O Berro 2020.2

D E ZE M B RO D E 2 0 2 0

O BERRO

24

2020: Quanto tempo dura um ano?

Se, nas palavras do jornalista e escritor Zuenir Ventura, 1968 é o ano que não terminou, 2020 segue pelo mesmo caminho de ser um desses ciclos de 365 dias que deixarão sua marca por um bom tempo

16

Como está o cenário da moda atual e para onde estamos indo?

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar a situação

12

Será o fim da hegemonia cultural dos EUA entre o público jovem?

O Consumo de conteúdos culturais por parte dos jovens

20

Pouca idade não quer dizer ter a mente sã

Quem nunca se sentiu ansioso a ponto de chorar em posição fetal queatire a primeira pedra. Os problemas

ainda é dominado por produções norte-americanas, mas

relacionados á saúde mental, sãoconsiderados ogrande

conteúdos de outros países têm ganhado destaque

mal do século passado

Editorial Olá, meu nome é Carol Monteiro, sou jornalista e

precisamos estão em xeque. Nossa forma de (não) lidar

professora da disciplina de Redação Multimídia, que

com as desigualdades, de classe, de gênero e raça, só pra

originou esta revista. Tenho 21 anos de formada em

citar as mais urgentes, torna o desafio de enfrentar esta

jornalismo. Talvez tenha mais tempo de profissão do que

pandemia ainda mais difícil. Esta edição do Berro fala sobre

alguns desses meninos e meninas que escreveram os

isso. Sobre questões urgentes e sobre tentar reparar os

textos e editaram esta revista têm de vida. Isso faz de mim

erros cometidos no passado, que persistem no presente

alguém na posição de quem tem muita experiência para

e ameaçam nosso futuro. E não foi construída só por mim

passar, muita segurança sobre o jornalismo, seus métodos

e pela turma de Redação Multimídia de 2020. Para pensar

e práticas, claro, mas me traz também muitos desafios

as pautas, a linguagem e o formato, ouvimos muita gente.

sobre como falar com e para duas gerações que vieram

Usamos o Design Thinking para tentar entender os jovens,

depois da minha: os Millenials e a Geração Z. É sobre essas

para quem esta revista se dirige. Pesquisamos outros

gerações que recai o peso de “salvar a humanidade” que,

produtos – jornalísticos ou não – que conversam com este

neste momento histórico, tem boa parte das pessoas

público, fizemos entrevistas e buscamos dados sobre o que

em casa cumprindo o isolamento social necessário para

conversam e querem saber os jovens no Brasil e no mundo.

conter o contágio pelo novo coronavírus, responsável

O resultado são essas páginas e um site, onde tem muito

pela morte de mais de 1,6 milhão de pessoas em todo o

mais conteúdo e recursos multimídia para essas matérias,

mundo. A maior crise sanitária da nossa história recente

que espero que gostem e façam refletir sobre como todos

tem nos dado muitas lições sobre a forma como vivemos

e cada um de nós podemos ser parte da mudança que o

até aqui. Nossas escolhas, nosso comportamento, nossa

mundo precisa. Boa leitura!

forma de viver, de consumir, de acumular mais do que

Expediente Textos:

Edição:

O Berro também está nas plataformas

Natália Freire de Aguiar

Maria Eduarda França

online! Produzimos muito conteúdo

Paloma Almeida

Ana Carolina Nunes

com carinho sobre assuntos que

Lucas Carvalho

Raíssa Moura

interessam a todos nós, jovens que

Lucas Holanda

Carol Monteiro

irão transformar esse mundo!

Ana Carolina Pinto

Projeto gráfico e edição:

Não deixem de acessar nosso site,

Mariana Ferreira

Jota Bosco

nossos podcasts

Lívia Baroni

Maria Eduarda França

e nosso instagram (@oberr.o)

Lorena Aguiar

Coordenação:

Obrigada pela conversa e até a

Osmar Cordeiro

Carol Monteiro

próxima!

Vittoria Fialho Letícia Sarinho Tereza Ferraz Fotos/Ilustrações: Maria Eduarda França Ana Carolina Nunes Raíssa Moura

2

O BERRO

Índice 4

Via de mão dupla

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar a situação

6

Fake news: sabia que o fenômeno atual não surgiu no século 21?

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar a situação

8

Acessibilidade e inclusão: assuntos que devem ser tratados como prioridade

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!)

10

Do preconceito à falta de representatividade

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar a situação

14

A cobrança do padrão de beleza em tempos de Instagram

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar a situação

22

Consequências das conexões virtuais na saúde mental dos usuários

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar

O BERRO

3

Via de mão dupla Por: Natália Freire de Aguiar

A

popularização da internet transformou muita coisa no mundo, aproximou pessoas, expandiu negócios e, principalmente, facilitou a nossa vida.

Nessa realidade, as relações de trabalho estão sempre mudando e, mais ainda, quando se fala do relacionamento entre marcas e clientes. Não basta vender bons produtos, você precisa cativar o seu consumidor.

A especialista em Relacionamento com o Cliente

se destacam no mercado”, explica. Fala-se em focar 80% na entrega de conteúdo informativo e 20% na oferta. Assim, uma pessoa que começou a acompanhar uma marca por um produto específico tende a continuar o relacionamento quando recebe uma entrega de valor.

Segundo a pesquisa Put Your Trust in Hyper-Relevance, realizada em 2018 pela Accenture, 33% dos consumidores cortam relações com marcas que falham na personalização.

O profissional de Marketing, apontado pela Forbes entre

do SEBRAE-BA, Tai Jambeiro, conta que as gerações

os 10 melhores, Neil Patel, afirma em sua plataforma

anteriores tinham relações mais duradouras com as

digital que hoje os clientes não aceitam ser tratados

marcas e se mantinham fiéis a produtos e serviços que lhes

como números, e esperam que a empresa valorize sua

agradassem, independentemente do que acontecesse. Já

confiança. Para isso, afirma que é preciso uma relação de

as gerações Y e Z, nascidas entre 1980 a 2010, buscam se

continuidade, estratégias de pós-venda, ou seja, garantir a

relacionar com empresas que têm ideais parecidos com os

permanência do cliente na sua marca acompanhando seus

seus, que defendem as mesmas causas, tornando a escolha

passos, respondendo dúvidas, ouvindo críticas e mantendo

pela marca muito mais influenciada pela experiência. “A

sempre um contato próximo, para que esse cliente vire fã e

proximidade do consumidor que as redes sociais trouxeram

acabe se tornando um parceiro que confia e promove seus

tem bastante impacto nessa relação. Se, por algum motivo,

produtos e serviços.

a marca “vacila”, os consumidores reagem prontamente

Hoje, as marcas são cobradas por se posicionarem

e trocam a marca por outra. Mais do que nunca, é

sobre assuntos importantes da sociedade, mesmo que não

extremamente importante cuidar do posicionamento na

tenham relações com seus produtos ou serviços. E esse é

internet”, destaca.

um caminho para se tomar cuidado, você precisa entender

As redes sociais são pontos chaves dessa relação. Tai diz que é necessário manter uma frequência e incentivar

seu público para saber qual posição o agradará.

Em todas as ações e posicionamentos, uma marca

interações para ampliar a entrega dos conteúdos. “Além

precisa pensar bem no que vai divulgar. Tai Jambeiro

disso, a entrega de conteúdo relevante e personalizado

explica que um erro gravíssimo é publicar ou enviar

conforme a persona, dentro dos canais ideais para cada

mensagens que podem ser ofensivas a qualquer tipo de

tipo de público, também é um diferencial das empresas que

pessoa, mas, se houver qualquer problema, o primeiro

4

O BERRO

passo é sempre se retratar. “Todas as pessoas estão susceptíveis a cometer erros, mas é importante corrigir assim que se percebe que uma injustiça ou posicionamento inadequado foi feito, tenha sido ele intencional ou não, é fundamental mostrar que o erro cometido foi percebido e buscar formas de compensá-lo genuinamente”, orienta.

As redes sociais são os principais canais de cobranças às marcas. Foi o que fez Matheus Ferreyra. O estudante contou que viu uma marca divulgando que passou a vender blusas em “tamanhos especiais” e que precisava abordá-los e conversar por ter sentido que esse era um termo gordofobico. A empresa prontamente se desculpou, disse que iria retirar o termo e explicou que não se referia necessariamente a tamanhos grandes, mas sim a tamanhos sob medida. “Pela primeira vez eu tive um feedback positivo de uma marca e eu fiquei pensando: caramba que coisa boa, alguém me ouviu, alguém ouviu uma pessoa gorda na sociedade”, contou. Depois da conversa a empresa convidou Matheus para falar sobre gordofobia no instagram da marca.

Em abril deste ano, uma polêmica com a digital influencer Gabriela Pugliesi gerou uma grande pressão às

Suas decisões de compra são influenciadas pelos valores propagados pelas marcas e pelas ações de seus líderes?

marcas que tinham parcerias com a musa fit. Pugliesi, que já havia contraído o coronavírus anteriormente, promoveu uma festa para vários convidados em sua casa em meio a um período crítico da pandemia. Como resposta, milhares de pessoas se mobilizaram para criticá-la e cobrar que as empresas parceiras tivessem algum posicionamento sobre a situação. Várias das principais empresas cancelaram suas parcerias com a influencer, além de se declararem em total desacordo com o acontecimento e outras informaram que os contratos já haviam terminado e não seriam renovados.

Também durante a pandemia, a Vogue Brasil teve sua imagem bastante desaprovada ao publicar, em maio, uma capa com a manchete “Novo Normal”. A estudante Lorena Aguiar foi uma das que se indignou e compartilhou nas redes sociais esse sentimento. Para ela, um ponto importante desse episódio foi ver que a empresa se desculpou e melhorou nas edições seguintes. “Estou percebendo um posicionamento melhor da Vogue de lá

utilizarem o código NAOEXISTE. Essa ação diz respeito a um

para cá, as capas daos conteúdos e formas que abordam,

pedido para que o caso de estupro da influencer Mariana

aos profissionais que fazem parte da equipe, pautas que

Ferrer seja julgado de forma justa após ser sentenciado

desenvolvem e tudo mais. A Vogue é muito antiga e mais

como “estupro culposo” e toda a internet se mobilizou para

voltada a leitores de classes altas, mas isso não impede

falar que isso não existe. Os seguidores do restaurante no

que eles façam um conteúdo em consonância com o

instagram criticaram duramente a ação por estar utilizando

momento atual, o que está acontecendo no mundo e

um caso tão sério como uma fonte de desconto e promoção

debater questões que precisam ser debatidas para poder

da empresa. Reconhecendo o erro, o Ca-já retirou a ação

ter mudança na sociedade de fato”, afirmou.

e se retratou pedindo desculpas, alegando que sempre

Mais recentemente, o restaurante Ca-já foi alvo de

baseia seus posicionamentos pensando na inclusão e que o

críticas. Em seus storys promoveram uma ação em que os

objetivo era trazer esse tema e não se aproveitar dele para

clientes do estabelecimento teriam desconto no delivery ao

se promover.

O BERRO

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FAKE NEWS: sabia que o fenômeno atual não surgiu no século 21?

Ilustração da suposta invasão extraterrestre na edição francesa do livro de H.G. Wells

Por: Paloma Almeida

A

s notícias falsas que se espalham rapidamente são, sem dúvida, um dos grandes problemas da sociedade atual. Com acesso amplo e fácil para criação e compartilhamento de informações que a internet trouxe, a tentativa de barrar as fake news se torna um trabalho duro e cansativo. Muito se fala sobre os danos que esse tipo de informação pode causar, mas pouco se sabe que esse problema não nasceu no século 21.

Inglaterra disseminou boatos de que soldados alemães eram capazes de atos terríveis, fazendo com que, anos depois, o holocausto passasse despercebido por um bom tempo.

O ator e diretor Orson Welles elevou o nível do problema das notícias falsas em solo americano. No dia 30 de outubro de 1938, uma transmissão musical na rádio é interrompida com essa informação: “Explosão de gases em Marte direcionaram nuvens tóxicas para o planeta Terra”.

O que seria uma encenação criada pelo jovem Welles, uma

A União Soviética, comandada por Joseph Stalin, já

adaptação radiofônica do romance “A Guerra dos Mundos”,

fazia manipulação de imagens nos anos 30. Inimigos do

do escritor Herbert G. Wells, acabou deixando o país em um

governo ou funcionários que perderam a simpatia de Stalin

estado de horror. No dia seguinte à transmissão a histeria

simplesmente sumiram dos registros oficiais, inclusive das

tinha se multiplicado.

fotografias. Vários documentos oficiais soviéticos sofreram

Anos depois do ocorrido, o próprio Welles afirmou que

alterações para ocultar o ‘obscurantismo’ do regime e passar

o real motivo da sua peça radiofônica foi atacar a mídia, o

uma imagem próspera da URSS para a história.

rádio em especial. Na visão do diretor, a sociedade dependia

Antes da era da comunicação em massa era fácil ficar impune. Várias atrocidades cometidas contra os judeus pelos alemães na Segunda Guerra foram desacreditadas

demais de informações vindas de um alto falante, muitas vezes sem nenhum critério de confiabilidade.

O trote de Orson Welles ganhou uma proporção

por mentiras espalhadas na Primeira Guerra. Entre os anos

astronômica numa época em que a internet nem sonhava

de 1914 e 1918, durante os combates da Primeira Guerra, a

em nascer, e, mesmo que indiretamente, causou uma

6

O BERRO

Stálin em uma das fotos manipuladas. Foto: The David King Collection at Tate

tragédia anos depois. No dia 12 de fevereiro de 1949,

Unidos, e a campanha eleitoral de Jair Messias Bolsonaro,

no Equador, a rádio Quito transmitiu a peça, gerando

eleito presidente brasileiro em 2018.

um pânico em massa pela cidade. Quando a população

Assim como Trump, Bolsonaro preferiu as redes sociais,

descobriu não ser verdade, invadiu e apedrejou a estação

principalmente o Twitter, para enviar provocações aos

de rádio, ateando fogo no prédio depois. Seis pessoas foram

adversários e usar contas falsas (os famosos bots) para

mortas no ataque.

compartilhar informações duvidosas e de fácil contestação

Mas, não há nada que o Brasil não possa adaptar. O ano era 1971 e, para comemorar o aniversário da Rádio Difusora,

através de seus seguidores.

As táticas utilizadas no início do século 20 ainda estão

em São Luís, no Maranhão, alguns locutores tiveram a ideia

aqui, porém são disseminadas com muito mais rapidez,

de adaptar mais uma vez a peça de Welles, porém, trazendo

atingindo um número muito maior de pessoas. O ‘kit gay’,

a história para a realidade maranhense. Ao contrário das

uma cartilha que seria distribuída para as crianças, foi o

reações internacionais, a população achou que o mundo

termo mais procurado em 2018 segundo o Google Trends.

estava acabando e correu para se proteger.

Bolsonaro, seus filhos e apoiadores disseminaram o boato,

Trazendo exemplos mais recentes na história, temos

que ganhou força em páginas evangélicas e grupos de

duas eleições que chamaram grande atenção da mídia pela

whatsapp. A cartilha, que na verdade seria um kit para

estratégia massiva de compartilhamento de mensagens

promover igualdade de gênero nas escolas, teve seu

falsas nas redes sociais. As eleições americanas de 2016,

conteúdo totalmente subvertido durante a reta final da

que elegeram Donald Trump como presidente dos Estados

campanha do atual presidente do país.

