Revue Cultive n° 12 - Brasil, Quem és tu?

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n°012| année 04 |setembro 2020

Brasil, quem és tu? ´

REVUE CULTIVE - ISSN 2571-564X

Escritores, Músicos e artistas que fizeram e fazem a cultura Do Brasil

SAúde e energia Literatura ARTE

História ViageM virtuaL

EDUCAçãO atualidade Revue Cultive - Genève

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information sur: www.cultive-org.com cultivelitterature@gmail.com 2

Revue Cultive - Genève


Cultive Revue littéraire et culturel

12ª edição da revista

Brasil, quem és tu? Nessa edição, focamos o aniversário de 198 anos da Independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822 por Dom Pedro I, Imperador do Brasil. Autores escrevem sobre o tema e sobre a história do Brasil e de algumas cidades brasileiras. Com o mesmo objetivo de voltar ao passado, escritores e artistas modernos e contemporâneos, que marcaram o progresso cultural brasileiro, são colocados em evidência numa sequência cronológica. Autores, artistas, ativistas culturais, professores etc, trabalham pelo crescimento cultural do Brasil, revelando uma grande preocupação com o acesso à cultura. Associações executam trabalhos valorizando o folclore, a dança, música, incentivam os jovens, promovendo concursos literários, criando academias jovens; indivíduos organizam eventos visando motivar a ecônomia, o lazer e o produto criativo; TVs e canais de comunicação apresentam programas realizados por autores e artistas, colocando em evidência as produções, não só dos grandes nomes, mas também de pessoas simples que amam e dedicam-se à escrita, à pintura, à escultura, à música, ou criando coleções de objetos ligados à história do Brasil, transformando-se, dessa forma, num preservador de história. Homenagens as personagens que contribuem de forma séria para o crescimento cultural do país são feitas. Na mesma linha de realizações, brasileiros no exterior organizam atividades no estrangeiro mostrando o que há de melhor no nosso país.

inclusive no que diz respeito à saúde. Hoje, a população no mundo busca novos métodos de cura através da medicina holística, ou trazendo do passado as antigos tratamentos feitos com raizes, folhas e sementes, recorrendo às rezadeiras que tiram quebranto ou mau olhado são consultadas. Alguns especialistas escrevem sobre o assunto desvendando seus mistérios na sessão saúde. Na literatura, para a qual a revue Cultive dedica uma seção, apresentamos autores, poetas de vários países lusófonos, lançamantos de livros e uma biblioteca virtual onde o leitor pode descobrir obras de autores atuais. A Arte mostrada numa seção exclusiva, tráz obras e autores, porém apenas uma pequena amostra encontra-se nessas páginas, a título de indicação na seção Galeria Artplus. Um acervo importante, contendo obras dos autores da Revue Cultive sairá no Catálogo Cultive de ARTE e convidamos os amantes da Arte a ficarem atentos ao Catálogo Artístico Cultive que será publicado na edição de dezembro /2020 com uma maravilhosa amostra de arte de grandes pintores e escultores brasileiros. Sendo a Revue Cultive uma revista Suíça, não podemos deixar de focalizar assuntos culturais suíços, tais que museus, costumes, visitas turísticas, entre outros assuntos. Nosso esforço é para apresentarmos uma revista variada e de qualidade, apresentando assuntos que enriqueçam o conhecimento do leitor de forma agradável e instrutiva. Agradecemos a fidelidade e desejamos uma boa leitura. Valquiria Guillemin Imperiano

A evolução brasileira dá-se em todos os setores, Revue Cultive - Genève

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SUMÁRIO

Impressum

BRASIL, QUEM ÉS TU? NOSSOS TALENTOS 08 | Fabiana Zanella Fachinelli

Editor - Cultive 12 Rue deu Pré-Jérôme 1205 - Genève Telefone: +41 79 616 37 93 Site web: www.cultive-org.com E-mail: edicaocultive@gmail.com Redatora chefe- Valquiria Guillemin Designer : Luciana Bodner luimperianobodner@gmail.com Redator adjunto: Rita Guedes Fotógrafo: Marc Guillemin Algumas fotos livres para utilização foram retiradas de sites na internet

GRANDES ESCRITORES, ARTISTAS E MÚSICOS BRASILEIROS 10 |

Copyright © Toda reprodução parcial ou integral do conteúdo da revista Cultive é estritamente proibida.

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13| Valéria Borges da Silveira João Guimarães Rosa 15| Valquiria Imperiano Graciliano Ramos 16| Avani Peixe Graciliano Ramos 17| Rita Guedes Graciliano Ramos 18| Maria José Esmeraldo Ariano Suassuna 23| Amauri Holanda de Souza Patativa do Assaré 25| Maria Inês Botelho Monteiro Lobato 26| Maria Inês Botelho Cecília Meireles 28| Ivanilde Morais de Gusmão Josué de Castro 31| Tereza Porto João Almino 33| Lúcia Sousa Raimundo Carrero 35| Iratan CurvelloJoão da Cruz e Souza 38| Eloah Westphalen NaschenwengLuiz Delfino 40| Jacqueline Assunção-


42 | Cláudia LeocádioAdelia Prado 44 | Dioni VirtuosoAdriana dos Santos 45 | Nagesia Maria Gomes Diniz BarbosaMaria Dapaz 48 | Oneida Maria Di DomenicoJoão Procópio 50 | Valquiria ImperianoVictor Meirelles 51 | Vera De BarcellosVictor Meirelles 52 | Valquiria ImperianoEmiliano Augusto Cavalcanti 54| Angeli Rose -Escritoras ontem, hoje e sempre: Rosalina Coelho Lisboa 59| Neusa Bernado Coelho - Noel Rosa

HISTÓRIA 60| Neusa Bernado Coelho As lendas e encantos da Ilha da Magia de -SC Laguna de Anita Garibaldi - Heroína de Dois Mundos 62| Neusa Bernado Coelho As lendas e encantos da Ilha da Magia de -SC 65| Maria Nazaré CAvalcantiRegistros Antigos e Modernos da História de Pernambuco 74| Carlos Manoel Campos Alves Moreira Remoção da Família Real para o Brasil 77| Osmarina Maria de SouzaA cidade que eu amo 79| Dias Campos Os voos de um herói 84| Anapuena Havena Dona Leopoldina -

VIAGEM VIRTUAL 86|Avani Peixe De volta à casa 88|Laura Moura Nunes Nós que amamos Ribatejo 89|Anne Xavier de Souza Turismo na Suíça é possível 91|Ester Damiana Catedral Saint Pierre 92|Valquiria ImperianoGenebra A Bela 95|Valquiria ImperianoMuseu Suíço - Chaplin’s World

EDUCAÇÃO 98 |Dauá Puri Recado ao Brasil Oera 100|Valéria Cristina de Souza Ensinar na pandemia 101| Ensinar na Pandemia é possível A cultura popular para a formação de leitores 104| Claudia Leocádio Grupo Folclórico Ciranda Dos Pequis 107..| Fátima Lemos Uma grande idéia, um grande projeto

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ATUALIDADE

108| Bernardeth Martins Evento organizado, e agora? 110| Luiz Carlos AmorimQuarenta Anos De Literatura 112| Flavia Jover Breve apontamento sobre a economia laranja 114| Papo Literário - Tv Ceará Mulheres 116| CRBE 119| Anapuena Havena Um café que conta história 121| Prêmio Conexão Itália-Brasil -

SAÚDE E ENERGIA 122| Rosa Marta Gerber Minha Missão de Vida 125| Clesley Maria Tavares Do Nascimento Rezadeira: Saber Tradicional do Sertão Brasileiro 127| Dianna Therssia Aranha Ruas Cura Pelo Terapia Vibracional 129| Christianne Couve de Murville Geometria e o Dia a Dia -

CULTIVE ATUAL 130 | Antologia Cultive

Era Uma vez um Anjo

133 | Agenda Cultive 2021 Salão do Livro de Genebra 134 | Concurso Cultive de Literatura Infantil Santa Catarina divulga os ganhadores

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137| Adão Zina Antes de MimEspelho da almaEu sou ninguém 138| Amauri Holanda - O Sertão 139| Maria Inês Botelho . Quando a tempestade pasar 140| Norma Brito - Baile à fantasia 141| Izabella Pavesi- OutonoOs chamarizes da ganância 142| Salete Timbó - A descoberta de Isadora 143| Lucrécia Welter Ribeiro Não importa ao Beija-Flor 144| Pérola Bensabath Poesia EteréaFilosofandoImagens Poéticas 145| Neusa Bernado Coelho - Presença divina Maria de Lourdes 145| margarida Maciel A. Ramalho Minha pesquisa 146| Izabel Furini - Danças nas sombras Reticências, A fragância das rosas Magnun Opus 147| Eluciana Iris Almeida Cardoso Simplicidade. Loucura ou Lucidez, Incerteza 148| Izabel Hesne Marum- O benzedor 150| Fátima Abreu - Viuvez- Ser madura 151| JP Santisil A união do complexo medo atraente 154| Edson Santana do Carmo Uma breve história 155| Ana Rosenrot- Delírio nas nuvens 156| Janice Reis Morais- Mago da imagem 157| Elisabete Pecorare Coisas para pensar - Saudade 158| Carmem Aparecida Gomes Gotas de LiberdadeAmores sem remissão, Ventos 159| Cleidirense Machado- Pelas ondas do amor 160| Jacira Barros- A força da Mulher 161| Paulo Vasconcellos - Verdadeiro amor 161| Raquel Lopes da Silva - Horizonte Infinito 162| Valdivia Beauchamp Espectro da solidão urbana 163| Valéria Borges da Silva - Sós ou a sós 164| Moisés Tunes Ortiz - Sobre a vida 165| Paulo Bretas - Haikai para a terra 6

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166| Meyre : Barbosa - Lembranças vivas 167| Francisco Bernivaldo Carneiro- O baile 168| Rosanni Guerra - Eu te amo, meu Brasil! 168| Ana Claudia T. da Silva - O Brasil que o Brasil não vê

Galeria de ArtPlus 171| Anita Malfatti 172| Vicente do Rego Monteiro 173| Valquiria Imperiano 174| Maria Tereza Penna 175| Maria Lagranha 176| Alberto marques 178| Avani Peixe 179| Luciana Imperiano 180| Nazaré Cavalcanti 181| Rita Guedes 182| Consuli 183| Manoel Osdemi 184| Niriam Goes 185| Paulo Roberto Monteiro 186| Iratam Curvello


DOM PEDRO I - PROCLAMADOR DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Pintura de Pedro Américo - Museu Nacional de Belas Artes- Rio de Janeiro Revue Cultive - Genève

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Quem és tu Brasil?

Fabiana Zanella Fachinelli

Um Brasil para amar Autora de contos/poesias/artigos em antologias brasileiras e estrangeiras. Escreve com sensibilidade e amor!

Quando dito “Terra à Vista”, traduziu-se a nossa história, terra amada idolatrada país dos sonhos, de gente gloriosa, vasta riqueza e beleza, abundância da fauna e flora, vida em cerrado, praia e montanha pantanal, sertão e região da campanha, pinto de verde amarelo esse país que é tão belo! Os índios começaram a nossa imensa nação, Amazônia tão visada pelo mundo é venerada, bioma do verde das matas, o mangue e o Rio das Almas, africanos e imigrantes na diversidade cultural, da cerâmica marajoara à magia de mitos e lendas, tem história e folclore como o Círio de Nazaré, a gostosa culinária num prato de açaí tantos peixes, quantas frutas e pato no tucupi, o norte é um presente, um ponto setentrional o oposto é o sul, abaixo da zona tropical! No nordeste se encontra o grandioso sertão, de um povo querido que um tempo foi tão sofrido sem água suficiente à todos nossos irmãos mas a fé os tornou alegres e muito sabidos, tem frevo, axé, forró, tapioca e acarajé, com praias maravilhosas, cachoeiras esplendorosas, da extração do pau-brasil, da bela caatinga terrestre, do escritor Jorge Amado surgiu Tieta do Agreste dá uma linda pintura num quadro a decorar, pessoas encantadoras, a se respeitar! Centro-Oeste é tão belo, segunda maior região, com árvores tortuosas, tem cerrado e pantanal, o gado que embeleza e pinta a vegetação as plantas exalam aroma de seu clima tropical, a nossa querida Brasília, capital tão bem desenhada às margens do Paranoá se esgueira o lobo-guará, na Chapada dos Guimarães a natureza é perfeita grutas, cachoeiras, lagoas traduzem muita riqueza,

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Quem és tu Brasil? essa grande região não possui litoral mas a natureza contempla a beleza nacional! Sudeste tem lugares que não dormem nem um pouquinho a cidade maravilhosa já foi capital do Brasil, tem arte barroca do eterno Aleijadinho quanta cultura esculpida neste país varonil, quatro estados que merecem a nossa admiração, e um lugar chamado Vitória, vitórias mil, a Catedral da Sé todos querem conhecer, tem região litorânea para o sol resplandecer, um pedaço do Pão de Açúcar com gostoso café onde podemos amar e ter muita, mas muita fé! Nesta região, um pedacinho da Europa está, das reluzentes cataratas do Iguaçu ao vento frio minuano do sul, aqui tem chimarrão, churrasco, marreco e shop de antemão, passo antes no Paraná, o barreado tem que provar, a bela Santa Catarina com praias paradisíacas, chego no Rio Grande, terra de um povo aguerrido italianos, alemães, portugueses vieram aqui habitar, digo com toda certeza e muita sabedoria a região sul tem sol, chuva e neve que contagia! Sou a andorinha, que nos versos desta poesia escrevi um dia, desenhei um lugar colorido com tesouros à admirar, de regiões perfeitas que cultura e história irradia, pátria miscigenada com lindo hino a cantar um Brasil para amar! Lágrimas caem ao rosto com gosto de vatapá, entôo a mais linda canção com toda delicadeza, de norte a sul, de sonhos, lutas e tanta grandeza, desse glorioso país hoje digo com muito clamor proteja nosso Brasil, ó Cristo Redentor! Fabiana Zanella Fachinelli Sorteio A Fabiana está oferecendo O livro: Poesia Livre 2020 - Antologia Poética para sortear entre os leitores Como ganhar o livro? Entre no instagram @revuecultive Escreva: Eu quero ganhar um livro e gostei do verso............................ ( cite um verso do poema Um Brasil para Amar) Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu?

GRANDES ESCRITORES, ARTISTAS E MÚSICOS BRASILEIROS

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

A poesia de Drummond é conhecida no mundo inteiro e considerada a maior influência para este gênero literário no Brasil. Versos soltos, palavras simples e uma extensa obra, sendo a mais renomada A Rosa do Povo (1945) fazem dele um nome sempre lembrado entre os clássicos escritores nacionais.

Você pode saber mais sobre Carlos Drummond e seus belíssimos escritos através da sua biografia A literatura brasileira conta com escritores, escrito- completa. ras, artistas, músicos talentosos que se lançam num universo infinito de temas e estilos que elevam o Graciliano Ramos (1892-1953) nome do Brasil em todos os cantos do mundo. Graciliano Ramos de Oliveira nasAlguns nomes que mudaram a cultura nacional. ceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892 e faleceu no dia 20 de março de 1953, no Rio de Monteiro Lobato (1882-1948) Janeiro. É um grande escritor e romancista brasileiro da segunda fase Um dos primeiros escritores brasilei- do Modernismo. O autor alagoano entrou de vez ros e latino-americanos a escrever para o hall da fama da literatura nacional. para crianças. Também foi precursor Saiba mais na página 15 dos editores no Brasil, numa época em que os livros eram feitos apenas no exterior. Luiz Delfino (1834-1910) Além dos livros infantis que incluem os personagens de muito sucesso do Sítio do PiNasceu em Nossa Senhora do Desterro, ca-Pau Amarelo, Lobato também escreveu contos, hoje Florianópolis, SC, em 1834 e falee um único romance, polêmico, em 1926, chamado ceu no Rio de Janeiro, em 1910. Fez sua O Choque das Raças. estréia literária, em 1852, com a publiSaiba mais na página 25 cação do conto “ O Órfão do Templo”, na revista carioca Beija-Flor. Leia mais na página 38 Cecília Meireles (1901-1964)

Literatura

Nasceu no início do século XX – no- João da Cruz e Sousa (1861-1898) vembro de 1901. A primeira escritora brasileira a se tornar realmente Nasceu em 24 de novembro de 1861 famosa no meio literário. Assinando num domingo, em Nossa Senhomais de cinquenta obras. Cecília esra do Desterro (atual Florianópotreou no mundo editoral com apenas lis), tendo como pai Guilherme da dezoito anos de idade com a obra Espectros (1919). Cruz, um mestre pedreiro e sua Poemas, romances, livros infantis e textos jornalísmãe. Carolina Eva da Conceição, ticos estão no currículo premiado da autora. uma lavadeira. Leia mais na página 26 Leia mais na página 44

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Guimarães Rosa (1908-1967) O livro épico mais famoso do Brasil, Grande Sertão Veredas saiu da cabeça e mãos desse médico mineiro que sabia falar mais de nove idiomas. Depois de longos anos em carreira diplomática em nome do país, Guimarães passou a se dedicar a escrita e foi sucesso absoluto desde a primeira publicação. Leia mais da página 13

Rosalina Coelho Lisboa Lagarroti (1900-1975)

Escritora carioca que ganhou o 1º. lugar do 1º. Prêmio da ABL em 1922, sublinhando os temas e as formas escolhidas pela autora que atravessam os versos e aproximam a produção da tradição poética clássica, distanciando-a do Modernismo e das vanguardas europeias. Leia mais da página 54

Ana Clotilde Corrêa, uma família de muita oração e religião, uma fé exercitada desde o berço. Leia mais na página 42

Noel Rosa Noel de Medeiros Rosa, nasceu em 11 de dezembro de 1910, na Vila Isabel, Rio de Janeiro. Foi um dos maiores e mais importantes artistas da música popular brasileira: sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista Leia mais na página 59

João Almino (1950)

Nasceu em 1950 na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde passou sua infância. Cedo teve contato com o universo literário pelas mãos de seu pai, grande leitor que tinha uma especial predileção pelas obras de dois ilustres escritores paraibanos: José Lins do Rego e José AméJosué de Castro 1908 rico de Almeida. Nascido no Recife a 5 de setembro Leia mais na página 31 de 1908, em uma família de origem sertaneja, Josué de Castro foi alfabe- João Procópio Neto tizado pela própria mãe, professora primária, fazendo os preparatórios no Instituto Estreou no teatro no dia dezenove de Carneiro Leão e no Ginásio Pernambucano. dezembro de 1971, no espetáculo “o Leia mais na página 28 auto de natal” de Nino Honorato com direção de Procópio Ferreira. Coincidentemente teve seu primeiro trabalho Ariano Suassuna (1927-2014) profissional no dia dezenove de dezembro de 1974 Nascido em Parahyba do Norte, atual Leia mais na página 48

João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927. Era filho de grande polïtico, presidente da provincia, João Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Villar. Ariano nasceu nas dependências do Palácio da Redenção, sede do Executivo paraibano. Leia mais da página 18

Adelia

Raimundo Carrero

Nasceu em 20 de dezembro de 1947. Foi menino do sertão, da cidade de Salgueiro, a 513 km da capital de Pernambuco. Carrero possui mais de vinte obras editadas e traduzidas para vários idiomas. Recebeu muitos prêmios que o Prado consagram na literatura, entre eles o Prêmio Jabuti, Adélia é uma mulher simples, minei- Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional e ra de Divinópolis-MG- Nasceu no Prêmio da Associação Paulista de Críticos da Arte dia 13 de dezembro de 1935, filha do (APCA). ferroviário João do Prado Filho e de Leia mais na página 33 Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? *Vinicius

de Moraes (1913-1980)

Foi um poeta e compositor brasilei ro. Além de ter sido um dos mais famosos compositores da música popular brasileira e um dos fundadores, nos anos 50, do movimento musical Bossa Nova, foi importante poeta da Segunda Fase do Modernismo. Leia mais na página 40

Maria da Paz- Brasileira Pernambucana, sertaneja, nasceu em Jaboatão dos Guararapes-PE, mas considerava-se filha de Afogados da Ingazeira-PE, onde residiu desde criança, cidade pela qual mantinha um carinho todo especial. Leia mais na página 45

Patativa do Assaré Poeta popular que traduz as angústias de um povo. Nordestino, estudado até no exterior, reverenciado como uma mente brilhante, pelo seu estilo. Muitos cantores gravaram músicas de sua autoria. Escritor brasileiro, verdadeiro representante de um tempo e de uma região. Leia mais na página 23

Anita Malfatti Filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe norte-americana Eleonora Elizabeth «Betty» Krug, Anita Malfatti nasceu na cidade de São Paulo, em 2 de dezembro de 1889. Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita. Leia mais na página 172

Victor Meirelles

Nascido em 18 de agosto de 1832, na cidade de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Victor Meirelles era de origens humildes. Filho de Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição 12

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Prazeres, casal de comerciantes portugueses que se estabeleceram na capital de Santa Catarina. Leia mais na página 50

Di Cavalcanti Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque nasceu dia 6 de setembro de 1897 no Rio de Janeiro, filho de Frederico Augusto Cavalcanti de Albuquerque de Melo e Rosalia de Sena. Seu pai era membro da tradicional família pernambucana Cavalcanti

de Albuquerque. Leia mais na página 52

Vicente do Rego Monteiro Nascido no Recife, Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) foi um dos principais artistas modernistas do Brasil. Leia mais na página 174


Brasil quem és tu? Em 27 de junho de 1930 casou-se com Lígia Cabral Pena, de apenas 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano se formou e passou a exercer a profissão em Minas Gerais, onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração a sua obra.

Jõao Guimarães Rosa (por Valéria Borges da Silveira)

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo em 27 de junho de 1908 – Minas Gerais e faleceu em 19 de novembro de 1967 – Rio de Janeiro.

Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932 tendo contato com o futuro presidente Juscelino Kubitschek, naquela ocasião o médico-chefe do Hospital de Sangue. Posteriormente, entrou para o quadro da Força Pública, por concurso. Em 1933 foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado no concurso do Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina. No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. Lá, conheceu e veio a casar-se com Aracy de Carvalho, funcionária da Itamaraty que, no contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas. Ela ganhou, por essa ação humanitária, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. É a única mulher brasileira homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, que é o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto.

Foi escritor, diplomata, novelista, romancista, contista e médico. Considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se na maioria no sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falas populares e regionais que, somados à erudição do autor, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras Depois de servir em Hamburgo, Guimarães Rosa populares. serviu ainda, como diplomata, nas embaixadas do Brasil em Bogotá e em Paris. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 6 de agosto de 1963, sendo o terceiro ocu- No Brasil, Guimarães Rosa, na segunda vez em pante da cadeira nº 2, que tem como patrono Al- que se candidatou para a Academia Brasileira de vares de Azevedo. Letras, foi eleito por unanimidade (1963). Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a Foi o primeiro dos seis filhos de Florduardo Pinto cerimônia de posse por quatro anos. Em seu disRosa ("Flor") e de Francisca Guimarães Rosa ("Chi- curso, quando enfim decidiu assumir a cadeira da quitita"). Academia, em 1967, chegou a afirmar, em tom de despedida, como se soubesse o que se passaria ao Em 1925 matriculou-se na então "Faculdade de entardecer do domingo seguinte: "…a gente morre Medicina da Universidade de Minas Gerais", com é para provar que viveu." Faleceu três dias mais apenas 16 anos. tarde. Seu laudo médico atestou um infarto, porém sua morte permanece um mistério inexplicável, Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? sobretudo por estar previamente anunciada em sua obra mais marcante — Grande Sertão Veredas —, romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional". Obras 1936: Magma. 1946: Sagarana. 1952: Com o Vaqueiro Mariano. 1956: Corpo de Baile: Noites do Sertão. 1956: Grande Sertão: Veredas. 1962: Primeiras Estórias. 1964: Campo Geral. 1967: Tutaméia – Terceiras Estórias. 1969: Estas Estórias (póstumo). 1970: Ave, Palavra (póstumo). 2011: Antes das Primeiras Estórias (póstumo) Referência/Fonte: Wikipédia

(HOMENAGEM

A JOÃO GUIMARÃES ROSA) baseada no conto 3° Margem do Rio– autoria: Valeria Borges da Silveira

“LOUCURA” “Eu não quero dizer Eu não quero saber Eu não posso aceitar Nesta hora Amor e dor se confundem Da noite para o dia tudo mudou A vida ficou em desordem Não dá para entender A vida exposta em uma margem... O rio da vida Traz loucura E eu nesta fissura De colocar Tudo em ordem!”

Soneto da saudade Quando sentires a saudade retroar Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso. E ternamente te direi a sussurrar: O nosso amor a cada instante está mais vivo! Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos Uma voz macia a recitar muitos poemas... E a te expressar que este amor em nós ungindo Suportará toda distância sem problemas... Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve Como uma pluma a flutuar por sobre a neve, Como uma gota de orvalho indo ao chão. Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos, Sempre que juntos, a emoção que partilhamos... Nem a distância apaga a chama da paixão Guimarães Rosa

Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!... O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, E ainda mais alegre no meio da tristeza... Guimarães Rosa

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Brasil quem és tu? de contos Histórias de Alexandre. Tradutor de obras em inglês e francês e honrado com diversos prêmios em vida, a obra de Graciliano Ramos recebeu riqueza da crítica literária e atenção do mundo acadêmico. Seu romance modernista também conhecido como regionalista, Vidas Secas é visto como um clássico da literatura brasileira.

GRACILIANO RAMOS DE OLIVEIRA por Valquiria Imperiano

Foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios em 1927, tomando posse no ano seguinte. Apoiado pelo governador do estado e impulsionado por ser um nome de fora da política, foi eleito em um pleito de uma candidatura só. Ficou no cargo por dois anos, renunciando a 10 de abril de 1930. Segundo uma das auto-descrições, «(...) Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas». Os relatórios da prefeitura que escreveu nesse período chamaram a atenção de Augusto Frederico Schmidt, editor carioca que o animou a publicar Caetés (1933).

Foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX, Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando mais conhecido por sua obra Vidas Secas (1938). como diretor da Imprensa Oficial, professor e diretor da Instrução Pública do estado. Em 1934 haNascido numa grande família de classe média, via publicado São Bernardo e quando se preparava viveu os primeiros anos de sua infância migrando para publicar o próximo livro, foi preso após a Inpara diversas cidades da Região Nordeste do Bratentona Comunista de 1935. Foi levado para o Rio sil. Trabalhou como jornalista na cidade do Rio de de Janeiro e ficou preso por onze meses, sendo libeJaneiro, onde escreveu para O Malho e Correio da rado sem ter sido acusado de nada ou julgado.Com Manhã, até regressar para o Nordeste em 1915, deajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, vido tragédia familiar em que perdeu quatro irmão. consegue publicar Angústia (1936), considerada Fixou-se na cidade de Palmeira dos Índios, onde por muitos críticos como sua melhor obra. Com casou-se s com Maria Augusta de Barros, que mora sua representação da angústia existencial, pode reu em 1920, deixando-lhe quatro filhos. E em 1927 ser considerado um precursor do existencialismo foi eleito prefeito, cargo que exerceu por dois anos. (uma interferência direta do Existencialismo). Logo, voltou a escrever e publicou seu primeiro romance, Caetés (1933). Vivendo em Maceió durante Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabea maior parte da década de 1930, trabalhou na Imleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal prensa Oficial e publicou São Bernardo (1934). Foi de ensino. preso na capital alagoana em março de 1936, acusado de ser militante comunista. Esse incidente o Em 1945 ingressou Partido Comunista Brasileiro inspiraria a publicar duas de suas principais obras: - PCB de orientação soviética e sob o comando de Angústia (1936) e o texto "Baleia", que daria oriLuís Carlos Prestes; nos anos seguintes, realizaria gem à Vidas Secas em 1938. Já na década de 1940, algumas viagens a países europeus com a seguningressou no Partido Comunista do Brasil ao lado da esposa, Heloísa Medeiros Ramos, retratadas no do militar e político Luís Carlos Prestes. Nos anos livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Inposteriores realizaria viagens a países europeus, fância, relato autobiográfico. incluindo a União Soviética em 1952. Morreu em 20 de março do ano seguinte, aos 60 anos, no Rio Adoeceu gravemente em 1952. No começo de 1953 de Janeiro. Suas obras póstumas notáveis incluem foi internado, mas acabou falecendo em 20 de Memórias do Cárcere, a crônica Viagem e o livro Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu?

AVANI PEIXE LEMOS

Graciliano Ramos

A seca causticante e pavorosa num cenário desértico e devastador levavam os pobres do Nordeste Brasileiro a migrarem em busca de trabalhos que garantissem a sobrevivência. Diferente não foi para a família de Fabiano, homem rude e de poucas palavras, que por assim não as conhecer, usava de violência verbal. A d. Sinhá Vitória, a sua esposa, com um pouco mais de conhecimentos e sensibilidade tinha além dos anseios de ver a família em melhores condições, o desejo de ter uma cama de cordas de couro. O filho mais novo (chamado assim, por não ter nome), via no pai um grande exemplo a ser imitado. O filho mais velho (igualmente sem nome), todavia, pensava em ser diferente, inclusive gostaria de fazer uso bem das palavras. Certa vez indagava sobre o que veria a ser inferno, o que a mãe e nem o pai souberam responder, (talvez soubesse...), tão cruel é não saber expressar com palavras, os sentimentos. A cadela Baleia, companheira e amiga pensante e tratada como gente que fora é morta por Fabiano para cessar a dor do sofrimento por estar doente e tornando um fardo pesado para as desgastantes viagens, e morre, duplamente morre à dor de ter que abandonar a família que tanto amava e que era igualmente correspondida. O papagaio também companheiro das viagens, que para saciar a fome da família, fora sacrificado.

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892 e faleceu no dia 20 de março de 1953, no Rio de Janeiro. É um grande escritor e romancista brasileiro da segunda fase do Modernismo, muito conhecido pelo seu estilo narrativo e diferenciado no uso de palavras secas e frases curtas sem floreios e adjetivação desnecessárias para expressar o seu pensamento Estou do lado dos que sofrem, para compreendê-los, crítico, e, além do mais, com uma riqueza de dedefende-los, enaltece-los e amá-los. talhes, embora, deixando de lado o sentimentalismo, o que não nos impede, todavia, de sermos levados às emoções que nos transportam à realidade escrita e vivida na época. “A primeira coisa que nos diz uma obra de Arte é que o mundo da liberdade é possível, e isso nos dá força para lutar contra o mundo da opressão”. ...

Vidas Secas Uma história contada e retratada em preto e branco de uma realidade vivida por uma família de pobres retirantes do Sertão Nordestino do meu Brasil, sofrendo mudanças, com idas, vindas e fugas. As dificuldades e as agruras passadas pela família, o desalento, a insegurança, o medo do desconhecido, o desafeto, não impedem, não obstante, de sonhar e desejar para a família melhores dias, porque essa é uma necessidade inerente ao ser humano. 16

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Rita Guedes

homenagem a Gracialiano Ramos

GRACILIANO RAMOS DE OLIVEIRA 1892, em Quebrangulo, Alagoas, nasceu Graciliano Ramos, O primogênito de quinze filhos de uma família de classe média Marco na história que evidenciou o seu glorioso destino. Permeio a fome, a miséria dos fortes sertanejos nordestinos. Esse homem que abraçou a arte literária com talento e tirocínio. Altaneiro destacou sua tendência pela escrita, ainda um menino. Aos 12 anos criou o jornal “Dilúculo’ publicação para crianças. Um marco que revela e enaltecem seus anseios, suas esperanças. Graciliano, um dos precursores da 2ª fase do modernismo, Viveu os primeiros anos de vida em terras castigadas pela seca. Em meio à fome e a miséria dos bravos, fortes homens sertanejos. Explícito em seus escritos, os conflitos do “eu” e da sociedade! Não cursou nenhuma faculdade, mas deixou seu grande legado. Tornou-se adulto de verve voltada para narrativas, um literato! Temas retratados enfatizam sua literatura elegante, sobremaneira.

Suas obras publicadas decantam o regionalismo bem rebuscado. Em suas mais importantes obras, “Vidas Secas” e “São Bernardo”, Percebe-se o realismo, as dificuldades da vida do sertão, narrado. Romancista, cronista, contista, jornalista, memorialista, consagrado, Destacou-se como político exerceu vários cargos, mas foi degredado. Graciliano Ramos, em grande estilo marcou a literatura brasileira. Não fez inovações linguísticas, floreios na linguagem foram evitados. Seu estilo de escrita claro e conciso lembra o modo rude do interior. Graciliano Ramos, um baluarte, das letras um genial, exímio doutor! É possível identificar em suas obras, o pessimismo e a crítica social. Traduzidas em vinte e quatro idiomas, seu acervo literário é especial. Graciliano Ramos é um escritor consagrado, um verdadeiro imortal!

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ARIANO VILAR SUASSUNA Mon Professeur Bien Aimé por Maria José Esmeraldo

Hoje vamos homenagear, falando e lembrando de nosso eterno professor Ariano Vilar Suassuna. Assim como eu, muitas alunas da Urne« Universidade Regional do Nordeste», em Campina Grande, admiravam aquele professor autentico, nascido em Parahyba do Norte, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927. Era filho de grande polïtico, presidente da provincia, Joao Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Villar. Ariano nasceu nas dependências do Palácio da Redenção, sede do Executivo paraibano. Ele contava este episodio, com muita tristeza, pois tinha custado a entender e aceitar a morte de seu pai no inicio da revoluçao de 30.

responde hoje ao cargo de governador. O mandato de João Suassuna se caracterizou em grande parte por uma valorização das ações desenvolvidas pelos ricos e os grandes latifundiários de terras do interior das cidades, tidos como coronéis, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados, da conivência com grupos de cangaceiros e outras ações que gerava muita violência no campo. Foi nesta triste esta época, no palácio do governo da Paraíba, que servia de residência oficial ao chefe do executivo do Estado da Paraíba, que nasceram os nove filhos do casal João e Rita. Um deles foi batizado como Ariano, nosso eterno professor. No ano seguinte, em 1928, Joao Suassuna deixa o governo da Paraíba. Seu desafeto João Pessoa representava a classe média das cidades e da capital, e estava na vanguarda, no entanto, representava os sertanejos e o status quo. Pode-se dizer que eles foram os dois últimos senhores feudais do sertão. João e a família passou a morar no sertão, na Fazenda Acauã, em Sousa. A mãe, Rita Suassuna, depois de várias mudanças e provações, levou seus filhos para a cidade de Taperoá, no sertão paraibano. Ali, em uma região onde isso era a praxe, lutou para que seus cinco filhos homens jamais partissem para vingar a morte do pai. Entretanto a família de João Suassuna sempre perpetuou a sua memória e isso se incorporou no jovem Ariano, mesmo com tão pouca idade na ocasião da morte de seu pai.

No começo da década de 1920, o senhor João Suassuna, seu pai, foi convidado pelo então governador na época, Sólon de Lucena, para assumir e fazer parte do governo trabalhando na Inspetoria do Tesouro do Estado. Demorou pouco tempo e depois foi eleito deputado federal. No exercício do mandato parlamentar no Rio de Janeiro, então nossa Mesmo sem saber mensurar o quanto o peso da Capital Federal, quando foi eleito para governador, morte de João Suassuna contribuiu para moldar chamado de “Presidente da Parahyba”, o que cor- o Ariano Suassuna escritor, eu creio que de certa 18

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maneira ele realizou a sua “vingança” através dos Ariano passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que fazia e do que esseus escritos. crevia, oferecendo-lhe esta precária compensação Se a família Pessoa buscou se perpetuar em nomes e, ao mesmo tempo, buscando recuperar sua imade ruas e logradouros na Paraíba, certamente gem, através da lembrança, dos depoimentos dos Ariano se imortalizou na mente e nos corações de outros, das palavras que o pai deixou. ” milhões de paraibanos, nordestinos e brasileiros através das suas obras. O autor deste trabalho acre- O assassinato de João Suassuna ocorreu como desdita que por muitas décadas e séculos no futuro, dobramento da comoção posterior ao assassinato o nome e as obras de Ariano Suassuna serão obri- de João Pessoa, governador da Paraíba e candidato a Vice-Presidente do Brasil na chapa de Getúlio gatórios para o entendimento do Nordeste. Vargas. Ariano Suassuna atribuía à família Pessoa a Contudo, eu tenho certeza que ele, Ariano Vilar encomenda do assassinato de seu pai, contratando Suassuna, trocaria tudo o que conseguiu com as o pistoleiro Miguel Laves de Souza, que atirou na letras para ter tido a oportunidade de ter visto seu vítima pelas costas, no Rio de Janeiro. Em razão pai conhecer seus filhos, ter acompanhado a sua disso, não concordava com a alteração do nome da vida e estar ao lado de João Suassuna no dia de sua cidade onde nasceu, de "Cidade da Parahyba" para "João Pessoa", em homenagem ao governador asmorte. Na cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e as- sassinado. sistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de "improvisa- Ariano foi nosso amigo professor. O que aprendi ção" seria uma das marcas registradas também da dele, ainda mais, foi a vontade de ler e escrever. sua produção teatral. Contador de histórias que era, e grande conhecedor da alma humana, profundo na literatura O próprio Ariano Suassuna reconhecia que o as- mundial, carregou a todos nós pelas terras da Ibésassinato de seu pai ocupava posição marcante em ria, acompanhados dos mouros, dos negros, dos sua inquietação criadora. No discurso de posse na índios, enveredando pelo Sertão, pelos tabuleiros Academia Brasileira de Letras, disse: pisados por cabras, bois e cavalos, seguidos pela vegetação hostil dos interiores do Nordeste, mos«Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa for- trando como viviam e quais as suas crenças. Desma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai as- crevia a paisagem árida como dissecava a alma do sassinado no dia 9 de outubro de 1930». seu povo. Era brilhante ao descrever, seus alunos encantavam-se com sua eloquência ficavam, pois Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? suas aulas sempre se prolongavam além da hora deste, com a montagem a Farsa da Boa Preguiça estabelecida. (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carO escritor e secretário de Cultura de Pernambu- reira de dramaturgo para dedicar-se ao magistério. co no Governo de Miguel Arraes, contava como Ali, em 1976, ano que fui aprovada no vestibular aprendeu a ler e se apaixonou por literatura e dizia da URNE em Campina Grande, no tempo em que por que nunca deixou os alunos entediados em 32 o vestibular era classificatório e só depois do básianos de magistério. Era verdade, quem foi seu alu- co e se podia escolher a faculdade que iria cursar, no se apaixonava pela gente e pelo povo do Nor- dependendo das notas obtidas nas provas classifideste e queria seguir sua trajetória de brilho. catórias, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Era um grande contador de História, um Dom Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em Quixote, um elegante sonhador nacionalista, um 1994. provocador que queria o Brasil na linha de frente, nas mãos de quem lê e na dianteira do mundo. A Membro fundador do Conselho Federal de Cultura comparação com o Quixote não é à toa e é recor- (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, rente. Na peça Auto do Reino do Sol, de Bráulio Ta- diretor do Departamento de Extensão Cultural da vares, lá está o nosso herói lutando contra os moin- UFPE (1969). Ligado diretamente à cultura, inihos da globalização, do esmagamento das falas do ciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, povo, dos seus versos e histórias mínimas que são interessado no desenvolvimento e no conhecimenhistórias de nações. to das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para proEm 1956, abandonou a carreira jurídica e a advo- curarem uma música erudita nordestina que viesse cacia para tornar-se professor de Estética na Uni- juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 versidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso e O Santo com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes (1994-1998). Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”. Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras e a Porca; em 1958, mais uma peça encenada foi a são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; José, o padroeiro do município. em 1959, A Pena e a Lei, seria premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro Membro da Academia Paraibana de Letras e Douquando se consagrou como um dos melhores es- tor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio critores de língua latina. Grande do Norte (2000). Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou e revolucionou o Teatro Popular do Nor20

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Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão:


Brasil quem és tu? Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.

Formação acadêmica

aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira.

