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Retrospetiva de Paula Rego na Tate Britain é uma vitória “simbólica”
CCULTURA
Uma exposição retrospetiva no museu de arte Tate Britain, em Londres, com mais de 100 obras da portuguesa Paula Rego, representa uma vitória “simbólica” sobre a discriminação que sofreu enquanto mulher e estrangeira, afirmou o filho, Nick Willing.
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Émuito simbólico porque este museu, durante quase toda a vida da minha mãe, era um museu só para artistas homens brancos, mais ou menos, e uma mulher como a minha mãe estava sempre a bater à porta. Nunca a deixaram entrar, porque era uma mulher e era uma estrangeira e, até aos anos mais recentes, isso era uma coisa que não era apreciada em Inglaterra”, disse
Nick Willing.
Segundo o filho de Paula Rego, também curador e cineasta, que esteve envolvido na organização, “para ela é muito importante” esta exposição que abrange 60 anos da sua carreira.
Programada para o período 07 de julho e 24 de outubro, esta mostra é o principal acontecimento do museu para o verão e também a maior e mais completa de Paula Rego no Reino Unido, ao incluir pintura, e também colagens, esculturas, desenhos, gravuras e pastéis de grande dimensão.
Os trabalhos em exposição vão desde os primeiros, dos anos de 1950, onde são visíveis referências ao regime ditatorial de António Salazar, ao qual se opunha, como “Interrogação”, executado quando tinha 15 anos, até alguns mais recentes nos quais aborda questões sociais, como a série “Aborto”, que produziu durante a campanha pela despenalização do procedimento em Portugal.
Além do contexto político e social, a obra de Paula Rego também reflete as suas experiências pessoais, nomeadamente da sua infância, da relação intensa com o marido, o artista britânico Victor Willing (1928-1988), que morreu de esclerose múltipla, e da própria luta com a depressão.
A pintora portuguesa é reconhecida pela forma como influenciou a arte figurativa britânica e “revolucionou” a forma como as mulheres são representadas, através de telas como a série “Mulher Cão”, dos anos 1990.
Para Willing, esta exposição é importante e significativa, porque não conta apenas a história pessoal da mãe, mas também a história de Portugal e da sociedade em geral.
Nascida em Lisboa, em 1935, Paula Rego deixou Portugal ainda adolescente, e fez estudos na Slade School of Art, tornando-se na única artista mulher do grupo da Escola de Londres, distinguindo-se por uma obra fortemente figurativa e literária, considerada incisiva e singular pela crítica de arte.
Nessa época, a artista portuguesa conviveu com nomes de destaque da pintura como Francis Bacon, Lucian Freud, Frank Auerbach e David Hockney.
O reconhecimento público no Reino Unido chegou com uma exposição na Serpentine Gallery, em 1988, seguida por uma residência na National Gallery, em 1990.
Paula Rego foi distinguida em 2010, pela rainha Isabel II, com o grau de Dama Comandante da Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição para as artes, e, em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal, pelo Presidente Jorge Sampaio.
OPINIÃO
POBREZA, PANDEMIA E SOLIDARIEDADE NA COMUNIDADE PORTUGUESA EM FRANÇA
DANIEL BASTOS HISTORIADOR
Oimpacto da pandemia que assola o mundo tem agravado e desvendado várias situações de emigrantes portugueses envoltos nas dificuldades do isolamento, das malhas da pobreza, do flagelo do desemprego e da precariedade.
Nos últimos tempos, têm sido conhecidos, por exemplo, no seio da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, rondando um milhão de pessoas, vários casos de emigrantes que viram a pandemia reduzir os seus salários ou ficarem mesmo sem trabalho, não conseguindo por via disso pagar a renda da casa e consequentemente soçobrar perante a ameaça da pobreza.
Ainda no final do mês de junho, o Presidente do Conselho Fiscal da Misericórdia de Paris, Manuel Antunes da Cunha, revelou no decurso das XI Jornadas Sociais da Santa Casa da Misericórdia de Paris, que seis portugueses, entre os 38 e 82 anos, encontram-se entre as 535 pessoas que morreram nas ruas de França em 2020. Segundo o dirigente da instituição de assistência social lusa em Paris, região onde pereceram cinco mendigos portugueses no ano passado, muitas das vezes olvidamos os compatriotas “cujos percursos de vida não foram os desejáveis para eles e, portanto, em situações de pandemia, aqueles que estão no limiar da pobreza ou têm uma vida remediada rapidamente se encontram em situações de precariedade”. No entendimento do mesmo, a “pandemia põe à vista as dificuldades de uma população que está na fronteira do limiar da pobreza. Há um conjunto de pessoas da nova migração para França que vieram em condições difíceis e não têm retaguarda familiar”.
