugar

Universidade de Oxford. Com uma eficácia de

pelo menos dois meses após a primeira. A vacinação

63,09% contra a infeção sintomática pelo SARS-CoV-

pode dar origem a alguns efeitos secundários, comuns

2, a vacina tem por base a técnica inovadora de

às restantes vacinas, entre eles: dores de cabeça,

vetores recombinantes, sendo recomendada para

febre, dores musculares e articulares, vermelhidão,

pessoas com mais de 18 anos.

náuseas e vómitos.

AstraZeneca,

em

colaboração

com

vacina

JCOVDEN, pela

nesse

de

farmacêutica

sentido

vetor

recombinante

Janssen,

estejam

ramo

disponíveis.

da

Os

DIANA QUITÉRIO


Mitos Vacinas Covid-19 E m tempos de incerteza, tudo parece de desconfiar. O problema surge quando uma certa

parte da população decide levar essa premissa demasiado a sério. A crise da COVID-19 certamente não ajudou e as mais macabras teorias da conspiração foram elaboradas, trazendo ainda mais desconfiança às novas vacinas desenvolvidas. Desmistificar estas teorias tornou-se essencial para que a informação científica correta prevaleça sobre a desinformação que circula.

A rapidez na criação das vacinas é

de desconfiar

Mas a vacina não é segura?

Algo que certamente explica a rapidez com que as

Em Plandemic (vídeos conspiracionistas, lançados em

vacinas foram produzidas é a quantia de dinheiro

2020, que promovem informações erradas sobre a

investida no seu desenvolvimento. Além disso,

pandemia do COVID-19), afirma-se falsamente que

a biotecnologia por detrás das vacinas da Pfizer e da

qualquer vacina COVID-19 "matará milhões", tal

Moderna já era trabalhada há anos: estas vacinas

como outras vacinas outrora fizeram. Outra teoria

induzem o sistema imunitário a fabricar defesas, sem

afirma que Bill Gates tem um plano secreto para usar

ser necessário inocular o vírus, nem as suas proteínas.

as vacinas para implantar microchips rastreáveis na

É apenas utilizado o código genético do novo vírus,

população. No início da pandemia, no clima de

que ficou disponível poucos dias após ter sido

incerteza inicial, as poucas vozes de oposição foram

identificado e isolado. A pandemia permitiu que

crescendo. Um estudo recente observou que, embora

os ensaios clínicos decorressem rapidamente, uma

os grupos de antivacinas no Facebook estejam em

vez que, com tantos infetados, não foi preciso esperar

menor número que os grupos pró-vacinação, há uma

muito

estavam,

maior interconexão com aglomerados de indecisos.

efetivamente, a ter um efeito protetor. “Mas esta

Existem boas razões para ser cauteloso sobre a

vacina altera o DNA”. As vacinas da Pfizer/BioNTech

segurança de qualquer nova vacina ou tratamento e

e da Moderna utilizam a biotecnologia do RNA

levantaram-se

mensageiro, que contém o esquema para a produção

qualquer aprovação de vacina será apressada. No

de antigénios, como já foi mencionado anteriormente.

entanto, é factual que as vacinas salvam milhões de

Este facto serviu de combustível para o mito de que

vidas todos os anos. Além disso, é crucial ter em

supostamente estas vacinas causariam alterações do

conta que antes de uma vacina ser aprovada, deve

ADN. Obviamente que esta afirmação não passa de

passar por uma série de testes clínicos para mostrar

um disparate. Já dizia o ex-diretor do Centro para

que é segura e eficaz num grande número de pessoas.

para

perceber

se

as

vacinas

vacina com RNAm é como um email enviado ao sistema imunitário que mostra como é o vírus e dá instruções para o matar e depois, como uma mensagem de Snapchat, desaparece.”

legítimas

de

que MITOS: VACINAS COVID-19 | PÁGINA 49

Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA: “uma

preocupações


A hidrocloroxina é um tratamento

As vacinas contêm 5G

A hidrocloroxina trata-se de um medicamento

Diversos vídeos e publicações surgiram nas redes

utilizado no tratamento da malária. Terá surgido como

sociais, que evidenciavam uma relação entre o 5G e

possível solução de combate à Covid-19 aquando de

as vacinas. Supostamente, estas estariam a ser

um estudo publicado na França, que apresentava

utilizadas para monitorizar a população com vista ao

resultados promissores em laboratório, por inibir o

roubo de informação. Ao contrário do que estas

SARS-COV-2 in vitro, parecendo ter uma atividade

publicações indicam, as vacinas contra a Covid-19

antiviral

espalhou-se

não transformam as pessoas imunizadas em antenas

rapidamente quando Donald Trump e Jair Bolsonaro

do sinal 5G. Nenhuma das fórmulas aprovadas pelas

vieram a público diversas vezes manifestar-se acerca

agências reguladoras contém substâncias capazes de

da sua eficácia. Então porque razão o tratamento com

emitir qualquer sinal eletromagnético ou frequência.

esta substância acabou por ser suspendido? Em

Algo desse género nem faria sentido, uma vez que

meados de 2020, o Infarmed decidiu recomendar a

uma antena se trata de um dispositivo complexo, que

suspensão do tratamento com hidroxicloroquina em

envolve vários elementos, enquanto que uma vacina é

doentes com Covid-19, a par da Organização Mundial

o produto de um conjunto de ingredientes orgânicos.

de Saúde, na sequência de um estudo publicado pela

São coisas distintas, portanto.

eficaz

potente.

Esta

informação

revista The Lancet, em maio de 2020. Este terá sido realizado com cerca de noventa mil doentes com Covid-19 e as conclusões obtidas pelos seus autores referem “não ter conseguido confirmar o benefício da hidroxicloroquina nestes doentes”, resultando num acréscimo dos efeitos secundários, incluindo “um

MITOS: VACINAS COVID-19 | PÁGINA 50

aumento da mortalidade”.

MADALENA MACHADO


DOENÇAS


Quando as nossas defesas atacam Doenças autoimunes O sistema imunitário, na sua função como defensor do organismo, tem como objetivo neutralizar

quaisquer agentes invasores, eliminando-os do nosso corpo. No entanto, o ser humano é imperfeito, levando por vezes este poder de ataque a virar-se contra o próprio organismo. Como combater o nosso próprio sistema de defesa? Como nos afetam estes distúrbios? Venha descobri-lo, com esta análise às doenças autoimunes.