A partir de 1942 passou a viver em Recife, onde ter- De formação calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao caminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio tolicismo, por influência Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no de sua esposa Zélia, com Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte ingressou quem se casou em 19 de na Faculdade de Direito do Recife, onde formou-se janeiro de 1957. Estas em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1950. três vertentes influenciariam sua obra de forma Carreira significativa. Ariano Suassuna estreou seus dons literários pre"... Em quase todo o cocemente no dia 7 de outubro de 1945, quando meu teatro, um pouco o seu poema "Noturno" foi publicado em destaque por causa da natureza da sátira, mas também um no Jornal do Commercio do Recife. pouco, parece, por causa da minha formação calviNa Faculdade de Direito do Recife, conheceu Her- nista, eu passo o tempo todo julgando os outros e a milo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do mim mesmo, absolvendo ou condenando os bons e Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua os maus.[...] Talvez no supra moralismo do Deus dos primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em Profetas caibam não só as vítimas, mas os chicotes, 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O as espadas, aqueles que os empunharam e até o chefe Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do de todos eles, o Demônio, cujo papel e cuja missão Estudante de Pernambuco, em em seguida Os Ho- só Deus pode entender. Em suma, dentro da minmens de Barro. Seguiram-se Auto de João da Cruz, ha cegueira, o que acho é que Deus, para nós, é um de 1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena. No arquejo, uma aspiração..." mesmo ano, volta a Taperoá, para curar-se de uma doença pulmonar e lá escreve e monta a peça Torturas de um Coração.Retorna a Recife onde, entre 1952 e 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. Em 1953, escreve O Castigo da Soberba, depois vieram O Rico Avarento (1954) e o aclamado Auto da Compadecida, de 1955, que o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro". Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema. Em 1956, afasta-se da advocacia e torna-se professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, onde se aposentaria em 1994. Em 1957, vieram O Santo e a Porca e O Casamento Suspeitoso. Depois vieram O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna (1958) e A Pena e a Lei (1959), premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro. Ainda em 1959, funda o Teatro Popular do Nordeste, também com Hermilo Borba Filho, onde monta as peças Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às

. Em dezembro de 2017, foi publicada sua obra inédita e póstuma A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores. A organização do trabalho foi feita por sua família, reunindo os escritos que Suassuna levou seus últimos trinta anos de vida para escrever. A obra é dividida em dois volumes, O Jumento Sedutor e O Palhaço Tetrafônico e é considerada pela crítica seu "testamento literário", tendo sido finalizada pouco antes de sua morte.[12] O próprio Suassuna considerava a obra Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? como "o livro da sua vida".

história" e que encerraria sua "vida política neste cargo". Durante o mandato de Eduardo Campos no “Estou acabando um romance que é o livro da min- Governo de Pernambuco, Ariano Suassuna foi seu ha vida. Ele é dedicado a três pessoas: Miguel Ar- assessor especial até abril de 2014. raes, Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Campos. Eu exercito três gêneros literários: romance, teatro Em 1993, foi eleito para a cadeira 18 da Academia e poesia. Mas sempre fiz isso separadamente. Nessa Pernambucana de Letras, cujo patrono é o escritor nova obra, estou tentando fundir o dramaturgo, o Afonso Olindense. romancista e o poeta num só. Por isso a considero como minha obra definitiva. ” De 1990 até o ano de sua morte, ocupou a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Manuel José de Araújo Porto Alegre, o barão de Reconhecimento Doutor Honoris Causa pela Universidade Fede- Santo Ângelo. Foi sucedido por Zuenir Ventura. ral do Rio Grande do Norte (2000); Universidade Federal da Paraíba (Resolução Nº 10/2001) Assumiu a cadeira 35 na Academia Paraibana de tendo recebido a honraria no dia 29 de junho de Letras em 9 de outubro de 2000, cujo patrono é 2002; Universidade Federal Rural de Pernambuco Raul Campelo Machado, sendo recepcionado pelo (2005), Universidade de Passo Fundo (2005) e Uni- acadêmico Joacil de Brito Pereira. versidade Federal do Ceará (2006) tendo recebido a honraria em 10 de junho de 2010, às vésperas de Morte completar 83 anos. "Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era problemas de agen- Ariano morreu no dia 23 de julho de 2014 no Real da", afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a Hospital Português, no Recife, vítima de uma parada cardíaca. Havia dado entrada no hospital na concessão e o recebimento do título. noite do dia 21, depois de um acidente vascular Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no cerebral (AVC), passando por procedimento cirúrcarnaval carioca na escola de samba Império Serra- gico com colocação de dois drenos para controlar no; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta a pressão intracraniana. Ele ficou em coma e respivez da escola de samba Mancha Verde no carnaval rando por ajuda de aparelhos. O corpo de Ariano paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da foi sepultado no Cemitério Morada da Paz em PauCompadecida foi o tema da escola de samba Pérola lista, Região Metropolitana do Recife em Recife em 24 de julho de 2014. Negra em São Paulo. Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar. Em 2007, em homenagem aos oitenta anos do autor, a Rede Globo produziu a minissérie A Pedra do Reino, com direção e roteiro de Luiz Fernando Carvalho a partir de O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. As obras de Suassuna já foram traduzidas para o inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês. Em 2011, quando Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, foi reeleito presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro - PSB, Ariano foi eleito presidente de honra do partido. Na oportunidade, declarou que era "um contador de 22

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Ariano Suassuna era torcedor do Sport Club do Recife. O clube o homenageou, dando o nome de Taça Ariano Suassuna a um torneio amistoso internacional de futebol que promove anualmente desde 2015, durante a sua pré-temporada. Notas e referências 1Ir para:a b «Ariano Suassuna». Enciclopédia da Itaú Cultural da Literatura Brasileira. Cópia arquivada em 15 de março de 2017 6.«Releituras - Ariano Suassuna». Arquivado do original em 25 de dezembro de 2007|wayb= e |arquivodata= redundantes (ajuda); |wayb= e |arquivourl= redundantes (ajuda) 7. Ir para:a b c d e f g «Ariano Suassuna». Acervo O Estado de S.Paulo. O Estado de S.Paulo. Consultado em 24 de março de 2018. Cópia arquivada em 17 de junho de 2017 8. «Ariano Suassuna – Discurso de posse». Academia Brasileira de Letras. 9 de agosto de 1990. Consultado em 25 de janeiro de 2018. Arquivado do original em 15 de outubro de 2014


Quem és tu Brasil?

PATATIVA DO ASSARÉ «Crítico Social» poeta popular nordestino que traduz as angústias de um povo. estudado até no exterior. Reverenciado pela sua mente brilhante e pelo seu estilo. Muitos cantores gravaram músicas de sua autoria. Escritor brasileiro, verdadeiro representante de um tempo e de uma região. Soube como ninguém, dar voz aos anseios da sua gente pelo que dizia. Rece-

beu várias homenagens pela bravura de escrever sobre o "Nordeste". É admirado no meio acadêmico e pelo seus conterrâneos (O povo Cearense). Apresento em verso, um pouco da mentalidade genial de Patativa do Assaré.

«O poeta é alguém que conhece tão bem sua dor, que o remédio para sua cura está no ato de escrever seu sofrer» Amauri Holanda PATATIVA DO ASSARÉ. -Amauri Holanda Patativa do Assaré Minha homenagem agora vossa é Poeta Cearense Do Sertão ao exterior, admirado e estudado Falou das coisas do interior e do sofrimento do povo Nordestino Teve uma existência humilde e na sua simplicidade, que é sábia, encantou milhares Toda uma geração acadêmica e mesmo sem ser despertou para o seu grande talento, a arte de expressar o sentimento que via na vivência do seu povo Expressou-se falando de coisas corriqueiras porém profundas com sabedoria, como em uma cantoria na qual expressa o sofrimento da personagem Singular em seu jeito de encantar e encarar a vida Seu exemplo é espelho para outros que querem "poetizar-se" Sua linguagem poética traz em sua essência o jeito decente de falar da vida da sua gente Sua trajetória de existência carrega na mente o sopro do improviso, do repente nordestino como ninguém Não há criatura que deixe de pensar quando da sua boca saem os versos quando o social quer questionar Sua fama se expandiu tanto que até cantores ousa-

ram cantarolar sua sabedoria Sempre morou em Assaré e de lá nunca saiu Voou para ganhar o brilho de uma legião de seguidores pelo mundo, de meu Deus! Assim como Eu... Muitos se orgulham de o ter conhecido por seus versos e sua genialidade poética Chapéu e óculos escuro é sua identidade visual Não há manual que explique sua cultura ímpar Um ser iluminado de tanta inspiração divina. Poeta popular, cantor, escritor, compositor e improvisador brasileiro de qualidade. Deixou um legado para quem quer mergulhar na sapiência de um grande gênio da literatura do Ceará. Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? Antonio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré Minha homenagem pela sua nobre contribuição em expressar o que era inaudível de uma região Para além dos limites geográficos do seu tempo

Patativa do Assaré poemas

Patativa Do Assaré - Amauri Holanda Meu poeta encantador Falou versos de dor Se expressou com louvor E ninguém o contestou Amou o Sertão E valorizou a vida Na triste lida Seu legado se difundiu Para além de Assaré E até no exterior brilhou Por as coisas que dizia Sem fantasia, encantou Ó Ser brilhante! Que versos sinceros Tu trazias, sem alarde Da amizade com o seu sertão Seu torrão, cantarolou De tão nobre inspiração Como se fosse uma oração Ao Deus onipotente, onisciente do coração Do homem sofredor Que nos passa uma lição De amor e simplicidade De esperança E de profundidade Nos seus versos Os verbos infinitivos Tipo valorizar, orar, pedir E encantar, perceber Da trajetoria do viver Em versão ilimitada Do amargo sofrer Ó homem sábio Que jaz o corpo O espirito, seu Vivo, não padeceu! E nunca o será Porque todo seu legado É iqual a amar E amar rima com Eternizar

Cante Lá Que Canto Cá "... Sertão, arqúem te cantô, Eu sempre tenho cantado E ainda cantando tô, Pruquê, meu torrão amado, Munto te prezo, te quero E vejo aqui os teus mistéro Ninguém sabe decifrar. A tua beleza é tanta Qui o poeta canta, canta, E ainda fica o qui cantá..." ____________ "Eu sou de uma terra que o povo padece Mas não esmorece e procura vencer. Da terra querida, que a linda cabocla De riso na boca zomba no sofrer Não nego meu sangue, não nego meu nome Olho para a fome, pergunto o que há? Eu sou brasileiro, filho do Nordeste, Sou cabra da Peste, sou do Ceará.»

O Peixe

Patativa do Assaré Tendo por berço o lago cristalino, Folga o peixe, a nadar todo inocente, Medo ou receio do porvir não sente, Pois vive incauto do fatal destino. Se na ponta de um fio longo e fino A isca avista, ferra-a inconsciente, Ficando o pobre peixe de repente, Preso ao anzol do pescador ladino. O camponês, também, do nosso Estado, Ante a campanha eleitoral, coitado! Daquele peixe tem a mesma sorte. Antes do pleito, festa, riso e gosto, Depois do pleito, imposto e mais imposto. Pobre matuto do sertão do Norte!

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Maria Inês Botelho,

poeta, Delegué da Cultive para o estado do Paraná (BR) É Presidente do Elos Clube de Mandaguari (PR-BR) e no Rotary Club de Mandaguari-Família é Presidente da Comissão de Projetos Humanitários. Tem 1 (um) livro publicado e diversos textos, poemas, mensagens publicados em 10 coletâneas, em revistas, jornais, boletins, anais, sites, facebook, WatsApp e outros meios que a informática oferece.

Dona Benta, Pedrinho, Tia Anastácia, Rabicó e outros enfatizando a realidade e a fantasia. Usou linguagem coloquial e acessível. Publicou outras obras que alcançaram também sucesso. Não abrangeu, porém, a sua vida apenas a literatura infantil. Interessou-se por riquezas que o Brasil possui. Iniciou a campanha na defesa do “O Petróleo é nosso”. Percorreu o Brasil realizando conferências e ressaltando que o petróleo daria vida mais digna aos brasileiros.

Nesse período traduziu livros estrangeiros e publicou diversas obras infantis: Emília no País da Gramática, As caçadas de Pedrinho, História do Mundo para crianças, Novas Reinações de Narizinho. O seu último livro, denominado “Zé Brasil”, Maria Inês, aqui na sua coluna, escolheu homena- trouxe a figura do “Jeca Tatu” reelaborada. Lançou obras que foram traduzidas para o espanhol. gear Monteiro Lobato e Cecília Mierelles

JOSÉ RENATO MONTEIRO LOBATO Teve também grande influência no meio jornalísA literatura infantil traduz as essências que existem tico e acadêmico. Atuou como jornalista, tradutor nas crianças: o amor, a pureza, a observação do que ensaísta, escritor, contista, dentre outras funções, existe ao seu redor. Traz em si, esta literatura, o en- Foi um homem defensor do País, da liberdade de cantamento, a magia, a descoberta da nova forma imprensa, amante da natureza, do universo infande descobrir o meio em que está inserida. Neste til. universo Pode-se dizer que Monteiro Lobato traz em si a esPensando neste universo o escritor José Rena- sência contida na afirmativa de Fernando Pessoa: “ to Monteiro Lobato viveu a construir o seu mu- Sê todo no que realiza”. ndo de sonhos e realidade. pôs-se a desenrolá-lo e tornou-se o Pai da Literatura Infantil no Brasil Monteiro Lobato, para mim, é um personagem pela extensão e riqueza literária de suas obras, que inserido na história que o Brasil registra. É o meu abordam personagens e estórias. Foi criando per- patrono na Academia de Letras, Artes e Ciências sonagens e cenários que conquistou leitores de di- Centro-Norte do Paraná, cadeira número 7. Repreversas faixas etárias, ultrapassando até o universo sento-o com muito orgulho. infantil. Por toda ampla e batalhadora trajetória, registraNo ano de 1921 publicou “Narizinho Arrebitado”. da há que sermos um Monteiro Lobato que traz no Este foi enviado para leitura às escolas onde o su- peito o ardor da luta honesta pelo bem coletivo do cesso aconteceu. Apresentou outros livros com esta país sem deixar de ser valente. personagem girando em torno do “Sítio do Pica Pau Amarelo”, que conta com personagens como Revue Cultive - Genève

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CECÍLIA MEIRELES, MAIS QUE POETISA Maria Inês Botelho presta homenagem a sua patrona da Academia Internacional da União Cultural.

Monteiro Lobato Desbravador de sonhos infantis (poema de Maria Inês Boelho)

Quando sonhos acontecem pelas veias infantis a alegria toma conta do espaço em que se encontra. Esses sonhos que são puros, carregados de esperanças, tornam o Céu mais colorido e ampliam o brilhar das estrelas. Que estes sonhos tão puros, que encantaram o Pai da Literatura Infantil no Brasil, Monteiro Lobato, possam se multiplicar e os seus personagens adquiram forma, emoções, traduzam a estória desejada e façam florescer, para sempre, os caminhos que percorrerem. Neste 19 de abril vamos dar vivas a Monteiro Lobato por ter conseguido penetrar na alma infantil e nela inserir a esperança de que sonhos são básicos para bem viver.

Cecília Meireles foi uma mulher que esteve à frente de seu tempo. Com o seu talento, seu carisma, sua força de vencer, abriu portas para outras mulheres em várias áreas que a sociedade abarca. Batalhou para se colocar como uma pessoa respeitada no seu período vivencial e dividir as conquistas obtidas. Cecília Meireles apresenta-se como um dos ícones da literatura brasileira. Galgou degraus, sempre alcançando-os, exitosamente. Nasceu no início do século XX – novembro de 1901, em um período que a mulher não tinha muita expressão como comando em metas propostas. Foi vencendo os degraus e alcançou o cume desejado. A sua vida familiar foi deveras diferente. Perdeu o seu pai antes de nascer e a sua mãe quando tinha três anos de idade. Este regaço familiar não lhe deu afeto, apoio como desejado. A avó a criou e passou a dar-lhe amor e educação. Acompanhou-a, ainda, por largos anos de vida. Propiciou-lhe educação sistemática matriculando-a no curso primário da Escola Estácio de Sá, cidade do Rio de Janeiro (RJ). Ao conclui-lo recebeu, das mãos de Olavo Bilac, inspetor de escola do distrito, uma medalha de ouro, tendo a inscrição de seu nome, pelo destaque tido no decorrer do curso, sempre com nota máxima. Em sua infância destaca “duas coisas que parecem negativas, mas que, para ela, foram essências: silêncio e solidão. Conseguiu superá-los. Partiu para a leitura de livros. Estes favoreceram a realidade somar-se ao nascer de sonhos e visualizar e entender a realidade de forma muito harmoniosa. Relata que estes dois tempos de vida estiveram “unidos como os fios de um pano”.¹

Meireles, Cecília – Literatura Comentada 26

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Brasil quem és tu? A vida corria. Cresceu. O tempo foi dando-lhe maturidade. Ingressou na Escola Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro. No ano de 1917 torna-se professora, mas isto não lhe basta. Adentra-se no estudo de línguas e no Conservatório Nacional de Música. Aprendeu a tocar violino e canto. Neste período nasce a poetisa, que desde cedo escrevia versos. Cecília inicia-se na profissão de professora e vai vencendo barreiras que surgem. Em 1919 pública o seu primeiro livro de poemas denominado “Espectros”.

produz os Poemas Italianos. Ainda percorre Porto Rico e Israel. Ao retornar ao Brasil, em 1958, publica a sua “Obra Poética”. Neste ínterim houve outras publicações. Falece em 9 de novembro de 1964, em plena atuação literária. Deixou obra inacabada , um poema épico-lírico em comemoração ao quarto centenário do Rio de Janeiro, bem como outros textos inéditos.

No ano de 1965, “recebe da Academia Brasileira de Casa-se. Continua a publicar outras obras, mesmo Letras o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto com filhas nascendo. Passa, neste período, a escre- de sua obra”.³ Consagra-se, assim, Cecília Meireles ver sobre Educação para o “Diário de Notícias” do que traduziu sentimentos através de uma “ contemRio de Janeiro. Foi convidada para organizar um plação poética afetuosa e participante.”³ “Centro Infantil no Pavilhão Mourisco”², localizado em Botafogo. Nele cria uma biblioteca infantil. Referência Meireles, Cecília – Literatura Comentada O sonho foi alcançado. Neste ínterim o governo português convida-a para conferências. Parte para o exterior, e, em Lisboa e Coimbra, difunde a nossa literatura, o nosso folclore. Mas, novas situações difíceis ocorreram. Em 1935 o marido suicida-se, e, para criar as filhas, parte para lecionar na Universidade Federal, da então capital do Brasil. Passou a ter publicações em diversos jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em 1938 tem o reconhecimento da Academia Brasileira de Letras através de seu livro de poesia “Viagem”. Recebeu o Prêmio de Poesia. Casa-se, novamente. Passa a ter uma vida voltada a viagens ao exterior, lecionando em universidade e realizando conferências. Neste período publica várias obras, dentre elas El-Rei e Criança, meu amor. Apresenta-se voltada ao folclore em 1951. Difunde-o. Nesse período tem a oportunidade de visitar os Açores, terra apresentada pela sua avó em folclore, bem como a França, a Bélgica e a Holanda. Nesta escreve Os Doze Noturnos e outras obras que são publicadas em 1952. Mais tarde visita a Índia, a convite do primeiro-ministro Nehru, onde se destaca ao expor a obra de Gandhi. Recebe o título de doutor honoris causa pela Universidade de Délhi. Neste período surgem poemas escritos na Índia. Ela compõe a “Elegia de Gandhi”, traduzida para vários idiomas. Ao regressar passa pela Itália e

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Brasil quem és tu?

IVANILDE MORAIS DE GUSMÃO

advogada, ensaíta, contista e poeta. Estudiosa de Karl Marx e da Literatura. Membro de várias Academias. Livros de ensaios: Sobre o Programa de Gotha, Karl Marx (2005); Dignidade na Morte (2009); Um Caminho para Marx (2011); Para Compreender o Método Dialético (2013); e de poesias: No Redemoinho da Vida a Luz Aflora em Mim (2015) (português/ francês); Entre o Silêncio e a Solidão (2016) (português/inglês); No Cotidiano da Vida a Poesia vai Construindo o Humano(2016)(português/francês); Nas Veredas da Vida com Ternura vai Resgatando o Humano(2017)português/inglês).

UM HOMEM DESAFIANDO SEU TEMPO E CONSTRUINDO HUMANIDADE JOSUÉ DE CASTRO 1908-1973

Janeiro, uma das primeiras fundadas no Brasil no século XIX. Nessas faculdades formavam-se os brasileiros que desejavam fazer cursos superiores e iriam comandar o país no Império e na Primeira República. Concluiu o curso em 1929, voltando à Recife e iniciando, como médico, as atividades profissionais, dedicando-se à especialidade de fisiologista. Enquanto cientista-pensador-escritor são alicerçados com a experiência na área de medicina em seu processo, de pioneiramente clinicar em assuntos ligados à nutrição. À condição de teórico acrescente-se a de escritor que denunciou os dramas da violência e da miséria humanas em forma de ficção – Sete Palmos de Terras e Um Caixão e Homens e Caranguejos -, por isso, ao pensador-cientista junta-se o artista que, em prosa literária, demonstra e analisa refletindo sobre os impactos e as situações- limite da fome, tecendo dramas e tragédias que enovelam o cotidiano de personagens-símbolos. Finalmente, dos seus estudos e pesquisas, Josué de Castro compreendeu com clareza que: “O que divide os homens não são as coisas, são as ideias de que eles têm das coisas...”. Iniciando suas atividades como professor universitário na Faculdade de Medicina, no Recife, foi convidado para lecionar na Universidade do Distrito Federal e, em seguida, na Universidade do Brasil, sucedendo ao professor francês Pierre Deffontaines.

As condições de saúde no país eram as mais precárias, sobretudo no interior. As moléstias eram numerosas e atingiam principalmente as populações do campo, mesmo depois de eliminadas moléstias epidêmicas ou endêmicas como a malária, a varíola, o cólera entre outras. A tuberculose era uma constante, atingindo populações de baixa renda e mal alimentadas; doenças como o mal de Chagas, o bócio, a esquistossomose e a lepra, tinham “Fome: flagelo fabricado pelos homens contra outros grande incidência em algumas regiões, demonshomens". trando que, além de problemas sanitários, os mais "Sou um homem interessado no espetáculo do mungraves eram sociais. do". Josué de Castro» Nascido no Recife a 5 de setembro de 1908, em uma família de origem sertaneja, Josué de Castro foi alfabetizado pela própria mãe, professora primária, fazendo os preparatórios no Instituto Carneiro Leão e no Ginásio Pernambucano. O curso superior foi feito na Faculdade de Medicina do Rio de 28

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Nos seus escritos adotou a forma de romance, e não de ensaio, para ter maior liberdade em se expressar e, por acreditar que um romance teria maior divulgação e influência. O Recife e os fatores que determinaram a sua localização foram o tema de sua tese de cátedra na Universidade do Brasil (1957). O


Brasil quem és tu? Nordeste foi a sua preocupação constante, tanto na juventude, quando reuniu em livro ensaios sobre a região, quanto no exílio, quando admitiu que o Nordeste empobrecido e espoliado era uma região explosiva, escrevendo o livro Sete Palmos de Terra e um Caixão. A mudança de escala do regional para o nacional é observada em Geografia da fome, na qual não procurou generalizar conhecimentos científicos sobre alimentação de forma difusa e universal, mas desceu à escala regional analisando as características alimentares e as carências delas decorrentes em cada uma das cinco regiões em que dividiu o país. A seguir, ampliando a escala para o mundo, procurou dividir a superfície da terra em áreas ricas e pobres no contraste Norte/Sul, ligando o problema do subdesenvolvimento aos da fome e da pobreza.

Descobriu a fome nos anos de infância, nos alagados, onde conviveu com os afogados deste mar de pobreza. O fenômeno se revelou nos mangues do Capibaribe, nos bairros miseráveis dessa cidade chamada Recife. A lama dos mangues fervilhando de caranguejos e povoadas de seres humanos feitos de carne de caranguejo, pensando e sentindo como eles – os caranguejos; que com eles aprendiam a engatinhar e a andar na lama; lambuzando-se acabavam pensando e sentindo como eles.

