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Como uma fênix, o Museu da Língua Portuguesa renasce das cinzas
A reinauguração acontece com recuperação dos espaços internos e com exposição focada na história e trajetória da instituição
Por Fernando Maia, Mayara de Moraes Neudl e Pedro Henrique Portes
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No dia 21 de dezembro de 2015, por volta das 15:50, o Museu da Língua Portuguesa era acometido pelo incêndio que se tornaria histórico. O fogo teve início no primeiro andar, tomando conta rapidamente dos andares superiores por conta dos materiais da construção, compostos por madeiras, plásticos e borrachas; e alastrou-se por toda a área de 4,3 mil m² dos três pavimentos.
A tragédia ocorreu em um dia que o local estava fechado para o público e, segundo o inquérito relatado em julho de 2019, pelo Instituto de Criminalística, foi provocada por um dano em um dos holofotes na Estação da Luz.
Com a necessidade de 37 viaturas e 97 bombeiros, o incidente – que foi controlado após duas horas e meia – levou ao falecimento do bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, que trabalhava na instalação e sofreu uma parada cardiorrespiratória. O Museu da Língua Portuguesa era assegurado em R$45 milhões no caso de incêndio, e tinha todo o seu acervo em backup.
O prédio manteve as portas fechadas por quase seis anos, para reforma e reconstrução das áreas afetadas pelo incêndio que atingiu a estrutura. A obra, a qual teve início efetivo apenas em dezembro do ano seguinte ao incêndio, foi uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo e seguiu sob responsabilidade da Fundação Roberto Marinho em parceria com o IDBrasil, organização social encarregada da gestão do museu.
A restauração contou com o patrocínio principal da empresa portuguesa EDP, além de contribuições vindas do Grupo Globo, Grupo Itaú, Sabesp, bem como verbas federais por meio da Lei Rouanet. No total, houve um investimento conjunto de mais de 85 milhões de reais.
Para que a obra fosse possível, foram desenvolvidas três fases de ação: primeiro, o restauro das fachadas e esquadrias, seguido pela reconstrução da cobertura consumida pelo incêndio e, finalmente, a recuperação dos espaços internos. Ainda foram realizadas obras de conservação na cobertura da Ala Oeste do museu, que não foi afetada durante a tragédia, com o objetivo de fortalecer a estrutura. Hoje, as melhorias superam as exigências de segurança do Corpo de Bombeiros.
© Reprodução
Reconstrução do Museu da Língua Portuguesa
Em busca do selo de sustentabilidade LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), o qual foi conquistado, cerca de 85% da madeira utilizada nas reformas foi reaproveitada da própria estrutura e os 89.150kg restantes eram provenientes e certificadas da Amazônia. A estrutura de madeira remanescente da cobertura foi reciclada na reparação das fachadas e esquadrias.
A reconstrução foi, enfim, finalizada em dezembro de 2019, seguida de uma série de testes de funcionamento, assim como o treinamento de funcionários. Durante os anos em que o museu esteve fechado, a gestão da instituição não deixou de realizar atividades para celebrar a Língua Portuguesa, como foi o caso em 2017, 2018 e 2019 no Dia Internacional da Língua Portuguesa, tal como em outras ocasiões.
O museu, localizado na praça da Luz, foi reinaugurado no dia 31 de julho e, apesar de o Governo Federal não ter enviado um representante, compareceram João Dória, governador do Estado de São Paulo, e os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer. Também houve a presença de outros correspondentes lusófonos, entre eles, o presidente de Cabo Verde e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que condecorou a instituição com a Ordem de Camões, declarando: “Aqui viemos para dizer que uma língua é uma alma feita de milhões de almas, pela qual se ama, se sofre, se cria, se chora, se ri, se pensa, se escreve, se fala”.
Atualmente, a construção é composta por instalações interativas. Algumas novas, mas também outras que foram preservadas e atualizadas, como a “Falares”, que retrata diferentes sotaques e expressões do idioma. Uma das mais recentes é “Línguas do Mundo”, uma “floresta de línguas” que recita frases em 23 línguas diferentes. Ainda foi construído um terraço em homenagem ao Paulo Mendes da Rocha, arquiteto que idealizou um projeto de intervenção no museu em 2006, no terceiro piso.
Na entrada, encontra-se uma viga de madeira do telhado, queimada no dia do incêndio, para relembrar aos visitantes a história do local.
A exposição de inauguração do museu tem como um de seus principais aspectos demonstrar a história e trajetória da língua portuguesa, destacando suas diversidades, tanto proveniente de outras culturas – árabe, africana e indígena –, quanto a falada e modificada nas ruas. Segundo Isa Grinspum Ferraz, curadora do museu, isso ocorre com o objetivo de demonstrar que, enquanto falantes, todos são autores da língua de alguma maneira.