O que caracteriza as doenças autoimunes? Psoríase, Doenças

autoimunes

são

caracterizadas

doença

de

pele

comum,

não

contagiosa, apesar dos populares rumores. O tipo

anomalias nas quais o sistema imunitário ataca as

mais comum surge em áreas de pele elevadas e

células do nosso corpo, em vez de atacar os agentes

avermelhadas cobertas de uma área esbranquiçada de

invasores. São comummente crónicas e afetam maioritariamente mulheres em idade reprodutiva. Existe a ideia de que este tipo de doença, particularmente as que se mostram na pele, é contagiosa. No entanto, sabe-se que são resultado apenas de distúrbios do sistema imunitário individual, não sendo assim transmíssivel por toque ou, por exemplo, por nadar na mesma piscina. Alguns dos exemplos mais comuns de doenças autoimunes são: Artrite reumatoide, doença inflamatória crónica, caracterizada pela inflamação das articulações e que DOENÇAS AUTOIMUNES| PÁGINA 52

uma

por

pode conduzir à destruição do tecido articular e

células de pele mortas. Afeta 1% a 3% da população portuguesa e localizando-se principalmente nos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, unhas e região lombar. Este tipo de doença tem um grupo de sintomas em comum, como fadiga, dores musculares, febre, edemas e dor articular, assim como inflamação localizada. Estas doenças podem ainda ter fases alternadas entre ativa e dormente, em que os sintomas

flutuam

e

podem

até

desaparecer

temporariamente.

periarticular (Sociedade Portuguesa de Reumatologia

Como combater doenças autoimunes?

- SPR);

Diagnóstico

Diabetes tipo 1, o tipo de diabetes mais raro, que

O primeiro passo para combater uma doença é

atinge maioritariamente crianças e jovens. Ocorre

diagnosticá-la o mais cedo possível. No caso das

quando as células beta do pâncreas deixam de

doenças autoimunes, este processo requere um

produzir insulina, resultado de uma destruição

número elevado de exames e consultas médicas para

massiva das mesmas por parte do sistema imunitário

identificar o tipo de distúrbio em causa, dado que os

(Associação protetora dos diabéticos portugueses -

sintomas destas doenças são comuns a muitas outras

APDP);


Fonte : https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/doencas-autoimunes-quando-o-inimigo-e-seu-proprio-organismo

É, portanto, importante visitar o médico de família

utilizadas fototerapia, laser e cremes hidratantes para

regularmente para manter os exames médicos de

doenças cutâneas como a psioríase, porém o mais

rotina em dia.

recomendado pelos médicos é um estilo de vida mais saudável.

Fatores de risco Outro modo de combater doenças autoimunes é ter

Considerando o estigma negativo comumente

em conta os fatores de risco, uma vez que as suas

associado às doenças autoimunes, é essencial

causas exatas ainda não foram identificadas. Estes fatores incluem obesidade, tabagismo e genética. Deve ter-se ainda em consideração que estas doenças podem aumentar o risco de doença cardíaca

informar o público sobre as mesmas, a fim de combater

a

desinformação

e

evitar

consequências relacionadas com a resultante

e, como tal, aconselha-se adotar hábitos como viver

discriminação. Para tal, a Immunitas contactou

ativamente, ter uma dieta saudável e equilibrada, e

algumas pessoas que vivem com estas doenças,

tomar atenção à pressão arterial.

com o objetivo de melhor compreender o seu ponto de vista sobre as mesmas.

Cura DOENÇAS AUTOIMUNES| PÁGINA 53

Doenças autoimunes não têm uma cura geral, já que a sua causa ainda é desconhecida. Tradicionalmente, são

tratados

os

sintomas

com

recurso

a

imunossupressores, como os corticóides. No entanto, o uso destas substâncias deixa o organismo com defesa fragilizada, ficando o doente mais suscetível a outros tipos de infeções e doenças, além de múltiplos outros efeitos secundários. Podem também ser

MARGARIDA SARDINHA


Síndrome Guillain-Barré Cerca

de 4 em cada 100 mil pessoas são

diagnosticadas anualmente com a síndrome de Guillan-Barré (SGB), uma doença inflamatória que afeta os nervos periféricos. Sem distinção no sexo, mais frequente em adultos, esta patologia

rara

apresenta

uma

taxa

de

recuperação elevada, apesar da inexistência de cura. Porém, cerca de 4% a 7% dos infetados

SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ| PÁGINA 54

acabam por falecer.

SGB é uma rara doença neurológica que conduz à

Dentro do espetro da doença existem ainda algumas

desmielinização e/ou degeneração axonal dos nervos

variantes, sendo a principal diferença a fisiopatologia.

periféricos, através de um mecanismo de mimetismo

Entre elas estão a neuropatia axonal motora aguda,

molecular. Isto significa que o sistema imunológico do

semelhante à AIDP, sem os sintomas sensoriais;

corpo ataca erroneamente parte do sistema nervoso

neuropatia axonal sensório-motor aguda, variante

periférico, rede de nervos localizados fora do cérebro

predominante na Ásia, América Central e América do

e da espinal medula. Todos os nervos que controlam

Sul; e a síndrome de Miller-Fisher (MFS), variante rara

os movimentos dos membros ou os músculos

dos nervos cranianos, caracterizada pela visão dupla e

respiratórios podem, portanto, ser afetados. Estes

perda de equilíbrio.

nervos são constituídos por fibras revestidas por uma

Atualmente,

bainha isolante, denominada mielina, que garante o

desconhecida.

seu bom funcionamento e promove a transmissão das

desmielinização tenha origem autoimune, isto é, as

mensagens nervosas. Quando o sistema nervoso é

defesas do organismo, em vez de atacarem os corpos

afetado por esta doença, a mielina é alterada ou até

estranhos (vírus, bactérias, etc.), atacam o próprio

mesmo destruída.

corpo, ao criarem anticorpos nocivos, designados

A síndrome é caracterizada pela fraqueza progressiva,

autoanticorpos, que danificam a mielina e, por

podendo resultar em paralisia. Na maioria das vezes,

consequente,

começa ao nível das pernas, podendo subir até atingir

dolorosas. Usualmente, quem sofre da síndrome

os músculos da respiração, afetando em seguida os

sofreu de uma infeção viral ou bacteriana nos dias ou

nervos da cabeça e do pescoço. É também designada

semanas que precederam os sintomas. Sabe-se que a

por polirradiculoneuropatia aguda desmielinizante

síndrome é comummente provocada por bactérias e

inflamatória (AIDP), ou por polirradiculoneuropatia

virús,

aguda

responsável

desmielinizante

pós-infeciosa,

frequentemente ocorre após uma infeção.

pois

como

a

causa No

exata

entanto,

causam

a por

da

acredita-se

reações

Campylobacter certas

síndrome que

é a

inflamatórias

pillori

(bactéria

gastroenterites),

citomegalovírus, o vírus Epstein Bar e o vírus Zika.

os


A

ingestão

de

estreptoquinase

certos e

medicamentos

danazol,

bem

como

como

a

atingida, a paralisia pode evoluir e culminar em consequências

mais

graves

paciente:

batimento

cardíaco);

taquicardia

responsáveis pelo desenvolvimento da SGB. As

bradicardia (abrandamento do batimento cardíaco);