O Imparcial Em uma entrevista dada ao portal G1, Manoel José Pereira dos Santos, responsável pelos efeitos sonoros da rádio na época, disse que não sabia o alcance e o poder que tinha em mãos. “Não tínhamos o que fazer, foi uma brincadeira”, relembrou ele. A história ocupou a primeira página do jornal ‘O Imparcial’.

O BERRO

7

Augusto Piazza durante palestra motivacional (Foto: Arquivo Pessoal)

Acessibilidade e inclusão: assuntos que devem ser tratados como prioridade

Guilherme Costa em passeio turístico na Alemanha (Foto: Arquivo pessoal)

Por: Lucas Carvalho

U

m acidente automobilístico no bairro do Rio Vermelho, em Florianópolis - SC, alterou os planos na vida de Augusto Piazza.

Aos 23 anos, o gaúcho radicado em Santa Catarina viu o chão se abrir ao perceber que havia ficado tetraplégico. Após um longo período de recuperação, deu continuidade aos planos que tinha antes do acidente. Uma das primeiras atitudes foi se formar em Administração.

Ao mundo, mostrou que estar na

da Auditoria Geral do Estado de Santa Catarina por oito anos. “Foi um período de muito aprendizado e crescimento pessoal e profissional. Era um trabalho de grande responsabilidade, mas foi uma experiência muito bacana para mostrar que apesar da minha limitação física, a competência se sobressai”, relata Augusto.

Tudo que Piazza realizou e conquistou vai contra o termo “capacitismo”, que significa diminuir e discriminar a pessoa com deficiência, seja com preconceito ou por achar que

cadeira de rodas não o impedia de se

o indivíduo não é capaz de fazer algo

destacar no meio profissional. Foi chefe

por conta da deficiência.

8

O BERRO

Fonte: Ministério do Trabalho - RAIS (Relação Anual de Informações Sociais)

Crédito: Roberto Castro/ brasil2016.gov.br

Acessibilidade no Brasil Um exemplo de

em cadeira de rodas,

espaço que dá às

judô, triatlo, vôlei sentado

pessoas com deficiência

e tênis de mesa, entre

as condições para elas

tantos outros.

exercerem todas as suas

A principal cidade

potencialidades é o Centro

brasileira modelo

Paralímpico Brasileiro

em acessibilidade é

(CPB), considerado um

Uberlândia, no interior

para quem tem limitação

prédios públicos. Em

dos melhores centros de

de Minas Gerais. A cidade

na locomoção e piso tátil

2010, Uberlândia foi

treinamentos do mundo.

tem rampas de acesso nas

para orientar deficientes

considerada uma das 100

Lá existem espaços para

principais ruas do centro e

visuais nas calçadas, nos

cidades mais acessíveis

a prática esportes como

nos bairros, 100% da frota

terminais rodoviários,

do mundo pela ONU.

basquete, esgrima, tênis

de ônibus com elevadores

na maioria das lojas e

As pessoas com deficiência (PCDs)

e um shopping na Alemanha não

entre outras coisas. Achei muito

se deparam com várias dificuldades

existem filas preferenciais porque

interessante o fato de o local como um

por causa da falta de acessibilidade.

lá você tem acesso aos brinquedos

todo conseguir comportar e incluir as

O país ainda está muito longe se

que são totalmente acessíveis, caixas

PCDs”, analisa Guilherme.

comparado com outros no quesito

feitos para atender cadeirantes,

da inclusão, mesmo existindo várias leis que garantem os direitos desses indivíduos.

O desafio da inclusão fica em destaque quando vemos a presença das PCDs no mercado de trabalho.

Menos de 1% do total de pessoas com deficiência com idade para trabalhar estão empregadas.

Também é legal destacar os atletas paralímpicos, que desmentem o que o capacitismo prega e se superam diariamente, obtendo desempenhos melhores que os de atletas olímpicos em algumas ocasiões.

Um desses atletas é Guilherme

Cidades modelo no mundo

Exemplo de acessibilidade em Berlim (Foto: Acessibilidade no Pergamoun museum / Divulgação)

Costa, de 28 anos, que integra a seleção brasileira paralímpica de tênis

Fora do Brasil, um grande

Comissão Europeia e do Fórum

de mesa. O atleta, que é cadeirante,

exemplo é Barcelona, na

Europeu de Deficiência o prêmio

comparou a realidade do Brasil com

Espanha, que, depois de sediar

Cidade Acessível, em 2013, se

a de outros países. “Conheci mais

as Paralimpíadas de 1992, viu

destacou por ter a maior parte de

de 18 países e os dois que mais me

a necessidade de se tornar

suas estações de metrô e pontos

surpreenderam e que tenho como

uma cidade acessível. Bares,

turísticos adaptados, como obras

referência quando o assunto é

restaurantes, praças e pontos

de arte que podem ser tocadas

acessibilidade são Estados Unidos e

turísticos têm acesso facilitado.

para que pessoas com deficiência

Alemanha. Em lugares como a Disney

Berlim, que recebeu da

visual possam sentir a peça.

O BERRO

9

Do preconceito à falta de representatividade

Preconceito que vem de séculos O estudante de teatro no Recife, Matheus Ferreyra, trans não-binário e artista e publicitário, afirma que o espaço

Filmes e séries ainda seguem utilizando atores cis

é um local importante para o debate

para interpretarem personagens transgêneros,

sobre a questão do ‘transfake’, que seria o

legitimando esse roubo de identidade

fato de atores e atrizes cis interpretarem personagens trans nos filmes e séries.

Por: Lucas Holanda

Além disso, ele explica como esse

V

preconceito com cenas LGBTQIA+

ocê provavelmente não gostaria que os outros lhe interpretassem de forma equivocada, retirando seus principais traços e personalidade. Mas isso acaba acontecendo, de forma natural e pouco debatida pela sociedade, em filmes e séries famosas quando um ator ou atriz cis interpreta uma personagem trans nas telinhas. Já pensou nisso? 70% das pessoas não ligam se um ator cis interpretar um personagem trans ou gay em um filme ou série. O dado é originado de uma pesquisa de 2018 feita na Inglaterra.

vem desde o século 19. “Essas cenas começaram de forma extremamente marginalizada e caricata. A imagem desse LGBT vem de forma cômica, que é o que a gente mais vê por aí. Os que falam sobre morte, vida e outros temas não têm visibilidade dentro da cena teatral e artística no geral.”, explicou.

Não há necessidade do transfake Atores e atrizes trans têm grandes talentos para

transfobia.

assumirem qualquer papel. E a arte, inclusive, tem

transfake e eu acredito nisso. Vejo que as pessoas cis que

despertar algumas reflexões. O Movimento Nacional de

se dizem aliadas precisam tirar isso da teoria e colocar

Artistas Trans (MONART) é um grande aliado para que

na prática. Contratar pessoas trans e travestis para

essa mudança aconteça. Além disso, claro, a consciência

interpretarem os mais diversos papéis, além de investir

de pessoas héteros que se dizem aliadas para seguirem

em nossa formação técnica e acreditarem nas nossas

praticando o discurso e ajudando a combater a

potencialidades em todos os âmbitos”, finalizou Elke.

Trans precisam de oportunidades e protagonismo 10

“O MONART sugere 30 anos sem a prática de

um papel fundamental para que a sociedade consiga

O BERRO

Não há como uma pessoa cis representar um trans na arte ou em qualquer lugar. Existem realidades e contextos que cada um vive no dia a dia que não podem ser ignorados, como detalha Elke Falcão.

“Vejo como a reiteração de um padrão excludente ao qual nós pessoas travestis e transexuais estamos submetidas. É transfóbica a ideia de

“Tenho a sensação de ser excluída” Imagine como uma atriz trans deve se sentir vendo

ver a arte colaborando com isso. Ver a arte não incluir

um hétero interpretar um papel que poderia ser seu?

todos os corpos. Reproduz o discurso preconceituoso

Para Elke Falconiere, travesti e atriz graduada em teatro

da sociedade de que nós, sobretudo mulheres trans, são

pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a

homens vestidos de mulheres, coisas que não somos”,

sensação é de uma exclusão que dói bastante.

explicou.

