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Agenda de Imunização 2030

Agendade Imunização

2030

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osN últimos anos, o agravar de problemas ambientais e sociais, como as alterações climáticas e as crises humanitárias, tem sido fonte de grande preocupação entre organizações e governos. Face a estas circunstâncias atípicas, o mundo enfrenta um número crescente de ameaças à saúde pública, com surtos e novas doenças a serem identificados anualmente. A situação requere uma capacidade de resposta rápida, eficiente e flexível por parte das entidades competentes, que têm a imunização mundial como solução. Apoiados pelos resultados das últimas décadas, os especialistas admitem que esta é a estratégia mais viável e com mais potencial de êxito. Surgiu, assim, a Agenda de Imunização 2030 (IA2030), uma iniciativa promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que pretende fazer desta uma história de sucesso.

Por definição, imunizar é o ato de tornar imune ou resistente a um determinado agente infecioso, normalmente responsável por uma doença ou infeção específica e transmissível. A inoculação de vacinas é um dos métodos mais viáveis para alcançar esta condição de imunidade, uma vez que estimula o sistema imunológico do indivíduo e assegura a resposta desejada, promovendo a proteção do próprio e de quem o rodeia.

Uma maior taxa de vacinação implica um maior número de pessoas imunes e, consequentemente, um menor índice de contágio. Assim, as vacinas são vistas como uma das mais importantes ferramentas de saúde pública e o seu desenvolvimento por técnicas progressivamente mais complexas tem sido um dos maiores e mais promissores avanços científicos do século XXI. Ao longo das últimas décadas, a eficácia da imunização das grandes massas tem sido comprovada uma e outra vez, tendo contribuído significativamente para a diminuição das taxas de mortalidade e morbilidade a nível mundial. Segundo a OMS, é até possível equiparar estes resultados aos que se obtiveram com outras intervenções de igual dimensão na saúde pública, tais como o saneamento básico ou a água potável. As estimativas mais recentes apontam para que cerca de 2 a 3 milhões de mortes sejam evitadas anualmente por conta das vacinas, o que torna a imunização um dos pilares da saúde global. Dados como estes apoiam a visão dos especialistas e das organizações de saúde para quem a vacinação à escala mundial é a melhor solução face aos desafios que se impõem. O objetivo está traçado, porém existem ainda muitos obstáculos a ser ultrapassados até que este possa finalmente ser cumprido. A maior fonte de inquietude são as desigualdades que persistem no mundo, uma vez que conduzem a grandes desequilíbrios na distribuição dos benefícios da imunização. A cobertura é amplamente variável entre países. Populações como as mais pobres, as mais marginalizadas ou as mais vulneráveis, em ambientes frágeis e dilacerados por conflitos, têm poucos acessos aos serviços de vacinação. A cada ano, 20 milhões de crianças não recebem nem mesmo todas as vacinas básicas e muitas perdem as vacinas que vão sendo introduzidas. Destas, mais de 13 milhões não recebem vacinas por meio de programas de imunização, segundo a OMS. Apenas com a superação de problemas como estes será possível garantir o financiamento, fornecimento, distribuição e administração de vacinas a todas as populações, em particular às de difícil alcance. Confrontadas com as mais recentes estatísticas, que admitem que cerca de 1,5 milhões de mortes adicionais poderiam ser evitadas se a cobertura global de vacinação fosse aprimorada, agências como a OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Vaccine Alliance, a Fundação Bill & Melinda Gates e a Coalition for Epidemic Preparedness Initiative (CEPI), têm unido esforços e financiado a expansão dos benefícios das vacinas ao maior número número de pessoas possível. O exemplo mais recente de colaboração entre estas e outras organizações, durante o cenário de pandemia global de SARS-CoV-2, demonstrou o potencial de uma participação e empenho mundiais no combate a estes problemas. Garantir um acesso generalizado às vacinas, os mais eficazes agentes de controle e prevenção de doenças transmissíveis e até mortais, é crucial para que estas consigam atingir o seu impacto máximo na saúde global. Uma das grandes metas é alcançar e ampliar o efeito de uma imunidade de grupo, que tornará mais fácil erradicar doenças, impedindo a sua propagação futura e surtos relacionados. Nas palavras de Amina Mohammed, Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas, "Somos encorajados pelo desenvolvimento de vacinas seguras e eficazes, mas a verdade é simples ninguém está seguro até que todos - todos, em todos os lugares - estejam seguros, e nenhum país está seguro até que todos os países estejam seguros. Somente trabalhando juntos podemos recuperar e construir um mundo onde todos prosperem em paz, dignidade e igualdade num planeta saudável. É possível, juntos. " . Esta perspetiva sobre a situação é partilhada pela OMS, que admite que a saúde pública global depende da cooperação internacional e da disponibilidade dos países para agir com eficácia na tentativa de travar as ameaças emergentes.

