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MINHA PÁTRIA,MINHA LÍNGUA, LUCIANA SAVIOLI

Durante muitos anos existiu um imenso espaço entre uma escola de Capoeira e outra nos Estados Unidos. Com os Mestres Jelon e Loremil na Costa Leste (na cidade de Nova Iorque) e Mestre Acordeon na costa Oeste (Califórnia), esse grande espaço só começou a ser preenchido no início da década 80 com a chegada de novos capoeiristas. A Capoeira explodiu nos EUA: praticamente é possível encontrar escolas de capoeira em quase todos os estados americanos. E ela está presente praticamente em todas as grandes cidades dos Estados Unidos.

A Capoeira também marcou presença na Casa Branca em Washington e em Hollywood, tendo uma participação parcial ou até mesmo sendo a principal protagonista de filmes. Porém é impossível falar da Capoeira nos Estados Unidos sem citar nome do Mestre Jelon Vieira, natural de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, que em Nova Iorque fundou a “The Capoeira Foundation, Inc” e tendo sob a sua alçada a companhia de dança Afro Contemporâneo o DanceBrazil, onde dançarinos brasileiros utilizam a Capoeira como base para a performance coreográfica do Mestre Jelon.

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Texas foi um dos primeiros estados a preencher este grande espaço entre as costas leste e oeste, tendo o Mestre Jelon Vieira como grande responsável por esse elo, fundando a primeira organização sem fins lucrativos chamada Ile Bahia de San Antonio (casa da Bahia). E o Ile Bahia teve um grande papel na difusão da cultura afrobrasileira no Texas, promovendo eventos culturais, aulas de samba, Capoeira e percussão nas comunidades mais carentes de San Antonio (TX).

Durante o sucesso do grupo pelos Estados Unidos, e depois de ter sido reconhecido no exterior com a Capoeira, Mestre Jelon foi responsável também por apresentar a arte Capoeira para diversos artistas de Hollywood, além de coreografar cenas de filmes e trabalhar com artistas como Eddie Murphy, Brooke Shields e Timothy Dalton. Além disso, ele passou a lecionar em Duke, Yale, NYU, University of Florida dentre outras super conceituadas universidades americanas. E a riqueza é tão grande dessa belíssima arte que, no ano de 2014, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) declarou que a Capoeira é um Patrimônio Imaterial da Humanidade.

MINHA PÁTRIA,MINHA LÍNGUA

Por Luciana Savioli

Luciana Savioli é brasileira e vive em Austin desde 2015. Filha de pai gramático, herdou dele a paixão pela palavra e pela Língua Portuguesa. Formou-se em Letras e em Jornalismo em São Paulo, onde sempre trabalhou na área de Comunicação Corporativa de grandes empresas. Hoje é editora freelancer e contribui com textos para diversas marcas e veículos no Brasil e nos Estados Unidos.

''Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. " Fernando Pessoa

No seu Livro do Desassossego, Pessoa escreveu as linhas acima e concretizou algo que muitos já sabiam: a língua é um dos elementos mais emblemáticos e característicos de um povo. Em última instância, é o que define o próprio povo. Por meio dela - esse código dominado e compartilhado por um determinado grupo de pessoas - os indivíduos conhecem aprendizados dos seus antecessores, relatam experiências humanas, trocam informações sobre doenças, perigos e catástrofes, perpetuam receitas, compartilham mandingas de curas e remédios, reproduzem estrofes de versos e passagens de livros, divulgam descobertas revolucionárias e , claro, se socializam, ato tão primitivo quanto vital para a completa existência humana. Já esteve em uma roda de estrangeiros que falam uma língua que você não dominasse e se sentiu frustrado – para dizer o mínimo –em não poder cumprimentar, opinar, interagir, rir, se defender ou apenas participar?

Pois é isso o que muitos filhos de imigrantes passam – mas, pasmem, não na terra adotada, como era de se esperar, mas na sua terra natal. Com medo de ver seus filhos não inseridos no país para onde mudaram-se, pais e mães brasileiros acabam esquecendo, algumas vezes, de manter o principal fio conector dos filhos à pátria-mãe: a língua. E, então, consertam um problema, imediato, de adaptação ao novo país, mas acabam por criar outros, no futuro, muito mais estruturais e perenes. Segundo Danielle Medeiros, coordenadora da escola de Português Projeto Brasil, localizada em Austin (TX), e que trabalha há mais de 20 anos com o Português como Língua de Herança (PLH): “É um erro deixar de falar de português em casa. Isso só vai piorar a vida da criança lá na frente. Saber a língua é importante para o desenvolvimento da identidade da criança, já que a língua é a essência cultural de um povo. Quando mais velhas, muitas questionam os pais sobre o motivo de não terem ensinado a língua. É como se ficasse um vazio ali, se sentem excluídos de situações de família, ficam à margem de uma grande parte afetiva delas. Uma criança multicultural precisa das línguas para poder navegar nos vários contextos sociais em que ela se insere. ”

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