13 LITERATURA FEMININA - LUCIRENE FAÇANHA CLARICE LISPECTOR - A Literatura nos humaniza? “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca. ” - Clarice Lispector
A Hora da Estrela, um romance instigante, publicado em 1977, Clarice Lispector, retrata a inexistência de Macabéa, um ser humano vítima de uma sociedade marcada por uma estrutura social capitalista que desumaniza, escraviza e exclui quem dela não consegue fazer parte. Um romance intimista, psicológico, até mesmo autobiográfico. São essas inquietações que levam Clarice a compor seu último romance, carregado de denúncia social e à espera de resposta, por isso inacabado. Mais do que denunciar esse modelo que subjuga, a autora espera por novos rumos. E ela diz: “esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. ” Ora, a realidade retratada por Clarice está mais que presente hoje. Como buscar uma resposta diferente aos questionamentos sobre o futuro numa realidade que nada melhorou em relação ao que foi construída pela autora? Uma sociedade marcada pelo consumo, pela necessidade do ter, uma sociedade que banaliza e relativiza discussões e valores. Macabéa é a miséria que está em cada um e na própria autora. A articulação da palavra, feita pela literatura, exerce a função humanizadora, uma vez que ela contribui para o equilíbrio social. A Literatura é considerada um bem cultural, pois o acesso possibilita o desenvolvimento da educação estética, da sensibilidade, da concentração, dos aspectos cognitivos e linguísticos, do exercício da imaginação, além de favorecer o acesso aos diferentes saberes sobre a cultura de povos e lugares desconhecidos. Desenvolve o pensamento crítico. Diminui o estresse. Aumenta o vocabulário. Expande a criatividade. Melhora a capacidade de argumentação. Ajuda a ter mais empatia. Aprimora a interpretação de texto. Exercita o cérebro. A Literatura é a arte da palavra ou a arte da escrita. Ela não possui função necessariamente utilitária, mas os leitores lhe dão funções sociais. Algumas funções sociais da Literatura são: emocionar, divertir, fazer pensar, mostrar a realidade. Facilitar ao homem compreender – e, assim, emancipar-se – dos dogmas que a sociedade lhe impõe. Isso é possível pela reflexão crítica e pelo questionamento proporcionados pela leitura A crise da humanidade deve-se em parte a uma crise do pensamento. A filosofia contemporânea está muito presa ao passado. O mundo dos intelectuais é, ao mesmo tempo, positivo e negativo. Nunca se precisou tanto deles e, ao mesmo tempo, nunca se viu tanta superficialidade nesse mundo. Podemos pensar num romance de Victor Hugo que se chama Quatrevingt-Treize (alusão ao ano 1793, em que Luís 16 foi decapitado e Robespierre espalhou o terror). Trata-se de um romance que mostra o horror provocado também por intelectuais de diferentes ideologias – um herói é condecorado por bravura e ao mesmo tempo condenado por negligência. Como escritores, não podemos apenas observar o que acontece. Descrever o psicológico dos personagens retrata o dia comum e as necessidades de mudança e de luta. O retrato de vidas cotidianas deve servir como respostas ao que necessitamos na vida real. Macabéa deixa de ser invisível para o mundo na sua morte. Lucirene Façanha é graduada em História, com especialização em Ensino. Participa de diversas antologias/ coletâneas. Destaque em 2019 no XXI Prêmio Ideal Clube de Literatura — Prêmio José Telles e segundo lugar em 2020, com nota máxima, no concurso de contos do Instituto Federal da Paraíba — IFPB. Publicou em 2020 O Homem na Janela. Em 2021, Hecatombe.