Sarau da mulher
Neusa Bernado Coelho é poetisa, histo-
riadora. Autora e coautora de obras literárias. Membro de várias confrarias à nivel nacional e internacional. Colunista no Portal Palhoça, também escreve na Revue Cultive de Genebra
los ou vassouras voadoras. Suas habilidades artísticas e intelectuais mantidas em segredo, somente reveladas em requintadas telas paisagísticas onde a vasta beleza natural e cenas cotidianas do litoral brasileiro exibiam-se em cores exuberantes. Essas mulheres, pouco valorizadas utilizam o próprio poder místico para conquistar liberdade e evoluir na igualdade de direitos na sociedade. Participam da vida comunitária, estudam, ocupam espaços no mercado de trabalho, escrevem e exercem múltiplas funções. O saber transmitido por sucessivas gerações compõe o caldo cultural brasileiro onde seus costumes originários, entrelaçados aos dos indígenas, estão presentes no cotidiano, nas celebrações, ritos, manifestações culturais e artesanais. Em algumas regiões do litoral sul-brasileiro destacam-se: Renda de bilro, cerâmica, balaios, esteiras, cantos, rezas, benzeduras, cantoria do Divino, boi-de-mamão, terno de reis, etc. A evolução tecnológica permite acessar acervos culturais e as variadas conquistas dessas guerreiras, donas de talento sobrenatural e resiliência; as mesmas que um dia foram consideradas viajantes fugitivas em suas vassouras bruxólicas. Apesar de muitos direitos serem adquiridos ao longo de séculos, cabe à sociedade a função de respeitar e ajudá-las para que possam avançar mais em igualdade e liberdade num mundo sem fronteiras. Triunfo na perseverança Sou mulher de combate altivo Com estrelas a me guiar Transmuto névoas do destino Para proezas granjear.
Foto Google - Franklin Cascaes
O PODER MÍSTICO DA MULHER
Tenho fé e esperança De meus sonhos acalantar Triunfo na perseverança: De colher o que eu plantar.
Há séculos, mulheres sábias ousaram deixar sua terra natal em busca de vida nova. Atravessaram o Atlântico Em cada vitória que alcanço acusadas de feitiçaria por cuidarem do próprio corpo Sigo na mesma conduta com ervas. Nas aventureiras fugas portavam consigo Não me entrego ao cansaço a rica cultura milenar de um povo sofrido por inter- Nem ao peso da labuta. mináveis guerras e perseguições. A viagem inusitada realizada em noites enluaradas seguia um ritual para não serem reconhecidas, pois segundo a tradição, todas as mulheres autônomas eram consideradas bruxas. Assim sendo, a comitiva deslocava-se de um lugar para outro durante as madrugadas, utilizando meios de locomoção rústicos: canoas, cava-
Revue Cultive - Genève
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