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Tipos de Vacinas

TiposdeVacinas

Apesar de ser uma área em constante desenvolvimento, resultado do avultado investimento monetário de que é alvo, a grande revolução na vacinologia deu-se ao longo dos últimos anos por mérito de um conjunto de fatores decisivos que permitiram, quer a otimização das vacinas já desenvolvidas, quer a produção de novas vacinas através de métodos inéditos e transformadores. Atualmente, existem seis tipos de vacinas aprovados e reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), todos eles baseados em diferentes abordagens de preparação e com características próprias. Esta diversidade de imunizantes aumenta exponencialmente a probabilidade de ser desenvolvida uma vacina eficaz e segura contra determinadas doenças, anualmente responsáveis por um elevado número de mortes. Hoje, mais do que nunca, é possível acreditar num futuro próspero e livre de doenças fatais, infeciosas ou não, como a malária e o cancro.

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A par da aposta na formação de cientistas e profissionais de saúde pública em vacinologia, que tem vindo a aumentar drasticamente nos últimos 20 anos, os avanços tecnológicos e científicos notáveis foram e são cruciais à rápida evolução da vacinologia e ao consequente desenvolvimento de novas vacinas mais seguras. Durante grande parte da história, as preparações antigénicas foram desenvolvidas quase exclusivamente através de pesquisas empíricas, sem grande fundamento teórico e com a ausência de imunologistas durante todo o processo. Porém, atualmente, os desafios que se impõe exigem um conhecimento imunológico substancialmente mais profundo, do qual resultam vacinas mais eficazes e capazes de combater agentes patogénicos mais resistentes, como é o caso da bactéria responsável pela tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, ou do HIV, retrovírus da subfamília dos Lentiviridae na origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Só deste modo é possível controlar os surtos que ameaçam a segurança sanitária global, de forma mais ou menos recorrente, e fortalecer os sistemas imunológicos da população, em particular dos mais frágeis. Hoje em dia, o início do processo de desenvolvimento de uma vacina baseia-se totalmente nas noções teóricas sobre imunologia. Nesta primeira fase, o principal foco de um vacinologista é a recolha de informação, devendo, para isso, ter em conta os seguintes elementos: o modo como o sistema imunológico responde ao agente patogénico responsável pela doença que se pretende combater; o grupo para o qual a vacina está a ser desenvolvida, estando este condicionado a variantes como faixas etárias, sexo ou até mesmo a localização geográfica da população a vacinar; e, por último, qual o melhor método de desenvolvimento da vacina, de forma a maximizar o seu potencial e eficácia. Este último aspeto é de particular importância, uma vez que define e orienta os trabalhos de investigação e pesquisa que precedem a dita produção da vacina. Atualmente, os vacinologistas têm à sua disposição três abordagens principais que estabelecem o método de desenvolvimento a ser aplicado na vacina pretendida. As grandes diferenças residem na forma como o agente patogénico é utilizado durante o processo, podendo ser empregue na sua totalidade ou em subunidades, pequenas porções suficientes para desencadear a resposta imunológica desejada.

É ainda possível recorrer à extração do seu material genético, que fornecerá às células as instruções necessárias para a síntese de proteínas específicas. Destas diferenças deriva, então, o nome de cada abordagem: abordagem do patogénico inteiro, abordagem de subunidades e abordagem genética. Os diferentes métodos de desenvolvimento de uma vacina permitem distinguir seis principais tipos de vacinas, projetados para combater, preferencialmente, certo tipo de agentes patogénicos e estimular sistemas imunitários com determinadas características. A OMS aprova e reconhece como tipo de vacina as vacinas inativadas, as vacinas vivas atenuadas, as vacinas de vetor viral, as vacinas de subunidades, recombinantes, polissacarídeas e conjugadas, as vacinas toxoides e as vacinas de RNA mensageiro (mRNA). A cada tipo de vacina correspondem efeitos secundários e uma taxa de eficácia próprios, pelo que é importante consultar um médico antes de proceder à sua administração, de forma a evitar a alteração do estado de saúde e bemestar do vacinado.

