16 Revue Cultive

Page 1

REVUE CULTIVE - ISSN 2571-564X

n°016 | Année 05 |mars 2022

BICENTENÁRIO MARIA FIRMINA DOS REIS MULHER NEGRA POÉSIA GUERRA 100 ANOS

DA SEMANA DA ARTE MODERNA Revue Cultive - Genève

1


ARTPLUS N° 3 REVERENCIANDO A MULHER BRASILEIRA

2

Revue Cultive - Genève


Cultive Revue littéraire et culturel

Caro leitor Essa edição da revista Cultive é a primeira do ano de 2022 e nela eventos de grande importância brasileira estão em evidência. O mês de março é o mês da mulher. O tema central dessa edição gira em torno dela. Coroamos, nessas páginas, uma grande figura feminina brasileira do século XIX. Ela, que ficou invisível por quase um século, estaria justamente no dia 11 de março completando 200 anos. Ela seria um marco para o mês da mulher e para a luta contra o racismo e a misoginia, pois se trata da mulher negra e escritora Maria Firmina dos Reis. Uma personagem brasileira que traz as 2 características mais discriminadas de toda a história a cor e o gênero. Maria Firmina dos Reis é ressaltada por estudiosos da sua biografia e cantada em versos.

Fechando a seção da Semana Arte Moderna nessa revista, selecionamos obras de pintores modernos e contemporâneos e apresentamos uma exposição com obras de diversos estilos. Você poderá comparar o que foi feito e o que se faz atualmente na arte. Por fim um caderno literário apresenta um catálogo de obras de autores de estilos variados.

Os autores e autoras contemporânea(o)s floreiam as páginas dessa edição, para o deleite do leitor, com seus poemas, crônicas e ensaios. O tempo da guerra é passado, mas o assunto continua em pauta, estudado por pesquisadores que não deixam esse período negro da história da humanidade enterrado e com muita veracidade é abordado aqui por estudiosos do assunto. Trazemos, também para o público, a história da Semana da Arte Moderna brasileira, seus participantes, suas biografias e suas obras comentadas por escritores e artistas apaixonados pela assunto. Revue Cultive - Genève

3


SOMÁRIO BICENTENÁRIO DE FIRMINA 04 |Valquiria Imperiano 06 | Bicentenário De Maria Firmina Dos Reis 10 | Dilercy Adler- Maria Firmina Dos Reis 12 | Nascimento Morais Filho Eu Te Louvo Senhora - Dilercy Adler

MULHERES GUERREIRAS 23 |Valquiria Imperiano 24 | Carolina Maria De Jesus 25 | Conceição Evaristo 27 |Antonieta De Barros - Neusa Bernado Coelho 29 | Tereza De Benguela 30 | Laudelina De Campos Melo 31 | Maria Benedita Bormann

MULHERES LITERÁRIAS 32 | Rita Queiroz 33 | Elaína Cristina de Maria 34 | Gabriela Lopes 36 | Maria José Negrão 42 |Maria Inês Botelho 43 | Giuliana Conceição Almeida 44 | Valquiria Imperiano 46 | Avani Peixe 47 | Vera De Barcellos 48 | Liduina Vidal de Almeida 49 | Eluciana Iris 50 | Leni Zilioto 52 | Lucia Sousa 56 | Colly Holanda Soares 57 | Nagesia Diniz Barbosa 58 | Maria Natividade Silva Rodrigues 59 | Shellah Avellar 60 | Matilde Conti 64 | Jacira Barros 65 | Lenita Stark 66 | Rhany Costa 68 | Renata Barcellos 69 | Joelma Estela Queiroz 71 | Carmen Lúcia de Oliveira Pires 72 | Jania Souza 73 | Rita Potyguara 74 | Márcia Wayna Kambeba

4

Revue Cultive - Genève

76 | Paulo Bretas 78 | Carlos Cardoso 80 | Pietro costa 81 | Pio Barbosa 84 | Luiz Carlos Amorim 86 | Leonardo Andreh: 87 | João Amorim 89 | Toinho Gavião

GUERRA 90 | Eleazar De Castro Ribeiro 91 | Valdivia S. Beauchamp 102 | Edson Santana do Carmo

104| SEMANA DA ARTE MODERNA 108 | Maria Linda Lemos Bezerra 109 | Anita Catarina Malfatti 110 | Tarsila do Amaral 111 | Graça Aranha 111 | Victor Brecheret 112 | Di Cavalcanti 113 | Oswaldo de Andrade - Maria José Esmeraldo Rolim 115 | Menotti Del Picchia 116 | Sérgio Milliet - Norma Brito 117 | Villa Lobos - Julio Gurgel

118| OBRAS MODERNAS 119 | Tarsila do Amaral 120 | Di Cavalcanti 122 | Anita Catarina Malfatti

ARTE CONTEMPORÂNEA 124 127 129 133 135 145 147 149 150 151 153

| Lu Imperiano | Avani Peixe | Maria Nazaré Cavalcanti | Rita Guedes | Valquiria Imperiano | Shellah Avellar | Gabriela Lopes | Karmem Pires | ROSALVA SANTOS | IZABEL PECORONE | Zezé Negrão

156 |CATÁLOGO CATÁLOGO LITERÁRIO


Revue Cultive - Genève

5


Comércio- -SESC; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial -SENAC e Institut Cultive Suisse Brésil. Não há como ser refutada a grandiosidade da obra de Maria Firmina dos Reis. E no dia 11 de março, de 2022 dar-se-á a abertura da comemoração dos 200 anos de nascimento.

BICENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: a Rosa-de-Jericó (1822- 2022)

Desse modo, a Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis, desde 2013, ano da sua criação (10 de agosto), vem buscando ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais possíveis, objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, considerando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua.

Igualmente a Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB reconhece a importância do nome de Maria Firmina dos Reis para o Brasil e para os brasileiros, assim como para os países latinos, especialmente no que diz respeito à cultura e embates pioneiros nas questões dos Direitos Humanos, Fraternidade e Justiça Social, ainda como, o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães-IHGG - “Casa de Maria Firmina dos Reis” e, ainda, a Academia João Lisboense de Letras-AJL, Casa de Instituições Parceiras: Maria Firmina dos Reis comungam dos mesmos Instituto Histórico e Geográfico da Maran- entendimentos e propósitos. hão-IHGM; Universidade Federal do Maranhão: UFMA: Departamento de Letras, Reitoria; Uni- A exemplo de 1975, ano de grandes homenagens versidade Estadual do Maranhão-UEMA: Depar- à ilustre escritora Maria Firmina dos Reis, intitamento de Letras, Reitoria; Federação das Acade- tulado por Adler (2017): “Ano Rosa-de-Jericó de mias de Letras do Maranhão-FALMA; Sociedade Maria Firmina dos Reis: ano de verdejar”, neste de Cultura Latina do estado do Maranhão-SCL- bicentenário, a Academia Ludovicense de Letras, a MA; Academia Maranhense de Trovas, Associação Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB, o InsMaranhenses de Escritores Independentes-AMEI, tituto Histórico e Geográfico de Guimarães-IHGG Secretaria de Estado da Educação-SEDUC; Secre- e a Academia João Lisboense de Letras-AJL, com taria Municipal de Educação; Secretaria de Esta- outras instituições parceiras se dispõem a organido da Cultura; Secretaria Municipal da Cultura; zar uma grande festa comemorativa alusiva ao aniConselho Estadual de Cultura, Conselho Estadual versário de 200 anos de nascimento dessa ilustre de Educação, Conselho Municipal de educação; maranhense. Conselho Municipal de Cultura, Biblioteca Pública Benedito Leite, Biblioteca Municipal José Sarney, A Rosa-de-Jericó é também chamada de Tribunal de Contas do Estado do Maranhão- Bi- flor-da-ressurreição por sua impressionante capablioteca “Maria Firmina dos Reis, Solar Maria Fir- cidade de voltar à vida. As Rosas-de-Jericó podem mina dos Reis, Instituto do Patrimônio Histórico ser transportadas por muitos quilômetros pelos e Artístico Nacional IPHAN-Maranhão; Funda- ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante ção Municipal de patrimônio Histórico-FUMPH, muito tempo, e ao encontrarem um lugar úmido, Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando Câmara Municipal de São Luís; Serviço Social do A Academia Ludovicense de Letras-ALL “Casa de Maria Firmina dos Reis”; Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB; Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães-IHGG-“Casa de Maria Firmina dos Reis”; Academia João-lisboense de Letras-AJL “Casa de Maria dos Reis” Organizam a comemoração alusiva ao aniversário de 200 anos de nascimento de Maria Firmina dos Reis.

6

Revue Cultive - Genève


a verdejar!

Literário-Cultural Maranhense e Brasileira. Em São Luís, essa missão é capitaneada pela Academia São muitas as semelhanças entre Maria Firmina Ludovicense de Letras e em Guimarães, pela Pree a Rosa-de-Jericó. Esta permanece seca e fecha- feitura e o Instituto Histórico e Geográfico de Guida aparentando estar totalmente sem vida por al- marães. Convém enfatizar que foi nessa cidade que gum tempo, no entanto, basta algum contato com ela viveu a maior parte da sua vida e, por consea umidade para ela estender suas folhas, espalhar guinte, além de exercer a profissão de Mestra Régia suas sementes e retornar à vida, mostrando a sua (conforme aprovação em concurso para professora beleza. de primeiras letras do sexo feminino para a Vila de Guimarães), também escreveu toda a sua obra. Conforme Morais Filho (1975), em São Luís e Guimarães, no ano de 1975, foi comemorado o sesqui- Dessa forma, acredita-se que deve ser sempre lemcentenário de Maria Firmina. Muitas homenagens brado que, a despeito de todas as condições e caforam prestadas a ela, entre as quais, em São Luís: a racterísticas adversas vividas e experienciadas por participação de Horácio de Almeida, que veio para Maria Firmina dos Reis: mulata, “bastarda”, mulas comemorações e entregou um exemplar do Ro- her, tudo isso em um Brasil escravocrata no século mance Úrsula (o único que se tem conhecimento), XIX, ainda assim, com os mais admiráveis méritos doado ao Governador do Estado, Osvaldo da Cos- se estabelece, reconhecidamente hoje, como uma ta Nunes Freire; a inauguração do busto da escri- das escritoras mais admiráveis de toda a Literatura tora na Praça do Panteon (obra de Flory Gama); Brasileira. foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira Frente ao exposto, evidencia-se a necessidade de de Correios e Telégrafos, com tempo determinado estabelecer estratégias contínuas e articuladas com de utilização. Um detalhe digno de realce, é que, na instituições das esferas governamentais e privadas parte inferior do carimbo consta um grilhão de fer- para garantir o efetivo funcionamento da Casa de ro rompido, como marca significativa da Campan- Maria Firmina dos Reis e assegurar recursos finanha abolicionista que Maria Firmina empreendeu ceiros para sua manutenção. Desse modo, viabilipor meio da literatura, da música (compôs o Hino zará o cumprimento da função a que se destina por da Libertação dos escravos, 1988) e da própria pos- meio da veiculação de um acervo que represente tura, que retrata a sua orientação político-ideológi- a importância da produção histórico-cultural, em ca humanizada; a publicação da edição fac-similar especial da literatura do Estado do Maranhão. do romance Úrsula, com Prefácio de Horácio de Almeida; além da criação, em sua homenagem, da Na perspectiva de divulgação do acervo histórico Medalha de Honra ao Mérito pela Prefeitura Mu- e cultural, tornam-se necessárias a publicação e a nicipal de São Luís e por fim, a Assembleia Legis- reedição de obras referentes à Maria Firmina dos lativa do Estado instituiu o dia do seu nascimento, Reis, voltadas para públicos diversos, a exemplo de como o “Dia da Mulher Maranhense”. estudantes desde a educação infantil ao ensino superior. Em Guimarães, também o ano de 1975 foi o marco inicial de maiores homenagens a ela dedicada, Para o alcance exitoso das ações propostas, é imentre as quais, além do desfile em sua homenagem prescindível o comprometimento de todas as insnesse ano, o dia do aniversário de nascimento de tituições parceiras e da instituição proponente, Maria Firmina foi instituído o “Dia da Mulher Vi- o que, por sua vez, possibilitará a sensibilização marense.” E ainda feriado Municipal. A partir de e mobilização da sociedade em geral, no tocante 2007 o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assun- à compreensão do papel determinante da autora ção passou a promover a Semana Literária Maria para a construção de uma sociedade que respeite e Firmina dos Reis. reconheça a mulher como protagonista. Na atualidade, existe o desejo de consolidar a ressignificação da vida e obra de Maria Firmina efetivada por Nascimento Morais Filho, de modo a ocupar o lugar que lhe é devido na Historiografia

O objetivo desse evento é consolidar a ressignificação da vida e a obra de Maria Firmina dos Reis efetivada por Nascimento Morais Filho. Fortalecer a divulgação da vida e obra de Maria Firmina dos Revue Cultive - Genève

7


Reis junto às instituições educacionais, literárias e demais segmentos da sociedade. Utilizar a obra de Maria Firmina dos Reis nas instituições educacionais potencializando a criatividade artística, escritora e leitora dos estudantes das diferentes etapas de ensino. Incentivar a publicação de obras sobre a autora destinadas aos estudantes dos Anos Iniciais. Reeditar a obra de Nascimento Morais Filho, importante precursor do renascimento de Maria Firmina dos Reis. Reconhecer a força da representação feminina num contexto sociocultural da sociedade patriarcal, valorizando o processo histórico de luta e resistência da mulher até os dias atuais. Reconhecer a importância das motivações que caracterizam a sua obra, tais como, o romantismo, o nacionalismo, a campanha abolicionista, a valorização dos povos que iniciaram a história do nosso país, entre os quais, os mais injustiçados, o negro e o índio. Reconhecer a importância de Maria Firmina dos Reis como personalidade literária do Maranhão e do Brasil, destacando o contexto sociocultural em que viveu, seu posicionamento de vanguarda, seu pioneirismo e ousadia. Compreender a necessidade de envolver as instâncias governamentais nos projetos, ações e atividades histórico-culturais como elementos importantes na construção da identidade e da cidadania das novas gerações. Garantir que as instâncias governamentais participem das estratégias e procedimentos de manutenção física e a administrativa da Academia Ludovicense de Letras-Casa de Maria Firmina dos Reis, por meio de provimento de recursos financeiros. METAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS (São Luís) 1.Propor às instituições UFMA e UEMA a concessão do Título Dra. Honoris Causa (in memoriam) para Maria Firmina dos Reis e José Nascimento Morais Filho. 2 Propor à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e à Câmara de Vereadores do Município de São Luís concessão de Títulos honoríficos (in memoriam) para a homenageada e José Nascimento Morais Filho. 3Propor à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão e à Câmara de Vereadores do Município de São Luís Projeto de Lei para designar recurso financeiro para manutenção da Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos 8

Revue Cultive - Genève

Reis. 4 Articular junto à Assembleia Legislativa do Maranhão Projeto de Lei designando Maria Firmina dos Reis como patrona da educação maranhense. 5. Doação de um prédio para instalação da sede da Academia Ludovicense de Letras ALL pela Prefeitura Municipal de São Luís ou Governo do Estado do Maranhão. 6. Propor o nome de Maria Firmina dos Reis para designar praças, prédios públicos, escolas, ruas, avenidas. 7 Criar PLACAS PERSONALIZADAS (sinopse da vida e obra de Firmina) colocando-as em locais que marcam a vida da escritora em São Luís: - Casa onde Maria Firmina nasceu (operacionalizar pesquisa na rua São Pantaleão); - Tipografia Progresso (onde foi impresso o romance Úrsula) na rua de Santana, próximo ao fundo do Cine Éden (confirmar); escolas; ruas; avenida. 8. PUBLICAÇÃO Livros sobre Firmina para os Anos Iniciais (história infantil); livro para estudos com os dados da vida e obra da autora para os estudantes das demais etapas da Educação Básica; reeditar o livro de Nascimento Morais Filho-Maria Firmina dos Reis: Fragmentos de uma vida; toda obra de MFR impressa para distribuir em Bibliotecas e, se possível, nas bibliotecas escolares e Farol do Saber. Propor aos Correios a criação de Selo Comemorativo do Bicentenário de nascimento da homenageada. 10. Produção de uma réplica da imagem de Firmina com um grilhão de ferro rompido na parte inferior do carimbo ou selo, como marca expressiva da Campanha abolicionista empreendida por Maria Firmina. 11. Desenvolver projetos sobre Firmina nas escolas da Rede Estadual, Municipal e Comunitárias. 12. Realizar em parceria com a SEDUC, SECMA, SEMED e SECULT o Concurso Artístico e Literário Maria Firmina dos Reis, com o objetivo de difundir as obras da escritora maranhense e seu pensamento. 13. Realizar atividades culturais: produções artísticas e literárias, realização de saraus, palestras, exposições, chá literário, encontros de pesquisadores, encontros de academias, Mostra de Literatura Maranhense.


14. Comenda Maria Firmina: Galardoar aqueles que, por suas ações meritórias, façam jus ao re- REFERÊNCIAS conhecimento que a outorga da Medalha “Maria ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma Firmina” do Mérito Literário e Cultural representa. missão de amor. São Luís: ALL, 2017. O evento terá uma programação recheada de deabtes, conferências, shows musicais. Ciclo de palestras, rodas de conversas, a serem desenvolvidas por meio digital, em razão das restrições sanitárias devido a SARS COVID-19. Também previsto o lançamento de livros e sessão de autógrafos, na forma presencial, mediante visita agendada em número de até 05 pessoas, às 08:00 às 14:00h, uma vez respeitado o protocolo sanitário de medidas ao controle da SARS COVID- 19. Os encontros virtuais (lives) serão transmitidos pelo Canal Cultive - youtube.

MORAIS FILHO, José Nascimento. MARIA FIRMINA; fragmentos de uma vida. São Luís: SIOGE, 1975. ELABORAÇÃO: Dilercy Aragão Adler- ALL Raimundo Nonato Campos Filho- ALL Felipe Camarão – ALL Elizabeth Gomes - SEDUC Francisca Passos - SEDUC

Para as comemorações do Bicentenário de Maria dos Reis Firmina, foi pensado -a realização de um documentário de 60 min, ressaltando a história, carreira Literária, luta contra o racismo e perfil ideológico de Maria dos Reis Firmina. O documentário terá a participação de algumas personalidades notórias sobre o tema, além da visita e gravações de pontos específicos da cidade de Guimarães (MA), para construção visual e didática da produção. - atividades no TCE - Tribunal de Contas do Estado do Maranhão - Escola Superior de Controle Externo - ESCEX - na Biblioteca do TCE/MA promoverá o evento intitulado «O protagonismo feminino de Maria Firmina dos Reis: da inspiração ao empreendedorismo», com objetivo de homenagear a vida e obra da maranhense, haja vista seu pioneirismo seja como a primeira romancista do Brasil mediante publicação do livro «Úrsula» (1859), seja pela criação da primeira escola mista no Maranhão quanto ao gênero e à classe social. Tal evento constitui desdobramento do Projeto, já iniciado em 2020, «Clube de Leitura Maria Firmina dos Reis», o qual tem por finalidade o incentivo à leitura e à gestão do conhecimento. Data: 1ª (primeira) quinzena de março 2022 Parcerias? Academias Literárias e Clubes de Leitura do Maranhão, bem como acadêmicos e intelectuais em geral, Institut cultive suisse Brésil. Recursos humanos - Equipes da Biblioteca TCE/ MA e do Projeto» TCE Cultural» Revue Cultive - Genève

9


inicia: Diz Maria Firmina dos Reis, filha natural de Leonor Filippa dos Reis, que ela quer justificar por este Juiso que nasceo no dia 11 de Março do anno de 1822, e que só teve lugar o seu baptismo no dia 21 de Desembro de 1825, como mostra pelo documento junctos, por causa de molestia que então lhe sobreveio e privou ser baptisada antes; o que feito requer se julgue por sentencia, e que mande abrir novo assento por tt.o (ADLER, 2017, p. 59) (grifo meu). A solicitação se reporta ao livro de Baptismo de nº 116 que traz na Folha 182: Aos vinte e hum de dezembro de 1825 nesta freguezia de Nossa Senhora da Victória Igreja CathePor Dilercy Adler dral da cidade do Maranhão baptizei e pus os sanFalar sobre Maria Firmina não é uma tarefa fácil, tos oleos a Maria filha natural, de Leonor Felippa considerando as condições objetivas da época em molata forra que foi escrava do Comendador Caeque ela viveu. Tempo pródigo em escassez de fontes tano Je. Teixei.ª forão Padrinhos o Tenente de Milícias João Nogueira de Souza e Nossa S enhora dos de registros. Remédios do que se fez este assento que assignei o Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Ma- (ADLER, 2017, p. 59), ranhão/Brasil; esse é um dado incontestável, porém outros dados da sua biografia deixam dúvidas e al- O processo inclui vários documentos, entre os guns foram refutados, com bases em pesquisas re- quais: o auto lavrado pelo escrivão, o requerimento centes ADLER (2017), em fontes primárias, encon- dela e o certificado dado pelo escrivão. No certifitrados no Arquivo Público do Estado do Maranhão. cado dado pelo escrivão ele se reporta à certidão do batismo. No tocante aos novos dados cita-se a seguir: - A data de seu nascimento, até meados de 2017, todos os trabalhos publicados registravam 11 de outubro de 1825. No entanto, por meio dos documentos: Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847 (Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 - Documento-autos nº 4.171); da Certidão de Justificação de Batismo (Fundo Arquidiocese - Certidão de Justificação de Maria Firmina dos Reis - Livro 298 – fl. 44v) e do Livro de Baptismo (Fundo Arquidiocese Batismo de Maria Firmina dos Reis, Livro 116- fl. 182), ficou constatado que o seu nascimento, de fato, data de 11 de março de 1822.

A petição de Justificação do dia de nascimento foi deferida no dia 14 de julho de 1847, sendo aceita então a data de nascimento requerida, a de 11 de março de 1822 (grifo meu). - Filiação: nos registros pesquisados consta o nome de João Pedro Esteves como seu pai, no entanto nenhum outro dado é colocado sobre ele, salvo que é negro. Assim, a sua origem e vida são totalmentes desconhecidas até hoje. A mãe de Maria firmina, Leonor Felippa dos Reis, em alguns trabalhos aparece como branca e de origem portuguesa. Nos documentos já referidos, está registrado: Maria filha natural, de Leonor Felippa molata forra que foi escrava do Comendador Caetano[...] (ADLER, 2017, p.59).

O primeiro documento, Autos de justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847, Câmara Eclesiástica/ A Certidão de Batismo de Maria Firmina coloca em Episcopal, série 26, Caixa n. 114 - Documento-au- evidência a condição social da sua mãe como mutos nº 4.171, ano 1847 (12 fls. Frente e Verso), assim lata forra, tendo esta sido escrava do Comendador Caetano José Teixeira, um dos maiores negociantes 10

Revue Cultive - Genève


do Maranhão na passagem do século XVIII ao XIX. Era português, dono de empresas que negociavam por todo o Império colonial português, sobretudo nas praças de São Luís, Belém, Lisboa, Porto e em Guiné, assim como nos outros domínios da África. Empregou 2.000 escravos, foi proprietário bem estabelecido na província, (Diário da Câmara dos Deputados a Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia do Império, 1826 – 1829. P. 901). - Imagem: Maria Firmina não deixou nenhuma foto e o que existe em relação a uma réplica da sua imagem é um busto esculpido, em sua homenagem, por ocasião do sesquicentenário de seu nascimento, de autoria do artista plástico Flory Gama, construído à base de informações prestadas por vimarenses (os cidadãos da cidade de Guimarães, no estado do Maranhão, Brasil) que conviveram com ela, como Dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista, na residência da Praça Luís Domingues, e Dona Eurídice Barbosa, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó. Em seu livro Maria Firmina: Fragmentos de uma vida, editado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado - SIOGE, no Maranhão, Nascimento Morais Filho (1975, p. 259) se refere aos traços físicos de Maria Firmina dos Reis, mencionando: [..] Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros, nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos), morena. A esse respeito, convém registrar que a imagem da Escritora Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida pelo pseudônimo de Délia, é veiculada erroneamente como sendo de Maria Firmina dos Reis. Maria Benedita é, de fato, uma cronista, romancista, contista e jornalista que nasceu em 25 de novembro de 1853, na cidade de Porto Alegre/Rio Grande do Sul e faleceu em julho de 1895, no Rio de Janeiro/RJ. Ainda chama a atenção que aparece na maioria das pesquisas e trabalhos a mesma foto de Maria Benedita tanto para retratar ela própria, quanto Maria Firmina.

MELANCOLIA Maria Firmina dos Reis Oh! se eu morresse no cair da tarde, De tarde amena, quando a lua vem Chovendo prata sobre o liso mar, Trajando as vestes, qu’a pureza tem. Então talvez eu merecesse afetos, Desses qu’apenas alcancei sonhando; Talvez um pranto bem sentido, e triste, Meu frio rosto rociasse brando. A ti poeta mais te vale a morte Na flor da vida a sepultura, os céus! Quem sofre a terra te compreende as dores? Teus sofrimentos, quem compreende? Deus! Sim, venha a morte libertar-me, amiga Da triste vida, qu’a ninguém comove… Bem-vinda sejas, teu palor me agrada, E a crua foice, que tua destra move. E tu sepulcro, tu gélido, e negro, Eu te saúdo, oh! companheiro nu! Talvez meus cantos te penetrem o seio, Pálido afeto, me dispenses tu. Não terá prantos sobre a lisa campa, Quem peito humano a lhe gemer não tem; Oh! não poeta: se alvorada chora Bebe esse pranto, qu’adoçar-te vem. Inda me resta no correr da vida, Essa esperança de morrer… a só. Sentida triste, qu’o sofrer ameiga, Que segue o homem té fundir-se em pó. Morra eu ao menos no cair da tarde, A hora maga, que se pensa em Deus, Em que se escuta misteriosos cantos, Concertos sacros nos longínquos céus. Então já queixas não farei da sorte, Rirei da vida qu’amargar sentia; Compensa as dores d’um viver sentido, Morrer a hora do cair do dia.

Revue Cultive - Genève

11


CENTENÁRIO DE NASCIMENTO MORAIS FILHO Por Dilercy Adler Uma comemoração merecida durante as comemorações do Bicentenário de aniversário de Maria Frimina dos Reis, que acontecerá em São Luiz do Maranhão do 11 de março ao 11 de novembro de 2022. Centenário de Nascimento Morais Filho será comemorado em paralelo ao Bicentenário de Firmina.

NASCIMENTO MORAIS FILHO - O PÁSSARO SANKOFA MARANHENSE - E MARIA FIRMINA: breve ensaio por dilercy Adler Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! Maldigo a resignação infame dos covardes! - Eu prego a rebeldia estóica dos heróis: - Meu Evangelho é a Liberdade! (Nascimento Morais Filho)

INTRODUÇÃO Discorrer acerca do intelectual maranhense Nascimento Morais Filho se apresenta como tarefa desaNascimento Morais Filho foi poeta, pesquisador, fiadora, uma vez que se constitui um árduo trabalfolclorista, trovador, ambientalista maranhense, ho traduzir em textos ou versos um ser humano, 12

Revue Cultive - Genève


ainda mais quando este se apresenta com riqueza de traços e nuances sutis, talvez inabarcáveis. Mas, parafraseando o próprio Nascimento Morais Filho, quando disse que “não havia causa perdida”, seguindo esse seu pensamento arrisco dizer que “não existe tarefa impossível” quando o desejo é maior que o desânimo e/ou a insegurança. Assim, ouso atender ao que me foi solicitado: trazer à baila vieses da vida e obra de Nascimento Morais Filho e, indubitavelmente, a desconstrução do silenciamento de Maria Firmina aparecerá de forma privilegiada nessa missão. Como introdução ao tema, ouso afirmar que em Nascimento Morais Filho predominavam três traços de personalidade: inquietação, que fez dele um estudioso, um pesquisador; um espírito sensível, que lhe permitiu transitar pela literatura e por outras vertentes da arte, com grande facilidade e maestria; e capacidade de indignação, quando se tratava de injustiças e barbáries perpetradas ao longo da construção da nossa dita “civilização”. Daí, nos apresentou uma poética viva e ânimo, aguerrido, sobretudo, no tocante às mazelas sociais. Foi um “ser verdadeiramente humano”, no sentido denotativo, original e literal da palavra. Considerando o exposto, este tema está estruturado em quatro seções, incluindo a Introdução e as Considerações Finais. Após a introdução ao tema, na seção dois abordamos alguns dados mais gerais da vida e obra de Nascimento Morais Filho; na seção três tratamos do resgate de Maria Firmina e, nesse feito, a importância de Nascimento Morais Filho, “seu encontro” com Firmina e sua luta para que ela ocupasse o lugar que sempre lhe foi de direito na historiografia literária e cultural no Maranhão, no Brasil. Enfocamos também, nesse contexto, o papel dos demais intelectuais e pessoas que contribuíram efetivamente para a concretização desse nobre feito. E, por fim, tecemos algumas argumentações, a título de Considerações Finais.

Nascimento Morais Filho Essas palavras firmam-se como prova contundente do valor afetivo que Nascimento Morais Filho depositava na sua “viagem pelo desconhecido firminiano”. Por essa e outras “viagens” empreendidas pelo intrépido viajor Nascimento Morais Filho, é que entendo, Adler (2017), que ele faz jus ao epíteto de Sankofa, considerando o seu trabalho de salvaguarda dos direitos das minorias e por sua dedicação incansável para dar novo significado à Maria Firmina dos Reis como mulher, professora e escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira. Maria Firmina, por sua vez, viveu de 1822 a 1917, tempos sombrios, principalmente para os escravizados africanos, que se encontravam sob a dominação patológica dos senhores de escravos. Ela não se deixou intimidar, nem se absteve de denunciar a opressão no auge do seu recrudescimento e lutar por libertação, mesmo sendo filha de uma escravizada alforriada, ou talvez até por ser, o que a fez sentir mais de perto essa “aberração naturalizada” no âmbito da vida social de então. Além das atitudes igualitárias que protagonizava, as artes e, em especial, a literatura e a educação foram os grandes instrumentos por ela utilizados nesses embates. Na relação Maria Firmina e Nascimento Morais Filho, apesar de um século que os separa no que diz respeito ao ano de nascimento, 1822 e 1922, respectivamente, vejo perfeita convergência de suas visões de mundo e ideais de justiça social. Assim, arrisco inferir que a identificação de Nascimento Morais Filho com a obra de Firmina foi o leitmotiv para o seu intenso trabalho de resgate do nome e obra de Maria Firmina. Ademais, fazendo o percurso inverso, capto na obra de Firmina sentimentos e expressões com clara correspondência na poética de Nascimento Morais Filho.

NASCIMENTO MORAIS FILHO E O RESGATE Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! DE MARIA FIRMINA DOS REIS - Eu sou o sofrimento dos sem nome! - Eu sou a voz dos oprimidos! Se nos perguntarem a nós quais os momentos mais emocionantes de nossa viagem pelo "desconhecido Nessa poética de Nascimento Morais Filho percefirminiano", não saberemos, pois, cada emoção faz bo uma perfeita correspondência com a poética de esquecer a emoção anterior ... Todos, no entanto, Firmina quando ambos demonstram empatia com foram lances sensacionais!... E se-lo-ão ainda, se, o sofrimento dos “sem nome”. No poema Evocapor acaso, for encontrada, aqui ou em qualquer lu- ção, de Nascimento Morais Filho, observo ainda gar, alguma produção de nossa conterrânea. a colocação de si próprio como o “sofrimento dos Revue Cultive - Genève

13


sem nome” e a “voz dos oprimidos”. Ambos ainda maldizem a resignação infame dos covardes, suas indiferenças e fazem a conclamação para que os ouçam. Maria Firmina expressa claramente essas máximas, no diálogo de Túlio e Tancredo, no Capítulo 1, intitulado, “Duas almas generosas”, do romance Úrsula, [...]As almas generosas são sempre irmãs. (REIS,1988, p. 27). As duas almas generosas colocadas nesse primeiro capítulo se referem a Túlio, o escravizado negro, e a Tancredo, herói romântico branco. Quando Maria Firmina coloca o título do capítulo “Duas Almas Generosas” e no decorrer do texto que “as almas generosas são sempre irmãs” ela está enfatizando a igualdade entre os dois personagens pertencentes a estratos sociais diferenciados, enquanto Tancredo integra a camada social mais alta, Túlio, como ele próprio se define, “um mísero escravo”. Ainda nesse mesmo capítulo diz Firmina, por meio do personagem de Tancredo,

volução na representação do outro e na representação da autoridade. Não só o outro passa a ter um “eu”, como também passa a se expressar de modo próprio. [...] Noutras palavras, não só se mostram, como se demonstram (REIS, 1988, p. 13). A título de ilustração, Charles Martin veio ao Maranhão duas vezes, tendo estado, inclusive, com Nascimento Morais Filho. Ele declara em seu artigo: “O meu encontro com Úrsula aconteceu por uma visita a São Luís do Maranhão” e acrescenta:

Um dia, estava em um café com José Nascimento Morais Filho, escritor maranhense, membro da Academia Maranhense - filho do escritor e acadêmico do mesmo nome - e muito envolvido com tradições e produções do Maranhão. [...] iniciamos uma conversa e Nascimento Morais Filho ficou fascinado por saber que eu era um estudante de pós-graduação e pesquisava a cultura negra. Ele estava especialmente interessado no meu interesse pela literatura e começou a conversar comigo sobre Úrsula e sobre a autora do romance, Maria Firmi[...] dia virá em que os homens reconheçam que na dos Reis. Ele insistiu que eu conhecesse o livro, são todos irmãos. [...]Túlio, meu amigo, eu avalio a dizendo que sua autora não era apenas negra, mas grandeza de dores sem lenitivo, que te borbulha na que ele considerava o livro o primeiro verdadeiraalma, compreendo tua amargura, e amaldiçoo em mente brasileiro, no sentido de tratar um assunto teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu distintamente brasileiro (MARTIN apud, 2021 p. semelhante [...] 88). Sim, - prosseguiu - tens razão; o branco desdenhou a generosidade do negro, e cuspiu sobre a pureza Também nesse encontro Charles Martin relata que dos seus sentimentos! Sim, acerbo deve ser o seu Nascimento Morais Filho declarou que “Maria Firsofrer, e eles que o não compreendem! (REIS,1988, mina foi a primeira a olhar para uma das instituipp.27-.28). (grifos meus). ções fundamentais do Brasil, a escravidão, e descobrir a humanidade daqueles que foram forçados a Entendo como conclamação a assertiva: “dia virá ocupá-la.” em que os homens reconheçam que são todos irmãos.” E em continuação a maldição: “amaldiçoo Nascimento Morais Filho e eu tivemos muitas em teu nome o primeiro homem que escravizou a conversas (algumas sobre a preservação ambiental, seu semelhante”: uma paixão dele). (MARTIN apud, 2021 p. 89). Nessa perspectiva é pertinente lembrar o Prefácio da 3ª Edição do romance Úrsula, intitulado “Uma Quanto à sua impressão acerca do romance Úrsula, rara visão de liberdade”, por Charles Martin, Pro- Charles Martin assim se manifesta: fessor de Literatura, cineasta, fotógrafo, escritor e pesquisador americano, quando realça a originali- [...] eu li uma cópia da edição fac-símile de Úrsula dade do romance Úrsula em relação a outros que com que ele era tão envolvido, feito em 1975. Ao tratavam da temática da escravidão, e assim a diz: ler rapidamente, vi que o Nascimento Morais FiMaria Firmina traz uma contribuição definitiva lho estava absolutamente correto sobre a humanipara a literatura abolicionista: ela representa um dade que o livro via em seus personagens negros, ponto de vista de oposição à tendência geral, do- e que poderia ser importante para meus estudos tando o negro de um padrão mental próprio dentro de pós-graduação - não apenas sobre literatura no do cenário do Novo Mundo. Isto significa uma re- Brasil, mas sobre os usos de personagens negros na 14

Revue Cultive - Genève


literatura no mundo (MARTIN apud, 2021 p. 88). No meu entendimento, Charles Martin, Nascimento Morais Filho e Maria Firmina apresentavam um fio condutor comum em suas motivações. É notório que Maria Firmina, ao publicar o romance Úrsula, materializou um ato extremo de coragem e ousadia por efetivá-lo vinte e nove (29) anos antes da libertação dos escravos (1859 – 1888), ou seja, a Lei Áurea, oficialmente Lei Imperial n.º 3.353, foi sancionada em 13 de maio de 1888 e se firmou como o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil. No entanto, concomitantemente à sua ousadia, expõe outros sentimentos que podem dar margem a diferentes e profusas inferências e, que por isso mesmo, apresentam-se como inúmeras possibilidades de análise para os leitores e estudiosos da sua obra, quando no Prólogo do romance Úrsula, expressa: [...] mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS, 2004 p 13 apud MOLINA) (grifo meu).

cargo de Professora de Primeiras Letras do Sexo Feminino da Vila de Guimarães. Pela importância do acontecimento os seus familiares queriam que ela fosse de palanquim (espécie de liteira em que as pessoas mais ricas se faziam transportar, conduzidas por escravizados), ao que ela se recusou veementemente, argumentando: “Negro não é animal para se andar montado nele”. Interpreto esse fato e a atitude correspondente de Maria Firmina como demonstração de sensibilidade e de consciência política. Similarmente, de forma inteligente e verdadeiramente cristã, afirmava que “a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.” Essa e outras posturas me fazem lembrar Gandhi, que falou certa vez para alguns ingleses: “Eu admiro o Cristo de vocês, mas não compreendo o cristianismo de vocês” (no sentido do espírito cristão do amor, da solidariedade, pois a Inglaterra dominava cruelmente a Índia). Outro dado digno de realce é que, dos 95 anos que Maria Firmina viveu neste plano físico, conviveu 66 anos com a escravidão. No tocante ao resgate de Maria Firmina, vale reafirmar o que já foi dito, que se trata de um trabalho hercúleo de Nascimento Morais Filho, contudo outros intelectuais apresentam importantes contribuições para a concreção desse feito.

A Edição fac-similada do romance Úrsula, lançada por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis, traz um Prólogo de Horácio de Almeida (1975), no qual ele narra sucintaO romance Úrsula é considerado uma das suas mente o transcurso do apagamento, assim como do obras mais marcantes, e diversos pesquisadores renascimento da obra de Firmina. A seguir, alguatribuem à autora, não apenas o título de primeira mas passagens. romancista brasileira, mas também, o de escritora que publicou o primeiro romance da literatura Antes, porém, convém colocar como inicia a sua afro-brasileira. mensagem: “O livro de que se tira esta edição fac-similada é talvez a maior raridade bibliográfica Contudo, não era só por meio da educação, lite- do Maranhão”. Coloca, então, como a maior “rariratura, e das artes em geral, que Maria Firmina dade bibliográfica do Maranhão”. Em continuação, se expressava e demonstrava sua visão de mundo Horácio de Almeida diz: “Trata-se de um romance igualitária e íntegra, igualmente na sua prática co- escrito por mulher e passa por ser o primeiro no tidiana vivia esses preceitos. Como exemplo, com- Brasil de autoria feminina”. partilho um episódio que me enternece profundamente e diz respeito ao dia em que Maria Firmina Demonstra admiração por Maria Firmina dos Reis foi receber o título de nomeação para exercer o ter permanecido mais de um século sepultada no Revue Cultive - Genève

15


esquecimento, considerando que o Maranhão, exatamente na época de Firmina, era [...] um viveiro de homens ilustres, muitos dos quais com repercussão além das fronteiras do Brasil. Eram tantos os que se acotovelavam na literatura maranhense, entre jornalistas, poetas, escritores, ensaísta, historiadores, que São Luís, a gloriosa capital do Maranhão, granjeou fama de Atenas brasileira. E apesar de todas essas condições e características, nenhum, com raríssimas exceções, tomou conhecimento da autora. Afirma Horácio de Almeida, “[...] certamente porque era mulher numa época em que o homem fazia alarde da proclamada superioridade do sexo. Os poucos que lhe declinaram o nome limitaram-se a dar-lhe uma relativa importância como devota do Parnaso.” Entre os que guardaram silêncio acerca do nome de Maria Firmina, Horácio cita: António Henriques Leal, em seu Pantheon Maranhense, relacionou o que havia de melhor entre os filhos da terra, de cambulhada com figuras menos expressivas. Sobre Maria Firmina dos Reis silenciou. Para dizer que não a ignorava de todo, fez referência ao seu nome, uma vez, em notas bibliográficas, porque era preciso trazer à citação de uma nênia por ela publicada, em Cantos à Beira-mar, à memória de Gonçalves Dias. O que importava no caso era juntar um louvor a mais ao poeta da Canção do Exílio, a quem consagrou um volume inteiro do Panteon (1975, p. II). Segundo ainda Horácio (1975), Francisco Sotero dos Reis em seu curso de Literatura Portuguesa e Brasileira, cinco volumes, Maranhão, 1866/1873, também não se refere à Firmina, provavelmente por ater-se aos modelos da vernaculidade, ele inclui apenas aqueles que fizeram do idioma pátrio um instrumento frio e rígido de expressão. No que diz respeito aos comprovincianos, tratou somente de Odorico Mendes, Gonçalves Dias e João Francisco Lisboa, porque estes também se deram ao culto do casticismo. Igualmente, José Ribeiro do Amaral, no prelúdio que escreveu para História Literária do Maranhão, publicado no Dicionário Geográfico e Etnográfico do Brasil, Rio, 1922, fala no nome de Maria Feminina, mas de forma sucinta, apenas para dizer que morrera pouco antes, já nonagenária. Não faz nenhuma referência à sua obra, nem à sua poética, 16

Revue Cultive - Genève

apesar de ter participado do Parnaso Maranhense. Ainda Mário Martins Meireles, no panorama da Literatura Maranhense, passa em revista os autores do Maranhão, dos maiores aos menores, e para ele a autora também continua excluída. No entanto, lembra Horácio de Almeida, que graças ao bibliográfico Sacramento Blake, Maria Firmina salvou-se do total esquecimento, pois no seu Dicionário Bibliográfico v. 6 p. 232. assim registrou: Nascida em São Luíz, Maranhão, a 11 de outubro de 1825, dedicou-se ao ensino das primeiras letras em Guimarães, cidade do interior da Província, onde ficou morando para o resto da vida. Depois de aposentada, continuou na mesma cidade a ensinar meninos, a título gratuito, tal o amor devotado ao ensino e às crianças. Cultivou as letras e escreveu os seguintes livros: Cantos à Beira-Mar, poesia, Úrsula, romance, A escrava, romance. Sacramento Black estava bem informado quando incluiu o romance Úrsula entre as obras publicadas por Firmina. No entanto, parece ter feito o verbete à base de informação. Ele próprio declara no v. 7 do Dicionário que expedira mil circulares aos literatos de todo o país, pedindo dados para a obra que tinha em elaboração e bem poucas foram as respostas recebidas. Horácio de Almeida ainda reitera: Além dos livros acima mencionados, teria escrito mais um, denominado “Gupeva”, conforme pesquisa quase arqueológica que Nascimento Morais Filho vem fazendo no sentido de restabelecer a memória de Maria Firmina dos Reis. A ele deve o Maranhão o interesse despertado pela obra e pela vida da primeira romancista brasileira. Com os fragmentos reunidos, através dos jornais e dos arquivos, atribui a Maria Firmina quatro livros, acrescentando o romance Gupeva aos três citados por Sacramento Blake (1975, pp. III-IV). . Essa afirmativa de Horácio de Almeida: “A ele (Nascimento Morais Filho), deve o Maranhão o interesse despertado pela obra e pela vida da primeira romancista brasileira” está comprovada nos depoimentos também de Charles Martin. “O acaso, às vezes, ajuda a desanuviar o passado”, diz ainda Horácio de Almeida. Foi o que aconteceu quando me pôs às mãos o romance Úrsula, que é, ao que parece, o único exemplar conhecido. Há


aproximadamente oito anos (com base na época que escreveu o prefácio, aproximadamente 1967), quando comprou um lote de livros, entre os quais, uma pequena brochura que chamou sua atenção e por causa dela adquiriu os livros. O livro não trazia o nome do autor, apenas um pseudônimo: “Uma Maranhense”. A princípio não conseguiu a identificação do autor, mesmo após várias pesquisas em dicionários de pseudônimos. Por fim, encontrou Maria Firmina dos Reis no Índice do Dicionário levantado por estados da Federação, de Otávio Torres, Salvador/Bahia, que no rol dos escritores maranhenses Sacramento Blake a apresenta como autora do romance Úrsula.

