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. OFICINA DE BRIGADEIRO COM A LÍVIA DO BONJOUR BRIGADEIROS, ANDREANA MARCHI

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O ano acadêmico de 2020/2021 nos trouxe desafios mas também aprendizados únicos. O Bate-Papo Virtual é a prova disso! Andreana Marchi

Virtual Professional Speaker Series Portuguese Flagship Program

Por Andreana Marchi

A série "Professional Speakers" é uma iniciativa em parceria com a Universidade do Texas em Austin, Universidade da Geórgia e da Universidade Federal de São João del Rei - as 3 universidades participantes do Portuguese Flagship Program (PFP). Essa série de encontros com empresas e seus ex-estagiários foi pensada para alunos, ex-alunos e futuros alunos do PFP. No outono de 2020, nós tivemos várias conversas profissionais com empresas brasileiras e também com exalunos do Portuguese Flagship que tiveram a oportunidade de estagiar na 7bi, IBM, River Global, Imagem Corporativa, Projeto TAMAR e Bureau Veritas.

Segundo Alejandro, ex-aluno do PFP da Universidade da Geórgia, o estágio que ele fez na Imagem Corporativa teve um impacto muito importante na sua vida profissional:

Pra mim, que estava estudando Relações Internacionais, foi uma boa experiência porque eu fazia muita coisa na área de comunicação, da mídia e da imprensa. (...) Isso me deu um olhar diferente sobre os consumidores e a mídia.

Alejandro Espinosa Pinilla, Program Associate at Freedom House (Washington, D.C.)

Oficina de Brigadeiro com a Lívia do Bonjour Brigadeiros

Nada mais brasileiro que brigadeiro, não é mesmo? E que tal celebrar o Dia de São Valentim fazendo esse docinho brasileiro?

Por Andreana Marchi

Para celebrar a data, a nossa coordenadora (Lindsey Jamieson) teve a ideia de convidar a Livia Orlandin Salinas, empreendedora do "Bonjour Brigadeiro" , para falar com os alunos do Portuguese Flagship Program da UT Austin sobre essa iguaria brasileira sempre presente nas festas e queridíssimo de adultos e crianças.

Além de aprender mais sobre o brigadeiro, os alunos tiveram a oportunidade de colocar a mão na massa: eles receberam um kit de brigadeiro feito pela Livia e puderam enrolar os docinhos em casa. Com mais de 30 participantes, a oficina virtual foi um sucesso. Obrigada pela oficina, Lindsey e Livia!

TEXTOS DOS ESTUDANTES

Conseguindo as melhores sobremesas através da motivação

P o r A n a L i n a r e s

Meu nome é Ana Linares. Sou estudante de administração de empresas e finanças na Universidade do Texas em Austin. Gosto do comportamento organizacional, especificamente no nível individual, para analisar por que as pessoas tomam certas decisões com base em suas personalidades e na situação. O objetivo deste artigo não é dar uma fórmula pronta de motivação, mas sim apontar dicas de como você pode aperfeiçoar a sua própria receita. Vou guiá-los por uma situação hipotética em que avaliaremos as motivações das pessoas e veremos como podemos fazer mudanças nos comportamentos delas. Antes de começar, o que é a motivação? Nossa definição é a vontade de atingir uma meta ou certo desempenho que te direciona ao seu objetivo. Agora, vamos lá com a motivação em ação!

Imagine que eu quero organizar uma festa e tem duas pessoas, vou chamá-las Matheus e Elisa. Para uma festa, precisamos de sobremesas (pelo menos na minha festa). Eu peço para que ambos façam qualquer sobremesa que eles gostariam de comer. Digo ao Matheus que eu vou pagar uma determinada quantidade por cada sobremesa. Também falo com Elisa, mas eu lhe digo que ela vai comer a sobremesa conosco e eu vou pagar o custo de todos os ingredientes. O que vai acontecer?

A resposta vem da motivação deles. A motivação de Matheus é extrínseca, ou seja, acontece quando fatores externos são a razão para fazer uma tarefa, como receber uma recompensa ou evitar uma punição, nesse caso, sua recompensa é o dinheiro. Para ele, seria melhor comprar os ingredientes mais baratos e fazer as sobremesas em tamanho reduzido para poder aumentar seu lucro. Já a Elisa não tem a pressão de tentar ganhar dinheiro, ela só tem que fazer algo que ela vai poder curtir depois comigo. Portanto, a motivação dela é intrínseca, acontece quando você realmente tem vontade de fazer algo.

Você sempre encontrará esses dois tipos de motivação em sua vida, mas algum deles é melhor que o outro? Acho que você já adivinhou a resposta: a melhor motivação é a intrínseca e por isso vamos preferir as sobremesas da Elisa, mas você não deve perder toda a esperança com a motivação extrínseca. Outra coisa em que devemos pensar é um problema que ocorre com frequência: desalinhamento entre comportamento e recompensas. Isto acontece quando você recompensa A esperando que aconteça B.

Em nosso exemplo, queremos boas sobremesas, mas estamos recompensando Matheus pela quantidade em vez da qualidade. Também estamos fazendo ele pagar pelos ingredientes, o que o faz pensar no lucro e funciona como um incentivo para aumentar a quantidade. Se pagarmos por todos os custos e definirmos uma forma de medir a qualidade junto à qualidade para recompensá-lo, devemos esperar sobremesas melhores.

Isso é o que esperamos e há uma maneira de calcular quanto esforço deveríamos esperar com a teoria da expectativa. Esta teoria diz que o esforço dessas ações que você daria para uma tarefa depende da expectativa, instrumentalidade e valência. Voltando ao nosso exemplo da perspectiva de Matheus, vamos ver os significados e aplicá-los à situação.

