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Diabetes (com entrevista

Diabetes

Com uma taxa de incidência a crescer anualmente, diabetes mellitus, é uma doença metabólica crónica que provoca uma elevação permanente da glicemia. Hoje em dia, estima-se que no mundo existam cerca de 400 milhões de pessoas com diabetes, sendo que, em Portugal, 13% da população adulta portuguesa sofre desta patologia.

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Um dos principais nutrientes, necessário e indispensável para o crescimento, desenvolvimento e manutenção das funções vitais dos seres humanos, é a glicose. Este monossacarídeo é utilizado como fonte de energia pelas células. Uma vez presente na corrente sanguínea, o pâncreas liberta insulina, uma hormona que promove a entrada da glicose nas células. Quando os níveis de produção de insulina são diminutos, as células começam a apresentar um défice de glicose, o que causa um aumento na taxa de açúcar no sangue. Com o tempo, este açúcar pode ser o motor de vários problemas de saúde. Existem três tipos de diabetes, sendo o mais comum a diabetes tipo 2, que corresponde a aproximadamente 90% dos casos. Esta patologia é frequentemente diagnosticada em adultos, cujo organismo, embora produza insulina, torna-se resistente à mesma, diminuindo, assim, a sua eficácia. O segundo tipo mais comum é o tipo 1, no qual o pâncreas deixa de produzir insulina. Geralmente, este desenvolve-se em crianças e adolescentes, podendo, contudo, aparecer em adultos ou até mesmo em idosos. Por sua vez, o terceiro tipo corre na sequência de uma gravidez. Um novo ambiente hormonal, associado a um excesso de peso, sedentarismo e alimentação pouco equilibrada, pode provocar a chamada diabetes gestacional. Esta, se não controlada, pode provocar complicações fetais e no parto, sendo que o bebé estará também mais propenso a desenvolver diabetes tipo 2. Apesar de existir uma diferenciação no tipo de diabetes, os sintomas da diabetes tipo 1 são similares aos da tipo 2. Estes são provocados pela quantidade de glicose existente no sangue, isto é, estão associados ao aumento do seu nível, hiperglicemia, ou à sua diminuição, hipoglicemia. Quando um diabético apresenta uma elevada quantidade de açúcar no seu sangue, superior a 140 mg/dL (hiperglicemia), pode ter visão turva, boca seca e sede, transpiração excessiva, cansaço, enjoos, e, em casos mais graves, pode entrar em coma. Se, pelo contrário, os níveis de sacarídeos no sangue forem inferiores a 70mg/dL (hipoglicemia), o doente pode sentir-se fraco, com tonturas, tremores, visão turva, ansiedade e dores de cabeça. Tal como na hiperglicemia, em casos extremos, pode igualmente ficar em coma. A diabetes é desenvolvida devido à redução da produção de insulina, ou até mesmo, à não produção desta hormona. Existem alguns fatores que aumentam a probabilidade de gerar esta doença, entre eles, estão: a hipertensão arterial; a obesidade; a privação de sono; o sedentarismo; e o tabagismo. O histórico familiar, bem como doenças do pâncreas ou doenças endócrinas, são também fatores de risco.

Para garantir um diagnóstico correto, o médico não pode basear-se apenas nos sintomas do doente, sendo também necessário realizar alguns exames. O exame mais simples consiste na análise do valor da glicemia em jejum: se for verificada a presença de dois valores de glicemia em jejum superiores a 126 mg/dL, é diagnosticado diabetes; se o valor for inferior a 126 mg/dL, mas igual ou superior a 100 mg/dL, o diagnóstico é de pré-diabetes. O teste que apresenta mais exatidão no diagnóstico é a prova de tolerância à glicose oral, no qual é ingerido uma bebida com 75 gramas de glicose: caso, duas horas depois, o valor de glicemia seja superior a 200 mg/dL, o diagnóstico é de diabetes; se o valor for superior a 140 mg/dL e inferior a 200 mg/dL, trata-se de pré-diabetes. Outra possibilidade é a realização do exame hemoglobina glicosada, onde é medida a média da glicemia nos últimos dois a três meses: se for igual ou superior a 6,5 %, o diagnóstico é de diabetes. Uma vez que o diabético tipo 1 não produz insulina, necessita de administrar a hormona várias vezes ao dia. Esta deve ser feita a par de uma vigilância correta da glicemia e de uma alimentação saudável e prática de exercício regular. Já o diabético tipo 2 pode controlar os valores da glicose sem ser necessária medicação, ao adotar um estilo de vida saudável, ao restringir alimentos hipercalóricos e ao praticar exercício físico. No entanto, caso não seja suficiente existem medicamentos que facilitam a ação da insulina. Ainda que não exista cura, controlar os níveis de glicose no sangue pode prolongar a vida e evitar certas complicações, como doenças cardíacas e renais. Conhecer e controlar a diabetes, bem como, adotar uma vida saudável, são pontos-chave para a prevenção desta doença. Para melhor demonstrar o que é viver com esta doença, Vera Aleixo, diabética tipo 1, respondeu a algumas perguntas, apresentadas de seguida.