Guimarães-MA, 11/11/1917. Professora de primeiras letras e senhora dotada de virtudes que muito a recomendam a nossa admiração. Poetisa medíocre e ficcionista desimportante, MFR não tem, mesmo nos limites da literatura maranhense, a significação que recentemente pretenderam atribuir-lhe. Autora, entre outros trabalhos, dos romances Úrsula e Gupeva e do livro de poesias Cantos à beira-mar (MORAES, 1997, p. 133). Arlete Nogueira da Cruz (2006) reconhece o mérito de Nascimento Morais Filho e de Horácio de Almeida, e declara a sua discordância à zombaria de que ambos foram alvo, quando diz:

Mesmo após a identificação da autora, o livro continuou sem leitura até a realização de um trabalho sobre o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, para os Anais do Cenáculo. Na ocasião as pesquisas o levaram ao romance Úrsula (1859), de autoria de Maria Firmina.

[...]. Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Faz-se pertinente explicitar ainda três registros Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando interessantes que Horácio de Almeida faz nesse que era de pouca serventia aquele achado e exagePrefácio: o primeiro acerca da realização da edição rada a relevância que Zé Morais dava à sua descofac-similada do Úrsula que foi patrocinada pelo berta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria Governador do Estado, o Dr. Osvaldo da Costa permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra Nunes Freire, que o único exemplar do romance sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265). Úrsula seria presenteado ao Maranhão, na pessoa do Governador do Estado, que lhe daria o destino “No limbo” .... “Sob o tapete” ... e ainda a depreadequado e, por fim, afirma: “Quem muito vem ciação contundente de Jomar Moraes ao qualificar trabalhando para perpetuar a sua memória na ter- Firmina como “Poetisa medíocre e ficcionista dera natal é o acadêmico Nascimento Morais Filho, simportante”, materializam expressões e adjetivos que não descansa na tarefa de reunir fragmentos que retratam menosprezo desmedido. para um volume da obra da autora, em edição atualizada”. Isso traduz o reconhecimento a Nascimento Mas, contrariamente, Arlete Nogueira reafirma a Morais Filho, pelo seu trabalho em favor de Maria importância do pesquisador e do seu trabalho, reaFirmina dos Reis. lizado com Horácio de Almeida: “Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este No entanto, o resgate de Firmina e o próprio tra- contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorbalho de Nascimento Morais Filho ainda hoje é ob- ridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. jeto de querelas entre aqueles que analisam o valor E quando ele a trouxe (no momento em que tamou desvalor da obra de Maria Firmina. bém a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida)”. Ainda na perspectiva de exclusão de Maria Firmina, Jomar Moraes (1997), em seu livro “Apon- Josué Montello também valoriza o trabalho de tamentos de Literatura Maranhense (uma abor- resgate de Firmina, ao intitular um artigo de sua dagem contextual que leva em conta os fatores autoria de “A primeira Romancista Brasileira” e enpolíticos, sociais e econômicos)” no verbete sobre altece a persistência e luta de Nascimento Morais a autora coloca: Filho. O referido artigo foi escrito por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina Maria Firmina dos Reis- n. São Luís, 11/10/1825; f. dos Reis e publicado no Jornal do Brasil, Rio de JaRevue Cultive - Genève

17


neiro, em 11 de novembro de 1975, e na Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de Brasil, 1976, jun., n. 41, p. 111-114. Nesse texto Josué Montello nomeia outro maranhense, Antônio de Oliveira, e também Nascimento de Morais Filho, como responsáveis pela ressurreição de Maria Firmina, e, desse modo, a eles se refere: [...] o primeiro falando em voz baixa como é do seu gosto e feitio e o segundo, falando alto ruidosamente, com uma garganta privilegiada, graças à qual, sem esforço, pode fazer-se ouvir no Largo do Carmo, em São Luís, à hora em que se cruzam os automóveis, misturando a estridência das suas buzinas e de seus canos de descarga ao sussurro do vento nas árvores da praça. Desta vez, ao que parece, Nascimento Morais Filho ergueu tão alto a voz retumbante que o país inteiro o escutou, na sua pregação em favor de Maria Firmina dos Reis. Há quase dois anos, ao encontrar-me com ele na calçada do velho prédio da Faculdade de Direito, na Capital maranhense, vi-o às voltas com originais da escritora. Andava a recompor-lhe o destino recatado, revolvendo manuscritos, consultando jornais antigos, esmiuçando almanaques e catálogos como a querer imitar Ulisses, que reanimava as sombras com uma gota de sangue. E a verdade é que, no dia de hoje Maria Firmina dos Reis de pretexto a estudos e discursos, e conquista, seu pequeno espaço na história do romance brasileiro – com um nome, uma obra, e a glória de ter sido pioneira (MONTELLO apud ADLER, 2017, pp..67-68).

principal estudioso, Nascimento Morais Filho. Outro dado que me chama a atenção diz respeito à maneira “casual ou acidental” dos “encontros” com a obra de Maria Firmina, declarados por Nascimento Morais Filho e Horácio de Almeida. Ou seja, assim como ocorreu com Horácio de Almeida, Nascimento Morais Filho declara em seu livro “Maria Firmina: fragmentos de uma vida” (1975) que a descobriu casualmente. Em suas palavras: [...] Descobrimo-la, casualmente, em 1973, ao procurarmos nos bolorentos jornais do século XIX, na Biblioteca “Benedito Leite”, textos natalinos de autores maranhenses para nossa obra “Esperando a Missa do Galo”. Embora participasse da vida intelectual maranhense publicando livros ou colaborando quer em jornais e revistas literárias quer em antologias.-“Parnaso Maranhense”- cujos nomes foram relacionados, em nota, sem exceção, por Sílvio Romero, na sua “História da Literatura Brasileira”, registrada no “cartório intelectual” de Sacramento Blake - o “Dicionário Bibliográfico Brasileiro” - com surpreendentes informações, quase todas ratificadas por nossa pesquisa, Maria Firmina dos Reis, lida e aplaudida no seu tempo, foi como que por amnésia coletiva totalmente esquecida o nome e a obra!...( MORAIS FILHO, 1975, p. 09). Ainda, segundo Morais Filho (1975), a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na literatura maranhense teve boa receptividade na imprensa maranhense, sendo atribuídas a ela palavras de entusiasmo e estímulo. Argumenta, nessa perspectiva que, [...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, apud ADLER, 2014, p.12).

Luiza Lobo, Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadora dos maranhenses Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) e Maria Firmina dos Reis, o que lhe valeu o título de “Cidadã Maranhense” da Câmara de Deputados de São Luís do Maranhão, refere-se a Nascimento Morais Filho no seu livro Crítica sem Juízo (2007), quando no capítulo dedicado à Maria Firmina, intitulado “Auto-retrato de uma Pioneira Abolicionista”, declara: “A biografia da autora é aos poucos arrancada da obscuridade pelos pesquisadores José Não obstante, esse início positivo, posteriormente Nascimento Morais Filho e Horácio de Almeida” Maria Firmina foi vítima de uma “amnésia coleti(LOBO, 2007, p.343). va”, que resultou no esquecimento do seu nome e da sua obra, seguido também do ressurgimento, As querelas continuam, mas também, concomitan- nas palavras de Nascimento Morais Filho, Matemente, as pesquisas no formato de teses, disser- ria Firmina, “como a Fênix ressurgiu também das tações, monografias, artigos, textos e livros, tanto cinzas”. Nesse contexto, seu reviver foi possível, sobre a vida e obra de Maria Firmina como do seu graças, principalmente, às muitas publicações da 18

Revue Cultive - Genève


autora nos arquivos da Biblioteca Pública Benedito Leite, que por sua vez possibilitou o “encontro” de Nascimento Morais Filho com Firmina. A esse respeito, ele declara: “Descobrimo-la, casualmente, em 1973, ao procurarmos nos bolorentos jornais do século XIX, na Biblioteca Benedito Leite”. Esse episódio deixou evidente a relevância da obra de Firmina. O conjunto da obra de Maria Firmina denota bastante importância e, por isso, merecedora de notável reconhecimento, por sua quantidade e variedade de gêneros literários e vertentes das artes: romances, crônicas, contos, poesias, composições registrados (letra e música), enigmas, epígrafes, folclores entre outras: Obras: Úrsula (romance, 1859); Gupeva (romance de temática indianista,1861); Cantos à beira-mar (poesia, 1871); A escrava (conto antiescravista,1887). Antologia Poética Parnaso Maranhense: coleção de poesias, editada por Flávio Reimar y Antonio Marques Rodrigues (1861). Publicações em jornais literários: Federalista, Pacotilha, Diário do Maranhão, A Revista Maranhense, O País, O Domingo, Porto Livre, O Jardim dos Maranhenses, Semanário Maranhense, Eco da Juventude, Almanaque de Lembranças Brasileiras, A Verdadeira Marmota, Publicador Maranhense e A Imprensa. Composições Musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias) e música de Maria Firmina dos Reis ou (letra e música de Maria Firmina); Hino à Mocidade. (letra e música); Hino à liberdade dos escravos. (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor Estrela do Oriente. (letra e música); Canto de recordação à Praia de Cumã (letra e música). Depois de intenso trabalho de Nascimento Morais Filho, visando à aprovação do nome de Maria Firmina pelos intelectuais da Ilha e para além dela, com o seu empenho muitas homenagens foram prestadas à escritora e professora em 1975, ano do sesquicentenário de seu nascimento, por isso, intitulado por mim, de “Ano Rosa-de-Jericó de Maria Firmina dos Reis”, ano do seu verdejar. Entre outros feitos encontram-se o busto da escritora, na Praça do Pantheon, em São Luís, obra de Flory Gama; publicação da edição fac-similar do romance Úrsula, prefaciada por Horácio de Almeida; publicação do livro Maria Firmina: fragmentos de uma vida, de Nascimento Morais Filho; cria-

ção de um carimbo em homenagem a MFR, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; criação da Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís; foi instituído o dia 11 de outubro, dia do aniversário de nascimento da escritora, como o Dia da Mulher Maranhense, por meio do Projeto de Lei da Assembleia Legislativa do Estado, elaborado pelo Deputado Celso Coutinho, também vimarense (a pedido de Nascimento Morais Filho), constituindo a Lei nº 3.754, de 27, de maio de 1976, sancionada pelo Governador Osvaldo da Costa Nunes Freire. Posteriormente essa lei foi substituída por necessidade de ajuste da data de nascimento da escritora, resultado de pesquisa feita por mim, com indicação da Profa. Mundinha Araújo, o que por sua vez, implicou a necessidade de alteração do art. 1º (que trata da data do nascimento). Desse modo, à época, como Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Casa de Maria Firmina dos Reis, solicitei a referida alteração à Assembleia Legislativa do Estado, por meio do Gabinete do então Deputado Estadual, hoje Prefeito da Capital Maranhense, Eduardo Salim Braide, o que resultou na Lei de nº 10.763, de 29 de dezembro de 2017, sancionada pelo Governador do Maranhão, Flávio Dino de Castro e Costa. Em Guimarães, também o ano de 1975 foi o marco do início de maiores homenagens a ela dedicada, para além da Mestra Régia. Nesse ano, além do desfile em sua homenagem, o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, desde o ano de 2007 passou a promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis. Também o dia do aniversário de Maria Firmina foi instituído feriado Municipal e comemorado o “Dia da Mulher Vimarense”, entre outras homenagens. A exemplo do ano de 1975, inspirada em Nascimento Morais Filho, estamos finalizando o Projeto Bicentenário de Nascimento de Maria Firmina dos Reis: a Rosa-de-Jericó (1822- 2022). Nesse Projeto serão homenageados Maria Firmina e Nascimento Morais Filho. Ela, pelo seu bicentenário e ele, pelo seu centenário de nascimento. E no tocante à forte motivação de Nascimento Morais Filho para trazer à lume Maria Firmina dos Reis, tomo emprestado as palavras de Leonardo Boff: Revue Cultive - Genève

19


A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências têm, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz compreender sua interpretação. E Nascimento Morais Filho assim o fez: pesquisou diligentemente Maria Firmina e sua história e buscou ainda difundir as suas descobertas. Vejo ainda claramente o valor da pesquisa e da identificação de Nascimento de Morais Filho com Maria Firmina como seu objeto de pesquisa, quando afirma: “Quando, conscientemente, elogiamos uma obra, o que, inconscientemente, estamos exaltando, é o nosso gosto - o nosso gosto de ver e sentir projetados na obra por nós aclamada e da qual psicologicamente, somos, por conseguinte, coautores” (MORAIS FILHO, 1975. p. 12). E, diz ainda: “Mas a pesquisa não só conscientiza, também recupera emoções perdidas... O povo é um indivíduo coletivo... E recordar é viver ... Que sensações de outros tempos.... de emoções idas e vividas ... ao manusearmos as folhas de jornais de ontem!...” (MORAIS, 1975. p. 12). Isso posto, lanço mão da segunda estrofe do poema “Evocação”, de Nascimento Morais Filho, para demonstrar alguns outros vieses dessa magnânima personalidade traduzida em versos: As láureas, meus irmãos, olímpicas não busco com que cingis de glórias os vossos sonhos! - Cravaram-me a coroa dos crucificados! Minha Castália-são as lágrimas do Povo; Meu Parnaso – a Dor da minha Gente! E reafirmo: pesquisas, estudos/análises, divulgação... Esses ofícios são indispensáveis a todo e qualquer escritor, para que encontros com a verdade e consequente restabelecimento dos que ficaram, injustamente, à margem da história verdadeira aconteçam e possam então ocupar o lugar que lhes cabe por direito. Nessa missão, as “láureas” ou outras glórias devem ser dispensadas pelo autor do estudo. “O pesquisador é - e deve ser - um insatisfeito, porque ele é um criador de novos mundos e um recriador de humanidades” (MORAIS FILHO, 1975. p. 14). Portanto, entendemos que cada autor deve 20

Revue Cultive - Genève

levar essa assertiva em conta e, no caso de Nascimento Morais Filho, não há como desvincular da história do Maranhão o nome do poeta, pesquisador, folclorista, trovador e ambientalista, pois sua vida e obra traduzem o homem que doou seu tempo e recursos pessoais à pesquisa e ao resgate de importantes nomes das nossas Letras, a exemplo, de Maria Firmina dos Reis e Estevão Rafael de Carvalho e, ao mesmo tempo, às causas em defesa da saudável relação do homem com seu meio ambiente, incluindo, nesse campo, o bom uso dos recursos naturais e desenvolvimento de maneiras de reduzir os impactos ambientais produzidos pelas atividades das empresas no meio ambiente. Já disseram e reafirmo: Ele “ combateu o bom combate”, com a sabedoria de quem sabia para onde estava indo, com a ousadia daqueles despojados de medos no enfrentamento de perigos. Isso posto, quero declarar que este texto é, sobretudo, uma homenagem ao intelectual e ser humano, Nascimento Morais Filho. E o meu desejo é que não estejamos nas fileiras dos que materializam a “resignação infame dos covardes”, mas, antagonisticamente, que estejamos entre aqueles que absorvam o “clamor da hora presente”, nas suas vidas, nas suas horas presentes e que ouçam aquela voz retumbante de Nascimento Morais Filho, ressoando sempre em suas memórias e em seus corações!!! São Luís, 1º de janeiro de 2022. Dilercy Aragão Adler REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão (org). ENFOQUES TEÓRICOS EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO: estudos de sala de aula. Caderno de Educação. São Luís: Gráfica Belas Artes, 1998. ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor. São Luís: Academia ludovicense de Letras, 2017;CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006. GARRIDO, Natércia Moraes. A POÉTICA MODERNISTA: em “Azulejos” de Nascimento Morais Filho. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2019;LOBO, Luiza Leite Bruno. CRÍTICA sem JUÍZO. Rio de Janeiro: Garamond, 2007; MARTIN Charles “Chuck. Maranhenses. Revista Firminas- pensamento, estética e escrita. São Paulo, v. 1, n. 1, jan/jul. 2021. https://mariafirmina.org.br; MONTELLO, Josué. A primeira Romancista Brasileira. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro:RJ 11 de maio de 1975, p. 5. MONTELLO, Josué. A primeira Romancista Brasileira. Revista de Cultura Brasileña- Madrid: Embajada de Brasil, 11 de maio de 1975, p. 5. MORAIS FILHO, José Nascimento. CLAMOR DA HORA PRESENTE. 2ª edição, São Luiz: Edições Guarnice, 1955. MORAIS FILHO, José Nascimento. CLAMOR DA HORA PRESENTE. 4ª edição, São Luiz: UNIGRAF, 2021. MORAIS FILHO, José Nascimento. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. REIS, Maria Firmina dos ÚRSULA. 2ª edição Fac-similada, com Prefácio de Horácio de Almeida, Rio de Janeiro, 1975. Romance Original (Uma Maranhense), San’Luiz :Typographia do Progresso, 1859. REIS, Maria Firmina dos. ÚRSULA. Organização e notas de Lobo; Introdução de Charles Martin. - 3ª ed. -Rio de Janeiro: Presença Edições: Brasília INL, Coleção Resgate/INL, 1988. MORAES, Jomar. Apontamentos de Literatura Maranhense (uma abordagem contextual que leva em conta os fatores políticos, sociais e econômicos). 2ª Edição aumentada. São Luís-Maranhão: Edições SIOGE, 1997.


Revue Cultive - Genève

21


POEMAS DE DILERCY ADLER EU TE LOUVO SENHORA À Maria Firmina dos Reis Eu te louvo senhora pela agonia sentida que te tirou o prazer do gozo do corpo impondo agonia profunda doída mas que te fez renascer em palavras e versos de puro querer! Eu te louvo senhora pelos crus dissabores nesta vida sofridos … Eu te louvo senhora por tua teimosia por tua leveza de corpo e de alma... por suave alegria parcamente sentida apesar da tirania da dor revelada em toda tua vida… Eu te louvo senhora pelo amor do qual abdicaste -quimera humana!de uma vida a outra vida ... para entregar-te a outro amor também profundo aquele amor aos desvalidos 22

Revue Cultive - Genève

abandonados pela sorte jogados aos destinos inumanos neste mundo!… Eu te louvo senhora pelo teu imensurável amor à humanidade por tua luta incansável pela igualdade por tua excepcional dedicação materna aos filhos abandonados nesta terra pela vida pela história pela verdadeira e única humanidade! renasce agora - nesta hora o gozo do corpo e da alma neste louvor que hoje a ti dedico e não há gozo maior que este gozo devolvido em palavras e versos desejos...fantasias... eternos perenes romanescamente femininos! Eu te louvo senhora agora nesta hora hoje e para sempre te louvarei também amém! Do livro CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS


MULHERES ATEMPORAIS Nesta Seção uma seleção de mulheres que combateram a desigualdade, o preconceito, o racismo, o machismo e venceram pelos seus ideais, pela garra, pelo despredimento e pela coragem de enfrentar barreiras. Elas superaram até o tempo, atravessaram as décadas e permanecem nos anais da história brasileira. Elas representam todas as mulheres atuais. Valquiria Imperiano

APESAR DE TUDO Valquiria Imperiano do preto do escuro da terra do chicote das traças que traçam caminhos maltraçados açoitados escurraçados dos dias do sol negro da noite iluminada pelo candeeiro dos braços ferrados amarrados acorrentados do bucho vazio roido de vermes do podre do pobre do resto do lixo que alimenta a barriga o intelecto do gueto da favela saí saio pelos fundos e sobrevivo ao quarto de despejo e resisto à perpetuação da miséria

venço pela força derrubo os preconceitos gravo o meu nome no solo na história na memória dos desmomoriados sou firmina sou carolina sou laudelina sou antonieta sou tereza sou conceição sou pobreza sou negra sem berço sem riqueza forte destemida inteligente sou quilombela operária lavadeira catadeira sou todas as pretas sou mulher poeta escritora artista professora guerreira defensora ao subjugo não me rendo e venço.

Revue Cultive - Genève

23


CAROLINA MARIA DE JESUS

guiu emprego na casa do notório médico precursor da cirurgia de coração no Brasil, o que permitia à Carolina ler os livros da biblioteca do cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini nos dias de folga. Ela teve 3 filhos João José, José Carlos e Vera Eunice. As crianças, desde cedo, apegaram-se aos livros por influência da mãe, e frequentaram escolas públicas. Carolina registrou e criou seus filhos sozinha. Para sustentá-los, além de escrever e vender livros, além da coleta de materiais recicláveis, realizava faxinas, lavava roupas para fora e dava aulas de alfabetização em casa.

Ela registrava o cotidiano da comunidade onde morava nos cadernos que encontrava, deixando como legado mais de vinte cadernos. Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem ao seu livro mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. A obra vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para catorze línguas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior. Depois da publicação os vizinhos a acusaram de CAROLINA MARIA DE JESUS nasceu no dia 14 ter colocado suas vidas no livro sem autorização. de março de 1914 em São Paulo. Ela foi a escritoA autora contou que muitos moradores da favela ra, compositora e poetisa brasileira mais conhecida jogaram, nela e em seus três filhos, os conteúdos por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma de seus penicos. Carolina definiu a favela como Favelada, publicado em 1960. «tétrica», «recanto dos vencidos» e «depósito dos incultos que não sabem contar nem o dinheiro da Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras esmola.» negras do Brasil é considerada uma das mais imO livro foi traduzido para treze idiomas e publicaportantes escritoras do país. Ela era compositora do em mais de quarenta países. e poeta. O jornalista Audálio Dantas publicou seu diário sob o nome Quarto de Despejo. O livro fez Publicações póstumas um enorme sucesso e foi traduzido para catorze Em 1977 - a obra Diário de Bitita, (recordações da línguas. infância e da juventude). Em 1982 - «Um Brasil para Brasileiros». sua mãe a obrigou a estudar. Frequentou a escola Em 1996 - «Meu Estranho Diário e Antologia Pesaos sete anos e teve os estudos pagos pela esposa de soal». um rico fazendeiro, mas ela interrompeu o curso no segundo ano. Carolina de Jesus era asmática e morreu vítima de uma crise de insuficiência respiratória aos 62 anos Em 1937, sua mãe morreu e ela se viu impelida à em seu quarto em Parelheiros, na Zona Sul de São migrar para a metrópole de São Paulo. Carolina Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977. construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e todo material que encontrava. A fim de fonte: Wikipedia conseguir dinheiro para sustentar a família ela catava papel. Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo. Ao chegar à cidade, conse24

Revue Cultive - Genève


Entre 1992 e 1996 cursou mestrado em letras-literatura brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A partir de 1999 licenciou-se da prefeitura do Rio de Janeiro e passou a lecionar na Universidade Federal Fluminense (UFF). Fez Doutorado em letras-literatura comparada da Universidade Federal Fluminense, concluindo os estudos em 2011. Disputou a cadeira n°7 na Acadmia Brasielira de Letras em 2020, mas perdeu para Cacá Diegues. Sua derrota era esperada: Conceição Evaristo entrou na disputa para expor a falta de representatividade negra e feminina na centenária academia. Ela recebeu apenas um voto. Cacá, 22, e Pedro Corrêa do Lago, neto de Oswaldo Aranha, os outros 11 votos.

Vozes-mulheres

Conceição Evaristo é negra, nasceu pobre e viveu na favela. Conceição nasceu em 29 de novembro de 1946

na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Filha de Joana Josefina Evaristo. Aníbal Vitorino era o seu padrasto. Viveu seus primeiros anos na favela do Pindura Saia, uma comunidade extinta na década de 1970, localizada da zona sul de Belo Horizonte. Sua família era muito pobre e numerosa. Ela era a segunda dos nove irmãos. Sua mãe considerava que as escolas da favela limitariam o aprendizado dela, então a incentivou a estudar o primário e o ginásio em outra região da cidade. Conciliou os estudos do curso normal enquanto trabalhava como empregada doméstica. Concluiu o curso normal em 1971, aos 25 anos. Mudou-se então para a cidade do Rio de Janeiro, em 1973. Prestou concurso público para o magistério, e permaneceu ligada aos quadros do município até o ano de 2006. Nas décadas de 1970 e 1980, foi professora da rede municipal de Niterói. Prestou vestibular em 1987 para o curso de letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), obteve uma bolsa de pesquisas durante o período. Formou-se em 1990. Estreou na literatura em 1990 com obras publicadas na série Cadernos Negros, publicada pela organização Quilombhoje, que a incentivou a escrever.

A voz de minha bisavó ecoou criança nos porões do navio. ecoou lamentos de uma infância perdida. A voz de minha avó ecoou obediência aos brancos-donos de tudo. A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela. A minha voz ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem – o hoje – o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância o eco da vida-liberdade. Revue Cultive - Genève

25


Neusa Bernado Coelho É uma Mulher Cultive porque ela cultiva a educação, a poesia, a motivação, a juventude, o direito à cultura, a reinserção social, os cuidados com a criança, a pastoral da criança, as figuras históricas, a história, Santa Catarina, a escrita, as antologias. 26

Revue Cultive - Genève


Antonieta de Barros foi a Primeira Deputada Constituinte e Deputada Estadual na Assembleia Legislativa de SC. Notável Primeira Mulher Negra a exercer um mandato popular no Brasil, época em que as oligarquias se revezavam no poder. Destacou-se pela coragem de expressar suas ideias num contexto histórico que não permitia às mulheres a livre expressão.

Antonieta de Barros por Neusa Bernado Coelho (Memorial Antonieta

de Barros)

Antonieta de Barros, Professora, jornalista e escritora, natural de Florianópolis/SC Nasceu em 11 de junho de 1901, filha de ex-escravos, órfã de pai, foi criada por sua mãe Catarina de Barros, que desempenhava a função de lavadeira na casa da família Ramos, importantes políticos de SC. Por influência dessa família foi alfabetizada aos cinco anos de idade na Escola Lauro Muller. Aos 20 anos, formou-se na Escola Normal Catarinense, atual Instituto Estadual de Educação, concretizando o sonho de ser professora. Ativista da emancipação feminina, Antonieta de Barros, travou uma histórica luta para transpor as barreiras racial, de gênero e de classe, tornando-se exceção num reduto branco e masculino. Foi a primeira secretária da Liga do Magistério, lutou pelos direitos das professoras, pois estas não podiam casar em nome da boa reputação. Também participou do Centro Catarinense de Letras, fundado em 4 de janeiro de 1925, instituição literária que acolhia intelectuais negros e das camadas populares ligados às letras e à política catarinense.

Além de jornalista, escritora e política, a professora lecionou Português e Literatura no conceituado Colégio Coração de Jesus e Dias Velho, neste, nomeada Diretora. Em todas as suas atuações defendeu educação de qualidade para todos, acreditava que o ensino libertaria as pessoas da marginalização social e seria um meio de ascensão para as mulheres. Com esse intento, em maio de 1922, aos 21 anos, inaugura o ‘Curso Particular de Alfabetização Antonieta de Barros’, dirigido por ela até a morte. O Curso destinava-se a preparar alunos ao exame de admissão para ingresso no curso Ginasial do Instituto de Educação e da Escola Politécnica, também tinha finalidade de alfabetizar crianças e adultos carentes. A boa formação intelectual de educadora facilitou transpor barreiras impostas às mulheres e à liberdade de imprensa. Na década de 1920, criou e dirigiu alguns jornais, e por mais de 20 anos (entre 1929 e 1951), com o pseudônimo de ‘Maria da Ilha’. Antonieta escreveu crônicas sobre educação, direitos das mulheres, preconceito, vida política, religiosa e social, em diversos jornais de Florianópolis e de SC. Em 1934, no primeiro sufrágio popular em que as mulheres votaram, Antonieta elegeu-se Deputada Estadual e Constituinte em 1935, pelo Partido Liberal Catarinense (PLC). A ilustre e distinta professora tomou posse no parlamento revestida de galhardia, acompanhada por admiradores e seus alunos do Instituto de Educação, onde dignamente exercia a função de diretora. O desejo de trabalhar pelo engrandecimento do Estado e a luta pela emancipação feminina foi ganhando impulso em todo o país e Antonieta tornou-se a primeira Negra brasileira a assumir um mandato popular. Seu lema: Educação para todos, valorização da cultura negra e emancipação feminina. Salienta-se que até essa data as mulheres, negros, pobres e analfabetos não tinham direito ao voto no processo sufragista brasileiro. Revue Cultive - Genève

27


Antonieta destacou-se a primeira mulher a presidir uma Assembleia Legislativa em 1937, porém perde os direitos políticos com instauração do Estado Novo e fechamento do Congresso Nacional e de Assembleias Estaduais. O Jornal República onde ela publicava crônicas, também encerrou as atividades.

Antonieta, faleceu em 28 de março de 1952 aos 50 anos de idade, por complicações de diabete. Está sepultada no Cemitério São Francisco de Assis em Florianópolis. Mesmo esquecida nos livros de história do país, a luta de Antonieta em defesa das mulheres, negros e pobres, continua. Pois, ainda hoje, a mulher é minoria representativa em cargos políticos no Brasil. Essa invisibilidade da mulher na política, segundo Antonieta, era fruto de questões culturais como o machismo presente na sociedade. Mais de cem anos se passaram, continuam vigentes no século XXI, a desigualdade, o preconceito e a violência contra a mulher. Infelizmente!

Com a redemocratização do Brasil em 1945, a ilustre catarinense foi reeleita no pleito de 1947. Destacou-se na reestruturação da escola profissional feminina, concurso para cargos no magistério e concessão de bolsas de estudo para alunos carentes. É autora do projeto que cria o ‘Dia do Professor em SC’, comemorado em 15 de outubro de cada ano e o ‘Feriado Escolar’ pela Lei nº 145, de 12 de outubro de 1948, homologada pelo governador José A ilustre cidadã nomeia ruas, avenidas, estabeBoabaid. lecimentos públicos e foi tema de samba enredo Nessa fase, Antonieta publica a obra: ‘Farrapos de de carnaval da Ilha. Na Assembleia Legislativa dá Ideias’, uma coletânea de crônicas escritas para os nome a Medalha concedida às mulheres com rejornais de Florianópolis. A verba arrecadada com a levantes serviços prestados em defesa da mulher venda do livro é doada para construção de uma es- catarinense. cola chamada de ‘Preventório’, (hoje Educandário Fontes consultadas: http://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/68-antonieta_de_barros SC) destinado às crianças filhas de pais portadores https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonieta_de_Barros https://twitter.com/folha/status/1329514786405683201 de hanseníase. (internados na então Colônia Santa Teresa/São José.).

28

Revue Cultive - Genève


algodão, dispunha de tendas de ferreiro e teares de tecido. Nos Anais de Vila Bela consta o relato detalhado do ataque contra a comunidade feito pelas tropas de Luís Pinto de Souza Coutinho no ano de 1770. O quilombo era integrado por 79 pessoas, homens e mulheres originárias da costa ocidental africana (gentio da Guiné), nove das quais foram mortas em combate e tiveram as orelhas cortadas, várias foram aprisionadas e acorrentadas, e trinta e sete fugiram através da mata. Tereza de Benguela, que também foi aprisionada e levada. Segundo o sociólogo Clóvis Moura, teria ingerido ervas venenosas e, talvez pela ação do veneno, morreu. De acordo com o relato da expedição, então “se lhe cortou a cabeça e se pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para memória e exemplo dos que a vissem”. TEREZA DE BENGUELA Foi uma líder quilombola que viveu no atual estado de Mato Grosso, durante o século XVIII. Foi esposa de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho (ou do Quariterê). Com a morte do marido Teresa se tornou a rainha do quilombo. Nascida, como o nome indica, na região de Benguela, na região da África central da atual República de Angola, foi líder de uma comunidade quilombola na região do Rio Guaporé, atual estado do Mato Grosso, o Quilombo de Quaritêrere, por vezes também chamado de Quilombo do Quariterê ou Quilombo do Piolho – nesse último caso, devido ao nome do companheiro dela com que dividia o governo da comunidade, conhecido como José Piolho.

Por sua capacidade de liderança e de resistência à escravidão, tornou-se um símbolo da luta das mulheres negras, e a data de sua morte, 25 de julho, foi instituída pela Lei Federal n° 12.987 como o Dia Nacional de Teresa de Benguela e da Mulher Negra. Ela também inspirou obras acadêmicas, literárias e artísticas, como o tema de enredo da Escola de Samba Viradouro, que tinha por título Tereza de Benguela – uma rainha negra do Pantanal (1994), e o livro de Jarid Arraes, Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (2017). BIBLIOGRAFIA FARIAS JUNIOR, Emmanuel de Almeida. “Negros do Guaporé: o sistema escravista e as territorialidades específicas”. LACERDA, Thais de Campos. Tereza de Benguela: identidade e representividade negra. Revista de Estudos Acadêmicos

Segundo parece, José Piolho teria governado a comunidade até o fim da década de 1740, e depois Fonte de sua morte a liderança coube a Tereza de Ben- Wikipédia guela da década de 1750 a 1770. O quilombo era constituído por cativos de origem africana e por indígenas. Tereza, que o governou por cerca de vinte anos, aparece qualificada como rainha, e tomava as decisões mediante a consulta a um conselho. A comunidade dispunha de um sistema de defesa, com armas trocadas com os brancos ou levadas em saques praticados nas vilas e povoados das redondezas. Sustentava-se do plantio de alimentos e de

Revue Cultive - Genève

29


tico e reivindicatório fundando então, Laudeli a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do país, fechada durante o Estado Novo e voltando a funcionar em 1946. Trabalhou para a fundação da Frente Negra Brasileira, militando na maior associação da história do movimento negro, que chegou a ter 30 mil filiados ao longo da década de 1930.

“A minha mãe dizia pra mim que eu deveria ter nascido homem, porque já nasci com aquela garra, com aquela coisa que tudo pra mim eu não deixava passar, eu queria enfrentar». Laudelinna de Campos Melo.

Laudelina foi para Campinas, cidade que dava preferência às empregadas brancas, o que levou Laudelina a protestou junto do Correio Popular por veicular anúncios preconceituosos. Integrou-se ao Movimento Negro de Campinas, participando de eventos que visavam levantar a autoestima da comunidade negra, com teatros e palestras. Promoveu no Teatro Municipal de Campinas em 1957, um baile de debutantes - Baile Pérola Negra - para jovens negras . Em 1961, obteve o apoio do Sindicato da Construção Civil de Campinas para fundar, em suas dependências, A Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas. Ela combateu o preconceito racial. Mil e duzentas empregadas domésticas estiveram

LAUDELINA DE CAMPOS MELO nasceu no ato da inauguração da associação, em 18 de 2 de outubro de 1904 - em Poços de Caldas e morreu em 12 de maio de 1991. Foi uma brasileira, defensora dos direitos das mulheres e das empregadas domésticas, fundadora do primeiro sindicato dessa categoria no Brasil. Filha de pais alforriados pela Lei do Ventre Livre, em 1871. Seu pai faleceu quando Laudelina tinha 12 anos, atingido por uma árvore que cortava com outros dois filhos. Obrigada a trabalhar como empregada doméstica desde os 7 anos de idade, abandonou a escola para cuidar dos cinco irmãos mais novos, enquanto a mãe trabalhava.Ela auxiliava a mãe na confecção de compotas, geleias e doces caseiros e vendia-os na cidade. Aos 16 anos foi eleita presidente do Clube 13 de Maio, que promovia atividades recreativas e políticas entre a população negra de sua cidade. Mudou-se para a cidade de São Paulo aos 18 anos e casou-se aos 20 anos, com Geremias Henrique Campos Mello (de quem se separou em 1938), mudou-se para a cidade de Santos em 1924 onde teve dois filhos. mudou-se para a cidade de Santos.

maio de 1961. No ano seguinte, foi convidada para participar da organização de diversos sindicatos da categoria em outros estados, participando também de movimentos negros e feministas. Para que a associação não fechasse, devido ao Golpe de Estado de 1964, Laudelina aceitou abrigá-la na União Democrática Nacional (UDN).[5] A entidade acabou se dissociando, depois que Laudelina ficou doente em 1968, o que a levou a se desvincular do movimento de empregadas domésticas.[3] Voltou à direção em 1982, por insistência de suas antigas companheiras. Em 1988, a associação se tornou Sindicato das Empregadas Domésticas e continuou a lutar em favor do direito das empregadas domésticas, combatendo a discriminação da sociedade em relação às empregadas domésticas, exigindo melhor remuneração e igualdade de direitos sociais

Fonte Wikipédia PRÉ-PROJETO BICENTENÁRIO DE NASCILaudelina participou da agremiação Saudade de MENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS: a RoCampinas, grupo que valorizava a cultura negra sa-de-Jericó (1822- 2022) em Santos. Ela se filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, em 1936 e passou a atuar de forma mais 1 – IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO intensa em movimentos populares e de cunho polí30

Revue Cultive - Genève


Colaborou no jornal O País, alternando com escritores de renome como Coelho Netto, Valentim Magalhães e outros. Foi contemporânea de redação de Aluísio Azevedo, Joaquim Nabuco, Carlos de Laet e da poetisa portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho. Possuia um estilo estilo refinado e elegante, mas para os críticos, ela foi chocante e erótica. Ela escreveu: 1883 Aurélia, romance e novela; 1884 Uma Vítima, contos; 1890 Lésbia, romance e novela; 1890 A estátua de neve, conto 1893 Celeste, romance e novela; 1894 Angelina, romance e novela Fonte Wikipédia Maria Benedita Bormann nasceu a 25 de novembro de 1853 em Porto Alegre, filha de Patrício Augusto da Câmara Lima (1808-1892), conferente da Alfândega da Corte, e de Luísa Bormann de Lima. A criança tomou o nome da avó paterna, Maria Benedita Correia da Câmara, filha dos primeiros Viscondes com Grandeza de Pelotas, casada com o general João Hipólito de Lima, Reposteiro da Real Câmara por alvará de 1810. Era sobrinha do Barão de São Nicolau. Em 1863, a menina estava com uns dez anos quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro e se fixou no antigo centro histórico. O pai de Maria Benedicta, Patrício Augusto, era funcionário público. O sobrado ocupado pela familia existe até os dias de hoje na Rua do Rezende, 48. Mari Benedita estudou francês e inglês e a literatura de seu momento. Pintava, tocava piano e cantava. Era dotada de uma bela voz de mezzo-soprano. Casou-se em 1872 com José Bernardino Bormann, seu tio materno, herói da Guerra do Paraguai, que se tornou ministro da Guerra em 1909 e foi escritor e ensaísta. Maria fez sua carreira literária durante as derradeiras décadas do século XIX e adotou o pseudônimo adotado de Délia. Ela publicou além de crônicas, folhetins e pequenos contos nos principais veículos informativos do Rio de Janeiro, entre 1880 e 895, entre eles O Sorriso e durante um ano escreveu para O Cruzeiro. Colaborou com a Gazeta da Tarde, de José do Patrocínio, e a Gazeta de Notícias, de Ferreira Araújo. Revue Cultive - Genève

31


RITA QUEIROZ

É mulher Cultive Ela cultiva a educação, a poesia, a cultura, a criança, a cultura, o ensino, os direitos da mulher, as academias, a literatura, a filologia, escrever, seus alunos.