“Tenho a sensação de ser excluída de um espaço que

Sophia ainda revela que ela e outras pessoas trans

deveria ser meu. Me sinto roubada. Penso em quantas

já fizeram algumas reclamações, mas são criticadas

atrizes e atores trans não perdem a oportunidade de

e escutam que Sophia e os outros queriam tirar a

trabalharem, de desenvolverem suas potencialidades

liberdade do ator de interpretar o que ele quisesse. “O

artísticas, de conseguirem chegar a outros lugares

que a gente quer é que produtores, artistas e a sociedade

além daqueles que, socialmente, historicamente e

nos vejam com outros olhos, como realmente nós

culturalmente somos empurrados.”, explicou Elke.

somos, e não com uma visão criada por uma sociedade

Sophia William, mulher trans e multiartista, traz um

heteronormativa. Somos interpretadas de forma

ponto fundamental para essa discussão: a interpretação

promíscua e não falam da nossa dura realidade: de

de atores cis em personagens trans fundamenta um

solidão, não afetiva e de ser rejeitada pela sociedade.

discurso preconceituoso da sociedade. “É bastante triste

Apenas glamourizam a nossa dor”, explicou Sophia.

Representatividade para mudar o cenário

Transfake nos filmes e séries

A representatividade é o ponto chave para essa virada de chave nos filmes e séries. Existem pessoas trans capazes

LA CASA DE PAPEL (2020)

de assumirem papéis de protagonistas

Na 4ª temporada de “La Casa de Papel”, uma

nestas produções e cabe aos produtores

nova personagem chamada Manila surge na

oferecerem oportunidade para eles. Na obra Alice Júnior, a personagem trans é

série. Na obra, ela é uma personagem trans. No entanto, a atriz que interpreta, que se chama Bela Cuesta, não é trans.

interpretada por Anne Mota, mulher trans. A produção foi altamente elogiada por não ter

A GAROTA DINAMARQUESA (2016)

algum ator cis interpretando a personagem.

O ator cis Eddie Redmayne interpreta a

“Essas pessoas precisam estar inseridas nos

personagem trans Lili Elbe. Ele , aliás, ganhou

palcos como pessoas importantes e que façam a diferença na dramaturgia. E não apenas mais uma”, afirmou Matheus.

prêmios por conta do papel. No entanto a obra, que também foi premiada, recebeu críticas por esse roubo de identidade.

MENINOS NÃO CHORAM (2000) A atriz Hilary Swank interpreta o homem trans Brandon Teena, que foi estuprado e morto de

um homem cis nos interpretando, pois se considera que uma travesti ou mulher trans é

forma brutal em 1993, num caso que chocou os Estados Unidos. Hilary, aliás, ganhou o Oscar de melhor atriz com a interpretação, mas disse

um homem vestido de mulher. Ser travesti é

anos depois que seria melhor que um ator trans

algo que marca meu corpo”, afirmou a atriz.

estivesse em seu lugar.

O BERRO

11

Será o fim da hegemonia cultural dos EUA entre o público jovem?

Por: Ana Carolina Pinto

C

onsumo de conteúdos culturais por parte dos jovens ainda é dominado por produções norte-americanas, mas conteúdos de outros países têm ganhado destaque.

Representatividade Quem sempre consumiu e deu mais espaço, estando mais abertos e se conectando com diferentes tipos de conteúdo, foi o público jovem.

Principalmente os adolescentes que sempre procuram em produtos culturais algo que os faça se

Hegemonia Norte Americana

sentir representados e promova um sentimento de pertencimento.

“Os jovens sempre tiveram muita dificuldade de se verem representadas na mídia mainstream

De acordo com a Repórter especial da

porque tudo sempre foi muito pautado no que dava

revista Continente e colunista do site, Débora

audiência no que era padrão.” contou Angela. Hoje,

Nascimento, o que mais pesa para que o cenário

questões como a orientação sexual são abordadas

cultural ainda seja hegemonizado pelos Estados

com mais facilidade. Diferentes etnias, raças sendo

Unidos, é a questão financeira.“Na lista dos dez

mostradas nos conteúdos culturais são aceitas.

artistas que mais ganharam dinheiro em 2019

“Artistas LGBTQIA+, negros, latinos têm

há oito norte-americanos, Taylor Swift, Kanye

conquistado mais espaço para divulgar seus

West, Eagles, Beyoncé, Jay-Z, Drake, P Diddy,

trabalhos e para encontrar seus públicos. A

Metallica. Então, podemos supor que o mercado

divulgação dessas temáticas antes acontecia de uma

ainda é dominado por eles no sentido do lucro

maneira mais velada e discreta. Nem mesmo artistas

comercial.”, afirmou.

abertamente gays, como Freddie Mercury ou Bob Mould, explicitaram sua sexualidade nas letras de suas músicas. Mas atualmente é feito mais aberta e maciçamente.” relatou.

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O BERRO

Serviços de streaming Alguns streamings de músicas e filmes são grandes facilitadores também de conteúdos de diferentes origens.

“O spotify ajuda nessa disseminação de músicas diferentes de outros países, pelo fato que não é preciso um grande investimento financeiro, pessoas podem colocar seus trabalhos lá sem

países algumas pessoas começam a enxergar esse conteúdo” “Mas o acesso a produtos de outros países hoje é maior. Porém a maioria das músicas mais ouvidas ainda são em língua inglesa, e os artistas que mais vendem são norteamericanos. A maioria do acervo disponível

gastar nada. Já a netflix, é um caso muito interessante, como o catálogo tem muitos filmes, séries de outros

(e mais popularizado) na Netflix é também norte-americano.” aponta Débora.

Fenômeno O fenômeno da internet De acordo com uma pesquisa realizada pelo network de firmas independentes, PwC, que analisou o comportamento de jovens entre oito e dezoito anos, quanto mais vão crescendo e se tornando adolescentes, eles consomem mais formas de entretenimento. Segundo a pesquisa a média de consumo desse público é de quinze horas semanais. “O acesso facilitado a esses produtos é fundamental para que isso ocorra.

Algumas décadas atrás, havia uma grande dificuldade para se ter contato com a cultura de outros países.” explicou Débora. Outra questão é a facilidade com que qualquer pessoa pode se mostrar online. Isso acaba gerando um certo tipo de interação e troca muito grande entre os jovens.

Há alguns anos atrás não existiam outras opções, o que estava passando no rádio ou na televisão era o que tinha para ser consumido, não existia o poder de escolha. Segundo Angela existe também o fato de que atualmente muitos conteúdos são feitos por pessoas e não somente por empresas que ditam o que as pessoas vão consumir.

Algumas produções que ganham cada vez mais espaço no coração dos adolescentes são de diversos países, são europeus, africanos, indianos, hispânicos.

Mas um conteúdo que merece destaque é o asiático. O fenômeno do Kpop derivado da Coreia é um exemplo.

“Eles cresceram muito por causa da internet, bombaram nas redes sociais com desafios de coreografias e com suas músicas. Os ídolos dessas bandas sempre foram muito produzidos para terem esse apelo com as pessoa mais jovens. Então sempre o sucesso está atrelado ao investimento, se existe dinheiro para investir para que esses produtos culturais consigam atingir

audiências no mundo todo, ele vai chegar longe.

Esse é o motivo pelo qual passamos muitos anos com a hegemonia econômica dos Estados Unidos, eles tinham mais dinheiro.” relatou Angela.

“No caso específico do Kpop, é bom lembrar que seu sucesso se deve, em grande parte, a ações de incentivo da divulgação da cultura sul-coreana pelo governo federal.” acrescentou Débora.

Outro exemplo de grande sucesso no mundo são os animes e mangás derivados do Japão como contou a jornalista.

“O mangá/anime é um fenômeno mundial, de uma linguagem própria, que cativa leitores e espectadores pela vastidão da produção.” concluiu.