Entrevista

As doenças autoimunes como a Diabetes tipo 1 podem, por vezes, prejudicar a vida do doente, obrigando-o a alterar o seu estilo de vida ou a estar sujeito a tratamentos intensivos. Contudo, o paciente é encorajado a aceitá-la e aprender a viver com a mesma.

Falámos com Vera Aleixo, criadora da página @vera.diabetes na rede social Instagram. No seu perfil, apresenta diversas receitas baixas em hidratos de carbono e em calorias, pensadas para os que, como ela, sofrem de diabetes tipo 1, colecionada num ebook disponível no mesmo local. Além das receitas, mostra-nos também as suas vivências e desmistifica o que é viver com esta doença, com foco na aceitação e em encarar as dificuldades “de frente, com coragem” .

Immunitas: Como é que soube que algo estava errado? Vera Aleixo: Desconfiamos que algo estava errado pela perda repentina de peso, falta de apetite e cansaço extremo a baixo esforço.

I: Como e quando descobriu que tem diabetes? V: Levou algum tempo até se chegar ao diagnóstico. Nessa altura não era muito recorrente a diabetes em crianças/jovens, e alguns sintomas foram desvalorizados e atribuídos à mudança de idade. Foi um período complicado, associado a perda de peso e energia. O diagnóstico foi feito aos meus 14 anos de idade, após ser levada pelos meus pais ao Serviço de Urgência do hospital de residência. Entrei no hospital já com perda de consciência.

I: Como é que a sua vida mudou desde o seu diagnóstico? V: Após o diagnóstico de DM1 tudo muda. Todos os conceitos de viver que conhecemos mudam. Há uma reaprendizagem de tudo. Um novo mundo nos é apresentado e é assustador. Entre insulinas e avaliações capilares. Hiperglicemias e hipoglicemias. Corpos cetónicos. Alimentação. Muda a vida de quem recebe o diagnóstico e de todo o círculo familiar e social.

I: De que forma a convivência com esta doença a afetou a nível psicológico? V: Não considero que me tenha afetado a nível psicológico, mas molda de alguma forma a nossa personalidade. Tornamo-nos pessoas resilientes. Aprendemos que nada é certo todos os dias e que não há dias iguais. Percebemos que de alguma forma precisamos sempre programar tudo, até uma simples ida ao cinema. A nossa cabeça está em constante movimento. Sempre em cálculos. Gerimos muita informação ao mesmo tempo e isso sim, acarreta algum desgaste emocional, que por vezes nos leva a desejar umas férias da DM

I: Realiza algum tratamento? Se sim, qual?

V: Todas as pessoas com DM1 são insulinotratados. Ou seja, fazemos tratamento com insulina. Ninguém sobrevive sem insulina. Quando o nosso pâncreas deixa de a produzir, temos de ser nós a faze-lo. Durante 27 anos, utilizei canetas de insulina, com diversas aplicações diárias. Desde Outubro de 2021, que sou utilizadora de sistema de perfusão subcutânia de insulina (bomba de insulina).

I: Quais são os maiores desafios de viver com uma doença crónica? V: Não ver a doença crónica como uma doença, mas sim como algo que faz parte de nós. Falando da DM é algo permanente, 24h/24H, 7 dias/semana. Não dá para esquecer, para fazer de conta que não existe. Por isso, o maior desafio é aceitar e integra-la na nossa rotina do dia-a-dia, de forma natural.

I: Viver com diabetes tipo 1 afetou a sua carreira? Se sim, como? V: Não. Nunca afetou de forma alguma a minha carreira profissional.

I: O que a levou a criar a sua página de instagram? V: O meu perfil foi criado na fase de aceitação. Onde partilhar experiências fazia-me estar mais focada. Foi sendo uma descoberta. O perfil tem crescido e evoluído, tal como eu, em relação à forma de ver, sentir e viver a diabetes.

I: Partilhe alguns mitos com que já se deparou sobre a diabetes tipo 1. V: Para mim, o mito que mais me marca/marcou é sermos “vistos” como coitadinhos. Como pessoas doentes. O administrar insulina em espaços públicos, infelizmente ainda é muito criticado. As pessoas ficam incomodadas. Não entendem que é uma medicação. Por exemplo, se alguém precisar tomar um comprimido não precisa se esconder, certo? Porque razão para aplicar insulina tem de o fazer?

I: Que conselhos daria a outros com a mesma doença? V: Cada um tem uma maneira muito própria de ver e viver com a diabetes. Cabe-nos a cada um, individualmente, encontrar a forma que lhe seja mais confortável. Pessoalmente, acredito que aceitar e falar abertamente com aqueles que nos rodeiam, sem medos, ajuda no processo. Fazer de conta que não existe nunca trará bons resultados. No fundo é uma doença silenciosa. Valores alterados hoje, trarão sequelas no futuro. Por isso, aconselho sempre a não negligenciarem o cuidado diário. A procurarem informação. A estudar e a entender a própria diabetes. Ela é muito diferente de pessoa para pessoa e não podemos querer ser igual a ninguém.

Immunitas: Obrigada pela sua colaboração!

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