Quanto mais " sim " a cada pergunta você recebe, mais esforço você deve esperar de alguém para atingir o objetivo. Com essas novas mudanças, podemos ver que Matheus vai se esforçar para fazer boas sobremesas. E para Elisa, vamos olhar apenas para a valência. A recompensa dela é que vai aproveitar a sobremesa conosco, mas isso é suficiente? Pode ser muito trabalhoso fazer uma sobremesa para um monte de gente (porque vamos fingir que eu conheço um monte de gente para fazer uma grande festa) apenas para ter recompensa dela comendo um pedaço, assim como todos os outros na festa farão. Então a resposta à pergunta da valência seria um NÃO e o esforço dela diminuiria. O motivo pelo qual Elisa se sente assim é devido à justiça distributiva ou à falta dela. Normalmente esperamos e queremos justiça. Na teoria da equidade, avaliamos isso com nossas contribuições e resultados em comparação a uma referência. A referência para Elisa seriam as outras pessoas presentes na festa que não precisam trazer nada. Todos na festa vão curtir o resultado das sobremesas, mas Elisa seria a única que teria contribuído. Se você acha que está se esforçando mais do que outra pessoa para o mesmo resultado, você diminuirá o nível de esforço. Agora talvez eu preferisse as sobremesas de Matheus porque de acordo com a teoria da equidade, Elisa faria menos esforço. O L H A S Ó ! | 1 5

Poderia continuar com esse exemplo e fazer alterações no cenário para mudar quem faria a melhor sobremesa, o exemplo realmente não tem um fim e isso pode ser ótimo! Isso significa que você também pode continuar fazendo mudanças em sua própria situação para obter um melhor resultado em relação a um objetivo. Mais uma vez, lamento que não haja instruções sobre como realmente fazer uma sobremesa gostosa, mas o ingrediente secreto (não tão secreto) aqui é a motivação. Agora você deve ter uma ideia melhor sobre como examinar os motivos das pessoas por trás de uma meta e como certas mudanças podem influenciar comportamentos desejados e eu acho isso gostoso.

Referências:

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Kerr, S. (1995). An academy classic on the folly of rewarding a, while hoping for b. Academy of Management Perspectives, 9(1), 7-14. doi:10.5465/ame.1995.9503133466

Martins Serras, P. (n.d.). A influência dos sistemas de recompensas sobre a satisfação no trabalho. Retrieved April 19, 2021, from https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/5322/1/A%20influ%C3%AAncia%20dos%20sistemas %20de%20recompensas %20sobre%20a%20satisfa%C3%A7%C3%A3o%20no%20trabalho.pdf

Santos, N., Suelen Hofrimann no 19/04/2021 a partir do 11:46 Que bom que gostou, & * , N. (2021, January 11). Teoria da expectativa de Vroom - como alinhar MOTIVAÇÃO E RESULTADO. Retrieved May 03, 2021, from https://www.holmesdoc.com.br/teoria-da-expectativa-de-vroom/

O Brasil já mudou a sua vida?

P o r R e b e c a L o z a n o

Rebeca Lozano é uma estudante do quarto ano de Economia com certificação em Português na Universidade do Texas em Austin. Ela teve o prazer de visitar o Brasil no início de 2020 e espera voltar no futuro. No Brasil, ela encontrou um amor profundo por biscoitos de goiabada, suco de maracujá e o autêntico açaí.

Coming to UT I never imagined I’d embark on the challenge of learning a new language, much less decide to study in another country throughout. I was born in Texas and raised by Mexican parents, so the mixture of these two cultures was all I ever knew. That being said, the Portuguese department at UT and the Portuguese Flagship Program gave me the ability to step out and explore the world through a whole different cultural lens. After learning Portuguese throughout my sophomore year, under the wings of Professor Andreana Marchi, I had accumulated an intensified desire to visit Brazil and explore the culture myself. Upon arriving in Brazil, it was clear to me that what started as a hobby had opened many doors to potential paths and experiences that always seemed farfetched until then. Chegando à UT, nunca imaginei embarcar no desafio de aprender um novo idioma, muito menos decidir estudar em outro país. Eu nasci no Texas e fui criada por pais mexicanos, então a mistura dessas duas culturas era tudo que eu conhecia. Dito isto, o Departamento de Português da Universidade do Texas e o Portuguese Flagship Program deram-me a capacidade de sair e explorar o mundo através de uma lente cultural totalmente diferente. Depois de aprender português ao longo do meu segundo ano, sob as asas da Professora Andreana Marchi, acumulei um desejo intensificado de visitar o Brasil e explorar a cultura por conta própria. Ao chegar ao Brasil, ficou claro para mim que o que começou como um passatempo havia aberto muitas portas para possíveis caminhos e experiências que sempre pareceram rebuscadas até então.

The streets in Sao Joao del Rei were filled with color and smiling faces. Their stores were filled with individuals always willing to lend a hand to an apparent tourist. Each encounter with a local was always a learning experience, and while in Brazil, it seemed like learning was infinite. I celebrated my first Carnaval amongst our new friends and this celebration, too, seemed infinite. The crowds cheered, danced, drank, and laughed as if there was no tomorrow, and I was quick to immerse myself in the celebration. I enjoyed the most marvelous dishes — however, salgados were my favorite. Pão de queijo, coxinhas, pastéis, enroladinhos, seemed very far from scarce. In fact, one of my favorite memories was stopping by Greens on the walk home after a good, happy, and long day. As ruas de São João del Rei estavam cheias de rostos coloridos e sorridentes. Suas lojas estavam repletas de pessoas sempre dispostas a ajudar um turista aparente. Cada encontro com uma morador local sempre foi uma experiência de aprendizado e, enquanto estava no Brasil, parecia que o fato de aprender era infinito. Comemorei meu primeiro carnaval com nossos novos amigos e essa comemoração também, parecia infinita. A multidão aplaudia, dançava, bebia e ria como se não houvesse amanhã, e eu rapidamente entrei na celebração. Eu experimentei os pratos mais maravilhosos - no entanto, os salgados eram os meus favoritos. Pão de queijo, coxinhas, pastéis, enroladinhos, pareciam muito longe de acabar. Na verdade, uma das minhas memórias favoritas foi passar pelo Greens na caminhada para casa depois de um dia bom, feliz e longo.