Vacinas inativadas

As vacinas inativadas, desenvolvidas com recurso à abordagem do patogénico inteiro, incluem na sua composição, tal como o próprio nome indica, um microrganismo sujeito a uma inativação prévia. Regra geral, esta é realizada através do uso de calor, de radiação ou de produtos químicos, como o formaldeído ou a formalina. Todos estes métodos destroem a capacidade de replicação do agente patogénico, impedindo, assim, que este adote uma forma mais virulenta capaz de provocar doença. A utilização destas técnicas não compromete, contudo, as condições inerentes ao patogénico que permitem ao sistema imunológico reconhecê-lo posteriormente. É de notar que este tipo de vacina apresenta um tempo de produção relativamente longo, uma vez que implica a cultura de vírus ou bactérias em instalações laboratoriais especiais que ofereçam segurança. As vacinas inativadas não fornecem uma imunidade muito forte, apresentando uma menor taxa de eficácia e efeitos colaterais substancialmente mais ligeiros quando comparadas às vacinas vivas atenuadas. Por este motivo, há a necessidade de administrar doses de reforço a fim de assegurar uma resposta imune a longo prazo. São utilizadas na prevenção de doenças como a hepatite A, a gripe, a poliomielite e a raiva. Este tipo de vacinas não evidencia qualquer risco para indivíduos imunocomprometidos, embora possa não conferir proteção a quem sofra de imunodeficiência combinada.

Vacinas vivas atenuadas

As vacinas vivas atenuadas têm por base a abordagem do agente patogénico inteiro, utilizando uma versão viva, embora enfraquecida, do microrganismo responsável pela doença a combater. Geralmente, são desenvolvidas para proteção contra vírus, embora possam igualmente promover a imunidade contra bactérias. O designado estado de atenuação pode ser alcançado por meio de vários métodos, sendo o mais comum a transferência do agente patogénico entre culturas de células ou embriões não humanos. Esta técnica permite reduzir a capacidade de replicação do vírus ou bactéria em células humanas, inibindo, portanto, a sua proliferação em massa no interior do corpo, após administração da vacina. Apesar de enfraquecido, o microrganismo mantém-se reconhecível pelo sistema imunitário. Todos os métodos implicam a limitação da reprodução do agente patogénico, tornando-o incapaz de provocar manifestações significativas da doença ou a sua transmissão a terceiros, embora seja sempre suficiente para que ocorra a estimulação de uma resposta imune forte.

As vacinas vivas atenuadas conferem uma imunidade eficaz e, regra geral, duradoura, sendo apenas necessária uma ou duas doses, na maioria dos casos, para se obter uma proteção vitalícia contra o agente patogénico e a doença que o mesmo provoca. São utilizadas na prevenção de doenças como o sarampo, caxumba e rubéola (vacina combinada), a varíola, a febre amarela e a varicela. É sempre aconselhado procurar aconselhamento médico antes da vacinação, não sendo este tipo de vacina indicado para indivíduos com o sistema imunológico enfraquecido ou condições de saúde de longo prazo. Apesar deste tipo de vacinas incluir um agente patogénico com potencial virulento diminuto, não deve ser completamente excluída a possibilidade de se desenvolver doença leve após a sua inoculação. Segundo a OMS, este é o caso da vacina contra o sarampo: cerca de 5% das crianças desenvolvem erupção cutânea e até 15% sofrem com febre após a vacinação. Sempre que efeitos colaterais deste género se verifiquem, é recomendado o parecer médico antes da toma da vacina. É de referir ainda que este tipo de vacinas requer armazenamento refrigerado, pelo que não é o mais adequado para uso em ambientes onde acesso a estas condições esteja comprometido.

Vacinas de vetor viral

As vacinas de vetor viral, igualmente criadas com a abordagem do patogénico inteiro, são desenvolvidas com recurso à modificação de um vírus para posterior utilização como vetor. Simplificadamente, são incorporadas subpartes específicas – as proteínas –do agente de interesse num segundo vírus inofensivo, sobre o qual há já uma base de conhecimento bastante ampla. Este funciona como vetor, sendo da sua responsabilidade unicamente o transporte dos elementos que desencadearão a resposta imune pretendida e a consequente imunidade. O vírus vetor é, portanto, manipulado até ser incapaz de provocar doença por si só. ão diversos os vírus atualmente utilizados com este fim, sendo os principais os adenovírus e os vírus Influenza, da família Orthomyxoviridae. As vacinas de vetor viral foram recentemente utilizadas no controlo dos surtos de Ébola, doença provocada pelo vírus homónimo, e no combate à pandemia de SARS-CoV-2. Vários estudos estão ainda a ser desenvolvidos no sentido de desenvolver vacinas deste tipo contra outras doenças infeciosas, como a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida e a doença causada pelo vírus Zika.

