Os dois lados de uma mesma rede As construções do convívio nas redes sociais são reflexos de nossas próprias personalidades
Por Livia Veiga Andrade, Ricardo Dias de Oliveira Filho e Victória Toral de Oliveira
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autoestima fragilizada por conta de alguns comentários. Em entrevista ao Contraponto, ambos relatam sobre os ataques nas redes sociais. Breno Oroz: Em 2015, eu era muito fã de alguns youtubers, nisso acabei criando meu canal, por influência deles. Porque, depois que os conheci, eles apoiaram e deram umas dicas, [...] então, eles começaram a postar muita coisa comigo e comecei a sofrer muitos ataques dos seguidores deles. Por conta disso quis parar, mas acho que isso me deu muita força. Madu Dornelas: Teve uma época em que eu cortei a franja e as pessoas começaram a falar: “Quando a franja dela crescer, eu vou voltar a seguir”. É apenas estética, eu estava me sentindo ótima com a franja, e a partir desses comentários comecei a me olhar no espelho e ficar, ‘Caramba, será que está ruim mesmo?’. E isso me deixou bem para baixo”. CP: O que as redes sociais já te proporcionaram? BO: Muita coisa. Foi por conta das redes sociais que tive, em partes, meu primeiro emprego assalariado. Hoje em dia, recebo para postar uma parcela dos meus vídeos. Foi um lugar que, querendo ou não, eu fiz grandes amizades, grandes ensinamentos e acho que isso é maior que qualquer coisa.
MD: Conhecer pessoas que eu nunca pensei que conheceria e fazer muitos trabalhos. Ainda sou uma influenciadora pequena, então não tenho tanta coisa, mas, por exemplo, faço teatro e muitos dos meus seguidores vão me assistir, isso já me ajudou bastante com a peça. Apesar dos pontos negativos, as redes sociais mostram ser espaço de novas oportunidades. Além de aproximar pessoas, permitem que elas se expressem e criem conteúdos, possibilitando novas formas de trabalho. A maneira como nos relacionamos com as redes é reflexo do que estamos buscando para nossas vidas. Ter autoconhecimento é fundamental para sabermos usar as redes sociais e direcioná-las ao caminho que traga um propósito, servindo, assim, como uma ferramenta. No caso do perfil Mídiamor, no Instagram, criado pela especialista em inteligência emocional e comunicação não violenta, Paula Roosch, existe um redirecionamento da forma de usar o aplicativo ao compartilhar histórias de outras pessoas, com o intuito de trazer a reflexão sobre empatia, compaixão e altruísmo. “Tem pessoas que se inspiram nas histórias, não só para reduzir a ansiedade, ou para ter mais esperança, percebo esse efeito também na minha vida, quando entro em contato com as histórias e quando meus amigos, ou pessoas conhecidas, falam o quanto que ver o conteúdo no feed tem o potencial de mudar a qualidade do dia. É muito poderoso perceber que alguns segundos e minutos de interação podem promover reflexões. A especialista complementa: “Contar histórias é a melhor forma de fazer isso, as pessoas começam a refletir sobre a própria vida de uma forma prática. Essa é a principal função do Mídiamor diamor; não ser só uma pílula de alívio para tanta coisa ruim que acontece, como também, ser uma dose de inspiração”.
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s redes sociais promovem conexões entre diversas pessoas, por meio do compartilhamento de informações e histórias. Nelas, também inicia-se o debate sobre a negatividade que a mesma causa na sociedade, mas a análise não pode se voltar apenas para a toxicidade motivada pelos aplicativos em alta. Investigar a internet, hoje em dia, permite enxergar seu caráter dual. Para a psicóloga e psicanalista, Daniella Vieira, a sobreposição das partes negativas e esse duplo perfil da internet ficaram mais aparentes. “Foi exatamente pesquisando a parte negativa que me deparei com coisas muito positivas. Temos a tendência em estranhar tudo que é novo e demonizar a rede como se ela fosse o problema”. Mostrar o lado positivo das redes sociais não anula a necessidade de educar os usuários quanto às consequências da disseminação de ódio e de seu uso excessivo. Segundo Daniella, o uso exagerado dessas estruturas pode acentuar diversos problemas psicológicos, como: ansiedade, baixa autoestima, intolerância à frustração e sono prejudicado, podendo levar a resultados mais extremos, como o caso do suicídio de Lucas Santos, 16 anos, filho da cantora Walkyria Santos, vítima de comentários homofóbicos após postar um vídeo com um amigo no Tik Tok. Perguntada sobre a possível motivação de comentários negativos nas redes, Daniella responde que as pessoas agem de tal maneira devido a diversos fatores, principalmente, pelo anonimato garantido e pela inveja: “Esse discurso de ódio realmente tem se relacionado com aquele que está escrevendo, e não com a pessoa que está recebendo”. Como aconteceu com o criador de conteúdo, Breno Oroz, que relatou passar por um período conturbado, aos 12 anos, após ganhar visibilidade com a ajuda de outros youtubers e da atriz, Madu Dornelas, que teve sua
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CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP