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QUEM TEM MEDO DO TEATRO NEGRO?, GUSTAVO MELO CERQUEIRA

P O R T U G U E S E F L A G S H I P P R O G R A M E N T R E V I S T A P R O J E T O B R

A S I L A U S T I N

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VOCÊ TERIA ALGUM RECADO FINAL PARA OS PAIS DE CRIANÇAS OU ADOLESCENTES QUE TÊM A LÍNGUA PORTUGUESA COMO LÍNGUA DE HERANÇA?

Como mãe de filhos que tem a língua portuguesa como língua de herança meu recado é nunca desista de falar em português com sua criança, mesmo quando responderem em inglês. Incentive o uso do português de maneira divertida e sempre conecte a língua de herança com o emocional. Aqui em casa sempre digo que português é a língua do coração e tenho muitos apelidos carinhosos para meus filhos em português. Também é essencial ter apoio pois não é fácil criar filho bilíngue. Quando meus filhos eram pequenos criei um grupo de mães brasileiras com encontros semanais. Eles participam do programa do Projeto Brasil desde os 3 anos de idade e sempre fiz questão de participar de eventos culturais para que apropriassem da cultura. Hoje meu filho mais velho, de 17 anos, continua fazendo aulas semanais, mas agora porque quer continuar a desenvolver a escrita em português. Acabou de fazer um estágio de um mês no Brasil e sente-se orgulhoso em também ser brasileiro. Outro dia comentou que ama ter a língua portuguesa como parte dele. Claro que nem sempre isso foi verdade pois sempre há fases de resistência, mas fique firme em sua jornada pois agora que meu filho é quase adulto posso ver com clareza o quanto vale a pena todo esforço e dedicação.

DIRETAMENTE DO BRASIL

Quem tem medo do teatro negro?

Gustavo Melo Cerqueira é babalorixá, ator e performer. Graduado em Direito pela Universidade Federal da Bahia, é também Mestre de Artes e PhD em Estudos Africanos e da Diáspora Africana pela Universidade do Texas em Austin, Estados Unidos. Atuou com a Cia. Teatro dos Novos e o Bando de Teatro Olodum, em Salvador, e com a Cia. dos Comuns no Rio de Janeiro. Desenvolve pesquisas relacionadas ao corpo negro nas artes da cena e da presença a partir do cruzamento de teorias e métodos dos Estudos Negros, Estudos da Performance, Sociologia e Teatro, e tem publicado sobre o tema em revistas de circulação nacional e internacional. Atualmente, é um dos coordenadores da Pele Negra – Escola de Teatro(s) Preto(s).

Quando a pandemia passar, se você tiver a oportunidade de assistir, no Brasil, a espetáculos de teatro negro, vá sem medo!

O teatro negro resiste a definições. Como bem disse a antropóloga Christine Douxami, dependendo do critério que se adote, o teatro negro no Brasil pode ser definido como aquele que é escrito, dirigido e atuado por pessoas negras, ou aquele que tem como sua temática a experiência de vida da pessoa negra, ou aquele que tem a cultura negra como a ambiência estética em que se desenrolam as mais variadas estórias, desde um conto escrito por crianças de uma dada vizinhança até grandes clássicos de Shakespeare. São muitas as vias possíveis para a prática, apreensão, caracterização, análise e teorização sobre o que é teatro negro.

Contudo, não é por ter tão amplas possibilidades que uma ideia de teatro negro não faça sentido. Explico: pensar que o teatro negro possa ser tanta coisa, também pode nos levar a pensar que ele seja nada, ou que sua própria existência, enquanto linguagem artística, seja questionável. Mas não é bem assim. Muito embora uma definição de teatro negro seja algo aparentemente elusivo, existe uma pano de fundo que dá coerência e unidades às mais variadas definições: o teatro negro compreende as artes e manifestações da cena e da presença em que o corpo negro ocupa um lugar de destaque com vistas à transformação social no que tange o combate às desigualdades sociais que ainda afetam as populações afrodescendentes no mundo, e em particular a população negra no Brasil.

A dimensão política do teatro negro no Brasil, de combate ao racismo antinegro e formas correlatas de opressão – lgbtfobia e machismo, por exemplo –através das artes da cena e da presença, é, no meu entender, o principal fator que congrega diferentes modos de prática e estudo do teatro negro no brasil. De certo modo, o modo algo escorregadio da definição de teatro negro é um traço positivo uma vez que não cria um rígido protocolo sobre com o deve ser o teatro negro. Em vez disso, mantém abertas diversas possibilidades de sua prática, desde o teatro negro com maior ênfase no êxito econômico e encenação de aspectos pitorescos da população negra, como foi no teatro negro da Cia Negra de Revistas, fundada por Du Chocolat na década de 1920); a explicitude dos objetivos políticos e de integração social como foi no caso do Teatro Experimental do Negro, fundado por de Abdias do Nascimento na década de 1940); a ênfase na dimensão negra da cultura brasileira como fez Solano Trindade quando fundou o Teatro Popular Brasileiro, na década de 1950, o Grupo Ação, fundado na década de 1960 por Milton Santos, os trabalhos experimentais de Zenaide Zen a partir do fim da década de 1970, a Cia Bruzundanga, fundada por Zózimo Bulbul, na década de 1980, além dos trabalhos de grupos como o Bando de teatro Olorum, fundado por Márcio Meirelles, na década de 1990, e a Cia dos Comuns, fundada por Hilton Cobra, e o grupo Os Crespos na primeira década do século XXI. Isso para citar apenas alguns poucos exemplos, de grupos e artistas que se tornaram notórios, mas muitos outros existiram e existem.

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