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A Frente Política Ideológica

Ribeiro, recém incorporado ao grupo e um coronel ou major que fugiu de Foz do Iguaçu com armamento. Comitê político: Benjamin Vieira Liszt, Ronaldo Silva Rocha, Carlos Minc Baumfeld; coordenador dos grupos no Brasil: José Maria Rita (?)14

Nomes experientes da VPR estavam com Cerveira, inclusive o “Zorro”. Embora o original coloque a interrogação no nome de Rita, ele seria o militante sequestrado e morto no mesmo momento que Cerveira 15 , em dezembro de 1973, em Buenos Aires. Não é possível saber como se dava a relação entre manter essa organização e tentar uma arapuca no Brasil, mas é possível que o Golpe de 11 de setembro no Chile tenha levado a mudança de planos da repressão.

A Frente Política Ideológica

Estavam então trabalhando pela Frente Política Ideológica. Vimos que essa era uma reivindicação constante de Lamarca, então não é estranho que os militantes da VPR se reordenassem em torno dela. Parece haver dinheiro vindo por Cuba, e com contatos com a Argélia. Nos parece que a intenção da repressão era estimular militantes a voltar ao Brasil, o que conseguiria, com outros militantes, por outras frentes. Um documento do CENIMAR indica que essa Frente começou a ser criada em novembro de 1971 por Cerveira e Plinio Petersen Pereira no Chile. Fizeram contatos com Tupamaros “visando obter apoio político do PC italiano para a parte financeira”16. Teriam então começado arregimentação de pessoas que atuavam em várias organizações no Brasil, “principalmente do pessoal que estava no exterior”. Elaboraram o documento Nova Política da Revolução Brasileira, que teve a participação de membros de FLN, MRT, PCBR, Var e VPR. Este documento passou a ser sintetizado no chamado “Doze pontos fundamentais”, e “se constituía na visão política-revolucionária” da FPI, “compromissando-se a dar uma nova orientação ao desenvolvi mento da subversão no Brasil”. Diz o informe que o documento foi bastante

14 CIEX, 067, 12/2/1973. Organização do grupo Joaquim Pires Cerveira – Gilberto Faria Lima. 15 Há um outro documento que fala de um militante João Batista Brasa, que teria passado um mês na Argentina, e participado do grupo de Cerveira, mas esse documento data de 1/7/1974, data aproximada da Chacina de Medianeira um ano e meio depois de Cerveira já morto. CIEX, 300/74, 01/07/1974. 16 Frente Política ideológica. CENIMAR, Secreto, 20/10/1972

discutido e enviado para as organizações radicais no Brasil, tendo sido rejeitado pela ALN, mas apoiado por outras organizações de linha cubana. Um dos elementos que estaria na sua síntese crítica do movimento até então é o fato de que “não se ligaram às massas, não conseguindo captar quase nada das ações militares, já efetuadas que lhe poderiam dar maior proveito com os sequestros”. Advertem que “não se pode pensar hoje, no Brasil, em travar uma luta contra a ditadura sem fazer um projeto global de guerra revolucionária em nível nacional”. O documento faz uma análise do momento de refluxo que se vivia:

Sob o ponto de vista ideológico, as organizações subversivas no Brasil, que passam, neste momento por um processo de depuração, fazem as mais azedas críticas, pois, afirmam nas suas discussões, que se formou uma vanguarda composta na maioria com elementos que não passavam de militantes de base ou simpatizantes.17

Perceba-se que o documento produzido pelo CENIMAR traz informes de fontes desconhecidas, mas transcria com suas próprias expressões, usando a denominação de subversiva, por exemplo. A realidade apontada no documento está em consonância com o que já vimos que ocorreu na VPR, pois na medida em que os quadros de direção vão caindo, os que sobram, sem preparo, acabam dando tudo de si para manter a organização, mas não necessariamente conseguem. Este documento, que deve ter contado com a participação desses militantes que restavam por lá avalia que a VPR ainda tinha bons quadros, isso mais de um ano depois dela ter sido dissolvida no Brasil! A ideia seria manter as organizações originais e agir em uma frente, algo que parece próximo ao que estava antes sendo proposto por Lamarca, onde deveria se manter autonomia parcial dos grupos. Se deliberou também

Aproveitar todas as forças que se propõem a fazer qualquer tarefa que sirva à subversão. Um padre, segundo dizem, não pega uma metralhadora, podendo, porém, exercer função mais importante que é a comunicação de massa.18

17 Idem, p. 2 18 Idem, p. 3.

Relata-se ter havido uma reunião em São Paulo que teria deliberado pela realização de um sequestro para libertação de padres, “sem necessidade de falar em socialismo ou marxismo-leninismo para as massas”. Seria uma ação de aproximação com a classe, mais uma vez, vanguardista. O documento encerra dizendo que em pouco tempo a Frente atuaria no Brasil. “sua meta inicial: ações de sabotagem, ações econômicas de grande vulto (tipo cofre do ADEMAR) e ações de justiçamento” 19. Ou seja, essa nova organização manteria acesa a chama da esperança da volta ao Brasil, de seguir a ação revolucionária no país. Registre-se que ainda em 1972 Onofre Pinto tinha contatos em Posadas com Raimundo Lopes Damasceno. Natural de Córdoba, viveu em Buenos Aires, voltando para Cordoba. Tinha formação como professor de ginástica em Posadas. Um dos relatos diz que

Em Santiago do Chile o marginado estabeleceu contatos com Candido da Costa Aragão, Carlos Figueiredo Sá e Joaquim Pires Cerveira, verificando que teriam conversado sobre cobertura para viagens de terroristas brasileiros ao Brasil, passando por Missiones como ‘ponto de apoio’. 20

Este mesmo documento traz intrigante informação, ainda sobre Damasceno:

Consta, ainda, no meio dos asilados brasileiros em Santiago do Chile, que o marginado estaria a serviço do SI argentino, devido a que, em Santiago se interessou muito pelas atividades dos asilados bolivianos, em especial de JUAN LECHIN OQUENDO.21

O fato é que ele é considerado “contato de Onofre Pinto na Argentina”22, e seguiu sendo acompanhado pelo CIEX, que grampeava suas ligações telefônicas, tendo ouvido em outubro de 1972 que ele teria se proposto a “efetuar uma troca de maçãs por bananas, esclarecendo que iria primeiro a Córdoba e depois a Tucuman”, indicando que “este centro supõe que a conversa se refira ao atravessamento de elementos subversivos entre

19 Idem, p. 4. 20 CIEX, 292, 5/6/1972. Chile e Argentina. Asilados brasileiros, Raimundo Damasceno. 21 Idem. 22 CIEX, 557, 9/10/1972.

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