últimas vacinas desenvolvidas para erradicar o vírus

hipotensão (quedas súbitas da pressão arterial);

SARS-CoV-2

potenciais

hipertensão (aumento da pressão arterial); e, por

causas, em particular a vacina da farmacêutica

vezes, obstipação intestinal. Nesta fase, podem

Janssen. Apesar dos seus benefícios, no verão de

ocorrer complicações com os pacientes internados

2021 foi confirmada pelo Infarmed e pela EMA

por um longo período de tempo, como o risco de

(Agência Europeia de Medicamentos) a possibilidade

formação de coágulos sanguíneos. Por último, a

desta vacina provocar a síndrome de Guillan-Barré.

terceira fase é a de recuperação, onde os sintomas

Além da vacina da Janssen, também a vacina

regridem,

Vaxzevria

recuperação

admitidas

(anteriormente

como

COVID-19

Vaccine

com

do

o

administração de vacinas, podem também ser fatores

foram

(aceleração

para

duração

pode

ser

de

vários

completa,

meses.

mas

A

algumas

sequelas podem persistir, dependendo da gravidade

doença neurológica.

da síndrome.

A síndrome Guillan-Barré é acompanhada de alguns

O diagnóstico da SGB é iniciado assim que o médico,

sintomas mais ou menos graves que podem trazer

com base nos sintomas do paciente, suspeita da

transtornos à vida do portador. A doença desenvolve-

doença. De modo a confirmar a diagnose, existem

se em três fases: na primeira fase, é comum o doente

dois exames: a punção lombar e o eletromiograma. O

sentir dormência, formigueiro, sensações de choque

primeiro é um procedimento médico no qual é

elétrico e vibrações, especialmente nas mãos e nos

inserida uma agulha entre duas vértebras lombares

pés. A fraqueza muscular é de intensidade variável,

até que seja atingido o espaço onde se encontra o

podendo até chegar à paralisia de um membro.

líquido cefalorraquidiano, que rodeia o cérebro e a

Normalmente, o dano é simétrico, afetando os dois

medula espinhal. São depois realizadas análises à

lados do corpo ao mesmo tempo. Dor intensa, cãibras

pequena porção de líquido extraída para procurar

nas costas, nádegas e coxas, nervos afetados na

uma elevação anormal de proteínas evocativas da

cabeça e no diafragma, que podem conduzir a

síndrome de Guillain-Barré. Por sua vez, no segundo,

paralisia do movimento dos olhos ou dos músculos

é realizado um registo da atividade elétrica dos

faciais, desconforto ou dificuldade para engolir e

nervos periféricos e músculos e da transmissão

ainda falta de ar, são outros sintomas que podem

elétrica entre ambos. Caso o eletromiograma revele o

surgir nesta fase. Dura geralmente entre uma a três

bom

semanas, e pode ser necessário o internamento do

deterioração dos nervos que lhes dão ordens, o

paciente. A segunda fase tem uma duração variável,

paciente é diagnosticado com SGB.

desde alguns dias a algumas semanas, trazendo a

Habitualmente,

estabilização dos sintomas. Porém, até que esta seja

imediatamente após o diagnóstico, de modo a

funcionamento

o

dos

doente

músculos,

é

mas

a

hospitalizado

prevenir dano mais severos nos nervos. Existem dois tratamentos preferenciais entre os profissionais de

SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ| PÁGINA 55

AstraZeneca) inclui uma advertência sobre esta


saúde, ambos eficazes e com a finalidade de limitar a

Só após esta neutralização é que os outros sintomas

gravidade da síndrome. O primeiro dos dois, a

relacionados com a SGB são tratados. Além dos

plasmaferese terapêutica, é um procedimento em que

sintomas dolorosos e temporários consequentes da

o sangue passa por um circuito extracorpóreo que

síndrome Guillain-Barré, esta doença neurológica

separa o plasma dos outros componentes do sangue.

afeta a vida do paciente por muito tempo. Quer numa

O plasma removido é substituído por soluções de

criança ou num adulto, a doença tem um impacte

reposicão, por exemplo por uma solução colóide

emocional, social e financeiro na vida do paciente e

(plasma)

dos entes queridos. A cessação da atividade

ou

uma

cristalóide/colóide.

combinação Esta

técnica

de

solução

remove

os

profissional por vários meses pode até ser necessária

autoanticorpos do sangue do paciente que destroem

nas formas mais graves da síndrome de Guillain-

a mielina. O outro tratamento é a injeção de

Barré.

imunoglobulinas intravenosas (IVIg), consistindo na

dependendo de sua gravidade, pode considerar-se a

injeção no paciente de anticorpos de sangues de

reorientação profissional ou a reorganização do

vários dadores. Estas imunoglobulinas neutralizam os

tempo de trabalho. O testemunho que se segue é um

anticorpos nocivos, que provavelmente estão na

bom exemplo de como a SGB altera a vida do seu

origem da síndrome.

portador.

Posteriormente,

se

houver

sequelas,

e

Testemunho José Luis Morais, 55 anos, foi diagnosticado

pela frente, alimentado pela motivação de

com síndrome de Guillan-Barré após ir ao

reconquistar o que a doença lhe roubou. Já

hospital por estar a sentir-se mal. No dia

mais estável, iniciou a sua recuperação e hoje

seguinte, deixou de andar, de falar e até de

em dia, com a ajuda da fisioterapia e da

respirar de forma autónoma, ficando assim

terapia

tetraplégico. Esteve internado, durante 160

caminhar, comer e respirar sozinho. José é um

dias, no Hopital Lusíadas Lisboa, local onde foi

exemplo de força que não desistiu perante a

reanimado cinco vezes. Felizmente, José

adversidade.

da

fala,

consegue

sentar-se,

SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ| PÁGINA 56

sobreviveu, mas tem agora um longo caminho

Fonte : https://www.lusiadas.pt/blog/doencas/sintomas-tratamentos/sindrome-guillain-barre-um-caso-fora-comum

CATARINA FIALHO


Lúpus Lúpus,

derivado

nome masculino de dois números, do

latim

do

étimo

lupus,

cujo

significado é lobo. Este nome designa uma doença autoimune cuja maior taxa de incidência é no sexo feminino, entre os 18 e os 55 anos. Atualmente, em Portugal, estima-se a existência de quatro mil casos, sendo 80% diagnosticados em mulheres.

A primeira vez que esta patologia foi detetada foi no

complemento

século XIII, quando o médico Rogerius descreveu as

membrana plasmática que auxilia no combate à

lesões faciais como uma mordida de um lobo.

infeção), o que conduz a inflamações na pele, nas

Durante a Idade Média e até meados do século XIX,

articulações, nos pulmões, nos rins, no sangue e no

lúpus era descrito apenas como algo dermatológico,

coração. No segundo, as únicas manifestações da

sendo somente em 1872 que o dermatologista Kaposi

doença são na pele, apresentando as lesões cutâneas

descreveu pela primeira vez muitas das manifestações

formas de disco, dando assim o nome a este tipo. A

sistemáticas

terceira

do

lúpus.

