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Síndrome de Guillain-Barré

SíndromeGuillain-Barré

ercC a de 4 em cada 100 mil pessoas são diagnosticadas anualmente com a síndrome de Guillan-Barré (SGB), uma doença inflamatória que afeta os nervos periféricos. Sem distinção no sexo, mais frequente em adultos, esta patologia rara apresenta uma taxa de recuperação elevada, apesar da inexistência de cura. Porém, cerca de 4% a 7% dos infetados acabam por falecer.

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SGB é uma rara doença neurológica que conduz à desmielinização e/ou degeneração axonal dos nervos periféricos, através de um mecanismo de mimetismo molecular. Isto significa que o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente parte do sistema nervoso periférico, rede de nervos localizados fora do cérebro e da espinal medula. Todos os nervos que controlam os movimentos dos membros ou os músculos respiratórios podem, portanto, ser afetados. Estes nervos são constituídos por fibras revestidas por uma bainha isolante, denominada mielina, que garante o seu bom funcionamento e promove a transmissão das mensagens nervosas. Quando o sistema nervoso é afetado por esta doença, a mielina é alterada ou até mesmo destruída. A síndrome é caracterizada pela fraqueza progressiva, podendo resultar em paralisia. Na maioria das vezes, começa ao nível das pernas, podendo subir até atingir os músculos da respiração, afetando em seguida os nervos da cabeça e do pescoço. É também designada por polirradiculoneuropatia aguda desmielinizante inflamatória (AIDP), ou por polirradiculoneuropatia aguda desmielinizante pós-infeciosa, pois frequentemente ocorre após uma infeção. Dentro do espetro da doença existem ainda algumas variantes, sendo a principal diferença a fisiopatologia. Entre elas estão a neuropatia axonal motora aguda, semelhante à AIDP, sem os sintomas sensoriais; neuropatia axonal sensório-motor aguda, variante predominante na Ásia, América Central e América do Sul; e a síndrome de Miller-Fisher (MFS), variante rara dos nervos cranianos, caracterizada pela visão dupla e perda de equilíbrio. Atualmente, a causa exata da síndrome é desconhecida. No entanto, acredita-se que a desmielinização tenha origem autoimune, isto é, as defesas do organismo, em vez de atacarem os corpos estranhos (vírus, bactérias, etc.), atacam o próprio corpo, ao criarem anticorpos nocivos, designados autoanticorpos, que danificam a mielina e, por consequente, causam reações inflamatórias dolorosas. Usualmente, quem sofre da síndrome sofreu de uma infeção viral ou bacteriana nos dias ou semanas que precederam os sintomas. Sabe-se que a síndrome é comummente provocada por bactérias e virús, como a Campylobacter pillori (bactéria responsável por certas gastroenterites), os citomegalovírus, o vírus Epstein Bar e o vírus Zika.