UFSJ was also remarkable. As someone who had never experienced a classroom setting outside of the United States, I was intrigued by the encouraged casual yet educational conversations between professors and students. This was rare to encounter in the U.S., and I felt inclined to chat away. It was never a doubt that professors at UFSJ worked in the best interest of their students, sharing their overarching knowledge and encouraging a collaborative learning environment. It made me hopeful that a learning environment as such is possible in my home country.

In mid-March, a month and a half after arriving, the virus had reached and spread across South America. Being oblivious to the very new virus, I was slightly skeptical we would be asked to return home, not knowing what was headed our way. Few days later, we were asked to return to the United States, on an approximately 4 day notice — our now Brazilian hearts sank. It was the place that had welcomed us with open arms, where my 12 other colleagues and I wanted to stay. The following days were filled with more smiles, more laughter, and topped with the beautiful view of a Minas Gerais cachoeira that I then knew I’d soon return to.

A UFSJ também foi marcante. Como alguém que nunca tinha experimentado um ambiente de sala de aula fora dos Estados Unidos, fiquei intrigada com as conversas casuais e informais, mas educacionais, encorajadas entre professores e alunos. Isso era raro de se encontrar nos EUA, e me senti inclinada a bater um papo. Nunca houve dúvida de que os professores da UFSJ trabalhavam no melhor interesse de seus alunos, compartilhando seus conhecimentos abrangentes e incentivando um ambiente de aprendizagem colaborativo. Fiquei esperançosa de que um ambiente de aprendizado como esse seja possível no meu país. Em meados de março, um mês e meio após a chegada, o vírus havia atingido e se espalhado pela América do Sul. Por estar alheia ao novo vírus, eu estava ligeiramente cética de que seríamos obrigados a voltar para casa, sem saber o que nos esperava nos meses seguintes. Poucos dias depois, disseram-nos para retornar aos Estados Unidos, com aproximadamente 4 dias de antecedência - nosso, agora, coração brasileiro ficou dilacerado. Foi o lugar que nos recebeu de braços abertos, onde eu e meus outros 12 colegas queríamos ficar. Os dias seguintes foram cheios dos últimos sorrisos, risadas e culminados com a bela vista de uma cachoeira mineira a qual eu sabia que logo voltaria.

Lula e Wałęsa:

Uma comparação entre dois líderes sindicais que se tornaram presidentes de seus países

P o r N i c k U m b r e w i c z

Nick Umbrewicz é estudante do Portuguese Flagship Program da Universidade do Texas em Austin com especialização em relações internacionais e português. Como polonês, se interessa por assuntos que relacionam Europa e Brasil, como traz neste artigo. Além disso, gosta muito de música brasileira e se interessa pelos efeitos sociopolíticos da música de artistas como Chico Buarque.

INTRODUÇÃO

Por que escrever sobre líderes sindicais que se tornaram presidentes? Parece estranho, mas o Brasil e a Polônia têm em comum duas figuras políticas importantes que passaram de sindicalistas a presidentes. Quem eram esses líderes? No Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva foi líder Lech de Wa um łęs s a indic lider ato met ou o mo alúrgi vimen co to a si n n tes dic d al e d a o ss S umir a olidari pr ed e a sid de ê ( n c c h ia de amad 2 o 003 Soli a 201 darno 1. Na P ść em o p lô ol n o ia, nês) e se tornou presidente em 1990, depois da queda da União Soviética e do comunismo no Leste Europeu. Ambos são de origem humilde, envolveram-se em sindicatos e opuseram-se à ditadura durante os anos oitenta. Assim sendo, por causa das suas origens e trajetórias em comum e porq Lula ue go e Wał ve ęs rn a. ar E am mb q or u a ase am ao bos m c e o smo meç t a empo ssem , s mui uas tos car estudi reiras osos com j o á lí fiz de er re a s m si co ndi mp cai a s ra e ções mais en ta tre rde presidentes, há muitas diferenças entre eles e o impacto das suas políticas em seus países. Neste artigo, apresento uma comparação entre as trajetórias de Lula e de Wałęsa––de sindicalistas a presidentes––dentro do contexto do ambiente político do Brasil e da Polônia. Para realizar esta análise, este artigo se divide em três partes: os diferentes ambientes políticos, o tempo como líderes sindicais e a trajetória como políticos.

DO OS DIFER BRASIL D E E NTES LULA AMBI E DA ENTES POLÔ P NI O A LÍT DE ICOS WAŁĘSA

O c o q u e m p a m u i t r a ç ã a o s p e e n t s s r e o a s L u l n a e e g l i W g a e n c i łę s a a m é q e u m e u m e l e a s o p e r a r a m e m c o n t e x t o s p o l í t i c o s m u i t o s d i f e r e n t e s , a t é q u a s e o p o s t o s . D u r a n t e o s a n o s o i t e n t a , q u a n d o o s d o i s c o m e ç a r a m a c h e g a r à f a m a n a c i o n a l , a s s i t u a ç õ e s p o l í t i c a s n o B r a s i l e n a P o l ô n i a e r a m c o m p l e t a m e n t e d i s t i n t a s .