Seres anfíbios – habitantes da terra e da lama, meio homens e meios bichos, alimentados na infância com o caldo desses anfíbios: leite de lama. Seres humanos que se faziam assim irmãos de leite Seu desejo era escrever sobre a fome em cada um desses outros anfíbios; convivendo em simbiose: dos continentes, mas teve de reduzir a sua ambi- mangues, caranguejos e homens. ção científica a publicar um único livro sobre o mundo não-brasileiro: Geopolítica da Fome (1948) Depois de terem bebido o leite da lama, de se terem no qual aplicou o mesmo método utilizado ante- enlambuzado com o caldo da lama dos mangues; riormente. As conclusões são semelhantes, de vez de se terem impregnado com o cheiro de lama, terque nele demonstra como a pobreza e o baixo nível ra podre e maresia, nunca mais poderiam se liberalimentar dominantes nos continentes pobres não tar desta crosta que os tornaria tão parecidos com são resultado apenas da elevada densidade demo- os caranguejos, irmãos, com suas duras carapaças gráfica, mas do processo colonial continuado pelo também enlambuzados de lama. imperialismo e, mais modernamente, pela globalização que desviou a produção agrícola dos vários Nesse estranho mimetismo: homens assemelhanpovos do objetivo do abastecimento regional ou do-se em tudo aos caranguejos; arrastando-se, acanacional, para a exportação de produtos a serem chapando-se e parados como eles para sobreviver consumidos no mundo dito desenvolvido. Como à beira d’água, ou caminhando para trás nos mansalientou Charles Bettelheim (1964), o problema gues. Os habitantes dos mangues, depois de terem não é praticamente de subdesenvolvimento, mas de um dia saltado para dentro da vida, nessa lama distorção da economia dos países colonizados. O pegajosa, dificilmente conseguiam sair desse ciclo: problema não é do crescimento em sentido linear, mangues/caranguejos/homens; a não ser, saltando para a morte; para sempre, afundando-se na lama. mas do seu desvio. Assim, em homenagem a esse grande pensador, es- Esses homens e caranguejos nascidos à beira do rio, à medida que cresciam, iam cada vez se atocritor a nossa homenagem. lando na lama; parecia que a vegetação densa dos mangues com seus troncos retorcidos, em seus galhos rugosos e com a densa rede de suas raízes perfurantes os tinham agarrado definitivamente, como um polvo, enfiando tentáculos invisíveis por dentro de sua carne, por todos os buracos de sua pele, pelos olhos, pela boca, pelos ouvidos dos habitantes desse lugar.

ESTRANHO MIMETISMO: mangues, caranguejos e homens... A Josué de Castro

(in memoriam)

E assim ficavam todos afogados, agarrados pelas ventosas com as quais os mangues insaciáveis lhes Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? sugavam todo o suco da sua carne e de sua alma de escravos. Com uma força estranha, os mangues iam se apoderando da vida de toda essa gente..., uma posse lenta, tenaz, definitiva.

miséria mundial era a fome, afirmava, então, ser interessado no espetáculo do mundo; e que: A minha medida é o homem.

O resto é paisagem. Denunciou a fome como flageOs mangues vieram com os rios e com os mate- lo fabricado pelos homens, contra outros homens. riais trazidos. Foram laboriosamente construindo seu próprio solo, batendo-se em luta constate com referência o mar, como se fossem tropas de ocupação e, ao CASTRO, Josué de. Documentário sobre o Nordeste. Rio de Janeiro, contato com o mar, edificaram silenciosa e pro- Livraria José Olympio, 1937. A geografia da fome. A fome no Brasil. gressivamente a imensa baixada aluvial cortada Ensaio - Rio de Janeiro, Empresa Gráfica O Cruzeiro, 1946.Os problemas de alimentação e de população do mundo (ensaio). Rio de por inúmeros braços dos rios densamente povoada Janeiro, Casa do Estudante do Brasil, 1948. Fatores de localização Numa simbiose - de caranguejos e homens. A primeira sociedade que Josué de Castro tomou conhecimento foi a dos habitantes dos mangues. Irmãos de leite dos caranguejos. Muito tempo depois quando, como pensador e pesquisador analisou esse fenômeno, fez questão de afirmar: Tudo que viu e aprendeu na caminhada, a maior parcela desse conhecimento adquiriu nos mangues, onde caranguejos e homens são filhos da lama. É a história da sociedade desses seres anfíbios que contou em livros em forma de ensaios, de romances e no cinema. No seu caminhar pelo mundo, em outras paisagens, descobriu: Que o fenômeno da fome não era apenas local, mas sim universal; Que a paisagem humana dos mangues se reproduzia pelo mundo inteiro; Que os personagens da lama do Recife eram idênticos a de outras áreas; Que a lama humana continua sujando o planeta com sua miséria; Que as manchas demográficas eram o registro da geografia da fome. Conhecendo o monstro da fome nos mangues do Capibaribe, ficou fascinado pela capacidade de sobrevivência desses homens caranguejos. Não conseguindo se libertar desse sentimento, passou a descrever e denunciar o que ocorria, não só nos mangues de Recife, mas nas terras do mundo onde a miséria, a fome e a morte - Presença constante estavam a tecer o destino dos homens. A este humanista, pernambucano, universal e múltiplo, a nossa homenagem; porque vivendo numa época de extrema riqueza e extrema pobreza, cuja 30

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da cidade do Recife. (ensaio) Rio de Janeiro, 1957. Tese (Cátedra de Geografia Humana). Universidade do Brasil.Sete palmos de terra e um caixão. (Romance)2ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1967. Homens e caranguejos.(romance) São Paulo, Brasiliense, 1968. Geografia da fome. 10ª ed. São Paulo, Círculo do Livro, 1995.


Brasil quem és tu? seus anos dourados em Fortaleza encontram espaço em seu último livro Entre facas, algodão, com passagens por lugares famosos, como as praias da Taíba, Prainha, do Futuro e do Meireles. Após nove anos na terra de José de Alencar, movido pelo sonho de seguir carreira diplomática, decidiu morar no Rio de Janeiro, e lá concluiu o curso de Direito na UFRJ e o curso do Instituto Rio Branco. Na época, recebeu a Medalha de Ouro do Rio Branco pela conquista do primeiro lugar no Tereza Porto – Escritora, poetisa, professora Curso de Preparação à Carreira Diplomática dae revisora de Português, escreve sobre o autor, pro- quele Instituto. Mudou-se para Brasília e começou fessor, diplomata e imortal da ABL João Almino a trabalhar no Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

JOÃO ALMINO Dentre os valores da atual literatura brasileira, um nome se destaca: João Almino de Souza Filho, ou simplesmente João Almino, seu nome autoral. Filho de uma família de sete irmãos, o escritor e diplomata João Almino nasceu em 1950 na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde passou sua infância. Cedo teve contato com o universo literário pelas mãos de seu pai, grande leitor que tinha uma especial predileção pelas obras de dois ilustres escritores paraibanos: José Lins do Rego e José Américo de Almeida. Ainda menino, fez suas primeiras tentativas de escrever um livro em seu caderno de escola, sempre sob o incentivo e os elogios do pai, a quem “devo o amor pelos livros”, como afirma João Almino.

Sua produção literária é muito profícua. João Almino é autor de sete obras de ficção, que tiveram grande aceitação nos meios culturais do Brasil e do exterior. São elas: Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo (1987); Samba-Enredo (1994); As Cinco Estações do Amor (2001); O Livro das Emoções (2008); Cidade Livre (2010); Enigmas da Primavera (2015); Entre facas, algodão (2017). No campo da não ficção, incluem-se ainda 12 trabalhos publicados. São quatro livros e oito ensaios voltados para as áreas de História, Política e Filosofia.

As obras de ficção têm como cenário inicial Brasília, cidade inaugurada em 1960, portanto, 10 anos mais nova que o escritor e, talvez por ser tão jovem, ainda esteja em processo de construção de sua identidade. Apesar de, desde o século XIX, habitar o sonho de personagens Escritor João Almino. «Membro da Academia Brasileira famosos como José Bonifácio e de Letras. Atual Embaixador do Machado de Assis, que acreditavam na construção “de uma Brasil em Quito, Equador» cidade central no interior do Brasil”. Sem marcas regionais fortes, uma vez que sua população é formada por Aos 12 anos, após a morte do pai, a família mu- migrantes de diferentes partes do país, Brasília dou-se para o Ceará, estado natal de sua mãe. Al- acolheu várias naturalidades brasileiras que se inmino viveu sua adolescência em Fortaleza, cidade corporaram à mística do lugar. em que completou seu curso secundário e iniciou o universitário na Faculdade de Direito da Uni- Antes de Almino, não havia registro de a cidade ter versidade Federal do Ceará. Reminiscências de servido de palco para o desenvolvimento da traRevue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? ma de romances. Mas, decerto, o chiar estridente das cigarras, o pó vermelho que cobre os vastos espaços, o traço reto do concreto erguido, abrindo nas fachadas curvas e linhas sinuosas, as asas norte e sul do avião sobre o planalto central, tudo isso pode ter construído a plataforma ideal para a criação de seus personagens, marcando o ponto de partida para seu processo de criação literária.

arroubos linguísticos. Sua escrita não se perde na busca da sofisticação. Seu fazer literário, permeado de períodos curtos e linguagem direta, proporciona uma leitura agradável e prazerosa, que encanta e prende o leitor numa viagem de puro deleite.

Como diplomata, João Almino, em sua brilhante carreira, serviu nas embaixadas do Brasil em Paris, Beirute, México e Washington. Foi ainda MinisEm várias passagens dos livros, elementos como tro-Conselheiro em Londres, e Cônsul-Geral em a flora e o traçado geográfico retratam a paisagem São Francisco, Lisboa, Miami, Chicago e Madri. de Brasília, única em suas peculiaridades. Como Atualmente, é Embaixador do Brasil em Quito, no no trecho: “É fim do inverno, auge da seca, mas as Equador. folhas amarelas das sibipirunas tremem sob a luz do poste. Noto também um bico-de-papagaio, com Foi professor da UNB, do Instituto Rio Branco, e suas folhas vermelhas” (...) “Na curva do caminho, das Universidades do México, Berkeley, Stanford e reflexos da outra margem – de medo e apreensão – Chicago, instituições nas quais ensinou Filosofia e cintilam sobre uma lâmina de água do Paranoá.”, Literatura. do romance As cinco estações do amor, publicado em 2001. Neste livro, escrito em primeira pessoa, o A obra do escritor João Almino é uma importante autor assumiu o desafio de ter como personagem demonstração de que a literatura brasileira contiprincipal de sua narrativa uma mulher, Ana, retra- nua vigorosa e pulsante, expressando a realidade tando com incrível sensibilidade e verossimilhança social e ontológica do brasileiro inserido em um o universo feminino, com todos os seus conflitos contexto moderno de convivência com novas feremocionais, sonhos, desejos e especificidades. ramentas tecnológicas e processos virtuais de comunicação. Sem dúvidas, um escritor contempoAlgumas de suas obras já foram traduzidas para o râneo que representa verdadeiramente o espírito inglês, o francês, o espanhol e o italiano, e seguem do Brasil. divulgando a literatura brasileira contemporânea nas prateleiras de livrarias pelo mundo afora. Fo- Esse é João Almino. Um ser multifacetado com ram também contempladas com várias e impor- muitas habilidades e talentos. Que desde julho de tantes premiações literárias, como o Prêmio do 2017 ocupa a cadeira nº 22 da Academia Brasileira Instituto Nacional do Livro e o Prêmio Candango de Letras, um reconhecimento justo e merecido de de Literatura; o Prêmio Casa de las Américas, em sua produção literária que marca definitivamente 2003; o Prêmio Record em 2008, 2010 e 2015; o seu ingresso no Olimpo da Literatura no Brasil. Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura em 2011 e o Prêmio Jabuti, 2º. colocado, de Livro Brasileiro Publicado no Exterior. O caráter dualista de sua obra, em que os opostos estão sempre em confronto, mostra a natureza dialética de sua prosa narrativa. São muitos os percursos antagônicos entre o real e a utopia, entre o pessimismo e a esperança, entre o tempo passado e o “zero momento” do presente, entre a vida na cidade e a atração pelo sertão, entre a delicadeza e a crueza de sentimentos insidiosos, entre conflitos existenciais e a realidade cotidiana dos personagens. Vale também destacar a fluidez do texto de João Almino, que agrega uma intensa leveza à narrativa, revestida de uma simplicidade despojada de 32

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Brasil quem és tu? contro de Carrero com os livros. A literatura, a descoberta do mundo e o mundo nele, logo viriam a ser a razão da sua vida. Menino dos acordes da Banda de Música da sua cidade, inscrito por sua saudosa mãe, que partiu quando ele tinha apenas doze anos de idade, mas que o “preparou para vida”, nas palavras dele. Do conjunto musical, Os Tártaros, formado na sua juventude por ele e outros amigos, migrou para a escrita e se fez jornalista, esse foi o caminho para seus acordes literários.

Lúcia Sousa, escritora e jornalista da Cultive revela O GRANDE ESCRITOR CONTEMPORÂNEO

RAIMUNDO CARRERO

Sua narrativa é forte, carregada de puro sertão que o agita e o sacode, o fervor de sua criação, o entusiasmo, a força dos seus valores e da sua personalidade, transparecem nas imagens dos seus personagens e nas cenas, pois sem estes aspectos, para ele, a literatura não caminha. Das origens do calor ardente do sertão, existe com ele a fé do cristão fervoroso, valores constituídos na família sertaneja. Se o Cristo está pregado na cruz, pregado está no colo dele. Carrero tem um crucifixo no bolso, na sua residência, até na sua Oficina de Criação Literária Raimundo Carrero há um terço.

Em 2010, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), em seguida escreveu o livro “O senhor agora vai mudar de corpo”; se mudou, foram seus passos, curtos e difíceis e os dedos das mãos encarquilhados, mas a sua essência não se alterou. “Vocês Raimundo Carrero de Barros Filho, nasceu em 20 não sabem o que é carregar o próprio corpo, até pade dezembro de 1947. Foi menino do sertão, da cireço com o Frankenstein”, ironiza ele, em decorrêndade de Salgueiro, a 513 km da capital de Pernamcia das sequelas do episódio do AVC, mas continua buco. escrevendo e escrevendo, não para não. A luz forte do sertão iluminou o mais profundo do seu ser. Os gemidos e as dores da terra árida e tórrida acompanham Raimundo Carrero, assim como os açoites dos ventos e das portas que batem para o deleite ardente do sertanejo quando a brisa surge nas noites de verão. O Sertão que ele carrega na alma, no corpo e na sua fala não se dissociam e assim se fez valer na construção da sua escrita literária. Ele e sua escrita estão impregnados por este sertão vivo. A página, nas mãos do Escritor Raimundo Carrero, Carrero viveu nos balcões da loja de roupas e não fica em branco. Sua obra mais recente “Colégio chapéus do seu pai junto com livros espalhados e de Freiras” retrata o conflito social de um tempo, deixados pelo seu irmão. Assim, aconteceu o enRevue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? que por critérios reprobatórios em, que a sociedade gimento de uma ideia: construir um livro em hocondenava sem julgamentos a reputação de jovens menagem ao Mestre Carrero. Convidei a amiga e escritora Josy Almeida, colega nas aulas da Oficina consideradas à vergonha da família. de Criação Literária Raimundo Carrero, para criarRomancista e contista, participou ativamente, na mos uma antologia intitulada: Antologia Carrero década de 70, do Movimento Armorial idealizado com 70. por Ariano Suassuna, seu incentivador literário e amigo. Com o olhar voltado à produção de obra erudita com base na cultura popular, onde encontram-se suas raízes e seus símbolos. Carrero possui mais de vinte obras editadas e traduzidas para vários idiomas. Recebeu muitos prêmios que o consagram na literatura, entre eles o Prêmio Jabuti, Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional e Prêmio da Associação Paulista de Críticos da Arte (APCA). Mas a simplicidade e humildade se faz presente neste homem, que é aquele que acolhe e aquece a quem o procura. Estes foram os aspectos referenciados no Noticiário A Voz do Brasil por ocasião dos festejos dos seus 70 anos e O projeto recebeu o apoio cultural da Editora Cepe e da Academia Pernambucana de Letras-APL, que por todos nós que o conhecemos. o considera um dos seus mais ilustres membros. No ano de 2017, o Governo do Estado de Pernam- A Presidente da APL e escritora Drª. Margaribuco estendeu até ano de 2018 comemorações a sua da Cantarelli prefaceou a obra, na contracapa a pessoa, iniciando com uma festa para recebê-lo em vice-presidente da APL Profª e Drª Luzilá Gonçalsua cidade natal: Salgueiro-PE, Feiras e Festivais ves escreveu considerações. O conteúdo da antoloLiterários: Flipo-Ipojuca-PE, Festival de Inverno gia compõe-se de textos escritos por alguns acadêde Garanhuns-FIG, Festival Literário de Parati-RJ, micos da APL, escritores de referência nacional, entre outras comemorações. Tendo sido condeco- ex-alunos que Carrero formou ao longo do tempo, rado com a maior Comenda do Estado: Medalha admiradores e amigos. Devido ao grande número de escritores que homenageam o querido Carrero da Ordem do Mérito dos Guararapes. nessa magnífica obra, torna-se quase impossível Homenagem: Antologia Carrero com70 nomeá-los aqui, mas estão registrados no livro e em nossas lembranças com imenso carinho e gratidão porque sem eles não teríamos realizado este feito. Por fim ,não posso deixar de mencionar os membros da Associação Cultive Art Littérature et Solidarité: Dom Bruno Lira e Eugênia Melo. A literatura para Raimundo Carrero é sinônimo de motivação, ele credita muito em seu próprio trabalho e mesmo atravessando chamas ardentes da vida, se desdobra e se fragmenta entre as coisas do céu e da terra; um dilacerar entre o bem e o mal, que ele constrói com características emblemáticas, não representam personagens individuais, porém uma reflexão social, são figurações voltadas aos valores morais. Fui sua aluna e admiradora da sua obra. Aconteceu, com alegria e orgulho em um lampejo, o sur34

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Aguardemos sua próxima publicação literária!


Brasil quem és tu?

por: Iratan

Curvello

Foto: Iratan Curvello

João da Cruz e Sousa O Cisne negro ou o Dante negro

queno João, deu-se a protegê-lo e a cuidar ela mesma da educação do pequeno e astuto personagem, ensinando a ele as primeiras letras. Possibilitou com o passar dos anos, o seu aprendizado de Francês, Latim e Grego, e aulas particulares de matemática e ciências naturais. Aos oito anos de idade, ainda instruído por sua protetora dona Clarinda, mostrava na bucólica Nossa Senhora do Desterro, a que viera o nosso personagem, recitando versos de sua lavra, que encantaram os presentes, na festa preparada para receber o Marechal Guilherme Xavier de Souza que voltava em 1869, da frente de batalha da Guerra do Paraguai. A partir deste evento, passa a convite, a declamar em salões e teatrinhos da pequena cidade; percebe-se, então, o descortinar de um mundo envolto em desafios ao nosso João da Cruz e Sousa, que começa a perceber, como seria dura a vida para um negro que buscasse demonstrar ao mundo, sua capacidade intelectual para produzir textos, discursos, poesias, sonhando e ousando ser um escritor. Antes de se aventurar no universo das letras e já sem a proteção dos senhores que já haviam falecidos, serve de caixeiro em um armazém. Em 1874 é agraciado com uma bolsa para estudar no Colégio Ateneu Provincial Catarinense, demonstrando ali sua incomensurável capacidade intelectual, aliada a sua inesgotável sede de saber. Em 1876 concluiu seus estudos no Ateneu, passando a ministrar aulas particulares e abrindo um curso noturno para adultos. Era um leitor contumaz, e se entregou à leitura das obras de Castro Alves, Guerra Junqueiro, Antero de Quental. Devorou também os livros em francês que cruzavam o Atlântico e lhe trouxeram a paixão pelo novo estilo literário modernista da época, que hoje conhecemos como “SIMBOLISMO”. O Simbolismo já havia sido implantado na França a partir de 1870 e tinha como mestres Stéphane Mallarmé, Stefan George entre outros.

É este o personagem catarinense de expressividade O movimento surgiu na França no final do século mundial na literatura, que trazemos para apresen- XIX e se difundiu nas artes plásticas, teatro, e atratar nesta edição. vés da literatura ganhou o mundo. Nasceu em 24 de novembro de 1861 num domingo, em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), tendo como pai Guilherme da Cruz, um mestre pedreiro e sua mãe Carolina Eva da Conceição, uma lavadeira. Ambos negros alforriados que prestavam serviços domésticos ao Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa Clarinda Fagundes de Sousa, e esta por não ter filhos, afeiçoou-se ao pe-

O simbolismo teve início, como uma reação literária contrária aos movimentos naturalista e realista, pois eram anti-idealistas que exaltavam a realidade cotidiana, renunciando ao ideal. O primeiro escritor a se rebelar foi o poeta francês Charles Baudelaire, hoje considerado patrono da lírica moderna e impulsionador de movimentos como Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? o Parnasianismo, Decadentismo, Modernismo e o Virgílio Várzea, este que é o seu primeiro livro em próprio simbolismo. prosa: “Tropos e Fantasias”. Os adeptos simbolistas foram aos poucos se distanciando do parnasianismo, por não comungar da devoção ao verso perfeito parnasiano, pois a corrente literária simbolista se inclinava mais para o hermetismo, desenvolvendo um modelo de versificação livre, desdenhador da objetividade do Parnasianismo. Porém, várias características parnasianas foram assimiladas, como o gosto pelo jogo de palavras, a musicalidade nos versos e sobretudo, o lema trazido por Théophile Gautier “Da arte pela arte”, que muito bem se encaixava no movimento simbolista de um modo geral em todas as expressões culturais. Os movimentos se fragmentaram completamente quando Arthur Rimbaud e outros poetas (Círculo dos poe-tas Zúticos) se fartaram do estilo perfeccionista parnasiano, publicando várias paródias sobre o modo de escrever de suas mais imponentes figuras. Na sua forma literária o simbolismo trazia como principais características a ênfase em temas místicos, imaginários e subjetivos; - Caráter individualista; Desconsiderações das questões sociais abordadas pelo Realismo e Naturalismo; e dentro deste universo literário, tinha como marcas fortes, a utilização de recursos literários através da figuras de linguagem como a aliteração (repetição de um fonema consonantal), a assonância (repetição de fonemas vocálicos) e sua Estética marcada pela nítida musicalidade. Na sua ânsia de escritor, funda aos 21 anos de idade, com o amigo Virgílio Várzea, a publicação do jornalzinho literário semanal “Colombo”, e em 1882 funda com outros companheiros o jornal “Folha Popular”. Na sua vivência no meio cultural, conhece a Companhia dramática de Moreira de Vasconcellos, onde sua estrela principal é a notável pequena Julieta dos Santos, é contratado como ponto da companhia, passando a excursionar pelo Brasil, aproveitando aí para se engajar nas campanhas abolicionistas que eram o cerne do momen-to. Nessas viagens passou a ministrar palestras, a produzir discursos e construções poéticas, voltadas a essa temática.