A imunização é tida como um dos cuidados primários de saúde e um dos mais fundamentais direitos humanos, pelo que deverá ser providenciada a todos,

sem exceção. Para que estes altos níveis de cobertura sejam sustentados e até exequíveis, são indispensáveis programas nacionais de imunização fortes e um controlo inteligente das doenças, algo mais simples quando o mundo é visto como um só. Assim, a OMS propôs a Agenda de Imunização 2030 com o intuito de coordenar e definir as ações a nível global. Cocriada por países e organizações de todo o mundo, a agenda foi apresentada na Assembleia Mundial da Saúde e delineia uma estratégia e visões globais ambiciosas e abrangentes para a imunização no decorrer da década de 2021–2030. A iniciativa baseia-se nas lições retiradas do plano de imunização global em vigor durante a última década, o Plano de Ação Global para Vacinas, o que permitiu conhecer logo de partida os fatores decisivos para o sucesso do projeto. Com a visão de "Um mundo onde todos, em todos os lugares, em todas idades, beneficiam plenamente de vacinas para uma boa saúde e bem-estar" no horizonte, a IA2030 pretende inspirar e alinhar as atividades de toda a sociedade de forma a promover o investimento na imunização, considerado também um investimento no futuro. Atualmente, sabe-se que a vacinação salva e promove a saúde das populações, beneficiando indivíduos de todas as faixas etárias e provocando uma diminuição drástica no número de mortes derivadas de doenças infeciosas. Inevitavelmente, isto reflete-se num mundo mais saudável e próspero. Deste modo, os três principais objetivos da IA2030 são claros:

Reduzir a mortalidade e a morbidade de doenças que se podem evitar por meio de vacinas para todos ao longo da vida; Aumentar o acesso equitativo e o uso de vacinas novas e existentes; Garantir boa saúde e bem-estar para todos, fortalecendo a imunização na atenção primária à saúde e contribuindo para a cobertura universal de saúde e desenvolvimento sustentável. Estes objetivos gerais fazem parte de um plano flexível e apto a quaisquer revisões que surjam no contexto de instabilidade do panorama mundial atual e, decerto, da próxima década. Questões como a falta de confiança e o custo das vacinas, as desigualdades, as deslocações populacionais, as mudanças climáticas e desastres naturais, os conflitos e as instabilidades políticas foram o ponto de partida para a delineação de estratégias eficazes. No total, foram definidas sete prioridades estratégicas, todas com objetivos e áreas de foco próprios. Foram igualmente estabelecidos quatro princípios fundamentais que irão moldar a natureza das ações realizadas para atingir cada meta. Pretende-se criar programas de imunização resistentes e que possam ser incluídos nos cuidados de saúde primários, assegurando deste modo a sua disponibilidade a todos. A IA2030 incentiva ainda a pesquisa e investigação associadas à descoberta de novas vacinas, atribuindo um papel essencial às instituições de pesquisa e aos desenvolvedores e fabricantes de vacinas. O foco é a criação de vacinas que protejam a saúde das populações a longo prazo e aumentem a sua esperança e qualidade de vida. Atualmente, as descobertas anuais mostram-se promissoras, com um total de 19 introduções de novas vacinas, fora as de COVID-19, relatadas em 2020. Segundo a OMS, mais de 20 doenças fatais podem agora ser prevenidas graças à imunização e, com a melhoria de técnicas que se tem verificado, admite-se um aumento neste número nos próximos anos. Para tal, é forçoso um investimento científico e económico por parte de todos os países e organizações, previsto nas estratégias definidas na IA2030. Estas novas descobertas implicam ainda uma segunda fase, na qual as vacinas são implementadas nos programas de imunização nacionais e se tornam acessíveis. A última década foi inspiradora sob este ponto de vista, já que, desde 2010, 116 países introduziram novas vacinas, até aí excluídas dos seus planos de vacinação, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

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