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CULTURA
RETROSPETIVA DE PAULA REGO NA TATE BRITAIN É UMA VITÓRIA “SIMBÓLICA” Uma exposição retrospetiva no museu de arte Tate Britain, em Londres, com mais de 100 obras da portuguesa Paula Rego, representa uma vitória “simbólica” sobre a discriminação que sofreu enquanto mulher e estrangeira, afirmou o filho, Nick Willing.
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Para Willing, esta exposição é importante e significativa, porque não conta apenas a história pessoal da mãe, mas também a história de Portugal e da sociedade em geral.
muito simbólico porque este museu, durante quase toda a vida da minha mãe, era um museu só para artistas homens brancos, mais ou menos, e uma mulher como a minha mãe estava sempre a bater à porta. Nunca a deixaram entrar, porque era uma mulher e era uma estrangeira e, até aos anos mais recentes, isso era uma coisa que não era apreciada em Inglaterra”, disse Nick Willing.
Nascida em Lisboa, em 1935, Paula Rego deixou Portugal ainda adolescente, e fez estudos na Slade School of Art, tornando-se na única artista mulher do grupo da Escola de Londres, distinguindo-se por uma obra fortemente figurativa e literária, considerada incisiva e singular pela crítica de arte.
Segundo o filho de Paula Rego, também curador e cineasta, que esteve envolvido na organização, “para ela é muito importante” esta exposição que abrange 60 anos da sua carreira. Programada para o período 07 de julho e 24 de outubro, esta mostra é o principal acontecimento do museu para o verão e também a maior e mais completa de Paula Rego no Reino Unido, ao incluir pintura, e também colagens, esculturas, desenhos, gravuras e pastéis de grande dimensão. Os trabalhos em exposição vão desde os primeiros, dos anos de 1950, onde são visíveis referências ao regime ditatorial de António Salazar, ao qual se opunha, como “Interrogação”, executado quando tinha 15 anos, até alguns mais recentes nos quais aborda questões sociais, como a série “Aborto”, que produziu
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durante a campanha pela despenalização do procedimento em Portugal. Além do contexto político e social, a obra de Paula Rego também reflete as suas experiências pessoais, nomeadamente da sua infância, da relação intensa com o marido, o artista britânico Victor Willing (1928-1988), que morreu de esclerose múltipla, e da própria luta com a depressão. A pintora portuguesa é reconhecida pela forma como influenciou a arte figurativa britânica e “revolucionou” a forma como as mulheres são representadas, através de telas como a série “Mulher Cão”, dos anos 1990.
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Nessa época, a artista portuguesa conviveu com nomes de destaque da pintura como Francis Bacon, Lucian Freud, Frank Auerbach e David Hockney. O reconhecimento público no Reino Unido chegou com uma exposição na Serpentine Gallery, em 1988, seguida por uma residência na National Gallery, em 1990. Paula Rego foi distinguida em 2010, pela rainha Isabel II, com o grau de Dama Comandante da Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição para as artes, e, em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal, pelo Presidente Jorge Sampaio.