Estas

incluíam

nódulos

(sistema

condição

é

composto

causada

proteínas

por

da

certos

subcutâneos, artrite com hipertrofia sinovial nas

medicamentos, sendo os sintomas similares com os

pequenas e grandes articulações, linfadenopatia,

sintomas do lúpus sistémico, ainda que menos

febre, perda de peso, anemia e ainda envolvimento do

severos.

sistema nervoso central. Foram, no entanto, apenas

comummente associados são a hidralazina, medicação

no século XX alcançados notáveis avanços científicos,

para a hipertensão; a procainamida, tratamento da

devido à descoberta da célula de lúpus eritematoso

arritmia cardíaca; e ainda a isoniazida, usada para

na medula óssea dos pacientes. Apesar destas

tratar a tuberculose. Este tipo de lúpus deixa,

descobertas, lúpus é, mesmo hoje em dia, um enigma

usualmente, de apresentar sintomas seis meses após

clínico.

a paragem da medicação. Finalmente, o último ocorre

Apresenta-se como doença autoimune crónica, na

quando a mãe do bebé passa ao mesmo, através da

qual o sistema imunitário em vez de proteger o corpo

placenta, certos anticorpos provocadores da doença.

ataca os tecidos podendo causar inflamação e dor em

Os sintomas de lúpus variam de acordo com a fase

qualquer parte do corpo. Existem 4 tipos de lúpus:

em que a doença se encontra e quais os órgãos,

lúpus sistémico, lúpus discóide, lúpus induzido por

tecidos e/ou articulações que são afetados. Existe,

fármacos e ainda lúpus neonatal. O primeiro, mais

portanto, uma grande variedade de manifestações,

comum, consiste na produção e eliminação defeituosa

consoante a parte do organismo que afetam. Entre

de anticorpos, na circulação e deposição tecidual de

elas destacam-se: manifestações articulares, cujos

imunocomplexos e ainda na ativação do sistema do

sintomas variam desde artralgias intermitententes a

Alguns

dos

fármacos

que

lhe

estão

LÚPUS| PÁGINA 57


poliartralguas agudas; manifestações cutâneas, cujas

de lúpus, sendo, no entanto, necessário realizar mais

lesões da pele incluem eritema malar em asa de

testes para confirmar o diagnóstico.

borboleta, ausência de pápulas e de pústulas e

Examinar as análises laboratoriais, bem como ter em

fotossensibilidade; manifestações cardiopulmonares,

conta o histórico familiar, são fatores importantes para

com sintomas como pleurisia recidivante, com ou sem

garantir um diagnóstico correto. Usualmente, são

derrame

neurológicas,

realizados exames ao sangue, à urina, e ainda um

caracterizadas por dificuldade de concentração e

exame designado anticorpo antinuclear (ANA) que

transtorno de personalidade; manifestações renais,

testa a presença de autoanticorpos e que se for

com a proteinúria como sintoma mais comum; e

positivo é sinal que sofre de uma doença autoimune.

manifestações

Por vezes, quando em dúvida, o médico pode recorrer

pleural;

manifestações

hematológicas,

incluindo

anemia,

leucopenia e trombocitopenia.

à realização de biópsias tanto da pele como dos rins.

Apesar de ainda não ser conhecida uma causa exata

O tratamento do lúpus deve ser orientado pelo

do lúpus, acredita-se que existe uma série de fatores

reumatologista de acordo com o tipo da doença,

que,

sintomas

quando

combinados,

resultam

no

apresentados

e

frequência

com

que

desenvolvimento desta doença. Três dos principais

acontecem. Apesar de não existir um tratamento que

fatores são, como em muitas doenças, as hormonas, a

cure o lúpus, o médico pode indicar o uso de alguns

genética e o ambiente. O primeiro não está ainda

medicamentos que ajudam a aliviar os sintomas

comprovado que realmente cause esta patologia,

durante os períodos de crise, entre os quais: anti-

verificando-se, contudo, que com o aumento do

inflamatórios, coritcoides e imunossupressores. É

estrogénio existe um aumento dos sintomas de lúpus.

ainda recomendada a prática de exercício físico

Ao longo dos últimos anos, investigadores da John

regular, o uso de protetor solar e alimentação

Curtin School of Medical Research, parte da

saudável. Existem outros tratamentos que podem ser

Universidade Nacional da Austrália identificaram mais

complementares

de 50 genes associados ao lúpus, no entanto, estes

vitaminas e suplementos, acunpuntura e terapia

não são condição suficiente para causar a doença.

mente-corpo, não existindo, porém, qualquer prova de

Grupos

que estes sejam eficazes no tratamento de lúpus.

étnicos

como

Africanos,

Asiáticos

e

ao

do

médico,

por

exemplo:

Hispânicos possuem um maior risco de desenvolver

Para complementar o artigo, segue-se uma entrevista

lúpus, talvez devido aos genes que têm em comum.

realizada com Sofia Ribeiro, diagnosticada com lúpus.

Se já existir histórico de doenças autoimunes na família, a probabilidade de contrair lúpus é maior. Por último, um agente ambiental, como um vírus ou um químico, pode representar um motivo para provocar a doença. Ainda não se sabe ao certo se a doença se

LÚPUS| PÁGINA 58

deve à existência de um agente em específico, mas luz ultravioleta, infeções, exposição a pó de sílica em ambientes industriais e agrícolas, exaustão, stress, cirurgia, ou até mesmo gravidez são alguns dos fatores mais comumente identificados. Após a análise dos sintomas, o médico pode suspeitar da existência

CATARINA FIALHO


Entrevista

Falámos com Sofia Silva Ribeiro, diagnosticada com lúpus há mais de 11 anos. Sofia acredita que “é possível viver com qualidade a partir do conhecimento, aceitação e responsabilização pela nossa doença.”

É psicóloga, aluna de Doutoramento em Psicologia da saúde no ISCTE, com um projeto que “pretende desenvolver uma intervenção digital para promover a qualidade de vida de mulheres com lúpus.” O seu trabalho está disponível na sua página de Instagram, @psicologasofiasilvaribeiro.

Immunitas: Como soube que algo estava errado?