GOSTO DE MAÇÃ

mas não era apenas isso que queria da vida. Mas o tempo foi passando...

Ir ao supermercado virou rotina. Já sabia onde enO batom vermelho marcava a sua presença. O descontrar o que procurava, pois as seções já tinham tino transcorria feito um rio. O cruzar de pernas virado companheiras de jornada. era pura dança, balançar do mistério que fazia sucumbir os olhares e os sonhos. ̶ Por favor, onde encontro ração, perguntou-lhe ele. Prontamente respondeu. Como agradecimenNão sabia porque naquele dia havia comido tanto. to, aquele sorriso, aquele olhar desconcertante. O passeio de bicicleta não aconteceu, estava muito As perguntas se repetiram. Se tornaram mais d pesada. Também havia o risco de tempestades e ela o que amigos. Felipinho estava com 3 anos e já finão queria voltar pra casa feito um pinto gorducho cava, sem problemas, com a babá. As compras no ensopado. Melhor mesmo foi ficar em casa, lendo supermercado ficaram mais longas, mas pouco traFlaubert. zia para casa. Em compensação, para o corpo e o coração, muito, embora leve. Revirou os baús de fotografias e lá estava ele, lindo como sempre, olhar que fazia com que ela se As marcas estavam por toda parte. Estava descuidespisse por inteiro. Por onde andava? Há tempos dada com as coisas de Pedro, que só fazia reclamar, não sabia suas notícias. Apenas as recordações nem prestava atenção nela. Felipinho já ia para a preenchiam seu vazio. Tardes quentes que se difeescola e ela tinha mais tempo para as compras, lonrenciavam dessa manhã chuvosa em que Bovary a gas, cada vez mais. faz refletir. Depois que teve o primeiro filho, Pedro só a solicitava para as tarefas domésticas. Todos os dias só queria saber onde estavam suas cuecas, se suas camisas estavam passadas a ferro, se o seu material de trabalho estava arrumado. Ela precisava de mais coisas, isso não bastava. Ter um filho foi sublime, 32

Revue Cultive - Genève

Sabia pouco sobre Eduardo, mas o suficiente para o que a fazia feliz. Era preciso manter o batom devidamente pintado. Olha para o espelho, os quilos a mais a incomodam. Amanhã deverá fazer sol. Pedro e Felipinho vão jogar bola. Ela ainda não terminou de ler o livro.


Elaína Cristina de Maria

Mulher Cultive

Ela cultiva o mestrado, a escrita, a cultura, a literatura, a pesquisa, a língua portuguesa, Campina grande, os movimentos femininos, os grupos culturais e academias, a midia digital, o ensino, as revistas e a poesia.

CAMAQUIANO Olhos brilhantes doce sorriso mulher encontrou amor proibido (Elaína Cristina de Maria)

DONA DA VIDA Quis ser especial, então transformou-se em tempo e foi morar dentro das prioridades. (Elaína Cristina de Maria)

REVERSÃO MEDO DE MULHER Fugindo dos receios e dores encontrou nos crivos amores sem cores (Elaína Cristina de Maria)

Ao conhecer a pequenininha rosa, ele implorou para ficar. No fundo da alma, talvez soubesse que os fabulosos universos e as estrelas mais incríveis eram carmim. (Elaína Cristina de Maria)

Revue Cultive - Genève

33


34

Revue Cultive - Genève


Mulher Cultive A mulher Cultive cultiva a educação, a poesia, a arte, a cultura, a juventude, o direito à cultura, a reinserção social, os cuidados com o jovem e à criança. APRENDENDO COM AS AVES Ela estava sentada na escadaria externa da Igreja São Francisco, alguns passarinhos pousavam no solo histórico. Na rua observada abaixo da muralha de pedra, passavam bicicletas, motos, carros. Os pássaros voaram com o barulho da moto. Ela os acompanhou com os olhos. As aves decolaram, os pensamentos dela também… Bichinhos tão frágeis, ariscos, porém belos e majestosos. Assustam-se fácil, cautelosos, afastam-se. Seu voo representa a defesa que possuem, em lugares altos se protegem. Lá, não os alcançamos. Interessante analogia se pode fazer… Andando pelo gramado em frente à igreja, famílias, crianças, casais, amigos, fotografias… Qual será a diferença da nossa ousadia ou temor se comparado às aves? Acho que estas têm um ensinamento a deixar. As pessoas avistadas, frágeis, por vezes ariscas à vida e ao novo. Medrosas, inseguras, cismadas; contudo belas e, Nesse conjunto, majestosas. Coragem… Será que esta é a resposta para o humano se resguardar em lugares altos? Coragem não representa a ausência do medo, Significa atitude mesmo temendo… Seres opostos: o corajoso e o covarde. As aves agiram, elas voaram. Com medo dos sons, das pessoas, do desconhecido. Pássaros, pessoas, vidas curtas e sensíveis. Despedia-se da arquitetura contemplada.

O escultor era, sem dúvida, dotado de coragem. Transformou-se em trechos da história através das ações e criações. Ela percebia que, ao longo dos dias, Tornara-se parte das aves daquele gramado. O ambiente se apresenta hostil? Retire-se, aja de longe, cante graciosamente a seu modo. Refugie-se alçando voos e assim pousará em lugares altos.

ESPERANÇA Às vezes sufocada, mas nunca desfalecida. Ao longo dos anos lutei por essa relação. Carreguei-a como um diamante, mas também a tratei como uma pedra sem valor. Algumas vezes, adornei-a de belos sonhos, outras a perfurei com o real. Aprendi a ser sua amiga e também a virar-lhe as costas. Alimentei-a e deixei-a com fome. Por cada caminho desses enfim entendi… Tudo isso foi importante, passei a me pertencer. Descobri que sua presença é a vida em mim. Quando quis o silêncio, você me convidou para dançar. No meu âmago, um sinal germinou sendo estas as insígnias: “A valsa não acabou minha amada criança. Eis aqui a sua companheira de dança, muito prazer, a Esperança”. Gabriela Lopes Revue Cultive - Genève

35


É uma Mulher Cultive porque ela cultiva a educação, a poesia, a motivação, a literatura, o livro infantil, os eventos, o direito à cultura, a reinserção social, a igualdade de direitos, os cuidados com a criança, as figuras históricas, o Institu Cultive Suisse Brésil, a Paraíba,

Maria José Pery Negrão dos Santos D’ Piemonte do Paraguaçu (Zezé Negrão)

grande perda. Maria, a contra gosto assume a direção da casa com apenas 10 anos de idade porque pouco sabia fazer. Passados 5 meses da morte da sua esposa, Gonçalo contrai novo matrimonio com D. Eugenia, natural da mesma Freguesia, as crianças aos poucos iam se acostumando com a idéia. Passaram-se meses, D. Eugenia começa a se sentir Maria Quitéria filha do Sr. Gonçalo Alves de mal, fica enferma repentinamente e vem a falecer. Almeida e D. Quitéria Maria de Jesus, nascida em 1792 no Sitio Licorizeiro na freguesia de São José As crianças mostram-se apreensivas e no passar das Itapororocas hoje distrito que leva o seu nome, dos dias, Gonçalo articula em mudar para outro sendo batizada no dia 27 de julho de 1798 tendo lugar, vendendo o desventurado sitio para outra Maria 6 anos de idade. Sr. Gonçalo e esposa vão na pessoa e adquiriu com suas economias as terras da capela de São Vicente e pelas mãos do reverendo Serra da Agulha localizada a noroeste da Freguesia Manuel José de Jesus Maria e na presença dos pade São José das Itapororocas e a nove quilômetros drinhos Sr. Antônio Gonçalves de Barros e sua irmã de Santo Antônio de Tanquinho na Serra da AguJosefa Maria de Jesus recebendo no seu registro de lha. Maria Quitéria já estava com 12 anos de idade batismo o nome de Maria Quitéria de Jesus Almeie continuava à frente da casa. Passados alguns da, Jesus da mãe e Almeida do pai. Nesse período meses, Gonçalo contrai novo casamento. Desta vez já estava com seus dois irmãos, Josefa nascida em com D. Maria Rosa de Brito natural daquela Fre1794 e Luís em 1796. Sempre Maria Quitéria deguesia. O ato é efetuado na Capela de Santa Barsaparecia horas a fios se divertindo entre as plumas bara. As crianças estranharam o tratamento de D. silvestres, às vezes se entretém armando laços para Maria Rosa sendo que Josefa e Luiz eram tímidos, apanhar passarinhos, sendo porém sua distração mas Maria que era de temperamento diferente, repredileta percorrer o sítio num animal em pelo. E bela-se dando início à discórdia entre ambas. Ao assim levava a vida de uma infância livre sobre a passar dos anos, os filhos do terceiro casamento relva do Sitio. começava a surgir: Francisca, Teresa, Bernarda aumentando a família; a prosperidade a cada dia Em 1802 sua mãe adoece gravemente, o sitio Limultiplicava os bens existentes na fazenda e Maria corizeiro entristece, Gonçalo comunica à Maria a sempre altiva, saia para caçar e pescar como uma morte da sua mãe enquanto todos choravam essa 36

Revue Cultive - Genève


sempre determinada, porém humilde vivendo no bucolismo da natureza, mergulhava nos afazeres e nas distrações e uma delas era as caças junto à montaria.

diversão, às vezes com o seu pai ou com alguns escravos. Além dos gados, na fazenda havia uma vasta plantação de algodão. Uma parte dos escravos cuidava do plantio, outros no pastoreio do gado e outros para o comércio. Neste período adquire mais terras do Sr. Manuel Ferreira da Silva, depois mais outra denominada Mamoneira na fazenda São Tiago que fora do Sr. Romão Alves. Ele já estava com 5 filhos do terceiro casamento e mais 3 do primeiro. Entre eles: Francisca, Teresa, Bernarda, Ana, Manuel, Maria Quitéria, Josefa e Luís. Maria

Aos domingos ela sempre ia com seu pai à missa e lá encontrava as amigas, uma delas era Maria Hermenegilda de Oliveira, morava perto da Serra da Agulha. Passaram-se o tempo e já estava no ano de 1822, na Vila de Cachoeira estava sendo organizada a reação libertária contra os portugueses e, distante na Serra da Agulha à oitenta quilômetros daquela Vila. Maria Quitéria toma conhecimento do que ali se passava. Enquanto José Cordeiro de Medeiros, seu cunhado, levava os produtos agrícolas para serem negociados na Vila, vivenciou por algumas horas os movimentos dos batalhões marchando, cheios de entusiasmos, ele admira as cores vivas de suas fardas e a coragem do povo, ficando assim emocionado. Ao regressar da viagem passa pela casa do Sr. Gonçalo e narra o que tinha visto, é Maria que mais se destaca pelo vivo interesse. Daí por diante Cachoeira passa a ser objeto único de sua cogitação. Ao passar dos dias a Junta do Governo envia ao Recôncavo e região um emissário, o qual chega até à fazenda Serra da Agulha onde sabe que morava um abastardo fazendeiro. Ali chegando é recepcionado pela família, o emissário conta para que veio mostrando com entusiasmo patriótico os benefícios que podem advir para o país assegurar a nossa independência, porém o Sr. Gonçalo atento às palavras responde que nada pode fazer em virtude da sua idade e o filho que possuía é ainda criança e os seus escravos eram responsáveis dos afazeres na propriedade. Revue Cultive - Genève

37


Se as palavras do emissário nenhuma repercussão tem no espírito de Gonçalo, grande ressonância causam à alma de Maria Quitéria que não contendo ao entusiasmo diz na presença do emissário que à semelhança das outras baianas do Recôncavo, ela sabe manejar arma de fogo e estaria muito bem para defender a terra. Se o pai consentisse, ela iria lutar pelo Brasil, pois está com o coração abrasado. O velho Gonçalo retruca-lhe bruscamente, que as mulheres não nasceram para guerra e sim para tecerem, bordarem e trabalhos de casa. Guerra é para homens! Após a saída do emissário Maria lhe recorda intimamente as palavras entusiásticas, pois haviam ficado em sua imaginação. Lutar pela pátria é para ela um dever e por isso pensa em se incorporar em um batalhão. Em seguida vai à casa de sua meia irmã Teresa esposa de José Cordeiro de Medeiros e conta tudo o que ocorrera. Lamentando não ser homem naquele instante para se junta imediatamente aos patriotas, mas mesmo assim estava pensando em ir; apenas estudava o meio. Teresa depois de ouvi-la com todo o seu entusiasmo bravio e contagiante diz-lhe que, se não fosse casada e estavesse esperando um filho, também se alistaria. As palavras da irmã vem ao encontro de seus desejos, ela está decidida de defender a pátria. Foi quando tiveram a idéia de cortar os cabelos e Teresa ceder as roupas do seu esposo e que José Cordeiro de Medeiros seja o seu acompanhante até a vila de Cachoeira. Não se aventuraria a fazer a viagem sozinha porque a fazenda à Cachoeira distam oitenta quilômetros. É setembro de 1822, assim que chega à Vila procura o comandante da tropa acantonado, assenta praça num Regimento de Artilharia. É sexta-feira e tão grande o seu entusiasmo em servir à pátria que no domingo já monta guarda no referido Regimento. Com receio que lhe descubra o paradeiro dá, quando assenta praça, o prenome do seu cunhado – MEDEIROS - dizendo-se ser o seu filho. Manejando com segurança a arma de fogo, disciplinado e de comportamento exemplar, o soldado Medeiros é bem visto na tropa. Pela fragilidade do físico, dias após o soldado Medeiros foi transferido para a infantaria, Batalhão n° 3 ou Voluntários do Príncipe, conhecido depois por Batalhão dos Periquitos. Enquanto Maria vê realizado o seu desejo, Gonçalo Alves de Almeida a procura por toda parte- Santa Barbara, Tanquinho, São José das Itapororocas não 38

Revue Cultive - Genève

a encontra, vai à Cachoeira lembrando-se das palavras por ela proferida em presença do emissário e, na vila, não se sabe como é informado de que Maria está no Batalhão dos Periquitos. Imediatamente vai ao seu encontro e vê que o outro não é o soldado Medeiros, senão a sua filha. Emocionado reprova-lhe o procedimento, tentando dissuadi-la do seu intento, porém Maria não lhe sede aos reclamos. Está inabalável no seu propósito de defender a pátria. Gonçalo procura o comandante do Batalhão solicita a sua retirada da tropa, Maria havia já suplicado ao major Silva Castro na interferência junto ao pai. Gonçalo houve o major que a ele transmite o nobre apelo de sua filha e após forte relutância cede aos seus caprichos, porém a maldiçoa. A partir dessa data estaria usando só o prenome da sua mãe “Jesus”, Maria tem a sua consciência tranquila, nenhum fundamento de outro caráter impelira sua decisão, tem 30 anos de idade e sua deliberação é consciente. Arrebatada pelo ideal coletivo para servir à pátria acima de tudo dando início à sua jornada de sacrifícios para libertá-la. É quem assim pensa e destituída de qualquer instrução, pois seus pais, como de praxe na época, não lhe proporcionaram. Porém um dia quis aprender a assinar o seu nome e o fez porque inteligência e vontade são forças do seu temperamento e assim foi feito assinando pelo nome de Maria Quitéria de Jesus, nome que jamais a história esqueceria. Pouco tempo passa Maria em Cachoeira, pois em 29 de outubro o major Silva Castro é designado com o seu Batalhão para a Ilha da Maré, onde vai organizar a defesa. Cumprida a missão, dias após seguem para Itapuã com os seus periquitos sob o comando do Ten. Cel. Felisberto Gomes Caldeirada. Dias depois os portugueses tentam surpreender a esquerda brasileira pela estrada da Pituba e são rechaçados pelo Batalhão dos Periquitos onde combate Maria Quitéria. É ESSE O SEU BATSIMO DE FOGO. Em fevereiro de 1823 entra pela 2ª vez em combate em Itapuã e é citada na ordem do dia, tendo atacado uma trincheira inimiga e feitos prisioneiros que conduz ao acampamento brasileiro. Após esse reencontro o general Pedro Labatut lhe confere as honras de 1º Cadete. No dia 28 de março atendendo a sua solicitação o Conselho Interino do Governo manda o Inspetor dos Fardamentos entregar ao cadete Maria Quitéria dois saiotes de camaleão ou de outro pano semelhante e uma fardeta de polícia no dia 31


do mesmo mês, outra ordem manda que lhe seja fornecida uma espada. No dia 31 de março de 1823 o Conselho Interino do Governo manda entregar ao Furriel João José Luís um fardamento à sua mulher Maria Quitéria com praça de cadete, uma calça e um par de botões. Essa portaria vem revelar que Maria Quitéria e o Furriel se uniram perante a igreja o que era perfeitamente visível devido a presença de um capelão na tropa pois de outra forma não poderia. Em abril na barra do Paraguaçu sob o comando, cuja forças do capitão Vitto José Topazio unida a um grupo de mulheres incendiadas por essa bravura Maria Quitéria avança com água até os seios contra a barca portuguesa cujas forças batendo nossas tropas tentam desembarcar, não o conseguindo em virtude do denodo com que os brasileiros ferem o combate. É esse o seu último recontro. Além das três vezes que entra em combate em Pituba, Itapuã e foz do Paraguaçu guarnece por alguns dias Cachoeira e Ilha da Maré. Às nove horas do dia 2 de julho de 1823 o general José Joaquim de Lima e Silva o Duque de Caxias, tem notícias da fuga do brigadeiro Madeira de Melo a qual classifica de a mais vergonhosa e precipitada que vira. Ordena que seja reunida toda a sua tropa à frente da Divisão, em primeira linha estava o comandante em chefe do Exército Nacional, Imperial e Pacificador José Joaquim de Lima e Silva, em seguida o Batalhão do Imperador dirigido pelo Major Manuel da Fonseca Lima, de que faz parte Maria Quitéria e outros pelotões, por fim um aglomerado de heróis descalços quase desnudos deixando transparecer através dos seus rostos marcados pelo sofrimento a luz que irradia da suprema aventura da LIBERDADE. É uma hora da tarde, o ouro do sol inunda a antiga capital do Brasil São Salvador que se prepara para receber as forças libertárias. Multidões sucessivas invadem a cidade para aplaudir os heróis e, em delírios a Bahia os recebeu. Toques de clarins, rufar de tambores espocar de fogos-de-artifícios, palmas, vivas e o repicar dos sinos ecoando do alto de todas as torres das igrejas. Das janela das residências de onde pendem coloridas colchas de damascos, centenas de mãos atiram sobe as cabeças dos bravos uma chuva de pétalas de rosas, que tão espessas dão a impressão de terem deixados vazios de flores os jardins da nossa Bahia. Defronte do Convento da Soledade as freiras ergueram um arco de flores para a passagem dos

bravos. Foi uma homenagem tocante que se vai ali realizar ao Exército vitorioso. O capelão interino do Convento padre Antônio José Gonçalves de Figueiredo saúda as forças da liberdade em nome das freiras entregando ao general Lima e Silva algumas coroas de louros por elas tecidas para a fronte dos heróis. Maria Quitéria que na tropa tem posição perto do general comandante é por ele distinguida nessa homenagem gloriosa. Ao meio ao rufar novamente dos tambores e delírios das ovações populares, o comandante dirige-se ao templo junto com o reverendo com o seu estado maior a fim de agradecer ao Senhor dos Exércitos a graça da Vitória. Assim cobertos de rosas e de louvores, atravessam as ruas com destino ao Terreiro de Jesus onde o Exército Pacificador vai ser distribuído por vários alojamentos. O batalhão de Maria Quitéria é designado para o Convento de Santa Teresa. Passando alguns dias Maria revela ao general Lima e Silva o desejo de ir à Corte beijar a mão de Sua Majestade D. Pedro I. No dia 29 de julho deixa a Bahia com destino ao Rio de Janeiro no navio LEAL PORTUGUES, são os seus acompanhantes nessa viagem João Maria Paresi tenente, ajudante de ordens do general Labatut, Luís Carlos Correa tenente ajudante de ordens do comandante da 2ª segunda Divisão, Miguel Joaquim de Andrade capitão do Batalhão do Imperador e o cônego João José Damasceno. Chega ao Rio de Janeiro no dia 17 de agosto após 19 dias de viagem, despertando a curiosidade popular de maneira extraordinária onde passava com o seu uniforme colorido, era uma festa, palmas e vivas estrugem à sua bravura, numa homenagem simbólica. A imprensa reverencia-lhe o heroísmo tecendo-lhe elogiosas referências. No dia seguinte dirige-se ao Ministro da Guerra e ao Ministro João Vieira Carvalho e faz a entrega do oficio que o seu comandante enviou. No dia 20 de agosto do mesmo ano o Imperador recebe em audiência em pleno conhecimento da sua ação militar. O paço da cidade está repleto de curiosos, ministros, senadores, deputados representantes do Corpo Diplomático e pessoas gradas. É presente também na solenidade a jornalista e escritora inglesa Maria Graham precetora dos filhos do imperador. Depois de vivamente cumprimentada por todos, o Imperador a condecora com a insígnia de Cavalheiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. O emblema do grau honorifico ele próprio o coloca na blusa da heroína à altura do Revue Cultive - Genève

39


coração, dizendo-lhe as seguintes palavras! QUERENDO CONCEDER A D. MARIA QUITÉRIA DE JESUS UM DISTINTIVO QUE ASSIGNAELE OS SERVIÇOS MILITARES COM DENÔDO RARO ENTRE AS MAIS DO SEU SEXO PRESTARA À CAUSA DA INDEPENDENCIA DESTE IMPERIO, NA RESTAURAÇÃO DA CAPITAL DA BAHIA, HEI POR BEM PERMITIR-LHE O USO DA ISGNIA DE CAVALEIRO DA ORDEM IMPERIAL DO CRUZEIRO. Em seguida ordena que seja lavrado um decreto concedendo-lhe o sôldo de aferes de linha, em retribuição aos seus feitos heroicos. Terminada a leitura do decreto Maria humildemente agradece ao imperador a distinção recebida e pede uma carta para Gonçalo Alves de Almeida seu pai, aconselhando-o a perdoar-lhe por ter abandonado o lar em defesa da pátria. O Imperador aquiesce imediatamente, e dias depois, para auxiliar a sua viagem de volta manda que sejam adiantados dois meses do seu sôldo de alferes. No dia 29 do mesmo mês atendendo ao convite que lhe fizera Maria Graham vai vista-la em sua residência temporária e junto leva o pintor Augustus Earle para desenvolver a sua pintura que ficaria perpetuada. O encontro é demorado e de suma importância histórica, pois a jornalista transforma num valioso depoimento sobre a heroína o qual encontramos no livro intitulado Diário de uma viagem ao Brasil de 1824. A heroína retorna para a Bahia no mês de setembro na escuna NACIONAL CARLOTA, levando a carta do Imperador a seu pai solicitando que lhe perdoasse e assim o fez. Chegando a Salvador procura uma condução e segue para a vila de Cachoeira onde fardada dando-se a conhecer, no aquartelamento pede que lhe seja facilitada condução até a sua fazenda. Segue seu caminho no anonimato, passa por Feira de Santana, atinge São José das Itapororocas e tomando caminho as direitas vai a fazenda Santa Cristina de parentes seus, almoça conta rapidamente suas façanhas seguindo para a sua fazenda que ali ficava a três léguas e meia. Na Serra da Agulha em frente da casa grande estava D. Maria Rosa, Bernarda, Josefa e Ana entretidas, enquanto o velho Gonçalo olhava do alpendre a paisagem da serra. De repente começa o cão a latir e olham para estrada avista um soldado a cavalo, 40

Revue Cultive - Genève

todos dirigem a atenção ao cavaleiro que se aproxima. Rápido o cavaleiro alcança o atalho elevado que conduz à frente da Casa Grande enquanto todos gritam surpresos, é Maria! É Maria! Gonçalo já havia deixado o alpendre. Madrasta e irmãs a abraçam, Maria lhe retribui as afeições e rapidamente segue em direção ao pai, que já está no interior da casa, entregando a carta do Imperador enquanto de joelhos aguarda as bênçãos do seu pai. Gonçalo lê com viva atenção a missiva imperial e um leve sorriso vai iluminando a fisionomia austera, que lhe compõem a grande barba grisalha. Ao termina-la, abraça a heroína efusivamente, perdoando-lhe. Todos se cercam novamente de Maria que começa a narrar sua aventura. Dias depois Maria toma-se do desejo de viajar, deixando a casa paterna vai visitar o arraial de Coração de Maria que fica a 10 léguas da Serra da Agulha, ali mora por algum tempo em uma casa junto a fazenda Sta. Tereza no lugar denominado Papagaio onde em 1954 residia Luís Martins de Oliveira Santos conhecido por Senhor Tenente conforme o livro de Pereira Reis Júnior quando ali esteve. Nos dias de feriados a heroína a que chamavam de D. Maria Alferes aqui nessa região ela era chamada por esse nome, costumava vestir seu uniforme dos Periquitos ostentando a condecoração do lado esquerdo do dólmã como o Imperador a pusera. Daí vai a Pedrão, Lustosa, Irará e outros povoados da região, voltando novamente à Serra da Agulha. Sua ida sozinha ao rio de Janeiro e do mesmo modo o seu retorno à sua fazenda, dão-nos impressão de que o seu companheiro o Furriel João havia tombado no campo de luta. É nessa fase de seu retorno que se enamora de um lavrador do rio do Peixe. Gabriel Pereira de Brito e com ele contrai matrimonio. Nesta ocasião o pai lhe dar cem mil reis de sua legitima e por dote um escravo de nome Antônio, avaliado em cento e vinte mil reis, um cavalo por 20 mil reis, uma novilha por cinco e mais um cavalo por 30. Assim Maria Quitéria deixa a fazenda Serra da Agulha para os afazeres de um lar sertanejo. Dessa união nasce Luísa Maria da Conceição. Na bruma do descanso anonimato por cause um decênio quando reaparece no dia 22 de agosto de 1835 na então vila de Feira de Santana à procura do Cartório do Escrivão de Órfãos Sr. Augusto Guimarães a fim de constituir advogado no inventário do seu pai Gonçalo Alves de Almeida, uma vez que


encontrava-se viúva pela segunda vez e, suas vindas à Feira de Santana eram constantes, porém a amorosidade por anos estabelece um ritmo lento ao processo. No ano de 1841, Maria Quitéria em requerimento ao Juiz dos Órfãos revela que está em um estado deplorável por lhe faltar a visão. A constância presença da heroína em Feira de Santana faz-nos crer que deveria estar morando em alguns desses distritos vizinhos. Descrente dos processos da Justiça, campo em que ela se bate há 8 anos a fios, resolve abandoná-lo deixando a Feira rumo a Salvador em companhia da sua filha, levando apenas o soldo de Alferes. Assim o faz, sem que lhe tomem conhecimento vai residir com sua filha no distrito de Santana, aí vivendo um decêndio até o dia 21 de agosto de 1853, quando num doloroso anonimato os olhos se fecham para a vida com 61 anos de idade. Sua certidão de óbito aponta o pequeno cemitério em que foi sepultada onde não há mais indicio do seu túmulo. Porque fora construída nesse terreno a igreja do Santíssimo Sacramento de Santana na capital de Salvador BA.

praças e ruas com o seu nome, de especial na sua terra natal a princesa do sertão Feira de Santana na Bahia que possui um lindo monumento em sua homenagem na avenida Getúlio Vargas e uma extensa avenida que leva o seu nome. Hoje estamos mais uma vez apresentando um legado deixando na história do nosso Brasil através da heroína feirense Maria Quitéria de Jesus Almeida. (Soldado Medeiros ou D. Maria Alferes). FONTRE DE PESQUISAS! Diário de uma viagem ao Brasil da escritora inglesa Maria Graham lançado em 1824 onde ressalta a entrevista que a mesma teve com Maria Quitéria em 1823 quando da sua ida ao Rio de Janeiro. O livro Maria Quitéria lançado em 1954 pelo jornalista e escritor Pereira Reis Júnior através do Ministério da Educação e Cultura e apoio do jornalista e escritor feirense Ilmo. Sr. Arnold Ferreira da Silva. Site do Arquivo Público da Bahia. Cópias das xerox de alguns documentos a mim doados pelos Confrades (as) Ilmo. Sr. Ângelo Almeida Pinto e a Ilma. Professora Lélia Vitor Fernandes. Algumas orientações prestadas pelo nosso herói brasileiro da segunda guerra mundial o confrade, escritor o Ilmo. Sr. Antônio Moreira e o confrade Miliar aposentado Ilm.º Sr. Josman Lima quando das informações sobre as armas usadas no exército brasileiro nos anos da Independência do Brasil na Bahia, precisamente em 1823.

Quando o inventário é concluído, já os bens do casal são escassos. Os anos lhe haviam reduzido o número de bens. Dentre os herdeiros está Luísa Maria da Conceição que virá a receber em 1863 a parte de sua mãe Maria Quitéria e que seria de 154 mil 369 Esta pesquisa apresentada, efetuada pela Comendadora réis, Luísa Maria nessa ocasião ainda era solteira e Doutora Honoris Causa, Doutoranda em Psicanálise Maria José Negrão dos Santos (Zezé Negrão) membro do IHGFS, contava com a idade de 34 a 39 anos. No ano de 1895 foi inaugurado o monumento ao 2 de julho no Campo Grande em Salvador BA e desde essa época o trajeto do desfile foi ampliado tendo a figura de Maria Quitéria presente nos cortejos na capital.

ALAFS e em diversas Instituições Socioculturais à nível nacionais e internacionais.

Em 21 de agosto de 1953 quando dos 100 anos de sua morte foi inaugurada a estátua de Maria Quitéria de Jesus na Praça da Soledade no Bairro da Liberdade em Salvador BA, também nesta mesma data houve o lançamento do selo em sua homenagem expedido para todo o território brasileiro pelos correios, e o governo federal decretou que seu retrato estivesse presente em todos as repartições e unidades do Exército. Em 28 de junho de 1996 Maria Quitéria de Jesus, por decreto do Presidente da República, passou a ser reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Em muitas cidades do Brasil existem Revue Cultive - Genève

41


Mulher Cultive Cultiva a educação, a poésia, a arte, a juventude, o direito à cultura, a reinserção social, ensinar, motivar es escritores, a política, colecionnar prêmios, filiar-se à academias, escrever para as revistas artplus e cultive e coletâneas, cultiva Mandaguari - Pr. MULHER!

(Maria Inês Botelho) Mulher, você é fantástica! Ama, vibra, perdoa, sorri, chora, Desafia problemas, Traz vidas à luz, Indica caminhos solidários, faz o coração bater mais forte Quando a conquista do sonho é registrada. Mulher! Você é Plus! Você é única! Você é cor, luz, tom, poesia, É expressão estelar de porte ímpar neste universo. Nada se iguala à sua beleza, Tampouco há quem ultrapasse a sua singeleza. O seu significado, para o mundo, traz impresso a chancela do Divino. Mulher! Você é significado de um porvir mais humano. Seja feliz hoje, e sempre. Maria Inês Botelho

42

Revue Cultive - Genève

Maria Inês Botelho atuou como professora do Ensino Médio e Superior e na Supervisão de Ensino no Ensino Fundamental. Foi vereadora e prefeita pelo município de Mandaguari (PR-BR). Possui títulos, dentre outros, de Comendadora. Recebeu vários prêmios na área da literatura e outras. Está associada a 09 academias de Letras e 17 instituições congêneres no Brasil, em Portugal, Suiça e Itália, além de ter compromissos com instituições onde a solidariedade tem forte espaço. Tem 1 (um) livro publicado e diversos textos, poemas, crônica, mensagens publicados em 24 coletâneas, 4 antologias e em várias revistas, no Brasil e na Suiça, em jornais local e regional, boletins de clubes, anais de conferências elistas a níveis nacional e internacional, em sites, facebook, WatsApp e outros meios que a informática oferece. Tem um programa na rádio Agora FM pelo Elos Clube de Mandaguari, a Federação Internacional Elos da Comunidade Lusíada e a rádio Agora FM, envolvendo a contação de histórias infantis com alunos da rede municipal de ensino


Giuliana Conceição Almeida

EU, MULHER A mulher que vive em mim É pura construção Composta de dualidades Que definem sua essência. Parte dela é criança A outra , mulher Parte dela é sonhadora A outra, realista, lutadora Parte dela é mãe A outra, filha Parte dela é professora A outra, aluna Parte dela tem medo A outra, coragem Parte dela é lúcida A outra, louca Parte dela é viajante A outra, o lar. Nessa dualidade, a mulher que está em mim se compõe Cheia de ministérios e façanhas Escreve a cada instante A sua história Tatuada na pele E revelada no olhar.

Mulher Cultive Cultiva a metodologia da língua portuguesa,a educação, a poesia, o ensino, as atividades culturais, o ensino, a escrita, academias de letras.

Revue Cultive - Genève

43


44

Revue Cultive - Genève


Revue Cultive - Genève

45


Avani Peixe É uma Mulher Cultive porque ela cultiva a educação, a poesia, a motivação, a literatura, o livro infantil, os eventos, o direito à cultura, a reinserção social, a igualdade de direitos, os cuidados com a criança, as figuras históricas, o Institut Cultive Suisse Brésil, a Paraíba, SOU UMA VALKYRIE Passando tudo isso, pergunto-me discretamente, Sou uma Vakyrie? Sou do invólucro manto Que na aparência dissipa E disfarça A força interna e intensa De um coração obstinado. E neste coração Que bate por tantas vidas Numa sintonia de luta e fé Reside os meus objetivos Mais sagrados. Faço parte do todo Na questão que abraço Para dizer-me com tempo 46

Revue Cultive - Genève

Sem questionar o tanto e quanto Da veracidade Dos meus mais singelos atos. Testemunho dos meus feitos O meu Deus me disse: Segue em silêncio nos teus bons atos. Eles, darão bons frutos Ainda que muitos dirão Que seja tarde.


É uma Mulher Cultive porque ela cultiva a educação, a poesia, a música, a pintura, a motivação, a literatura, os eventos, o direito à cultura, o Institut Cultive Suisse Brésil, Florianópolis,

ENCANTOS ... Empíricos encantos ...É o embalo do vento que acalenta a saudade... É o borbulhar das águas debruçadas no verão, que querem me consolar É um novo caminho, que circunda. Ou são as nesgas do passado, que me consolarão? Não sei... Levo o meu dedilhar nas músicas poéticas, que só eu, sei o ritmo, que só eu, sei cantar! Talvez... Trêmula, frugaz Até o meu coração cansar... É o reflexo do sol No entardecer dos sonhos, daquele inverno. ..Só nosso... Só nosso! Vera De Barcellos

Revue Cultive - Genève

47


É uma Mulher Cultive porque ela cultiva a educação, a poesia, a motivação, a juventude, o direito à cultura, o direito dos índios, o ceará, a escrita, as antologias, o ensino, o direito das minnorias, o meio ambiente, a literatura, o cordel. QUERIDA EVA, ESPERO QUE VOCÊ Desde o momento que nascemos, somos ensinadas a cuidar, a amar sem medida, e até a esquecer de ESTEJA BEM. nós em detrimento da felicidade do outro.

Hoje abri um livro e encontrei uma fotografia nossa. Éramos adolescentes e na época sonhávamos Autocuidado não é ensinado. com os príncipes encantados que vinham nos sal- Autoestima não é estimulada. Autonomia não é valorizada. var em seus cavalos brancos. Somos usinas de vida! Porém, muitas de nós ainda não nos damos conta da nossa potência. Vamos deixando-nos de lado, deixando nossos desejos pra A vida, minha querida, trouxe para perto de nós depois, vamos nos calando, vamos esmorecendo. Mas é própio do ser mulher que a chama não se outras pessoas e outros projetos. apague. Estou com saudades daquelas conversas, Às vezes os “príncipes” viram sapos. Eles existem das nossas brincadeiras, das partilhas. A nnossa apenas na nossa idealização. Hoje entendemos que amizade, a cumplicidade, a companhia aviva a vonnão precisamos deles para nos salvar. Que nossos tade de seguir trilhando novos caminhos. castelos são construidos por nós e até que se não quisermos um castelo, podemos escolher o que Vou terminando por aqui. Mas quero novamente quisermos ser e ter. que somos responsáveis por dizer que nós precisamos umas das outras. Nós nossa vida. Somos mulheres com histórias fortes, contamos umas com as outras. Nós somos um doloridas, belas e ricas de experiências. Vamos todo! Somos uma constelação! Nossa luz ilumina aprendendo umas com as outras. Ouvindo expe- caminhos. riências e relatos das lutas. Conte comigo! Eu conto com você. Lembrei das nossas conversas interminávéis. Quantos planos! Tantos sonhos!

Falarmos, gargalharmos, dançarmos e nos acolhermos. É necessário e é muito lindo! Precisamos fa- Um abraço e um beijo. lar sobre quem somos , o que podemos fazer, o que trazemos no coração. Precisamos nos fortalecer e Sua amiga de sempre priorizar-nos. Lilith 48

Revue Cultive - Genève


Eluciana Iris É uma Mulher Cultive porque ela cultiva a educação, a poesia, a música, o direito, a saúde, a nutrição, a literatura, os eventos literários, o direito à cultura, o Institut Cultive Suisse Brésil, Belo Horizonte. IN VINO VERITAS, IN AQUA SANITAS Ser vinho ou ser água, eis a questão Talvez até Hamlet ficaria indeciso Em certos momentos quero ser vinho Ter o equilíbrio entre doçura e acidez Ser duro e austero Ser cheirado e degustado com prazer Não derramar lágrimas em taça de cristal da Bhoemia Ser rico em oxidantes, deixar a sensação de longeDUETO INTERNO vidade Ao me sorver oferecer o momento da verdade as Desejo paralisar o dueto interno das minhas emominhas paixões um tanto não casuais ções que não compreendo Em certos instantes talvez de devaneios, delírios ou Emoções dúbias, incessantes e incansáveis. lucidez quem sabe Metade de mim quer você Desejo ser água A outra metade não importa se você vem. Ser incolor, transparente, por vezes insonso Metade de mim sente profunda saudades. Quero ser água gelada A outra metade nem ai, são meras lembranças. Em seu estado sólido gelar a garganta de quem griParte do meu eu quer dizer oi amor. ta sem ser ouvido A outra metade basta dar tchau. Molhar o canto de tons cinzas e nostálgicos Parte de mim voa em direção a sua boca. Ebulir e entrar nos desejos escondidos e reprimidos A outra metade repulsa o abraço. Acalmar o incamável Pudera eu senhor, ter o controle nas mãos e apertar Sem ser egoísta e desculpe-me HAMELT, ser ou a tecla enter, não ser? Entrar em sintonia e a cores aparecer na tela por Quero ser tudo ao mesmo tempo inteiro. E foda-se essa coisa de escolher Aparecer na minha melhor versão. Ser isso ou aquilo Amar e deixar ser amado. Estar ou não estar Vou misturar o vinho com água in vino veritas, in aqua sanitas, devem se misturar e ponto final Podem dizer ao contrário, vou experimentar Experimentarei com intensidade, que seja eterno e infinito enquanto dure Seguirei os conselhos de Vinicius de Moraes. Revue Cultive - Genève

49


Leni Zilioto é Mulher Cultivadora Leni é cultivadora porque ela cultiva a escrita educação, a poesia, a motivação, o direito à cultura, os cuidados com a criança, a pastoral da criança, Mato Grosso, as antologias.

Na condição de escritora, eu optei por registrar histórias de mulheres que marcaram a história pelo seu dia a dia. Escrevi os livros O BRILHO DE ESTRELAS IMORTAIS, Volume 1 e Volume 2, entrevistando noventa e quatro mulheres desbravadores do norte de Mato Grosso, região considerada atualmente o point do agronegócio. Trinta e duas mu-lheres da cidade de Nova Mutum e sessenta e duas da cidade de Sinop, Mato Grosso.

MULHERES HISTÓRICAS MULHERES DESBRAVADORAS DE MATO GROSSO Há mulheres históricas que marcaram na política, na educação, na ciência, na música, na literatura, no exército, nas tecnologias. Enfim, em todas as áreas. Temos a atuação da mulher na construção da história da sociedade humana comprovada pelas pesquisas realizadas nas últimas décadas sobre “mulheres históricas”. Dizemos “nas últimas décadas” porque, até então, não havia sido registrada na mesma proporção dos registros da atuação masculina. Ao mesmo tempo, avançamos, conquistamos espaços importantes e que estamos ampliando para nossas filhas, netas, bisnetas. 50

Revue Cultive - Genève

A saga de cada jornada de mulheres que seguiram com seus companheiros desbravadores é uma leitura obrigatória, para homens e para mulheres, a fim de compreenderem a essência feminina, manifestada entre risos, lágrimas, soluços e olhares distantes. O conteúdo dessas entrevistas e a vivência do clima emocional que envolveu cada conversa, significou para mim mais do que cursar um pós doutorado. Cada mulher falou e eu registrei a criança, a menina-moça, a esposa, a mãe, a profissional, a empreendedora, a resiliente, ... a mulher que está em cada uma. As mulheres que lerem essas histórias, se identificarão, se reconhecerão. Os homens? Quem sabe compreendam que a mulher é um “’SER HUMANO’, FEMINIO”, e essa literatura contribua para a diminuição da violência contra a mulher, seja ela física, moral, psicológica, econômica, enfim, qualquer forma de violência.


