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TUTORIAS ONLINE: UM NOVO DESAFIO PROFISSIONAL, LUCAS RODRIGUES

Abordamos os mais variados assuntos que foram desde vocabulário formal e informal até sotaques dentro do Brasil, passando por expressões idiomáticas, política, saúde, economia, educação, direitos civis, ufa! A lista é longa porém extremamente útil, interessante e relevante ao aprendizado de língua e cultura pela ótica de um estrangeiro que se predispõe a estudar e aprender um novo idioma e tudo o que vem atrelado a ele que pode contribuir para seu aperfeiçoamento linguístico e cultural.

Finalmente, fechamos as tutorias de 2020 com chave de ouro, a sensação de dever cumprido e a leveza no coração de ter conhecido várias pessoas interessantes, cheias de informações fantásticas sobre suas origens e sobre suas vidas nos Estados Unidos e com o brilho nos olhos de estarem se comunicando numa língua estrangeira com um dos seus nativos que lhes compreendia perfeitamente tal era a harmonia estabelecida desde o primeiro dia com elas e como demonstravam interesse pelo Brasil e a vontade de virem aqui um dia.

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Saudade é a melhor definição para o que sinto agora enquanto escrevo este texto sobre as tutorias de 2020 e, em tempo, aproveito para convidar você, que está lendo, a vir visitar meu País que “ só” tem quase 9 milhões de quilômetros quadrados, 211 milhões de habitantes, gente do mundo inteiro que escolheu viver aqui – o que nos torna ainda mais interessantes aos visitantes – clima super agradável ao longo do ano inteiro e muita, muita alegria e honra por você se interessar em vir aqui!

Curiosidade: palavras em português

Por Andreana Marchi

TUTORIAS ONLINE: UM NOVO DESAFIO PROFISSIONAL

P o r L u c a s R o d r i g u e s

Lucas Rodrigues é graduado em Letras Vernáculas e Letras com uma Língua Estrangeira Moderna (Português como Língua Estrangeira) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além disso, também é Mestre em Língua e Cultura pela UFBA e ministra aulas de português para estrangeiros há 6 anos.

À esquerda: Austin, Texas. À direita: o Farol da Barra em Salvador, Bahia.

Em meados do segundo semestre de 2020, fui surpreendido por um novo desafio profissional: participar de tutorias on-line do programa de português para estrangeiros da Universidade do Texas (UT). Tal convite foi possibilitado em razão da parceira da referida Universidade e o Instituto Clara Ramos Brasil, doravante ICR Brasil. A ideia dessa iniciativa é estreitar laços entre os professores e alunos do programa Flagship, antes do período de imersão no Brasil, melhorando o aprendizado deles em português através de encontros uma vez por semana.

Para o desenvolvimento das atividades, as tutorias foram planejadas para funcionar da seguinte forma: os tutores do ICR Brasil mediam sessões individuais ou em grupo (com no máximo 3 estudantes por tutoria) com duração de 50 minutos, semanalmente. Os alunos são alocados a depender da disponibilidade do tutor e dos horários que os estudantes têm disponíveis para o encontro. Nas sessões em grupo, os estudantes possuem um momento específico para abordar seus assuntos de interesse, logo, cada discente tem em média 10 a 20 minutos para discorrer sobre um tópico e receber orientações por parte do tutor nos aspectos necessários. Assim, os estudantes podem tirar dúvidas, receber feedbacks sobre os pontos que já desenvolvem bem ou que precisam melhorar, além de estarem mantendo contato com a língua portuguesa, sendo instruídos por professores que atuam há anos no campo de ensino de português como língua estrangeira.

Ademais, nas sessões de tutorias, os alunos recebem um Pass-off, material com diversos temas para discussão em português, com o intuito de motivá-los em suas falas. O Pass-off é dividido por nível de proficiência (iniciante, intermediário, avançado e superior) e em três tópicos, a saber: Oral, Gramática e Sociocultural. Contudo é importante ressaltar que se o(a) aluno(a) quiser falar sobre assuntos que não constam no material, ele(a) poderá abordar o tema de sua motivação durante os encontros. Além disso, esse tipo estrutura possibilita que estudantes de diferentes níveis possam estar em uma mesma tutoria, uma vez que, em seu momento de fala, eles podem praticar, podendo também ter trocas de experiências com seu colega de sessão.

À esquerda: Pelourinho (Salvador). À direita: Professor Lucas Rodrigues.

Esse formato de trabalho, desenvolvido nas tutorias, se torna bastante interessante, pois explora o autoconhecimento e a autonomia do aluno em seu processo de aprendizagem. Tais aspectos podem ser evidenciados quando é necessário o estudante trazer tópicos, pesquisas, relatos, descrição entre outros para desenvolver em aula com seu tutor. Esse tipo de prática os estimula a conhecerem suas necessidades gramaticais, vocabular ou mesmo cultural sobre a língua alvo. Por consequência do autoconhecimento, os estudantes tendem a desenvolver sua autonomia, buscando insumos e estratégias de aprendizagem. Outrossim, é importante destacar que o desenvolvimento de tutorias com professores que são/estão do/no Brasil possibilita ao estudante conhecer mais sobre a realidade do país, as expressões linguísticas com maior evidência no momento ou mesmo ampliar o contato com a língua através de dicas como jornais, podcasts, rádios, vídeos e séries do Brasil.