S: Descobri que tinha lúpus quando fui a uma

Sofia Ribeiro: Foi em 2010, quando comecei a sentir

consulta de reumatologia, num reumatologista já com

os primeiros sintomas e basicamente eu acordava de

muita muitos anos de experiência. Primeiro ele deu-

manhã com dores articulares e rigidez que não me

me três possíveis diagnósticos: artrite reumatoide,

permitiam, por exemplo, atar os atacadores das

doença de Behçet ou lúpus. Foi quando fiz alguns

sapatilhas ou apertar o botão das calças, precisava de

exames que ele acabou por me diagnosticar Lúpus.

ajuda para me vestir de manhã. Na primeira aula da

Assim contando parece que foi simples, mas até

manhã não conseguia tirar apontamentos, porque não

chegar aqui demorou bastantes meses, não sei se

conseguia pegar na caneta, além de me sentir

chegou até a um ano, e passei por vários médicos

bastante cansada e muitas vezes ter febre ao início da

como disse na pergunta anterior. Acabou por ser um

manhã. Então quando estes sintomas surgiram eu

processo longo e bastante doloroso, porque antes de

senti que alguma coisa não estava bem e que não era

descobrir

suposto eles existirem, mesmo estando sobre algum

medicados

stress, como implica o primeiro ano da universidade, e

continuavam e simplesmente não sabia o que é que

foi aí que decidi procurar ajuda médica. Comecei por

tinha.

um

fisiatra

por

ter

dor

articular

diagnóstico, devidamente

não e

por

conseguimos isso

as

ser

dores

e

suspeitaram de várias coisas, mas depois do fisiatra

I: Como é que a sua vida mudou desde o seu

fui a muitos outros médicos tentar descobrir o que é

diagnóstico?

que eu tinha. . I: Como e quando descobriu que tem lúpus?

ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 59

procurar

o


S: Na verdade tendo em conta o que eu partilhei

preocupação de como é que podemos estar amanhã.

antes, o facto de ter o diagnóstico em si até ajudou a

Mas os desafios da vida com uma doença crónica

melhorar a minha qualidade vida porque finalmente

depende muito da doença e das limitações que ela

aquilo que eu tinha, tinha um nome e os médicos

traz à própria pessoa. No meu caso felizmente as

conheciam e sabiam como tratar. Comecei a

limitações são muito poucas e por isso, para mim o

medicação e comecei a sentir-me bastante melhor

grande desafio foi aceitar a doença. Eu demorei sete

logo após as primeiras tomas, porque os sintomas

anos a conseguir falar sobre o lúpus, conseguir

começaram a ficar controlados ou seja no fundo a

partilhar que tinha e adaptar a minha vida ao

primeira mudança, a primeira sensação foi de alívio.

diagnóstico. Depois os desafios prendem-se com o

Senti que mudou para melhor porque finalmente

próprio dia-a-dia com aquilo que são os sintomas e a

consegui tratar aquilo que eu sentia. Claro que se eu

forma como eles acabam por influenciar as decisões

comparar com os anos sem sintomas a mudança foi

que nós tomamos, e as decisões que nós tomamos na

muito grande, porque eu tinha sintomas que afetam

nossa vida influenciam os nossos sintomas.

as atividades no dia-a-dia, como o cansaço, as dores,

Outro desafio que eu considero que existe é o

as dores de cabeça que também tinha bastantes, tudo

cansaço dos sintomas em si, ou seja, quando nós

isso para quem está a iniciar a universidade é bastante

passamos vários dias com dor ou com fadiga, muitas

desafiante. No fundo acaba por ser uma grande

vezes acumulamos um cansaço que há dias em que

mudança, e há uma grande adaptação necessária,

nós voltamos, não diria voltar a não aceitar, mas

porque com 18 anos passei a viver com dor e cansaço

voltamos a sentir alguma revolta com o diagnóstico, e

praticamente

tomava

a ter pensamentos mais de adaptativas como:

medicação e acho que esse foi o maior desafio. Foi

“Porque é que isto me está acontecer?”, “Estou farta

aceitar que apesar da minha idade havia muitas coisas

de estar cansada todos os dias” ou “Quando é que eu

que eu antes fazia que deixei de conseguir fazer. Hoje

tenho um dia sem dores?”, e esse desafio de voltar a

vejo que a minha vida se adaptou totalmente ao meu

aceitar, e de voltar a retomar o nosso equilíbrio, a

diagnóstico e ele tornou-se até o meu propósito e é

nossa vida também é grande e é continuo tendo em

por causa do lúpus que eu trabalho todos os dias.

conta que é uma doença crónica.

diários

mesmo

quando

ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 60

Claro que se eu pudesse escolher não tinha lúpus, mas tendo eu penso que a minha vida acabou por se

I: Partilhe alguns mitos com que já se deparou sobre

adaptar e eu hoje sou considero que sou muito mais

o lúpus.

do que o meu diagnóstico e consigo felizmente ter

S: Acho que o principal mito é que não é possível

uma vida muito confortável, feliz e com qualidade.

viver com qualidade com lúpus. Ainda existem alguns artigos na internet que ditam uma esperança média

I: Quais são os maiores desafios de viver com uma

de vida para as pessoas com lúpus e que estão

doença crónica?

baseados em estudos muito muito antigos, que hoje

S: Eu acho que o primeiro grande desafio de viver

em dia felizmente já não se aplicam. E por isso penso

com uma doença crónica é aceitar que vamos ter essa

que este é o mito que é mais importante

doença para a vida toda, que não existe uma cura e

desmistificar, para que quem recebe este diagnóstico

que provavelmente teremos a vida toda a

não pense que a sua vida acabou, ou que tem poucos


anos de vida, ou que não é possível viver bem com o

I: Viver com lúpus afetou a sua carreira? Se sim,

diagnóstico. Porque é possível vivermos bem e com

como?

qualidade e ter uma vida dita “normal” mesmo com o

S: No fundo acredito que afetou mas no sentido

lúpus. Existem outros mitos associados à doença,

positivo, porque basicamente definiu aquilo que eu

como as mulheres que têm lúpus não podem

faço hoje, se eu faço o que faço é porque tenho

engravidar que também é um mito, ou que é uma

lúpus, e portanto o lúpus afetou a minha carreira mas

doença contagiosa, esse infelizmente é muito grave

num sentido positivo, porque me ajudou a perceber

porque pode ter muitas consequências sociais, mas eu

como é que eu, enquanto psicóloga, posso ajudar

acho que já se está a dissipar, acho que a maior parte

outras pessoas com lúpus, ou até com outras doenças

das pessoas já não acreditam nele. Por outro lado,

crónicas. Em termos negativos felizmente não, não

também podemos considerar mitos o facto das

sinto que tenha afetado a minha carreira.

pessoas não acreditarem no impacto que as emoções têm na doença, porque têm bastante impacto, e daí a

I: De que forma a convivência com esta doença a

psicologia ter muito a dizer também no lúpus. Depois

afetou a nível psicológico?

também não acreditarem que o nosso estilo de vida,

S: Eu acredito que no início do meu diagnóstico pode

como a alimentação e atividade física, têm impacto na

ter afetado por me ter feito sentir emoções mais

doença. E penso que estes serão assim os mitos que

negativas, como raiva ou tristeza por ter o

mais me chamam à atenção e que eu própria acreditei

diagnóstico, e isso fez-me ter comportamentos em

em alguns deles quando tive o diagnóstico.