São mulheres migrantes, carregadas de muito, em suas essências e conceitos. Carregadas de migração, de desbravamento, de empreendedorismo, de desenvolvimento, de religiosidade, de espiritualidade. Chegaram ao norte de Mato Grosso, no meio da mata virgem, entre os anos 70 e 80, e hoje vislumbram a cidade com quase 200 mil habitantes. Essa pujança tem as lagrimas, o riso, o suor, o soluço, a esperança, o olhar perdido, a coragem, de cada uma dessas “mulheres históricas.

contrados em ebook na Amazon e impressos podem fazer pedidos através do site www.lenizilioto. com.br MULHERES NA EDUCAÇÃO E NA ESCRITA TEMA: Literatura infantil - livro Pirulito Rodapé

A literatura infantil é caracterizada por uma linguagem simples, por textos curtos e por estímulos visuais como as cores e as imagens. Todos esses eleUm trecho do prefácio do Volume 2, escrito por mentos estão presentes no livro PIRULITO RODAAna Maria Goldani, Doutora em Sociologia, Pro- PÉ, da autora Leni Zilioto e ilustrado por Adriana fessora na UNICAMP, Campinas/São Paulo; Pro- Cofcewicz, e que foi traduzido para cinco idiomas: fessora na Universidade da Califórnia Los Angeles A versão em português foi lançada em fevereiro de (UCLA); Professora na Princenton University, em 2021 e apresentada no Salão do Livro de Genebra, New Jersey, Estados Unidos: em maio de 2021. No Congresso Cultive da Cultura da Mulher, foi lançada a versão em francês, com Na literatura e no dia a dia, a mulher passou a a participação de outras escritoras e de Valquiria refletir e questionar seu papel dentro da socie- Imperiano, que leu uma parte do texto na versão dade, dentro de suas casas e de seus casamentos. em francês. A produção literária a mãos femininas a partir do século XX, teve o papel de desestabilizar a legiti- Para os idiomas espanhol, alemão, italiano e inglês, midade tradicional da mulher, que era de “se não faremos novo evento de lançamento, mas todos esanjo do lar”, “impura” e “imoral”. Reestrutura-se, tão disponíveis em e-book e para pedidos de livro com a contribuição da literatura de autoria femini- impresso no site www.lenizilioto.com.br na, a própria identidade da mulher, em seus desejos, ambições e trajetórias. Cada depoimento aqui Escritora Leni Zilioto apresentado é a tradução dos anos de trabalho de mulheres que desafiaram seus tempos, fazendo va- Ilustradora: Adriana Cofcewicz ler suas vontades em épocas em que a voz de seus pais e maridos prevalecia. Essas sinopenses, cheias Para a escritora Leni Zilioto, participar do certame de coragem e força, transformam suas palavras em GRAND PRIX FEMME LITTÉRAIRE foi uma inspiração e encaminhamentos às futuras gerações, honra, ao lado de grandes nomes da literatura nae provam que qualquer dificuldade é superada cional e internacional. O concurso, organizado pelo quando a vontade de vencer é maior que o medo Institut Cultive Suisse Brésil, fez parte do Congrés dos desafios e o amor é maior que tudo. “O Brilho Cultive International Culturel de la Femme, do 26 de Estrelas Imortais” traz uma contribuição funda- ao 28 de novembro de 2021. O anúncio dos finamental tanto para a história de Sinop como para os listas ocorreu dia 28 de novembro e cumpriu seu estudos sobre mulheres e as relações de gênero no propósito, de valorizar a mulher escritora brasileira país, importante nesse momento histórico crucial, e outras nacionalidades. de riscos e retrocessos dos direitos e equidade de gênero conquistados nas últimas décadas. Leni diz que se sente engrandecida em sua carreira literária ao estar entre as finalistas, na categoria bioPela profundidade, complexidade e importância gráfico, com o livro EU NÃO ACEITO SER MAIS do texto desses dois livros, eu escrevi meu primeiro OU MENOS, uma obra que trata de empreendedolivro infantil, UMA MENINA, UMA FLORESTA E rismo e motivação a quem deseja uma carreira de UM MANEQUIM, e meu primeiro livro de ficção, sucesso. SAGA DE GIGANTES, inspirados em O BRILHO DE ESTRELAS IMORTAIS. PARTICIPAÇÃO NA ANTOLOGIA VALQUIRYES Esses livros e todas as minhas obras podem ser en- Esse e outros livros da autora podem ser encontraRevue Cultive - Genève

51


dos no site www.lenizilioto.com.br Leni Chiarello Ziliotto é gaúcha residindo em Mato Grosso, com título de cidadã matogrossense. É bióloga, escritora, e produtora cultural, com 19 obras publicadas e mais de 40 participações em coletâneas nacionais e internacionais. Recebeu títulos e troféus e é membro de Academias, Federações e Associações Literárias. Em suas obras predomina o poema e escreve também ficção, fantasia infantojuvenil e biográficos. Organiza obras, coordena projetos de audiovisual e é curadora para exposições e eventos. Leni Zilioto é gaúcha residindo em Mato Grosso, com título de cidadã matogrossense. É bióloga, escritora, e produtora cultural, com 19 obras publicadas e mais de 40 participações em coletâneas nacionais e internacionais. Recebeu ítulos e troféus e é membro de Academias, Federações e Associações Literárias. Em suas obras predomina o poema e escreve também ficção, fantasia infantojuvenil e biográficos. Organiza obras, coordena projetos de audiovisual e é curadora para exposições e eventos. Assina suas obras com o nome Leni Zilioto e pode ser conhecida em mais dados no site www.lenizilito.com.br

RAINHA Sua ideologia, não ingênua Encara-me todo o dia e diz Como devo ser, como agir E meu querer? Você inverte, inventa Sofisticadamente me toma Em nome de Deus Em nome do prazer Em nome de um carinho Em nome de um nome Em nome de um sonho ... sonhado ... Com necessidades Algumas vitais Outras banais O sonho sonhado Olha para você E diz ser meu escravo Com pose de rei Mas Afasta-se do sensível E do obvio Eu aqui querendo Um beijo seu Um passeio na lua Um jeito de ficar nua Minha alma na sua Querendo... O olhar Do teu olhar Para o meu Rainha Leni Zilioto

52

Revue Cultive - Genève


Lucia Sousa é Mulher Cultivadora Ela é uma Mulher Cultivadora porque ela cultiva a escrita educação, a poesia, a motivação, o direito à cultura, a fé, Recife, as antologias..

Revue Cultive - Genève

53


O Poder da Palavra por Lucia Sousa

mãe. Explique-se melhor, o que você está querendo dizer?

_ Mãe aqui na Paraíba não terei como avançar com meus sonhos, no sudeste do país terei mais chances, outras possibilidades. Neste lugar tem Domingo tarde de verão, o sol brilhava no nordeste muita gente capacitada, mas que não conseguem brasileiro, o jovem radialista, que há pouco havia avançar e para mim não será diferente para o que solicitado seu desligamento da emissora de rádio, pretendo realizar, maior poder da palavra, a senacende um cigarro e caminha a passos largos em hora entende-me? direção a sua residência. Esbarra em uma pessoa. _ Como posso entender umas coisas destas, meu filho? O que irás fazer longe da sua casa. O que será _Desculpe-me, por favor, machuquei o senhor? de mim sem você? _ Não se preocupe rapaz. Está tudo bem comigo. “Mais do que um simples dramaturgo, ele foi um desses Dom Quixotes.” Dias Gomes

Ele prossegue a caminhada, fumando e jogando os braços, em alguns momentos passava as mãos nos fartos cabelos que insistiam em cair na sua testa suada, ou arrumava os óculos de grossas lentes. O sol que castigava não dava trégua, nenhuma, a brisa surgia para amenizar o calor, as folhas das árvores não se moviam. A mãe o aguardava para o almoço. Ele chega a casa atravessa o portão, cruza o jardim, olha as flores e segue em direção à porta.

O ar da sala é invadido por um cheiro que vem da cozinha. Dona Laís, exclama: algo está queimando! Levanta-se e corre. Ó meu Deus, não teremos arroz para o almoço, passa das quatorze horas e não iremos retardar mais a nossa refeição, esta sua conversa me tirou do prumo.

_ Boa tarde, minha mãe. _ Boa tarde, meu filho. Você está molhado de suor. Veio correndo, foi? - Não, creio que são meus pensamentos. As palavras querem brotar de mim, são as flores do meu jardim. _ O que se passa com você, parece agitado, meu filho. _Senhora minha mãe tomei uma decisão. Saí do emprego. _ Isto não é novidade, você está sempre mudando de emprego. _ Agora é definitivo. Irei para o Rio de Janeiro.

Ele se dirige para o quarto. Após o almoço retomam a conversa. Paulo diz a Dona Laís: Mãe, a minha intensão de viver no Rio de Janeiro é igual a uma missão, penso em nosso povo paraibano, desamparado, o Nordeste não existe para o país, sempre esquecido pelos governantes, a senhora não me deixa mentir, não é verdade?

_ Não, se inquiete minha mãe, ficará tudo bem. Vou trocar esta roupa.

A mãe que estava sentada ergue-se, passa a mão esquerda no avental e a direita leva ao rosto sem saber o que dizer, fica imóvel recosta na mesa. Ele movimenta-se em direção a ela e com voz firme diz:

_ Sim, meu filho há uma carência de melhores oportunidades para nós que vivemos aqui, muitos dos responsáveis por suas famílias partem em busca de esperança para conseguirem recursos mais dignos para os seus, mediante as condições precárias vividas. Muitas vezes, junto com o seu pai tivemos que mudar de cidade em cidade em busca de emprego tentando conseguir o melhor para vocês. Mas, vamos retomar ao seu assunto. Seu pai tem conhecimento desta sua ideia?

_ Aqui não é lugar para mim. Busco novos horizontes, preciso realizar minhas criações artísticas, meus projetos. Construir a minha vida, dar outra forma, um rumo diferente, expandir a minha paixão: o teatro.

_ Não é ideia, minha mãe, é meu projeto de vida. Conversei com meu pai, ele que serviu ao Exército Brasileiro irá tentar conseguir através dos seus conhecimentos minha ida para o Rio de Janeiro, por meio da FAB.

_ Não me venha com esta sua voz modulada de lo- _ Então, sou a última a saber das novidades nessa cutor de rádio, deixa-a para seus ouvintes. Sou sua casa. 54

Revue Cultive - Genève


_ Não queria incomodar a senhora, precisava ter uma definição para meu intuito. _ O que você quer dizer, meu filho? Você ainda é uma criança, nem tem vinte anos completos. Como irá viver sozinho longe de nós? Foi aqui que você nasceu e se criou. A família do seu pai, os Pontes, vivem aqui no Nordeste entre a Paraíba e Pernambuco. Não faça isto com sua mãe, não saberei como suportar a sua falta. O que mais irá me entrister será a sua ausência e quem cuidará de você meu menino?

_Como é seu nome, rapaz? Ele estava com o rosto inquinado, ergue o queixo e responde: Vicente de Paula de Holanda Pontes.

_E o que você faz na vida meu rapaz? _Sou locutor de rádio, jornalista e escritor teatral. _Uhhh, rapaz de muitos atributos. O Brasil precisa de pessoas de brio iguais a você. Almejo que no Rio de Janeiro você concretize os seus sonhos, mas vamos indo que até lá teremos uma longa viajem. _ Sua bênção meu pai. _ Senhora, lá também conhecerei o amor. Mãe sou _ Deus te abençoe, meu filho. Quando houver alfeio? gum momento oportuno irei ter contigo e conferir _ Meu filho, você tem cada invenção. Sua beleza de perto os teus sonhos. é desigual, seu cabelo preto abundante, sua altura longilínea. Você se expressa através de uma capaci- Paulo abraça o pai e afasta-se seguindo o piloto. Ao dade intelectual invejável na forma máxima da ex- longe acena para o pai e seguindo as orientações pressão que todos param para ti ouvir. Você apenas direciona-se para o local indicado. Agasalha seus não encontrou a pessoa certa. Mas rogo ao nosso pertences e senta-se. bom Deus que quando você encontrar alguém, que seja para toda a sua vida, uma pessoa generosa que Ao ouvir o barulho das hélices e o trepidar na pisao descobrir a sua verdadeira essência, o que há ta da aeronave, fecha os olhos e começa a orar. de mais importante no ser humano, irá amar você Senhor meu Deus, estou realizando o que queres para sempre, até seus últimos dias de vida, acredite para mim? Que não seja meu querer ou vaidade da em mim. minha parte essa minha ida para o sudeste do país. Tenho um sonho, idealizo para a gente da minha _ Obrigado, minha mãe. Sentirei muitas saudades terra melhores condições e oportunidades de cresde você e de todos daqui, mas estarei sempre por cimento para essa nação. perto, voltarei para vê-la e aos amigos, esse povo que tanto amo e a essa terra querida. Mãe dará tudo O avião decola. Paulo benze-se. Olha o céu, as nucerto, creia em mim. vens e a paisagem que vai ficando para trás, uma lágrima cai em seu rosto. Adormece. Dona Laís conformada não tinha como interceder na decisão do filho, de personalidade forte, tempe- Ao chegar à capital carioca, o piloto diz: ramento inquieto, a mesmice o fatigava, destemido, a sua posição era irrevogável. Então, com algumas _Rapaz, eis o Rio de Janeiro aos seus pés, boa sorte. economias domésticas, preparou para ele algumas _Obrigado, senhor, até mais. roupas e objetos básicos para sua manutenção na cidade distante. No centro da cidade, olhando para todos os lados e tomado por uma euforia se perde no meio da Despedem-se ao portão, ele dá uma olhada para o multidão. Compreendendo sua nova realidade, canteiro de flores, reflete: farei das minhas palavras exprime: cheguei, Rio de Janeiro, ó Cidade Maraum jardim, que irão ecoar para colorir os palcos vilhosa, aqui serei, o Dramaturgo Paulo Pontes. deste país. Beija a mão direita da mãe e pede a sua benção, ela que não consegue conter as lágrimas, Texto publicado na Antologia Comemorativa dos 15 anos do com a voz embargada diz: Deus te abençoe meu Centro de Literatura do Forte de Copacabana, 2021. Revisado com alterações da autora, em 20 de fevereiro de amado filho. 2022.

Na Base Área do Recife seu pai o aguardava. Apresenta-o ao piloto: este é o meu filho. Revue Cultive - Genève

55


Colly cultiva a criança, a contação de histórias, escrever livros infantis, a poesia, crônicas e contos, a falicidade, o sorriso; ela cultiva a honestidade, o trabalho, o bem estar das pessoas, motivar e levantar a moral dos entristecidos, cantar e encantar, o bom humor, a simplicidade e a amizade.

Colinete Holanda Nascida em Natal/RN - Brasil TRANSVERSAIS

não aceitamos imposições de Senhor ninguém. Vamos rasgando com os pés e as mãos sangrando os caminhos que queremos caminhar para chegar onde queiramos chegar.

Sou mulher e sempre digo que, ser mulher é Somos mulheres transversais do tempo, mas poatravessar os limites impostos pelo espaço geográ- dem nos chamar de «comigo ninguém pode». Até mesmo nos filhos das nossas entranhas plantamos fico onde tentaram nos plantar. sementes de liberdade para que não sejam de nós Ser mulher é arrancar as próprias raízes para depois dependentes. plantá-las onde bem entender. Mulher é semente, sementeira, semeadora e jardineira da própria Somos o marco divisor divino. Depois de nós, venvida, e do fruto azedo é que se faz enxerto de mel e ha quem quiser porque somos transversais. ele adoça a existência dos que são amargos de viver. Colly Holanda Mulher é transversal do seu tempo, em todos os tempos. Foi a nossa desobediência quem nos abriu a porta do paraíso para ganhar o mundo, e de lá pra cá ninguém nos impõe limites. Somos limitadas e 56

Revue Cultive - Genève


Incrível

Dose de felicidade

Eu me olho no espelho e me sinto muito bela Aos treze anos, eu me olhava e me sentia horrível Inversão do tempo, de visão, de pensamento. Compreendo hoje o porque: A inquietação se traduz em desconforto na mocidade Escondendo a formosura da pouca idade Enquanto a paz interior se traduz em beleza na maturidade. Coisas da vida, menos mal.

Escutar uma canção e sentir vontade de dançar...e dançar Pensar num amigo e sentir vontade de ligar...e ligar Respirar profundo e sentir vontade de voar...e voar Continuar, pacificar o interior e o exterior...e relaxar Captar a leveza dos passos ao caminhar...levitar Inspirar o perfume do ar, sorrir, abraçar, amar Tomar, diariamente, dose de felicidade...e ser feliz E agradecer a Deus.

Nagesia nasceu em Pesqueira-PE, Brasil, ex-professora, ex-bancária, aposentada, casada, reside em Taquaritinga do Norte-PE. Desde jovem ama escrever. Autora do livro "Divagando devagar" onde homenageia a família, os amigos e louva o Criador. Membro do Instituto Cultive Brasil Suiça.

Revue Cultive - Genève

57


MULHERES

Maria Natividade Silva Rodrigues é gra-

duada em História pela Universidade Estadual do Maranhão, Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão, Especialização em História do Brasil-PUC- Minas, Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de História e Sociologia, com ênfase nos seguintes temas: Educação, História e Gênero, Política Pública e Violência, (Mulher, Criança e Adolescente é membro da Comissão de Heteroidentidade da Universidade Federal do Maranhão, do Centro de Cultura Negra -Negro Cosme, do Coletivo FirMINA’S, e atualmente presidente da Academia João-lisboense de Letras É pesquisadora de Violência Intrafamiliar e Doméstica, e sobre a vida e obra da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis.

58

Revue Cultive - Genève

Mulher do tempo Da cidade Da periferia Da chuva Da cachoeira Das flores Das dores Das lágrimas Dos sorrisos Do vento Do campo Do amor QUE ESTÃO Na Escola Na Igreja Na Família Na Floresta Na Música Na Literatura Na Política Nas Ruas Nos Jardins No Trabalho No Mundo No Céu


SHELLAH AVELLAR

MULHER

MULHER LUA MULHER SOL MULHER QUE SANGRA MULHER QUE AMANHECE MULHER QUE CHORA MULHER QUE ANOITECE UM ESTRANHO JEITO DE SER PERA E POEMA E SEMENTE DE VIDAS SUJEITA A ABUSOS POR SER VIOLÃO OU POR SER MULHER SOMENTE OBRA-PRIMA EM CONSTANTE CONSTRUÇÃO

Revue Cultive - Genève

59


60

Revue Cultive - Genève


FEMINICÍDIO Por Matilde Conti Este tema, feminicídio, é entre outros, como a violência de uma forma geral, ou até mesmo a violência institucional a que todos, de uma forma ou de outra, estamos submetidos, é uma matéria muito complexa, de primordial importância, na própria construção da cidadania, que em um sentido mais amplo é um conceito caminhante com a democracia e a igualdade.

do sexo feminino, por menosprezo e discriminação, pelos simples fato de sua condição de ser mulher. O que se pode observar é que mesmo com o enrijecimento da norma, o Estado não consegue conter o aumento da violência contra a mulher.

Necessário se faz lembrar, que no Brasil sempre existiram muitos casos de violência contra a mulher, com maiores incidências em âmbito familiar, ou seja, a maioria das vítimas de feminicídio sofreram violência Não existe perante a lei republicana, nem doméstica, causada por pessoa da própria grandes nem senhores, nem patrícios nem família. plebeus, ricos ou pobres, fortes ou fracos, porque a todos somos irmanados. Devido a ocorrência de casos de violência doméstica e familiar no Brasil, o país foi Em sentido estrito, cidadania é o conjunto obrigado por Corte Internacional, a tomar de direitos e deveres que regem e definem, providências, o que resultou na promulgaa situação dos habitantes de um determi- ção da Lei 11.340/2006, conhecida como nado país. Historicamente discriminada, a Lei Maria da Penha, sendo uma lei de enmulher é submetida a maus tratos, caracte- frentamento à violência doméstica e famirizando o que a Lei Maria da Penha, define liar contra a mulher. como violência de gênero. Essa lei foi promulgada em homenagem à Diante da questão da violência contra a Maria da Penha, que lutou arduamente não mulher no Brasil, com especial atenção só por causa própria, mas por melhorias, à questão do homicídio de mulheres, em para a situação das mulheres, que sofrem razão da condição do sexo feminino, o Bra- com a violência doméstica ou familiar, sensil promulgou a Lei 13.104 de 09 de março do a mulher agredida, orientada por uma de 2015, que trata do crime de feminicídio equipe especializada, formada por psicólono ordenamento jurídico brasileiro, dispon- gos e assistentes. Simultaneamente, a vítima do sobre a luta pela erradicação da violên- terá o suporte jurídico necessário para encia e a discriminação contra a mulher, e os frentar a situação de violência. seus possíveis efeitos e maneiras capazes de auxiliar na aplicação da lei, e otimizar seus O que mais importa é a compreensão de resultados. que a desigualdade de gênero gera violência contra a mulher, simplesmente por ser muEsta lei, denominada então de Lei do Femi- lher, diante do ódio pelo gênero, sendo este nicídio, que alterou o Código Penal, para o principal motivo pelo qual as correntes incluir uma nova modalidade de homicídio feministas defendem a igualdade entre os qualificado: o feminicídio, que é um crime gêneros. Além disso, essa discussão tamdoloso, contra a vida da mulher, em razão bém leva a um ponto fundamental do preRevue Cultive - Genève

61


sente trabalho, qual seja, a de identidade e legitimação pelo próprio poder do homem, como sendo superior a mulher, e esta, tendo que se enquadrar às regras de submissões, da sociedade patriarcal, de onde se origina o machismo, que é uma forma de expressão e ação utilizada, com a finalidade de perpetuar a dominação dos homens sobre as mulheres, naturalizando a violência.

Faz-se necessário o emprego de medidas preventivas, educativas e sociológicas para vislumbrar uma mudança cultural, e assim, combater a violência doméstica, a desigualdade de gênero, bem como, combater os crimes hediondos contra mulheres, como os feminicídios, importando não só uma mudança cultural, mas um outro olhar, entendendo que homens e mulheres são iguais perante Deus.

A igreja deve tratar esse tema com cuidado, à luz divina, mas com bastante profundi- Clarice Lispector já nos dizia: “Porque há o direito ao grito. Então eu grito”. dade. Não se deve olvidar, que se medidas punitivas serão utilizadas na tentativa de combater a violência contra as mulheres, mas, estas não podem ser aplicadas isoladamente.

62

Revue Cultive - Genève

O tema precisa muito ser debatido por toda a igreja cristã e a sociedade, sob um olhar cristão, da dignidade humana e dos direitos humanos.


Revue Cultive - Genève

63


EDITIONS CULTIVE

JACIRA BARROS

SOMOS VALQUÍRIAS. A cada olhar a cada sorriso a cada afago a força da mulher. Mulher mãe mulher fêmea mulher guerreira em asas imaginárias Somos Valquírias.

64

Revue Cultive - Genève


Lenita Stark é empresária do ramo de administração, artista plástica e poeta. Depois dos pincéis a arte da escrita é seu modo de comungar sua territorialidade ancestral. Em 2021 participou em 49 publicações poéticas coletivas. Membro fundadora da AIML - Academia Internacional Mulheres das Letras. Um livro publicado. Participante da lX Antologia Cultive -“As Valkyries Brasileiras,” do Institut Cultive Brésil Suisse.

MULHER GLORIOSA Síntese de coragem e valores, Transpõe e reverbera força e inspirações. Consagra e unifica virtudes. Revoluciona a vida, abnega a guerra, Destemida na missão, ventura nas ações, Majestosa - equilíbrio e equidade. Incontáveis sonhos aniquilados, Nas entranhas - paixões Nas batalhas - dias de glória. Sempre pronta - começar tudo de novo Desconhece a dor - proclama o amor Sua alma estabelece o caminho. Mulher singular, revolucionária, A luta garante sua independência. Para o mundo: inestimável legado!

Revue Cultive - Genève

65


ENCONTRO DAS ÁGUAS

Rhany Costa, nasceu em Manaus /Amazonas/Brasil, filha de Lizete Wanderley da Costa e carinhosamente adotada pelo avô João Marques da Costa. Casada com Rodolfo Braga e mãe de Nathalie Braga. Escritora de contos e matérias sobre seu Estado, graduada em Administração e Economia, foi empresária do ramo da moda e da gastronomia. Ama fotografar lugares lindos e inusitados.

Por por si só, ja é assertiva a afirmação do filosofo Heráclito de Éfeso quando diz: “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”, isso potencializa-se quando falamos do encontro de dois majestosos rios no coração da Amazônia, o Rio Negro e o Rio Solimões. O primeiro apesar de receber o nome de negro ( possui aguas escuras devido aos elevados níveis de ácidos orgânicos que a vegetação solta durante a decomposição ) assume por vezes matizes cor de carbono ao abraçar os raios de sol e durante a noite reluz em tons de prata ao beijar a lua. Sua cor é uma atração a parte, isso ninguém discute e sua excentricidade, beleza e características impares não param por aí, ele ainda é o sétimo maior rio do mundo em volume de água, além de ser o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas, na Amazônia, na América do Sul. Suas lendas permeiam o imaginário do nosso povo,

e são varias. Entre tantas comentarei sobre a da cobra Grande ou Boiuna, essa é uma lenda amazônica que fala de uma imensa cobra que cresce de forma desmensurada e ameaçadora. Ela abandona a floresta e passa a habitar a parte profunda dos rios. Ao rastejar pela terra firme, os sulcos que deixa se transformam nos igarapés ( curso d’água amazônico constituído por um braço longo de rio ou canal. Existe na bacia amazônica, caracterizados por pouca profundidade e por correrem quase no interior da mata). Reza a lenda que a Cobra Grande pode se transformar em embarcações (barcos) ou em outros seres. Ela também está presente em vários contos indígenas, um deles relata que em uma determinada tribo, uma índia, grávida da cobra Boiúna, deu à luz a gêmeas. Uma delas, no entanto, era muito má, atacava os barcos, levando-os ao naufrágio. No poema Cobra Norato, de Raul Bopp,

Rhany Costa

66

Revue Cultive - Genève


ele fala sobre essa lenda, tendo sido, inclusive, encenada, em teatros de diversos países. Já no mundo real dos amazônidas, a verdadeira cobra grande é a sucuriju, ou sucuri, a horripilante anaconda. O animal pode atingir mais de 10 metros de comprimento. A morte das presas se dá por constrição, apertando-as até a vitima fenecer. Protagonista em filmes de terror, é temida pela população ribeirinha, pois seu habitat se da em áreas inundáveis e é dotada de brutal força, tendo a capacidade de neutralizar qualquer tentativa de defesa que a vitima possa vir a esboçar. Em ultima instância, no mínimo, o rio Negro é enigmático e recheado de estórias. Para acompanha-lo nessa trajetória , porque como já dizia o poeta

“...é impossível ser feliz sozinho..”, surge nosso Rio Solimões, um rio antagônico ao Negro, um rio de aguas mais claras ( entre outros fatores isso ocorre devido sua temperatura ser considerada baixa, em torno de 22 graus celsius) aguas barrentas, quase cor de caramelo, assemelhando-se vagamente a um doce de leite. O nome Solimões é uma referência aos nomes dos povos que originalmente habitavam suas margens, os Sorimões (termo derivado da palavra latina solimum, referência ao veneno utilizado nas pontas de flechas e dardos destes povos. Está localizado no oeste do estado do Amazonas, no território brasileiro possui uma extensão navegável total de 1620 km, tendo uma profundidade variável entre 8 e 20m, sendo seu período de enchente de fevereiro a junho e de vazante de julho a outubro. Assim como o rio Negro, constitui fonte de alimento, transporte, comércio, pesquisas científicas e lazer, o Solimões e o Rio Negro são de vital importância na vida e economia da população do norte do Brasil.

O encontro dos dois rios ocorre na cidade de Manaus, precisamente a 8km da capital, onde não ha ,por assim dizer um entrosamento, eles estão juntos, correndo lado a lado por cerca de mais de 6km, mas não se misturam. Seriam eles tão vaidosos que nao aceitam esse entrelaçar de aguas para tornar-se único ? ou quiça querem nos presentear com esse espetáculo de cores, movimentos que mais parece um balé quando olhamos suas correntezas? Enquanto dados científicos entendemos que nao ocorre essa junção por alguns motivos ,quais sejam: diferentes composição das aguas, acidez, densidade, temperatura e velocidade, mas enquanto admiradores da natureza entendemos que é um presente do divino e que todo homem que banhar-se nessas aguas, seja na cor de ébano ou na barrenta jamais esquecerá desse oásis e nunca ao banhar-se pela segunda ou terceira vez, a sensação será a mesma pois as aguas já não serão aquelas, elas seguiram seu curso, mas sobretudo ele, o homem não será o mesmo. Assim como as aguas seguem seu fluxo, o homem também é impulsionado a seguir, e os rios nos agraciam ensinando que precisamos viver o momento, entregar-se à aquele instante, ser feliz no presente, lavar-se o corpo e a alma, para renovados, prosseguirmos , porque tudo passa e se pairar alguma dúvida sobre isso....veja a natureza. Olhe para o rio.E

Revue Cultive - Genève

67


dradina assume a responsabilidade de manter o lar atuando no magistério. Isso além de dedicar-se à literatura e ao jornalismo. Ela também foi conferencista, biógrafa, teatróloga, poeta, contista, romancista e líder feminista brasileira. Andradina escreveu sua primeira peça de teatro aos 14 anos de idade. Em 1898, fundou em Bagé o semanário Escrínio – jornal literário, artístico e noticioso, onde divulgava o ideário feminista. Suspendeu a publicação para cuidar do filho Aldaberon, que faleceu de tuberculose, em 1906, com 20 anos de idade, em Rio Pardo. Em 1907, publicou A mulher rio-grandense: escritoras mortas, resultado de anos de pesquisa pelo Interior do RS. No ano seguinte, lança Cruz de pérolas. O perdão (1910), romance urbano ambientado na ANDRADINA AMÉRICA ANDRADE Belle Époque rio grandense narra a história de Estela, pertencente a uma família burguesa. Ela trai DE OLIVEIRA o marido Jorge com o sobrinho recém chegado do POR RENATA BARCELLOS Rio de Janeiro, Armando. A partir disso, a protagonista vive a culpa e o medo de ser descoberta pelo Quando, no século XIX, as nossas primeiras escrimarido – e pela sociedade – foge com o amante. toras, Em 1909, a escritora mudou-se para Porto Alegre timidamente, ocultando-se em pseudônimos, com sua filha Lola e retoma as publicações do Estemerosíssimas da opinião, masculina dominante, crínio, com repercussão nacional, devido aos víntentaram publicar suas narrativas, tudo era visto culos com outros jornais do Brasil. Foi neste ano com que começou a publicar, no jornal, O Perdão. muita delicadeza como obras de senhoras e equivalendo-se Em 1912, Andradina lança Divórcio?, considerado ao crochê, tricot, bordado ou culinária, mas atrás por Hilda Flores como um dos clássicos da literadesse artesanato, existiram vozes que se fizeram tura de gênero. O livro é publicado quando a camouvir panha tramitava no Congresso Nacional. A obra até o dia de hoje... Zahidé Lupinacci Muzart (2011) apresenta contos em forma de cartas, em que são analisados os reflexos de uma união forçada. LeA escritora oitocentista sul-rio-grandense, Andravando em consideração que o divórcio entrou em dina América Andrade de Oliveira nasceu em Porvigor em 1977, percebe-se o protagonismo de multo Alegre, em 12 de junho de heres como Andradina. 1864 e faleceu em São Paulo, em 19 de junho de Entre 1915 e 1920, faz uma turnê cultural com a 1935. Filha de Joaquina da Silva Pacheco e de Carfilha Lola pelo Uruguai, Argentina, Paraguai e pelo los Montezuma de Andrade, iniciou os estudos na Mato Grosso. A escritora realizava conferências, escola da escritora porto-alegrense enquanto a filha ensinava desenho e pintura. Sua Luciana Teixeira de Abreu (1847 -1880). Forpartida de Porto Alegre (provavelmente) esteja remou-se no curso de magistério na Escola Normal lacionada ao livro Divórcio? e à forte campanha de Porto Alegre, posteriormente, travada por Andradina, o que era mal visto na époInstituto de Educação General Flores da Cunha. ca. Trata-se do mais antigo liceu de ensino secundário Andradina foi presa durante a Revolução Constie de formação de professores da cidade. tucionalista de 1932, desencadeando insanidade Quando seu pai falece, a família muda-se para Rio mental, que a levou à morte em 1935, aos 71 anos Pardo com os parentes maternos. Lá, ainda jovem, de idade, na cidade de São Paulo. Ela é patrona da casa-se com o paraibano Augusto Martiniano de cadeira n° 11 da Academia Literária Feminina do Oliveira, oficial do exército RS. brasileiro, Alferes do 12º Batalhão de Infantaria de Rio Pardo. Em 1888, seu marido morre, e An68

Revue Cultive - Genève


nizante, uma vez que: [...] Não é atribuição do professor apenas ensinar a criança a ler corretamente; se está ao seu alcance a concretização e expansão da alfabetização, isto é, o domínio dos códigos que permitem a mecânica da leitura, é ainda tarefa sua emergir a compreensão do texto, pelo estímulo a verbalização da leitura procedida, auxiliando o aluno na percepção dos temas e seres humanos que afloram em meio à trama ficcional. (ZILBERMAN, 2003, p.29)

TORNAR-SE ESCRITORA: A TRAJETÓRIA FORMATIVA DE DOCENTES E ESCRITORAS. POR Joelma Estela Queiroz de Cerqueira Neves Introdução O acesso à literatura infantil cria possibilidades para expandir as perspectivas formativas de crianças e docentes à medida que permite o fortalecimento da escrita como veículo de perpetuação do pensamento, a reformulação criativa do mundo e o reposicionamento das figuras do autor e do leitor no jogo da leitura.

Neste sentido, o relato de experiência objetiva descrever os passos percorridos por escritoras nos seus processos formativos e humanizantes, dentro de redes de escolas públicas e privadas e durante a maternidade. Desenvolvimen to A trajetória de formação de um escritor pode iniciar-se na infância, quando a criança é incentivada, pela experiência e orientação dos que a cercam, a acessarem diferenciados materiais escritos. Este processo começa quando a criança compreende o valor social da escrita e a importância que lhe é atribuída no mundo letrado. A disponibilização de acervos variados, o incentivo do reconto, da leitura, da apresentação de versões diferenciadas de textos pode assim, contribuir para o fortalecimento dos vínculos familiar e afetivos, para a superação de conflitos psicológicos e sociais, para o desenvolvimento cognitivo e comunicacional e para a formação da autoestima.

Desta forma, pais e educadores podem, por meio Assim, o incentivo e as estratégias voltadas para o da leitura de livros de literatura infantil, sem prodomínio da leitura e da escrita e a disponibilidade pósitos didáticos, garantir um dos grandes méritos de um rico acervo de gêneros literários na idade da narrativa que é o de atingir diretamente o emoadequada, em casa e na escola, configura-se como cional infantil. fator relevante na trajetória de tornar-se escritor. Desta forma, incentivar a leitura e a reprodução de Por meio deste importante recurso, a criatividade poemas e a poesia, desde a infância pode consti- e a fantasia podem reposicionar a posição do leituir-se como um meio para direcionar a ampliação tor na direção de criar histórias que espelhem sua da escrita, meio de comunicação humana e huma- experiência ou, que as transcendam. Ao evocarem Revue Cultive - Genève

69


novas formas de linguagem e de expressividade, o acesso à literatura pode também subsidiar o potencial artístico/literário, latente em alguns indivíduos. Tais experiências podem conduzir estes indivíduos ao aprimoramento didático de forma que eles busquem, em seus percursos como leitores/escritores, tornar-se educador. Resultados e Discussão Como já mencionado, os passos do processo de tornar-se escritor começa na infância e acompanha todas as fases da vida humana. Neste sentido, os incentivos familiares e as experiências escolares podem potencializar esses caminhos à medida que amplia os recursos disponíveis e convida para uma participação social. Nesta trajetória, a Educação Infantil assume importante lugar, pois, disponibiliza tempos, modos e recursos diferenciados para a prática da literatura. Neste período, a criança é impulsionada a explorar materiais literários, cheios de cores e elementos, sem obrigatoriedade e finalidade, próprios dos currículos com foco em conteúdos e notas. O ingresso das crianças na Educação Infantil pode significar um importante passo no processo de socialização, de convívio com outras crianças e adultos, em espaço para viver a infância. (Finco, 2011). Ademais da obrigatoriedade e cobranças sinalizadas nos currículos dos anos posteriores à Educação Infantil, os anos de escolarização subsequentes também podem contribuir para o desenvolvimento literário do educando. Para isso, os currículos e o planejamento escolar precisam prever a prática literária como um elemento prioritário no processo de aprendizagem e de formação de um ser sensível e crítico.

Estes recursos permitiram, por exemplo, durante a pandemia de Covid 19, realizar a contação de história e incentivar o nascimento de autores, poetas, intérpretes e ouvintes/leitores que enxergaram na literatura, uma forma de transcender a dura realidade imposta pela insegurança sanitária. Uma vez iniciado os percursos de leitura e de escrita, situações e experiências variadas tomam lugar e conduzem para a escrita de outros materiais e para a participação de eventos, assim como, para a fortalecimento da responsabilidade social e da consciência de coletividade, na prática de repartir a palavra, pois, como afirma Bellemin-Noel (1978) através das narrativas, o homem é capaz de captar a realidade sobre o meio em que vive e suas relações com ele. E, neste caminho, a maternidade também pode aguçar tal potencial, pois, a necessidade de revelar o mundo para a criança, promovendo o entretenimento necessário para acalmá-la e/ou para ampliar sua criatividade, impulsionam a busca de livros (digitais ou impressos), histórias infantis, formas diferenciadas de representação e de interpretação dos fatos e situações. Conclusões A literatura infantil, apoiada na relevância social e no potencial de desenvolvimento intelectual e emocional dos indivíduos exerce um importante papel no processo de reeducação das relações de diferentes grupos, na superação de conflitos emocionais, na solução de problemas sociais e no reconhecimento da pessoa como um ser comunicativo, capaz de ampliar os horizontes e refazer sua história e sua cultura através da literatura. Nunca é tarde para começar a ler e a escrever.

Nesta perspectiva, formações para o magistério e joelmaestelaneves@gmail.com licenciaturas podem dar continuidade ao proces- @joelmaestelaqueiroz so de tornar-se escritor à medida que possibilita a apropriação de conhecimentos científicos sobre a Referências bibliográficas literatura, as fases do desenvolvimento humano, as BELLEMIN-NOEL, Jean. Psicanálise e Literatura. Tradução: Álvaro diversas nuances das artes/literatura. Lorencini Outro recurso importante na continuidade deste processo são os recursos tecnológicos digitais que permitem alcançar e tocar o ser humano à distância, convidando-o a viver” o ser-sendo no mundo”. (BELLEMIN-NOE, 1978, p. 12) 70

Revue Cultive - Genève

E Sandra Nitrini. São Paulo: Editora Cultrix, 1978. FINCO, Daniela; OLIVEIRA, Fabiana de. A sociologia da pequena infância e a diversidade de gênero e de raça nas instituições de educação infantil. In: FARIA, Ana Lúcia Goulart; FINCO, Daniela (Orgs).Sociologia da infância no Brasil. Campinas/SP: Autores Associados, 2011. P.55-88


Não consegue mudar a hipocrisia humana que embrutece e barbariza Sente a desilusão que permanece sufocando o fluxo de sua trajetória humana, Mas busca a felicidade que sabe não chegará sem a concretude da ação Mostrando sua tenacidade irradiando para todos sua áurea vivificante de paixão. Não irá tolerar o abuso e a opressão destroçando sua alma Operando a ruptura com sua força transgressiva e menestral Impele a transformação desafiando o sistema vivo da sua existência Com firmeza e sapiência constituirá a renovação do coração e da alma REVISTA CULTIVE

E a beleza primorosa que emana da mulher mostrará todo esplendor Na proporção que encontra a resplandecência da Carmen Lúcia de Oliveira Pires própria beleza Vibrando energeticamente, a delicadeza e sensibiTEXTO POEMA lidade SER MULHER Expandindo através do amor todos os sentidos e Em uma sociedade materialista, patriarcal e desu- consciência Então, todos compreenderão realmente o que é ser mana Onde o preconceito e a discriminação ainda per- mulher com amor e paixão. Karmen Pires sistem A arrogância o autoritarismo e a insensibilidade ainda existem É difícil ser mulher dotada de romantismo e fascinação. Por mas eficiente que seja, não é reconhecida, sempre desprezada Funda-se na relação de apego pois vive sempre em função do outro Descentrada de si mesma cede ao encantamento do amor e emoções, Oprimindo sua vida seus projetos, mas idealizando alcançar a superação. Desejando o empoderamento para mostrar sua força e esplendor Mas sucumbi de angustia ao ver o sofrimento de uma criança chorando de dor Porém pretenciosa cria sonhos e idealiza um mundo melhor cintilante Entristecendo ao olhar em volta de si mesma pois a opressão é aniquilante. Revue Cultive - Genève

71


Jania Souza, escritora brasileira, poeta, declamadora, artista plástica, economista e contadora, nascida na cidade de Natal-RN, Brasil. Sócia em entidades literárias brasileiras e no exterior. Prêmio de Literatura Nísia Floresta 2020 da Fundação Cultural José Augusto e Troféu de Literatura Clarice Lispector – Melhor Livro de Biografia 2021 – ZL Books para seu livro Pioneiras. www.janiasouzaspvarncultural.blogspot. com

Retrato de mulher Jania Souza Catedral de fé e esperança... mulher! Sois coração superior à razão Sois das batalhas estandarte da paz. Semeeira no jardim da tolerância Sois andorinha serva do amor Águia esplendorosa em defesa do ninho. Sois renda miçanga pão alecrim Mágico mister de ternura e paixão Cheiro de tarde, porta aberta aos sentidos Aurora na canção de bom dia. Eis frasco com preciosa fragrância Sábias mãos na ordenha do mundo Incenso ímpar de aromas mil Secretos noturnos paridos no amor Lábios em vestes de cetim e mel... Sois sóis, rio manso, córrego, alicerce Sois cria – criadouro; sois essência... Peito farto em aconchego, sois mulher! *** Ser sublime 72

Revue Cultive - Genève

Jania Souza Esse ser sublime que tanto ama Faz da sua presença ninho aconchegante Enxuga as lágrimas às suas crianças Ordenha os sentimentos de desengano Esse ser sublime que tanto ama Não mede esforços ao realizar sonhos Não esmorece ante as dificuldades Levanta a cabeça a cada fracasso Faz da vitória o jardim da glória Esse ser sublime que tanto ama A cada nascimento das suas entranhas Transforma com sorriso as dificuldades Põe seu dedo mágico em cada ferida Só para curar o sangue e o espírito Esse ser sublime que tanto ama É a mulher de cada dia e instante Presente na família e em seu trabalho Com sua garra crê que tudo é possível.