O BERRO

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A cobrança do padrão de beleza em tempos de Instagram

Mas esses transtornos não surgem do nada, eles possuem alguma causa, e uma das razões mais recorrentes é a pressão estética. Camila Amaral, hoje com 23 anos, conta que sofreu com transtornos alimentares durante sua adolescência. “Eu era gordinha quando criança e minha irmã era magra, então nossa mãe nos comparava muito.

Isso fez com que eu tornasse a busca pelo peso ideal uma obsessão”, relembra ela. Dos 16 aos 18 ela se tornou tão obcecada por perder peso, que chegou a ficar sem se alimentar, “às vezes eu ficava sem comer absolutamente nada, e quando sentia que estava prestes a desmaiar,

Por: Mariana Ferreira

tomava um copo de leite”.

Infelizmente, isso não aconteceu só com Camila, mas acontece com muitas meninas ao redor do mundo, que

O

padrão não é algo que vem sendo imposto de maneiras diferentes ao longo dos séculos.

No decorrer das gerações, mesmo que as pessoas que representam esse padrão mudem, a história é a mesma: você não será bem aceito se não for exatamente aquilo que o padrão dita ser o certo.

Segundo uma pesquisa feita em janeiro de 2020 pelo The National Institute of Mental Health (NIMH), no Brasil pelo menos 1% das mulheres sofre de Anorexia, e a compulsão alimentar atinge cerca de 3% da população, além disso, o índice de mortes causadas por esse tipo de transtorno é alto, entre 18% e 20%.

14

O BERRO

todos os dias comparam seus corpos e seus rostos com as imagens que veem nas mídias. Ana Guimarães, de 17 anos, conta que mesmo que não se sinta mal com seu corpo, sempre que abre um story de alguma blogueira que ela segue e vê mais um procedimento estético que foi feito, acaba gerando um sentimento negativo nela. “Eu sempre fui magrinha, tenho dificuldade para ganhar peso e isso nunca me incomodou, mas no instagram todas são tão perfeitas, que eu acabo me perguntando: será que não tem algo de errado comigo?”

Recentemente a atriz e cantora teen Giovanna Chaves foi alvo de inúmeras críticas nas redes sociais por ter realizado uma cirurgia de lipoaspiração de alta definição, ou “lipo lad”, a mais nova sensação entre as famosas. A

cirurgia, além de remover a gordura abdominal, permite

algo que não precisa ser consertado, mas sim para que

também dar forma e contorno a região do abdômen,

possamos nos olhar com mais empatia e amor e entender

criando o tão sonhado “tanquinho”, que levaria alguns anos

de uma vez por todas que está tudo bem sermos quem

de dieta e academia para ser conquistado naturalmente.

somos. Essa é a beleza da imperfeição.

Giovanna postou em sua conta do instagram que iria realizar o procedimento porque “não estava satisfeita com algumas gordurinhas localizadas e também porque é preguiçosa demais pra fazer academia e se alimentar bem”.

A chuva de críticas se deu porque além de ter recém completado seus 18 anos, a atriz é dona de um corpo considerado por muitos como padrão. “Se queria fazer, que fizesse, mas não precisava exibir, seu público é muito jovem”, comentou uma seguidora em seu perfil.

Mas vamos encarar a realidade, não é o primeiro caso como esse que vemos e parece que também não é o último.

Uma “blogueira da vida real” que tem

A youtuber e digital influencer Virginia Fonseca, de 23

ganhado destaque é Natalia Khalim. Ao fazer um

anos, realizou o mesmo procedimento e durante seu pós-

comparativo irônico com as imagens de antes e

operatório, abriu uma caixinha de perguntas no instagram,

depois, Natália faz paralelos entre as expectativas

para que seus seguidores pudessem tirar dúvidas sobre

geradas pelo padrão e a realidade de pessoas

a cirurgia. Dias depois ela publicou um print onde uma

normais, com corpos reais. Entre os seus posts que

seguidora perguntava “tenho 14 anos, posso fazer a lipo

chamam mais atenção estão os “com pose e sem

lad?”. Virginia respondeu da seguinte forma, “não, meu

pose”, onde ela busca mostrar o poder que uma

amor, não pode. Gente, eu tenho consciência da minha

pose e uma boa postura têm na hora de clicar uma

responsabilidade aqui, minha intenção não é que vocês

foto. Assim, ela tem desmistificado esse padrão de

façam tudo que eu faço.”

beleza inalcançável que na maioria das vezes nem

Pesquisas realizadas pelo Google constataram que

mesmo é real.

durante o período de isolamento, as buscas por rinoplastia aumentaram cerca de 4.800% desde março. A razão dessa busca? Sair melhor nas selfies. Quem nunca usou um filtro do instagram para sair melhor na foto que atire a primeira pedra, mas você consegue se imaginar se submetendo a uma cirurgia que irá modificar completamente seu rosto só para ter em tempo integral aquela aparência que o filtro te dá? É isso que meninas entre 14 e 17 anos estão buscando desesperadamente. “Síndrome de selfie”, é assim que chamam a nova realidade das jovens e adolescentes que têm buscado os consultórios médicos em busca de uma melhor aparência para o instagram, facebook e tiktok, por exemplo.

“Pretty Hurts”, da icônica diva pop Beyoncé tem se mostrado cada vez mais atemporal. Apesar de ter sido lançada em 2013, o clipe que coloca em pauta os sacrifícios das mulheres em nome da beleza retrata perfeitamente o que vivenciamos hoje com as redes sociais, as pressões estéticas e a ditadura da perfeição. “A beleza dói, nós mostramos que temos de pior, a perfeição é a doença da nação”, parece que Beyoncé sabe bem do que estava falando. A perfeição se tornou nossa busca implacável, nossa maior meta, nos deixamos levar por uma ditadura que prega um corpo perfeito, quando a verdade é que a nossa alma é que precisa de cirurgia. Não para consertar O BERRO

15

Como está o cenário da moda atual e para onde estamos indo?

Nem só de glamour vive a moda e aqui você confere as principais problemáticas desse universo e o que pode fazer (agora mesmo!) para mudar a situação

C

Apesar de nova, Lelê Santhana (19

DO DIA PARA NOITE, é colaboradora da revista Elle Brasil e há pouco mais de um ano criou o perfil @ portaldasmodas no Instagram, que já tem 59,6 mil seguidores. “Historicamente, se a gente analisar, percebe que a indústria da moda sempre teve muitos problemas, se envolveu em muitos escândalos e a situação vem desde lá de trás, de estruturas que já estão acostumadas a funcionar de determinadas formas.

Para entendermos de onde vem

VIREM A CHAVINHA NA CABEÇA DELAS E SE TRANSFORMEM EM EMPRESAS SUPERCONSCIENTES E SOCIALMENTE ADEQUADAS. ISSO NÃO VAI ACONTECER, ENTÃO AÇÕES TÊM QUE SER TOMADAS

essas estruturas sobre as quais Lelê fala,

POR NÓS.”

precisamos voltar um pouco no tempo…

- LELÊ SANTHANA

A partir da década de 70, a intensificação da globalização e da terceirização para países em desenvolvimento do processo de produção impactou o modo de produção dos diversos tipos de indústria, inclusive

que não gostava de moda. Atualmente,

a têxtil. Grandes empresas migraram suas

O BERRO

SIMPLESMENTE QUE AS MARCAS,

anos), não se lembra de uma época em

16

A GENTE ESPERAR SENTADO

Por Lívia Baroni e Lorena Aguiar

om certeza você conhece a cena icônica do filme As Patricinhas de Beverly Hills em que Cher, em meio a várias pilhas de roupas, diz que não tem nada para vestir, né? E pode confessar que você já fez o mesmo! Mas basta olhar novamente e certamente vai encontrar mais peças do que normalmente usa ou precisa e o esforço e a exploração da indústria para produzir tanta roupa são um problema para o mundo e, em pleno 2020, não podemos mais fingir que ele simplesmente não existe.

