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Breve linha do tempo
A partir dali, sem planejamento de longo prazo e possibilidade de cruzar informações e ações, muita coisa daria errado. A própria VPR sairia da VAR-Palmares. No Brasil, o grupo deixa de existir em 1973, com o desmantelamento do “grupo de Recife” a partir da traição do Cabo Anselmo. Mesmo que já tivesse sido oficialmente extinta em 1971, a VPR seguia existindo para os militantes, especialmente fora do país. Estavam inicialmente em Santiago, posteriormente na Argentina e para alguns, no trânsito entre esses países e o Uruguai. Essas conexões ajudam a entender inclusive o debacle em Recife, pois é uma ampla área coberta também pela repressão. Na documentação da repressão, via de regra, os militantes eram caracterizados como comunistas, subversivos, terroristas, etc. Muitas vezes a grande imprensa simplesmente reverberou isto, sem qualquer senso crítico. Não há dúvidas de que os militantes acreditavam fazer a revolução brasileira. Para além de seu desejo, eles e elas deram passos fulcrais naquele momento histórico para resistir às tiranias da ditadura no Brasil. Poderia uma revolução emergir de um processo de resistência, em plena ditadura? Até um dado momento, acreditavam que sim.
Breve linha do tempo
Muitas vezes todos esses acontecimentos são distorcidos, tanto nos relatos como nos depoimentos à repressão que constam na documentação, como na própria lembrança de militantes, que conheciam apenas parte das ações. Todos esses elementos carecem de problematização que buscaremos fazer ao longo deste livro. Dissidência da Polop, e de parte do MNR que fracassara no intento de realizar a Guerrilha de Caparaó, a VPR foi criada em 1967, oficializada em 1968. Teve uma atuação muito presente nas Greves de Contagem e Osasco, em 1968, quando acreditavam na possibilidade de atuação junto às massas e à classe trabalhadora, havendo uma tendência para uma ação de cunho partidário. O ano de 1969 foi marcado por muitas ações urbanas, visando a sobrevivência. O assalto ao Cofre de Ademar permitiria uma fluidez nas ações, pois deixariam de apenas manter a organização, mas poderia levar recursos para a ação rural, onde buscariam construir a ação revolucionária na forma de guerrilha rural. Neste mesmo ano, um Congresso leva à fusão com o Colina, criando a VAR-Palmares. Já no Congresso que consolidaria essa nova
organização, ocorre um racha que retoma a sigla VPR e segue rumo próprio. Aprofundam ações armadas, realizam a busca de lugares no campo. A repressão aperta e muitas prisões são feitas. No início de 1970, com nova configuração, a VPR está ativa em sua própria área de treinamento, no Vale da Ribeira. Também neste ano se envolve profundamente nas ações de sequestro de diplomatas, que tiveram como fim a liberdade de militantes que estavam sofrendo nas mãos da repressão. Mas, os sequestros carregavam contradições. Embora pudessem ser usados como propaganda armada, a urgência da sobrevivência se sobrepunha. Além disso, o Comando acreditava que como contrapartida os militantes se reorganizariam no exterior e voltariam para seguir a revolução no Brasil. O ano de 1970 termina com o sequestro do Embaixador Suíço, que seria em si um marco nas lutas. Carlos Lamarca buscava a formação de uma Frente (FLN-Frente de Libertação Nacional - MR-8, ALN, MRT). Conflitos fazem Lamarca sair da VPR. As quedas de militantes foram decisivas para que a VPR se estruturasse e fosse autodeclarada dissoluta. Entretanto, militantes que ainda estavam em Cuba, ou no Chile, tinham dificuldade de aceitar essa diretriz, já que haviam ficado responsáveis de se preparar para voltar ao Brasil. Não percebem a voracidade da repressão no Brasil, que consegue organizar chamarizes para os militantes que estavam fora (incluindo-se aí 3 estrangeiros). Dois massacres são realizados, um em Recife (1973) e outro no Parque Nacional do Iguaçu, em julho de 1974 (nunca foram encontrados os corpos que comprovem cabalmente essa chacina). Os dilemas de colocar em prática uma ação revolucionária no seio de uma ditadura eram profundos. Os exemplos cubano e vietnamita traziam a impressão de que seria possível derrubar a ditadura com uma guerrilha, mas isso nunca esteve nem perto de se tornar um programa real no Brasil. No próximo capítulo buscamos explicitar mais como isso aparecia no debate sobre a Revolução.