Comportamento na prisão: o julgamento dos compas Em julho de 1970, foram apreendidos documentos muito importantes, os quais a repressão diz estarem na casa de Dowbor, que nega isso: “nenhum documento foi apreendido comigo, eu nunca andaria com eles, nem guardava. Há um monte de coisa inventada nos relatórios” 36. Isso somado às prisões paralelas, formou um dossiê substancial que permite visualizar as formas de atuação do grupo em São Paulo, mas sempre levando em conta a observação do militante, a repressão estava buscando criar provas. O documento apreendido registra a apreensão de panfletos, cartas, matérias de imprensa, materiais para a falsificação de documentos, levantamento para futuros assaltos, etc. Nos depoimentos há informações sobre materiais que iriam para o Vale da Ribeira para fins de “treinamento de guerrilha”. O depoimento de José Bizerra do Nascimento, codinome Paschoal ou Rubens, mostra que a VPR contava com uma rede de apoios de pessoas que se arriscavam muito, e faziam atividades perigosas, sem contudo terem figurado nos nomes mais conhecidos do grupo. Eram também pessoas que normalmente contavam tudo o que sabiam quando eram presas, o que esperamos, tenha ajudado a salvá-las, pois não temos dados posteriores sobre todos eles. Neste caso em especial se trata de um homem que hospedou Eduardo Leite e Denise Crispim após o sequestro do cônsul japonês, quando eles eram muito procurados por causa da participação na ação. Além disso, informa que os materiais que estavam sendo levados para a área de treinamento da VPR indicam o vínculo dos membros da REDE, organização de Bacuri, que vai participar dos treinos no Vale. Neste caso ele conta sobre o transporte em veículos kombi que eram expropriados e depois devolvidos a seus donos. Aqui teriam sido transportados “botas de guerrilha, espingarda dos canos calibre 12, caixas de pólvora, cantis”37, entre outros. Dentre o material apreendido, há um “diário”, que mais parece uma pauta para reunião, sem autoria. E um outro, datilografado, identifica36
Ladislau Dowbor, 22/7/2020. Resposta a perguntas da autora. Esses documentos foram enviados a ele, que nega que os mesmos estivessem com ele, assim como não conhece sua autoria. Perceba-se que a grafia de seu nome pela repressão é sempre Ladislas, embora ele próprio use o nome “abrasileirado”, Ladislau. 37 Depoimento de José Bizerra do Nascimento, 17/7/1970. BNC, 42.3. p. 270.
132