Na sua terra natal, o reconhecimento como um escritor não chegava e a indiferença e o preconceito já era notório em relação ao nosso personagem, pois fechavam-lhe as portas. Empregou ele uma viagem no ano de 1888 para o Rio de Janeiro, nossa capital na época, que respirava o momento político-social com o movimento pela libertação dos escravos e a efervescência cultural literária, que poderia ser um campo fértil para o seu reconhecimen-to, assim pensava ele. Como lá a vida também não lhe sorriu, ficou apenas oito meses e retornou a sua Santa Catarina, onde permaneceu por dois longos e duros anos e que de fato lhe obrigaram a retornar em 1890 definitivamente ao Rio de Janeiro. Mas a vida de um negro independe do lugar onde ele está, se no sul ou no norte, é a cor da pele, que muitas vezes traça o seu destino, se ele assim o permitir. Já na capital passou a colaborar com as revistas “Ilustrada” e “Novidades” e a publicar nos jornais “Folha Popular” e “O Tempo", seus manifestos simbolistas, pois já fazia parte do grupo “Novos” assim chamados ou “decadentes” que já eram os escritores que comungavam do movimento simbolista brasileiro, que vinha em ascensão frente ao movimento par-nasiano reinante até então. Envolveu-se com os literatos da época e deles não angariou o reconhecimento que merecia e se reinventou ao ser um dos pioneiros na implantação do movimento simbolista brasileiro, publicando em fevereiro de 1893 o livro Missal (prosa poética baudelariana) e em agosto lançou o livro “Broquéis” (poesia), o que o consagrou como o fundador do movimento simbolista no Brasil, por conseguir combinar o parnasianismo, o materialismo e o pessimismo, a musicalidade, regidas pela notória influência de Baudelaire e Antero de Quental, como reflexo das suas incontáveis leituras. Já enamorado da jovem Gavita Rosa Gonçalves que conhecera em 1892, casa-se a 9 de novembro, selando ser ela a única a lhe dar em vida alegrias, outra conquista notável foi sua nomeação para ser funcionário da es-trada de Ferro Central do Brasil.

Após esse período, retorna em 17 de maio de 1885 a Nossa Senhora do Desterro onde as-sume a reda- A literatura em vida não lhe rendeu frutos, pois vição do jornal “O Moleque”, e em junho publica com via as minguas com os poucos trocados que ganha36

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Brasil quem és tu? va como funcionário da estrada de Ferro Central do Brasil, mas mesmo assim, passava noites a fio produzindo seus incontáveis sonetos. Essa produção textual se asseverou a partir de 1894 quando o mesmo foi diagnosticado de tuberculose, o chamado mal do século, vindo a concluir em 1897 a elaboração dos livros “Evocações” e “Faróis”. Já sem forças para lutar contra o mal que lhe minava a energias durante quase cinco longos anos e sem condições de se suster, alguns valorosos amigos lhe oportunizaram viajar às Minas Gerais em busca de um clima mais propício para um possível tratamento e restabelecimento da saúde. Isso de fato não veio a acontecer, pois sua chegada com Gavita ao povoado chamado Estação do Sítio, pertencente a localidade de Curral Novo (atual cidade de Antônio Carlos) é marcada pelo seu falecimento em 19 de março de 1898. Seu corpo foi transportado em um vagão destinado ao transporte de cavalos para o Rio de Janeiro, que por iniciativa de seu amigo José do Patrocínio entre outros, lhe concederam um enterro digno no cemitério São Francisco Xavier.

no palácio que leva o nome do reconhecido poeta desterrense.

É com a publicação post mortem das suas obras, que Cruz e Sousa começa a ser reconhecido ao longo dos anos que se seguem, como um dos grandes nomes do movimento simbolista e vai se consolidando com cada obra que é publicada mundo afora, como um dos três maiores escritores do movimento simbolista mundial, fato este comprovado pelo professor francês Roger Bastilde que lecionou e pesquisou durante anos na USP. O professor manifestou entusiasmo com a poesia de Cruz e Sousa e escreveu quatro estudos sobre ele que estão inclusos no livro “A Poesia Afro-Brasileira” publicada em 1941 e que o coloca na tríade Mallarmé, Stefan George e Cruz e Sousa, como as maiores figuras expressionistas do movimento simbolista mundial. O escritor fez da sua dura vida de sofrimento e infortúnios no universo literário, e também da sua realidade pessoal na sociedade familiar, marcada por sucessivos momentos de tristezas, uma fonte inesgotável para produzir seus sonetos, com uma riqueza na expressão dos seus mais diversos senA vida do nosso ilustre escritor João da Cruz e Sou- timentos que a vida lhe apresentou. Tudo isso nos sa foi marcada pela indiferença, pelo preconceito chega com intensidade, como se tivéssemos nós, em razão da sua cor, o não reconhecimento em vivenciado aqueles fatos, como no poema Vida vida por sua genialidade. Esses fatos marcaram a Obscura que abaixo apresento, publicado no livro sua vivência, numa constante tristeza profunda e «Últimos Sonetos» em 1905. luta para se manter fiel aos seus princípios e fazer da própria vida, uma marca de luta constante do VIDA OBSCURA ser, que não se deixa vencer pelas mazelas que a sociedade desejara lhe impor. Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres. Seu espólio poético foi entregue ao seu fiel amigo Embriagado, tonto dos prazeres, Nestor Vítor que se tornou o guardião e grande res- O mundo para ti foi negro e duro. ponsável pela preservação da sua obra, sendo este o empreendedor que a partir de então, tomou para si Atravessaste num silêncio escuro o compromisso de publicar o livro escrito em pro- A vida presa e trágicos deveres sa “Evocações” o que se deu em novembro de 1898; E chegaste ao saber de altos saberes os livros de poemas “Faróis” foram publicado em Tornando-te mais simples e mais puro. 1900 e “últimos Sonetos” com publicação em Paris, na França, no ano de 1905. Ninguém te viu o sentimento inquieto, Magoado, oculto e aterrador, secreto. Por iniciativa do Governo do Estado de Santa Cata- Que o coração te apunhalou no mundo. rina, foi solicitado junto a família de Cruz e Sousa e ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, a trans- Mas eu que sempre te segui os passos ferência dos restos mortais do nosso grande poeta, Sei que cruz infernal prendeu-te os braços que após permanecer no Rio de Janeiro por 109 E o teu suspiro como foi profundo! anos, veio a ser transladado e recebido em 29 de novembro de 2007 pelo então governador de Santa João da Cruz e Sousa é a figura catarinense da liCata-rina: Luiz Henrique da Silveira, em cerimônia teratura de maior expressividade no mundo. Seus Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu?

LUIZ DELFINO poeta da ILHA

Associação Literária, nem da Academia Brasileira de Letras. Era considerado um solitário, fiel a suas crenças e muito amado como poeta e humanista. Mas, foi em 29 de dezembro de 1898, sem consulta ou votação, foi eleito, pelos próprios colegas escritores, como "Príncipe dos Poetas Brasileiros". Apesar dos projetos e planos de publicação de seu acervo poético, ao longo de sua vida, não o fez. Depois de sua morte, sua obra foi publicada em quatorze livros, por seu filho, Tomás Delfino dos Santos, entre 1926 e 1943. Entre eles estão Algas e Musgos (1927), Íntimas e Aspásias (1935) e Imortalidades (1941).

Eloah Westphalen Naschenweng, poeta catarinense nos presenteia com o poetaLuiz Delfino O Amor!... Que pendura universos na pupila, E eterniza numa alma a primavera; ( Luiz Delfino)

Em 2001 a Academia Catarinense de Letras reuniu a poesía de Luiz Delfino em dois exemplares, num total de cerca de 950 páginas: Luiz Delfino Tomo I – Poesia Completa- Sonetos Luiz Delfino Tomo II – Poesia Completa-Poemas Longos

Luiz Delfino, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, SC, em 1834 e faleceu no Capa Rio de Janeiro, em 1910. Concluiu, em 1857, o curso na Academia Imperial de Medicina, no Rio de Janeiro. Ao longo da sua vida, dedicou-se à medicina e à literatura. Fez sua estréia literária, em 1852, com a publicação do conto “ O Órfão do Templo”, na revista carioca Beija-Flor. O poema mais famoso de sua primeira fase poética, “A Filha d´África”, foi publicado em 1862, na Revista Popular. Em 1885, foi eleito o maior poeta vivo do Brasil, em concurso da revista “A Semana”. Com uma extensa produção de poemas, navegou entre o Romantismo e o Parnasianismo passando pelo Simbolismo. Foi o Parnasianismo que o levou a identificar no soneto o Luiz Delfino é o patrono da seu veículo ideal de expressão. A perfeição na rima, cadeira 27 da Academia de Letras de Palhoça/SC que honraem métrica, dá cadência e musicalidade à sua obra. da ocupo desde 2017. Em 2018 publiquei o opúsculo,” Panegírico /Luiz Delfino”, O amor e a mulher eram seus temas preferidos. pelo Clube de Autores/São Paulo/Brasil. Em 1898, em pleno romance com Eugênia, a sua Publicado no Clube de Autores, São Paulo. musa Helena, sua produção foi intensa. Apesar de poeta consagrado, não fazia parte de nenhuma Em 2019 publiquei o livro “Eu e os Poetas” interca38

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CADÁVER DE VIRGEM Luís Delfino

lando a minha prosa poética com a poesia de varios poetas, entre eles, Luiz Delfino.

Estava no caixão como num leito, Palidamente fria e adormecida; As mãos cruzadas sobre o casto peito, E em cada olhar sem luz um Sol sem vida.

Saudades

Pés atados com fita em nó perfeito, De roupas alvas de cetim vestida; O tronco duro, rígido, direito, A face calma, lânguida, dorida...

Quando o teu sorriso dançava no meu olhar, uma nova luz iluminava o dia e as minhas fantasias.

O diadema das virgens sobre a testa, Níveo lírio entre as mãos, toda enfeitada, Mas como noiva, que cansou na festa.

No calar das nossas vozes a serenar nossas verdades, sinto agora, o nascer de uma saudade que será sempre minha, eternamente,

Por seis cavalos brancos arrancada... Onde irás tu passar a longa sesta Na mole cama, em que te vi deitada?!...

Eloah Westphalen Naschenweng

Pois têm a duração da eternidade, e tem a eternidade do universo (Sol e Amor – Luiz Delfino) É esta saudade que me invade e que me leva por ruas onde nunca andei, que me faz lembrar traços da vida nos retalhos das memórias e no olhar a derramar brisas de poesia, a arder em perfeita chama. E a voz canta, ou cicia, ou ruge, ou fala... ( Interrogar, para quê? Luiz Delfino) Ainda quero sentir aquele raio de sol, aquele abraço apertado, o calor dos teus dedos entrelaçados, o sentimento a fluir dentro do peito e a emoção a nos fazer voar, como sempre, E em cima disto o céu de azul diferente Onde milhões de pálidas estrelas Parecem sorrir languidamente... (Guache- Luiz Delfino)

ALTAR SEM DEUS luís Delfino

Inda não voltas? — Como a vida salta Destes quadros de esplêndidas molduras! Mulheres nuas, raras formosuras... Só a tua nudez entre elas falta ... Pede-te o espelho de armação tão alta, Onde revias tuas formas puras; Pedem-te as cegas, lúbricas alvuras Do linho, que a Paixão no leito exalta. Pedem-te os vasos cheios de perfume Os dunquerques, as rendas, as cortinas, Tudo quanto a mulher de bom resume, Escolhido por tuas mãos divinas... E sai do teu altar vazio, ó nume, A tristeza indizível das ruínas ...

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Luís_Delfino

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UMA PROSA COM VINICIUS por Jacqueline assunção

sentar-me no famoso bar “Garota de Ipanema» onde tantos artistas cantavam, cantam e encantam. Localização do icônico Bar: Rua Vinícius de Moraes, 49, Ipanema. A história do “Garota de Ipanema” se mistura com a história do Rio de Janeiro e com a do Brasil. Foi palco da inspirada música do mesmo tema. Jacquel in Assunç e ão Prosa c om Viniciu s De Mo raes

Sabe querido Vinicius, sua presença é clara aqui nesse lugar, inspira em mim, nessa tarde em Ipanema, a sensação de ter você a minha frente. Em volta tudo cala... só teus versos chegam em palavras e sussurram uma canção; ouço teu violão celebrando os anos de 1950, anos de ouro da Bossa Nova, aqui nesse bar inaugurado em 1949 com o nome de bar Montenegro (o estabelecimento era conhecido pelos artistas como «bar do Veloso», nome do pro“É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor prietário. O dono atual comprou-o em 1975). coisa que existe é assim como a luz no coração...” Uma música de vinicius ao fundo nos atira como Ao vivo, fizemos uma resenha da história do samba, um imã e nos convida a sentar. Entre uma canção embalados pela canção de nosso saudoso poetinha. e outra, nasce a prosa tão sonhada, prosa com ViEu em minha casa com meu pandeiro e o colega El- nicius... Vinte e cinco de junho de 2020, ano incomum, dias estranhos... A pandemia do novo coronavírus invade os lares da Terra. Toda a humanidade está confinada em suas próprias casas. Inaugura-se um novo formato de trabalho (virtual). Nesse dia, apresentei uma live com Elmiro Ribeiro, na plataforma @assalceoficial, sob o tema “ Samba da Benção” de Vinicius de Moraes.

miro em sua casa com o seu. No final dos 59 minutos que a plataforma Instagran nos permite, finda o vídeo. E, encantada pela bossa nova de Vinicius e por muita poesia, embarquei numa travessia poética, como uma canção que nos atravessa a alma.

A imaginação nos liberta e como anjos alados vamos a lugares e viajamos num tempo que só a poesia permite, ressinificando o ser. Pura epifania! Eisme aqui embriagada de teus versos, de tua canção que insistem em vibrar na tênue ponte que separa a imaginação da realidade. Esse é um sonhar sem contornos, livre associação das palavras de um ser no divã, uma alma viajante.

EU –Vinicius, sinto na sua música seu poder de amar demais. Sua poesia reverbera porque vai da gênese à eternidade. O mundo é mais lindo por causa do amor ? ELE - Ah! Se ela soubesse que quando ela passa... O mundo inteirinho se enche de graça E fica mais lindo por causa do amor... EU - Quem é ela? ELE - Garota de Ipanema.

EU - Além da carreira Diplomática, você fez FaRJ ano de 1983, desembarquei no aeroporto San- culdade de Direito e teatro. Será que você encontos Dumont. Era um dia de sol, vinha caminhando trou a razão na música e na produção poética? do Posto 9, estava ainda molhada de um mergulho ELE no mar gelado de Ipanema, mas tinha uma missão: E por falar em saudade 40

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Brasil quem és tu? Onde Anda Você E por falar em saudade Onde anda você Onde andam os seus olhos Que a gente não vê Onde anda esse corpo Que me deixou morto De tanto prazer E por falar em beleza Onde anda a canção Que se ouvia na noite Dos bares de então Onde a gente ficava Onde a gente se amava Em total solidão Hoje eu saio na noite vazia Numa boemia sem razão de ser Na rotina dos bares Que apesar dos pesares Me trazem você E por falar em paixão Em razão de viver Você bem que podia me aparecer Nesses mesmos lugares Na noite, nos bares Onde anda você EU – Vinicius, o que mais você usou foi o tema do amor, sua narrativa é de encanto à vida, sua música tem um dom que anuncia a alegria. O que é o amor afinal para você? ELE – “Soneto de Fidelidade” De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (quWe tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

Caro Vinicius, sempre me intrigou o infinito. Venho de carona dos anos de 2020, passando por 1983 para te encontrar nos anos de 1950 e te enredar sobre os dias surreais que estamos vivendo e te indagar sobre o princípio & o fim. E por falar em transcendência, onde está toda a eternidade senão na canção? Uma ânsia que deságua no metafísico e só Deus para elucidar tanto mistério. São tantas coisas que nos ultrapassam no cultivo da vida... Teu canto e tua poesia me inspiraram nessa escrita afetuosa e fica registrado aqui nesse tempo, que se abriu como por encanto, amparado pelo teu canto, um encontro, uma poesia, uma melodia, uma prosa. Essa é uma celebração ao AMOR para aquele que amou, amou demais, reverências, Mestre *Vinícius! Que a benção de DEUS alcance a todos! Jacqueline Assunção *Vinicius de Moraes (1913-1980) foi um poeta e compositor brasileiro. Além de ter sido um dos mais famosos compositores da música popular brasileira e um dos fundadores, nos anos 50, do movimento musical Bossa Nova, foi importante poeta da Segunda Fase do Modernismo. Foi também dramaturgo e diplomata.(www.ebiografia.com›vinicius_de_moraes)

Sou de Deus

Jackie Assunção

Eu leio poemas de Deus Na lua, no sol No riso que alcança minha alma As asas do anjo são meu manto Presente divino na vida Para viver na cidade da carne Vida é verde Abrangência do ser Minh’alma canta Melodiando tamanha dádiva.

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Cláudia Leocádio, arteterapeuta

expressivos entre nascimentos dos filhos, formacearense estabelecida em Minas Gerais onde reali- ção acadêmica, produção literária e perdas, uma za um belíssimo trabalho cutlural escolheu a poeta mulher em constante busca de conhecimento, doação, prosperidade regada com uma constante Adelia Prado para prestar uma homenagem. presença de Deus.

ADELIA PRADO Poetisa, contista, escritora e professora

Em meio às montanhas de Minas Gerais, entre as águas das cachoeiras, o cheiro de café coado feito no fogão à lenha, servido com um pão de queijo é um cenário perfeito para falar sobre Adélia Prado. Adélia é uma mulher simples, mineira de Divinópolis-MG, cidade de aproximadamente 202.200 mil habitantes, Nasceu no dia 13 de dezembro de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa, uma família de muita oração e religião, uma fé exercitada desde o berço. Dotada de grande inspiração, ao perder a mãe em 1950, ela dá vazão a sua criatividade e escreve seus primeiros versos, sustenta a falta materna nas palavras que jorram do coração. No ano de 1958 casa com José Assunção de Freitas e da união nasceram Eugênio, Rubens, Sarah, Jordano, Ana Beatriz. A vida corria mansamente e com singeleza ela repassava seus conhecimentos aos seu clã e aos alunos no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho onde lecionou por 24 anos. Uma vida dinâmica marcada de acontecimentos 42

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Cheia de talentos e dom da arte de escrever sua vida é marcada de perdas e ganhos sempre em sinergia. É possível observar essas nuances na cronologia de sua história apresentada nas redes sociais 1950: Morre sua mãe e então escreve os primeiros versos; 1951: Inicia curso de Magistério na Escola Normal; 1953: Conclui o Magistério; 1955: Inicia sua jornada de professora no Ginásio Estadual Luiz de Melo Viana; 1958: Casa-se com José Assunção de Freitas; 1959: Nasce o primeiro filho, Eugênio; 1961: Nasce o filho Rubem; 1962: Nasce a filha Sarah; 1963: Nasce o filho Jordano; 1966: Nasce a filha Ana Beatriz; 1972: Morre o pai; 1973: Forma-se em Filosofia/ Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis. Neste mesmo ano seus poemas são lidos por Carlos Drumond de Andrade. 1975: É indicada por Carlos Drummond à Editora Imago e publica seu primeiro livro Bagagem; 1976: Lança Bagagem no Rio de Janeiro, com a presença de Juscelino Kubitschek, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Affonso Romano de Sant'Anna, Nélida Piñon, dentre outros; 1978: Lança O Coração Disparado, com o qual recebe o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; 1979: Lança a primeira prosa, Soltem os Cachorros; 1980: Dirige a montagem de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna pelo grupo de teatro amador Cara e Coragem; 1981: Publica Cacos para um Vitral e Terra de Santa Cruz; neste mesmo ano é apresentado, no Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Princeton, Estados Unidos, o primeiro de uma série de estudos sobre a obra; 1983-1988 Exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura da cidade natal; 1984: Pública o livro Os componentes da Banda; 1985: Participa de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses rea-


Brasil quem és tu? lizado em Portugal, e do II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de Nossa América, em Cuba; 1987: Estreia do espetáculo Dona Doida: um Interlúdio, baseado em textos de livros da autora, encenado por Fernanda Montenegro no Teatro Delfim, no Rio de Janeiro. 1988: Publica A Faca no Peito e participação na Semana Brasileira de Poesia em Nova Iorque; 1991: Publica Poesia Reunida; 1994: Publica O Homem da Mão Seca 1994: Antologia da Poesia Brasileira/Embaixada do Brasil em Pequim 1996: Estréia da peça Duas Horas da Tarde no Brasil, adaptada da obra da autora pela filha Ana Beatriz Prado e por Kalluh Araújo, no Teatro Sesi

Minas, em Belo Horizonte; 1999:Publica Oráculos de Maio e Manuscritos de Felipa; 2000:Estreia do Monólogo Dona da Casa; 2005: Publica Quero Minha Mãe; 2010: Lança A duração do dia; 2011: Publica Carmela Vai à Escola; 2014: É condecorada com a Ordem do Mérito Cultura. (Fonte: www.inforescola.com>biografia> Adelia_Prado. Uma verdadeira cachoeira criativa dentro de uma mulher fantástica cuja simplicidade realça aos olhos. A sensibilidade de expressar o cotidiano traduz a quietude dessa alma que acampa o nosso ser e nos prende nas linhas de cada livro que publica. Adélia Prado resgata em nós o amor de mãe, de pai e de Deus! Salve Adélia!!!

