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A delação de Claudio de Souza Ribeiro

Paula Baixinho Dino +++ Maciel Sonia Eliane Lafoz João Batista de Souza Roberto Menkes Melcides Porcino da Costa

+++ Joana

Ieda Reis Chaves Cid Carlos Lamarca +++ Ida, Sara ou Madalena Maria do Carmo Brito ++ Juvenal Juarez Guimarães de Brito +++ Dr Ivo Almir Dutton Ferreira Legenda original: (+): Preso; (++): Falecido; (+++) Banido9

Perceba-se o cinismo dos agentes da repressão que assinalam os “falecidos”, que foram assassinados por eles mesmos. As informações são questionáveis, mas constam em um depoimento de um preso. Chama atenção ainda o baixo número de mulheres da relação (37 nomes, apenas 5 mulheres), considerando o efetivo real da VPR. O caso um pouco diferente é de Claudio Ribeiro, que fez uma delação, supostamente por vontade própria. Seu caso nos dá indício das dificuldades que os militantes encontravam na vida clandestina.

A delação de Claudio de Souza Ribeiro

As formas de delação não implicam necessariamente que o sujeito tenha “passado para o outro lado”. Pode ser caso de medo e desespero, esperança de não ser punido, esperança de que a tortura acabe. Um caso desses foi o de Claudio Ribeiro. Segundo o portal Documentos Revelados, a história do militante foi marcada por tragédia absoluta:

O cabo Claudio de Souza Ribeiro, foi um dos membros mais ativos da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, que ele ajudou a fundar. Após o movimento, que ficou conhecido como “A Revolta dos Marinheiros”, em 1964, Claudio se integrou na luta armada contra a ditadura e durante o período que passou na clandestinidade, viveu momentos intensos e tensos, fugindo da repressão e atormentado pelo ciúme. Em 1971, já afastado da guerrilha e morando clandestino em Recife, ele matou sua companheira e depois se entregou à polícia.

9 Origem CISA, Difusão DIS/CONZAE 1, 2, 3, 4, 5 e 6 – CISA, GABAER (e outros). Informação CISA 385, de 8/7/1970. Arquivo Nacional.

[...] Após alguns anos fugiu do presídio, manteve contato com seu colega Pedro Viegas, que estava clandestino na Bahia e procurou se organizar na luta. Segundo Pedro Viegas, Ribeiro não superou suas crises e acabou se matando.10

Esta documentação apresenta uma peculiaridade. Trata-se de um depoimento que foi tomado no Cenimar11 e dele difundido para outros setores. O CISA em seu encaminhamento ressaltou alguns dados no documento, indicando certamente alguém que estava no foco da mira da repressão. E o documento foi re-datitolografado. Por isso em alguns momentos o tempo verbal sofre alguma variação, mas o conteúdo é bastante similar. Há uma estreita colaboração entre os setores, embora cada um tivesse seus próprios dados confidenciais. O depoimento de Ribeiro conta dez páginas datilografadas. Nele, aparecem detalhes diversos da organização, indica nomes, codinomes e sobrenomes dos antigos companheiros. Sua trajetória inicia na associação dos marinheiros, se aproxima dos militantes de Caparaó, e vai para Montevidéu contatar Brizola. De lá é enviado para Cuba onde realiza treinamento de guerrilha, onde conhece militantes da VPR, entre os quais, Diógenes e Anselmo. Com Diógenes, voltou ao Brasil, passando pelo Uruguai onde se consolida o desligamento em relação a Brizola. Em julho de 1967, com Diógenes e Almir Olímpio de Melo vão para São Paulo onde encontram “Chiquinho”, que “estava com um pequeno grupo remanescente do antigo MNR”. Em São Paulo

Alojando-se na casa de Onofre Pinto, onde passaram a discutir a formação de uma organização. Diógenes, o depoente e Otacílio Pereira da Silva pretendiam ir para o campo, mas não chegaram a concretizar tal desejo. Através de Onofre, eu tinha um conhecimento com um ex-prefeito de Jacupiranga, que tinha arrumado um local (mina antiga), onde permaneceram 3 meses. A finalidade dessa estadia seria levantar a área, mas como o pessoal da cidade nada

10 https://www.plural.jor.br/documentosrevelados/geral/um-drama-pessoal-nos-anos-dechumbo-depoimento-do-marinheiro-claudio-de-souza-ribeiro-ex-militante-e-fundador-davanguarda-popular-revolucionaria/ 11 Assunto: Claudio de Souza Ribeiro. Distribuição AC/SNI, GAR, ARQ-3, encaminhamento 333, 23/8/1971

fizera para fornecer apoio, o depoente regressou em dezembro de 1967.12

Depois disso, informa que Onofre teria contatado a dissidência da POLOP e “resolveram juntar a experiência militar do grupo com a política da POLOP. Passaram a usar o nome de OPM – ORGANIZAÇÃO POLÍTICAMILITAR”. Raramente nomeados nesse processo, o depoente recorda esses ex-militantes da Polop que formariam a VPR:

O grupo da POLOP trouxe vários elementos entre estes Waldir Carlos Sapú, Renata Ferraz Guerra de Andrade, Wilson Egídio Fava e outro elemento que agora está em Paris. A direção ficou sendo PEDRO LOBO DE OLIVEIRA, DIÓGENES, ONOFRE, WALDIR CARLOS SARAPÚ, WILSON EGÍDIO FAVA.13

O relato busca ser minucioso com nomes e locais. Narra em torno de 7 ações armadas, indicando os nomes dos participantes, inclusive os nomes de apoio. Dentre elas, os assaltos a banco e a saída do quartel de Quintaúna. Narra todos os congressos, indicando participantes, pauta e direções eleitas, das quais ele mesmo participou. Produz um adendo acrescentando mais informações, onde encontrou seus companheiros, endereços, etc. É um relato muito completo, que certamente ajudou muito a repressão a localizar os militantes. São apontados como motivos de seu desligamento “problemas sentimentais com CLEIDE” e “perda de perspectiva política”. Cleide era também militante da VPR, tornou-se sua companheira e no seu relato, tensionava para que ele deixasse a organização. No fim, ele confessa o assassinato dela por motivos passionais. Há um detalhe, que quando o depoente se refugiou em Pernambuco, foi procurado a mando de Lamarca, que reclamava “a saída do depoente da organização, sem discussão política”14. Por meio de José Raimundo da Costa há forte insistência para que ele siga organizando a VPR no nordeste. Ou seja, seria a falta de outros quadros a responsável pela insistência com um quadro que por vontade própria já havia se desvinculado? Todos sabiam que ele era portador de informações cruciais sobre a VPR, pois este estivera presente nas principais ações armadas do grupo. Ainda assim, não se colocou a possibilidade de justiçamento do

12 Depoimento atribuído a Claudio de Souza Ribeiro. P. 3. 13 Idem. 14 Idem, p. 7.

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