A ingestão de certos medicamentos como estreptoquinase e danazol, bem como a administração de vacinas, podem também ser fatores responsáveis pelo desenvolvimento da SGB. As últimas vacinas desenvolvidas para erradicar o vírus SARS-CoV-2 foram admitidas como potenciais causas, em particular a vacina da farmacêutica Janssen. Apesar dos seus benefícios, no verão de 2021 foi confirmada pelo Infarmed e pela EMA (Agência Europeia de Medicamentos) a possibilidade desta vacina provocar a síndrome de Guillan-Barré. Além da vacina da Janssen, também a vacina Vaxzevria (anteriormente COVID-19 Vaccine AstraZeneca) inclui uma advertência sobre esta doença neurológica. A síndrome Guillan-Barré é acompanhada de alguns sintomas mais ou menos graves que podem trazer transtornos à vida do portador. A doença desenvolvese em três fases: na primeira fase, é comum o doente sentir dormência, formigueiro, sensações de choque elétrico e vibrações, especialmente nas mãos e nos pés. A fraqueza muscular é de intensidade variável, podendo até chegar à paralisia de um membro. Normalmente, o dano é simétrico, afetando os dois lados do corpo ao mesmo tempo. Dor intensa, cãibras nas costas, nádegas e coxas, nervos afetados na cabeça e no diafragma, que podem conduzir a paralisia do movimento dos olhos ou dos músculos faciais, desconforto ou dificuldade para engolir e ainda falta de ar, são outros sintomas que podem surgir nesta fase. Dura geralmente entre uma a três semanas, e pode ser necessário o internamento do paciente. A segunda fase tem uma duração variável, desde alguns dias a algumas semanas, trazendo a estabilização dos sintomas. Porém, até que esta seja atingida, a paralisia pode evoluir e culminar em consequências mais graves para o paciente: taquicardia (aceleração do batimento cardíaco); bradicardia (abrandamento do batimento cardíaco); hipotensão (quedas súbitas da pressão arterial); hipertensão (aumento da pressão arterial); e, por vezes, obstipação intestinal. Nesta fase, podem ocorrer complicações com os pacientes internados por um longo período de tempo, como o risco de formação de coágulos sanguíneos. Por último, a terceira fase é a de recuperação, onde os sintomas regridem, com duração de vários meses. A recuperação pode ser completa, mas algumas sequelas podem persistir, dependendo da gravidade da síndrome. O diagnóstico da SGB é iniciado assim que o médico, com base nos sintomas do paciente, suspeita da doença. De modo a confirmar a diagnose, existem dois exames: a punção lombar e o eletromiograma. O primeiro é um procedimento médico no qual é inserida uma agulha entre duas vértebras lombares até que seja atingido o espaço onde se encontra o líquido cefalorraquidiano, que rodeia o cérebro e a medula espinhal. São depois realizadas análises à pequena porção de líquido extraída para procurar uma elevação anormal de proteínas evocativas da síndrome de Guillain-Barré. Por sua vez, no segundo, é realizado um registo da atividade elétrica dos nervos periféricos e músculos e da transmissão elétrica entre ambos. Caso o eletromiograma revele o bom funcionamento dos músculos, mas a deterioração dos nervos que lhes dão ordens, o paciente é diagnosticado com SGB. Habitualmente, o doente é hospitalizado imediatamente após o diagnóstico, de modo a prevenir dano mais severos nos nervos. Existem dois tratamentos preferenciais entre os profissionais de

saúde, ambos eficazes e com a finalidade de limitar a gravidade da síndrome. O primeiro dos dois, a plasmaferese terapêutica, é um procedimento em que o sangue passa por um circuito extracorpóreo que separa o plasma dos outros componentes do sangue. O plasma removido é substituído por soluções de reposicão, por exemplo por uma solução colóide (plasma) ou uma combinação de solução cristalóide/colóide. Esta técnica remove os autoanticorpos do sangue do paciente que destroem a mielina. O outro tratamento é a injeção de imunoglobulinas intravenosas (IVIg), consistindo na injeção no paciente de anticorpos de sangues de vários dadores. Estas imunoglobulinas neutralizam os anticorpos nocivos, que provavelmente estão na origem da síndrome.

Testemunho

José Luis Morais, 55 anos, foi diagnosticado com síndrome de Guillan-Barré após ir ao hospital por estar a sentir-se mal. No dia seguinte, deixou de andar, de falar e até de respirar de forma autónoma, ficando assim tetraplégico. Esteve internado, durante 160 dias, no Hopital Lusíadas Lisboa, local onde foi reanimado cinco vezes. Felizmente, José sobreviveu, mas tem agora um longo caminho

Fonte : https://www.lusiadas.pt/blog/doencas/sintomas-tratamentos/sindrome-guillain-barre-um-caso-fora-comum Só após esta neutralização é que os outros sintomas relacionados com a SGB são tratados. Além dos sintomas dolorosos e temporários consequentes da síndrome Guillain-Barré, esta doença neurológica afeta a vida do paciente por muito tempo. Quer numa criança ou num adulto, a doença tem um impacte emocional, social e financeiro na vida do paciente e dos entes queridos. A cessação da atividade profissional por vários meses pode até ser necessária nas formas mais graves da síndrome de GuillainBarré. Posteriormente, se houver sequelas, e dependendo de sua gravidade, pode considerar-se a reorientação profissional ou a reorganização do tempo de trabalho. O testemunho que se segue é um bom exemplo de como a SGB altera a vida do seu portador.

pela frente, alimentado pela motivação de reconquistar o que a doença lhe roubou. Já mais estável, iniciou a sua recuperação e hoje em dia, com a ajuda da fisioterapia e da terapia da fala, já consegue sentar-se, caminhar, comer e respirar sozinho. José é um exemplo de força que não desistiu perante a adversidade.

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