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O VOO LIBERTÁRIO DO PAVÃO MISTERIOSO SOBRE AS ANTIGAS LONGARINAS DA PONTE VELHA
Texto de Elcio Cavalcante
Ponte dos Ingleses em Fortaleza
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A música cearense historicamente sempre revelou grandes artistas para o cenário cultural nacional. Uma miríade de talentos em todos os estilos musicais, um universo variado de experts, desde Alberto Nepomuceno, Lauro Maia, Ed Lincoln, Humberto Teixeira, Cego Oliveira, Patativa do Assaré, Evaldo Gouveia, Eleazar de Carvalho, Zé Menezes, passando pela galera do Pessoal do Ceará: Rodger Rogério, Téti, Petrúcio Maia, Fausto Nilo, Stélio Vale, Ricardo Bezerra, Ednardo, Belchior, Fagner, Amelinha entre tantos outros músicos e compositores que não caberiam nessas singelas linhas dessa crônica, pois são infinitos os nomes artísticos que se destacaram e ainda se destacam na Música Popular Brasileira – MPB, ou seja, poderia citar uma infinita relação de nomes que não caberia na folha de papel desse prosaico artigo em homenagem ao poeta, cantor e compositor cearense José Ednardo Soares Costa Sousa, nascido em Fortaleza em 17 de abril de 1945
Nessa escrita, car@s leitor@s da Revista Sarau, vou tentar apresentar e narrar, com muito respeito e admiração, uma síntese da biografia do nosso querido bardo Ednardo, do qual sou fã de carteirinha desde minha adolescência, na década de 1990. Tentarei descrever uma breve narrativa do rico histórico cultural desse artista ímpar e fundamental para a música brasileira contemporânea, pois deixou sua marca indelével no cancioneiro nacional, criando canções inesquecíveis como “Pavão Mysteriozo”, “Ausência”, “Enquanto Engomo as Calças”, “Varal”, “Artigo 26”, “Terral”, “Beira Mar”, “Manga Rosa”, “Varal”, “Passeio Público”, entre tantos outros sucessos musicais nas rádios, em novelas e em filmes, pois suas músicas já foram gravadas por mais de 50 artistas de diferentes estilos, intérpretes de vários países da América Latina, América do Norte, Europa e até da Ásia.
O alencarino Ednardo tem um repertório de mais de 400 músicas e letras, produzidas em mais de 15 discos originais, que incluem trilhas sonoras para a TV Brasileira, Teatro e Cinema Nacional. Sem falar que seu talento também navega nas artes plásticas, haja vista, que é um pintor com várias pinturas registradas em telas. Lembrando que foi um dos primeiros a registrar em gravação a famosa música de Belchior “A Palo Seco”, que fez sucesso estrondoso com ambos os artistas.
No princípio de sua carreira, venceu o Festival Nordestino da Música Brasileira, passando a ter uma maior projeção na cena musical cearense. Fez músicas para programas e novelas da antiga TV Ceará, Canal 2, do Grupo dos Diários Associados, do magnata Assis Chateaubriand. Em 1973, participou do LP (Disco) “Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto Na Viagem – Pessoal do Ceará”, com o casal cearense Rodger Rogério e Teti.
Em meados de 1976, o belíssimo maracatu (Loa) “Pavão Mysterioso”, lançado dois anos antes no disco “O Romance do Pavão Mysteriososo”, virou um sucesso extraordinário, um hit nacional, após ser tema de abertura da telenovela Saramandaia, de autoria do escritor Dias Gomes, da Emissora de Televisão Rede Globo de Comunicação. Neste mesmo ano de 1976, Ednardo lançou o seu segundo álbum, “Berro” em que, embalado pelo sucesso, apresenta uma homenagem à revolucionária liberal republicana Bárbara de Alencar, a primeira presa política do Brasil, com a música “Passeio Público”
No ano seguinte, em 1977, produziu e dirigiu ao filme Cauim, um misto de documentário e ficção sobre o Maracatu Cearense. O nobre poeta Ednardo teve e tem um importante papel na cena cultural brasileira, valorizando a música e os artistas da terra. Em 1979 em plena Ditadura Civil e Militar – (1964 a 1985) organizou um Festival de Música chamado de Massafeira Livre, que aglutinou vários artistas cearenses e nordestinos, especialmente o nosso maior poeta popular sertanejo brasileiro, o genial Patativa do Assaré, no nosso Teatro José de Alencar, onde foi registrado, para a posteridade, esse magnífico trabalho coletivo e altruísta, da mente de um visionário trovador.
Durante sua trajetória artística, Ednardo compôs a trilha sonora da película dirigida por Fábio Barreto, o filme “Luzia Homem”, adaptação do livro do escritor cearense Domingos Olímpio, que alcançou grande sucesso de bilheteria no cinema e a indicação ao prêmio de melhor filme no Festival de Gramado de 1987. O artista interpretou a música "Arraial", fazendo uma pequena participação especial, em que contracena com Claudia Ohana, a atriz protagonista.
E para finalizar o passeio pela história do excelso Ednardo, ele é Pai da atriz global Joana Limaverde, além de ser um artista engajado nas lutas políticas, sociais e culturais de seu tempo. Resistente historicamente a toda forma de autoritarismo, ele não se curva jamais ao totalitarismo fascista. Com certeza, os amantes da música de qualidade lembrarão com satisfação de suas palavras líricas e das belas melodias.