É MUITO DIFÍCIL

fábricas para países do Oriente Médio, normalmente mais pobres, onde a

Last but not least…

mão de obra é mais barata devido às leis mais brandas e falta de fiscalização, como é o caso da China e do Sudeste

O último dos principais problemas

do Slow Fashion são os brechós. Se

Asiático. Segundo o documentário The

desencadeado pela indústria da moda

antigamente eles eram vistos como

True Cost, atualmente apenas 3% das

é que esse ciclo de descarte provocado

lugares que vendiam peças sem

roupas vendidas nos Estados Unidos são

intencionalmente pelas marcas afeta

qualidade, itens duvidosos com

de forma negativa a natureza. De

aspecto de velharia, hoje a imagem

fabricadas no país, enquanto que nos anos

acordo com o Greenpeace, 80 bilhões

dessas lojas não é mais a mesma. Na

de peças de roupa são produzidas em

verdade, os brechós são a sensação

todo o mundo e três de cada quatro

com os Cool kids. “As pessoas estão

ocupa posições que não gostaríamos.

são incineradas ou vão parar em

mais conscientes a respeito da

No ranking de exploração do trabalho,

aterros sanitários, sendo apenas um

sustentabilidade, além da questão da

quarto reciclado.

economia. No brechó você adquire

por exemplo, fica em segundo lugar,

Para tentar combater esse

uma peça de qualidade por um preço

60 o percentual era de 95%.

Infelizmente, a nossa tão amada moda

atrás apenas do setor de tecnologia, de acordo com a pesquisa The Global Slavery

modelo imposto pelo fast fashion, em

acessível, além de ajudar na questão

2004, surgiu o termo Slow Fashion,

socioambiental, pois colabora com a

Index 2018, da fundação Walk Free. “Isso

referindo-se a um novo estilo de moda,

diminuição de fatores prejudiciais ao

acontece basicamente na China e no

mais sustentável e com consciência de

ambiente produzidos pela indústria”,

Sudeste Asiático mas, isso não quer dizer

seus impactos no mundo. A Fundação

afirma Aline Melo de Souza, dona

Ellen Macarthur, instituição britânica

do brechó online no Instagram @

que o problema está setorizado lá apenas.”,

formada em 2010 com o objetivo

desapego.por.ninguem.

de incentivar a economia circular,

Aline Melo de Souza reforça a ideia

explica Dario. Aqui na América do Sul, a gente tem situações muito próximas

revelou no relatório “Uma nova

que é importante incentivar a prática

de denúncias contra diversas lojas que

economia têxtil” que a indústria da

do consumo consciente e mostrar

submetem seus trabalhadores a condições

moda consome anualmente cerca de

para as pessoas que é possível se vestir

98 milhões de toneladas, de recursos

bem e ajudar na sustentabilidade. O

análogas à escravidão.

não-renováveis, como o petróleo

aumento de vendas em mercado de

e fertilizantes inorgânicos, o que

segunda mão não é apenas uma mera

equivale ao peso de 12.250 milhões

impressão de Aline. Segundo o 2020

baixos, mas marcas como Zara e H&M,

de elefantes africanos. Ainda segundo

Resale Report, devido à pandemia, as

por exemplo, chegam a vender peças em

a pesquisa, a indústria têxtil é a maior

vendas do varejo devem diminuir cerca

grandes promoções por valores como

consumidora de água do mundo,

de 23%, enquanto que o mercado de

usando 93 trilhões de litros de água

segunda mão deve crescer 27%.

1 dólar ou 1 euro, a depender se a loja

Aqui no Brasil, com toda a carga tributária, a gente não vê preços tão

é nos EUA ou na Europa, e - com isso -

por ano, o suficiente para encher 37.2

A estudante de medicina Isabel

milhões de piscinas olímpicas. Devido

Tomé, 21 anos, comenta os motivos

a números assustadores como esses,

que a fizeram adquirir novos hábitos.

o Slow Fashion continua firme e forte

“Parei de consumir lojas com o modelo

a ver com o modo de consumo de roupas

com o intuito de minimizar os impactos

do fast fashion depois que soube

da moda no meio ambiente.

o quão nocivo era. Normalmente

mais popular hoje em dia: o fast fashion

lojas sustentáveis são caras, então

conseguem lucrar.

Dario destaca outro fator que tem tudo

ou moda rápida. “A durabilidade dos bens produzidos na moda é muito curta’’,

A SITUAÇÃO É MUITO SÉRIA, MAS

as de segunda mão vieram como

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

alternativa”. Assim como ela, Júlia

explica. Você já teve aquela sensação da

Lemos, 20 anos, também compra em

sua roupa novinha já estar com cara de

brechós, mas seus motivos são outros.

velha? Foi tudo planejado… A ideia do fast

forçar os mercados é justamente o que

“No final de 2016, comecei a assistir

vem do consumo. De que maneira?

os vídeos de Conan Gray, na época ele

fashion é justamente aumentar a produção

Não consumindo mais roupas, insumos

era youtuber de brechó, e fiquei muito

e produtos de moda que vêm de

apaixonada pelas vestimentas que

indústrias que notadamente trabalham

Conan comprava, e sabia que não ia

de comprar mais. Segundo o Comitê

com todo tipo de exploração. Se o

achar nunca essas roupas numa loja

da Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil,

consumidor for consciente a esse

normal”. Atualmente ela tem até um

ponto de boicotar aí, sim, acho que as

canal no youtube, para compartilhar

Confecção e Vestuário da Fiesp (Comtextil),

condições mudam”, comenta Dario.

vídeos com dicas para conseguir

“O movimento maior e que pode

Uma das alternativas aliadas

achados legais em brechós.

e reduzir a qualidade para que a peça dure menos e a gente sinta necessidade

foram vendidas mais de (pasmem!) 6 bilhões de peças de vestuário somente em 2017, o que significa uma média de 30 peças para cada brasileiro.

O BERRO

17

Brechós são ótimos, mas não para todos os corpos Mesmo Júlia sendo fã de brechós, ela sabe que nem tudo são flores e comenta que falta diversidade nessas lojas porque, como são roupas mais velhas, as marcas não tinham consciência da importância de ter peças para todo tipo de corpo, então modelos plus size são mais difíceis de se achar. Essa questão é de extrema importância, pois mostra que esse mercado ainda não é viável para todos os públicos e, como diz o ditado, quem cala consente, então todos precisam demandar mudanças.

A moda é uma potência econômica, cultural, artística e até política, marcando presença todo dia nas nossas vidas, desde o uniforme da escola até aquele lookinho todo trabalhado que a gente usa numa festa (ou pensa em usar pós pandemia). Mas vale lembrar que é importante levar em consideração os recursos disponíveis para gastar com roupas e procurar uma opção que caiba no bolso, hein? A melhor dica de Júlia para achar peças incríveis é ficar de olho no seu bairro, porque sempre tem aquela vizinha que não quer mais algumas roupas e coloca à venda num precinho ótimo. Já se você quer investir um pouco mais, a gente separou aqui uma listinha de marcas que estão arrasando e você pode comprar de consciência limpa. Vem ver!

01

Insecta Shoes

01

Osklen

01

Ginger

01

Pantys

01

Manui Brasil

E a gente finaliza por aqui, deixando o lembrete da nossa musa sensata, Lelê Santhana: “Só existe mudança quando a gente fala. Se todo mundo fica quieto e acomodado, dentro de suas casas e suas bolhas, nada vai mudar. A gente precisa de coragem pra falar, botar a cara a tapa e de entender nosso

18

poder como consumidor e o poder que a gente tem

ACHO QUE 2020 NÃO É MAIS TEMPO DE A

em mãos”. A jornada é longa, mas é caminhando

GENTE FINGIR QUE É COMPLETAMENTE

juntos nessa jornada que, aos poucos, vamos

PASSIVO EM RELAÇÃO ÀS NOSSAS

conquistando as mudanças necessárias.