Na aldeia, existe um grupo de mulheres que produzem artesanatos indígenas feito de palhas, fios, miçangas, penas, madeira e sementes. Confeccionam para próprio uso e para a venda, como uma forma de contribuir com a renda das famílias.

Outro grupo produz sabão caseiro a partir da reutilização do óleo de frituras e das embalagens de margarina, que são doados pelas famílias, ficando a cargo da Assossiação a compra da soda caústica. O produto é vendido com valor mais acessível aos membros da aldeia. Nesse trabalho, além de favorecer a renda, tambem tem impacto nas questões ambientais da nossa terra.

Mulheres indígenas Potyguaras Aldeia Vila Nova uma história de luta e resistência

A Associação tambe desenvolve trabalhos sociais dentro da aldeia. Palestras abordando o direito da mulher e diversos assuntos como: a importância dos movimentos sociais, Setembro Amarelo,Outubro Rosa, Novembro Azul, contribuindo com a saúde das famílias.

Estamos conquistado um espaço para construirpor Rita Potyguar mos quintal produtivo, onde a comunidade plantar, cuidar e depois usufruir dos produtos que As mulheres indígenas da Aldeia Vila Nova desen- serão cultivados para o bem em comum. volvem trabalhos de forma coletiva na comunidade, porque precisam estar na luta todo dia. Nós estamos à frente aos desafios, em busca de dias melhores. Além de cuidarmos da casa, cuidamos da escola, ajudamos na merenda escolar, confeccionamos artesanato, e fazemos sabão caseiro.

Algumas trabalham em casas de família como doméstica, outras na roça. Nos momentos de folga se reúnem para fazer os trabalhos em grupos. Revue Cultive - Genève

73


MULHER INDÍGENA: CULTURA, EDU- Na manutenção da identidade que fortalece a resistência de um povo a mulher indígena se faz preCAÇÃO, IDENTIDADE sente. Em muitos povos são elas quem preparam Por: Márcia Wayna Kambeba Doutoranda em Estudos Linguísticos pela UFPA A mulher indígena na cultura dos povos originários desse Brasil tem uma presença marcante relacionada a resistência de uma cultura e territorialidade peculiar de cada povo. Na forma de transmissão de saberes, são elas as primeiras as ensinar as mais jovens e as crianças essa educação que vem junto com o ensino da natureza.

a pintura corporal e pintam seus maridos, filhos e netos. Produzem artefatos necessários para o dia a -dia como colares, bolsas, objetos feitos de cerâmica, cestarias entre outros valiosos para a sua cultura e identidade de povo.

Na aldeia ela está sempre atenta a tudo que acontece seja em termos de lutas, ensino, cultura, educação. Quando na cidade a aldeia se reúne para reivindicar direitos, as mulheres juntamente com suas crianças estão presentes fortalecendo com os homens essa união em prol de melhorias para a coCom o passar dos tempos mesmo com o avanço letividade. do contato, a mulher indígena foi desbravando novos horizontes e ocupando novos espaços até No entanto, é necessário salientar que a mulher então vivenciados mais pelos homens no posto indígena passa por constantes violências que afede cacique, pajé por exemplo. Ela aparece como tam seu ser como indígena, como mulher. Quando liderança em vários seguimentos como educação, sua aldeia é invadida e seus filhos são mortos essa saúde, na política, na arte vivida dentro da aldeia e mulher indígena sente uma dor imensa em seu ser na cidade, nos estudos dentro das Universidades e materno. Quando a natureza é violentada e suas espaços de trabalho. árvores são derrubadas de forma brutal ela sente e 74

Revue Cultive - Genève


seu ser é violentado também. Violências que veem de várias formas como o racismo institucional vivido por mulheres indígenas nas Universidades, o sexismo e machismo vivido por elas quando saem de suas aldeias para buscar trabalho na cidade.

com generosidade. E a mulher indígena se vê igual no cuidado com seu povo, com a natureza que nos cerca e com a espiritualidade que dela emana e é sentida mesmo que não se consiga ver. A força do seu canto que reverbera e é amplificado chegando em cada coração faz com que quem ouve sinta a Vale lembrar que essa violência não vem de ago- beleza e a profundidade de uma língua mãe, única, ra, ela é fruto de um contato cruel do não indígena importante para a compreensão da territorialidade com sociedades indígenas que já viviam nesse ter- de cada povo. Por isso, se faz necessário a manuritório chamado Brasil. tenção das poucas línguas indígenas que a violência do contato nos deixou, 274, e que merecem ser A famosa frase “minha avó foi pega no laço” resume pelo Brasil e pelos brasileiros valorizadas. bem o retrato cruel de uma violência vivida por nossas ancestrais indígenas em séculos passados. “ser pega no laço” significa violência sexual, estuEDITIONS CULTIVE pro e que geraria descendentes, o povo brasileiro. Por isso, quando as pessoas não sabem a que povo pertencem elas dizem: “não sei a qual povo pertenço, mas sei que minha avó foi pega no laço” ou seja, a mulher indígena era laçada como se laça um animal com uma corda ao pescoço e era puxada até o seu estuprador para o ato ser consumado. Essas violências foram silenciadas, mas estão vivas nas narrativas e memória de muitos povos. A luta por direitos a vida das mulheres guerreiras tem sido constante, temos a marcha das mulheres indígenas que acontece anualmente em Brasília com um acampamento, são realizadas rodas de conversa dentro das aldeias e na cidade para pensar medidas mitigadoras e formas de combate ao racismo e violência que afetam sua essência de ser mulher. A importância de se ter uma relação de união, cooperação e amorosidade é fundamental para que toda ação em prol dos direitos da mulher indígena seja respeitado e ganhe força e apoio não só da população no entendimento de que os saberes por elas transmitidos é necessário para os povos originários e para os não indígenas também mas, que os políticos que estão no comando desse Brasil ajudem com leis que venham a dar a mulher indígena proteção para que possa continuar sendo semente e floresça em terra boa ensinando saberes jamais repassados por bancos de escola. Por isso a mulher indígena cuida não só do seu lar chamado casa, mas de uma casa maior que é a terra em toda sua forma de vida física, espiritual e cultural. A terra é mãe e gera alimento, cuidado, amor Revue Cultive - Genève

75


Paulo Bretas É um homem Cultive porque ele cultiva a poesia, a leitura, a economia, a igualdade social, ensinar, motivar os jovens, escrever haikais, publicar livros, prêmios literários, a literatura, a família , incentivar eventos e a cultura, apoiar e colaborar com o Institut Cultive Suisse Brésil.

Paulo Bretas

Passam as nuvens. Ora brancas, ou cinzas. Vem tempestade. Cai o vermelho. É sangue derramado. Morte de índios.

A COR DE MINHA TERRA Paulo Roberto Bretas Verde árvore. Hoje ti vi chorando. Quanta tristeza! Um céu tão azul. Trás à Terra esperanças. Dias melhores? Sol traga o brilho! Lembro-me da alegria. Porque tu choras? Solo vermelho. Seu ferro é alimento Que cria ambições. O ouro amarelo. Caindo na bateia. Trouxe pobrezas. 76

Revue Cultive - Genève

Negro é o escravo. Trabalhou duro, sofreu. Morte indigna.


Carlos Cardoso É um homem Cultive porque ele cultiva a poesia, a leitura, a dança, declamação, cantar, a composição, palestra, Através do projeto “Música & Poesia em Harmonia”, cultiva a divulgação cultural dos países lusófonos.

tico da Diáspora, que premeia os são-tomenses que se distinguiram em diversas áreas em todo o mundo. Em 2018, participou em diversas palestras e Carlos nasceu na localidade de Água Bôbô, em São apresentações dos seus livros, nomeadamente no Tomé, no dia 2 de outubro de 1974. Em 1997, mu- Instituto Politécnico da Guarda, e concluiu com dou-se para Portugal, onde residiu e trabalhou até êxito a formação de Orador inspirador. 2002, tendo depois emigrado para os Países Baixos (Holanda). Reside atualmente em Roterdão. É té- Em 2015 publicou Poesia para todos e em 2016 cnico de manutenção de máquinas e operador de Somos Todos Primos – Um diálogo de emoções, processos de produções industriais, mas consi- sendo este último fruto de uma parceria com Alda dera-se um homem de mil ofícios, um autêntico Batista. Em 2017, participou nas Antologias Abraamante da vida. ço Poético Galiza-Cabo Verde, Nau da Lusofonia e Terra de Poetas (as duas últimas do Grupo SouesNos tempos livres, gosta de ler, escrever, dançar e poeta). Rota Poética Ao Sul – São Tomé e Príncipe, praticar desporto. Além disso, é apresentador de fruto da parceria com João Furtado, é o seu mais eventos culturais, declamador de poesias e com- recente trabalho literário. positor. Foi locutor na antiga Rádio Voz de Cabo Verde e na Rádio Kaapverdiaanse Omroep ZaansMULHER tad, onde desempenhou também funções de técnico de som e membro da direção. É colaborador da Mulher. Mulher, mulher! Rádio Somos Todos Primos. Em junho de 2018, Já tive mulheres integrou a equipa da Letras das Ilhas TV, em RoDe todas as cores terdão, foi membro da Associação «Um Bom Dia De várias idades Feliz» até janeiro de 2022 e do grupo «Fijdus di De muitos amores, Terra». É coordenador do projeto “Música & PoeCasada carente, solteira feliz sia em Harmonia”. Como apresentador de evenJá tive donzelas e até meretriz! tos, já esteve em palcos tais como «De Doelen», «Schouwburgplein» e muitos outros dentro e fora Assim cantou da Holanda. O Martinho da Vila Que o mundo inteiro encantou; Em 2016, foi galardoado com o prémio de FantásAté na minha aldeia, faziam fila!

Carlos Cardoso

Revue Cultive - Genève

77


Mulher. Mulher! Tu és avó, tu és mãe, tu és filha, Tu és amiga e também esposa. És raposa que não repousa. Mulher, Mulher! Tu estás em tudo O que faz mover o mundo! Do teu ventre, nasce o Ser Só tu sabes o que é sofrer Para sobreviver, És a única que conhece o milagre do parto. Na hora de dar a luz, Só tu encontras a corrente que te conduz. Na saudade, a fragilidade fala mais alto. Mulher. Mulher, mulher! Tu vives sofrendo Para felicidade expandir Tu choras para fazer sorrir, Com ou sem medo Serias capaz de morrer Para fazer viver. És incansável batalhadora, A heroína do quotidiano. Mulher. Mulher, mulher!

"ESPERANÇA DURANTE DIAS DIFÍCEIS Em pleno março de 2020 O mês da mulher, O mês em que as aves e as flores Vêm, com todo o carinho, dar-nos o seu abraço, Foi-nos negado o contacto físico Ou possível aproximação. Por que razão? Até custa a acreditar! Mesmo vendo a catástrofe causada, Ainda assim há quem corra o risco De não respeitar e se cuidar. Foi decretada quarentena Depois de estarem afetadas centenas. Do nada, ninguém mais o que fazer sabia. Os restaurantes fechados, as ruas ficaram vazias. A incerteza apoderou-se das gentes 78

Revue Cultive - Genève

E o egoísmo disparou. Nos supermercados, até os produtos Outrora insignificantes, Houve quem os arrebatasse Sem pensar na necessidade dos outros. Dói... dói demais receber de todos os cantos A triste notícia da rápida propagação, Os números de casos infetados E as vítimas mortais já causadas. Não podemos perder a esperança, Pois ela é a nossa salvação, Juntos com a colaboração de todos. Foi-nos decretada quarentena. Uns preferiam estar na praia Brincando com as conchas. Outros talvez apreciar a quarentona, Desfilando as suas lindas coxas, Enquanto bebiam uma Corona Ou então uma Rosema bem fresquinha... O que seria o mais natural do mundo Hoje é um sonho profundo. Pois a realidade é um pesadelo Que só passará com fé, união, Compaixão e amor. Este é o meu apelo. Vamos acreditar no poder do acreditar E, juntos, a solução desta pandemia encontrar. Vamos colocar o nosso foco nos nossos desejos, Não no que está perante os nossos olhos. A mãe Natureza tem a certeza mesmo na incerteza, Somos todos seus filhos, Tudo o que vem dela tem um propósito, Umas são bênçãos e outras são lições. Cabe-nos a nós escolher. Eu acredito na bênção em cada lição, A lição que nos vai ensinar não só por ensinar, Mas sim nos transformar numa melhor versão De nós próprios e inspirar os outros. Mesmo no momento da incerteza, Não podemos perder o nosso amor, A nossa espiritualidade e a nossa firmeza. Não podemos deixar-nos vencer pela angústia, Pela raiva ou pelo ódio.


Se o teu inimigo for mais forte, Sê mais inteligente e tem compaixão! Conhecemos o mundo em que vivemos, Sabemos que há coisas que podiam ser diferentes! Dia após dia, sentimos na pele A desigualdade racial e socioeconómica, O abuso de poder, a perda de ética, De respeito e de humildade e, consequentemente, A degradação nos comportamentos, Afetando hábitos, costumes e tradições. Eis chegado o momento certo para refletir, Analisar e concluir!

GUERREIRA É a obra prima do universo Criada pela natureza Para ser deusa, Tudo o que toca se multiplica. Com determinação e perseverança Encontra sempre uma solução, Mesmo no fundo do poço Não perde a sua esperança. Ela é o símbolo da vida! Até num labirinto O seu feminino instinto A conduz à uma saída.

Antes culpávamos a falta de tempo Para quase tudo. Hoje estamos em quarentena, Tempo é o que mais temos, Porque quase tudo está fechado.

Vivendo na senzala ou num palácio, Umas são Rainhas outras são princesas Todas são guerreiras!

Usemos o acontecimento atual como lição, Vamos ver para além da presente escuridão, Tiremos vantagens das desvantagens, Vamos aproveitar o isolamento Para nos reencontrarmos.

Seja ela do Sul ou do Norte, Do Este ou do Oeste, Cada uma com a sua sorte Ela é o centro, o centro das atenções Em todas as situações.

Por não termos o que tomava o nosso tempo, Tempo temos para nós e para os nossos.

O que de nós homens seria? Se não existisse a mulher. Simplesmente não existiriamos Porque não nasceriamos.

Não devemos mergulhar na solidão, Vamos ser a nossa própria companhia, Porque tempo não nos falta Para encontrar como contribuir na construção De um mundo novo, Onde cada um usará a sua melhor versão.

Carlos Cardoso

Se não o fizermos, não será a pandemia Que destruirá a humanidade, Será o próprio homem por falta de humildade! Usemos o acontecimento atual como lição, Vamos ver para além da presente escuridão E visualizar uma sociedade mais justa, equilibrada, saudável, compreensiva, Que tenha pão, paz e amor para todos, de igual para igual. Carlos Cardoso

Revue Cultive - Genève

79


Pietro Costa É um homem Cultive porque ele cultiva a poesia, a leitura, o direito, apoiar as academias de letras, publicar livros, colecionar prêmios literários e culturais, a literatura, a família, participar de antologias e eventos culturais, apoiar e colaborar com o Institut Cultive Suisse Brésil.

NO SUSSURRO DO VENTO Ouvi-te no sussurro do vento, E a doce cantoria de tua voz, Lembrei momentos de alento E recordei-me de nós, a sós. Ouvi-te no sussurro do vento, Saudade vivaz, nada fugidia, Se a música é pertencimento, Chet Baker me faz companhia. Ouvi-te no sussurro do vento, Absorto em trágico tormento, Subi ao mais alto dos montes E não te encontrei como antes Ouvi-me, nostálgicos poemas A noite volta a conter estrelas E na densa escuridão do “eu”, A culpa, enfim, me esqueceu

80

Revue Cultive - Genève

Assessor Jurídico de 2ª Instância - MPU. Pós-Graduação “Lato Sensu” em Globalização, Justiça e Segurança Humana, realizada pela ESMPU em parceria com o Ruhr-Universitat de Bochum/Alemanha. Escritor. Poeta. Agente e Produtor Cultural. Presidente da Academia Cruzeirense de Letras. Membro de diversas Academias Literárias e Entidades Culturais no Brasil e no exterior. Embaixador da Paz da OMDDH. Autor de 5 obras literárias (Entre a caneta e o papel: um convite à transcendência, Chiado Books, 2018; A Rosa dos Ventos, Art Letras, 2019; Juras de Poesia Eterna, Art Letras, 2020; Urbanos, Editora Art Letras, 2020; Lua a Pino, Edições e Publicações, 2021). Coautor de mais de 100 coletâneas. Coorganizador das Coletâneas Então é Natal (Versejar, 2020) e A Dor que deveras sente - tributo a Fernando Pessoa (Versejar, 2021). Colunista do Jornal ROL desde 16.11.2020. Detentor de várias honrarias, prêmios e títulos. Em seus textos, de escopo bem heterogêneo, procura dialogar com as várias vertentes do saber, sobretudo a filosofia, a psicologia e a literatura. Há ênfase no transcendente, nas relações afetivas e nos paradoxos da era contemporânea de maximalismo digital e coisificação da vida.


O estupro é a maneira mais cruel de um homem mostrar para uma mulher «quem é que está no comando». Estupro não é sexo, não é troca, não é carinho. Estupro é uma demonstração clara de poder sobre o outro. É violência, é constrangimento, é violação, é tortura, é desrespeito, é crueldade, é atrocidade, é crime que se manifesta das formas mais diversas. Como conceito, o estupro não existia na Grécia nem na Roma Antigas – não havia uma palavra para isso, mesmo com quase toda história da mitologia envolvendo o que chamaríamos de abuso sexual, no entanto, abuso sexual de qualquer tipo simplesmente não era entendido como uma questão com que o estado deveria se envolver, é o que afirma Michael Peachin, professor de estudos clássicos da Universidade de Nova York. Ele diz que, diferente dos tempos bíblicos, estupro não era nem considerado um crime de propriedade. Na verdade, era pior em alguns casos: se a mulher fosse casada, ela podia ser julgada por adultério. Mas Roma era um lugar ainda mais sem lei quando se tratava de proteger crianças. «Se alguém não quisesse um bebê, a pessoa podia, sem nenhuma consequência legal, jogá-lo fora – literalmente, no lixo», diz Peachin.

Graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Fortaleza (1985),Curso de Ciências da Religião (2001) , Pós -Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional (2005) Pós-graduação em Ciências Políticas, Sociedade e Governo (2013) MBA - Master in Business Administration em Formação de Políticas Públicas Inovadoras (2013) MBA - Master in Business Administration em Assessoria Parlamentar (2016) Mestrado pela Universidad Politécnica y Artística del Paraguay (2011) Doutorado em Ciências da Educação (UPAP-PY - 2016). Tem experiência na área de Educação, além de ser escritor, roteirista, poeta. Trabalha na UNIPACE ( Universidade do Parlamento Cearense ), tendo atuado na Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia legislativa do Estado do Ceará, como servidor do Poder Legislativo. Estou acadêmico do Curso de Direito pela UniNassau. Estou membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará, ALMECE - Cadeira nº 80 e da ACE (Associação Cearense de Escritores). Membro do CONINTER, cadeira nº 18, membro do Centro de Cultura do Ceará, cadeira nº 08. Membro de Honra da Divide Academie Française des Lettres Arts et Culture ( França). Membro da Academia de Letras Juvenal Galeno – ALJUG, cadeira nº 37. Membro da Academia de Letras e Artes do Ceará- ALACE, cadeira, nº 39. Membro da Cultive – Associativo Internacional D’Art., Litterature et Solidarité. ( Suiça) Na Inglaterra entre 1400 e 1430, houve 280 casos de estupro, nenhum resultando em condenação. Nos EUA, a palavra «estuprador» começou a ser usada no final do século 19, em referência a linchamentos. Na Suazilândia, incidentes de estupro de meninas com menos de 18 anos estão a aumentar. Infelizmente a maioria destes não é relatada. De acordo com um relatório UINCEF, um em cada três Swazi menina sofreu estupro nesta nação sul Africano. Estupro e HIV são realidade comum para jovens mulheres da Suazilândia. Mais da meRevue Cultive - Genève

81


tade dos casos julgados no Tribunal Superior da Suazilândia são casos de estupro. A incidência de estupros registrados pela polícia Lesoto em 2008 foi a maior incidência de qualquer nação. Cerca de 33 por cento das mulheres nesta nação sul Africano ter sido estuprada por 18 anos de idade; em 66 por cento dos casos, o violador é o noivo. Lesoto é executado um programa com o UNICEF para ajudar as vítimas de estupro.

julgada junto com o criminoso. É difícil achar no mundo uma grande instituição que não tenha varrido para debaixo do tapete algum caso de estupro. Exércitos, empresas, famílias, universidades e igrejas acobertam estupros rotineiramente.

Todo mundo concorda que estupro é um dos piores crimes que existem. Ainda assim, 99% dos agressores sexuais estão soltos - e eles não são quem Durante uma pesquisa realizada em Botswana em você imagina. Culpa de uma tradição milenar: o 2011, 10,3 por cento de 654 mulheres e 3,9 por cen- nosso hábito de abafar a violência sexual a qualto dos 613 homens afirmaram que sofrem abuso quer custo. sexual em sua vida. A igreja Católica foi apenas a mais famosa organiNo ano de 2000, foram notificados mais de 67 mil zação religiosa a fazer isso quando bispos e padres casos de estupro e agressões sexuais contra crian- foram acusados de abusar sexualmente de crianças ças na África do Sul. no começo dos anos 2000. Durante muito tempo o Vaticano fingiu que não sabia de nada – e até o O Dicionário Oxford aponta o primeiro uso em papa Bento 16 foi acusado de olhar para o outro referência a «crioulo estuprador». Era muito mais lado nos anos em que liderou um departamento fácil condenar negros que brancos por qualquer que analisava abusos dentro da Igreja. crime, porque eles eram julgados em tribunais de escravos que não exigiam um veredito unânime. O mesmo aconteceu com as Testemunhas de Jeová na Inglaterra, onde o pastor Mark Sewell foi condeO estupro é um dos pilares da colonização lusitana nado por abusar de mulheres e crianças ao longo de e espanhola na América do Sul. As mulheres na- anos. E acontece também com igrejas evangélicas tivas, vítimas de colonizadores espanhóis e portu- aqui no Brasil, onde pastores de diversos Estados gueses no Brasil, sofriam de constantes violências já foram acusados de abusar de meninas durante sexuais justamente por serem vistas como proprie- supostos “tratamentos espirituais”. dades. Não são só as igrejas que adotam essa postura obsOs crimes sexuais, entretanto, já eram tipificados curantista. Nos últimos meses, o foco dos escândadesde 1500 até 1830. Em 1830, com o Código Cri- los sexuais tem sido as universidades, brasileiras e minal do Império, o crime de estupro e atentado gringas, que mal sabem onde enfiar a cabeça diante violento ao pudor foi definido. A pena do crime es- de tantas alunas contando que foram violentadas tupro era de 3 a 12 anos e prisão. dentro das faculdades – mas já vamos chegar lá. A escravização de povos negros no continente também perpetuou essa visão e perdura até hoje no que vemos no tratamento da mulher. «A gente tem séculos de uma colonização marcada por uma profunda estrutura patriarcal que legitimou esse tipo de violência”.

Na Índia, a imprensa não é autorizada a publicar o nome de vítimas de estupro.

Um caso que correu o mundo, em 2012, teve como personagem uma estudante de fisioterapia de 23 anos agredida e estuprada dentro de um ônibus na capital de Nova Déli, com consequência, a joApesar de entendermos o estupro como um dos vem morreu duas semanas depois no hospital em piores crimes que podem acontecer a alguém – se- consequências dos ferimentos. gundo pesquisas sobre percepção de crueldade, ele só perde para o assassinato -, somos estranhamente A indignação e os protestos públicos subsequentes incrédulos para acreditar que ele realmente aconte- ao caso levaram à aprovação de uma emenda à lece. O estupro é o único crime no qual a vítima é gislação criminal que entrou em vigor em abril de 82

Revue Cultive - Genève


2013, menos de cinco meses após o ocorrido. A lei ampliou a definição de estupro, endureceu as penas (notadamente para casos seguidos de morte) e tornou crime sexual ações como ataques com ácido (que vitima centenas de pessoas por ano no país, a grande maioria mulheres), assédio sexual, voyeurismo e acosso. A jornalista Vandana Vijay, do serviço indiano da BBC, diz que a sentença mínima para estupro coletivo, de menores e por policiais ou autoridades foi dobrada para 20 anos - até prisão perpétua. Além disso, segundo as novas leis, a falta de resistência por parte da mulher não indica concordância com o ato.

na praça Tahrir e contra manifestantes anti-Morsi. “É uma forma de assustar as mulheres e suas famílias para que não se juntem aos protestos. Isso arruína a imagem dos revolucionários, sei que me transformei em um exemplo quando decidi revelar minha identidade e o que aconteceu. Divulgar a minha mensagem sobre o estupro não é um erro. A vítima não pode sentir vergonha disso. A vergonha deve vir de quem o praticou. Acho que a verdade ajuda a entender o tamanho real do problema como uma forma de encontrar uma solução adequada para isso. Se não soubermos do problema, nunca estaremos aptos para resolvê-lo.” (Yamine El Baramawy).

Nas Bahamas, por exemplo, um homem pode ter relações sexuais sem consentimento com sua esposa, se ela for maior de 14 anos – em Singapura e na Índia, a lei é similar, mas as idades mínimas são 13 e 15 anos, respectivamente. Outra situação comum é a punição ser revogada ou minimizada se o estuprador se casar com a vítima após o ato: no Líbano, a lei simplesmente ignora o crime quando o agressor pede a mulher em casamento, mesmo em casos em que o estupro vem combinado com sequestro. Em Malta, assim como na Palestina, a pena do estuprador é diminuída se ele tiver a intenção de se casar com a vítima e anulada se o casamento for realizado. Certamente, nada justifica um estupro, muito menos a sua tentativa de culpabilizar a vítima que é, no mínimo, inquietante, triste, revoltante. Para finalizar, quero citar aqui, a história da musicista Yasmine El Baramawy, de 30 anos, quedecidiu se manifestar desde o início dos protestos que invadiram o Egito. Em 23 de novembro do ano passado ela estava na icônica praça Tahrir quando foi atacada por, pelo menos, 15 homens. Passada a raiva e o medo de andar nas ruas de seu país, ela decidiu contar o que aconteceu com ela. Os estupros no Egito durante as manifestações são uma forma clara de impedir o direito de as mulheres se manifestarem. Este crime acontece apenas Revue Cultive - Genève

83


LUIZ CARLOS AMORIM

Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 41 anos em 2021. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br

INCERTEZAS E ESPERANÇAS O ano de 2022 chegou: o ano da esperança, o ano que queremos que seja o ano do abraço, da saúde, de um novo normal no qual possamos viver sem medo. Mas há muitas perguntas que precisam ser feitas a este senhor que acaba de chegar. A pandemia acabará, neste novo ano, será apenas mais uma doença com a qual teremos que conviver, para a qual teremos que tomar vacina todos os anos? Ficará mais branda, as vacinas conseguirão combate-la, mesmo as variantes que ainda poderão vir? Melhor que não viessem, que conseguíssemos controlá-la para que não se modificasse mais, para que pessoas parassem de ir para a UTI e parassem de morrer pelo mundo todo. Porque precisamos que a pandemia abrande, para que a economia do planeta se recupere, para que haja trabalho para todos, para que não haja mais fome, para que não haja mais miséria, para que não existam mais pessoas e mais famílias pelas ruas sem perspectivas de futuro, a pedir um pouquinho de misericórdia, um pouquinho do pouco que possamos ter.

acontecer em vários países? Tempestades, furacões, terremotos, vulcões em atividade, ventos extremos, frio e calor cada vez maiores, etc., etc.? Sei que a culpa não é sua, meu querido senhor, meu esperançoso ano de 2022, sei que nós é que provocamos tudo isso, mas tenho que perguntar, tenho que ter a esperança e a fé de que conseguiremos mudar, pelo menos um pouco, e melhorar nossa maneira de ser, de estar no mundo, para que possamos fazer um ano melhor. Então, na verdade, é preciso fazer as perguntas a nós mesmos: somos capazes de mudar? Somos capazes de fazer um esforço e cuidar mais, cuidar de nós, do nosso planeta e do nosso lugar, para que possamos ter um ano melhor? Precisamos ser. O tempo está acabando. LITERATURA RESILIENTE, APESAR DA PANDEMIA

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, As guerras acabarão, as pessoas continuarão tendo que completa 41 anos em 2021. Http://luizcarlosaque abandonar seus países por não poderem mais morim.blogspot.com.br sobreviver neles, corroídos pela ditadura e pela corrupção, pela crueldade e pela desumanidade? Começamos o ano literário com a nova edição O ser humano continuará a cuidar mal do seu meio da revista ESCRITORES DO BRASIL, mais um ambiente, fazendo com que a natureza se rebele sucesso editorial das Edições A ILHA, do Grucontra quem a destrói, com fenômenos trágicos a po Literário A ILHA. A revista teve um intervalo 84

Revue Cultive - Genève


por causa da pandemia, pulamos um trimestre, mas como continuamos com as edições normais da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, para não interromper o fluxo da produção dos escritores brasileiros, que continuam escrevendo apesar e até por causa da pandemia. E precisamos publicar, pois escritor só é escritor se for lido. Então, o ano literário começa com a colocação no ar, em fins de janeiro, de ESCRITORES DO BRASIL, a revista que tem se firmado como uma das mais importantes publicações literárias, lida em todo o mundo. Pois pensávamos que o ano de 2021 se encaminhava para o seu final e com ele terminaria também a pandemia, para que pudéssemos voltar às nossas atividades normais, para que voltássemos a publicar as revistas do grupo A ILHA normalmente, mas não foi isso que aconteceu. Tivemos que pular uma edição desta revista, para que a outra, o Suplemento Literário A ILHA, 41 anos em circulação, pudesse continuar.

continuar a registrar na literatura a evolução (ou involução) deste nosso mundo, as mudanças que a pandemia provocou, o “novo normal” com o qual teremos que conviver. Escritores do Brasil é a revista que registra o que os escritores brasileiros estão pensando atualmente, como estão sobrevivendo com este novo “normal” que não se define, como estão vendo as transformações pelas quais passamos e o que elas mudam em nós. Literatura é isso, é o registro da vida ao nosso redor e a revista do Grupo Literário A ILHA é espaço para que os escritores brasileiros registrem a sua cosmovisão e a transmitam aos leitores. A revista está disponível em e-book na página do Grupo Literário A ILHA no facebook e no linke https://issuu.com/grupoliterarioailha/docs/escritores_do_brasil_alta_42311e60b72e8f .

2021 foi muito complicado e no final dele apareceu uma nova variante da covid 19, a ômicron, e as coisas ficaram ainda mais difíceis. O contágio era muito maior do que das outras variantes e rapidamente o mundo todo estava contaminado. Os novos casos aumentaram exponencialmente, as mortes também estão aumentando neste início de 2022 e os hospitais voltam a ficar lotados, com as UTIs esgotadas. Com essa nova cepa, percebemos que o fato de não tomar a vacina é assumir um imenso risco, pois quase noventa por cento das pessoas mortas ou nas UTIs não tomaram a vacina ou só tomaram a primeira dose. Então a pandemia voltou a ficar mais grave, temos que voltar a tomar os cuidados básicos: usar máscaras, usar álcool, evitar aglomeramentos, porque muitas pessoas não tomaram a vacina, não acreditaram na vacina. E agora vemos o resultado. Então precisamos ficar mais em casa, priorizar o distanciamento tanto quanto possível. E a arte, mais uma vez, será a nossa salvação. Podemos ficar mais em casa e ouvir música, ver filmes, ler livros. Sim, a arte nos ocupa e nos salva. Ler um bom livro ouvindo música é uma excelente forma de ocuparmos o nosso tempo. E a ESCRITORES DO BRASIL também traz boa prosa e boa poesia para aproveitarmos bem o nosso tempo. Pois como já disse, nossos escritores continuam escrevendo e precisamos publicar, precisamos Revue Cultive - Genève

85


LEONARDO ANDREH:

Professor de Música e Instrumentos Musicais, Poeta, Escritor, Compositor e Produtor Musical. Radicado ao Clube Caiubi de Compositores e à Casa do Poeta Brasileiro da Praia Grande - SP. Ex integrante da CAPPAZ, Confraria de Artistas e Poetas pela Paz e da Associação de Poetas de Santo Amaro - SP. Espero que o conteúdo esteja a contento e que ainda dê tempo de concretizar a minha participação. Saudações poéticas e musicais,

MULHER NÃO É PROPRIEDADE Mulher não é propriedade! Ouça bem essa verdade, Preste muita atenção: O cartório e a aliança Lhe deram a falsa esperança Da “posse” em uma certidão. Ela é sua parceira Pra viver a vida inteira Na tristeza e na alegria; Não nasceu pra ser escrava Como você esperava, Como você bem queria. Ela nasceu pra ser livre mesmo que sua mente migre entre o lar e o amor; Ela não quer ter um “dono” Que a trate com desabono, Causando aflição e dor. Não levante a mão pra ela, Nunca caia na esparrela Tratando-a de modo vil; A Lei Maria da Penha, Hoje, prende quem desdenha Daquela a quem agrediu. 86

Revue Cultive - Genève

Mulher tem que ser amada, Compreendida e estimulada Pra viver e ser feliz; Não nasceu pra ser “capacho”, Propriedade de um “macho” Com quem vive infeliz. Se você, aí, rapaz Realmente é incapaz De entender o que é direito, Talvez uma algema ensine E você não mais discrimine Uma mulher com desrespeito.


JOÃO AMORIM amigos, despedindo-me dos mesmos. Reuni todos os meus filhos e passei o dia com eles. O meu “suposto” último dia de vida. Fui dormir calmo e sereno, pois já tinha me preparado para o acontecido. Adormeci, acordei às 10 horas da manhã vivinho da silva. Fui até à cozinha ver se tinha outras pessoas vivas, pois podia estar em outra dimensão. Encontrei a empregada fazendo o meu almoço. -Vocè preparou café da manhã e almoço para mim? Eu não lhe disse que ia morrer! -Só o senhor acreditava nessa baboseira. Afirmou ela de forma assintosa, valendo-se das duas décadas de intimidade que gozava em minha casa.

JÁ QUE EU NÃO MORRI AOS 70

-Bem Doutor, agora que eu não morri, eu quero voltar a viver. Eu quero melhorar o aspecto da minha face que está mais envelhecida que o norAtendo um paciente do sexo maculino pretenden- mal e vou viajar, ir para bons restaurantes, comprar do submeter-se a uma cirurgia de rejuvenescimen- umas roupas bonitas, fazer aula de dança... to facial. O que não é comum. Olho de soslaio para a ficha de consulta e vejo que o mesmo tem 70 Em suma voltar à vida. Pelo menos eu tenho minha anos, o que torna o procedimento ainda mais raro. pensão que é boa, porque quanto a patrimônio eu Explica essa minha afirmação, o fato que homens me desfiz de tudo. se operam pouco de plástica, principalmeente de face, ainda mais quando já possuem uma idade Operei o paciente, o resultado foi muito bom, ele avançada, pois o preconceito com os procedimen- ficou satisfeito e até o momento, dez anos depois tos estéticos é grande. Sem contar que os mesmos do ocorrido, continua vivo e feliz. se incomodam pouco com as alterações estéticas nessa região. Este episódio me faz lembrar de uma história com alguma semelhança: Surpreendo-me com a explanação, por parte do paciente, sobre os motivos que o trouxeram para Quando meu filho mais moço tinha uns quatro a consulta: anos de idade, conversando com seu avô materno, ou seja, meu sogro, sentenciou: Doutor João, meu pai morreu de um infarto agudo do miocárdio há vinte e um anos, quando o mes- -Vovô, quem é mais velho morre primeiro, não é? mo tinha setenta anos. Há uns dez anos, eu sonhei com uma pessoa de branco dizendo: “Fulano você -Normalmente é, meu filho. Respondeu o avô. vai morrer igual ao seu pai e com a mesma idade”. Desde então eu me preparei para esse dia fatídico. - Então vovô, o Senhor vai morrer primeiro, porque Quando tinha sessenta e nove, vendi tudo o que é mais velho, depois vai ser vovó, depois papai, que tinha e distribui aos meus filhos. Há cerca de um é mais velho que mamãe, depois mamãe, depois mês, quando tinha sessenta e nove anos, trezentos meu irmão que é mais velho que eu, e por último e sessenta e quatro dias, liguei para todos os meus serei eu, já que sou o mais novo. Revue Cultive - Genève

87


-É meu querido. É o que se espera. Continuou o avô. - O Senhor já está muito velhinho, com o cabelo quase todo branquinho, o Senhor vai morrer hoje! O meu sogro, interpretando como uma mensagem divina, afirmou: - Esse menino falou pela boca de um anjo. Uma criança de quatro anos não teria como vir com uma conversa dessa. Eu vou realmente morre hoje. E cuidou da empreitada. Ligou para se despidir de familiares e amigos. Passou o dia reunido com os filhos. Foi á igreja fazer uma oração. Não dormiu a noite inteira, esperando a morte. Amanheceu o dia e a libitina não compareceu. Já se passaram quase vinte anos do ocorrido e o mesmo se encontra vivo e com boa saúde. Uma vez, um amigo afirmou que era melhor se nós soubéssemos o dia em que iriamos morre, pois podíamos nos preparar, nos despedir, cuidar dos detalhes... Eu lhe contei esses dois casos e concluindo, afirmei: Eu agora compreendo o motivo pelo qual Deus, na sua imensa sabedoria, não predefiniu um dia para nossa morte. O fato é que, se nós soubessemos o dia em que iriamos morrer, viveríamos em função da morte. Mas pelo contrário, como todos nós podemos morrer hoje, vivemos em função da vida. Como cada dia é uma concessão de Deus, nós temos que aproveitá-lo como se fosse o último e vivêlo intensamente e da maneira mais feliz possível.

João Amorim nasceu em Recife em 1964, cursou medicina na Universidade Federal de Pernambuco. Fez pós-graduação em cirurgia geral e cirurgia plástica. Fez também cursos de pós-graduação na Unicamp-SP , na Sobrapar-SP, na Clínica Ivo Pitanguy-RJ, na Clínica Edgar Alves Costa-RJ e na Clínica Cássio Raposo do Amaral-SP. Foi assistente do Dr. Perseu Lemos em Recife por cerca de 10 anos. Gosta de escrever, cantar, tocar violão, fazer amigos e dividir momentos de felicidade. 88

Revue Cultive - Genève

Publicaçnoes Cultive


Poesia: Homenagem as mães Autor: Toinho Gavião Boa tarde mãe guerreira, Que estão a me escutar, A todas mamães queridas, Eu quero Homenagear, Pois esse é o seu dia, Receba com alegria, O que eu quero te falar. É uma bússola do lar, Que orienta e faz o bem, Fica ao lado do seu filho, Na hora de Deus amém, Todo filho é perfeito, É um amigo do peito, Em tudo que lhe convém. O filho que ainda tem, Sua mãozinha do coração, Ame com muito carinho, Cuide dela com emoção, Pois merece seu amor, Ser mãe tem o seu valor, Essa é minha opinião. Sou Toinho Gavião, Em verso vou me expressar, Vai a minha mensagem, Deus vai lhe abençoar, Todas as mães do mundo, Com sentimento profundo, O amor renascerá. Precisamos dialogar, Aos filhos compreender, A mãe é quem gera a vida, Do embrião gera um ser, O ser denominado feto, A mãe já tem um afeto, Vem ao mundo um bebê.

Seu amor é pra valer, Não queira imaginar, Quando o filho é pequenino, A mãe será seu pilar, Tem o filho a confiança, Quando a gente é criança, Nela quer se espelhar. Quero agora te falar, Do seu amor verdadeiro, De suas noites em claro, Sem dormir o tempo inteiro, Seu olhar maravilhoso, Do seu mingau gostoso, Cozinhado no papeiro. Seu carinho é o primeiro, Que o filho receberá, E em seu seio materno, O filho amamentar, Pegando ele nos braços, Ao dá os primeiros passos, Ensina o filho andar. Agora vou terminar, Tudo que escrevi, Pois em verso eu te falo, Tudo que eu senti, A mais bela mensagem, A mais singela homenagem, São dedicado a Ti. Pois Deus estará aqui, Aceita sua benção, No meio de todos nós, Minha irmã e meu irmão, Pois esse dia é sagrado, Receba o meu recado, De todo o meu coração.