Vacinas de subunidade, recombinantes, polissacarídeas e conjugadas

As vacinas de subunidade, recombinantes, polissacarídeas e conjugadas, apesar de serem produzidas por métodos diferentes, são consideradas como um só tipo de vacinas, resultante de uma abordagem de subunidades. Em comum, têm o uso de uma parte específica dos vírus ou bactérias alvo, normalmente associada ao seu revestimento externo, como uma proteína, um polissacarídeo ou uma cápsula. Estas partes isoladas estão quimicamente ligadas a proteínas transportadoras, funcionando como antigénios fracos e estimulando uma resposta imune, em geral muito forte. A longo prazo, podem, contudo, ser necessárias algumas doses de reforço. Este tipo de vacinas, mais especificamente algumas vacinas de subunidade e as vacinas recombinantes, pode ainda ser desenvolvido por meio da engenharia genética. Neste caso, o gene responsável pela síntese de proteínas com função vacinal é isolado e inserido num outro vírus em cultura, o designado vírus portador. Quando este se reproduz, são produzidas as proteínas vacinais, que o sistema imunitário reconhecerá e contra as quais desenvolverá imunidade.

A inoculação com este tipo de vacinas raramente causa efeitos colaterais, pelo que é adequada em indivíduos com sistema imunológico enfraquecido ou condições de saúde prolongadas. Geralmente, estas vacinas são utilizadas na prevenção de doenças como a hepatite B, o HPV (vírus do papiloma humano), a coqueluche e a doença por Haemophilus influenzae do tipo b. É, ainda, de notar que a maioria das vacinas incluídas no calendário infantil são vacinas de subunidade.

Vacinas toxoides

As vacinas toxoides, produzidas com base na abordagem de subunidades, incluem as toxinas criadas pelo agente patogénico, permitindo o desenvolvimento de imunidade contra as mesmas. Desta forma, a resposta imune é sempre direcionada a uma toxina específica quimicamente inativada, não sendo, no entanto, a imunidade vitalícia, a menos que sejam administradas várias doses de reforço ao longo do tempo. As vacinas toxoides são utilizadas na prevenção de doenças como o tétano e a difteria.

Vacinas de RNA mensageiro

As vacinas de RNA mensageiro resultam da abordagem genética, a mais recente e inovadora estratégia utilizada no desenvolvimento de vacinas. Na sua composição, incluem sequências de material genético (mRNA) pertencente ao agente patogénico, que são copiadas e sintetizadas após o vírus ou bactéria ser geneticamente sequenciado. Esta porção de RNA criada é envolta numa capa de gordura, de modo a que não se desintegre, e, uma vez no interior das células humanas, fornece as instruções necessárias à síntese de proteínas específicas. Estas desencadeiam uma resposta imune, induzindo a proteção pretendida, que é geralmente forte. A administração deste tipo de vacinas não motiva o desenvolvimento de qualquer doença por si só. Apesar de ser uma abordagem estudada há décadas, só recentemente foi aprovada a primeira vacina de RNA mensageiro, na sequência da pandemia de SARS-CoV-2. A eficácia da mesma levou os especialistas a considerar o potencial destas vacinas, com tempos de fabricação curtos e custos económicos baixos, no tratamento e prevenção de doenças como o cancro e as alergias.

Atualmente, dois novos tipos de vacina são o alvo principal de estudos e testes, sendo os resultados bastante promissores. Trata-se das vacinas de DNA e das vacinas de vetores recombinantes. As primeiras são pensadas de forma a incluir o DNA do agente patogénico. Este, uma vez injetado no corpo, é reproduzido e reconhecido pelo sistema imunológico, que induz uma forte imunidade a longo prazo. Por outro lado, as vacinas de vetores recombinantes consistem na inserção de genes do agente patogénico num vírus vivo. Este, ao reproduzir-se no interior do corpo, produz as proteínas que o sistema imunitário deverá reconhecer e contra as quais desenvolve imunidade. Será necessária a realização de mais testes de segurança até que a administração destes tipos de vacinas seja aprovada, mas o cenário atual é animador.

O campo da vacinologia tem beneficiado da rápida evolução tecnológica e científica dos últimos anos. Como resultado, existem, hoje, inúmeros tipos de vacinas com potencial para assegurar a proteção da população contra doenças graves de forma a melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar.

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