ESCOLHAS.” - JÚLIA LEMOS

O BERRO

O BERRO

19

Pouca idade não quer dizer ter a mente sã Por: Osmar Cordeiro

Q

uem nunca se sentiu ansioso a ponto de chorar em posição fetal que atire a primeira pedra. Os problemas relacionados á saúde mental, são considerados o grande mal do século passado. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), quase 86% da população têm ou já tiveram algum transtorno psicológico.

Em uma sociedade com rotinas cada vez mais corridas,

20

O BERRO

sempre muito atarefadas com a sensação de que estamos perdendo muitas coisas lá fora, as pessoas acabam se sentindo consumidas por tanta informação, necessidades e cobranças. É necessário agir rápido, para que todas essas preocupações, como aflições e inseguranças, ainda mais em momento caótico em meio à pandemia da COVID-19, não os consumam e nem se prolongue para as próximas gerações.

As pressões do mundo moderno afetam todos os grupos etários, mas a juventude favorece este cenário de desestabilização diante de muitas decisões importantes que precisam ser tomadas no futuro. Estima-se que uma a cada seis pessoas com problemas de saúde mental tenham de 10 a 19 anos de idade, segundo a Organização Pan-Americana (OPAS), em uma pesquisa realizada no ano de 2018.

Esses dados só ressaltam o quanto

esse problema já está afetando a atual

sem se cobrar tanto por eventuais

psiquiátrico que pode ser causado de

e as futuras gerações. O importante

falhas”.

várias formas, trazendo uma tristeza,

é estar atento Apresentando a

Para que os índices de

oscilação no humor e ansiedade.

necessidade de procurar tratamento

adoecimento mental possam

psicológico caso não consiga controlar

diminuir, indo na contramão desse

anos, é um exemplo, para que sejam

certas angústias sozinho.

período complicado é necessário

tomadas as devidas precauções. “No

Em meio a aulas, projetos,

O caso de Pedro Fonseca, de 19

a compreensão sobre quem você

início me sentia nervoso e abatido,

estágios e pensamentos sobre um

é. A psicopedagoga Verônica

depois descobri que tinha depressão,

futuro profissional, com uma rotina

Menezes, especializada em crianças

felizmente, com a ajuda de um

bem atarefada, sendo cobrado por

e adolescentes afirma “A vida é

profissional da área hoje em dia já

suas decisões. É necessário tirar um

um processo dinâmico, com vários

me sinto bem melhor, mas é preciso

tempo para desopilar, como conta o

acontecimentos que podem favorecer

tempo e deve-se procurar ajuda”.

estudante de administração, Rodrigo

ou não a saúde mental. Reconhecer

Relata o jovem diagnosticado com tal

Freire de 23 anos “É questão de se

as emoções, pensamentos e

doença e teve de buscar formas para

organizar, e tem tempo para tudo.

comportamentos são primeiro passo

ficar com a mente sã novamente.

Então é importante tirar um período

para ter uma boa saúde mental.

do dia da semana para cuidar da sua

Ainda se fazem necessários uma boa

problema, é o primeiro passo na

saúde mental, ficar muito tempo com

alimentação, a prática de exercícios

busca de um tratamento. “A ajuda

a cabeça nos problemas pode ser

físicos, um bom sono e a identificação

profissional, deve ser procurada assim

prejudicial e o descanso nesse sentido

das coisas que favorecem o desejo da

que a pessoa afetada ou alguém

é muito importante”.

felicidade”.

próximo a ela detectar mudanças

Já para algumas pessoas se

Ficar triste por alguma frustração

Reconhecer que se tem um

emocionais e comportamentais, que

cuidar, apenas sozinho, pode não

que ocorre no dia-a-dia parece ser

venham a interferir nas atividades

surtir tanto efeito. É o caso do

algo normal, mas é necessário atenção

diárias da pessoa. Estar atento a

estudante de direito Felipe Guedes

caso esse fato vire uma constante,

tristeza profunda, oscilação de humor,

de 24 anos “A terapia é importante

por que algo muito pior pode estar

perda de sono e apetite e falto do

para se conhecer um pouco mais

atrelado. A tristeza é um sentimento

desejo de viver”, alerta Verônica

e entender como eliminar práticas

provocado por dor ou frustração, não

Menezes, nesse momento a ajuda

diárias que fazem mal, dessa buscar

pode ser confundida, com a depressão

deve ser procurada de imediato para

seguir a vida de maneira mais leve,

que nesse caso é um transtorno

evitar problemas maiores.

O BERRO

21

Consequências das conexões virtuais na saúde mental dos usuários Por: Vittoria Fialho

Q

uando você acorda pela manhã e abre os olhos, qual é a primeira coisa que você faz? Conectarse ao mundo virtual através do celular foi a resposta de 70% dos jovens entre 15 e 20 anos, segundo a pesquisa Phone Life Balance, realizada pela empresa Motorola em março deste ano.

A facilidade de acessar o mundo em poucos cliques

o Orkut e isso só se intensificou, até hoje, com Twitter e Instagram, principalmente. Se eu não me policiar, passo horas”, comentou. “Muitas das minhas queixas têm relação com o intenso contato que tenho com as redes sociais”, complementou.

A psicóloga Flávia Maciel reforça a fala de Kamila, e pontua que quando se trata de jovens entre 15 e 23 anos

torna a possibilidade de conexão contínua tentadora.

percebe pontos em comum. “A relação com as redes é

A estudante de pedagogia Kamila Oliveira, de 19 anos,

tão intensa que eles não enxergam como algo à parte. Os

confessa lembrar com dificuldade de quando fazia pouco

gatilhos não são só positivos, principalmente quando é

uso das redes sociais. “Já aos 8 anos tinha uma rotina com

estabelecida uma relação de dependência”, disse.

“O endeusamento da conexão” Beatriz Gallindo, 23, é estudante de jornalismo e comenta ouvir desde pequena sobre a importância

acontece no país está na minha rotina, e não

de se manter informada. “A produção de notícias

como uma escolha. Lidar com tudo isso em um

é algo muito intenso e muitas vezes a gente, que

momento de isolamento social é bastante duro pro

estuda e trabalha na área, endeusa uma conexão que

psicológico”, relatou.

nem sempre é saudável”, pontuou.

A jovem sublinhou a urgência do consumo de informações em meio à pandemia. “Continuei

22

trabalhando, ou seja, ler e pesquisar sobre o que

O BERRO

A psicóloga Thaís Leão, que manteve o atendimento online, comentou as diferenças percebidas durante a pandemia. “Foi muito

Reprodução do real na ficção A complexidade e a fragilidade da mente

vida. Naqueles que já

são ingredientes

sofriam com depressão

comumente

e tinham cogitado o

adicionados a um

suicídio anteriormente,

drama.

o aumento foi ainda

Em 2017, a Netflix

“Um caminho necessário de decifrar”

mais expressivo: 21,6%

produziu o seriado 13

tiveram mais ideação

Reasons Why (Os 13

suicida após a série.

porquês), no qual a

Por outro lado, nesse

protagonista comete

mesmo grupo, 49,5%

suicídio e deixa 13 fitas

disseram ter passado

detalhando os motivos

a conviver com menos

pelos quais tirou sua

pensamentos suicidas.

vida.