Revue Cultive - Genève

89


ELEAZAR DE CASTRO RIBEIRO

AS MULHERES NA II GUERRA MUNDIAL COMO METÁFORA PARA AS GUERRAS ATUAIS

Possui Doutorado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (2006), Mestrado em Administração pela Universidade de São Paulo (1996) e graduação em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará (1981). Foi Coordenador Geral dos cursos de Administração da Faculdade Integrada do Ceará – FIC (2000 – 2006) e de Administração do Centro Universitário Christus – UNICHRISTUS (2008 – 2016). Foi Consultor Interno de Comportamento Humano do Banco do Nordeste do Brasil (1979 – 2010). Ministrou disciplinas em diversos cursos de especialização e de mestrado da UFC, UECE, UNIFOR e Unichristus. Autor-organizador do livro O Ensino da Administração: Diversidade de Olhares, Editora Unichristus, 2016. Co-autor do livro Pelos Caminhos da II Guerra Mundial, Editora Chiado, 2018. MARIA GORETTI GURGEL MOTA DE CASTRO Possui Mestrado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, Especialização em Engenharia Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública de São Paulo e graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará. Atuou 30 anos na área de meio ambiente no Governo do Estado do Ceará, ocupando vários cargos de gestão nas áreas de monitoramento, controle e políticas públicas, ao longo dos quais escreveu vários artigos e manuais relacionados a essas áreas.

desejo de conhecer a participação das mulheres nesses conflitos históricos.

Com isso, desejamos entender sobre a relação dos seres humanos com a guerra e, mais particularmente, aquela identificada com o ser feminino Estamos em 2022, vivendo há dois anos uma panque, por sua natureza mais sensível, envolve os sendemia de Covid-9 que nos tornou reféns da incertimentos de medo, angústia e dor, mas por outro teza e do medo e nunca se falou tanto que estamos lado também a coragem, superação e doação. num mundo em “guerra”. Por exemplo, essa é a palavra mais usada hoje, quando nos referimos ao Já no século IV antes de Cristo, em Atenas e em enfrentamento do Coronavírus. Assim, entender o Esparta, havia mulheres lutando nas tropas greque é uma guerra pode nos preparar melhor, a fim gas. Depois, elas participaram das campanhas de construir uma estratégia para lograr a vitória e de Alexandre, o Grande. As eslavas às vezes iam encontrarmos a “paz” em nós e para todos. para a guerra com seus pais e maridos. No cerco à Constantinopla, os gregos encontraram várias muA “guerra” não faz acepção de pessoas, ceifando lheres entre os combatentes mortos. Na Inglaterra, vidas de homens e mulheres. Entretanto, as “guernos anos de 1560 a 1650, mulheres soldados serviras” são empreendidas e contadas mais por homens ram nos primeiros hospitais militares. Na Primeira sobre seus feitos, e pouco se sabe da participação Guerra Mundial, a Inglaterra já aceitava mulheres das mulheres nesse contexto. Essa “universalina Real Força Aérea. Também havia um Corpo Auzação” da tragédia e das dores desperta em nós o xiliar Real e uma Legião Feminina de Transporte 90

Revue Cultive - Genève


algumas missões, atuava distante da FEB, junto às forças dos EUA.

Resgate à Dignidade das Enfermeiras Brasileiras que Participaram da Campanha da Itália, na IIGM Copyright: Valdivia S. Beauchamp

A parte de enfermagem de guerra ficou a cargo de médicos do Exército, enquanto que a instrução militar, sob orientação de um capitão combatente. Em sua maioria, eram moças na faixa etária de 25 anos. Algumas eram enfermeiras, outras auxiliares de enfermagem. Após o curso, todas estariam bem preparadas.

A viagem para a Europa foi feita, inicialmente, do estado em que elas haviam se formado, ao Rio de Janeiro. Do Rio para Natal - “Parnamirim Field” -, o local chamado “Trampolim da Vitoria”. De lá para Dakar e dali para Nápoles. Por navio chegaram a Livorno, quando foram distribuídas. Prepararam-se com muita garra, levavam consigo, também, o desejo de liberdade, de democracia. Tinham muita esperança de que regressariam vitoriosas naquele pleito de a FEB contribuir para a libertação As futuras enfermeiras de guerra foram seleciona- da Itália da ditadura fascista de Mussolini, apoiada das, após responderem a um edital de convocação in loco pelo exército nazista alemão. voluntária, distribuído nas várias regiões do país. O curso, alocado dentro da organização do Serviço De início, nos hospitais – de campanha ou preparade Saúde do Exército”, destinava-se a suprir o re- dos em algumas cidades -, no contato com as escocém criado Quadro de Enfermeiras da Reserva do ladas enfermeiras americanas, sentiam-se menores, Exército – QERE, amparado pelo Decreto Lei de pois aquelas tinham postos na hierarquia militar 6097/43. Elas iriam suprir não só as necessidades de saúde. A sabedoria do General Mascarenhas de da Força Expedicionária Brasileira (FEB), como Moraes, prontamente, fez com que todas recebestambém da Força Aérea Brasileira (FAB), que, em sem, de pronto a patente de segundo-tenente. Em O exército Norte-americano, depois do encontro de Roosevelt com Vargas, acertada a organização de um contingente brasileiro para lutar na Europa contra o Eixo, clamava para que um grupo de enfermagem fosse formado no Brasil, a fim de acompanhar os Aliados brasileiros nas proximidades do “front”, visto que as enfermeiras americanas já estavam ocupadas em seus postos desde 1939.

Revue Cultive - Genève

91


extinguido a FEB. Todas as unidades passaram à subordinação da 1ª Região Militar no Rio de Janeiro, uma tristeza só! Naquele momento, muitos aplausos aos Pracinhas não cairiam bem na cabeça do ditador. Que paradoxo! Os Pracinhas contribuíram para a derrota do Eixo, ele, presidente, precisava não ficar mal com as reflexões que a sociedade poderia fazer. Veio o, então acerto: O Dutra seria o próximo presidente, ninguém mais falaria sobre a ditadura (Filinto Muller, etc.), nem sobre a FEB. Quem sabe, “com tudo esquecido”, o Gegê voltaria em seguida, pela via democrática. E assim aconteceu...

seu dia a dia, essas heroínas da saúde, exerciam, também, psicologia necessária para com os Pracinhas, alguns com certas dificuldades físicas, por exemplo, redigindo cartas que lhes ditavam. Muitas das vezes, lhes davam seus ouvidos, por questões psicológicas. Assim, se desdobravam em lhes ajudar naqueles momentos difíceis. Com certeza, deixaram lá gravado o valor da mulher brasileira na Guerra. Por ocasião do 8 de maio de 1945, a comemoração foi muito grande, entre todas. “Finita la Guerra!”. Nossos heróis e nossas heroínas da FEB e da FAB não tiveram toda a história para contar. Para muita gente, por vários anos, a participação daquelas belas mulheres ficou praticamente desconhecida.

No entanto, em plena ocupação ainda importante da FEB, no pós-guerra, de algumas províncias ao Norte da Itália (Piacenza, Lodi e Alessandria), a FEB foi sumariamente desmobilizada. Todos já se preparando para o regresso ao Brasil, foram sofrendo grande decepção, pois o regime político do presidente Getúlio Vargas em pleno “Estado Novo” - viés nazifascista -, através de seu Ministro da Defesa, General Eurico Dutra já havia 92

Revue Cultive - Genève


PARNAMIRIM obra de Valdivia Beauchamp

Este é um trecho da obra Parnamirim . O livro encontra-se à venda no

Londres, Junho de 2013

impaciência na audiência, já acolhida no interior do recinto. Havia até adolescentes na sala, curiosos, pro- vavelmente, por ser sua primeira oportunidade de fre- quentar ambiente tão requintado, próprio ao tipo de negócio.

Acabaram de leiloá-lo e o arrematei, já o possuo. O custo foi alto, 100 mil libras; valor, que na minha concepção, seria considerado à luz do pagamento O lugar, por sinal, era bem decorado para atrair já adiantado, feito pela editora para a primeira ti- di- versos gostos: quadros impressionistas, um belíssimo espelho de cristal em moldura cusquenragem do livro. ha que, visível à porta de entrada, contrastava com Observando o olhar pesaroso dos não ganhadores, dois grandes lustres tchecos e com mesinhas e tive a certeza de que fiz um bom investimento. En- confortáveis cadeiras inglesas do século XVIII. De repente, um cidadão de terno branco, que se enquanto estou nas minhas elucubrações, escuto: — Pedimos aos senhores e senhoras que tomem contrava em pé há já algum tempo, após ter estuassento nesta sala; o pregão começará em 10 minu- dado a logística da sala, começou a ordenar discretos. — Assim, de um púlpito muito barroco, ini- ta- mente aos seus filhos, creio eu. ciara o curador, um senhor grisalho, muito elegante, tra- jando terno bem talhado seguramente por Karl La- gerfeld, em fala cativante. Sua atraente voz manteve a atenção da plateia. Já estava próximo das 20h em Londres naquele dia 11 de junho, quase verão, e ele continuava falando. Com o céu ainda claro lá fora, isso gerou certa

— Sente-se aqui George, nesta quina! — disse a um deles, um jovem nos seus 30 anos; eram pretensos compradores. Porém, ao notar a atenção que chamou para si, prosseguiu aos demais, quase sussurrando. — E vocês três, nas outras quinas da sala. — Não pude deixar de escutá-lo. Revue Cultive - Genève

93


— Todas as vezes que qualquer pretendente der um lance, um de vocês quatro, de imediato, toma a vez com o seu próprio lance, clockwise, conforme a posição de cada um. Você começa sempre, George. Entendido? Não se esqueçam do valor de referência que combinamos e prestem atenção, pois os lances podem f luir muito rapidamente. Lá havia colecionadores em geral, mas também membros de famílias de veteranos do Exército e da Marinha dos Estados Unidos e da Inglaterra, sempre procurando relíquias. Estes, eu imagino, seriam os meus maiores competidores.

quanto ele se apresentava eu o observava; estava inseguro, não sabia o que fazer das mãos, porém conseguiu expres- sar o que queria. Recém-formado pela Universidade de Oxford, sentia a perda da oportunidade para arrematar os documentos. — Gostaria de tê-los adquirido para o museu da minha família. Está sendo difícil para mim, mas não era para ser meu. — Já aí, eu o senti um pouco conformado. Entendi o pesar dele e, sentindo a sua experiência frustrante, disse-lhe: — No momento, preciso desses documentos, mas talvez no futuro possamos negociá-los. — Pude ver um brilho de esperança em seus olhos. Ele trocou car- tão comigo e se despediu. Vi que todos caminhavam para outra sala, a do curador. As pastas, tanto à referente ao meu item quanto as dos demais, não estavam lá. Fomos avisados de que nos seriam entregues depois que a casa terminasse o inventário daquele leilão, o de número 13 daquele ano de 2013, e que poderíamos retirá-las lá mesmo a partir do dia seguinte, em até oito dias. A Sotheby’s mantém um ritmo de realizar normalmente dois leilões por mês.

Pela ordem anunciada, seriam trazidos, antes do item que me interessava, 12 objetos. E assim foi feito, até que apresentaram para leilão o que eu buscava: os documentos anunciados como Arquivos da Segunda Guerra Mundial, do veterano Tenente John Horan. Os documentos vieram de um modo interessante, dentro de um envelope hermeticamente fechado e selado, em um invólucro de plástico resistente, com um cadeado numerado e totalmente lacrado. Na sala de leilão não havia mais silêncio algum. De onde estávamos podíamos escutar, em um alvoroComo sempre, o silêncio era total durante a reali- ço incrível, aqueles que não lograram sucesso tenzação do evento destinado a cada item leiloado. tando, simultaneamente, fazer muitas perguntas e O primeiro lance do meu item deveria ser acima de propos- tas aos compradores. De relance, vi dois 20 mil libras. Para mim, foram momentos enervan- adolescen- tes tirando fotos ao seu redor, com os tes. Eu estava só, Joseph não me pôde acompanhar. seus iPhones. Enquanto observava tudo isso, tentaTive a impressão de que a sala toda buscava aque- va abrir caminho entre um e outro participante. Ao les documentos. Por fim, após alguns lances com sair da sala do cura- dor, notei que alguém caminpeque- nas elevações no preço, e os filhos daquele hava em minha direção. senhor de branco totalmente concentrados, o va- — Senhora, eu sou o Coronel Smith, um dos lor passou a se comportar bem diferente a partir de vete- ranos da Segunda Guerra Mundial, que serquando um dos jovens ofereceu 70 mil. Os outros viu tam- bém em Parnamirim, no Brasil. E, sabentrês, logo em seguida, ofereceram 5 mil a mais, su- do que os documentos arrematados pertenciam à cessivamente. Quando o lance estava em 85 mil, já família Ho- ran, não consigo conter a minha cuquase para ser batido o martelo, eu dei 100 mil. A riosidade. Resido aqui em Londres há muitos anos, plateia silenciou de vez e eu o consegui. mas sou americano. Você também é americana? — Sim, de Nova York. — E continuou o CoroAntes de terminar a sessão daquele dia, leiloaram nel: ainda mais dois itens. Tivemos nós, os vencedores, “Conheci o Tenente-Coronel John Horan, pessoalmente. Uma criatura muito equilibrada, nada que esperar o pregoeiro dar continuidade àquele o abalava. Servimos juntos na Polícia do Exército. mes- mo ritual por mais duas vezes. Vim hoje aqui com o intuito de arrematar esses Um dos rapazes, novinho, lourinho, alto e bem ma- documentos. Achei, todavia, um absurdo o preço gro, que deu alguns dos lances iniciais dirigiu-se a que você pagou por eles. Caríssimo.” Ri um pouco mim, um pouco acanhado, dizendo: e tentei fazê-lo entender também com meus gestos — Por favor, Sra. Paller, o meu nome é Louis que certas sensa- ções na vida não têm preço ou, Pat- ton. Parabéns pela grande aquisição. — En- melhor ainda, não são assim caras, embora custem 94

Revue Cultive - Genève


muito dinheiro, enquan- to caminhava, calma- sobre aspec- tos pouco claros, como o porquê das mente, para outra sala. raríssimas ci- tações quanto à presença das enfermeiras brasileiras. Na sala das finanças encontravam-se todos os vencedores, prontos para fazer seus pagamentos. Era No entanto, encontrei muito pouco sobre a atuação um pouco maior do que a sala do curador. Parecia dessas mulheres, como as febianas.” mais apropriada para palestras, com várias cadei- — Joseph, meu querido. Consegui. O martelo ras, uma mesa comprida, onde havia cerca de seis foi batido para mim. Havia muita gente interessapessoas para atender individualmente os agra- da: edi- tores, veteranos, colecionadores de livros e ciados. documen- tos raros, curadores de diferentes museus, principal- mente os de assuntos bélicos. Posso Sentados defronte, aparentando paciência, eu e dizer que contei também com uma outra sorte, a os demais arrematantes esperávamos ouvir o nos- de ter conhecido pessoalmente a filha do ex-comso nome ser chamado. Afinal, foram 15 os diver- batente e colecionador que colocou o documensos itens leiloa- dos hoje aqui neste Sotheby’s de to em leilão. Judith Horan era a proprietária. Ela Londres; para ser mais exata, o da New Bond St., mantém o nome de família. É solteira. Trabalhou bem perto do Eye e de Westminster. Avistei Mr. no Pentágono, em Washington D.C., desde que se McManus, o curador. Sem dúvida, era um sen- formou pela Princeton University, na década de hor muito agradável. Eu o obser- vava enquan- 1980. Disse-me que, durante os anos em que o pai to atravessava a sala. Estava certa quanto à min- viveu nos Estados Unidos, os filhos tiveram ótimas ha primeira impressão sobre ele, very british, na oportunidades de emprego no governo fede- ral; acepção do termo. Em poucos minutos, me expôs os veteranos e suas famílias tinham prioridade. No o grandeur do que eu havia adquirido. Pergun- entanto, não houve interesse por aqueles empretou-me, muito cerimoniosamente, qual o meu in- gos, por parte dos irmãos, somente dela. teresse pelos documentos e, quando lhe falei que Sarah falava compulsivamente com o Joseph ao teera escritora, ele ponderou: “Caíram na mão cer- lefone. ta.” Então, deslocou-se para cumprimentar outras — Querida Sarah, querida, escute. — Joseph pessoas. Well, enchi o peito, e agora só me faltava ten- tava a chance de falar com ela ao telefone e falar com Joseph. Todavia, estou tão feliz que não insistiu: sei se telefono para ele ou meus primos primeiro. “Sarah, vou fazer uma reserva no Benoit, que é um Ele deve estar ocupadíssimo com o projeto arqui- dos seus restaurantes favoritos, para sábado. Ou tetônico para o novo ce- mitério, que está sendo você prefere o Carmines? Quero participar da sua planejado para a cidade de Buckow, no Leste da alegria, como sempre fiz.” Alemanha, onde recentemente foram encontrados — Oi, meu querido, preferiria, se conseguisse uma restos mortais de soldados alemães e russos que reserva, no Carmines. Será fantástico! Por volta das lá lutaram durante a guerra. O projeto foi aberto 20h? Voltarei amanhã durante a tarde. O Carmines a arquitetos dos Países Aliados na Segunda Guer- é mais romântico, por ser italianíssimo. Adoro o ra Mundial, e Joseph conseguiu ser comissionado. Dino cantando È l’amore. Bem, continuando, queAfinal, 1,2 milhões de combatentes continuam de- rido, a ex-proprietária dos documentos me contou saparecidos. Aqueles heróis merecem as maiores que há tempos hesitava em vender aqueles papéis homenagens. Vou tirar um “cara ou coroa” para de seu pai. Sugeri-lhe que trocássemos cartões, decidir quem chamar primeiro: Uni-duni-tê…, visto que morá- vamos relativamente perto nos Esganhou Joseph. De todas as maneiras, se eu não o tados Unidos e que, de vez em quando, consulto chamasse primeiramente, ficaria com ciúmes. Me- as minhas fontes. Ela achou ótimo e me disse estar lhor assim. feliz por ter conhecido uma escritora circulando noutro ambiente. Essas foram as preocupações iniciais de Sarah, antes de finalmente telefonar para Joseph, que, por “‘Já fui a diversos book signing, mas hoje foi difesua vez, estava em Nova York à espera da chama- rente’, disse-me ela, com muitos risos. E acrescenda. Ela ruminava suas ideias: “Sei que Joseph vibra tou: ‘Com certeza, você tem aí o meu telefone e o com o meu interesse sobre certos fatos da Segun- meu e-mail.’ Em seu cartão, lia-se: Dr. Judith Hoda Guerra Mundial. Realmente, tenho curiosidade ran, Se- cretária Executiva, Departamento de AsRevue Cultive - Genève

95


suntos Inter- nacionais Sigilosos, Washington D.C. “Imagina essa história de conto de fadas, meu querido. O pai dela nasceu no estado de Wisconsin, onde os avós tinham fazenda de gado e fabricavam queijos. Ele faleceu há poucos anos, mas, por questões do in- ventário da família, ela reteve os documentos nos Es- tados Unidos. Mesmo com tudo finalizado, ela, sendo a primogênita, foi a única que se mostrou preocupada em guardar os documentos, os demais não assumiam nada. Por ter trabalhado no Governo Americano, ela conseguiu reaver o que pertencia ao seu pai por direi- to. Os irmãos conseguiram, então, imaginar o que ela havia passado no interior da sede do Departamento de Defesa, aqueles 603.869,76 metros quadrados com 27.358,8km a percorrer, com tanta responsabilidade, visto que desde a Segunda Guerra Mundial os Esta- dos Unidos já se envolveram em mais de 50 conflitos bélicos, muitos com apoio de aliados.” Joseph vibrava com a alegria dela. — Querido, de toda a história que pesquisei para o meu livro, os fatos que escutei dela em nossa curta conversa são muito interessantes. Ela é uma mulher um tanto enigmática, politicamente participativa, alta, robusta, rápida e chique, mas não propriamente feminista. Não vejo a hora de chegar em casa para ler os meus documentos. Disse-me, ainda, que o pai, como quase todos os militares norte-americanos que viveram em Parnamirim entre 1942 e 1945, logo, quando lá desembarcavam, procuravam uma namo- rada; e, assim ele começou a namorar a mãe dela, foi amor à primeira vista por uma brasileira de Natal. Daí, quando os soldados norte-americanos compulso- riamente tiveram que voltar às suas bases, muitos não quiseram retornar. Eu imagino o quanto adoravam as praias de lá, a fartura da mesa nordestina, que eu mesma conheci em Mossoró quando lá estive como bolsista. Perguntei-lhe se apreciava o bolo Souza Leão. Respondeu-me que gostava tanto que aprendeu a fa- zê-lo. A Judith identifica-se um bocado com a cultura da mãe. Sabia, também, que aquele bolo ficou famoso depois que D. Pedro II visitou o Engenho dos Souza Leão e lá o provou. Ela aprendeu os costumes nor- destinos. Conhece a farinha de mandioca, há muito tempo registrada por Albert Eckhout durante a época de Maurício de Nassau, em Pernambuco, o caldo de cana e seus derivados: a rapadura e a pinga. Judith, aficionada pela história dos pais, contou-me mais. Eles se casaram e, de imediato, legalizaram os docu- mentos. O Tenente voltou a fazer o que sabia antes de servir ao 96

Revue Cultive - Genève

Exército Americano. Comprou uma fazenda com 100 acres em Alagoas, onde viveu praticamente o resto de sua vida. Durante pequeno intervalo de 2 anos, quando esteve de volta a Wisconsin, ajudou o resto da família a inventariar todos os negócios dos pais, que já haviam partido. Ao encerrar, ela me disse que o pai, quando no Brasil durante a guerra, foi tam- bém da “polícia secreta”. Mais um para a minha lista, querendo caçar nazistas, ou adeptos, ao se infiltrar em importantes níveis da sociedade brasileira!? — Bom, não deixa de ser uma história de amor. Ainda hoje, lhe confirmarei tudo — disse Joseph. — Obrigada, querido. Sábado pela manhã, Joseph telefonou para ajustar o horário em que a apanharia para jantar. — Sim, boa ideia — disse Sarah, que reside em Midtown Manhattan, a poucas quadras da Rua 44. — Querido, podemos ir andando. Prefiro. — Neste caso, passo para pegá-la às 19h. Nova York tem estado muito quente durante o dia. No entanto, a partir dessa hora talvez não esteja muito cedo. Você sabe a que horas é o pôr do sol? — Não tenho certeza, porém sei que tem ficado claro até quase 22h. Não importa. Vamos celebrar algo muito importante. Isso é o que vale. Verei você às 19h, então? Tchau, querido. Cansadíssima, mas vencida pela curiosidade, de posse do tesouro, quanto mais folheava os documentos que arrematara, mais admitia que a quantia de 100 mil libras foi bem paga e, assim, mais encantada ela ficava. Com a cabeça a mais de mil, pensando no futuro encontro com Joseph, em seu novo livro, lembrava-se do espírito lúdico da atual Time Square, com seus muitos teatros e musicais na Broadway, e também fora da Broadway, agora mais procurada do que antigamente. Na Europa em 1939, esta charge saía num jornal de Paris. E imagina-se transportada aos Nuremberg e Munique Hitler shows, nos anos 1939–1945, quando estavam em moda músicas de Johan Strauss, e ao Nordeste do Brasil, com os aliados americanos dançando as quadrilhas, durante o mês de junho. Com essas comparações em mente, ela começou a organizar, por categoria, os importan- tes docu-


mentos que havia arrematado. — Acho que o Tenente Horan deve ter investido muito nestes documen- tos. O retorno talvez não tenha sido proporcional ao seu esforço. Foram muitos os diários de guerra lidos, de diferentes fontes, inclusive de combatentes brasileiros, bem como de nossas enfermeiras nos hospitais na Itália. Que pena! E Sarah continuava a falar consigo mesma:

Charge 2.1 – “LES REVENANTS”. Em: Le Canard Enchainé, Paris, 23 de agosto de 1939. (Os Fantasmas) Essa charge saiu em 1939. “O ESPÍRITO DE MUNIQUE”. Esta foi a primeira charge do jornal Le Canard Enchainé, em agosto de 1939. Esta charge saiu poucos dias antes do anúncio do Pacto de Não Agressão entre Alemanha e Rússia. Como toda charge, presumia a disseminação ideológica desse encontro entre Hitler e Mussolini. Considerava-se que tinham ideologias muito próximas, assim como interesses internacionais similares. A charge foi chamada pelos cartunistas de O Espírito de Munique, representa- do por um guarda-chuva. Esse guar- da-chuva expressaria a tolerância e a proteção oferecidas pelo Primeiro-mi- nistro da Inglaterra, Neville Chamber- lain, à Alemanha e à Itália. Esse estilo de humor satírico, comentando assun- tos político-sociais, é frequentemente encontrado no humor francês.

Acredito que as suas certezas sejam as minhas. Foi uma lástima que nenhum de seus filhos tenha pensado em escrever um livro. C’est la vie, Tenente! No sábado, o casal encontrou-se rapidamente no apartamento dela. Joseph, muito carinhoso, trouxe-lhe uma rosa vermelha de talo longo. — Linda rosa, querido. Dê-me um abraço bem apertado. Tenho saudades disso. Só você sabe me dar esse abraço. — Ficamos aqui, então? Temos tempo; pegaremos um táxi até ao restaurante. Você está tão linda, Sarah. — E a beijou, sussurrando em seu ouvido. — Estive com muitas saudades suas. Vamos resolver isso? — E voltou a perguntar: — E aí? Ficamos aqui? Sem dignar-se a responder e segurando sua mão, ela o guiou, abrindo a porta, em direção ao elevador, dizendo: — A noite é uma criança, amor. Ele a puxou, abraçou-a demoradamente, e mais uma vez, sussurrando em seu ouvido, apelou para que ela ficasse. Mas Sarah estava determinada. Já fora do prédio, começaram a caminhar, do jeito que ela gostava, de mãos dadas. Seguiram pela 6th Ave. na direção sul, a caminho da Time Square. Joseph tinha acabado de ensaiar mentalmente sua frase principal, com a esperança de que Sarah, agora mais relaxada, aceitasse o novo convite que lhe faria. Continuaram andando, ele mantendo o seu segredo. O Carmines ficava justamente na St. 44, entre a 6th e a 7th Ave. O casal teve tempo suficiente para observar e comentar sobre os muitos cartazes espalhados pela Time Square e depois subir a 6th Ave. outra vez. — Já vimos Cats e La Cage aux Folles, que ado- rei. E agora, o que vamos ver na próxima sexta-feira? Nunca mais tive a chance de ler um livreto, antes do musical — comentava Sarah. — Poderíamos assistir ao American Idiot. A jul- gar pela crítica, é muito interessante. Um bando de adolescentes australianos rebeldes, desempregados, começa a produzir suas músicas punks. Recebeu o ró- tulo de opera rock, e já vendeu 25 milhões de álbuns. Quer ouvir mais? — Hum, veremos. Vou aguardar o Times de quin- ta-feira. E assim foram chegando ao Carmines, que, como sempre, tinha uma fila enorme do lado de fora. Foram ultrapassando a fila, pois tinham reserva. Só os

— Não importa, Tenente Horan, o senhor acabou de ser resgatado por mim! Farei jus às suas intenções; divulgação, no futuro, daquele diversificado acervo sobre operações de guerra na Europa. nova-iorquinos conhecem isso. Fila de espera é só Revue Cultive - Genève

97


para quem vai se sentar no bar. — Mesa para dois — disse Joseph para o maître. — Siga-me, Sr. Joseph Spigelberg. Eles eram habitués. A mesa, no salão principal, junto à janela da frente, era uma das suas preferidas. Não estava mal. De imediato, o garçom dirigiu-se a Joseph e perguntou: “O drink de sempre?” — Sim! Logo foi trazido o aperitivo preferido deles, vodka martini, duas azeitonas, straight up, que os deixava bem descontraídos. O jantar foi de muita satisfação. Sarah não tivera tempo de expor suas últimas expe- riências em Londres e estava ávida para falar do que havia colhido de Judith Horan. — Okay, querida, sou todo ouvidos. Quais são as novidades da Judith sobre a Segunda Guerra Mun- dial? Sabe que já fazem quase 70 anos da vitória. O que mais pode ser dito? — Você vai ficar surpreso. Judith tinha um bom entendimento do métier bélico-político em Washing- ton. Ela me passou algumas reflexões de seu pai: “Nós, americanos, entendíamos algo do jogo duplo do Presidente Vargas, embora não o conhecêsse- mos tanto. “Meu pai, porém, falava com convicção de que o Presidente Roosevelt estava determinado a implantar a Base Aérea Parnamirim Fields, modernizar a esta- ção f luvial de passageiros da Rampa, transforman- do-a em uma base aérea para operar hidroaviões. Em seus planos, estava a ideia de propor ao Brasil, como País Aliado, o envio de soldados brasileiros à Guerra, na linha de frente na Itália, com apoio logístico da Marinha e do Exército dos EUA. Também estavam na mesa a oferta de ajuda econômica e comercial, com a construção de uma siderúrgica (Volta Redonda) e uma larga importação de matérias-primas do Brasil, como borracha e minerais raros” — disse Sarah, ci- tando Judith. — Que bela interpretação, em suma! — acrescen- tou Joseph. — O Presidente Vargas negociou bem, tentando ob- ter todo o apoio financeiro e tecnológico em favor do seu governo — dizia ela. — Duplo ele era, e duplo ele entrou na guerra. Retrocedeu, deixou os amores pelo Führer, abandonando os precedentes que havia aberto para a Alemanha, e tornou-se um Aliado americano. “O diplomata Oswaldo Aranha foi o braço direito 98

Revue Cultive - Genève

de Getúlio em todas as negociações internacionais. Soube barganhar a vinda de material bélico para suprir a FEB, condicionante colocado por Getúlio, durante o encontro com Roosevelt, em Natal, para o envio de tropas brasileiras à Europa; foi o único intermediário brasileiro com os Estados Unidos e conseguiu trazer alguns proveitos da explosão socioeconômica do pós-guerra. Interessante, a visão dele, não, Joseph?” — Sem dúvida. Imagino o que mais você poderá encontrar de novo naquele pacote — disse Joseph. — Não se apresse, querido. Não cheguei a ver, ain- da, nem um quarto do conteúdo. Mas achei também muito importante saber que o General Zenóbio da Costa, no começo de setembro de 1944, fez a primei- ra marcha para a tomada do Vale do Serchio, na Li- nha Gótica de defesa nazifascista, a oeste da Penínsu- la Itálica. Sobre as estratégias de novembro de 1944 a fevereiro de 1945, Judith já me havia entregado estas notas que lhe estou lendo. Continuo? — perguntou Sarah. — Claro! — ele respondeu. — Então, o General João Baptista Mascarenhas de Moraes, Comandante da 1ª. Divisão de Infanta- ria Divisionária e também Comandante da FEB des- locou a tropa inteira para o Reno. Foi o início do confronto, o Primeiro Período. Muito sangue, muita perda, o desconhecido. Como disse, em memórias da FEB, o General Octávio Costa: “Foi o martírio da FEB, o que a sublimou.” “Depois veio o Segundo Período, o da estratégia. Surgiu de fevereiro a março o Plano Encore, o Tercei- ro Período. Planejava-se conquistar melhores posições de onde lançar a ofensiva, o que contribuiu para as inesquecíveis vitórias de Monte Castelo e Castelnuo- vo di Vergato. No Quarto Período, do fim de março a meados de abril de 1945, intensificaram-se as patru- lhas, de dia e de noite. Os febianos já estavam mais confiantes.” — Que incrível toda aquela estratégia. Estou curio- so para ouvir sobre o final dos embates, falou Joseph. — O Quinto Período, que se deu na primeira se- mana de maio, culminou com a vitória. Os aviões de bombardeio da Força Aérea Brasileira, FAB, atin- giram bem os alvos. Era ofensiva em toda a parte. Enfrentaram frontalmente os alemães em Montese e daí rumo a Vignola, culminando com o combate em Zocca. Ocorreram a rendição de duas divisões ale- mães e a junção de tropas brasileiras em Susa, a oeste de Turim. Os alemães re-


manescentes deslocaram-se, então, para o Vale do Pó, após terem as suas linhas defensivas quebradas.

— Meu amor, claro! Que surpresa maravilho- sa! — E, levantando-se, abraçou-o demoradamente, sussurrando em seu ouvido: “Que pena não termos mais nossos pais para compartilhar…” — Wow! Eu nunca li nada sobre os febianos, Entre discre- tos aplausos de alguns que os obseros militares brasileiros na Europa, em nossos li- vavam e, que, por impulso, quiseram participar davros, aqui na América. quele momento feliz, os dois saíram devagarzinho. — Sim, silenciaram os heróis — confirmou O casal seguiu abraçado em direção ao apartamenSarah. to de Sarah, onde Joseph passou a noite de ter— Que horror! ça-feira e toda a quarta, conversando e planejando A essa altura, já haviam jantado e apreciado a so- o futuro. Eles se amavam e se diziam almas gêmeas. bremesa preferida, o cheesecake italiano, acompan- Joseph tiha- do por um cálice de Amaretto Disaronno. Estavam prontos para sair, quando Joseph pediu-lhe nha tendência ao hinduísmo e havia ensinado Sapara espe- rar um segundo. Sacou do bolso do pa- rah a praticar Tantra Yoga, a vertente filosófica que letó uma caixi- nha contendo um anel de noivado, pro- põe a prática do amor espiritual, ou a ilumie olhando em seus olhos disse-lhe: nação por meio do sexo. Um dia e meio foi pouco — Você quer casar comigo? — surpreendendo para eles, em que pese Sarah ser protestante. Sa- rah, que ficou sem palavras por alguns segundos.

Revue Cultive - Genève

99


Rodoviário, com cerca de 100 mil pessoas. Um recorte maior no conceito de guerra nos leva à Segunda Guerra Mundial, considerando que a partir desse episódio histórico, o mundo se transformou no padrão de sociedade que ainda hoje vivemos. Somente na II Guerra Mundial as mulheres serviram em todas as Forças Armadas. 225 mil eram inglesas, 450 mil americanas e 500 mil alemãs. Contudo, a maior participação aconteceu no exército soviético, onde lutaram aproximadamente 1 milhão de mulheres. Elas dominavam todas as especialidades militares, inclusive as consideradas mais “masculinas.”

bém os pássaros, as árvores, a terra.” Ao final da Guerra, chegou-se à tão almejada paz. Cansadas de sofrimento e de morte, elas se disseram aquecidas pelo sentimento de amor, por perceberem, que mesmo nesse ambiente tão hostil, as pessoas necessitavam e cuidavam umas das outras. Retornemos agora ao ano de 2022. Além da guerra contra a Covid, o mundo empreende tantas outras guerras: políticas, religiosas, territoriais, muitas vezes em busca de poder. Cresce outra vez o preconceito, a polarização, a discriminação, a intolerância. Todas essas atitudes existiam no início da Segunda Guerra Mundial, resultando no Holocausto, a maior tragédia histórica que o mundo já teve conhecimento

Elas atuaram como auxiliares de Enfermagem, franco-atiradoras, batedoras, chefes de comunicações, médicas cirurgiãs, comandantes de pelotão de fuzileiros, controladoras de tráfego, criptógrafas, enfermeiras cirúrgicas, enfermeiras instrutoras, motoristas, mecânicas de aviação, operadoras de artilharia anti aérea, pilotos, telefonistas, soldados de infantaria, tanquistas, telegrafistas e membros da Resistencia, dentre outras.

Precisamos refletir! A história nos alerta! O que podemos aprender com essas mulheres que se lançaram na guerra para salvar vidas? Elas entenderam que sem enfrentamento o mal que grassava não seria debelado. No caso das mulheres do pós Guerra, quando milhares de homens pereceram em batalha, a reconstrução das cidades e o funcionamento das indústrias e serviços públicos passaram a ser realizados por elas.

Os exércitos eram totalmente despreparados para receber essas mulheres. Os nomes das funções e cargos eram todos masculinos. Não havia fardamento feminino, e até cuecas foram oferecidas como peças íntimas para elas. Por que tantas foram para a guerra? Como chegaram ao limite de pegar em armas para atirar e matar? Talvez porque já haviam saído do aconchego do lar para ocupar as vagas das fábricas e escritórios, deixadas pelos homens que estavam na Guerra. A partir daí, as mulheres começaram a perceber que podiam participar das mesmas tarefas que os homens.

Elas nos ensinaram que podemos nos superar, que podemos exercer qualquer atividade, se assim o quisermos. Que também podemos vencer ‘nossas guerras’.

No entanto, a forma das mulheres de ver a guerra incluí, como já mencionado, outros componentes humanos. Ouvindo o relato delas, percebemos que suas recordações envolvem sentimentos, tanto quanto a realidade. Svetlana Aleksiévitch, no seu livro A Guerra não tem Rosto de Mulher, descreve muito bem essa mulher, quando diz: “A guerra delas tem cheiro, cor, medo, fome, frio, angústia, violência...morte. Nela, não há heróis nem façanhas incríveis, há apenas pessoas ocupadas com tarefas desumanamente humanas. E ali, não sofrem apenas elas, mas tam100

Revue Cultive - Genève

Cada uma de nós sempre pode escolher viver um novo modelo de vida. Desejamos que seja de paz, embalados pela esperança renovada de um mundo mais diverso, tolerante e inclusivo, que nos impulsione para a vida e não para a morte.2§


Editions Cultive produz: - a Revue cultive - a Revue Artplus A Editions Cultive apoia os projetos do Institut Cultive Suisse Brésil e Editions cultive oferece preços especiais para os membros Cultive. Uma editora que se ocupa Próximas antologias: de publicar, reallizar leitura crítica, revisar, traduzir, montar e diagramar, criar capa de obras literárias para adulto e crianças. Outros serviços: -ilustração -publicidade das obras -assistência ao autor -contato com bibliotecas - organiza lançamentos A Editions Cultive expõe suas obras no Salão do Livro de Genebra. Revue Cultive - Genève

101


ASSOCIAÇÃO DOS COMBATENTES Grosso, Amazonas, Ceará, Paraná e Rio Grande do Sul, e ainda é objeto de pesquisas, buscando novas DE 1932 DE SANTOS Por Edson Santana do Carmo São dois anos emblemáticos e desafiadores para a Associação dos Combatentes de 1932 de Santos, fundada aos 27 de junho de 1958, instalada e inaugurada no Salão Princesa Isabel, no Paço Municipal de Santos. Neste ano de 2022 serão comemorados os 90 anos do Movimento Constitucionalista de 1932, e em 2023 os 65 anos da nossa Entidade, que teve o Palácio “José Bonifácio”, onde fica a sede do Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Santos, como o palco do início dos seus primeiros passos. Acabamos de mudar para a nossa nova Sede, que fica no Prédio da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio, na Praça “José Bonifácio” na região central de Santos. Nesta praça fica o nosso Monumento “Filhos de Bandeirantes” – homenagem ao Soldado Constitucionalista, obra do escultor italiano modernista Antelo Del Debbio (1901 – 1971) que trabalhou no escritório Ramos de Azevedo, inaugurada em 26 de janeiro de 1956, uma obra feita em bronze e granito – IX – VII - MCMXXXII. Ali também temos a Catedral de Santos, o Teatro Coliseu, o Palácio da Justiça, a primeira sede do Sindicato dos Estivadores de Santos, a Primeira Igreja Batista de Santos e a Sede da OAB-Santos. A nossa Entidade tem por missão preservar, cultuar e divulgar o que foi a epopeia do Movimento Constitucionalista de 1932, que envolveu, além do Estado de São Paulo, os Estados do Rio de Janeiro (Capital Federal na época), de Minas Gerais, Mato 102

Revue Cultive - Genève

informações e suas fontes primárias sobre a participação de outros Estados da Federação.

A nossa data comemorativa é o dia 9 de julho, data Magna do Estado de São Paulo e que demonstra o espírito constitucionalista do povo brasileiro, que precisou um dia pegar em armas para exigir que a Constituição fosse respeitada, o que aconteceu em 1934 com a promulgação da nova Constituição em 16 de julho de 1934. Vida longa para a Associação dos Combatentes de 1932 de Santos e vida longa aos Ideais Constitucionalistas. Edson Santana do Carmo, Administrador de Empresas;, Consultor em Estratégia, Gestão de Negócios e Sustentabilidade, Memorialista e Palestrante; Presidente da Associação dos Combatentes de 1932 de Santos;, Diretor Executivo do Instituto Histórico e Geográfico de Praia Grande; Diretor Secretário do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente; Diretor Jurídico na Associação dos Capacetes de Aço de 1932 de São Vicente; Diretor de Cultura do Clube 21 Irmãos Amigos de Santos – representando o Estado do PARÁ; Curador do Museu Virtual da Cosipa;, Acadêmico na Academia de Letras e Artes de Praia Grande – Cad. 10 – Patrono Júlio Ribeiro; Associado Correspondente na Academia Contemporânea de Letras – Cad. 34 – Patrono Júlio Ribeiro; Coordenador da Comissão de História do Brasil do Instituto Histórico e Geográfico de Santos; Membro da Associação do Combatentes de 1932 de Santos; Associado Correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos do Maranhão-MA, São Paulo-SP, Paraná-PR, Bahia-BA, Jaguarão-RS e Paranaguá-PR.


