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Lava Jato × Vaza Jato: quais os legados para 2022?

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Invisível

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Uma análise sobre a repercussão da operação e da saga investigativa nas próximas eleições presidenciais

Por Juliana Mello, Leonardo Matias Duarte e Letícia Coimbra

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AOperação Lava Jato nasceu em março de 2014, na Justiça Federal do Paraná e rapidamente se tornou a esperança contra a corrupção do Brasil. A investigação começou tendo como alvo quatro organizações criminosas que contavam com a presença de agentes públicos, empresários e doleiros. Em seguida, tornou-se maior ao chegar em irregularidades na Petrobrás.

Considerada um símbolo de justiça, a operação utilizava de métodos antiéticos e ilegais, desde interferências na liberdade de imprensa até ações que feriam os fundamentos do direito processual.

Um dos pontos altos do processo foi quando o ex-presidente Lula (PT), líder nas pesquisas para a presidência nas Eleições de 2018, depois de condenado por Sérgio Moro, fi cou inelegível – fator importante para a vitória de Jair Bolsonaro (sem partido).

Em relação ao apartamento triplex no Guarujá, que Lula supostamente teria recebido de presente após ter favorecido a empreiteira OAS em contratos com a Petrobrás – sendo esse, o ponto mais importante na denúncia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro –, a Lava Jato usou como evidência uma reportagem do jornal O Globo. Na acusação, os procuradores indicaram o apartamento na torre errada (era na torre B, mas alegaram na torre A), o que colocou em xeque a qualidade da investigação. O procurador, Deltan Dallagnol, admitiu, em uma rede social de mensagens acessada pelo The Intercept Brasil, não haver provas de que Lula teria vínculo com os R$87 milhões em propina pagos pela OAS em contratos para obras em duas refi narias da Petrobrás. No entanto, essa acusação era importante para que o caso fosse julgado por Moro.

Após as eleições, o ex-juiz federal aceitou o cargo de Ministro da Justiça, mesmo tendo dito anteriormente que não seguiria carreira política, fazendo com que a sentença fosse subentendida, por parte da população, como uma manobra para infl uenciar a opinião pública, e ao usar do crescente antipetismo de parte da população, favoreceu o projeto político da extrema-direita, que hoje, governa o país.

Além da conduta nos meios legais, os procuradores da Justiça Federal de Curitiba, em especial Dallagnol, também foram criticados quanto às suas atitudes fora da investigação, usufruindo da fama para se autopromoverem. José Salvador Faro, professor de Jornalismo da PUC-SP, questionado sobre o assunto, disse: “A espetacularização das denúncias veio acompanhada da mitifi cação de seus protagonistas, fossem procuradores ou juízes. Em especial, destaco a invenção de um discurso ‘redentor’ de Sérgio Moro – ou a ele atribuído, em torno de uma promessa que é um elemento fundamental no imaginário de parcela signifi cativa do eleitorado brasileiro: a da erradicação da corrupção”.

“Durante toda a operação Lava Jato houve uma clara ‘simpatia’ dos grandes veículos de comunicação com a agressiva campanha de denúncias que atingiam o núcleo dos governos Lula, em especial a fi gura do presidente”, diz Faro sobre a relação da investigação com a grande mídia. “Embora fosse visível que o direcionamento das investigações era mais político do que judicial, a possibilidade de que as narrativas das denúncias tivessem um viés desconstrutivo da imagem de Lula, como fi caria comprovado com as revelações da Vaza Jato, não chegou a se tornar o foco de apurações em profundidade do jornalismo praticado por aqueles veículos”, fi naliza.

Durante um tempo, os procuradores da Lava Jato mantiveram os processos em sigilo, difi cultando o trabalho da mídia e a avaliação pública da validade da operação. Contudo, a Vaza-Jato, saga investigativa do The Intercept Brasil, chefi ada por Glenn Greenwald, revelou que tudo se tratava de um grande escândalo envolvendo lideranças políticas, agências internacionais e grandes empresas acusadas de corrupção.

Tornou-se pública a tentativa por parte dos procuradores da força-tarefa, liderados por Dallagnol. Em Curitiba, discutiram a possibilidade de transformarem a entrevista que o ex-presidente Lula, enquanto preso, daria à Mônica Bergamo, jornalista da Folha de S.Paulo, para amenizar os impactos políticos que benefi ciassem o ex-presidente nas eleições, ou então, fazer a entrevista depois do período eleitoral.

O The Intercept Brasil também publicou em uma das reportagens, o trecho de uma mensagem da procuradora Laura Tessler, no qual confessa: “Ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve.” A fala de Tessler reforçou a imparcialidade da operação. Além disso, Moro interferiu na investigação, sugerindo que a ordem de fases da operação fosse trocada. Aconselhava como prosseguir, infringindo a Constituição, uma vez que é dever do juiz analisar as alegações imparcialmente, tanto da defesa quanto da acusação.

Apesar do ex-juiz ser cotado para representar a “terceira via” nas eleições de 2022, Vitor Peixoto de Moraes, professor na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, mestre e doutor em Ciência Política afi rma: “Moro tem pouco enraizamento institucional, falta uma organização partidária capilarizada e articulação de lideranças que lhe garanta sustentação eleitoral”, completa, “Bolsonaro se elegeu sem estes fundamentos, mas numa eleição muito atípica cujas características difi cilmente se repetiriam.”

Questionado sobre os possíveis impactos causados pelas revelações que a Lava Jato trouxe à tona, Moraes diz que a imagem da perseguição e prisão do Lula, feita pelos procuradores, será utilizada pelo PT: “São imagens muito fortes e caem como uma luva na narrativa sebastianista redentora de Lula. De certa forma, já está sendo utilizada nos discursos pré-candidatura petistas”.

© Marcelo Chello/Folhapress Ex-presidente Lula

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