O Brasil no final dos anos setenta e começo dos anos oitenta estava experienciando o fim da ditadura militar de 1964–1985. Antes desse período, as forças militares tiveram influência considerável na política do Brasil, mas neste ano, aconteceu um golpe que transferiu explicitamente o poder ao exército brasileiro. O regime militar citou o aumento das políticas socialistas e comunistas na América Latina como razão para tomar o poder do governo de João Goulart, considerado de esquerda. Então, o golpe iniciou um período de regime militar no Brasil em que a democracia foi suspensa e o papel do presidente foi ocupado pelos generais militares. Durante aquela época, o regime militar também pretendia industrializar e ocidentalizar a economia, especialmente durante o “ milagre econômico brasileiro ” de 1969-1973. Desta forma, a ditadura militar brasileira veio com a implementação forçada do capitalismo e o aumento da produção econômica, às custas da violação dos direitos humanos. Entretanto, a Polônia ao mesmo tempo estava sob o domínio da União Soviética que era caracterizado pelo comunismo e, por isso, pela negação do capitalismo ao seu povo. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Polônia era um estado de partido único, com muita influência das ideias comunistas da União Soviética. Especificamente, o povo polonês passou a mostrar insatisfação e se opor ao governo comunista nos anos setenta por várias razões. Em 1970, o governo comunista polonês resolveu implementar aumentos massivos de preço dos bens básicos, incluindo alimentos. Adicionalmente, as políticas dos anos subsequentes resultaram em uma situação econômica instável que, nos anos oitenta, causou a formação de grupos de oposição, como organizações sindicais e grupos estudantis. Então, ao contrário do Brasil, a economia de mercado livre foi associada com liberdade para o povo polonês por causa desse sistema econômico e político unilateral. Assim, como o capitalismo foi imposto ao povo brasileiro, o comunismo, de forma similar, foi imposto ao povo polonês.

O envolvimento de Lula no sindicato foi resultado do golpe militar de 1964. Em 1969, Lula chegou à liderança sindical e em 1975 foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, região metropolitana de São Paulo. Desta forma, Lula começou a envolver-se na política. Durante o final dos anos setenta, liderou protestos e greves, ficando mais conhecido entre a oposição. Depois de uns anos, Lula e outros líderes dissidentes decidiram formar o Partido dos Trabalhadores em fevereiro de 1980, marcando o início d presidente sindical, formas de dissidênc como um eletricista a carreira política do “filho do Brasil'' . Ao mesmo tempo que Lul Lech Wałęsa já organizava e participava de greves, protestos e ia contra o governo comunista da Polônia. Wałęsa tinha trabalh de estaleiro no porto de Gdańsk antes de se tornar o rosto do a er out ado a ras movimento do Solidariedade. Em 1980, o ambiente político na Polônia era preocupante pelo aumen Gdańs to k, do p onde reço Wał dos ęsa produto assumiu s u a m li a ment posi íci çã o o s. d Is e t l o id in er cit an o ç u a. uma Seu g s re es v f e or n ç o o es s n ta es lei sa ro gr Lê ev n e in, em possibilitaram o nascimento do Solidariedade, uma junção entre sindicato e partido político que, mais tarde, teria um grande efeito na queda da União Soviética. ELES COMO POLÍTICOS E PRESIDENTES

Lula A formação do Partido dos Trabalhadores, em 1980, marcou o início da carreira política de Lula. Criado em oposição ao regime militar de direita, o Partido dos Trabalhadores começou a ganhar, pouco a pouco, influência no Brasil. Nos anos oitenta, Lula e os outros membros do Partido dos Trabalhadores apoiaram movimentos políticos como a fundação da Central Única dos Trabalhadores e uma campanha política que promoveu eleições livres no fim do regime militar chamada de Diretas Já. Em 1982, Lula competiu por uma posição no governo estadual de São Paulo, mas não venceu. A sorte veio em 1986, quando Lula foi eleito ao Congresso brasileiro pelo Partido dos Trabalhadores. Depois disso, participou de três campanhas presidenciais como representante do Partido dos Trabalhadores em 1989, 1994 e 1998, finalmente sendo eleito em 2002 e 2006. Presidente por dois mandatos, ele implementou mudanças muito importantes para o povo brasileiro, recebendo aprovação de 90% até sua saída da presidência. As políticas de Lula estavam focadas em grande parte nos problemas sociais. Os programas sociais de sua administração, como Fome Zero e Bolsa Família, pretendiam apoiar o povo mais pobre no Brasil e igualar a distribuição de riqueza em um país que, hoje em dia, possui muita desigualdade econômica. Apesar de suas promessas antes da eleição, Lula, que nos anos mais jovens se chamava de socialista, continuou muitas das políticas econômicas neoliberais de seu antecessor, o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Embora ele adotasse muito da economia da administração anterior, a economia brasileira do Presidente Lula conseguiu receber mais fluxos de capital estrangeiro, atrair os Jogos Olímpicos ao Brasil em 2016 e permitir tirar da pobreza mais de 20 milhões de brasileiros, entre outras realizações. Por causa dessa atenção ao povo brasileiro, Lula manteve popularidade durante sua presidência, mas é crucial entendermos seu lado menos palatável.

Desde que saiu da presidência, vieram à luz algumas denúncias de envolvimentos em corrupção. O maior desses escândalos foi a Operação Lava Jato. Em 2014, essa investigação começou a revelar o maior evento da corrupção na história do Brasil que envolvia a Petrobras, uma empresa brasileira de petróleo de economia mista. A elite da Petrobras e de algumas empresas de construção organizaram um acordo em que a Petrobras pagava intencionalmente em excesso para projetos de construção, permitindo que o dinheiro excedente enchesse os bolsos dessa elite executiva. O envolvimento de uns políticos foi alegado, alguns com conexões ao Partido dos Trabalhadores. Como resultado, a opinião pública desaprovou o ex-presidente Lula e a cena política no Brasil foi deixada instável, com muitas pessoas perdendo a confiança no Partido dos Trabalhadores. Então, enquanto Lula ganhou popularidade rapidamente durante sua presidência, ele diminuiu em popularidade anos depois como resultado do escândalo e das acusações de corrupção.

Wałęsa O tempo de Lech Wałęsa como sindicalista teve uma relação direta com o seu tempo como pol em Uni ao ítico. Solidariedade, Gdańsk, passou a se dos, o partido comun negociar o Acordo G o sindicato formado como resultado das greve r um partido político oposto ao Partido Polonê ista na Polônia. Ao fim de agosto de 1980, Wał dańsk, que permitiu a existência do Solidaried s s ę a de do sa de agosto de 1980 s Trabalhadores foi fundamental como um ator político. No próximo ano, esse sindicato e movimento político híbrido ganharam quase 10 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população polonesa naquela época. Como resultado, as tensões políticas aumentaram entre uma população polonesa dividida entre Solidariedade e comunismo. Finalmente, em dezembro de 1981, a lei marcial foi declarada na Wo Polôni jciech a J po aru r z ca els us ki a p da ara p c ressão onsegu q ir ue re a so U lv nião er a S si oviética es tuação pol tav ític a a c n o o loca seu ndo n país. o líder p Wałęsa, olon junt ê o s a outr dos fina os líd anos lment er oi e es do tenta em 19 Solidariedade, foi preso , Wałęsa esteve envolvido 89, a Polônia declarou-se e n u o So os m m es lidariedade foi proibido. Durante o r ovimentos ilegais do Solidariedade, tado democrático com Wałęsa foi el e e e sto ito presidente no ano seguinte.

Como presidente, Lech Wałęsa não era tão popular quanto Lula. Durante sua presidência, guiou a Polônia através de uma transição à economia capitalista, eleições parlamentares livres e uma mudança na política externa da Polônia. A longo prazo, essa transição tem sido relativamente próspera. Desde então, a Polônia fez parte da União Europeia e distanciou-se de seu passado comunista. Embora a Polônia tenha tido sucesso após sua libertação da União Soviética, as coisas não estavam indo tão bem no início. Depois da queda instabi do comun lidade ao ismo, novo o So gove lida rno riedade democr começou ático sob a W ter ałęs te a. ns A ões lém int de erna sua s a que rrog causa ância, vam muita individualismo e natureza argumentativa, essas tensões resultaram em apenas um mandato para o herói do Solidariedade. Uma conside foi discutivel democrático ração mente direto importante mais difícil depois do para para regim essa comp Wałęsa qu e comunist a e a raç pa na ão é ra Lu Polô que a la. Co nia, W trajetória mo primei ałęsa não r política tamb o presidente teve o tempo ém e a e d stab epoi il s id d a e de qu que ase teve vinte seu ano c s o s n e trap m a ar di t t e a bras dura ileir mili a. ta O r n mandat o Brasil. o pre Mas si e denc mbor ia a l de Wał Lul ęsa a a v s eio sumisse a presidência durante uma transição difícil, é importante lembrar suas decepções como presidente. CONCLUSÃO

Tud e tr o aj isso etór mo ias stra dess q e u s e, d mes ois h mo om que ens s suas ão p perspec arecidas t . ivas polí Embora ticas Lula fos da sem dif Silva e e L rent ech es, Wa as łęs h a istórias estivessem lutando contra regimes com ideologias completamente diferentes, há uma conexão entre ambos nas suas ideias e nos efeitos políticos que tiveram em seus países, positivos ou negativos. É inegável a importância dos papéis políticos que eles tiveram e ainda continuam a ter.

Bibliografia Silva, Cristiane Sabino, e Paulo César Boni. "A trajetória imagética de Lula: de líder sindical a presidente da República " . Discursos Fotográficos. 2005: 89-113. http://dx.doi.org/10.5433/1984-7939.2005v1n1p89. Romo, Rafael. Lula da Silva: Metal worker, union leader and president of Brazil. CNN. 17 março 2016. https://www.cnn.com/2016/03/17/world/lula-da-silva-profile. Teixeira, João José Ataíde Amaral Marques. A crise da Polónia em 1980-81: antecedentes e repercussões. Dissertação. 2008. http://hdl.handle.net/10071/1110. Wiśniewski, Maciek. Walesa e Lula: o fim das comparações. Carta Maior. 4 outubro 2011. https://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FInternacional%2FWalesa-e-Lula-o-fimdas-comparacoes%2F6%2F17620.

A CRISE VENEZUELANA NO BRASIL

Por Gabriela Nelson

Meu nome é Gabriela Nelson, sou estudante de relações internacionais e estudos globais na Universidade do Texas em Austin. Estou no segundo ano da faculdade, mas é meu primeiro ano neste campus. Estou aprendendo português e espero fazer intercâmbio no Brasil. Estou interessada na imigração no Brasil e quero conhecer como as leis brasileiras de imigração afetam o povo imigrando ao país.

O Brasil é um país habitado por diferentes imigrantes de origens variadas. No entanto, mesmo sendo um país que já recebeu, e constantemente continua a receber imigrantes de diferentes países, as condições migratórias no Brasil são precárias e muitas vezes desumanas. O fluxo intenso de venezuelanos nos últimos anos se tornou um problema estadual e nacional e acarretou a muitos imigrantes uma situação de vulnerabilidade e instabilidade.

A crise humanitária na Venezuela começou em 2013, depois que Nicolás Maduro assumiu a presidência. Durante este tempo, o país estava sofrendo uma inflação que excedia mais de 800% ao ano. O colapso socioeconômico veio como resultado da instabilidade política, a falta de serviços básicos para a sobrevivência e uma alta taxa de desemprego. Na esperança de escapar do autoritarismo do presidente Nicolás Maduro, os venezuelanos começaram a imigrar para o Brasil. De acordo com a UNICEF, entre 2015 e 2019, mais de 178 mil solicitações de refúgio e residência temporária foram registradas; a maioria dessas solicitações foram de pessoas que entraram pelo estado de Roraima. Em meio à crise venezuelana, muitos imigrantes fugindo do país entraram pela fronteira norte no estado de Roraima. A maioria desses imigrantes se concentram nos municípios de Pacaraima e Boa Vista. Esse intenso fluxo deixou muitos deles sem serviços públicos como educação, saúde, e outras necessidades básicas. Por não terem o básico para sobreviver, os imigrantes venezuelanos tiveram que recorrer a esmolas, improvisando barracas, mulheres seprostituindo e alguns até praticando crimes para sobreviver. Adicionalmente, os exilados que entraram no Brasil trouxeram um surto de sarampo ao passar pela fronteira. Sem o mínimo de serviços públicos básicos como acesso à saúde e medicação , o surto de sarampo acabou expondo os venezuelanos e o povo brasileiro ao alto risco de propagação e contração desta e várias outras doenças.

Embora a situação em Roraima esteja longe de ser resolvida, medidas têm sido tomadas pela ONU, as Forças Armadas brasileiras e o governo brasileiro para combater os efeitos da crise na Venezuela.

Embora a situação em Roraima esteja longe de ser resolvida, medidas têm sido tomadas pela ONU, as Forças Armadas brasileiras e o governo brasileiro para combater os efeitos da crise na Venezuela. A Agência da ONU para Refugiados e as Forças Armadas estabeleceram onze abrigos em Pacaraima e dois em Boa Vista, capital do estado. Os abrigos foram criados para acomodar mais de seis mil e trezentos indivíduos residentes no estado. Dos seis mil e trezentos venezuelanos encontrados nestes abrigos, dois mil e quinhentos são crianças e adolescentes. As autoridades locais preveem que somente na capital de Boa Vista existem cerca de quinhentos indivíduos menores de 18 anos de idade morando na rua. Em resposta à grave situação, o governo brasileiro adotou quatro áreas de atuação. Essas medidas incluem o fortalecimento da assistência humanitária, realocação de imigrantes para outros estados, integração de imigrantes na sociedade e na força de trabalho e ajuda aos imigrantes que desejam retornar voluntariamente à Venezuela.

Outro grande problema associado ao sistema de imigração no Brasil, que não é exclusivo aos venezuelanos, é o perigo de ser imigrante no país, determinados imigrantes não são bem-vindos. A maioria dos refugiados chegam ao país com necessidades de assistência humanitária, mas a maioria das necessidades não são obtidas junto ao governo. Além de não ter acesso à alimentação e saúde, os imigrantes são expostos a diversos tipos de violência. De acordo com dados da UNICEF de 2019, observações de campo compartilhados em 2019 indicam que cerca de 195 mil venezuelanos, cerca de 175 mil estão em situação de vulnerabilidade. Por meio de várias plataformas, a UNICEF trabalha para envolver e conscientizar as pessoas em discussões sobre xenofobia e discriminação contra venezuelanos e outros imigrantes no Brasil, na esperança de estabelecer relações mais saudáveis entre brasileiros e imigrantes. Apesar das medidas tomadas pelo governo federal e agências humanitárias, ainda há muito a se fazer antes que a crise de imigração no Brasil seja resolvida. Milhares de imigrantes continuam sem acesso ao básico e vivem em meio à crise de violência e problemas de saúde. As respostas à crise são insuficientes, e com o fluxo contínuo de venezuelanos ao país, as políticas de ajuda aos imigrantes não conseguem acompanhar as demandas dessa população crescente. O governo federal e estadual devem trabalhar em conjunto para tentar achar uma solução com o propósito de ajudar os imigrantes que vivem no Brasil. A crise humanitária deveria ser levada mais a sério pelos governantes do Brasil.

Referências:

Sousa, R. (n.d.). Imigração de venezuelanos para o Brasil. Retrieved May 03, 2021, from https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/imigrac ao-venezuelanos-para-brasil.htm

Crise migratória venezuelana no Brasil. (n.d.). Retrieved May 03, 2021, from https://www.unicef.org/brazil/crise-migratoriavenezuelana-no-brasil

https://www.unifor.br/documents/392178/3101527/GT7 +Arielle+Carvalho.pdf/7bc7be14-76b5-1bec-7770892c6f80b2b6

Alves, T. (n.d.). A (nova) política migratória brasileira: avanços e desafios no contexto da crise humanitária venezuelana. Retrieved May 03, 2021, from https://revistas.ufpr.br/conjgloblal/article/view/72550

‘Cuidar da Vida é Nossa Benção’: A História e Importância das Benzedeiras no Brasil

Por Rachel Jovert

Rachel Jovert é uma estudante universitária na Universidade da Georgia. Sua área de concentração é relações internacionais e estudos da América Latina. Ela faz parte do programa Flagship na UGA e adora aprender português. Ela já estudou em Florianópolis e por um tempinho em São João del Rei e espera um dia voltar para o Brasil.

Hoje em dia, quase 40 por cento dos remédios modernos vêm de plantas. Ou seja, apesar de todos os avanços na ciência moderna e na tecnologia, ainda somos dependentes à natureza como uma fonte medicinal (Calixto 1). No modo geral, não poderíamos viver sem essas fontes naturais. Então, por que geralmente pensamos na medicina em formas exclusivas: medicina moderna, ou medicina tradicional? Muitas vezes, a medicina tradicional é considerada primitiva e não valorizada, especialmente nos espaços urbanos e entre as gerações mais novas. Também com décadas e decadas das pesquisas médicas e conquistas tecnológicas, nós começamos a valorizar a medicina moderna (ou medicina alopática) mais e as práticas da medicina tradicional menos. No modo geral, nós nos esquecemos da origem natural das curas e dos alívios, em busca das respostas bem embrulhadas e científicas. Minha proposta é que precisamos aprender sobre os dois lados da medicina e que é ainda mais importante buscar maneiras para combinar os sucessos destas duas filosofias.

O Brasil é um dos países mais biodiversos no mundo e um centro das pesquisas medicinais e ecológicas (Calixto 1). Ainda mais, o país tem uma história longa da medicina tradicional que continua sendo uma grande parte da cultura e pesquisa até hoje em dia. De fato, existem vários grupos e comunidades que praticam medicina tradicional e ainda lutam para o reconhecimento e a valorização das suas práticas. Dentro desses grupos, as benzedeiras representam uma riqueza enorme do conhecimento medicinal no Brasil. Elas têm um papel importante para muitas comunidades e nos últimos anos, conseguiram mais reconhecimento e respeito na sociedade. Por isso, um estudo das benzedeiras no Brasil pode informarnos não só sobre as curas e ervas medicinais, mas também sobre o valor de conhecer várias práticas diferentes da saúde e sua relevância à saúde pública hoje em dia.

"Benzedeira" , por Shila Joaquim

Como muitos aspectos da cultura brasileira, a medicina tradicional reflete o sincretismo entre os povos indígenas, africanos, e europeus e seus conhecimentos da medicina e saúde (Zank e Hanazaki 2). A história da medicina tradicional e das benzedeiras no Brasil começou bem antes da colonização pelas sociedades indígenas. Para muitas comunidades indígenas, os pajés são curandeiros e guias espirituais, que fazem remédios naturais e se comunicam com os espíritos e deuses. Usando remédios e orações, o pajé cura doenças físicas e espirituais e é um líder muito importante na comunidade; ele “enfrenta espíritos malignos enviados pelos inimigos” e protege todos os membros da maldade (Projeto Povo da Floresta).

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Por isso, a questão da saúde nessas comunidades combina o físico e o espiritual, e também estende a definição de bem-estar à saúde da comunidade e da natureza. Um outro aspecto crucial da medicina tradicional é o uso das plantas nativas; os povos indígenas e seu conhecimento da terra ainda tem uma grande influência nas benzedeiras e as ervas que elas usam. A grande influência da cultura afro-brasileira na medicina das benzedeiras também é evidente no conhecimento das plantas medicinais, especialmente para o uso ritualístico (Zank e Hanazaki 11). Junto com a religião católica, as benzedeiras utilizam essas tradições ricas da medicina, reza, e ritual para benzer e curar seus pacientes.

Apesar de ter uma história muito longa e rica da medicina tradicional no Brasil, as benzedeiras enfrentaram ameaças às suas práticas, devido ao preconceito social e religioso. Como muitas curandeiras de várias culturas do mundo, as benzedeiras são retratadas como fontes da bruxaria, do charlatanismo, e da maldade. A falta do respeito para as tradições indígenas e afro-brasileiras, as mulheres nas posições de poder, e o preconceito sobre o lado do catolicismo místico combinam para criar as condições sociais ao julgamento e perseguição das benzedeiras. Ainda mais, a construção social da modernidade, civilização, e progresso impediram que a sociedade, no modo geral, aceitasse a medicina tradicional como uma disciplina científica, válida, e efetiva.

Uma outra ameaça é a questão da urbanização. A medicina tradicional requer ervas e plantas especiais, que geralmente são plantadas e cultivadas nas áreas rurais. Com urbanização, o acesso à medicina moderna aumenta pelas clínicas, farmácias e hospitais. Embora a construção dessa infraestrutura médica seja importante, ela cria mais dependência na medicina alopática como uma opção melhor e menos dependência da natureza como uma fonte da saúde. A urbanização da medicina também representa o enorme preconceito da cultura do interior do Brasil e perpetua os estereótipos que o interior é menos civilizado. Desta maneira, a medicina tradicional é ligada ao interior (primitivo) e a medicina alopática é ligada à cidade (moderna). Esse fenômeno social afeta profundamente como a sociedade vê as benzedeiras e a medicina tradicional. Por causa de todas essas fontes do preconceito, as benzedeiras no Brasil precisam lutar para o reconhecimento dos seus direitos e práticas, apesar de ter uma legacia que existia bem antes da medicina alopática.

Porém, nos últimos anos, alguns grupos das benzedeiras já conseguiram o reconhecimento e respeito que elas merecem. O documentário Benzedeiras-ofício tradicional foca na história de um grupo das benzedeiras no Paraná que começaram a fazer um mapeamento social das curandeiras locais e estabeleceram encontros regionais das benzedeiras em 2008. Esses encontros são espaços de trocar conhecimentos, experiências, e ideias. Em 2015, a primeira lei dos direitos das benzedeiras no Brasil foi aprovada em Rebouças, Paraná; ela garante o respeito dos direitos das benzedeiras, reconhece sua importância à saúde pública, e livra o acesso à coleção das plantas medicinais (Benzedeiras).

Embora essa lei fosse aprovada em somente uma cidade, grupos das benzedeiras em outras regiões estão organizando encontros e trazendo conhecimento da medicina tradicional para suas comunidades. Em 2014, Maria Bezerra descobriu seu desejo de tornar-se uma benzedeira, e fundou a Escola das Benzedeiras em Brasília. Ela é neta de benzedores da Bahia e começou o grupo para manter as tradições das benzedeiras e oferecer aulas e serviços de saúde gratuitos (Cunha). Um outro exemplo do mapeamento social das benzedeiras foi criado pela socióloga Tade-Ane de Amorim em Florianópolis. Ela fez uma mapa que mostra as localizações de 16 benzedeiras e benzedores da ilha, trazendo mais conhecimento público às tradições locais e dando “visibilidade” às benzedeiras e suas práticas (NSC TV).