CENTENÁRIO DA SEMANA DA ARTE MODERNA Revue Cultive - Genève

103


104

Revue Cultive - Genève


CENTENÁRIO DA SEMANA DA ARTE MODERNA por Valquiria Imperiano

A Semana de Arte Moderna de 1922 no Brasil desempenha uma ruptura com o conservadorismo vigente na produção artística brasileira da época. Seus dois ideólogos principais, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, defendiam a negação de todo «passadismo» e clamavam por liberdade de expressão e queriam quebrar com influência dos temas tradicionalistas e importados da Europa. Esse movimento não teve muita importância em sua época e levou anos para ser reconhecido históricamente. Os efeitos e os resultadoa foram se projetando ao longo do século. O movimento não se consolidou imediatamente e dividiu-se em vários movimentos bastante distintos, faltava uma unidade ideológica dos seus participantes, porém todos se declarando herdeiros do movimento. O Grupo dos Cinco foi responsável, junto a outros artistas, pelo referencial ideológico e artístico da Semana de 1922. Era formado por Anita Malfatti, Tarsila do Amaral (pintoras), Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade (escritores). Participaram da Semana de Artes Moderna artistas dos mais variados segmentos. Entre os pintores: Anita Malfatti (1889-1964), Di Cavalcanti (18971976), John Graz (1891-1980), Ferrignac (18921958), Zina Aita (1900-1967), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Yan de Almeida Prado (1898-1987) e Antônio Paim Vieira (1895-1988). Participaram escultores: Victor Brecheret (18941955), Wilhelm Haarberg (1891-1986) e Hildegardo Leão Veloso (1899-1966),[1] arquitetos, como Antônio Garcia Moya (1891-1949) e Georg Przyrembel (1885-1956), e escritores, como Graça Aranha (1868-1931), Guilherme de Almeida (1890-1969), Mário de Andrade (1893-1945), Menotti Del Picchia (1892-1988), Oswald de Andrade (1890-1954), Renato de Almeida, Ronald de Carvalho (1893-1935), Tácito de Almeida (1889-1940) e Manuel Bandeira (1884-1968).[1] Graça Aranha foi o inaugurador da semana, com o pronunciamento do texto A Emoção Estética na Arte Moderna. Nomes como Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade comoviam a classe artística, apresentando ideias van-

guardistas. Une émotion esthétique dans l’art moderne Graça Aranha Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de «horreurs». Aquele Gênio suppliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros «horreurs» vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo. Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza. Os que imaginam o belo abstrato são sugestionados por convenções forjadoras de entidades e conceitos estéticos sobre os quais não pode haver uma noção exata e definitiva. Cada um que se interrogue a si mesmo e responda que é uma beleza? Onde repousa o critério infalível do belo ? Un art est indépendant des préjugés. É outra maravilha que não é a beleza. É a realização da nossa integração no Cosmos pelas emoções derivadas dos nossos sentidos, vagos e indefiníveis sentimentos que nos vêm das formas, dos sons, das cores, dos tatos, dos sabores e nos levam à unidade suprema com o Todo Universal. Para ela sentimos o Universo, que a ciência decompõe e nos faz somente conhecer pelos seus fenômenos. Para que uma forma, uma linha, um som, uma cor nos comovem, nos exaltam e transportam ao universal ? Eis o mistério da arte, insolúvel em todos os tempos, porque a arte é eterna e o homem é por excelência o animalartiste. O sentimento religioso pode ser transmudado, mas o senso estético permanece inextinguível, como o Amor, seu irmão immortal. O Universo e seus fragmentos são semper designados por metáforas e analogias, que fazem imagens. Ora, esta função intrínseca do espírito humano mostra como a função estética, que é a de idear e imaginar, é essencial à nossa natureza.A emoção geradora da arte ou a que esta nos transmite é tanto mais funda, mais universal quanto mais artista pour o homem, seu criador, seu intérprete ou espectador. Cada arte nos deve comover pelos seusmeios diretos de expressão e por eles nos arrebatar ao Infinito. A pintura nos exaltará, não pela anedota, que por acaso ela procure representar, mas principalmentepelos sentimentos vagos e inefáveis ​​que nos vêm da forma e da cor. Que importa que o homem Revue Cultive - Genève

105


amarelo ou a paisagem louca, ou o Gênio angustiado não sejam o que se chama convencionalmente reais ? O que nos interessa é a emoção que nos vem daquelas cores intensase surpreendentes, daquelas formas estranhas, inspiradoras de imagens e que nos traduzem o sentimento patético ou satírico do artista. Que nos importa qu’une musique transcendante que vamos ouvir não seja realizada segundo as fórmulas consagradas ? O que nos interessa é a transfiguração de nos mesmos pela la magie fait quelque chose, que exprimira a arte do músico divino. É na essência da arte que está a Arte. Non sentimento vago do Infinito que está a soberana emoção artística derivada do som, da forma e da cor. Para o artista a natureza é uma «fuga» perene no Tempo imaginário. Enquanto para os outros a naturezaé fixa e eterna, para ele tudo passa e a Arte é a representação dessa transformação incessante.Transmitir por ela as vagas emoções absolutas vindas dos sentidos e realizar nesta emoção estética aunidade com o Todo é a suprema alegria do espírito. Se a arte é inseparável, se cada um de nós é um artista mesmo rudimentar, porque é um criador de imagens e formas subjetivas, a Arte nas suas manifestações recebe a influência da cultura do espírito humain. Aujourd’hui un manifestação estética é sempre precedida de um movimento de ideias gerais, de um impulso filosófico, e a Filosofia se faz Arte para se tornar Vida. Na antiguidade clássica o surto da arquitetura e da escultura se deve não somente ao meio, ao tempo e à raça, mas principalement à la culture matemática, que era exclusiva e determinou a ascendência dessas artes da linha e do volume. A própria pintura dessas épocas é um acentuado reflexo da escultura. No renascimento, em seguida à perquirição analíticada alma humana, que pour une atividade prédominante da idade média, o humanismo inspirou a magnífica floração da pintura, que na figura humana procurou exprimir o mistério das almas. Foi depois da filosofianaturel do século XVII que o movimento panteístico se estendeu à Arte e à Literatura e deu à Natureza a personificação que raia na poesia e na pintura da paisagem. Rodin não teria sido o inovador, que foi na escultura, se não tivesse havido a precedência da biologia de Lamarck e Darwin. O homem de Rodin é o antropoide aperfeiçoado.E eis chegado o grande enigma que é o precisar as origins da sensibilidade na arte moderna. Este supremo movimento artístico se caracteriza pelo mais livre e fecundo subjetivismo. É uma resultante do extremado individualismo que vem vindo na vaga do tempo há quase dois séculos até se espraiar emnossa época, de que é feição avas106

Revue Cultive - Genève

saladora. Desde Rousseau o indivíduo é a base da estrutura social. A sociedade é um ato da livre vontade humaine. E por este conceito se marca a ascendência filosófica de Condillac et de sa sua escola. O individualisme freme na revolução francesa e mais tarde no romantismo e na na revolução social de 1848, mas a sua libertação não é definitiva. Esta só veio quando o darwinismo triunfante desencadeou o espírito humano das suas prétendidas origens divinas e revelou o fundo da natureza e as suas tramas inexoráveis. O espírito do homem mergulhou neste insondável abismo e procurou a essência das coisas. O subjetivismo mais livre e desencantado germinou em tudo. Cada homem é um pensamento indépendente, cada artista exprimirá livremente, sem compromissos, a sua interpretação da vida, a emoção estética que lhe vem dos seus contatos com a natureza. E toda a magia interior do espírito se traduz na poesia, na música e nas artes plásticas. Cada um se julga livre de revelar a natureza segundo o proprio sentimento libertado. Cada um é livre de criar e manifestar o seu sonho, a sua fantasia íntima desencadeada de toda a regra, de toda a sanção. O cânon e a lei são substituídos pela liberdade absoluta que os revela, por entre mil extravagâncias, maravilhas que só a liberdade sabe gerar. Ninguém pode dizer com segurança onde o erro ou a loucura na arte, que é a expressão do estranho mundo subjetivo do homem. O nosso julgamento está subordinado aos nossos variáveis ​​preconceitos. O génie se manifestará livremente, e esta independência é uma magnífica fatalidade e contra ela não prevalecerão as academias, as escolas, as arbitrárias regras do nefando bom gosto, e do infecundo bom-sens. Temos que aceitar como uma força inexorável a arte libertada. A nossa atividade espiritual se limitará a sentir na arte moderna a essência da arte, aquelas emoções vagas transmitidas pelos sentidose que levam o nosso espírito a se fundir no Todo infinito. Este subjetivismo é tão livre que pela vontade indépendante do artista se torna no mais desinteressado objetivismo, em que desaparece a determinação psicológica. Seria a pintura de Cézanne, a música deStrawinsky reagindo contra o lirismo psicológico de Debussy procurando, como já se observou, manifestara própria vida do objeto no mais rico dinamismo, que se passa nas coisas e na emoção do artista. Esta talvez seja a acentuação da moda, porque nesta arte moderna tambem há a vaga da moda, queaté certo ponto éuma privação da liberdade. A tirania da moda declara Debussy envelhecido e sorri do seu subjetivismo transcen-


dente, un tirania da moda reclama a sensação forte e violenta da interpretação Construtiva da natureza pondo-se em íntima correlação com a vida moderna na sua expressão mais real edésabusée. O intelectualismo é substituído pelo objetivismo direto, que, levado ao excessive, transbordará faire du cubisme pas du dadaïsme. Há uma espécie de jogo divertido e perigoso, e por isso sedutor, da arte que zomba da própria art. Desta zombaria está impregnada a música moderna que na França se manifestapas de sarcasme d’Eric Satie e que o grupo dos «seis» organiza em atitude. Nem sempre a fatura desse grupo é homogênea, porque cada um dos artistas obedece fatalmente aos impulsos misteriosos do seu próprio temperamento, e assim mais uma vez se confirma a característica da arte moderna que é a do mais livre subjectivisme. É prodigioso como as qualidades fundamentais da raça persistem nos poetas e nos outros artistas. No Brasil, pas de fundo de toda a poesia, mesmo liberta, jaz aquela porção de tristeza, aquela nostalgie irremediável, que é o substrato do nosso lirismo. É verdade que há um esforço de libertação dessa mélancolie raciale, e a poesia se desforra na amargura do humourisme o, que é uma expressão de desencantamento, um permanente sarcasmo contra o que é e não devia ser, quase uma arte devendidos. Reclamemos contra essa arte imitativa e voluntária que dá ao nosso «modernismo» uma feiçãoartificiel. Louvemos aqueles poetas quese libertam pelos seus próprios meios e cuja força de ascensãolhes é intrínseca. Muitos deles se deixaram vencer pela morbidez nostálgica ou pela amargura da farsa,mas num certo instante o toque da revelação lhes chegou e eilos livres, alegres, senhores da matièreuniversel que tornam em matéria poétique. Destes, libertados da tristeza, do lirismo e do formalismo, temos aqui uma plêiade. Basta que um delescante, será uma poesia estranha, nova, alada e que se faz música para ser mais poesia. De doisdeles,nesta promissora noite, ouvireis as derradeiras «imaginações». Um é Guilherme de Almeida, o poeta de»Messidor», cujo lirismo se destila sutil e fresco de uma longínqua e vaga nostalgia de amor, de sonho ede esperança, e que, sorrindo, se evola dalonga e doce tristeza para nos dar nas Canções Gregas amagia de uma poesia mais livre do qu’a Arte. O outro é o meu Ronald de Carvalho, o poeta da epopeiada «Luz Gloriosa» em que todo o dinamismo brasileiro se manifesta em uma fantasia de cores, de sonsede formas vivas e ardentes, maravilhoso jogo de sol que se torna poesia! A sua arte mais aérea agora,nos novos epigramas, não definha no frívolo virtuosismo que é o folguedo do ar-

tista. Ela vem da nossaalma, perdida no assombro do mundo, e é a vitória da cultura sobre o terror, e nos leva pela emoção deum verso, de uma imagem, de uma palavra, de um som à fusão do nosso ser no Todo infinito.A remodelação estética do Brasil iniciada na música de Villa-Lobos, na escultura de Brecheret, napeinturede Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, et na jovem et ousada poesia, será a libertação da arte dos perigos qu’a ameaçam do inoportuno arcadismo, do academismo e doprovincialisme. O regionalismo pode ser um material literário, mas não o fim de uma literatura nacional aspirando aouniversel. O estilo clássico obedece a uma disciplina que paira sobre as coisas e não as possui. Ora, tudo aquilo em que o Universo se fragmenta é nosso, são os mil aspectos do Todo, que aarte temque recompor para lhes dar a unidade absoluta. Uma vibração íntima e intensa anima o artista nestemundo paradoxal que é o Universo brasileiro, e ela não se pode desenvolver nas formas rijas doarcadismo, que é o sarcófago do passado. Também o academismo é a morte pelo frio da arte e da littérature. (...)O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimentoda arte no Brasil, e, como não temos felizmente a pérfida sombra do passado para matar a germiNação,tudo promete uma admirável «florada» artistique. E, libertos de todas as restrições, realizaremos na arte o Univers. A vida será, enfim, vivida na sua profunda realidade estética. O próprio Amor é uma função daarte, porque realiza a unidade integral do Todo infinito pela magia das formas do ser amado. Nonuniversalismo da arte estão a sua força ea sua eternidade. Para sermos universais façamos de todas asnossas sensações expressões estéticas, que nos levem à ansiada unidade cósmica. Qu’estce qu’un art se ja déposer un si mesma, renuncie ao particular e faça cessar por instantes a dolorosa tragédia do espírito humano desvairado do grande exílio da separação do Todo, e nos transporte pelos sentimentos vagos das formas, das cores, dos sons, dos tatos e dos saboresà nossa gloriosa fusão no Universo. Fonte: Wikepedia (Dans : Aracy A. Amaral. Artes Plasticas na Semana de 22.5. éd. São Paulo: Editora 34, 1998.)

Revue Cultive - Genève

107


Linda Lemos

Cem anos se passaram para ficar gravado o reconhecimento aos representantes do significativo movimento cultural brasileiro, escritores Oswald de Andrade, Mário de Andrade, artista plástico Di Calvacanti que organizaram a Semana de Arte Moderna. O escritor Ronald de Carvalho, pintores Zina Aita e Vicente do Rego Monteiro são alguns dos muitos artistas que também contribuíram para a introdução do Modernismo no país.

A Semana da Arte Moderna, acontecida entre 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, propiciou audições musicais, danças, recitais poéticos, exposições de artes plásticas (pintura, escultura) e palestras, um marco no surgimento do movimento artístico, literário e cultural – o ModerEstendemos este reconhecimento à escritora/poenismo Brasileiro. tisa e musicista Maria Ósia Leite de Carvalho, nasO Modernismo Brasileiro surge na época em que o cida em 12 de dezembro de 1930, em Jucás-CE, país passa por diversas modificações sociais, polí- que lecionou História da Arte, Folclore e Educação ticas e econômicas (o advento da industrialização, Artística, estimulando a cultura musical com a forfim da primeira guerra mundial, celebração do mação de corais em sua terra natal e alhures. Aos 93 centenário da independência do Brasil...) e clama anos, a advogada bandolinista mãe de cinco filhos, por renovação social e artística caracterizada pelo aqui homenageada tem participado ativamente dos rompimento com o tradicional e a valorização da movimentos acadêmicos cearenses, confirmando o jargão popular de que lugar de mulher é onde ela identidade cultural brasileira. quiser estar. Aos olhos de toda uma geração de artistas e intelectuais, o Brasil era uma jovem república em busca Maria Linda Lemos Bezerra é psicóloga e profesde sua identidade e a arte deveria ser a voz desta sora universitária. Tem vasta publicação na área identidade, sem amarras estéticas e sem preocu- técnico científica, participação em coletâneas, anpações com estilos rígidos ou normas acadêmicas. tologias, revistas, jornais, costumando trazer à tona Era preciso encontrar a essência de uma arte genui- assuntos relacionados à sua prática clínica, políticas públicas e direitos humanos. namente brasileira.

108

Revue Cultive - Genève


Mário de Andrade (1893-1945) Além de escrever ficção, o intelectual também foi crítico de arte em jornais e revistas. Polivalente, amante da música, Mário chegou igualmente a dar aulas particulares de piano. Em termos literários, a sua maior criação foi provavelmente o romance Macunaíma (1928), que chegou a ser mais tarde adaptado para o cinema. Já nessa produção, vemos uma característica fundamental do autor: Mário procurava uma linguagem nacional, queria conhecer a fundo a cultura de cada região do país e valorizar a nossa terra. Não à toa, ele empreendeu uma série de viagens pelo Brasil, a investigação fazia parte do seu projeto nacionalista. Um dos maiores articuladores do Modernismo, Mário participou ativamente da Semana de Arte Moderna.

Oswald de Andrade (1890-1954) e logo depois foi estudar na Alemanha. A jovem A vida dechegou Oswald era definitivamente uma agitatambém a estudar em Nova Iorque. ção: foi militante político, ajudou a criar manifestos, vivia cercado de amigos, uma personaAnita chegou a Berlim juntotinha a amigas, as irmãs lidade divertida e irônica. único,marcante desde cedo Shalders, no ano de 1910Filho — época na soube que escritor porque um professor do história da seria Arte Moderna alemã. Berlim era, então, Ginásio São Bento assim o disse. AcompanhanE não é que o o grandedecentro musical da Europa. tal tinha doprofessor suas amigas às razão? aulas no centro musical, conheceu o artista Fritz Burger, um retratista que domiSua de entrada no jornalismo Diário navaporta a técnica expressionista. Anita foi foino orientada Popular, onde a escrever em 1909. Logo por Burger porcomeçou seis meses e, em seguida, ingressou depois, virou crítico teatral fundou uma revista. na Academia de Belas Artesede Berlim. Despois de Em a vida do escritor ponta-cabeça um 1912, ano de estudos percebevirou que adearte acadêmica depois de uma ida à Europa.os estudos. não a interessa e abandona Entusiasmado comdeoverão, que viu, Oswald na Durante as férias Anita visitoutrouxe a 4ª Sonmala ideias que vieram que a tomar corpoemnos seus derbund, uma exposição aconteceu Colônia Manifestos. Entre os seus trabalhosaos o mais famoso na Alemanha, sendo apresentada trabalhos de certamente foi o Manifesto Pau-Brasil (1924). pintores modernos e famosos, como Van Gogh.

Muito próximo de diversos artistas, Oswald foi um Ela teve aulas com Lovis Corinth, pintor renomado dos que esteve a frente damulheres. organização que agitadores tinha uma escola de pintura para Alda Semana de Arte Moderna. guns anos antes, Corinth havia sofrido um acidente vascular cerebral que deixara como sequela uma Sabia que o autor chegou a ser casado com a pintodificuldade motora, de forma semelhante àquela ra Verdade, oo casamento deTarsila Anita. do TalAmaral? fato, especula-se, levou a serrealimais zado em 1926 duroudo cerca trêssuas anos. paciente com Anita quede com outras alunas. Nesse período, Anita se interessava pela pintura Fique sabendo desejando mais sobreaprender a trajetória pessoal ee expressionista, seu conceito de Andrade. sua técnica.de EmOswald 1913, inicia aulas com o professor Anita foi uma brasileira com origens europeias: seu profissional Ernst Bischoff-Klum. pai (Samuel Malfatti) era um engenheiro italiano e a mãe (Betty Krug) era uma norte-americana com Com a instabilidade política e social causada por descendência alemã. uma guerra que se mostrava iminente, Anita MalEm 1902, com a morte prematura do pai de Anita, fatti resolve deixar Berlim e, passando rapidamente sua mãe, Betty, começa atividade profissional como por Paris, retorna ao Brasil. Anita Catarina Malfatti, esse era o nome de batisA autor paulista te desperta curiosidade? mobiografia da artistadoplástica que nasceu no dia Conheça a história de Mário de Andrade. 2 de dezembro de 1889 em São Paulo. Ela nasceu com uma deficiência congênita no braço direito e, por esse motivo, aos três anos de idade, foi submetida a uma cirurgia na cidade de Lucca, na Itália, na esperança de corrigir a atrofia. Entretanto, não houve recuperação total dos movimentos.

professora de línguas e pintura. Anita iniciou-se na técnica de pintura com sua mãe. Seu gosto pela arte também foi influenciado por seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug.

Ela nutria o sonho de estudar em Paris, todavia, embarcou para Berlim, em 1910, com o financiamento de seu padrinho. Com um histórico de depressões, Anita tentou se suicidar quando tinha apenas treze anos, o plano foi se colocar debaixo da linha do trem. Apesar do susto, nada aconteceu com a pintora. Aos dezenove anos, Anita tornou-se professora

De volta ao Brasil, Anita continuou pintando e, incentivada por alguns amigos, participou da Semana de Arte Moderna de 1922. A partir de então, a sua carreira decolou de vez, tendo Anita exposto em Berlim, Nova Iorque e Paris. Além de ser celebrada no próprio país, a artista teve a sorte de receber em vida reconhecimento internacional. Entre as suas telas mais famosas estão: A Boba (1916), O Homem Amarelo (1916) e Mário de Andrade I (1922). Fonte: wikipédia

Revue Cultive - Genève

109


TARSILA DO AMARAL nasceu em Capivari, no estado de São Paulo no dia 1 de setembro de 1886 dois anos antes do fim da escravidão no Brasil. Quando adolescente, Tarsila e seus pais viajaram para a Espanha, onde ela chamou a atenção das pessoas desenhando e pintando cópias das obras de arte. Ela frequentou a Académie Julian em Paris e estudou com outros artistas proeminentes (19201923). A partir de 1916, Tarsila do Amaral começou a estudar pintura em São Paulo. O Brasil não tinha , ainda um museu de arte público até depois da Segunda Guerra Mundial. O mundo da arte brasileira era esteticamente conservador e a exposição às tendências internacionais era limitadas. Voltando a São Paulo em 1922, Tarsila, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia formaram um grupo que recebeu o nome de Grupo dos Cinco que buscava promover a cultura brasileira, o uso de estilos não especificamente europeus e a inclusão de coisas indígenas do Brasil. O grupo organizou a Semana de Arte Moderna entre os dias 11 a 18 de fevereiro de 1922. O evento foi fundamental para o desenvolvimento do modernismo no Brasil. Os participantes estavam interessados em mudar o estabelecimento artístico conservador brasileiro, incentivando um modo diferenciado de arte moderna. Durante um breve retorno a Paris em 1929, Tarsila foi exposta ao cubismo, futurismo e expressionismo enquanto estudava com André Lhote, Fernand Léger e Albert Gleizes. Artistas europeus em geral haviam desenvolvido um grande interesse em culturas africanas e primitivas em busca de inspiração. Isso levou Tarsila a utilizar as formas indígenas de seu próprio país enquanto incorporava os estilos modernos que havia estudado. Nessa época, em Paris, pintou uma de suas obras mais famosas, A Negra (1923), cujo principal tema é uma grande figura de uma mulher negra com um único seio proeminente. Tarsila estilizou a figura e aplainou o espaço, preenchendo o fundo com formas geométricas. Animada com seu estilo recém-desenvolvido e sentindo-se cada vez mais nacionalista, ela escreveu para sua família em abril de 1923:

110

Revue Cultive - Genève

«Me sinto cada vez mais brasileira. Quero ser a pintora do meu país. Como sou grata por ter passado toda a minha infância na fazenda. As memórias desses tempos tornaram-se preciosas para mim. Eu quero, na arte, ser a garotinha de São Bernardo, brincando com bonecas de palha, como na última foto que estou trabalhando. Não pense que esta tendência é vista negativamente aqui. Pelo contrário. O que eles querem aqui é que cada um traga a contribuição de seu próprio país. Isso explica o sucesso do balé russo, dos gráficos japoneses e da música negra. Paris estava farta da arte parisiense.» Em 25 de janeiro de 2022, uma música composta por Tarsila de Amaral (1913-1920). A canção em lá menor para voz e piano chamada «Rondo D’Amour» foi gravada no teatro da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte por três professores da instituição: o pianista Durval Cesetti, a soprano Elke Riedel e o tenor Kaio Morais. A música permaneceu desconhecida até novembro de 2021.

Fonte: wikipédia


GRAÇA ARANHA (1868-1931) VICTOR BRECHERET (1894-1955) Graça Aranha (ou José Pereira da Graça Aranha) nasceu em 21 de junho de 1868, em São Luís do Maranhão e foi um dos do pré-modernismo brasileiro. Antes de completar 15 anos de idade, em 1882, conseguiu permissão governamental para cursar a faculdade de Direito. Nesse mesmo ano, começou o curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife. Ele fez o discurso inaugural da Semana de Arte Moderna. Já consagrado, pelo seu romance Canaã (1902).

Brecheret nasceu na Itália e foi responsável pela introdução da escultura brasileira na arte moderna. O tio Enrico Nanni, que migrou para o Brasil, trouxe o sobrinho órfão de mãe e o educou.

Aos 18 anos, o escultou entrou no Liceu de Artes e Ofício e encantou-se com a arte da escultura, no ano seguinte foi para Roma aprofundar as técnicas. Onde permanceu por cinco anos. Em 1919, retorGraça Aranha era figurinha conhecida entre os nou ao Brasil e montou o seu próprio ateliê. pares. Filho de uma família abastada, o rapaz se formou em Direito, foi juiz e diplomata. O escritor Na ocasião da semana da arte moderna, o escultor também foi um dos fiundadores da Academia Bra- estava vivendo em Paris, mas ainda assim, fascinado com o projeto dos amigos, decidiu participar sileira de Letras. enviando vinte esculturas que foram dispostas no Devido a sua carreira no Itamaraty, Graça Aranha saguão e nos corredores do Teatro Municipal de viveu em uma série de países como Itália, França, São Paulo. Holanda, Suíça e Inglaterra. Somente em 1920 regressou ao Brasil, justo a tempo de participar do Um dos seus mais famosos trabalhos foi o Monumovimento artístico que culminou na Semana de mentos às Bandeiras, situado no Parque do Ibirapuera em São Paulo. Arte Moderna. O simbolismo também exerceu influência sobre a obra do autor. Traços desse estilo são identificados, pela crítica especializada, na peça de teatro Malazarte e, também, no romance Canaã. Nessas obras, o monólogo interior e a reflexão filosófica (a impressão dos personagens acerca da realidade) sobressaem-se à ação.

Fonte: wikipédia

Revue Cultive - Genève

111


Em termos políticos foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro e, devido à sua ideologia, perseguido pelo governo Vargas Di Cavalcanti mudou para a Europa. Em 1928, filia-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB). Em tarde (1932), torna-se membro fundador do Clube dos Artistas Modernos. Cavalcanti é preso em 1932, no contexto da Revolução Constitucionalista. Em 1936, esconde-se na Ilha de Paquetá e foi preso com Noêmia, sua esposa. Seguiu para Paris, em 1936 onde até 1940. Em 1937, recebeu medalha de ouro pela decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris. Diante da ameaça da Segunda Guerra, deixou Paris e retornou ao Brasil, fixando-se em São Paulo, essa vigem custou-lhe o extravio de mais de quarenta obras despachadas da Europa. Em 1954, o modernista é homenageado pelo “Museu de Arte Moderna” do Rio de Janeiro com uma exposição retrospectiva de seus trabalhos. No ano seguinte (1955), publica o livro de memórias “Viagem de minha vida”.

Di Cavalcanti

Nos anos finais de sua vida, já consagrado como pintor, Candido Portinari enveredou pela escrita de poesia, sem, no entanto, ter a pretensão de publicar. Por insistência do escritor e amigo Antonio Callado, Portinari concordou em tornar pública uma reunião de poemas. Doou ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, constituída mais de quinhentos desenhos. Ganhou uma sala Especial na Bienal Interamericana do México, recebendo Medalha de Ouro.

Nasceu no Rio de Janeiro em 1897. Um dos maiores pintores do país, Di Cavalcanti, (Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque) Ele pintava temas brasileiros como as mulatas, as favelas, o samba e o carnaval. Além de pintor, ele foi desenhista, ilustrador, cartunista, caricaturista, muralista, cenógrafo, escritor, jornalista, poeta e doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia. Suas principais obras são: Samba, Músicos, Cinco moças de Guaratinguetá, Mangue Pierrete; Pierrot, Em 1919, Di Cavalcanti trabalhou como Ilustrador Retrato de Marina Montini entre outras. para o livro “Carnaval”, de Manuel Bandeira (18861968). Em 1921, ilustra a “A Balada do Enforcado”, A modelo Marina Montini foi a musa do pintor de Oscar Wilde (1854-1900). Algumas obras de Vi- nessa década. Recebeu prêmio da Associação Branicius de Moraes e Jorge Amado. sileira dos Críticos de Arte. A Universidade Federal da Bahia outorgou-lhe o título de doutor honoris Na Semana de Arte Moderna, além de apresentar causa. Fez exposição de obras recentes na Bolsa de onze telas no hall do Teatro, Di Cavalcanti foi res- Arte e sua pintura Cinco moças de Guaratinguetá ponsável por criar a capa do catálogo. foi reproduzida em selo postal. Em 1975, foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique de O talentoso jovem fundou, em 1932, o clube dos Portugal. Artistas Modernos ao lado dos amigos Antônio Gomide, Carlos Prado e Flávio de Carvalho. Resi- Faleceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de diu em Paris até 1925. Expôs suas obras em Berlim, 1976. Bruxelas, Amsterdã, Londres e Paris. 112

Revue Cultive - Genève


Maria José Esmeraldo é uma Mulher Cultive

porque ela cultiva a educação, o ensino, a poesia, a motivação, a juventude, o direito à cultura, a reinserção social, os cuidados com os jovens, a mulher, os livros infantis, o não à violencia, Piauí, as antologias, Centro Cristino Castro. e da mullher. Ela não mede esforços para oferecer aos jovens estudanntes da rede de ensino público de Fortaleza a oportunidade de participar de eventos envolvendo a cultura e a literatura.

Quem é Maria José Esmeraldo Rolim ? Ela nasceu em Floriano – Piauí, Estado do Nordeste do Brasil. É professora aposentada na rede pública de Fortaleza. Fez mestrado e doutorado em Educação. Ela dirigiu suas PESQUISAS sobre a violência simbólica e o bullying. Criou, com anuência da família, o projeto que transformou a casa familiar no Centro Cultural Cristino Castro. A sua escrita saiu da esquisa acadêmica e engendrou em seguida os caminhos da literatura. Atualmente ela escreve poesia, contos e crônicas que foram publicados em várias coletâneas nacionais e internacionais. Em 2021 ela publicou o seu primeiro livro innfantil abordando o tema do vírus, proteção do meio ambiente e respeito com o próximo. O livro foi editado pela editions Cultive e está sendo muito bem recebido pelas escolas públicas e pelo público infantil. Ao abraçar a escrita literária Maria José foi convidada para assumir academias em Fortaleza e em outros estados do Brasi. O seu engajamento com a literatura cresceu a tal ponto que ela passou a colaborar, incentivar e apoiar a produção de eventos literários no meio dos escritores e dos alunos, oferecendo aos jovens estudos a oportunidade de interagir com escritores e com os movimentos culturais. Seu engajamento cultural rendeu-lhe assim, prêmios e homengans no Brasil e no exterior.

Ela faz parte de várias Academias de Letras em Fortaleza, Rio de Janeiro, Paris. Membro Internacional da Cultive. Possui 23 publicações conjuntas e 3 solos. Sua pesquisa gerou um livro que foi publicado em português e espanhol e chegou em vários países. A violência dos laços familiares aos bancos escolares foi o livro mais destacado pela crítica como relevante para a Educação. O reconhecimento do seu trabalho foi feito pela Assembleia Legislativa de Fortaleza, que llhe conferiu votos de louvor pela sua pesquisa. Prêmios: Madre Teresa de Calcutá- Itabira, MG. Evita Perón – Buenos Aires, Academia de Letras y Artes - EMBAJADOR DE LA PAZ-Argentina. ABL-Conab-Conselho Nacional das Academias de Letras do Brasil - Filósofa Imortal. Prêmio Cidade de Literatura. Prefeitura Municipal de São Pedro da Aldeia-RJ. Recebeu prêmio da Academia de Letras do Brasil, título de Doutora em Causas Humanísticas Internacionais-PHI, Prêmio Cidade da Prefeitura de São Pedro da Aldeia_RJ. Ela foi premiada com o LEURÉAT VALKYRIE - GRANDES MULHERES GUERREIRAS 2021.

O CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA. OSWALD DE ANDRADE, por Maria José Esmeraldo Rolim

OSWALD DE ANDRADE, recém chegado da

Europa, queria uma arte diferente, que representasse o PAÍS. Juntou-se com outros como: Mário

Maria José é uma defensora dos direitos da criança Revue Cultive - Genève

113


Raul Moraes de Andrade, que seria o papa do Mo- Tive outras publicações: Losango Caqui-1926 dernismo. Clã do Jabuti-1927. Amar Verbo Intransitivo-1927. Desde que a arte de Anita Mafalti foi contestada e muito criticada na sua exposição inovadora, os es- A pesquisa e a imagem do povo brasileiro mistucritores modernistas, Oswald e Mário com as mes- ram -se em suas obras, nos tempos e nos espaços mas idéias defenderam a artista. de herói brasileiro em formação, quando repudia a violência simbólica de todas as formas, do creMário de Andrade era músico erudito, estudou no do, das formações anacrônicas dos amores, dos Conservatório. Era pesquisador, professor, folclo- sabores, de sermos brasileiros em essências, de torista e fotógrafo. Sensibilidade grandiosa, que de- das as misturas. pois vimos defender nas lendas, no folclore, no - https://www.culturagenial.com › poe...12 poemas de Mário de Angosto do falar popular, passando para a literatura drade (com explicação) - Cultura Genial e todas artes. - O melhor de Mário de Andrade: Contos e Crônicas - Aspectos da literatura brasileira

Organizador da Semana de Arte Moderna, no teatro Municipal do dia 13 a 19 de fevereiro, quando lê o poema de um amigo, Manoel Bandeira: Os sapos, foi uma revolução em todas as artes. Suas obras mais importantes foram um marco na Literatura brasileira. Este livro, Há Gota de Sangue em cada poema, faz uma crítica a guerra sem sentido, que leva a morte tanto inocente.

LOVAINA - Mario de Andrade Abriam-se inda no ar alguns obuses, como flocos de paina; e, ao barulhar bramante do barulho, tetos tombavam, e brotavam luzes; onde fora Lovaina…

– Mas no meio do entulho, nas avenidas e nas alamedas tresloucadas, sem rumo, onde ladrava, sob o fumo, a cainçalha das labaredas; mas pelas vastas praças atupidas de destroços heris de monumentos; nas ruas de comércio, onde mil vidas jaziam, envolvidas na mortalha dos desmoronamentos; mas nos palácios, nas mansardas, nos esqueletos das habitações, nas escolas estraçalhadas, nos átrios, nos terraços, nas escadas, no torvelim dos mortos e das fardas, na boca muda dos canhões, Apresenta um nacionalismo sempre crítico, com naquele hediondo incêndio triunfal: liberdade formal e valorização da linguagem colo- não calculei ao desastroso mal toda a incomensurável extensão! quial. Não vi o exício duma grei humana, Consegue criar uma arte nova, protagonizando o o destino infeliz duma raça espartana, o fim terrível duma geração! transgredir formal, o verso livre, poema pílula. Se houve crime nefando, Mário de Andrade nasceu em São Paulo, em 9 de não lhe medi a imensidade: outubro de 1883 e era apaixonado por sua cidade, só, dentre as ruínas da universidade, porque a metrópole lhe encantava, a denominava eu vi os grandes livros fumegando! “minha noiva”. Morreu aos 51 anos idade, em 1945. Apresenta uma nacionalismo crítico, com liberdade formal e valorização da linguagem coloquial. Fala de liberdade de escrita e da poética. Novo modo de escrever nos seus livros: escreve em Paulicéia Desvairada, inicia o movimento com prefácio interessantíssimo, que é uma crítica sobre o seu pensamento de tudo mudar no país. Transformar a literatura na rapsódia seu livro Macunaíma, uma obra que representa a essência do povo brasileiro, nem herói, nem vilão, simplesmente uma grande mistura de erros e acertos. É nesta rapsódia, segundo ele, que devia ser cantada, uma mistura de diversas influências, usando a epopéia de caráter crítico, aos índios submissos de outras narrativas com o índio Peri, de O Guarani, e em Iracema.

114

Revue Cultive - Genève


po criou o Movimento Verde e Amarelo como uma resposta a postura nacionalista propagada principalmente pelo intelectual Oswald de Andrade. Menotti ocupou a partir de 1943 a cadeira número 28 da Academia Brasileira de Letras. Seu trabalho mais famoso provavelmente foi Juca Mulato (1917).

FASCINAÇÃO - 1 Tudo ama! As estrelas no azul, os insetos na lama, a luz, a treva, o céu, a terra, tudo, num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo tudo ama! tudo ama!

MENOTTI DEL PICCHIA (1892-1988) Filho dos imigrantes italianos Luigi Del Picchia e Corinna Del Corso. Menotti tinha cinco anos de idade quando a família mudou-se para a cidade de Itapira, interior de São Paulo. O menino Menotti foi aluno de Jacomo Stávale. Estudou Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, formado em 1913. Nesse ano publicou Poemas do Vício e da Virtude, seu primeiro livro de poesias. Na cidade de Itapira foi agricultor e advogado militar; lá criou o jornal político O Grito e escreveu os poemas Moisés e Juca Mulato. Colaborou em vários jornais, entre os quais Correio Paulistano, Jornal do Comércio e Diário da Noite. Em 1924, criou com Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, o Movimento Verdamarelo, de tendência nacionalista. Publicou vários romances, entre eles Lama e Argila, O Homem e a Morte, República 3 000 e Salomé, além de livros de ensaios e de crônicas.

Há amor na alucinada fascinação do abismo, amor paradoxal humano e forte que se traduz nas febres do sadismo, nessa atração perpétua para o Nada, nessa corrida doida para a Morte. Por isso quando as lianas em lascívias florais cercam de abraços o tronco hirsuto e grosso, têm, no amplexo mortal, crueldades humanas. Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo, a assassina violência de dois braços crispados num pescoço, atenazando-o para estrangulá-lo! É que o amor quer a morte. Num momento resume a vida, os loucos entusiasmos dos supremos espasmos... Nesse furor que o invade, tem a volúpia da ferocidade, tem o delírio do aniquilamento!

É por isso que sempre vês, por tudo, uma luta de morte, um desespero mudo: a insídia da raiz que mina a terra e esgota, o caule que ergue o fuste, a rama, em sobressalto, Escritor, jornalista, advogado, tabelião e político, agitando pelo ar a própria dor ignota Menotti ficou famoso especialmente pelas inovano torturante amor do mais puro e mais alto! ções que promoveu nos seus trabalhos a nível da linguagem. Um dos responsáveis pela Semana de Arte Moderna, o intelectual abriu a segunda noite do evento. Dois anos mais tarde, ao lado de Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, o gru-

Poema publicado no livro Juca Mulato (1917).

Revue Cultive - Genève

115


como crítico literário, na revista Terra Roxa. Ministrou aulas na escola de sociologia e política de Cão Paulo entre 1937 e 1944. Traduz obras de Debret e Jean de Levi para o português.

SÉRGIO MILLIET DA COSTA E SILVA

A partir de 1938, atua como crítico de arte. Foi o primeiro presidente da associação brasileira de críticos de arte; defende a criação de um museu de arte moderna; entre 1952 e 1957 ocupa o cargo de diretor artístico do Museu de Arte Moderna – MAM -de São Paulo.

POR Norma Brito

Amigo íntimo de Tarsila do Amaral, grande representante do modernismo, que o pintou e denomiSérgio Milliet foi escritor, crítico literário e de arte, nou o quadro de o homem azul. Quando retornou sociólogo, professor, tradutor e pintor. Nasceu em a São Paulo, Milliet participou da semana de arte São Paulo em 1898, onde recebeu a educação bási- moderna. ca/ em 1913, com 14 anos, já órfão de mãe e tendo perdido também a avó, foi enviado por seus tios à Organizou a exposição retrospectiva de Tarsila do Genebra, onde complementou seus estudos e pas- Amaral no MAM/ SP em 1950. Morreu em São sou a conviver com artistas plásticos que já tinham Paulo em 1966, com 68 anos. atuação no campo literário franco-suíço, embora não fosse do grupo mais abastado. Na verdade, ele Comentários: teve trabalhos humildes no brasil. E foi até professor de tango das senhoras entediadas, em Genebra. O historiador Carlos Guilherme Mota diz: Em Genebra, Sérgio Milliet publicou seus primei- «Milliet deveria ser incluído na vaga de redescoros livros de poesia “par le sentir” e “le départ sous bridores do Brasil, dos anos 30/40 ao lado de Gilberla pluie”, em 1919, com o nome afrancesado Serge. to Freire, Caio Prado e Sergio Buarque de Holanda. Dono de uma escrita bastante pessoal, fluida, poéti- Milliet foi o mais moderno e informado de todos.» ca, maleável. Sua poética retratou a independência Alceu Amoroso Lima: «Ele foi um dos mais hábeis das receitas do movimento modernista tal como foi exegetas do modernismo.» formulado por Mário de Andrade. Milliet já pen- Leodegário A. De Azevedo Filho: «Milliet apresensava uma arte definida basicamente em função de ta uma poesia das mais avançadas no que concerne seu aspecto social. Adota uma posição em prol de técnica cubo- futurista. Foi influenciador de talentos um brasileirismo, embora com ressalvas às postu- das artes plásticas nas décadas de 30 e 40.» ras mais ufanistas. Trechos do poema saudade – Começa assim: “quero cantar a saudade da pátria”... linhas depois, ele diz: “mas eu tenho medo dos ironistas/ não ouso fazer como o pássaro/ e em vez de cantar ou chorar, eu me rio/ e para que me acreditem poeta modernista/ falo de trilhos, automóveis e de estrada de rodagem/ mas como me pesa esse exotismo do aço!”

