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Consequências das conexões virtuais na saúde mental dos usuários
from O Berro 2020.2
Por: Vittoria Fialho
Quando você acorda pela manhã e abre os olhos, qual é a primeira coisa que você faz? Conectarse ao mundo virtual através do celular foi a resposta de 70% dos jovens entre 15 e 20 anos, segundo a pesquisa Phone Life Balance, realizada pela empresa Motorola em março deste ano.
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A facilidade de acessar o mundo em poucos cliques torna a possibilidade de conexão contínua tentadora. A estudante de pedagogia Kamila Oliveira, de 19 anos, confessa lembrar com dificuldade de quando fazia pouco uso das redes sociais. “Já aos 8 anos tinha uma rotina com o Orkut e isso só se intensificou, até hoje, com Twitter e Instagram, principalmente. Se eu não me policiar, passo horas”, comentou. “Muitas das minhas queixas têm relação com o intenso contato que tenho com as redes sociais”, complementou.
A psicóloga Flávia Maciel reforça a fala de Kamila, e pontua que quando se trata de jovens entre 15 e 23 anos percebe pontos em comum. “A relação com as redes é tão intensa que eles não enxergam como algo à parte. Os gatilhos não são só positivos, principalmente quando é estabelecida uma relação de dependência”, disse.
Beatriz Gallindo, 23, é estudante de jornalismo e comenta ouvir desde pequena sobre a importância de se manter informada. “A produção de notícias é algo muito intenso e muitas vezes a gente, que estuda e trabalha na área, endeusa uma conexão que nem sempre é saudável”, pontuou.
A jovem sublinhou a urgência do consumo de informações em meio à pandemia. “Continuei trabalhando, ou seja, ler e pesquisar sobre o que acontece no país está na minha rotina, e não como uma escolha. Lidar com tudo isso em um momento de isolamento social é bastante duro pro psicológico”, relatou.
A psicóloga Thaís Leão, que manteve o atendimento online, comentou as diferenças percebidas durante a pandemia. “Foi muito
Luana Maria, 25 anos, recém formada em Educação Física, conta que enfrentou crises de pânico por cinco anos e estava há dois meses ministrando aulas de atividades funcionais na praia de Piedade, no município de Jaboatão dos Guararapes, quando a pandemia a impossibilitou de continuar.
“O impacto foi imediato. Estava começando a sair de casa sozinha depois de anos e podendo fazer algo que amo. Durante os anos que enfrentei aqueles sintomas, me vi muito dependente das redes sociais. Quando finalmente me distanciei dessa dependência, tive que me reinventar”, revelou.
Luana ainda expôs a tentativa de passar um período sem utilizar as redes sociais. Ela revelou que ‘a gota d’água’ foi quando precisou passar uma semana sem o celular e notou mudanças bruscas de humor
A complexidade e a fragilidade da mente são ingredientes comumente adicionados a um drama.
Em 2017, a Netflix produziu o seriado 13 Reasons Why (Os 13 porquês), no qual a protagonista comete suicídio e deixa 13 fitas detalhando os motivos pelos quais tirou sua vida.
Um estudo feito por pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre analisou respostas de 21.062 adolescentes, entre 12 e 19 anos, para entender até que ponto a série pode ter influenciado o pensamento e o comportamento dos jovens. Entre os adolescentes sem sintomas de depressão ou pensamentos suicidas antes de ver a série, 4,7% responderam ter passado a pensar mais em tirar a própria vida. Naqueles que já sofriam com depressão e tinham cogitado o suicídio anteriormente, o aumento foi ainda mais expressivo: 21,6% tiveram mais ideação suicida após a série. Por outro lado, nesse mesmo grupo, 49,5% disseram ter passado a conviver com menos pensamentos suicidas.
Em uma outra perspectiva, um estudo baseado no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) mostrou que a representação de transtornos mentais na maior parte dos filmes é bastante real. Ainda de acordo com a pesquisa, o fato dos sintomas aparecerem no contexto de vida dos personagens, não apenas num único encontro clínico, contribui para uma melhor representação.

frequente escutar sobre ‘estar perdido’ dentro de casa. E essa sensação sempre acompanhava falas relacionando-a com sintomas de ansiedade e/ou depressivos”, disse.
De acordo com estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicado pela revista The Lancet, os casos de depressão aumentaram 90% e o número de pessoas que relataram sintomas como crise de ansiedade e estresse agudo mais que dobrou entre março e abril deste ano.
Reprodução do real na ficção
2020 Quanto tempo dura um ano?