POEMAS DE ADELIA PRADO Com licença poética

Alfândega

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

O que pude oferecer sem mácula foi meu choro por beleza ou cansaço, um dente exraizado, o preconceito favorável a todas as formas do barroco na música e o Rio de Janeiro que visitei uma vez e me deixou suspensa. ‘Não serve’, disseram. E exigiram a língua estrangeira que não aprendi, o registro do meu diploma extraviado no Ministério da Educação, mais taxa sobre vaidade nas formas aparente, inusitada e capciosa — no que estavam certos — porém dá-se que inusitados e capciosos foram seus modos de detectar vaidades. Todas as vezes que eu pedia desculpas diziam: ‘Faz-se de educado e humilde, por presunção’, e oneravam os impostos, sendo que o navio partiu enquanto nos confundíamos. Quando agarrei meu dente e minha viagem ao Rio, pronto a chorar de cansaço, consumaram: ‘Fica o bem de raiz pra pagar a fiança’. Deixei meu dente. Agora só tenho três reféns sem mácula.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

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Dioni Virtuoso

poeta, es-

critora, arte-educadora, e Délégué Cultive Criciúma/SC faz uma homenagem à mãe de uma amiga grande poeta e rendeira brasileira.

ADRIANA DOS SANTOS BITTENCOURT Rendeira poetisa da Barra da Lagoa, um dos muitos lugares lindos da capital de Santa Catarina, Florianópolis. Conheci dona Adriana em 2011, numa das muitas idas à Floripa. Acredito que poetas se reconhecem, pois foi “conexão” à primeira vista! Minha admiração por esta senhora, hoje com seus 92 anos, mãe de 6 filhos, 11 netos e 2 bisnetos, virou poesia para homenageá-la.

Conheci dona Adriana, pessoa simples, muito bacana, que me despertou muita emoção. Ao saber que eu fazia poesia, seu rostinho encheu-se de alegria e me fez uma bela demonstração. Muito ligeira e, no ato, foi buscar em seu quarto, seu orgulho, sua paixão. Veio de lá com uma sacolinha, disse-me que era tudo o que tinha que sobrou de sua inspiração. A letra bonita, quase apagada, folhas amareladas, estava registrada a história de sua vida em forma de poesia/oração. Começou seus versos declamar e a imagem começou a desfocar pelas lágrimas da minha emoção. Em pouco tempo que passei ali, muito aprendi e refleti... Fez um bem enorme ao meu coração.

Bem, eu conto no meu poema sobre este momento e um pouco da sua vida! Para ela, o meu carinho e admiração!

À RENDEIRA POETISA Dioni Fernandes Virtuoso

Num momento da minha vida, uma senhorinha simpática, querida, encheu de alegria meu coração.

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Pessoa simples que me recebeu com alegria. Teve pouco estudo, mas muita sabedoria, em seus versos nos passou grande lição. Vida de muito trabalho e dor, criou seus 6 filhos com muito amor, apesar de ter como companheira a solidão. Seu marido, pescador, ficava longo tempo no mar, mas, a ele, nunca deixou de amar, viveu muitos anos de grande paixão. Dona Adriana rendeira, mulher sofrida, é ela a brilhante poetisa, pessoa querida, que hoje dedico estes meus versos, de coração!


Brasil quem és tu? da Paz).

foto: Leopoldo Amaral Tales Filho

MARIA DAPAZ cantou e encantou

Voltou a morar no Brasil, onde continuou compondo e gravando, lançando entre outros, os CDs Meu lugar, Remanso, A vida do Viajante, Êxtase. Foi indicada por duas vezes ao prêmio Grammy latino. Muito versátil, gravou forrós, boleros, frevos, fados, dando a cada rítmo seu toque personalizado com uma voz impecavelmente inebriante. Assisti às suas participações em entrevistas, shows, programas de TV, cantando e encantando. A poesia reinava com maestria nas letras das canções que compunha. Abaixo, alguns trechinhos da música de sua autoria em parceria com Luís Avelima, Princesinha da Ingazeira.

“Eu só queria conhecer o mar… na mala apenas meu violão, adeus Princesinha da Ingazeira, minha trigueira, meu pedacinho de chão… fui beber água por Nagesia Maria Gomes Diniz Barboza noutra fonte cristalina, meu desejo de menina é o Maria da Paz- Brasileira, pernambucana, sertane- que grito na canção. Faz tanto tempo que eu conheci ja, nasceu em Jaboatão dos Guararapes-PE, no dia o mar e pelo mundo fui cantando meu refrão e hoje 25 de março de 1959, faleceu em 27 de julho 2018. em dia… Princesinha da Ingazeira te guardo no coConsiderava-se filha de Afogados da Ingazeira-PE, ração… Meu Pajeú, vim matar a minha sede, de tua onde residiu desde criança, cidade pela qual man- água quem bebeu quer sempre mais, meu Pajeú vim matar minha saudade, saudade que dói no peito, tinha um carinho todo especial. saudade que é demais”. Sua trajetória como cantora inciou-se aos nove anos, quando, no cine São José, naquela cidade, participou do concurso “A mais bela voz do Nordeste”, classificando-se em segundo lugar. Em 1981, gravou o LP Pássaro Carente, com algumas regravações em estilo próprio e outras composições inéditas, entre as quais destaco a canção «Coisas e Coisas», autoria de Totonho, cujo poema final diz: «de onde vem essa coisa que adoça uma dor, que amarga um sorriso, será isso o amor?» Durante alguns anos eu estranhei o fato de ela não aparecer na mídia nacional. Indagava-me como uma voz tão bela, excelente cantora, intérprete, compositora, violonista, não figurava entre os cantores de sucesso do nosso Brasil. Foi então que, lendo o jornal Diário de Pernambuco, vi uma entrevista sua onde tomei conhecimento de que desenvolvia seu trabalho musical na Europa. Os CDs Brasil e Minha Terra “foram gravados na Suíça, em 1987 e 1989, com a participação de músicos brasileiros e também chilenos, suíços, argentinos… A música é assim, ela une os povos, as emoções, os sonhos. A música é o idioma do coração.” (Maria

Em 27 de julho de 2018, recebi, com muita tristeza, a notícia do seu falecimento. Alguns poetas e artistas, tristes com a sua partida, escreveram e compuseram em sua homenagem. Foi uma perda irreparável para a nossa MPB. Impactada por sua morte, escrevi: Morre Maria da Paz Nagesia Maria Gomes Diniz Barboza Cantou, encantou… Perplexa, triste estou Sem saber porque a vida Mais pobre nos deixou Mas, Deus que a trouxe a levou. Escutando-a cantar Mouraria Mil anos eu ficaria Parada a me inebriar Com sua voz peculiar Que faz o momento eterno E, assim, do resto do mundo, Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? Nagesia Maria Gomes Diniz Barboza

Não se consegue lembrar. Escutarei suas canções Em todas as gravações Até quando chegar a hora Em que não sentirei emoções E o Pai da misericórdia Não me deixar ouvir canções Levando-me a prestar contas De todas as minhas ações.

Autora Nagesia Maria Gomes Diniz Barboza, brasileira, natural de Pesqueira-PE, foi professora, bancária, hoje aposentada. Concluiu o curso de Pedagogia na Faculdade de Filosofia de Caruaru-PE. Escreve poesias, desde jovem, por lazer. Autora do livro Divagando Devagar, editado em 2019, com poesias carinhosas aos seus familiares e amigos, além de outros poemas. Reside, desde 1980 em Taquaritinga do Norte-PE, com esposo e filhos.

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REVUE ArtPlus Revista Artplus é um magazine cultural impresso em língua Portuguesa e francês, com registro na biblioteca Nacional Suíça, com issn Suíço. Artplus é um portal de valorização da cultura brasileira e da literatura na Europa assim como divulgador da cultura Suíça no estrangeiro. Artplus é referenciada no site da Cultive, no facebook, no publish on line, no blog Cultive. Os participantes da Revista Artplus aparecem automaticamente na Revista Online Cultive. www.cultive-org.com Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu?

A escritora Oneida Maria Di Domenico,

escreve sobre João Procópio Neto

‘é fabuloso’, às vezes no sentido literal da palavra. O fato de ter em seu sangue o privilégio de pessoas que são referência, lhe traz muitas responsabilidades no geral, mas o fato de ser um ator, um cidadão, um formador de opinião, existe a possibilidade de ser de alguma maneira um apontador do seu tempo. Hoje a profissão está melhor regularizada, o que na época de seu avô e de muitos de seus colegas ainda não existia. Na década de trinta foi criada uma entidade para defender os interesses da classe artística, atualmente o sindicato dos artistas e técnicos em espetáculos de diversões (SATED). Antes, os atores, autores e demais artistas tinham de ter muito prestigio para ter seus direitos respeitados, e mesmo assim, seu avô para se aposentar teve de brigar muito para provar quem ele era.

ELE TEM A DRAMATURGIA NO SANGUE JOÃO PROCÓPIO NETO

é o nome artístico de JOÃO PROCÓPIO FERREIRA SESSA. Ele agrega as funções de ator, diretor, cenógrafo, figurinista, roteirista e escritor. É neto do maior ator do Brasil (Procópio Ferreira) e sobrinho da grande dama dos palcos brasileiros (Bibi Ferreira). Estreou em teatro no dia dezenove de dezembro de 1971, no espetáculo “o auto de natal” de Nino Honorato com direção de Procópio Ferreira. Coincidentemente teve seu primeiro trabalho profissional no dia dezenove de dezembro de 1974. Desde então surgiram muitos trabalhos no teatro como ator em espetáculos infantis e participações em espetáculos adultos.

João procópio neto agradece ao universo o presente de poder ‘ser’ na profissão que tanto ama, em razão de se ver como um observador que ainda tem a oportunidade de se expressar. Sua formação foi primorosa, registro algumas de suas especializações: oficina de teatro francês - por Katherine Monnont (paris – 1983); Canto Lírico - Pelo Maestro Italiano Carlos Chipinelli (Paris 1983/1989); Le Conservatoire National Superieur D Art Dramatique - Por Jacques Rosner e Professores Da Comedie Française (Paris - 1983/1986); Ballet Bejart Lausanne - Cia De Ballet Contemporâneo - 1985/1989 ; Royal Theatre Academy (Londres – 1988); Teatro Pariolli (Roma – 1988); Máscaras E Tipos, O Mergulho Da Personagem Por Hamilta Rodrigues (Rio De Janeiro – 1992); Oficina De Cenografia E Direção De Arte - Pela U.F.F. (Rio De Janeiro – 1993); Dança Cigana - Por Célia De Calé (Rio De Janeiro – 1994); Expressão E Corpo - Por Marina Martins (Rio de Janeiro – 1994); e, CANTO - pela professora e atriz Norma Geraldy ( Rio de Janeiro - 1994/1997 .

Em 1979, após a morte do avô, Procópio Neto foi para a Europa estudar artes cênicas conforme supra citado. Ao voltar para o Brasil, trabalhou com grandes diretores como: Jorge Fernando; Flavio Paiva; Rubens Lima Júnior; Hamilta Rodrigues; Sempre que lhe perguntam como é ser neto, so- Maria Lina; Julia Rosa; Mirian Pérsia; Nino Honobrinho, filho de pessoas que fizeram e fazem tanto rato; João Luiz Fiane; Lucy Freitas; Bemvindo Sepelo nome da cultura nacional. Em resposta diz: 48

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Brasil quem és tu? queira, entre outros. Em companhia de Bemvindo Sequeira dirigiu o espetáculo «Adolescentes, Aborrecentes, Aborrecidos» De Gisa Gonsioroski. Participou na direção de produção do projeto “Cultura Viva De Nossa Arte” em beneficio a Casa dos Artistas, dirigiu os espetáculos “Auto Da Paixão” com aproximadamente cento e dez atores e figurantes da região sul do Espírito Santo e “Quando Se Abre O Baú”, 1º espetáculo realizado do projeto “Poetas De Minha Terra”, que tem como finalidade apresentar novos nomes da poesia e novos apreciadores em cada montagem. A convite da amiga e diretora do Departamento Social da Cia Procópio Ferreira Rose Folly, no ano de 2003 criaram um projeto de “Popularização das Artes” onde assume a supervisão do projeto intitulado “Sociedade Consciente, Cultura Ambiente” (projeto este realizado no Bairro Colubandê em São Gonçalo – RJ) onde trabalham arte, educação, interpretação, arte-terapia, artesanato, expressão corporal, entre outras atividades artísticas.

Marcos e “Claro” de David Ives. Também em 2015 dirige o curta metragem “Um Tango Para Alice” de Valdo Boaventura. De 2015 a 2019 além de leituras dramatizadas constantes no SATEDRJ, dirigiu quatro espetáculos, ministrou aulas de interpretação, atuou no curta “A Gula” de Florence Mattos. Para 2021 estará assinando a Direção do texto de comédia “Chá das Balzaquianas” de Heidnaldo da Silva, está escalado para a Novela de Ney Ferreira “Ufanismo” e no Seriado de Jossan Karsten “Segredo de Confissão” para 2021, ambos sob a direção geral de Marcelão Garcia. Autor de quatorze textos teatrais e quatro romances (saga), o primeiro já editado pela Semente Editorial com o título “Diário de Elizabeth, no caminho das águas”.

Procópio registrou um poema que sua avó declamava: “O Teatro é arte de sentir, é a arte da paixão, ele faz o homem sonhar, sondar o mundo dos espíritos conhecer as Terras do nunca, voltar a qualquer passado ou ir a qualquer futuro”. Contudo, diz que apesar de ter a oportunidade de passar academicamente por outros campos, não sabe se por ter a forte influência familiar ou por sentir uma falEm 2004 montou os espetáculos: ‘‘Os Três Por- ta visceral de estar de alguma maneira ligado ao quinhos’’; ‘‘O Doente Imaginário’’; ‘‘A Cigarra E A palco, o teatro tem sido o seu alicerce e o seu bem Formiga’’; ‘‘O Bobo Do Rei’’; ‘‘O Pequeno Príncipe’’; estar. “Castro Alves”; “A Dama E O Vagabundo”; “Gota D’ägua”; ‘‘Psique A Imortal’’; E, “Sarau De Poe- Cabe lembrar que eu sou uma admiradora contusias”. Desde 2004 os atores estão no corpo direto maz da dramaturgia, em especial àqueles artistas da Cia Procópio Ferreira, da qual o ator assumiu que representam, cantam e dançam, tal qual a quea direção geral e presidência. Em 2008 assinou a rida Bibi Ferreira e seu pai Procópio Ferreira, que direção de dois espetáculos, “Abracadabra Mágica com suas generosidades ao atuarem davam espaMística” musical infantil de sua autoria e a comédia ço aos demais. Enfim, digo que nada acontece por “A Donzela Arretada” de Paulo Souto, uma versão acaso mesmo, eu e Procópio Neto somos amigos bem brasileira da Megera Domada de Shakespeare. há muito tempo e amamos a arte em todas as suas formas e nuances. Em 2009 volta a montar o espetáculo “DragQueens” onde dirige e assina a autoria da obra e “Senhoras D+” onde além de autor, atua e dirige o espetáculo. Em 2010 dirige fragmentos de “Gota D’água”. Em 2011 “La Negra – Mercedes Sosa”. Em 2012 “Tributo A Clara Nunes”. Em 2014 o Espetáculo “Senhoras D+” volta a cena com apresentações em cidades do Estado do Rio de Janeiro e começa a parceria com a Industria Para Tv com oficinas de artes. Em 2015 pela terceira vez João Procópio Neto é convidado pelo SATEDRJ para dirigir um texto nos projetos de leituras Dramatizadas sob a coordenação da atriz Léa Garcia, dirige os espetáculos “Como Caçar Um Homem” De Vinicius Cardoso, “Dois Perdidos Numa Noite Suja” de Plinio Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? Tornou-se estimado professor da Academia, formando uma geração de grandes pintores, e continuou seu trabalho pessoal realizando outras pinturas históricas importantes, como a Batalha dos Guararapes, a Moema e o Combate Naval do Riachuelo, bem como retratos e paisagens, onde se destacam o Retrato de Dom Pedro II e os seus três Panoramas. Em seu apogeu foi considerado um dos principais artistas do Segundo Reinado, com frequência recebendo rasgados elogios pela perfeição de sua técnica, pela nobreza de sua inspiração e pela qualidade geral de suas monumentais composições, bem como pelo seu caráter ilibado e sua incansável dedicação ao ofício, fez muitos admiradores no Brasil e no estrangeiro, recebeu condecorações imperiais e foi o primeiro dos pintores por Valquiria Imperiano nacionais a conquistar admissão no Salão de Paris, mas também foi alvo de críticas contundentes, desVictor Meirelles assinou seu nome na história do pertando fortes polêmicas num período em que se Brasil através de uma vasta obra pictórica, marca- acendia a disputa entre os acadêmicos e os primeida por uma centena de quadros históricos, retratos ros modernistas. Com o advento da República, por e panoramas. Dentro da história da arte brasileira estar demasiado vinculado ao Império, caiu no osVictor Meirelles começou a trilhar sua carreira de tracismo, e acabou sua vida em precárias condições glória ainda na primeira metade do século XIX, financeiras, já muito esquecido. num momento em que se vive no país a euforia do neoclassicismo, por conta da influência da escola francesa, que mudava os rumos da pintura mundial. As tintas neoclássicas deram forma e personalidade às artes plásticas nacionais, numa ação que mudou definitivamente conceitos seculares e a imagem brasileira no cenário artístico internacional.

VICTOR MEIRELLES DE LIMA

Nascido em 18 de agosto de 1832, na cidade de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Victor Meirelles era de origens humildes. Filho de Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição Prazeres, casal de comerciantes portugueses que se estabeleceram na capital de Santa Catarina, desde cedo demonstrou talento para o desenho. Seu talento foi reconhecido, sendo admitido como aluno da Academia Imperial de Belas Artes. Especializou-se no gênero da pintura histórica, e ao ganhar o Prêmio de Viagem ao Exterior da Academia, passou vários anos em aperfeiçoamento na Europa onde pintou sua obra mais conhecida, A Primeira Missa no Brasil. Ao Voltar para a Brasil tornou-se um dos pintores preferidos de D. Pedro II, inserindo-se no programa de mecenato do monarca e alinhando-se à sua proposta de renovação da imagem do Brasil através da criação de símbolos visuais de sua história. 50

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A obra de Victor Meirelles pertence à tradição acadêmica brasileira, apresentando uma eclética síntese de referências neoclássicas, românticas e realistas. O pintor absorveu também influências barrocas e do grupo dos Nazarenos. Depois de um período de relativa obscuridade, a crítica recente o reinstalou como um dos precursores da pintura moderna brasileira e um dos principais pintores do século XIX, para muitos o maior de todos, sendo autor de algumas das mais célebres recriações visuais da história brasileira, que permanecem vivas na cultura nacional e são incessantemente reproduzidas em livros escolares.


Brasil quem és tu? Jerônimo Francisco Coelho e o barão de Taunay, Eles, como guardiões das artes, estimulando-te e Levando-te até a Academia Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa cheia de encantos e beleza... Como prêmio máximo da pintura em tua obra de “São João no cárcere” , teu primeiro lugar forneceu-te desta forma, uma viagem rumo a Europa. E assim não paraste jamais e em todos os lugares deixaste um rastro ofuscante do sucesso em Roma e em Paris. “A Descida da Cruz” emudeceu corações sensíveis. Com a obra artística “Primeira Missa no Brasil” obtiveste a admiração parisiense recebendo a medalha de ouro em 1861. Foste laureado no retorno ao Brasil, por Vera De Barcellos tornando-te professor na Academia Nacional de Belas Artes. . Tuas obras falaram também das guerras, das batalhas febris, inclusive das contendas navais nos mares brasileiO mais brasileiro dos nossos pintores, ro. título auferido a Vítor Meirelles de Lima Tua postura, Vítor Meirelles, emudeceu dizeres, pelos grandes mestres da pintura mundial. tuas cores falaram mais alto Projetaste teus talentos além das fronteiras do país, e tua sensibilidade foi até as estrelas. enalteceste um linguajar poético Tuas obras estão em cada canto do mundo, da nossa história nas tintas coloridas das tuas te- teus dizeres palmilharam telas, falou poesias, las... Teu caminhar seguiram cores e Nasceste em 18 de agosto de 1832 teu cantar artístico cantou fronteiras... na Ilha da antiga Desterro pitoresca, Víctor Meirelles foste e continuas sendo coberta de histórias e lírios o orgulho da pátria brasileira . nas águas pantanosas das baixadas... Hoje nos deixaste um legado espontâneo Do vento sul em reboadas, do teu patriotismo e do teu perene e poético silênda maresia e dos cantos dos nossos poetas... cio Foste a pérola enaltecendo a grande Ilha. nas cores retumbantes das tuas telas. Desde tenra idade teus feitos sobressaíam por onde Foste o Homem da arte mundial, andavas, orgulho do nosso Brasil e hoje nos deixas tiveste como primeiros educadores teus pais o teu legado estonteante do teu patriotismo Antônio de Meireles Lima, navegador português, do teu amor perene além das cores retumbantes e a brasileira D. Maria Conceição dos Prazeres das tuas obras fazendo família aqui na velha Desterro, que falou da história de todos os recantos brasileiro ilha também do nosso renomado poeta Cruz e no silêncio filosófico dos teus pincéis . Sousa. Com o passar dos tempos descobriram os teus feitos. Nos teus quinze anos de idade brilhaste como estrela na constelação primeira, na pitoresca paisagem da Ilha de Santa Catarina, ostentando árvores tropicalmente floridas com as cores bruxuleantes do anoitecer. Mãos que te protegiam em teus passos amadores

VICTOR MEIRELLES DE LIMA O príncipe dos pincéis..