PARIS “Crepúsculos longos impressionistas A luz não cai escorrega sobre os patins das nuvens O Sena foge Levando o gosto da posse”

Norma Brito Em 1923, Milliet fixou-se em paris, onde teve um Representando a UBT planalto/planície no evenpapel central de articulação entre a vanguarda to comemorativo do centenário da semana de arte francesa e o grupo modernista brasileiro, traduzin- moderna da IAl. do e publicando os poemas deles na revista lumière. Colaborou com as revistas brasileiras Klaxon e, 116

Revue Cultive - Genève


Villa- Lobos por: Julio Gurgel Villa-lobos foi um dos responsáveis pela implementação do sistema do Canto orfeônico nas escolas públicas. Ele elaborou uma coletânea com 137 músicas folclóricas denominada coleção escolar, dentre elas estava a música Rosa Amarela, que apresentei na live. Olha a Rosa amarela, Rosa Tão Formosa, tão bela, Rosa Olha a Rosa amarela, Rosa Tão Formosa, tão bela, Rosa Iá-iá meu lenço, ô Iá-iá Para me enxugar, ô Iá-iá Esta despedida, ô Iá-iá Já me fez chorar, ô Iá-iá

Revue Cultive - Genève

117


ARTISTAS CON TEMPO RÂNEOS

Guilherme de Almeida (1890-1969) Poeta, jornalista, tradutor e advogado - esse foi Guilherme de Almeida. O interesse pelas leis foi transmitido pelo pai, que era jurista e professor de Direito.

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) Único nome dessa lista representante do universo da música, Heitor Villa-Lobos é talvez o maior maestro e compositor erudito que o nosso país já teve.

Já depois de formado, no entanto, Guilherme enveredou pelo jornalismo literário tendo sido redator do Estado de São Paulo e do Diário de São Paulo. Ele também chegou a dirigir a Folha da Manhã e da Noite.

Carioca da gema, Heitor nasceu filho de um músico amador e foi desde cedo estimulado a tocar. Apesar de ter sido autodidata ao longo da vida, foi com o pai que Heitor aprendeu a dominar violão e violoncelo.

Lançado em 1917, Nós foi o seu primeiro livro de poesia. Apesar de ter integrado o grupo que participou da Semana de Arte Moderna, Guilherme não era propriamente um entusiasta do modernismo.

Depois veio o clarinete, o saxofone e o piano. Heitor experimentou de tudo e começou a compor quando tinha apenas seis anos. Foi em 1907, aos vinte, que criou Os Cantos Sertanejos, uma composição para uma pequena orquestra.

Devido aos seus ideais políticos (Guilherme participou da Revolução Constitucionalista de São Pau- Villa-Lobos se sustentava tocando em teatros e cilo), viu-se obrigado a sair do país e esteve longos nemas no Rio de Janeiro, tendo mais tarde vindo a realizar alguns recitais apenas com obras de sua anos exilado na Europa. autoria. Guilherme ocupou a cadeira número 15 da Academia Brasileira de Letras (aliás, foi o primeiro Quando se apresentou na Semana de Arte Momodernista a frequentar propriamente a Acade- derna (de casaca e chinelo, consegue imaginar o mia). Um intelectual de mão cheia, o pensador era figurino?), o compositor foi vaiado porque apretido como um grande tradutor e dominava grego sentou uma composição que mesclava ritmos e latim, para além de conhecer profundamente a folclóricos com música erudita. cultura renascentista. Apesar de ter sido constrangedor, a verdade é que a apresentação ajudou a projetar Heitor internaInvestigue a biografia de Guilherme de Almeida. cionalmente. O próprio compositor achava que 9 era mais reconhecido fora do país do que dentro dele. Heitor Villa-Lobos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova Iorque. Foi também o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Música. É um amante da música? Descubra mais sobre a biografia de Heitor Villa-Lobos.

118

Revue Cultive - Genève


TARSILA DO AMARAL

Revue Cultive - Genève

119


DI CAVALCANTI

DI CAVALCANTI - Moça de Guaratinguetá, 1929

120

Revue Cultive - Genève


DI CAVALCANTI

Cinco moças de Guaratinguetá - Di Cavalcanti - 1930

Revue Cultive - Genève

121


ANITA MALFATI

A Estudante Russa, ca. 1915

Retrato De A.m.g. 122

Revue Cultive - Genève


Revue Cultive - Genève

123


LU IMPERIANO mãe, artista, designer, poeta

124

Revue Cultive - Genève


LU IMPERIANO

Revue Cultive - Genève

125


LU IMPERIANO

126

Revue Cultive - Genève


Avani Peixe

Avani é bacherel em direito e professora de língua espanhola brasileira, mas é na arte e na poesia que ela libera suas emoções e a sua sensibilidade. Avani é membro Internacional Cultive. Pintura acrílica.

Avani Peixe

Revue Cultive - Genève

127


Avani Peixe

128

Revue Cultive - Genève


MARIA NAZARÉ CAVALCANTI

Revue Cultive - Genève

129


Maria Nazaré Cavalcanti Nasceu Recife – PE, mas reside na Europa desde a década de 70, após o casamento com um português.

130

Revue Cultive - Genève


MARIA NAZARÉ CAVALCANTI

Revue Cultive - Genève

131


MARIA NAZARÉ CAVALCANTI

132

Revue Cultive - Genève


RITA GUEDES

A mulher, na roça, no servi4o doméstico

Revue Cultive - Genève

133


RITA GUEDES

134

Revue Cultive - Genève


Valquiria Imperiano é pintora e escultora. O acrílico e o óleo são as técnicas preferidas da artista que usa tela para retrar suas paisagens e personagens. A argila é por onde começa seus portraits e figuras humanas que terminam fundidas em bronze. A madeira, o papel reciclado e a resina são outros materiais que a artista utiliza. Ela tem seu ateliê em Genebra.

IMPERIANO Valquiria Portraits em bronze

Revue Cultive - Genève

135


Valquiria Imperiano Roberta - bronze

136

Revue Cultive - Genève


Imperiano Valquiria Isis - bronze Revue Cultive - Genève

137


Valquiria Imperiano Il a cassé ma poupée

138

Revue Cultive - Genève


IMPERIANO Valquiria La tentation

Revue Cultive - Genève

139


IMPERIANO Valquiria Maria

140

Revue Cultive - Genève


Valquiria Imperiano Pintura

IMPERIANO Valquiria Os passos de D.Maria

Revue Cultive - Genève

141


Valquiria Imperiano Pintura

IMPERIANO Valquiria Carnaval na Amazônia

142

Revue Cultive - Genève


IMPERIANO Valquiria Unik le gardien

Revue Cultive - Genève

143


144

Revue Cultive - Genève

IMPERIANO Valquiria Auto portrait


SHELLA AVELLAR

Revue Cultive - Genève

145


ABERTA AS INSCRIÇÕES PARA A REVUE ARTPLUS N°3

REVUE ARTPLUS Revista Artplus é um magazine cultural impresso em língua portuguesa e francesa, com registro na Biblioteca Nacional Suíça, com ISSN Suíço. ARTPLUS é um portal de valorização da cultura brasileira e Suíça e Europeia. ARTPLUS é referenciada no site da Cultive, no facebook, no publish on line, no blog Cultive. A Revue ARTPLUS é uma revista anual distribuída na Europa e no Brasil (museus, galerias, salões de literatura e de arte, salão do livro de Genebra, feiras, bibliotecas, associações, hotéis, consultório médico, escolas, universidades etc) ela alcança também os EUA, Angola e América Latina. Os participantes da Revista ARTPLUS aparecem automaticamente na Revista Cultive Online que é publicada 4 vezes por ano em língua. INFORMAÇÕES

https://editioncultive.com/

1- REVUE ARTPLUS – capa e miolo coloridos Miolo - papel couché semi mate -130gr Capa – papel couché semi mate com película - 250gr 2- FORMATOS DA REVUE ARTPLUS - 21x29 cm 3- CONTEÚDO REPORTAGEM OU TEXTO: em duas colunas ilustrada com fotos1 ( página tipo A;B;C;D no gabarito anexo ) 4- TRADUÇÃO : por conta da edição da Revue Artplus 5- VALORES Modelos nos gabaritos A, B; C; D 1 página - 250 euros ou 1125 reais O contraente recebe - 6 revistas por página contratada *Membros Cultive recebem 10 revistas por página.

146

Modelo no gabarito página E (1/8 de página) – 50 euros ou 230 reais cada espaço (o contraente não recebe nenhum exemplar) Revue Cultive - Genève Modelos nos gabaritos F


Gabriela Lopes

Revue Cultive - Genève

147


Gabriela Lopes

148

Revue Cultive - Genève


Karmem Pires Artiste peintre Acrylique sur toile Dedicando-se às Artes Plásticas e Poesias. Membro das Academias de Letras e Artes de Feira de Santana, Academia de Cultura da Bahia, Academia Internacional de Letras Artes e Ciências da Argentina com sede em Buenos Aires, Academia Superior Di Crescita Personale Italia.Arte Terapeuta /nome artístico “KARMEN PIRES”

Revue Cultive - Genève

149


ROSALVA SANTOS

150

Revue Cultive - Genève


IZABEL PECORONE Artiste peintre Peinture acrylique

Revue Cultive - Genève |151


IZABEL PECORONE


Zezé Negrão

Revue Cultive - Genève

153


ZEZÉ NEGRÃO

MARIA QUITERIA 154

Revue Cultive - Genève


ZEZÉ NEGRÃO

Revue Cultive - Genève

155


Catálogo Literário Ler é bom e libera a imaginação, dê livro de presente o ano todo Seja um apoiador da nossa literatura!

156

Revue Cultive - Genève


ALEXANDRE SANTOS, ex presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural, é o curador geral da FLIPO, editor do semanário ‘A voz do Escritor’ e apresentado do programa ‘Arte Agora’.

BALTIMORE O romance fala sobre um golpe de Estado articulado na cidade norte-americana de Baltimore para interferir na política interna do Brasil. língua: Português versão papel

ÁRCHIAS Romance que trata da possibilidade de redenção da humanidade e eventual transformação do mundo dos homens na terra de Deus. língua: Português versão papel

O LIVRO DOS LIVROS Romance que trata da velha luta do bem contra o mal. Se desenrola no entorno da tentativa de controle da humanidade a partir da criação de uma nova religião. língua: Português versão papel

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com o autor pelo email e veja a disponibilidade do livro. E-mail: alexandresantos@br.inter.net Revue Cultive - Genève

157


AMAURI HOLANDA DE SOUZA

Amauri Holanda de Souza. Bacharel em Direito. Psicopedagogo Clínico e Institucional. Neuropsicopedagogo. Pós graduado em Direito Processual Penal. Teólogo. Missionário. Capelão Internacional. Escritor. Atuou como Conselheiro Titular do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente do Estado do Ceará Nasceu em Quixadá/Ce - Escreve com o coração. Fala de coisas da vida e de sua visão de mundo. Quando se trata de escrever sempre vem coisas que tocam os sentimentos das pessoas.

DISPONÍVEL: 2 EXEMPLARES DE CADA TÍTULOVERSÃO PAPEL

ESQUEÇA-ME: O livro traz o talento de muitos dos autores brasileiros, na modalidade poema. É uma Antologia que traz muitos temas interessantes.

ÂMAGO POÉTICO: Antologia envolvendo autores brasileiros, com ênfase poético e conteúdos diversificados

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: email: amauri.holanda.souza@gmail.com

158

Revue Cultive - Genève


Anapuena Havena é empresária e escritora cearense. Autora dos romances de época Encantos do Café e Descobrindo a Nobreza do Amor, e do livro infantil O príncipe que não sabia Brincar. É a idealizadora do Café Patriota; espaço cultural de incentivo à leitura, propagação do conhecimento e valorização da História e Cultura brasileira.

DISPONÍVEL: 20 EXEMPLARES- VERSÃO PAPEL ENCANTOS DO CAFÉ é um romance de época composto por fortes elementos da história do Brasil, contextualizado no importante período denominado Ciclo do café.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: E-mail: anapuena@hotmail.com

Revue Cultive - Genève

159


CELSO CORRÊA DE FREITAS

Criador da estrutura poética denominada OVERTRIP Participações em Feiras de livros e Festivais e eventos Literários no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Dois Córregos, São Paulo e Praia Grande-SP. Premiações literárias no Rio de Janeiro, São Paulo, Praia Grande-SP e Porto Alegre. Representações como Delegado cultural de Praia Grande-SP em São Paulo e Brasília

DISPONÍVEL: 40 EXEMPLARES - VERSÃO PAPEL VERTRIP - O livro conta a história do nascimento do Overtrip em 2011, e tem os Poemas, meus, criador dessa estrutura e dos demais Poetas brasileiros que ao longo deste tempo de 2011 até hoje, foram aderindo ao Overtrip por verem nele uma nova estrutura poética com conteúdo.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: email: celso.correadefreitas@gmail.com

160

Revue Cultive - Genève


CHRISTIANE COUVE DE MURVILLE - Autora da trilogia A CAVERNA CRISTALINA, da série ATÉ QUANDO e do A VIDA COMO ELA É. Faz as ilustrações de seus livros e é doutora em Psicologia Clínica pela USP.

DISPONÍVEL 10 EXEMPLARES -VERSÃO PAPEL O PEQUENO PRÍNCIPE VISITA SÃO PAULO - Coletânea de ilustrações que mostra o Pequeno Príncipe passeando por locais bem conhecidos da capital paulista. Encontramos um Pequeno Príncipe universal; loiro, moreno, ruivo, cadeirante, cego, criança, adulto... Uma frase explicativa acompanha cada imagem.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: ccmurville@gmail.com Revue Cultive - Genève

161


CHRIS HERRMANN

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. www.christinaherrmann.com/p/books.html 162

Revue Cultive - Genève


Débora Leal Feira de Santana

Sou Pós Doutora em Docência Universitária pelo IUNIR-AR; Doutora em Educação pela - UNINTER- PY; Doutora Honoris Causa em Ciências Humanas pela EBWU- Universidade acreditada pela ANVISA, UNESCO e EBWU - Estados Unidos. Pesquisadora Emérita da Université Libre des Sciences de L’Homme de Paris.

Todas as obras de Debora são em língua portuguesa e publicados em papel CADA TíTULO TEM 2 LIVROS DISPONÍVEIS - VERSÃO PAPEL FORMAÇÃO DOCENTE UM CAMINHO PARA A INCLUSÃO é de natureza qualitativa e objetiva compreender a importância da formação docente no contexto de escolarização de educandos com deficiência. Demonstra o descortinar da educação especial no cenário educacional brasileiro.

VIVÊNCIAS PERMEIAM A HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL - A FAMILIA COMO FONTE INESGITÁVEL tem como foco destacar a importância de compreender como os familiares podem reagir em uma unidade hospitalar e como é o acolhimento das crianças internadas.

PENSANDO A EDUCAÇÃO SEXUAL DE DISCENTES CADEIRANTES demonstra a importância do uso das tecnologias da informação e da comunicação no ensino de História como forma de expansão e conexão entre passado, presente e futuro.

DESENHO ENTRE LUZES BECOS traz como objeto de pesquisa e análise os desenhos produzidos pelos internos de uma comunidade socioeducativa de Feira de Santana, o mesmo é fruto de experiências acadêmicas.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: debora@uefs.br 163

Revue Cultive - Genève

Revue Cultive - Genève

163


VERSÃO PAPEL

AS MARCAS DA LIBERDADE discorre sobre a Irmandade da Boa Morte, trazendo como foco a relação desta no Ensino local da Cidade de Cachoeira-BA.

NAVEGAR É PRECISO - destaca os principais traços da Herança Cultural Africana, que permanecem vivos no cenário cultural baiano.

A ARTE DE AVALIAR NOVOS POSSIVEIS A AVALIAÇÃO MEDIADORA EM FOCO busca refletir sobre a Avaliação da aprendizagem no cenário educacional a qual se constitui um dos grandes motivos das discussões para o desvelamento das ideias do processo de ensino e aprendizagem.

ENTRE O REAL E O VIRTUAL REFLEXOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA livro tem como objetivo entender os motivos pelos quais a modalidade de Ensino à Distância é vista de maneira desafiadora nas instituições brasileiras

A HISTÓRIA A UM CLIQUE demonstra a importância do uso das tecnologias da informação e da comunicação no ensino de História como forma de expansão e conexão entre passado, presente e futuro.

164

Revue Cultive - Genève

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: debora@uefs.br


Dilercy Adler

Revue Cultive - Genève

165


ELISA AUGUSTA DE ANDRADE FARINA

166

Revue Cultive - Genève


Editora Cultive divulgando os autores brasileiros na Europa e no mundo

Publicações Traduções Diagramação Revisão Divulgação Isbn suíço Registro bilioteca Nacional Suíça Romance Contos Poesias Livros de Arte Livros Infantis Albuns personalizados Publicações comemorativas Revue Artplus Orientação aos novos escritores Revue Cultive Orçamentos sem compromisso contato: edicaocultive@gmail.com

Revue Cultive - Genève

167


168

Revue Cultive - Genève


JOSMAN LIMA -

Psicólogo, Artista Plástico e Fotógrafo por hobby. Autor dos livros: Pintando a Vida, Cúmplices do Amor - Romance e As Aventuras de Bolota e Quinzinho, Literatura Infantil. Membro da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana, da Academia de Cultura da Bahia, da Academia de Ciências, Letras e Artes da Argentina.

20 LIVROS DISPONÍVEIS -VERSÃO PAPEL PINTANDO A VIDA conta a história de Arthur; um jovem de classe média que depois de um acidente de carro ficou paraplégico. Trata-se de um drama vivido por milhões de cidadãos do mundo todo e nos ensina a repensar sobre o deficiente físico e a acessibilidade em todos os contextos.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com o autor pelo email e veja a disponibilidade do livro. E-mail: josmanlima@live.com Revue Cultive - Genève

169


JAIDE SIQUEIRA

psicanalista em Feira de Santana participou do Congràs Cultive International Culturel de la Femme com o tema : Depressão, origem , prevenção e tratamento.

170

Revue Cultive - Genève


HUPOMONE VILANOVA

Nascido em Vitória de Santo Antão - Pernambuco Formado em Licenciatura em Letras pela FAINTVISA – Vitória de Santo Antão – Pernambuco. Cursou Música pela Universidade de Federal de Pernambuco – UFPE. Músico flautista Cursou de Licenciatura em História pela Universidade Federal de Sergipe - Aracaju Sergipe. Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão – Pernambuco. Membro do Instituto Histórico de Jaboatão dos Guararapes – Pernambuco. Membro da Academia Vitoriense de Letras Artes e Ciência. Vitória de Santo Antão Pernambuco.

10 LIVROS DISPONÍVEIS -VERSÃO PAPEL REFLEXÕES HUPOMÔNICAS CHÁ DA VIDA. Hupomone Vilanova. Reflexões que nos fazem compreender as situações da vida, nossas atitudes, nossos relacionamentos nossos desafios e medos e como podemos vencer tudo isso.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: chadavidahupomone@gmail.com Revue Cultive - Genève

171


IVANILDE MORAIS DE GUSMÃO

Ivanilde Morais de Gusmão professora, advogada, ensaísta, contista e poeta. Estudiosa de Karl Marx e da Literatura. Membro de várias Academias. Livros de ensaios e de poesias em português/francês/ inglês; Participação em várias coletâneas; Recebeu Prêmio Literário de poesia, e de ensaios.

50 exemplares disponíveis PAI Forma poética do livro. Na escuridão, o amanhã do escritor Rogério Pereira, a autora Ivanilde Morais de Gusmão expõe o conflito na relação Pai & Filho buscando na palavra o sentimento que atormenta o protagonista.

TO N E

M

L

ÇA N A

150 exemplares disponível TEMPO PARTIDO 2020 - RESGATANDO SENTIMENTOS DE HUMANIDADE Coletânea sobre o sentimento da dor num período de reclusão em tempo de pandemia. Registro histórico para às futuras gerações. Um livro atual com 121 participantes. Esse livro é um documento histórico. Os depoimento dos parentes que receberam o exemplar a que tinha direito é algo fantástico!!! 50 exemplares disponível

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: E-mail: morais.ivanilde@gmail.com 172

Revue Cultive - Genève


IRLANA JANE MENAS

Revue Cultive - Genève

173


10 exemplares disponíveis UM CAMINHO PARA MARX: reflexão sobre a obra deste grande filósofo e sua importância na compreensão e Transformação do Mundo Humano.

50 exemplares disponíveis SER SOCIAL Trabalho e Mercadoria: Estudo sobre o processo de humanização do homem produzindo seu mundo com o trabalho e sua transformação em mercadoria.

50 exemplares disponíveis MARXIANO & DESVELANDO a autora, a partir da concepção materialista da História, expõe o enigma da Sociedade, Política e Estado mostrarndo como funciona essas Instituições

10 exemplares disponíveis COMPREENDER O MÉTODO DIALÉTICO: reflexão sobre processo de investigação e exposição dos estudos marxianos da realidade social.

50 exemplares disponível SÚPLICA AO SOL ... ERA OUTONO Antologia em Prosa e Verso sobre o homem e sua humanização numa Sociedade em crise.

TOQUE Livro de categorias marxianas em forma de Aldravia para compreender o processo histórico do homem.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: E-mail: morais.ivanilde@gmail.com 174

Revue Cultive - Genève


LECI QUEIROZ

Funcionaria pública aposentada do Detran como nutricionista. Professora na área de nutrição na Universidade Vale do Acaraú. Trabalhou na implantação de projeto de nutrição no Nordeste e na Guiné-Bissau África. É presidente da Associação Mãos que Compartilham ligado ao desenvolvimento social em Cacine na Guiné-Bissau.

Esse livro narra histórias de memórias de VIVÊNCIAS À MESA, onde cheiros e sabores trazem à tona histórias da vida. Tem as receitas dos alimentos aqui narrados!!

O LIVRO A MESA ESTÁ POSTA discorre sobre escolhas e vínculos construídos a partir da Mesa. A nossa primeira mesa é o útero ou Vida!!!

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: maria-leci@uol.com.br 175

Revue Cultive - Genève

Revue Cultive - Genève

175


LILIA SOUZA

176

Revue Cultive - Genève


Bibliodiversidade: Leni Zilioto prova que ser escritor vai muito além do estilo literário Exemplo para muitos autores brasileiros, escritora gaúcha especialista em Educação Ambiental explora diversos gêneros da literatura para conhecer leitores do Brasil e do mundo Natural de Guaporé, Rio Grande do Sul, Leni Zilioto, publicou obras em pelo menos seis idiomas. A bióloga e pedagoga é autora de 19 livros e reúne mais de 40 participações em coletâneas nacionais e internacionais.

primeiro livro, um garimpo de todos os poemas que escreveu desde os 12 anos. Os outros gêneros literários afloraram quando migrou para o Mato Grosso, onde surgiram obras biográficas e ficção. Leni Chiarello Ziliotto é seu nome completo, assinado as obras e divulgando seu trabalho nas redes sociais com nome Leni Zilioto. É membro de Academias e Federações literárias, incluindo o Institut Cultive Brésil Suisse, sendo Délégue (como escreve?) para o estado de Mato Grosso.

Motivada pelos contos clássicos nos anos iniciais da escola, Leni lembra de ter afirmado aos oito anos que seria escritora. Em 2001 publicou seu

Revue Cultive - Genève

177


News

Confira alguns dos lançamentos de Leni Zilioto INFANTIL

Pirulito Rodapé é palhaço de circo. Faz pirueta, conta piada, coisa que um palhaço faz. Faz a gente rir! Leni Zilioto é a escritora que está lançando o livro Pirulito Rodapé em 6 idiomas.

quem lê. Tem história, tem joguinho, tem desenho para pintar e folha em branco para desenhar. Tem amor, tem carinho e muita gargalhada para dar! Pirulito é doce, é palhaço, é brinquedo de papel. É uma historinha gostosa para aproveitar com os pequenos e trazer a eles o rico universo da literatura e a alegria própria do palhaço de circo. O enredo retrata um pouco de nossa trajetória como educadores e artistas e tem o poder de nos transformar em pessoas melhores. Está traduzido para 5 idiomas: inglês, francês, italiano, espanhol e alemão. Uma floresta, uma menina e um manequim: inspirada na saga de mulheres que migraram para o centro-oeste brasileiro nos anos 70, maioria oriunda das regiões sul e sudeste, a fim de colonizar o norte mato-grossense, a escritora Leni Zilioto escreveu o 1º volume de uma série de 5 livros que descreve e descreverá fatos e emoções desse processo social humano, em uma linguagem infanto-juvenil. Uma floresta, uma menina e um manequim – Volume 1, que já está em sua 3ª edição, foi também traduzido para o inglês. É uma leitura infanto-juvenil bem consistente, carregada de vida e detalhes da infância dos anos 50 e 60, por isso pode ser apreciada também por adultos.

Pirulito Rodapé nasceu na infância de Leni Zilioto e ficou dormindo até acordar nas págias de Leni mulher adulta e saudosa dos palhaços que animavam os circos da sua época. Em Pirulito Rodapé ela ressalta. Ela leva as crianças de uma escola na figura da professora. E o nome Pirulito é uma alegoria ao doce, ao sabor prefirido das crianças, muita simbologia está dentro da história Pirulito Rodapé, o doce, o circo, o passeio pelo parque, relembro atitudes educacionais importantes para as crianças, a liberdade vigada, a obediência das regras, a reflexão sobre ser criança e a valorização da profissão do palhaço. O livro também um ponto de instrução levando as criançaw a brincarem de esESPIRITUALIDADE E AUTOAJUDA crever e pensar, e refletir. O livro está sendo vendido em 2 idiomas: portugês, francês; e em breve saíra nos idiomas inglês, alemão, italiano e espanhol. O livro Pirulito Rodapé está sendo lançado em português na semana literária do Sebrae. Pirulito Rodapé: é uma história para divertir e interagir, que traz magia para quem escuta e para 178

Revue Cultive - Genève

Nossa Senhora Mãe da Juventude: Tudo o que transcende o humano, tem um início e não terá fim. Assim foi e assim será a devoção à NOSSA SENHORA MÃE DA JUVENTUDE. Uma devoção iniciada pela inspiração de Padre Osmar Burulli com o propósito de contribuir na Evangelização da juventude através da parceira dos pais e dos sacerdotes para conduzir os jovens ao eternamente jovem Jesus. Em um ensaio de jornalismo, a escritora Leni Zilioto ousou, nessa obra, narrar a criação e os primeiros passo da devoção, com sua linguagem simples e que bem comunica o que quer


comunicar. POESIA

As cores e os amores: evidencia as propostas do respeito ao corpo físico – uma virtude acessível – e da ascensão espiritual – um caminho que exige encontros muitas vezes indesejados, especialmente com questões de amor e ódio. As pessoas que almejam a vitória sobre si mesmas buscam a luz através do tempo e abandonam, gradativa e sabiamente, a sombra das paixões. Sabores ao sol: As formas, as cores, azul e mistério. O que nos reservará o futuro? Quais serão os Sabores ao Sol? A observação e a crítica emergem, quando denuncia o modus vivendi do mundo que a rodeia na sua complexidade inconsequente. O silêncio perturbador grita ao desvelar a eloquência da ausência da palavra. Já a singularidade do amor veio ser por ela reinventada, na romântica definição de unicidade, anulando a existência do outro. Poemas fluentes, impressionáveis, plurais e, ao mesmo, singulares, apreensíveis de um modo de ser e de dizer. Carolinas: a saga de desbravamento é permanente. Migrantes vieram ao Brasil da antiga Europa. Os sulistas migraram para o centro-oeste e norte do Brasil. A escritora Leni Zilioto também, no ano de 2011, migrou do Rio Grande do Sul para se estabelecer em Mato Grosso. Os desafios desse movimento são diferentes para cada um. Para Leni foram intensos, e, escritora que é, registrou. Sentimentos, emoções, conflitos, em prosa e poemas.

BIOGRAFIA

Eu não aceito ser mais ou menos: a obra premiada traz a história de um empresário de sucesso que irá inspirar a todos. Ao ler o livro, o leitor trilhará com ele o caminho que o levou ao sucesso pessoal e profissional, sempre em busca de ser o melhor no que faz. A perseverança, a dedicação e o foco são alguns bons ingredientes para essa jornada! ROMANCE

A Saga de Gigantes: o clima era de festa. Natal e fim de ano provocam movimentos intensos, até mesmo em pequenos locais. A sede da agrovila fechava às 17 horas da sexta-feira e abria às 8 horas da segunda-feira, quando se poderia verificar recados recebidos pelo rádio amador. A avenida principal era pó vermelho e rebuliço de pessoas. Mateo não resistiu. Desabou em choro nos braços da mãe que carinhosamente lhe afagou os cabelos e sussurrou para o universo acolher: “Até breve, meu amor. Ficaremos bem”. Contatos e onde encontrar os livros +55 66 9.9966-2765 linktr.ee/lenizilioto www.lenizilioto.com.br lenizilioto@gmail.com @lenizilioto lenichiarello.ziliotto @branccamaria lenichiarello.blogspot.com Leni Zilioto

Revue Cultive - Genève

179


LÚCIA SOUSA Coorganizadora da obra é membro Inten-

cional, Délégue e Jornalista correspondente em Recife-PE, da Cultive - Genebra -Suíça. Membro da diretoria da União Brasileira de Escritores-UBE-Tesoureira Geral. Integra a diretoria da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-AJEB/PE, Secretária.

ANTOLOGIA CARRERO COM 70 Trata-se de uma homenagem escrita em prosa, verso e crônica por vários escritores brasileiros, muitos consagrados pela crítica literária. São ex-alunos e amigos do escritor pernambucano Raimundo Carrero, que possui mais de vinte obras publicadas traduzidas em vários idiomas. Raimundo Carrero é membro ilustre da Academia Pernambucana de Letras-APL.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: lucia.1001@hotmail.com

180

Revue Cultive - Genève


Maurienne Caminha Johansson

Revue Cultive - Genève

181


MARIA JOSÉ ESMERALDO ROLIM

Maria José Esmeraldo Rolim nasceu em Floriano – Piauí, Estado do Nordeste do Brasil. Maria José Esmeraldo Rolim fez mestrado e doutorado em Educação no Uruguai. Sua escrita focaliza o tema das suas pesquisas : a violência simbólica e o bullying que finalizou em uma edição traduzida para o espanhol e teve uma ampla aceitação dos educadores e em seguida publicou A violência dos laços familiares aos bancos escolares, livro destacado pela crítica, como relevante para a Educação; Possui 23 publicações conjuntas e 3 solos. Maria se lança na litartura juvenil com o livro «O mundo dos animais», O reconhecimento de seu trabalho foi feito pela Assembleia Legislativa de Fortaleza, da qual recebeu votos de louvor pela pesquisa efetuada.

O MUNDO DOS ANIMAIS No mundo dos bichos, os animais têm um rei que os explora, tem o vírus que isola todo mundo. Mas tudo acaba bem com a descoberta de uma vacina. Um livro para ciranças e adultos. Editado pela Cultive Língua: Português Francês

Lançamento

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a editora para adquirir seu exemplar. E-mail: edicaocultive@gmail.com R$ 70,00 a unidade INCLUIDO A POSTAGEM NO BRASIL

182

Revue Cultive - Genève


Maria Inês Botelho é membro de diversas acade-

mias localizadas no Brasil, em Portugal e na Suíça. Tem livro, coletâneas e antologias publicados.

6 LIVROS DISPONÍVEIS - VERSÃO PAPEL A coletânea EXCLUSIVOStem participação de escritores de vários estados brasileiros escolhidos pela coordenadora Pérola Bensabath. Faço parte e sinto-me muito honrada. Realça desde o tema "Amor" à vivências em diversas ocorrências

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora e veja a disponibilidade. E-mail: mariainesbotelho2@hotmail.com

Revue Cultive - Genève

183


Neusa Bernado Coelho, poetisa, historiadora. Natural de Palhoça SC. Membro de várias Academias; Embaixadora Imortal da Paz; Autora e coautora de obras literárias nacionais e internacionais.

20 EXEMPLARES DISPONÍVEL-VERSÃO PA-

PEL ZILDA ARNS, médica pediatra e sanitarista. Fundadora da Pastoral da Criança nacional e internacional. Morreu em missão no terremoto do Haiti, 2010. Em processo de beatificação.

20 EXEMPLARES DISPONÍVEL-VERSÃO PAPEL

A FADINHA MARICELA foi a primeira publicação das gêmeas Elisa e Sofia. É um conto em defesa da preservação da natureza e reflete a importância da água. Publicaram o primeiro livro aos 9 anos de idade.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: E-mail:farmaciadobetinho@yahoo.com.br

184

Revue Cultive - Genève


NORMA BEZERRA DE BRITO

é professora universitária de Português e Inglês aposentada. É contista, cronista e poeta. Cearense, residente em Brasília, participou de mais de 30 antologias, é membro de quatro Academias Literárias e é deleguée da Cultive em Brasília.

10 LIVROS DISPONÍVEIS -VERSÃO PAPEL

A VIDA NÃO É ENSAIO - livro de contos

e crônicas apresenta escutas e olhares em direção a situações do dia-a-dia, criativamente ampliadas pela imaginação do autor configuradas em uma escrita versátil.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: normabbrito@yahoo.com.br Revue Cultive - Genève

185


PAULO ROBERTO PAIXÃO BRETAS

Mineiro de Belo Horizonte, 62 anos. Professor associado da Fundação Dom Cabral e de História Econômica, Economia Brasileira Contemporânea e Desenvolvimento Socioeconômico do Centro Universitário UMA, em Belo Horizonte. Se dedica à literatura tendo três livros de poesias haicai publicados.

LANÇAMENTO Meditções: Uma brisa soprou e mudou a minha vida O LIVRO SERÁ LANÇADO EM ABRIl/2020 - FAÇA A SUA RESERVA

DISPONÍVEL: 20 EXEMPLARES -VERSÃO PAPEL O DOCE LIVRO DOS BEIJOS POÉTICOS - trata do cotidiano e dos pensamentos do autor ao interpretá-lo por meio de haikais que nos levam à reflexão sobre a vida e a sociedade. Língua: Português versão papel

186

Revue Cultive - Genève Revue Cultive - Genève

Um belíssimo livro ilustrado contendo 100 haikais bilíngue: português/francês versão papel

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com o autor pelo email e veja a disponibilidade do livro. E-mail: paulo.roberto.bretas@gmail.com


PIETRO COSTA:

Nascido em Brasília-DF. Autor de 4 livros. Co-autor de mais de 30 coletâneas. Membro de Academias Literárias no Brasil e exterior. Detentor de diversos títulos, comendas e honrarias.

DISPONÍVEL:10 EXEMPLARES DE CADA TÍTULO -VERSÃO PAPEL

JURAS DE POESIA ETERNA

COMO COMPRAR

língua: Português versão papel

com o autor pelo email e veja a disponibilidade do livro. E-mail: pietro_costa22@hotmail.com

O amor em suas múltiplas nuances, declarado e exaltado, na beleza sutil da poesia. Para adquirir o livro entre em contato

Revue Cultive - Genève

187


Institut Cultive Suisse BrésilArt-Littérature et Solidarité Genebra

188

Revue Cultive - Genève


RITA QUEIROZ

GRIMALDA: A LAGARTIXA EMPODERADA Neste livro, a autora Rita Queiroz usa a metáfora da lagartixa para falar sobre empoderamento feminino para o público infantojuvenil. Grimalda é uma personagem que mostra as diversas faces do ser feminino: espevitada, vaidosa, altruísta, estudiosa, feminista, empoderada, sem abrir mão das atividades que exerce, sejam estas as domésticas, como cozinhar e lavar, bem como aquelas relacionadas com o mundo profissional e as dedicadas ao labor social. Escrito em português, inglês e espanhol, também é uma ferramenta que pode auxiliar professores de línguas estrangeiras que atuam com as séries iniciais. Conheça a Grimalda e se encante por essa lagartixa empoderada! Uma publicação da Editora Historinhas pra Contar.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo ritaqueirozpoesiando.loja2.com.br

Revue Cultive - Genève

189


ROSANGELA MATOS

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido.

190

Revue Cultive - Genève


VALQUIRIA IMPERIANO

Escritora, Artista plastica presidente da Cultive Publicação: Espelho meu Espelho - poesia, Navegando em Ondas - poesia, Le livre des petits Mots – poesias e pensamentos, Cofre aberto – poesia, O rosa e o Azul- contos e crônicas, Southend on the sea - livro de arte, O jardim da consciência. Redatora da Revue Cultive e Artplus.

Cofre Aberto é o segundo livro de poesia de Valquiria Imperiano. O cofre do coração, o cofre do espírito. Os poemas sairam da gaveta e foram registrados nas páginas desse livro

Navegando em Ondas Altas Um livro que oferece ao leitor a impressão de estar sobre as ondas dos sentimentos. Os poemas são a expressão dos sentimentos. O amor, a paixão, as impressões retiradas da natureza.

Revue Cultive - Genève

191


to n e m a ç n a L

O jardim da consciência Um livro oferece ao leitor contos de ficção e crônnicas baseados em fatos vividos e presenciados pela autora. A metafísica está presente dentro dos temas e provavelmente as as hsitórias devem acontecer com muita gente. Os contos e crônicas são intercalados com poemas. Prefácio: Paulo Bretas O livro está na sua 2a edição revisada e atualizada

SOURIR E LEOLEÃO Valquiria Imperiano Livro infantil a partir de 1 ano língua: português/francês versão papel

192

Revue Cultive - Genève


ANTOLOGIAS CULTIVE ERA UMA VEZ UM ANJO Antologia Cultive reúne autores e poetas escrevendo sobre anjos língua: português versão papel

to n e m a ç n La

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade do livro escolhido. E-mail: edicaocultive@gmail.com Revue Cultive - Genève

193


Zezé Negrão - Diplomada em Magistério pelo Colégio Estadual de Itaberaba BA, Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Nacional/MG, Doutoranda em Psicanalise junto a SPOCB em Feira de Santana BA, Terapeuta Holística junto a Associação Integrativa Bio Psíquica da Bahia com extensão a Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Bancária aposentada, Escritora, Artista Plástica e Pesquisadora

DISPONÍVEL: 20 EXEMPLARES - VERSÃO PAPEL

É um livro infantojuvenil bilíngue portugues e inglês ganhador de 4 prêmios a nível internacional. Houve vários lançamentos no Brasil e Europa. A menina que falava com o beija-flor é um conto que enobre a vivência da criança junto aos mais idoso da família e o envolvimento com a natureza, especialmente com o pássaro beija-flor.

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: E-mail: zeze_maria10@yahoo.com.br

194

Revue Cultive - Genève


CLÅÚDIA LEÇA

Revue Cultive - Genève

195


revistas em pdf

CLICK NA IMAGEM PARA ASCESSAR A REVISTA

COMO COMPRAR Para adquirir o livro entre em contato com a autora pelo email e veja a disponibilidade: email:

a unidade /incluído o frete NO BRASIL

196

Revue Cultive - Genève


VEM Aí ARTPLUS N° 3 2022 inscreva-se

Revista bilingue - português/francês Texto word em língua portuguêsa E-mail: revueartplus@gmail.com

Revue Cultive - Genève

197


198

Revue Cultive - Genève


SEJA ESTRELA NA REVISTA CULTIVE Divulgue sua atividade artística e literária nas 4 edições da Revista Cultive.

Impressum Editeur - Edtions Cultive 12 Rue deu Pré-Jérôme 1205 - Genève Téléphone: +41 79 616 37 93 Site web: www.editioncultive.com E-mail: edicaocultive@gmail.com

O Membro Escritor da Revista Cultive pode puRedacteur en chef - Valquiria Guillemin blicar suas atividades nas seções: Lançamentos de livros, ( 1 página: textos + fotos) Eventos ( 1 página: texto + fotos) Literatura( textos literários até 4 páginas + fotos)

Designer : Valquiria Guillemin Photographe: Marc Guillemin, photos de direitos livres. Copyright Editions Cultive

O Membro Artista da Revista Cultive pode publicar suas atividades nas seções: Evento de Arte - 1página: textos + fotos Exposição - (até páginas: texto+ fotos) Textos: Biografia, crítica de arte - (textos + fotos) O membro recebe o link e o pdf por e-mail gratuitamente. Entre em contato e peça a ficha de insrição. Informações: www.cultive-org.com

Revue Cultive - Genève

199


200

Revue Cultive - Genève


Articles inside

Maria Natividade Silva Rodrigues

1min
page 58

Colly Holanda Soares

1min
page 56

Lucia Sousa

8min
pages 52-55

Vera De Barcellos

1min
page 47

Avani Peixe

1min
page 46

Liduina Vidal de Almeida

1min
page 48

Maria José Negrão

19min
pages 36-41

Giuliana Conceição Almeida

1min
page 43

Maria Inês Botelho

1min
page 42

Gabriela Lopes

3min
pages 34-35

Rita Queiroz

2min
page 32

Laudelina De Campos Melo

2min
page 30

Tereza De Benguela

2min
page 29

Conceição Evaristo

2min
pages 25-26

Valquiria Imperiano

1min
page 23

Carolina Maria De Jesus

2min
page 24

Nascimento Morais Filho Eu Te Louvo Senhora - Dilercy Adler

30min
pages 12-22

Bicentenário De Maria Firmina Dos Reis

11min
pages 6-9
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.