Revista Grupo H Saúde Nº12

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Pessoas & Animais

Histórias com pêlo Rita Dias e Ricardo Silva, voluntários da Casa dos Animais de Lisboa, tiveram a excelente ideia de pedir a escritores e personalidades públicas que batizassem e escrevessem sobre um dos "orfãos" a aguardar adopção. Dando assim maior visibilidade, para o sofrimento e necessidade de um lar, para tantos animais que entristecem todos os dias, vítimas de maus tratos e abandono, nas várias associações que lhes dão abrigo e os protegem, a aguardar por alguém que os adopte com responsabilidade.

Miguel Lobo Antunes Licenciado em Direito. Foi vice-presidente do Instituto Português do Cinema, administrador do Centro Cultural de Belém e da Culturgest. Agraciado com os graus de Comendador da Ordem do Mérito e de grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Actor protagonista do filme de João Nicolau “Technoboss”, premiado no Festival de Sevilha.

Nabucodonosor por Miguel Lobo Antunes Chamo-me Nabucodonosor II. O meu dono era especialista no Antigo Testamento. O nome era maior do que eu, difícil de dizer depressa e desequilibrado nas ordens que me dão: “Busca, Nabucodonosor II!”, “Senta, Nabucodonosor II” de modo que passaram a chamar-me Micas. Não é um nome tão imperial, é mesmo pouco másculo, mas a gente habitua-se a tudo. Não conheço mais nenhum cão Micas. Cadelas, eram duas, noutro bairro em que vivi. O meu dono, um rapaz bem parecido, passeava-me depois do jantar. Aliviava-me e ele metia conversa com umas raparigas que andavam pelo jardim com os meus colegas. Parece que aquelas conversas eram frutuosas para todas as partes envolvidas. Não me punha trela. Achava que bastava a sua autoridade. Uma noite, a jogar às escondidas com a rapaziada, afastei-me do jardim e de repente não sabia onde estava. Ainda ladrei duas

ou três vezes, vieram uns senhores à janela chamar-me nomes e mandar-me calar. Foi assim que começou a minha tristeza. Cheio de frio e de fome, andei semanas à procura do meu dono. Disseram-me que se desinteressou de mim, e fixou-se numa vizinha que tinha um cão de colo. Levou a vizinha e o cão dela lá para casa. Esqueceume. Estava nisto, apareceu uma carrinha e puseram-me no canil. Um cão precisa de pessoas. O dono, ou a dona, chegam a casa e dou ao rabo, salto-lhes para as pernas sem arranhar, ladro baixinho. Estão a fazer o jantar, enrosco-me a um canto e fico a olhá-los. Sentam-se no sofá a ver televisão, deito-me ao pé deles e como sou quentinho e tenho um pelo agradável entretêm-se a fazer-me festas. As crianças gostam de mim, levo-as às costas. Não quer experimentar? n

Ficha 1178/17 Para adoção na Casa dos Animais de Lisboa Mais informações: https://bit.ly/3FDOd2O Telefone da CAL: 21 817 2300 Fotografia ©️Ricardo Duarte Silva

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