Se o teatro experimental do negro foi um marco histórico para o teatro negro em sua faceta engajada politicamente, é em 2005, com a realização do I Fórum Nacional de Performance Negra, organizado pelo Bando de Teatro Olodum e pela Cia dos Comuns, que o teatro negro no Brasil assume com maior ênfase sua cara de movimento político-artístico, e não apenas iniciativas atomizadas. A partir do I Fórum Nacional de Performance Negra, estabeleceu-se um maior contato entre grupos negros de teatro e dança das cinco regiões do Brasil. Representantes desses grupos passaram então, de modo concertado, a propor medidas para o estabelecimento de políticas públicas para as artes cênicas negras, que vinham e ainda vêm sendo invisibilizadas nos planos de cultura promovidos pelo Estado brasileiro.
Por conta do Fórum Nacional de Performance Negra, algumas conquistas aconteceram no âmbito das políticas públicas. Conjuntamente, muitas experiências e trocas artísticas foram feitas em mostras de teatro negro que foram reavivadas ou criadas, como o Encontro de arte de matriz africana, promovido pelo Grupo Caixa Preta, de Porto Alegre, e as mostras Olonadé e o A cena tá preta, realizadas respectivamente pela Cia dos Comuns, no Rio de Janeiro, e pelo Bando de Teatro Olodum, em Salvador. E os movimentos do teatro negro não param por aí! Desde 2020 foi criada a Pele Negra - Escola de Teatro(s) Preto(s). Podemos dizer que se está inaugurando um movimento do teatro negro em âmbito acadêmico. A Pele Negra foi se formando de modo um tanto difuso, durante a pandemia, quase sem querer. Novamente, explico: existia a ideia, por parte de diversos artistas, de se criar uma escola de teatro negro. Em diferentes partes do país, de um modo ou de outro, cursos e oficinas sempre aconteceram. O traço distintivo dessa escola de teatro negro que alguns artistas e acadêmicos negros de Salvador estavam agora pensando em formar era que ela se daria no espaço acadêmico, ou paralelamente a ele. Isso porque o perfil sócio racial das universidades brasileiras, sobretudo nas universidades públicas, sofreu sensível mudança com a adoção de políticas de ação afirmativa no ensino superior desde 2003.