Ao longo das semanas de curso, é possível notar a evolução dos alunos com as dicas que passamos para eles e por conta do momento de prática oral, proporcionado pelas tutorias. Para exemplificar, uma das gratas surpresas aconteceu comigo em uma sessão, quando uma aluna conseguiu conversar em português por 50 minutos sem ter interferência da língua materna dela, utilizando o vocabulário adequado para o contexto e compreendendo todas as perguntas que eram feitas. Ao final do encontro, isso foi enfatizado para ela, que ficou muito feliz com a evolução que teve. Além desse exemplo, é possível perceber, entre os estudantes, a nítida melhora na redução da interferência da língua materna, naturalização da fala, trocas de experiências com assuntos da atualidade e maior segurança vocabular.

É importante enfatizar que exemplos, como o apresentado no parágrafo anterior, só acontecem devido a uma estrutura de curso muito bem planejada e que tem em uma das suas partes a prática do aluno como foco, caso das tutorias. No programa da Universidade do Texas, além de terem aulas regulares com professores da Instituição, os estudantes fazem tutorias on-line com professores brasileiros, podem participar de palestras e passam pela experiência de imersão, geralmente a partir do mês de junho no Brasil.

Todo esse cuidado, com um planejamento minucioso, é muito bom não só para os alunos, por terem diferentes oportunidades de estar em contato com a língua portuguesa, como também para os tutores, pois, com o contato on-line, podem ter um plano de trabalho mais aprofundado baseado nos anseios e necessidades apresentadas pelos estudantes durante esse período pré-imersão no Brasil. Logo, essa continuidade apresentada no planejamento da Universidade do Texas possibilita que o aluno tenha a melhor experiência possível no aprendizado desse novo idioma.

AUSTIN - BRASIL: COMUNIDADE BRASILEIRA

A CAPOEIRA NOS ESTADOS UNIDOS

Por Washington Luiz Lima Porto (Contra Mestre Esquilo Preto)

Entusiasta das artes marciais desde a infância, Washington Luiz Lima Porto (Esquilo) desenvolveu um interesse pela Capoeira ainda adolescente quando começou a estudar com Mestre Jelon Vieira em Salvador (Bahia, Brasil). Aluno do Mestre Jelon e membro do Grupo Capoeira Brasil desde 1994, Esquilo dedicou sua vida à Capoeira e ao ensino desta arte marcial afro-brasileira única.

Atualmente ele está ensinando Capoeira em Austin, TX. Foi artista visitante do Ilê Bahia de San Antonio, (TX), onde deu aulas de Capoeira para todas as idades e níveis de habilidade. Também organizou e dirigiu vários eventos internacionais anuais de Capoeira e fez várias oficinas de Capoeira em Nova Iorque (NY), Denver (CO), Fresno (CA), San Juan (Porto Rico), Salvador (Brasil), Saint Louis (MO); San Antonio e Houston (TX), Filadélfia (PA), Bethel e Anchorage (AK), Gainesville (FL), Hartford (CT) e Trenton (NJ).

Contra Mestre Esquilo Preto (centro da foto) tocando atabaque, um instrumento musical utilizado na Capoeira.

Além de ser uma luta, a Capoeira é também arte, dança, música e cultura popular genuinamente nascida no Brasil. Essa arte afro-brasileira foi criada pelos africanos quando foram trazidos escravizados para o Brasil. Em terras brasileiras a Capoeira foi desenvolvendo e tomando forma de luta e a camuflou com a dança e a música. Apesar de toda sua beleza e benefícios, você sabia que a prática da Capoeira já foi vista como crime?

Quem vê crianças, jovens e adultos jogando Capoeira nas escolas, universidades ou fazendo apresentações em lugares como a Casa Branca na capital americana, ou em outros lugares considerados de alto prestígio, nem pode imaginar que essa conhecida forma de expressão das raízes negras era mal vista e considerada perigosa. Pois é, durante muito tempo a Capoeira foi proibida no Brasil e até posta no Código Penal Brasileiro de 1890, com pena de 2 a 6 meses de prisão pela sua prática ou qualquer manifestação dela.

A trajetória da Capoeira nos Estados Unidos aconteceu no início dos anos 70, mas antes disso teve introduções e uma delas com a vinda do grupo folclórico Viva Bahia no comando da professora Emília Biancardi Ferreira que fez sua primeira turnê em 1972, começando no Madison Square Garden na cidade de Nova Iorque, não só divulgando a Capoeira como também a cultura Afro-Brasileira.

Mas para ser mais exato a semente da Capoeira foi plantada em abril de 1975 com a presença do Mestres Jelon Vieira e Loremil Machado e foi fortalecida com a presença do Mestre Acordeon em 1979. Mestres Jelon e Loremil também participaram do elenco do Viva Bahia, onde viajaram para Europa, Ásia, África e Oriente Médio em 1974 juntamente com Mestre João Grande entre outros. Após a longa turnê resolveram ficar na Europa e logo foram convidados para participar de um show na cidade de Nova Iorque. Encantados com a magia da cidade, Mestres Jelon e Loremil Machado decidiram ficar na cidade de Nova Iorque se tornando pioneiros da Capoeira nos Estados Unidos. Em 1978 o Mestre Acordeon se estabeleceu em São Francisco, Califórnia.

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