que eu escondia o diagnóstico e não consegui adaptar o meu dia-a-dia, a minha vida ao lúpus. E isso

I: Que conselhos daria a outros com a mesma doença?

também afetou a minha qualidade de vida, porque

S: Acho que o principal conselho que eu daria às

fazia com que eu não tivesse comportamentos

pessoas que tem lúpus é para tentarem conhecer a

adaptativos e que me ajudassem a viver com mais

doença através de fontes fidedignas de informação,

qualidade. Hoje em dia, acredito que em termos

para se rodearem de exemplos de superação e de

psicológicos

pessoas que as possam ajudar, que tenham vivido os

diagnóstico e vivo bem com ele. Claro que, como

mesmos desafios, e que tenham também exemplos de

todas as pessoas com ou sem lúpus, tenho dias piores

esperança para dar. Depois que tentem trabalhar no

e dias melhores, e tenho dias em que tenho algumas

controlo da doença, em conhecer o seu Lúpus, porque

emoções negativas ainda associadas ao lúpus, mas

existe um lúpus para cada pessoa, e que tentem

esses dias já não são representativos. O próprio lúpus

conhecê-lo para conseguir controlá-lo da melhor

pode causar sintomas de foro psicológico ou

forma e sentirem-se mais eficazes a fazê-lo. E para

psiquiátrico como as alterações de humor, algumas

juntar ao conhecer e controlar o lúpus, diria que é

perdas de memória e perdas de concentração e claro

essencial trabalhar na aceitação do lúpus. Por isso, eu

que quando os meus sintomas são mais ativos, eu

diria que o principal conselho resumidamente é:

também

conheçam e aceitem o lúpus, aprendam a viver com

felizmente são raros e não afetam a normalidade da

ele e a controlá-lo e que não deixem que seja ele a

minha vida.

tenho

muito

alguns

confortável

desses

com

sintomas,

o

mas

ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 61

controlar a vossa vida.

estou


I: O que a levou a criar a sua página de Instagram?

No fundo tento levar uma vida saudável dentro

S: Decidi criar a minha página do Instagram porque ao

daquilo que é possível, tomando sempre muita

longo

é

consciência do meu corpo, escutando sempre que os

desenvolver uma intervenção para ajudar mulheres

sintomas estão a reaparecer para atuar sobre eles.

com Lúpus a viverem mais adaptadas ao seu

Mas neste momento, felizmente, não estou a fazer

diagnóstico,

qualquer tipo de tratamento farmacológico.

do

doutoramento,

e

este

o

meu

processo

objetivo

tem

muitas

aprendizagens, teóricas e práticas, da vida com lúpus que eu acredito que pode ajudar muitas outras pessoas com lúpus. Além disso, eu estou a fazer o meu doutoramento com uma bolsa de doutoramento, e isso significa que existe um investimento da sociedade no meu projeto, e, portanto, também me faz sentido retribuir à comunidade. Muitas vezes na academia aquilo que nós produzimos são artigos científicos em inglês e teses de doutoramento que, infelizmente, não são acessíveis ao público em geral, e portanto com a minha página pretendo dar à comunidade acesso direto e fácil numa linguagem acessível, àquilo que é o que eu vou aprendendo ao longo

do

meu

acrescentando

um

doutoramento, pouco

da

mas

também

minha

própria

experiência enquanto pessoa com lúpus. I: Realiza algum tratamento? Se sim, qual? S: Felizmente, neste momento, não necessito de realizar nenhum tratamento farmacológico, porque tenho o lúpus bastante controlado. A única opção neste

momento

seria

tomar

medicação

por

ENTREVISTA - LÚPUS| PÁGINA 62

prevenção, para o caso de surgir algum sintoma no futuro e eu optei por não o fazer com o conhecimento da minha médica. Aquilo que eu tenho é muito cuidado, ou o cuidado possível em relação à alimentação,

pratico

exercício

físico

com

acompanhamento profissional, e tento reduzir o stress.

I: Obrigada pela sua colaboração!


Diabetes C om

uma taxa de incidência a crescer

anualmente, diabetes mellitus, é uma doença metabólica crónica que provoca uma elevação permanente da glicemia. Hoje em dia, estima-se que no mundo existam cerca de 400 milhões de pessoas com diabetes, sendo que, em Portugal, 13% da população adulta portuguesa sofre desta patologia.

Um

dos

principais

nutrientes,

necessário

Esta, se não controlada, pode provocar complicações

indispensável para o crescimento, desenvolvimento e

fetais e no parto, sendo que o bebé estará também

manutenção das funções vitais dos seres humanos, é

mais propenso a desenvolver diabetes tipo 2.

a glicose. Este monossacarídeo é utilizado como fonte

Apesar de existir uma diferenciação no tipo de

de energia pelas células. Uma vez presente na

diabetes, os sintomas da diabetes tipo 1 são similares

corrente sanguínea, o pâncreas liberta insulina, uma

aos da tipo 2. Estes são provocados pela quantidade

hormona que promove a entrada da glicose nas

de glicose existente no sangue, isto é, estão

células. Quando os níveis de produção de insulina são

associados ao aumento do seu nível, hiperglicemia, ou

diminutos, as células começam a apresentar um

à sua diminuição, hipoglicemia. Quando um diabético

défice de glicose, o que causa um aumento na taxa de

apresenta uma elevada quantidade de açúcar no seu

açúcar no sangue. Com o tempo, este açúcar pode ser

sangue, superior a 140 mg/dL (hiperglicemia), pode

o motor de vários problemas de saúde.

ter visão turva, boca seca e sede, transpiração

Existem três tipos de diabetes, sendo o mais comum a

excessiva, cansaço, enjoos, e, em casos mais graves,

diabetes tipo 2, que corresponde a aproximadamente

pode entrar em coma. Se, pelo contrário, os níveis de

90% dos casos. Esta patologia é frequentemente

sacarídeos no sangue forem inferiores a 70mg/dL

diagnosticada em adultos, cujo organismo, embora

(hipoglicemia), o doente pode sentir-se fraco, com

produza insulina, torna-se resistente à mesma,

tonturas, tremores, visão turva, ansiedade e dores de

diminuindo, assim, a sua eficácia. O segundo tipo mais

cabeça. Tal como na hiperglicemia, em casos

comum é o tipo 1, no qual o pâncreas deixa de

extremos, pode igualmente ficar em coma.

produzir insulina. Geralmente, este desenvolve-se em

A diabetes é desenvolvida devido à redução da

crianças e adolescentes, podendo, contudo, aparecer

produção de insulina, ou até mesmo, à não produção

em adultos ou até mesmo em idosos. Por sua vez, o

desta

terceiro tipo corre na sequência de uma gravidez. Um

aumentam a probabilidade de gerar esta doença,

novo ambiente hormonal, associado a um excesso de

entre eles, estão: a hipertensão arterial; a obesidade;

peso, sedentarismo e alimentação pouco equilibrada,

a privação de sono; o sedentarismo; e o tabagismo. O

pode provocar a chamada diabetes gestacional.

histórico familiar, bem como doenças do pâncreas ou

hormona.