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DI CAVALCANTI

em 1926. Criou os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro. Iniciou suas participações em exposições coletivas e salões nacionais e internacionais, como a International Art Center em Nova Iorque. Em 1932, fundou juntamente com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos em São Paulo. Preso, por questões politicas em 1932 durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Publicou o álbum "A Realidade Brasileira", série de doze desenhos satirizando o militarismo da época. Viajou ao Recife e Lisboa, onde expôs no salão "O Século"; ao retornar, foi preso novamente no Rio de Janeiro. Em 1936, escondeu-se na Ilha de Paquetá e foi preso com Noêmia, sua esposa. Libertado por amigos, seguiu para Paris, lá permanecendo até 1940. Em 1937, recebeu medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris. Com a iminência da Segunda Guerra, deixou Paris e retornou ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Um lote de mais de quarenta obras despachadas da Europa não chegaram ao destino, extraviando-se. Reconhecimento internacional

por Valquiria Imperiano Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque nasceu dia 6 de setembro de 1897 no Rio de Janeiro, filho de Frederico Augusto Cavalcanti de Albuquerque de Melo e Rosalia de Sena. Seu pai era membro da tradicional família pernambucana Cavalcanti de Albuquerque. Já pelo lado materno, era sobrinho da esposa de José do Patrocínio, grande abolicionista negro brasileiro. Em 1916, transferindo-se para São Paulo, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Seguiu fazendo ilustrações e começou a pintar. O jovem Di Cavalcanti frequentou o ateliê do impressionista George Fischer Elpons e tornou-se amigo de Mário e Oswald de Andrade.

Passou a combater abertamente o abstracionismo através de conferências e artigos. Viajou para o Uruguai e Argentina, expondo em Buenos Aires. Conheceu Zuília, que se tornou uma de suas modelos preferidas. Em 1946, retornou à Paris em busca dos quadros desaparecidos; nesse mesmo ano, expôs no Rio de Janeiro, na Associação BraEntre 11 e 18 de fevereiro de 1922, idealizou e sileira de Imprensa. Ilustrou livros de Vinícius de organizou a Semana de Arte Moderna no Teatro Morais, Álvares de Azevedo e Jorge Amado. ParMunicipal de São Paulo, criando para essa ocaticipou com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri sião as peças promocionais do evento: catálogo e de premiação de pintura do Grupo dos 19. Seguiu programa. Fez sua primeira viagem à Europa em criticando o abstracionismo. Expôs na Cidade do 1923, permanecendo em Paris até 1925. FrequenMéxico em 1949. tou a Academia Ranson. Conheceu Pablo Picasso, Fernand Léger, Matisse, Erik Satie, Jean Cocteau e Ganhou uma sala Especial na Bienal Interamericaoutros intelectuais franceses. Retornou ao Brasil na do México, recebendo Medalha de Ouro. Tor52 Revue Cultive - Genève


Brasil quem és tu? nou-se artista exclusivo da Petite Galerie, no Rio de Janeiro. Viajo de Maio, em Paris, com a tela "Tempestade". Participou com Sala Especial na VII Bienal de São Paulo. Recebeu indicação do presidente brasileiro João Goulart para ser adido cultural na França. Embarcou para Paris, mas não assumiu o cargo por causa do Golpe de 1964. Viveu em Paris com Ivete Bahia Rocha, apelidada de Divina. Lançou o livro, "Reminiscências líricas de um perfeito carioca" e desenhou joias para Lucien Joaillier. Em 1966, seus trabalhos desaparecidos no início da década de 1940 foram localizados nos porões da embaixada brasileira. Candidatou-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas não se elegeu. Foi convidado e participou da I Bienal Internacional de Arte de São Paulo em 1951. Fez uma generosa doação de mais de quinhentos desenhos ao Museu de Arte Moderna de São Paulo. Negou-se a participar da Bienal de Veneza. Recebeu a láurea de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo, prêmio dividido com Alfredo Volpi. Em 1954, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou exposição retrospectiva de seus trabalhos. Fez novas exposições na Bacia do Prata, retornando a Montevidéu e Buenos Aires. Publicou «Viagem de minha vida». 1956 participou da Bienal de Veneza. Recebeu o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Recebeu proposta de Oscar Niemeyer para a criação de imagens para tapeçaria a ser instalada no Palácio da Alvorada; também pintou as estações para a via-sacra da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, em Brasília.

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A modelo Marina Montini foi a musa do pintor nessa década. Em 1971, o Museu de Arte Moderna de São Paulo organizou retrospectiva de sua obra. Recebeu prêmio da Associação Brasileira dos Críticos de Arte. A Universidade Federal da Bahia outorgou-lhe o título de doutor honoris causa. Fez exposição de obras recentes na Bolsa de Arte e sua pintura Cinco moças de Guaratinguetá foi reproduzida em selo postal. A 5 de Abril de 1975 recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. Faleceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de 1976. O diretor de cinema brasileiro Glauber Rocha, realizou o curta-metragem documentário Di-Glauber (1977) em homenagem ao pintor, quando de sua morte. Referências: Wikipedia / Enciclopédia cultural itáu

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MULHERES ESCRITORAS ONTEM, HOJE E SEMPRE: ROSALINA COELHO LISBOA Por Angeli Rose Resumo O presente artigo apresenta brevemente um perfil biográfico da escritora carioca Rosalina Coelho Lisboa Lagarroti (19001975) e análise estilística de alguns dos poemas do seu livro de estreia, que ganhou o 1º. lugar do 1º. Prêmio da ABL em 1922, sublinhando os temas e as formas escolhidas pela autora que atravessam os versos e aproximam a produção da tradição poética clássica, distanciando-a do Modernismo e das vanguardas europeias.

Casamento passou a acrescer o sobrenome Larragoti – ficou invisível à historiografia. E é sobre ela que este breve artigo tratará, tendo como pano de fundo as questões de gênero no que concernem os direitos da mulher e uma nova história que a inclua. Rosálina Coelho Lisboa nasceu em julho de 1900, seu pai, José Gonçalves Coelho, foi deputado e senador pela Paraíba, um republicano. Aos quatorze anos publicava seu primeiro poema na revista Fon Fon, o que logo depois passou a ser rotineiro. A juventude foi marcada por mudanças efervescentes no Brasil em processo de modernização e transformações políticas, culturais, principalmente. Viveu muitos anos fora do Brasil, só na Argentina foram 12 anos, o que favoreceu sua percepção sobre os grupos de poder na América Latina. Já adulta, frequentava os círculos de poder e gozava de imenso prestígio que lhe rendera forte influência política, inclusive, em relações internacionais. Fora amiga de Getúlio Vargas, com quem mantivera durante longo tempo correspondências,embora discordasse de alguns posicionamentos do regime autoritário do presidente. Apoiou a revolução de 1930 e nesse ano participou do Congresso Feminino Internacional realizado no Rio Grande do Sul. Além disso, anticomunista ferrenha, escreve em apoio ao Golpe de Estado de 1937, e em 1951 foi delegada na IV Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris. Nessa ocasião, chegou a propor “a abolição dos castigos corporais aplicados aos negros na África do Sul, o que levou a Corte Interamericana de justiça a considerar racistas as leis sul-africanas”. Defendia a emancipação feminina, o divórcio, o direito de a mulher atuar na política e o aproveitamento da força de trabalho feminina, também apoiou a causa integralista de Plínio Salgado estabelecida na “Ação Integralista Brasileira” (AIB).

Desde o giro dos estudos historiográficos com a perspectiva da “micro-história nos anos 80 do século XX, inúmeras personalidades do cenário cultural, especialmente, brasileiro emergiram em dicionários, perfis, antologias e até revigoraram os conservadores livros didáticos. As questões das “minorias” ou daqueles que não compactuavam com o poder e a comunicação hegemônicos perpassavam os novos escritos, assim como a história dos anônimos invadia as discussões e os debates universitários, principalmente. Ativista política e jornalista escreveu e publicou em muitos periódicos famosos, tais como, O GloAo lado disso, ganham visibilidade os artistas não bo, Jornal do Brasil, O Jornal, Correio da Manhã, A canônicos nas pesquisas das Ciências Humanas, Nação, proferiu inúmeros discursos sobre a polítiadensando a cultura brasileira e suas contradições. ca externa e interna. Nesse contexto, surge a retomada de um painel literário renovado em que nomes menos corriquei- Entretanto, em 1922 dá-se o início de uma vida ros nos compêndios, didáticos ou não, passaram a pública literária marcada por vitórias e conquistas figurar como referências na história da literatura que começaram com o 1º. Concurso literário de e da cultura brasileiras. Mas ainda assim o nome poesias da Academia Brasileira de Letras (ABL) de Rosalina Coelho Lisboa - que depois com o 3º. que premiou o seu 1º. Livro, “Rito Pagão”, de poe54

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Brasil quem és tu? mas, na maioria sonetos e que fora publicado pela editora Monteiro Lobato, com capa ilustrada por Di Cavalcanti e José Prado. Rosalina Coelho Lisboa “ era saudada pela imprensa, principalmente a mais interessada, como um "triunfo da intelectualidade feminina brasileira", tal o ineditismo que representava o feito de ter sido a ganhadora do concurso”. Produtiva, Rosalina tem uma bibliografia adensada por ensaios, artigos, um romance e poesias, depois do primeiro livro: O desencantado encantamento (ensaios, 1927), Conferências (1927), Passos no caminho (poesia, 1932), El mensaje cósmico del Quijote ( ensaios, 1950), Alma fuerte(ensaios, 1951) e A seara de Caim ( romance, 1952).” A relevância de Rosalina Coelho Lisboa levou-a a transformar-se em nome de avenida no Rio de Janeiro, em bairro abastado da zona Oeste da cidade, e para alguns , esta relevância residiu também no seu sentimento nacionalista. Tal aspecto pode ser identificado em parte de sua obra, entretanto, neste artigo destacaremos alguns elementos de “Rito Pagão” apenas, a título de dar a conhecer um pouco do modo de ver o mundo dessa escritora brasileira no início de sua trajetória literária. Para tanto, apresentaremos alguns poemas que compõem seu livro de estreia e vitória. Vale comentar antes que naquele 1º. concurso da ABL de 1922 o livro “Mulher nua” de Gilka Machado ficou em 2º. Lugar, publicado pela Jacintho, perdendo para os “orientalismos” de Lisboa, no entanto, nos anos seguintes da década, este livro de Gilka viria a ter muito mais reimpressões do que o livro ganhador, isto é, o de Rosalina Coelho Lisboa.

“Rito Pagão” é composto por 38 sonetos, trovas (Vozes), um poema longo sem ser forma fixa, embora tenha métrica regular (Jardim de Epicuro) e uma “carta” extensa em forma de versos. No entanto, dentre os sonetos há dois sem título que abrem e fecham o livro. A temática varia entre falar da “pátria amada”, questões históricas (Tiradentes) e de questões espiritualizadas, transcendentais, de influência da cultura indiana; porém, há também

homenagens (Olavo Bilac). Rosalina teve diversos professores estrangeiros e chegou a lecionar Inglês por um tempo quando mais nova. Seu livro, “Rito Pagão” traz o conhecimento de línguas, o que era esperado e bem visto na época e lhe dava condição de se destacar no meio das relações internacionais, como de fato ocorreu profissional e politicamente. As epígrafes que abrem o livro são em italiano e outra inglês, respectivamente, Dante (Aleghieri) com trecho de La Comedia; e Omar Khayyán, a saber: “O voi ch'avete gli intelleti sani,/Mirante la dottrina che s'asconde/sotto il velame degli versi strandi.”; E ao lado, há a outra epígrafe em inglês : “Think, in this batter'd Caravanserai/whose Doorways are alternate Night and Day./How sultán after Sultán with his pomp/abode his hour or two, and went his way.”As duas epígrafes dão a ver o clima que estará orientando os poemas, em certa medida, o viés transcendental e espiritualista, como já indiquei anteriormente. Caberia ainda compreender, ao menos um pouco, o porquê de esse livro ter sido vitorioso num ano em que o Modernismo está transformando com seus preceitos a métrica poética com o verso livre e as temáticas relativas à vida cotidiana sem preconceitos de termos mais adequados ou não, conforme a poética vigente até então, tal qual a parnasiana com termos e medidas. Não será feita uma análise de todo o livro e minuciosa de todos os poemas aqui, mas apenas chamaremos a atenção para alguns aspectos e elementos. Os dois últimos versos do 1º. poema sem título fazem uma evocação a Lázaro, para que o canto do eu-lírico seja ouvido, precedendo todos os demais poemas. Então, aquele que precede não tem título, talvez, porque evoque o que há de mais espiritual e indeterminado na poesia e que pode oferecer luz e ressuscitar o homem comum, tal qual o fez o filho de Deus (Cristão): “Ó sedentos de luz, que a treva má consome,/Ó Lazaros da gloria, - acolhei o meu canto!”. Posto isto, abre-se o livro com soneto que dá título ao livro (Rito Pagão) formado por dodecassílabos de ritmo marcado na 6ª e na 12ª. Sílabas tônicas, porém, não na formulação clássica do Alexandrino em que indica dever-se usar uma palavra na qual a tônica pela divisão e contagem dos versos caia na última sílaba desta. Temos: “Eu canto a Índia antiga, a soberana terra/Na aurea lei de outro tempo e aurea luz dos outros sóes, (...)”. Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? A sequência dos versos refere-se ao que os versos cantarão: os feitos históricos e lendários cantados por Homero e sobre Odin, que inspiraram, por exemplo, Camões a cantar as conquistas e aventuras do povo português no período das grandes navegações. Como defensora da paz mundial, Rosalina vai cantar a “confraternização dos povos e de lendas”, isto é, em prol da confraternização de culturas em seus versos, o que é estruturado num discurso edificante, conferindo à sua poesia a elevação necessária para fazer do poema um grande feito também, e que por isso deve ser ouvido. Sua fonte são as epopeias da cultura clássica: “bebendo a gloria antiga a epopeias sem fim,”. Rosalina canta os feitos másculos, dos homens, aqueles que são dignos de ficarem na história. Observa-se aí certo divórcio entre a sua militância, a produção discursiva política, e a sua poesia de estreia que reproduz o imaginário dos grandes feitos, embora contaminado pelos toque transcendentais. Em Invocação, a autora dedica tal poema a seu pai. Como o título sugere, o eu-lírico invoca o herói para a exaltação a ser feita nos versos. E sem fazer psicanálise dos versos, há o tom de invocação e reconhecimento da importância do herói guerreiro que também pode ser a fonte de inspiração do eu-lírico, no caso, da própria Rosalina poetisa. E segue, não por acaso com o extenso Jardim de Epicuro, filósofo da cultura antiga, que escreve sobre a felicidade. Sai da forma fixa (o soneto) e aplica-se nos versos regulares, porém, ainda dodecassílabos, agora alexandrinos com acentuação que divide os versos em duas partes, marcando o ritmo. É possível observar o esmero e o trabalho com a palavra de maneira a criar na métrica considerada a mais difícil da língua que é o dodecassílabo em especial no preceito alexandrino. A poetisa manifesta labor e rigor formal em seus poemas de Rito Pagão. Adiante, como obediente criadora às regras poéticas da escola parnasiana, por exemplo, passa a cantar na natureza a imagem da Manhã, retornando à forma soneto com rimas ricas (diferentes classes gramaticais para as palavras que rimam entre si) e emparelhadas no interior do soneto, para seguirem como alternadas nos tercetos. A “manhã” é caracterizada como momento de luz solar, cenário de beleza e glória, composto por borboletas e cigarras, céu azul, o início do dia: “Na vitória do dia, 56

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o horizonte esfuzila.” E assim inicia o poema para descortinar um cenário fulgurante ao leitor daquela “manhã” idílica. Mais adiante surge o “Homem” cantado em seus versos, que se referem à espécie, à condição humana, para ela, ou melhor, para o eu-lírico estabelecido, é um “homem” que nasce com “invisíveis grilhões, entre terras e oceanos”. Tal condição para a humanidade fa-lo-á “escrava” e submetida “à maldição de ser”. “Homem” que é “poeira” e nessa pequenez ante o “mistério” do universo vê-se envolvido na “eterna evolução dos seres e das cousas.” Seus versos podem levar o leitor à meditação profunda sobre sua condição no mundo.

Posto isto, vamos ao poema Poeta: que deixa clara a influência do Parnasianismo ainda na poética desenvolvida pela autora nesse livro : “ – Que a summa gloria de viver consiste/Em desvendar aos homens a belleza!”. Ao “poeta” cabe a função de “desvendar” mistérios, tirar os véus, enfim, mostrar a beleza aos homens, através do “pensamento”, de “rimas”, sendo intérprete da “natureza” e buscando “a invisível luz à sombra triste(...)”. Se Rosalina é a 1ª. Mulher em algumas iniciativas, seu discurso é mais replicador do status quo do que propriamente mensageira de uma poética revolucionária, ou temática de vanguarda. Em realidade, parece que é o lado conservador da ABL que confere à Rosalina o primeiro prêmio, sem desmerecer a qualidade da obra. E sem esgotar o livro premiado de Rosalina Lisboa, mas encaminhando para o final esse artigo, um breve comentário sobre vida e obra de Rosalina Coelho Lisboa, encontramos Terra de Santa Cruz que à luz dos céus e das estrelas (“A pompa milenar das estrelas fulgia”), cenário muito próximo do parnasianismo de Olavo Bilac em seus poemas mais conhecidos, o poema descreve uma terra que ainda está “adormecida”, talvez à espera de ser


Brasil quem és tu? põem o livro de Rosalina Coelho Lisboa chegam à consciência criadora de que podem representar algo ou nada e, como o ser humano, ganhar a eternidade ou simplesmente morrer : “para a perpetuação ou para nada...”. Sua vida sem apaga em 13 de Mas é o ciclo do dia que demarca os movimentos dezembro de 1975, porém, sua obra ainda povoará do livro com os poemas Manhã, Meio-dia, a Roça a memória literária brasileira, como mulher escricom a “tarde morta” e Noite. Tais composições em- tora ontem, hoje e sempre, a Rosalina Coelho Lispreendem movimento ao livro de modo a fazer om boa Lagarroti. leitor compreender que neste ciclo o poeta cria, recria, assim como o leitor lê e segue sua caminhada depois de ter lido, também ,quem sabe, recriando sentidos para os poemas e para a própria vida. descoberta pelo Herói que se aproxima; tem “extrangeiro”, “herói”, Deus que vela a terra e Christo. Portanto, o que pode vir a fazer desta terra uma terra abençoada.