Luana Maria, 25 anos, recém formada em Educação

em tirar a própria

Um estudo feito

Em uma outra perspectiva, um

Física, conta que enfrentou crises de pânico por cinco anos

por pesquisadores do

estudo baseado no

e estava há dois meses ministrando aulas de atividades

Hospital de Clínicas de

Manual de Diagnóstico

funcionais na praia de Piedade, no município de Jaboatão

Porto Alegre analisou

e Estatístico de

dos Guararapes, quando a pandemia a impossibilitou de

respostas de 21.062

Transtornos Mentais

continuar.

adolescentes, entre 12 e

(DSM) mostrou que

19 anos, para entender

a representação de

casa sozinha depois de anos e podendo fazer algo que

até que ponto a série

transtornos mentais

amo. Durante os anos que enfrentei aqueles sintomas, me

pode ter influenciado

na maior parte dos

vi muito dependente das redes sociais. Quando finalmente

o pensamento e o

filmes é bastante real.

me distanciei dessa dependência, tive que me reinventar”,

comportamento

Ainda de acordo com

revelou.

dos jovens. Entre os

a pesquisa, o fato dos

adolescentes sem

sintomas aparecerem

sem utilizar as redes sociais. Ela revelou que ‘a gota d’água’

sintomas de depressão

no contexto de vida

foi quando precisou passar uma semana sem o celular e

ou pensamentos

dos personagens, não

notou mudanças bruscas de humor

suicidas antes de

apenas num único

ver a série, 4,7%

encontro clínico,

responderam ter

contribui para uma

passado a pensar mais

melhor representação.

“O impacto foi imediato. Estava começando a sair de

Luana ainda expôs a tentativa de passar um período

frequente escutar sobre ‘estar perdido’ dentro de casa. E essa sensação sempre acompanhava falas relacionando-a com sintomas de ansiedade e/ou

que relataram sintomas como crise de ansiedade e

depressivos”, disse.

estresse agudo mais que dobrou entre março e abril

De acordo com estudo realizado pela

deste ano.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicado pela revista The Lancet, os casos de depressão aumentaram 90% e o número de pessoas

O BERRO

23

2020 Quanto tempo dura um ano?

Por: Letícia Sarinho e Tereza Ferraz

S

e, nas palavras do jornalista e escritor Zuenir Ventura, 1968 é o ano que não terminou, 2020 segue pelo mesmo caminho de ser um desses ciclos de 365 dias que deixarão sua marca por um bom tempo. Assim como a ditadura militar tem resquícios e reveses até hoje, futuramente viveremos as sequelas que uma das maiores pandemias da história deixará para a humanidade.

A Natureza sofreu e “revidou” os maus tratos No quesito ambiental, o que parece é

consequências em larga escala, que é

ainda mais um sistema econômico

que a mãe natureza está devolvendo aos

o que vem acontecendo, para manter o

desnivelado, que acentua as diferenças

homens tudo que foi dado a ela. Não são

setor agropecuário. Os descasos podem

de classes, além de colocar o dinheiro

fenômenos naturais, são resultados das

ser relembrados desde a nomeação do

acima de tudo; ignorando ou diminuindo

ações humanas. A começar pelo novo

ministro do Meio Ambiente, Ricardo

as questões ambientais. Os erros se

coronavírus (Sars-CoV-2) que colocou

Salles, que quando candidato a

repetem e pessoas que visam apenas o

em jogo não só a vida de muitos, como

deputado federal pelo partido NOVO, fez

lucro continuam no controle de situações

a economia, a política e a estrutura da

referência em seu santinho (panfleto)

determinantes para o país como um

civilização.

ao uso de fuzis contra a esquerda,

todo, seja na área da saúde ou financeira.

As queimadas no Pantanal também

movimento sem-terra e à “praga de

Falando em dinheiro, nem em meio

reforçam isso. Em 2020, a intensidade

javalis” (animais europeus que ao

a uma pandemia mundial, a gestão do

do fogo aumentou drasticamente,

serem introduzidos na fauna brasileira

nosso país se mostrou preocupada com

prejudicando bastante o ecossistema;

trouxeram consequências à prática da

questões sanitárias e humanitárias.

de acordo com o Instituto Nacional de

agricultura). Contudo, prometer agir

Enquanto os países adotavam o

Pesquisas Espaciais (INPE), observou-se

de forma cruel para com os animais, é,

isolamento e lockdown para prevenir

um crescimento considerável de 210%

mais uma vez, ignorar as más condutas

o coronavírus, no Brasil, o presidente

neste ano, com 14.489 focos de incêndio.

humanas, e exercer um egoísmo em

diminuía a gravidade da doença. Não

relação ao mundo e suas diversidades.

obstante, seria impossível não sentir

As queimadas podem ser naturais ou propositais, para práticas de limpeza

Usando como exemplo as figuras

o peso na economia, visto que uma

e renovação de área, podendo ser

presentes no atual governo, parece que,

das moedas mais relevantes, o dólar,

eficazes para a fertilização do solo.

partindo da premissa de que o mundo

disparou chegando ao recorde de R$5,90

Contudo, essa intervenção traz graves

foi feito para ele, o homem reforça

no mês de maio.

24

O BERRO

Sociedade em transe

Intenso e turbulento, 2020 também deixa assinatura em questões sociais, tão ligadas aos contextos políticos e econômicos. Marcado pela discussão de temas altamente relevantes, o ano seguiu palco da luta contra o racismo; luta essa cada vez mais frequente. A morte de George Floyd, em maio, reacendeu o debate sobre violência policial, sobretudo contra negros.

O cenário por aqui não é muito diferente, diga-se de passagem, mas ainda fica uma impressão de que o brasileiro se solidariza mais com problemas externos e esquece de

olhar para o próprio mesmo quando a questão é similar. Os protestos devem continuar - ainda que esporadicamente -, mas essa é uma pauta que precisamos trabalhar melhor: o reconhecimento de nossos próprios problemas.

Não só de debates raciais se fez o ano: desde o começo, 2020 já abria espaço para reflexões sobre mais um assunto necessário: o feminismo.

A indignação com o desfecho do caso Mariana Ferrer, deixou ainda mais evidente a necessidade de se fazer barulho em prol da igualdade entre

gêneros. Parece que estamos longe de alcançála. O caso de Ferrer é reflexo da luta feminina em busca de seus direitos - mais triste ainda, em busca do direito de não ter o próprio corpo violado.

Nesse cenário, atingir esse objetivo demanda novos avanços diários. Por conta da pandemia, foi natural que as redes sociais se tornassem o palco desses tipos de debates (como já vinha acontecendo). Um grande questionamento para o próximo ano é se agiremos conforme os posts que compartilhamos ou se tudo vai ficar apenas no território online.

A Cultura dependeu da tecnologia Também não podemos ignorar

teríamos tido home office, aulas online,

tudo der certo, com todos fora de suas

2020 no que se refere à cultura. Desde

entretenimento gratuito (com as lives),

casas, sem necessidade de máscaras,

resistência a ataques (como a proposta

nem teríamos feito a feira do mês por

celebrando o fim da pandemia.

de tributação dos livros e tentativa de

aplicativo.Estender o alcance do mundo

Até lá, podemos (e devemos!)

censura de clássicos em Rondônia) até

digital para todo o Brasil (e mundo) será

pensar no que somos capazes de fazer

sua adaptação frente à pandemia (com

um desafio para os próximos anos.

para que os próximos anos sejam

os shows transmitidos por lives), o setor

E, aqui entre nós, que anos! 2020

mais leves. É notória a necessidade de

equilibrou-se onde podia e não podia

marca o fim do século 20 e o começo

priorizar o planeta, os movimentos em

para manter-se firme na corda bamba.

efetivo do século 21 (assim como a

defesa dos oprimidos socialmente, o

A tecnologia, mais uma vez, foi uma

Primeira Guerra Mundial deu o pontapé

combate à desinformação e a luta pela

parceira.

inicial prático no século passado);

educação. 2020 foi gigante, intenso,

o tempo não é tão definido como

arrebatador - para o bem ou para o mal.

pandemia mostrou foi como estamos

um calendário, em que basta virar a

Aqui, fica em aberto não só como fomos

dependentes dos recursos tecnológicos

página. Suas consequências seguirão

afetados, mas até quando seremos.

e da força da internet. Sem eles, não

vivas durante um longo período. Se

Se teve uma coisa que a

O BERRO

25

Não deixem de acessar nosso site, nossos podcasts e nosso instagram

@oberr.o