Existem

alguns

fatores

doenças endócrinas, são também fatores de risco.

que

DIABETES| PÁGINA 63

e


Para garantir um diagnóstico correto, o médico não pode basear-se apenas nos sintomas do doente, sendo também necessário realizar alguns exames. O exame mais simples consiste na análise do valor da glicemia em jejum: se for verificada a presença de dois valores de glicemia em jejum superiores a 126 mg/dL, é diagnosticado diabetes; se o valor for inferior a 126 mg/dL, mas igual ou superior a 100 mg/dL, o diagnóstico é de pré-diabetes. O teste que apresenta mais exatidão no diagnóstico é a prova de tolerância à glicose oral, no qual é ingerido uma bebida com 75 gramas de glicose: caso, duas horas depois, o valor de glicemia seja superior a 200 mg/dL, o diagnóstico é de diabetes; se o valor for superior a 140 mg/dL e inferior a 200 mg/dL, trata-se de pré-diabetes. Outra possibilidade é a realização do exame hemoglobina glicosada, onde é medida a média da glicemia nos últimos dois a três meses: se for igual ou superior a 6,5 %, o diagnóstico é de diabetes. Uma vez que o diabético tipo 1 não produz insulina, necessita de administrar a hormona várias vezes ao dia. Esta deve ser feita a par de uma vigilância correta da glicemia e de uma alimentação saudável e prática de exercício regular. Já o diabético tipo 2 pode controlar os valores da glicose sem ser necessária medicação, ao adotar um estilo de vida saudável, ao restringir alimentos hipercalóricos e ao praticar exercício físico. No entanto, caso não seja suficiente existem medicamentos que facilitam a ação da insulina. Ainda que não exista cura, controlar os níveis de glicose no sangue pode prolongar a vida e

DIABETES | PÁGINA 64

evitar certas complicações, como doenças cardíacas e renais. Conhecer e controlar a diabetes, bem como, adotar uma vida saudável, são pontos-chave para a prevenção desta doença. Para melhor demonstrar o que é viver com esta doença, Vera Aleixo, diabética tipo 1, respondeu a algumas perguntas, apresentadas de seguida. CATARINA FIALHO


Entrevista

As doenças autoimunes como a Diabetes tipo 1 podem, por vezes, prejudicar a vida do doente, obrigando-o a alterar o seu estilo de vida ou a estar sujeito a tratamentos intensivos. Contudo, o paciente é encorajado a aceitá-la e aprender a viver com a mesma. Falámos com Vera Aleixo, criadora da página @vera.diabetes na rede social Instagram. No seu perfil, apresenta diversas receitas baixas em hidratos de carbono e em calorias, pensadas para os que, como ela, sofrem de diabetes tipo 1, colecionada num ebook disponível no mesmo local. Além das receitas, mostra-nos também as suas vivências e desmistifica o que é viver com esta doença, com foco na aceitação e em encarar as dificuldades “de frente, com coragem”.

Immunitas: Como é que soube que algo estava

Um novo mundo nos é apresentado e é assustador.

errado?

Entre insulinas e avaliações capilares. Hiperglicemias

Vera Aleixo: Desconfiamos que algo estava errado

e hipoglicemias. Corpos cetónicos. Alimentação.

pela perda repentina de peso, falta de apetite e

Muda a vida de quem recebe o diagnóstico e de todo

cansaço extremo a baixo esforço.

o círculo familiar e social.

I: Como e quando descobriu que tem diabetes?

I: De que forma a convivência com esta doença a

V: Levou algum tempo até se chegar ao diagnóstico.

afetou a nível psicológico?

Nessa altura não era muito recorrente a diabetes em

V: Não considero que me tenha afetado a nível

crianças/jovens,

psicológico, mas molda de alguma forma a nossa

e

alguns

sintomas

foram

personalidade.

Tornamo-nos

pessoas

resilientes.

um período complicado, associado a perda de peso e

Aprendemos que nada é certo todos os dias e que

energia. O diagnóstico foi feito aos meus 14 anos de

não há dias iguais. Percebemos que de alguma forma

idade, após ser levada pelos meus pais ao Serviço de

precisamos sempre programar tudo, até uma simples

Urgência do hospital de residência. Entrei no hospital

ida ao cinema. A nossa cabeça está em constante

já com perda de consciência.

movimento. Sempre em cálculos. Gerimos muita informação ao mesmo tempo e isso sim, acarreta

I: Como é que a sua vida mudou desde o seu

algum desgaste emocional, que por vezes nos leva a

diagnóstico?

desejar umas férias da DM

V: Após o diagnóstico de DM1 tudo muda. Todos os conceitos de viver que conhecemos mudam. Há uma reaprendizagem de tudo.

I: Realiza algum tratamento? Se sim, qual?

ENTREVISTA - DIABETES| PÁGINA 65

desvalorizados e atribuídos à mudança de idade. Foi


V: Todas as pessoas com DM1 são insulinotratados.

Por

exemplo,

se

alguém

precisar

tomar

um

Ou seja, fazemos tratamento com insulina. Ninguém

comprimido não precisa se esconder, certo? Porque

sobrevive sem insulina. Quando o nosso pâncreas

razão para aplicar insulina tem de o fazer?

deixa de a produzir, temos de ser nós a faze-lo. Durante 27 anos, utilizei canetas de insulina, com

I: Que conselhos daria a outros com a mesma

diversas aplicações diárias. Desde Outubro de 2021,

doença?

que sou utilizadora de sistema de perfusão subcutânia

V: Cada um tem uma maneira muito própria de ver e

de insulina (bomba de insulina).

viver com a diabetes. Cabe-nos a cada um, individualmente, encontrar a forma que lhe seja mais

I: Quais são os maiores desafios de viver com uma

confortável. Pessoalmente, acredito que aceitar e

doença crónica?

falar abertamente com aqueles que nos rodeiam, sem

V: Não ver a doença crónica como uma doença, mas

medos, ajuda no processo. Fazer de conta que não

sim como algo que faz parte de nós. Falando da DM é

existe nunca trará bons resultados. No fundo é uma

algo permanente, 24h/24H, 7 dias/semana. Não dá

doença silenciosa. Valores alterados hoje, trarão

para esquecer, para fazer de conta que não existe. Por

sequelas no futuro. Por isso, aconselho sempre a não

isso, o maior desafio é aceitar e integra-la na nossa

negligenciarem o cuidado diário. A procurarem

rotina do dia-a-dia, de forma natural.

informação. A estudar e a entender a própria diabetes. Ela é muito diferente de pessoa para pessoa

I: Viver com diabetes tipo 1 afetou a sua carreira? Se

e não podemos querer ser igual a ninguém.

sim, como? V: Não. Nunca afetou de forma alguma a minha carreira profissional. I: O que a levou a criar a sua página de instagram? V: O meu perfil foi criado na fase de aceitação. Onde partilhar experiências fazia-me estar mais focada. Foi sendo uma descoberta. O perfil tem crescido e

ENTREVISTA - DIABETES| PÁGINA 66

evoluído, tal como eu, em relação à forma de ver, sentir e viver a diabetes. I: Partilhe alguns mitos com que já se deparou sobre a diabetes tipo 1. V: Para mim, o mito que mais me marca/marcou é sermos “vistos” como coitadinhos. Como pessoas doentes. O administrar insulina em espaços públicos, infelizmente ainda é muito criticado. As pessoas ficam incomodadas. Não entendem que é uma medicação.