Por último, a presença forte das benzedeiras na cultura brasileira e até nos espaços urbanos mostra que a medicina tradicional ainda tem um impacto muito grande na sociedade. A luta dos grupos como as benzedeiras do Paraná serve para dizer que a medicina tradicional merece valor e lugar na saúde pública do Brasil. Existe um espaço muito interessante entre a medicina tradicional e a medicina alopática que precisa ser pesquisada e estudada mais. Benzedeiras de cada região utilizam plantas e estratégias diferentes para melhorar a saúde das suas comunidades, dependendo da influência cultural e da biodiversidade local. Muitas comunidades já combinam práticas da medicina tradicional e medicina alopática para determinar as melhores estratégias para curar doenças. Com mais respeito e valorização para medicina tradicional, podemos aumentar nosso conhecimento da natureza e do poder da espiritualidade na medicina. Embora a medicina tradicional tenha sido ignorada e criticada por muitos anos, ela deve ser “incorporada e valorizada para garantir os benefícios melhores da saúde para comunidades” (Zank e Hanazaki 13). Não podemos separar nossa saúde mental, espiritual, e física, porque tudo é conectado. Ainda mais, nossa saúde depende criticamente da natureza e da nossa relação com o meio ambiente. Por isso, o estudo da medicina tradicional e as benzedeiras no Brasil oferece uma cura para os problemas que a medicina alopática não sempre pode resolver sozinha.

Benzedeiras de Floripa: Tradição que resiste ao tempo. Produced by Balanço Geral Florianópolis. YouTube, www.youtube.com/watch?v=JvTmhlly_ 0. Accessed 22 Apr. 2019.

Benzedeiras - ofício tradicional. Directed by Lia Marchi, 2015. YouTube, www.youtube.com/watch?v=eBPegB3IIU0.

Calixto, João B. "The role of natural products in modern drug discovery. " Anais da Academia Brasileira de Ciências, vol. 91, no. 3, 2019, doi:10.1590/00013765201920190105.

Cunha, Carolina. "Reconhecidas por lei, benzedeiras modernas resgatam tradição e atendem pelo celular. " UOL, 1 July 2017, noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimasnoticias/2017/07/01/reconhecidas-por-lei-benzedeiras-modernas-resgatamtradicao-e-rezam-pelo-celular.htm.

Mattos, Litza. "As benzedeiras estão voltando. " O Tempo, 29 Apr. 2018, www.otempo.com.br/interessa/bizarrices/garoto-quase-engole-pedaco-de-dedohumano-apos-pedir-esfirra-por-delivery-1.2359473.

Nogueira, Natania. "As Benzedeiras: Cultura e Religiosidade. " História Hoje, historiahoje.com/as-benzedeiras-cultura-e-religiosidade/.

NSC TV. "Florianópolis ganha um mapa com as benzedeiras e benzedores da cidade. " G1, 28 Jan. 2019, g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2019/01/28/florianopolisganha-um-mapa-com-as-benzedeiras-e-benzedores-da-cidade.ghtml.

"O pajé, que índio ele é?" Projeto Povo da Floresta, 8 Nov. 2017, povodafloresta.com.br/o-paje-que-indio-ele-e/.

"O que é quebrante, rendidura e cobreiro? Conheça o dicionário básico da benzedeiras. " Gshow, O Globo, 29 Feb. 2020, gshow.globo.com/RPC/EstudioC/Extras-Estudio-C/noticia/o-que-e-quebrante-rendidura-e-cobreiro-conheca-odicionario-basico-da-benzedeiras.ghtml.

Zank, Sofia, and Natalia Hanazaki. "The coexistence of traditional medicine and biomedicine: A study with local health experts in two Brazilian regions. " PLOS One, 17 Apr. 2017, doi:10.1371/journal.pone.0174731.

Trocas: Línguas maternas entre pontes acadêmicas

PorMarianaSabino

Mariana é instrutora de português e doutoranda no Departamento de Espanhol e Português na UT Austin. Além de estudar a história Romaní e a produção cultural sobre ciganos na América Latina, pesquisa sobre outras populações diaspóricas e narrativas de mulheres migrantes.

Nós chorávamos enquando ela contava a história de Ágatha, uma menina negra de oito anos que estava indo para escola de inglês quando sua vida foi interrompida por tiros da polícia militar do Rio de Janeiro. Ela e Ágatha buscavam aprender uma outra língua para expandir suas oportunidades. Quando nós falávamos, eu já não estava presa na estrutura da gramática, as palavras perdiam importância, e sentia que nós nos conectávamos afetivamente. A barreira da língua ficou inexistente. Subitamente, aprender uma segunda língua já não era uma obrigação, mas um prazer. Essa percepção foi igual tanto para mim quanto para a Adriana. Pela primeira vez ocupávamos um lugar-comum com outras mulheres que estão à procura de um espaço para se desenvolver academicamente através da aprendizagem duma outra língua.

Adriana e eu nos conhecemos quando procurava alguém com quem praticar meu português. Ela era uma estudante de intercâmbio na UT que também tinha interesse em melhorar seu inglês. Nós praticávamos toda semana e assim começamos a partilhar nossas histórias de vida e interesses acadêmicos. Quando Adriana voltou ao Brasil para continuar seus estudos na Faculdade de Educação na Universidade de São Paulo (USP), decidimos convidar outras mulheres a participarem num programa de intercâmbio linguístico centrado na ideia de construir pontes acadêmicas entre mulheres que tem potencial de fazer uma conexão afetiva e afinidades de histórias de vida para conduzir uma trajetória acadêmica mais potente. Durante este último semestre, conectamos quatro estudantes afro-brasileiras da USP aprendendo inglês com quatro estudantes da UT aprendendo português.

O objetivo do Trocas, nosso projeto, é reunir estudantes por meio de videoconferências para terem conversas casuais em sessões semanais de uma hora. O programa beneficia mulheres que desejam praticar uma língua estrangeira por meio virtual, gratuito, sem enfrentar situações de assédio online. Também favorece estudantes de origens marginalizadas que, de outra forma, não conseguiriam praticar sua segunda língua. Nossas únicas regras são: (1) devem ser responsáveis por suas próprias aprendizagens, (2) reunirem-se uma hora por semana, (3) e respeitarem o tempo da outra pessoa sendo pontuais nas reuniões.

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