Este cenário de intrincadas dificuldades decorrentes do cenário pandémico tem sido mitigado no seio da comunidade portuguesa em França através de um enorme espírito entreajuda e solidariedade, que tem inclusivamente contribuído decisivamente para a prossecução da missão da instituição de assistência social lusa em Paris. Ainda no ocaso do mês de junho, o coletivo “Todos Juntos”, voltou a mobilizar-se para ajudar a Santa Casa da Misericórdia de Paris numa campanha de recolha de géneros alimentícios, produtos de higiene e outros bens essenciais destinados a apoiar famílias portuguesas carenciadas
Este espírito de entreajuda e solidariedade tem sido igualmente dinamizado ao longo dos últimos anos pela ação benemérita do empresário luso-francês Jean Pina, instituidor da Fundação “Nova Era Jean Pina”, e que tem sido responsável pela promoção de projetos de cariz sociocultural em prol das pessoas mais desfavorecidas ou vulneráveis, como idosos, crianças institucionalizadas e desempregados. Ainda recentemente, a Fundação Nova Era, assinou um contrato de aluguer de um apartamento que albergou um lusodescendente, residente em França, que se encontrava há vários meses a residir num espaço sem as condições mínimas de habitabilidade.
Estes exemplos inspiradores de entreajuda e solidariedade, e muitos outros que estão a ser dinamizados no seio da comunidade portuguesa em França, assim como um pouco por toda a diáspora lusa, têm sido fundamentais para humanizar os efeitos adversos da pandemia. E em pleno agosto, mês do regresso dos emigrantes ao país, infelizmente ainda sobre o espectro do malfadado coronavírus, dão mais sentido à afamada citação de Clarence Darrow: “O homem que luta por outro é melhor do que aquele que luta por si próprio”.
ESTES EXEMPLOS INSPIRADORES DE ENTREAJUDA E SOLIDARIEDADE (...), TÊM SIDO FUNDAMENTAIS PARA HUMANIZAR OS EFEITOS ADVERSOS DA PANDEMIA
A FECHAR
TIAGO RODRIGUES NOMEADO DIRETOR DO FESTIVAL DE AVIGNON

TIAGO RODRIGUES, autor, encenador, ator e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, será o próximo diretor do festival de artes de Avignon. O festival de artes performativas, que começou em 1947 e que teve já mais de 70 edições, é uma das montras anuais de criação e exibição teatral mais importantes e antigas do continente europeu. Tiago Rodrigues será o primeiro diretor não francófono da história do Festival d’Avignon.
A notícia foi dada oficialmente esta segunda-feira, em conferência de imprensa em que participou a ministra da Cultura de França, Roselyne Bachelot-Narquin, refere o jornal Le Monde. Na conferência de imprensa, que decorreu no Palácio dos Papas, em Avignon, Tiago Rodrigues mostrou-se feliz com a nomeação: “Estou muito feliz por ser nomeado como próximo diretor do Festival d’Avignon. É o festival mais belo do mundo. É uma aventura a que vou consagrar todas as minhas energias, tentando continuar esta manifestação artística e de democratização do teatro”.
PORTUGAL E CABO VERDE PROMOVEM TARRAFAL A PATRIMÓNIO MUNDIAL

CABO VERDE E PORTUGAL assinaram um protocolo para proteção e conservação do património cultural, com destaque para o antigo Campo de Concentração do Tarrafal, visando a candidatura a património mundial.
O memorando de entendimento foi assinado pelos ministros da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, e da Cultura de Portugal, Graça Fonseca, no âmbito de uma visita oficial de dois dias que a governante portuguesa efetuou ao arquipélago, e aconteceu no antigo Campo de Concentração do Tarrafal, no norte da ilha de Santiago.
Com o documento, os dois países pretendem cooperar na proteção, conservação, salvaguarda e divulgação do património cultural, mas, também, promover a mobilidade de técnicos, preparação de exposições, nomeadamente nos domínios do património material (móvel e imóvel), do património imaterial e dos museus, com especial destaque para o Museu da Resistência do Campo do Tarrafal e para o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade.
A ministra da Cultura portuguesa, Graça Fonseca, acrescentou que o protocolo vai ajudar na elaboração da candidatura do antigo campo de concentração do Tarrafal a património material da Humanidade, feita em colaboração com o trabalho que o Governo português está a realizar na Fortaleza de Peniche.
Por sua vez, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, disse que, depois da reabilitação concluída há quatro meses, o país dá início a uma nova etapa de preservação e valorização da memória coletiva e “nunca esteve tão perto” da entrega da candidatura do antigo campo de concentração do Tarrafal a património da Humanidade.
Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.