Immunitas: Obrigada pela sua colaboração!


Informação desviante Um problema atual É inquestionável que a informação, hoje em dia, chega de forma acessível e rápida. À distância de apenas um clique, é possível aceder aos websites dos mais conceituados

Deste modo, podem ser adotadas medidas, tal como: Maior fiscalização nas publicações nas redes sociais: bloquear contas falsas, contas que incitem a desinformação (alegados formadores de opinião, que implantam mentiras forjadas para atraírem

jornais, quer nacionais, quer internacionais.

visualizações);

Infelizmente, nos últimos tempos instalou-se a

Utilizar mecanismos que apurem a autenticidade

necessidade de ler a informação de várias

das publicações de forma imediata;

fontes, para assegurar a leitura de uma notícia fiável.

Garantir uma maior transparência em relação a conteúdos patrocinados; Ter atenção aos alegados formadores de opinião, uma vez que implantam todo o tipo de histórias para ganhar visualizações. É então crucial que a população, ao navegar na

maior facilidade na adulteração de sites de notícias

internet, tenha especial atenção no que toca às fontes

falsas, tornando-os semelhantes aos sites fiáveis. Por

de toda a informação, sendo a desinformação

consequente, estes órgãos de comunicação são

existente no decorrer da pandemia um bom exemplo

utilizados como fonte de informação. Apesar deste

do porquê. Os mitos em relação às vacinas sempre

problema preocupante, a velocidade com que as

estiveram presentes, desde a sua criação, e já foram

notícias se disseminam nos mais variados meios,

muitas vezes desmentidos por especialistas. No

como redes sociais, sites de notícias falsos, blogues,

entanto, as “forças da resistência à ciência” insistem

entre outros, tem demonstrado um perigo crescente.

em divulgá-los, com o intuito de criar discordância.

Esta disseminação é preocupante, na medida em que

Uma vez que, atualmente, a procura de informação

as fake news alimentam a descrença, a dúvida e

rápida sobrepõe-se à procura de informação fiável, é

podem incitar ao ódio. É instalada a incerteza, através

necessário educar a sociedade a primar a informação

da fabricação de informação, em que se misturam

factual, para que não sejam “sugados” para o lado da

vídeos

descontextualizados,

desinformação, numa espiral que lhes condiciona a

mentiras, com o objetivo de influenciar a opinião

capacidade de olhar para os episódios decorrentes da

pública e minar a credibilidade das instituições

vida social e estatal com discernimento.

democráticas e dos media. As redes sociais, como o

Felizmente, uma quantidade exorbitante de fact-

Facebook, Instagram ou Twitter podem ter um papel

checkers

determinante nesta luta contra a desinformação.

desmentiram

Devido ao seu grande público-alvo, era expectável

Revistas como esta funcionam como um modo de

que fossem as primeiras a distinguir as fake news da

combate à desinformação, para que no futuro as

informação legítima, a fim de zelar pela segurança de

vacinas, e não só, sejam encaradas com maior

todos os seus utilizadores.

positividade e confiança.

manipulados

ou

internacionais muitas

e das

nacionais

atuaram

mirabolantes

e

teorias.

MADALENA MACHADO

INFORMAÇÃO DESVIANTE| PÁGINA 67

Com a evolução da tecnologia, tem-se verificado uma


DATAS JANEIRO

ABRIL

MAIO

31

07

08

Dia dos leprosos

Dia mundial da saúde

Dia mundial da Cruz Vermelha

11

FEVEREIRO 11 Dia mundial do doente

14 Dia doente coronário

18

Dia mundial da doença de Parkinson

Dia mundial das doenças raras

Dia europeu melanoma

18

29 Dia internacional da imunidade

DATAS COMEMORATIVAS | PÁGINA 68

Dia internacional da Síndrome de Down

24 Dia mundial da tuberculose

Dia mundial da vacina contra a SIDA

26 Dia mundial da esclerose múltipla

28

JUNHO 13 19

21

11

Dia mundial da hemofilia

Dia mundial do doente

MARÇO

Dia mundial do lúpus

17

Dia internacional da Síndrome de Asperger

18

10

Dia mundial da consciencialização do albinismo

25 Dia mundial do vitiligo

Dia internacional da saúde feminina


COMEMORATIVAS JULHO

OUTUBRO

NOVEMBRO

22

06

12

Dia mundial do cérebro

Dia mundial da paralisia cerebral

Dia mundial da pneumonia

28 Dia mundial da hepatite

SETEMBRO 21 Dia mundial da doença de Alzheimer

23 Dia da síndrome das pernas inquietas

29 Dia mundial do coração

09

14

Dia mundial dos cuidados paliativos

Dia mundial da Diabetes

12

21

Dia mundial das doenças reumáticas

Dia europeu da fibrose quística

14 Dia mundial da visão

15

DEZEMBRO

Dia nacional da luta contra a dor

01

24

Dia mundial da luta contra a SIDA

Dia mundial do combate à pólio

29 Dia mundial da psoríase

03 Dia internacional da pessoa com deficiência

04 Dia nacional da pessoa com esclerose múltipla

09 Dia nacional da pessoa com deficiência

DATAS COMEMORATIVAS | PÁGINA 69

Dia internacional dos portadores de alergia crónica


WEBGRAFIA O principal objetivo da presente revista passa por combater a desinformação que domina sobre tema imunidade. Com isto em mente, os artigos apresentados são resultado de intensa pesquisa dos mais variados estudos, teses e sites fiáveis. É fundamental a transparência da informação publicada, pelo

WEBGRAFIA | PÁGINA 70

que se encontram aqui disponíveis as fontes utlizadas. Para consulta, aceda aos códigos QR abaixo.

Imunidade

Vacinas

COVID-19

Doenças


"NENHUM MÉDICO JAMAIS CUROU NINGUÉM DE NADA NA HISTÓRIA DO MUNDO. O SISTEMA IMUNITÁRIO CURA E É A ÚNICA COISA QUE CURA." BOB WRIGHT


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