Por: Letícia Sarinho e Tereza Ferraz
Se, nas palavras do jornalista e escritor Zuenir Ventura, 1968 é o ano que não terminou, 2020 segue pelo mesmo caminho de ser um desses ciclos de 365 dias que deixarão sua marca por um bom tempo. Assim como a ditadura militar tem resquícios e reveses até hoje, futuramente viveremos as sequelas que uma das maiores pandemias da história deixará para a humanidade.
A Natureza sofreu e “revidou” os maus tratos
No quesito ambiental, o que parece é que a mãe natureza está devolvendo aos homens tudo que foi dado a ela. Não são fenômenos naturais, são resultados das ações humanas. A começar pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) que colocou em jogo não só a vida de muitos, como a economia, a política e a estrutura da civilização.
As queimadas no Pantanal também reforçam isso. Em 2020, a intensidade do fogo aumentou drasticamente, prejudicando bastante o ecossistema; de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), observou-se um crescimento considerável de 210% neste ano, com 14.489 focos de incêndio.
As queimadas podem ser naturais ou propositais, para práticas de limpeza e renovação de área, podendo ser eficazes para a fertilização do solo. Contudo, essa intervenção traz graves consequências em larga escala, que é o que vem acontecendo, para manter o setor agropecuário. Os descasos podem ser relembrados desde a nomeação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que quando candidato a deputado federal pelo partido NOVO, fez referência em seu santinho (panfleto) ao uso de fuzis contra a esquerda, movimento sem-terra e à “praga de javalis” (animais europeus que ao serem introduzidos na fauna brasileira trouxeram consequências à prática da agricultura). Contudo, prometer agir de forma cruel para com os animais, é, mais uma vez, ignorar as más condutas humanas, e exercer um egoísmo em relação ao mundo e suas diversidades.
Usando como exemplo as figuras presentes no atual governo, parece que, partindo da premissa de que o mundo foi feito para ele, o homem reforça ainda mais um sistema econômico desnivelado, que acentua as diferenças de classes, além de colocar o dinheiro acima de tudo; ignorando ou diminuindo as questões ambientais. Os erros se repetem e pessoas que visam apenas o lucro continuam no controle de situações determinantes para o país como um todo, seja na área da saúde ou financeira.
Falando em dinheiro, nem em meio a uma pandemia mundial, a gestão do nosso país se mostrou preocupada com questões sanitárias e humanitárias. Enquanto os países adotavam o isolamento e lockdown para prevenir o coronavírus, no Brasil, o presidente diminuía a gravidade da doença. Não obstante, seria impossível não sentir o peso na economia, visto que uma das moedas mais relevantes, o dólar, disparou chegando ao recorde de R$5,90 no mês de maio.

Sociedade em transe
A Cultura dependeu da tecnologia
Intenso e turbulento, 2020 também deixa assinatura em questões sociais, tão ligadas aos contextos políticos e econômicos. Marcado pela discussão de temas altamente relevantes, o ano seguiu palco da luta contra o racismo; luta essa cada vez mais frequente. A morte de George Floyd, em maio, reacendeu o debate sobre violência policial, sobretudo contra negros. O cenário por aqui não é muito diferente, diga-se de passagem, mas ainda fica uma impressão de que o brasileiro se solidariza mais com problemas externos e esquece de olhar para o próprio - mesmo quando a questão é similar. Os protestos devem continuar - ainda que esporadicamente -, mas essa é uma pauta que precisamos trabalhar melhor: o reconhecimento de nossos próprios problemas.
Não só de debates raciais se fez o ano: desde o começo, 2020 já abria espaço para reflexões sobre mais um assunto necessário: o feminismo. A indignação com o desfecho do caso Mariana Ferrer, deixou ainda mais evidente a necessidade de se fazer barulho em prol da igualdade entre gêneros. Parece que estamos longe de alcançála. O caso de Ferrer é reflexo da luta feminina em busca de seus direitos - mais triste ainda, em busca do direito de não ter o próprio corpo violado. Nesse cenário, atingir esse objetivo demanda novos avanços diários. Por conta da pandemia, foi natural que as redes sociais se tornassem o palco desses tipos de debates (como já vinha acontecendo). Um grande questionamento para o próximo ano é se agiremos conforme os posts que compartilhamos ou se tudo vai ficar apenas no território online.

Também não podemos ignorar 2020 no que se refere à cultura. Desde resistência a ataques (como a proposta de tributação dos livros e tentativa de censura de clássicos em Rondônia) até sua adaptação frente à pandemia (com os shows transmitidos por lives), o setor equilibrou-se onde podia e não podia para manter-se firme na corda bamba. A tecnologia, mais uma vez, foi uma parceira.
Se teve uma coisa que a pandemia mostrou foi como estamos dependentes dos recursos tecnológicos e da força da internet. Sem eles, não teríamos tido home office, aulas online, entretenimento gratuito (com as lives), nem teríamos feito a feira do mês por aplicativo.Estender o alcance do mundo digital para todo o Brasil (e mundo) será um desafio para os próximos anos.
E, aqui entre nós, que anos! 2020 marca o fim do século 20 e o começo efetivo do século 21 (assim como a Primeira Guerra Mundial deu o pontapé inicial prático no século passado); o tempo não é tão definido como um calendário, em que basta virar a página. Suas consequências seguirão vivas durante um longo período. Se tudo der certo, com todos fora de suas casas, sem necessidade de máscaras, celebrando o fim da pandemia.
Até lá, podemos (e devemos!) pensar no que somos capazes de fazer para que os próximos anos sejam mais leves. É notória a necessidade de
priorizar o planeta, os movimentos em defesa dos oprimidos socialmente, o combate à desinformação e a luta pela educação. 2020 foi gigante, intenso, arrebatador - para o bem ou para o mal. Aqui, fica em aberto não só como fomos afetados, mas até quando seremos.