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Pandemia de COVID-19

PandemiadeCovid-19

Análise

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oN final da primavera de 2022, a pandemia de COVID-19 parece estar a abrandar, talvez até na reta final. Este é, então, um momento excelente para avaliarmos a evolução da pandemia em Portugal, analisando se as medidas tomadas pelas autoridades tiveram resultados apreciáveis. O que nos dizem os dados? Em Portugal, assim como no resto do mundo, até à data de escrita deste artigo foram verificados quatro picos distintos de infeção por COVID-19. Analisar a pandemia no país implica comparar as situações anterior e posterior ao extremo de infeções, para averiguar as medidas tomadas e a sua eficácia.

Pico1-20.11.2020

O primeiro pico de infeção por COVID-19 em Portugal teve o valor máximo de casos positivos a 20 de novembro de 2020. A este ponto da pandemia era apenas obrigatório o uso de máscara em certos espaços, além de a maioria da população se deslocar como normal para o seu emprego. Este aumento deveu-se também ao início da testagem voluntária e em postos de trabalho, processo que fez encontrar e isolar casos assintomáticos , que anteriormente não seriam reportados. A principal medida tomada nesta altura foi a obrigatoriedade do trabalho remoto quando possível, ato que ajudou a fazer descer a taxa de infeção.

Pico2-18.01.2021

Foi após a época festiva que o número de casos diários de COVID-19 voltou a aumentar, tendo o valor máximo do segundo pico de infeção sido registado no dia 18 de janeiro de 2021. Na génese deste foco estiveram as festas de família características da época, assim como, as grandes festividades realizadas aquando a passagem de ano. Apesar de o país se ter encontrado em estado de emergência. As medidas de segurança foram implementadas de 9 a 23 de dezembro, deixando a véspera de Natal para que as famílias se pudessem juntar. Apesar de ter dado ao povo português uma quadra festiva mais normal mesmo num ano tão anormal, teve severas consequências na taxa de infeção por COVID-19. Esta situação pode fazer-nos pensar sobre o que devemos valorizar: liberdades individuais ou o melhor para a população. Após as celebrações, o número de infeções voltou a baixar, facto que se deve também ao retorno do estado de emergência para o ano novo, trazendo consigo restrições na circulação na via pública e entre concelhos.

Pico3-23.07.2021

A 23 de julho de 2021 deu-se o ponto máximo do 3º pico de infeção por COVID-19 em Portugal. Este pico coincide com as férias de verão, nas quais as pessoas começaram a viajar e a relaxar as medidas de proteção. Este também é um período em que os jovens se juntam, criando focos de infeção muito facilmente. O início da vacinação deu-se também neste período de tempo, o que pode ter dado às pessoas uma sensação de segurança excessiva, levando a que participassem em atividades que as poriam em perigo de infeção. Este pico desceu naturalmente, notavelmente aquando do final das férias de verão das escolas.

Pico4-06.02.2022

No início de fevereiro de 2022, verificou-se um pico de infeções e mortes em Portugal. Isto foi provavelmente resultado dos aglomerados aquando das eleições que ocorreram a 30 de janeiro. Este último pico não foi, relativamente aos restantes picos, muito acentuado, fenómeno que provavelmente se deve à elevada taxa de vacinação da população, assim como às campanhas de uso de máscara nos locais de voto.

Vacinação e mortes

Em Portugal, a COVID-19 tem, à data deste artigo, uma taxa de letalidade (quociente entre número de mortes e número de infetados) de cerca de 0.54%, relativamente baixa quando comparando com o resto do mundo. É de relembrar que este valor é influenciado pelo elevado número de testes feitos à população, que apanham casos assintomáticos ou com sintomas leves, ambos com pouco risco de morte por COVID. Entre os fatores que influenciam esta taxa encontram-se a pirâmide demográfica do país, isto é, a distribuição de idades dos habitantes e a acessibilidade dos cuidados médicos. Posto isto, Portugal encontra-se atualmente numa situação favorável em relação à taxa de letalidade, dado que apesar da nossa pirâmide demográfica ser mais pesada nas idades mais avançadas, o nosso sistema público de saúde é relativamente adequado para a população. No entanto, este sistema tem visto várias falhas que caso não sejam investigadas podem resultar em consequências graves para a saúde da população. Apesar de ter sido única, a situação de rutura do sistema de saúde a meio da pandemia foi o que levou ao início do processo de vacinação intensivo, devido à gravidade do contexto pandémico na altura, no final de janeiro de 2021. Confrontadas com um número crescente de casos de COVID-19, as autoridades de saúde convidaram o Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo para coordenar o processo de vacinação.

Retorno à normalidade

Dia 22 de abril de 2022 foi a data em que o mandato de uso obrigatório de máscara foi levantado em Portugal, com possibilidade de alteração da mesma medida sazonalmente. A obrigatoriedade de uso de máscara mantém-se, no entanto, em “locais caracterizados pela especial vulnerabilidade das pessoas que os frequentam e (...) pela utilização intensiva sem alternativa”(Decreto-Lei n. º 30E/2022). Ou seja, o uso de máscara é, por agora, ainda obrigatório em transportes públicos e táxis, hospitais, lares, e estabelecimentos semelhantes. O decreto-lei declara também "a situação de alerta em todo o território nacional continental" até às 23:59 do dia 05 de maio de 2022, na sequência da situação epidemiológica da covid-19, assim como a desativação das áreas exclusivas a doentes covid-19 nos hospitais e centros de saúde.

Estudos de caso

Uma boa forma de avaliar a pandemia de COVID-19 globalmente é a análise das estratégias de diversos países, assim como os subsequentes resultados.

Perú

De acordo com o sítio na web worldometers.info, o Perú é o país onde a COVID-19 foi mais devastadora, com 5.948 mortes por milhão de habitantes. Apesar de ter sido o país da América Latina a impor confinamentos mais cedo, em março de 2020, estes só duraram até ao final de junho do mesmo ano. Mesmo durante o confinamento, as infeções continuavam a aumentar, apesar de terem as fronteiras fechadas. Ainda assim, o principal problema neste país é a taxa de mortalidade da doença, valor que se deve pincipalmente ao fraco sistema de saúde, que recebe pouco investimento e, como tal, não tem a quantidade de camas de cuidados intensivos necessárias ao tratamento da COVID-19 de todos os

infetados, cerca de 1,600 para um número crescente de infetados de cerca de 4 mil por dia, entre a população de cerca de 33 milhões (countrymeters.info). Verificou-se também uma escassez de oxigénio nos hospitais, essencial para o tratamento da doença. Outro fator que tem vindo a contribuir para o deterioramento da situação no Perú é a lentidão com que as vacinas estão a ser administradas, tendo apenas 4% da população sido vacinada ao início de junho de 2021, enquanto os países vizinhos tinham já esse valor em 10% a 40%. Isto deve-se apenas à logística, dado que o país já adquiriu doses suficientes da vacina para inocular toda a população. No que toca à taxa de infeção da doença, o Perú está numa situação decadente, dado que funciona sobre uma economia de comércio e trabalho informal, levando a que muitos cidadãos tenham de escolher entre ir trabalhar, mesmo durante confinamento, ou não comer nessa semana. O governo peruano impôs algumas medidas para atenuar este impacte nos trabalhadores informais, no entanto poucos possuem conta bancária, cerca de 42%, levando estas medidas a ter baixa eficácia. Além do mais, os peruanos vivem comumente em habitações sobrelotadas, sem capacidade de armazenamento de alimentos durante tempo suficiente para sobreviverem ao confinamento, levando a que não o possam respeitar, deslocando-se para os mercados de rua, pontos de infeção.

Nova Zelândia

Por outro lado, a Nova Zelândia é um exemplo a seguir, tendo tomado medidas que permitiram ter uma taxa de mortalidade de cerca de 2%. Durante a maioria da pandemia até agora, a Nova Zelândia tem conseguido manter o número de novos casos a um máximo de 14 casos por milhão de habitantes na maioria da pandemia. Este país sofreu 2 picos de infeção por COVID-19, um no início da pandemia e outro mais recentemente, devido ao desconfinamento durante o verão, época de festas, e à difusão da variante Delta do vírus. Devido ao mais recente pico de infeção, o governo neozelandês alterou a sua estratégia em relação a medidas preventivas, passando de um plano focado em manter o vírus fora do país para um baseado na convivência com o vírus. Tem-se verificado um aumento de casos recentemente, no entanto a taxa de mortalidade continua baixa. Isto deve-se à eficácia do sistema de saúde neozelandês, assim como a compreensão pela população. As medidas tomadas por Portugal no decorrer da pandemia foram adequadas, considerando as recomendações dos especialistas. Ainda assim, a situação da época festiva de 2020 deixou mais a desejar. Um ponto positivo, no entanto, foi o processo de vacinação liderado pelo Vice-Almirante Gouveia e Melo, pela sua eficiência e eficácia, fazendo diminuir a taxa de mortalidade do vírus em Portugal rapidamente. Comparado com o resto do mundo, Portugal está em média bem posicionado no que toca tanto à taxa total de casos por milhão de habitantes, como à taxa de mortalidade da doença, devido à relativa eficácia das medidas tomadas, apesar da inconsciência de parte da população. No que toca aos restantes países, o Perú é um exemplo de um sistema imperfeito e a Nova Zelândia um exemplo a seguir. Como não se sabe o que este vírus nos reserva para o futuro, deve manter-se a caução e avaliar o próximo passo quando a sua altura chegar.

Casos confirmados diários

Verificou-se um crescimento mais íngreme aquando os picos de infeção mencionados no artigo, entre períodos de significativamente menos infeções. É de notar que o valor real de casos positivos poderá ser maior devido à margem de erro dos testes realizados.

Testes diários

Como é de esperar, os períodos de maior testagem em Portugal correspondem aos momentos antes, durante e após os picos de infeção. Este facto pode dever-se à ansiedade naturalmente causada pela cobertura mediática da pandemia.

Percentagem de população vacinada

Podemos identificar um crescimento gradual da percentagem de vacinados, resultante do processo faseado da toma da vacina. O mesmo se repete na 2ª fase de vacinação, em que a percentagem não vacinada acumula com a anterior, parecendo, então, maior.

Variação de visitantes

Resultante das medidas de confinamento impostas, o número de visitantes na maioria dos estabelecimentos diminuiu após a maioria dos picos de infeção, facto que contribuiu para a resolução dos mesmos.

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