Em meio aos versos de certo transcendentalismo, orientado pelo orientalismo, Rosalina parece vislumbrar a relevância de Jesus, poema que faz o louvor a Jesus. Em seguida, a realidade de um mártir para sua terra, “a Pátria amada entre as demais amada” em Tiradentes, a ponto do eu-lírico dramatizar a voz do idealista, que nesse sentido se irmana do poeta: “Milhões de sonhos vivem no meu son- Monogramas que estão gravados nas páginas do ho./Legiões de heroes meu sacrifício agrega.” Com livro Rito Pagão, de Rosalina Coelho Lisboa Lao requinte da inversão sintática no segundo ver- garroti. so. Seguido depois de Tiradentes, o “mártir ”vem a este juntar-se o conquistador Francisco Pizarro, Angeli Rose é carioca, o que introduz certa complexidade ao livro para a geminiana, autora de compreensão das figuras escolhidas como temas de «Biografia não autoalguns poemas. Sem julgamento, o eu-lírico replica rizada de uma mulher apenas o fato de que Pizarro “para as terras do sol pancada», livro imruma o conquistador...”, com reticências que são a presso infanto-juvenil, sugestão de toda a história de apropriação e violênentre outras produções cia que as terras americanas viveram sob as botas autorais, com particidos conquistadores ultramarinos. pações de coautoria em antologias nacionais e São muitas Vozes que perpassam as páginas de internacionais. É Dra. Em Letras (PUC-Rio),PhD “Rito Pagão”. As várias trovas materializam as “vozes” que se escutam para dar a ver uma única em Educação(UFRJ) e atualmente faz o segundo voz singular dentre tantas. Há “mil vozes”, há so- pós-doutoramento em Letras, também na UFRJ. É lidão, saudade, tristeza e sofrimento, vozes densas Vice-Presidente da ALB/Campos-RJ, idealizadora para o eu-lírico, todavia, ao final existe “a voz”, em e coordenadora do “Coletivo Mulheres Artistas”, heptassílabos, o que confere ritmo mais popular e atividade de âmbito nacional que reafirma o artimais facilmente de ser memorizado o que está sen- vismo voltado para o empoderamento da mulher do cantado em poemetos. Assim, o livro chega ao na área cultural. Tem sido agraciada com diversos último poema, sem título, equiparando o eu-lírico prêmios e títulos honoríficos, porém, destaca a ao viajante, que por sua vez equipara o ser humano Comenda Antônia Leitão (ALB/Campos/Câmara à condição de ser transitório e finito, determinado Municipal), a Medalha Marielle Franco (Literarte/ a viver e morrer (“A ignota lei que rege a humana Casa Olodum) e o troféu Eva Perón como “Embaixadora da Paz” (Literarte/NLABA), Doutora sorte”). Honoris Causa em Educação, pelo Instituto de Em realidade, pode-se inferir que a viagem da Altos Estudos Samarthianos/Febacla. http://lattes. leitura ritmada pelos poemas diversos que com- cnpq.br/4872899612204008 Revue Cultive - Genève

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Brasil quem és tu? Fonte de Pesquisa Este artigo faz parte da pesquisa em curso de pós-doutorado em Letras (UFRJ), como ação derivada do projeto de cunho documental sobre discurso e cidades nos anos 20 em Ruy Castro e nos jornais da época, sob a supervisão da prof. Dra. Luciana M. Nascimento. Ele subsidiará palestra no II Encontro Mulherio das Letras, on line, a realizar-se em setembro/2020. Escritora, pesquisadora, Vice-Presidente da ALB/Campos-RJ, idealizadora e coordenadora do Coletivo Mulheres Artistas (2020),Dra. Em Letras, pós-doutoranda em Letras na área de Linguística Aplicada. Autora de Biografia não autorizada de uma mulher pancada, 2018, entre outras produções autorais. Lattes: http://lattes.cnpq. br/4872899612204008 Para mim, o nome de Rosalina surgiu na leitura do mais recente livro de Ruy Castro, Metrópole à Beira-Mar. O Rio Moderno dos anos 20. SP: Companhia das Letras, 2019. Silva, L. G.M. Vida e obra de Rosalina Coelho Lisboa: desafios e limiares do método biográfico. XXVII Simpósio Nacional de História. ANPULL. Julho, 2013. Tema Conhecimento e histórico e diálogo social. Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/ anais/27/1364593168_ARQUIVO_VidaeobradeRosalinaCoelhoLisboa.pdf Natural do Rio de Janeiro, Rosalina Coelho Lisboa nasceu em 14 de julho de 1900.Fonte: CPDOC. Fonte: Rosalina Coelho Lisboa. O arquivo de Rosalina Coelho Lisboa Larragoti encontra-se depositado no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas. Verbete. CPDOC, por Silvia Pantoja, acessível em : http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/rosalina-coelho-lisboa-larragoiti Carta de Rosalina Coelho Lisboa, enviada de Chicago, Illinois, para o escritor e acadêmico Gregório da Fonseca, tratando de vários assuntos e comentários positivos sobre Vargas, em papel timbrado do Blackstone Hotel. 8 páginas manuscritas, assinadas, s/ d. ( C. 1932 ). Fonte: CPDOC, FGV. Página Rosalina Coelho Lisboa, disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/rosalina_coelho_lisboa.html Algumas edições são encontradas no arquivo da Hemeroteca da FBN, acessível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5Ddrummond_4150342591.DocLstX&pasta=ano%20192&pesq=%22Rosalina%20Coelho%20Lisboa%22 FBN, Hemeroteca, Jornal do Brasil, edição 00328 de 1921, disponível em : http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/12587 Duarte, Constança Lima. Feminismo e literatura no Brasil, In: Estudos Avançados 17 (49), 2003. Disponível em : https://www.scielo.br/ pdf/ea/v17n49/18402.pdf CASTRO, Ruy. Metrópole à Beira-Mar. O Rio Moderno dos anos 20. SP: Companhia das Letras,2019,pp177. As imagens acima ilustram a capa do exemplar de 1922, 1ª. Edição do livro DE Rosalina Coelho Lisboa premiado pela ABL, técnica de lombada costurada, adquirido por mim num sebo do RJ : Capa de “Rito Pagão”(I);Segunda capa de Di Cavalcanti (II); 3ª. Capa com a inscrição do 1º. Premio da ABL (III). Forma poética fixa composta de 2 estrofes de 4 versos(quartetos) e 2 estrofes de 3 versos(tercetos),geralmente, com rimas alternadas ou encadeadas. Métrica, termo específico em estilística que se refere à medida do verso,através das sílabas totais que o compõem. Fonte: Rosalina Coelho Lisboa. O arquivo de Rosalina Coelho Lisboa Larragoti encontra-se depositado no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas. Verbete. CPDOC, por Silvia Pantoja, acessível em : http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/rosalina-coelho-lisboa-larragoiti Carta de Rosalina Coelho Lisboa, enviada de Chicago, Illinois, para o escritor e acadêmico Gregório da Fonseca, tratando de vários assuntos e comentários positivos sobre Vargas, em papel timbrado do Blackstone Hotel. 8 páginas manuscritas, assinadas, s/ d. ( C. 1932 ).

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Fonte: CPDOC, FGV. Página Rosalina Coelho Lisboa, disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/rosalina_coelho_lisboa.html Algumas edições são encontradas no arquivo da Hemeroteca da FBN, acessível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5Ddrummond_4150342591.DocLstX&pasta=ano%20192&pesq=%22Rosalina%20Coelho%20Lisboa%22 FBN, Hemeroteca, Jornal do Brasil, edição 00328 de 1921, disponível em : http://memoria.bn.br/DocReader/030015_04/12587 O trecho refere-se a uma passagem da Divina Comédia em que haveria alusão a uma doutrina sobre o lugar em que vivem os anjos. No entanto, há também a indicação sobre haver algo para se ler no texto poético para além do que se vê( estranhos veros = versi strani) O fragmento creditado ao poeta sufi Omar Kayan do século XII,O Rubaiyát, escrito originalmente em persa que quer dizer um tipo de “estalagem”, lugar de pouso seguro para viajantes, trata da existência humana e sua brevidade e o fato de se estar em trânsito nessa vida . Personagem bíblica que foi ressuscitada por Jesus no 3º. Dia de sua morte. A medição do verso é possível através da “escansão”, isto é, da contagem de sílabas poéticas do versos que nem sempre coincide com o número de sílabas gramaticais existentes nos versos. Verso de doze sílabas, porém, com preceitos claros sobre a acentuação das sílabas tônicas e a marcação do ritmo. Há palavras que estão sendo grafadas conforme os originais que o livro da 1ª. Edição (1922) traz.


Brasil quem és tu?

Noel Rosa- “O Poeta da Vila” Rio de Janeiro, orgulho brasileiro Sobejos artistas cultivas Nos gingados festeiros Rogados cativas

NOEL ROSA

,

por Neusa Bernado Coelho

Nasceu em 11 de dezembro de 1910, na Vila Isabel, Rio de Janeiro. Foi um dos maiores e mais importantes artistas da música popular brasileira: sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista. Também conhecido por “Poeta da Vila” e “Rei das Letras” tinha uma fisionomia bastante particular. Um provável problema no parto marcaram sua feição por toda a vida. Com seu violão tornou-se figura conhecida da boemia carioca e integrante de vários grupos musicais. Morto prematuramente, aos 26 anos de idade, em decorrência da tuberculose, aos 04 de maio de 1937. Noel Rosa deixou suas canções imortalizadas em todas as classes sociais. Sua música cheia de humor e ironia conquista a todos pela autenticidade. Seu legado artístico contempla mais de 200 canções de amor, de encontros e desencontros do cotidiano. Sucessos destaques: Com que roupa?, Feitiço da Vila, Palpite Infeliz, Dama do Cabaré, Conversa de Botequim, Fita Amarela, São Nossas Coisas, Último Desejo . Noel Rosa foi homenageado como personagem no cinema, televisão, teatro e enredo de escola de samba. Em 2016 foi agraciado in memoriam com a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, na classe de grão-mestre.

Terra airosa Das boêmias madrugadas De versos e prosas E praias douradas O cristo redentor Na cidade Maravilhosa Abre os braços com louvor Para reverenciar Noel Rosa Filho ilustre "Poeta da Vila" e do Brasil No samba foi mestre Cantou marchinhas e amores mil Bandoleiro, violinista Fez rimas fagueiras Cantor ritmista Da música popular brasileira Entre beijos e cafunés Entoou hinos de amor Na sedução dos cabarés Amanhecia o sonhador Compôs indeléveis sucessos Que reflorescem nas gerações: Seu legado em versos Enfeitiçou corações: “Não quero choro nem vela, Quero uma Fita Amarela, Gravado com o nome dela”

Fontes pesquisadas Noel Rosa: Uma Biografia

https://www.infoescola.com/biografias/noel-rosa/ Revue Cultive - Genève

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História

Coluna da Neusa Coelho Escritora, Poetisa, Historiadora

Mercado público de Palhoça Laguna de Anita Garibalde As lendas e encantos da Ilha da Magia de -SC Noel Rosa

Mercado Público Municipal de Palhoça

No início do século XX, Palhoça era pujante na produção agrícola, pecuária e pescados. Havia grande quantidade de olarias que fabricavam telhas e tijolos, além dos engenhos que produziam farinha de mandioca de excelente qualidade. O Mercado Público, além de ponto de encontro da diversidade, era o entreposto comercial para comercializar essas mercadorias trazidas do interior, por agricultores e da serra, por tropeiros. O transporte era feito em lombos de mulas durante dias até chegar ao Mercado Público. Daí até o Porto de Florianópolis (antiga Desterro), o transporte era feito pelo mar, através de lanchões e barcos. A população de Desterro crescia e o comércio da capital se abastecia desses produtos vindos do continente. Em 1926, com a construção da Ponte Hercílio Luz, os próprios produtores transportavam suas mercadorias em carroças puxadas por bois ou carretas de cavalos trafegando por estrada de terra e sobre a única ponte que ligava o Continente à Ilha, até chegar no Mercado Público de Florianópolis.

Foto: José Bulin Mercado Público Municipal de Palhoça- SC - 1950 Recentemente restaurado, a construção preserva traços da cultura e arquitetura luso-brasileira de estilo açoriano, muito presente no século passado. A restauração tem importante significado para os habitantes palhocenses, pois preserva a identidade do município e resgata as raízes culturais deixadas pelos antepassados. Os munícipes motivados, conscientizam-se da responsabilidade para manutenção da história, haja vista que são poucos os exemplares que permanecem intactos, a maioria dos casarios de arquitetura estilo açoriano foram demolidos, dando lugar ao progresso. Restauração do Mercado Público em fase de acabamento- 2020 https://img.youtube.com/vi/s_DzU8y7QcQ/hqde-

Na mesma época a população e os comerciantes palhocenses reivindicavam um espaço maior para exercer a atividade comercial. Eis que em 1950, o conterrâneo, prefeito Dr. Ivo Silveira, que também foi governador do Estado de Santa Catarina, construiu o atual Mercado Público Municipal (fifault.jpg gura abaixo) 60

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História

Laguna de Anita GaribaldiHeroína de Dois Mundos Laguna é considerada a terceira cidade mais antiga de Santa Catarina. Rica em acontecimentos históricos e culturais. Há 6 mil anos foi habitada por comunidades pré-históricas. Possui 43 sítios arqueológicos de sambaquis, alguns com até 35 metros de altura, um dos maiores da América. Antes da chegada dos colonizadores açorianos, esse litoral foi palco de disputas entre as Coroas Ibéricas, por ser ponto estratégico para o abastecer com água, alimentos, madeiras.., as recém chegadas naus que seguiam viagem para o Rio da Prata, na cobiçada busca por riqueza (ouro e prata). Com a demarcação da linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, assinado entre as coroas em 1494, Laguna tornou-se importante ponto geográfico para a expansão do território português. Atualmente, o monumento está localizado no centro histórico.

O porto de Laguna, terra de Anita Garibaldi, marcou história como palco da Guerra dos Farrapos em 1839. A guerrilha foi uma tentativa de desvincular Rio Grande do Sul e Santa Catarina do governo imperial. Dois séculos após a Batalha naval entre monarquistas e republicanos o episódio ainda é lembrado em Laguna pela presença do audaz marinheiro italiano Giuseppe Garibaldi e pela bravura da famosa moradora Anita. Ao tomar o porto, Giuseppe ficou ancorado a bordo de seu navio observando o movimento da vila por uma luneta. Admirado com a beleza natural do lugar, surpreende-se ao avistar uma jovem caminhando pela praia. De ímpeto, uma copiosa paixão tomou conta de seu coração. A bela mulher era Aninha (Anita), aquela que seria o grande amor de sua vida. Em “Memórias de Garibaldi”, ele descreve o encontro com Anita, na época com apenas 18 anos de idade: “Um homem que tinha conhecido

Nesse contexto, em 1676, o bandeirante vicentista Domingos de Brito Peixoto funda Laguna, por solicitação do rei de Portugal. O objetivo era impulsionar a povoação e defender a região sul do Brasil das invasões espanholas. Entretanto, políticas de ocupação ocorreram mesmo, somente a partir do início do século XIX, com a chegada de imigrantes italianos. Estes dirigiram-se para o interior formando as conhecidas colônias de Azambuja, Urussanga, Grão-Pará, Princesa Isabel e Braço do Norte. O desenvolvimento econômico progrediu na região gerado pela agricultura e exploração de carvão. Essa época áurea ficou eternizada nos conjuntos arquitetônicos de seus sobrados luso-brasileiro do centro histórico, tombado pelo Iphan em 1985. As lindas praias, cujas ondas embalam os surfistas e a costa visitada por baleias, complementam os requisitos que a tornam roteiro turístico em todas as estações do ano. convidou-me a tomar café em sua casa. Entramos, Marco do Tratado de Tordesilhas-Laguna-SC Revue Cultive - Genève

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História e a primeira pessoa que me apareceu era Anita. A mãe dos meus filhos! A companheira da minha vida, nos bons e nos maus momentos! A mulher cuja coragem tantas vezes ambiciono! Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor”. A linda história de amor foi protagonizada pela coragem e determinação de Anita, que abandonou a sua Laguna e um anterior malsucedido relacionamento imposto pela família. Empoderada, corajosa, seguiu o seu “príncipe”, Giuseppe Garibaldi, lutou ao lado do companheiro pela liberdade republicana no Brasil e Unificação da Itália, cuidou de feridos nas batalhas, animou soldados, conquistou respeito por sua bravura. Nascida em Morrinhos, Santa Catarina, em 1821, com nome de Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, a filha de comerciantes ficou conhecida por Anita Garibaldi, a “Heroína de Dois Mundos”. Morreu na Itália, em 1849, aos 28 anos, grávida do quinto filho. Foi sepultada sete vezes, sendo quatro por motivos políticos. Seus restos mortais descansam num monumento da Praça de Gianicolo em Roma. A ilustre catarinense nomeia avenidas, ruas e escolas por todo o Brasil e no exterior. Em 2012, foi inaugurada a ponte Anita Garibaldi, sobre a Lagoa do Imaruí, ligando a cidade de Laguna ao continente. Sua vida foi levada às telas de cinema, minisséries, narrada em livros e tema de escola de samba. A casa onde viveu em Laguna é hoje um museu, aberto em 1978 e conta a história da ilustre moradora. Em 2021, será comemorado o bicentenário de nascimento de Anita Garibaldi. O grande evento internacional, denominado “Una Rosa Per Anita”, será realizado pelo Instituto Cultural Anita Garibaldi, com a presença de alguns descendentes, nas cidades em que a mesma lutou na defesa república e da liberdade. Bibliografias e fontes consultadas

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Giuliani, Isidoro (2001). Anita Garibaldi. vita e morte (em italiano) 1 ed. Mandriole: Parrocchia di Mandriole - Ravenna. 96 páginas Rau, Wolfgang Ludwig, 1916-Anita Garibaldi; o perfil de uma heroína brasileira Florianópolis, Edeme, 1975. 526 p. https://www.bing.com/images/search?q=tratado+de+tordesilhas+laguna&FORM=HDRSC2 https://www.bing.com/images/search?q=anita+garibaldi+laguna&FORM=HDRSC2 https://institutoculturanita.webnode.com/news/uma-rosa-paraanita-no-ano-de-seu-bicentenario/ https://www.laguna.sc.gov.br/cms/pagina/ver/codMapaItem/96142 acesso em abril 2020 https://www.laguna.sc.gov.br/hotsite/index/index/codMapaItem/113623 acesso em abril 2020


História

AS LENDAS E ENCANTOS DA ILHA DA MAGIA DE SC Por Neusa Bernado Coelho

Grafite de Valdi para Franklin Cascaes em Florianópolis/SC

Gelci Coelho -Peninha -Enseada de Brito- ag 2020

Oswaldo Rodrigues Cabral).

Em 2017, no centenário do seu nascimento, o arFlorianópolis, Floripa, Nossa Senhora do Desterro tista Thiago Valdí marcou o centro de Florianópoou simplesmente Ilha da Magia, assim é carinhosa- lis com um painel 34x12m em grafite representanmente chamada a capital catarinense. O nome faz do o grande o mestre da cultura açoriana, Franklin jus pelo seu encanto, belezas naturais e pelo rico Cascaes. folclore que ainda é difundido pelos nativos descendentes de açorianos. Os visitantes que escolhem Gelci José Coelho, o Peninha, 71 anos, é museólomorar na Ilha encantada, precisam pedir permissão go, multiartista, folclorista e pesquisador da cultuàs lendárias bruxas para poderem ter sucesso em ra popular catarinense. É um dos guardiões da seus empreendimentos. Diz a lenda que as megeras história, memória, e arte de Franklin Cascaes. voam em suas vassouras e percorrem todo o litoral Entre os anos 1973 e 1983 trabalhou com o mestre assustando os pescadores, fazendo algazarras nas na UFSC (Universidade Federal de Santa Cataripraias, roubando barcos e tarrafas. Além disso, en- na), tornou-se amigo e seu seguidor. Atualmente, tram pelo buraco das fechaduras das casas que tem Peninha reside na encantada Enseada de Brito/ crianças não batizadas e se divertem pelos terrei- Palhoça/SC), onde concedeu a entrevista para ros fazendo nós nas crinas dos cavalos. Esses cau- essa matéria. Na vila, fundada em 1747 por casais sos surreais com seres sobrenaturais permanecem açorianos, Peninha difunde as obras e lendas legana crendice popular ilhoa até hoje, registrados em das pelo seu mestre Cascaes. Escreveu e publicou a manuscritos por Franklin Cascaes (1908-1983). obra “Narrativas absurdas: verdades contadas por O trabalho documentado durante 30 anos pelo um mentiroso”. São histórias ligadas a herança dos mestre é repleto de escritos, desenhos, gravuras, açorianos, mistura realidade, ficção, poesia, reza, lendas, contos, crônicas, cartas, peças em cerâmi- espanto, tragédia, assombração e benzeduras (antíca, madeira, cestaria e gesso. A pesquisa e coleta doto das bruxarias). Ele relata: “Adoro essas coisas de informações orais sobre essa tradição pitoresca todas, os rituais, os cânticos, as histórias, a arte sae as estórias místicas em torno das lendárias bruxas cra de todos os credos e religiões. As crenças, os foi realizada junto a população descendentes dos mitos, as devoções causam-me espanto e emoção” açorianos. Todo esse acervo denominado "Cole- (Peninha, p.197). ção Professora Elizabeth Pavan Cascaes", está sob a guarda da Universidade Federal de Santa Catarina Ao chegarem no Brasil, os habitantes da Ilha do no MArquE (Museu de Arqueologia e Etnologia Açores e Madeirenses trouxeram um caldeirão cultural alimentado por misticismos vividos no coRevue Cultive - Genève

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História tidiano desde a era medieval. No litoral de Santa Catarina, onde se estabeleceram adaptaram seus hábitos e costumes às crenças espirituais dos indígenas que aqui habitavam. Muitos causos de embruxamento, rezas, benzeduras, sobrevivem ainda no imaginário popular. Em Itaguaçu, terra de Cascaes ainda encontra-se grande quantidade de despachos e oferendas entre as pedras, restingas e o mar. Peninha relata que as bruxas geralmente são mulheres formosas, mas apresentam-se de forma medonha para não serem reconhecidas e não perderam o fado. Conforme sua narrativa, elas realizam quatro reuniões por ano, geralmente na passagem das estações. Fazem o sabat, uma espécie de congresso, onde prestam contas ao diabo sobre as ações realizadas e planejadas. Para não perder os poderes, seguem um ritual de beija-rabo do diabo fedido a enxofre. Conta que um dia, as bruxas resolveram fazer um baile chic, estilo alta sociedade. Convidaram as amigas e outros seres sobrenaturais como os caiporas, curupiras, boitatás, vacatatás, ondinas, vampiros, mulas-sem-cabeças, sacis, lobisomens, entre outros. Ao som da orquestra selenita irisada da lua cheia, fizeram uma linda festa de comes e bebes, mas não convidaram o temido diabo fedorento e antissocial. Escolheram a praia de Itaguaçu, um lugar lindo para o festerê e foi um sucesso. Todavia, uma das convidadas, invejosa, resolveu sair para fofocar ao diabo, que enfurecido surge no meio da festa. Ao se deparar com todo aquele luxo bruxólico, o tinhoso castigou as participantes, transformou-as em pedras e inundou o pátio com água do mar. Atualmente a paisagem é relíquia histórica tranformada em patrimônio natural e cultural.

Patrimônio cultural - Praia de Itaguaçu As bruxas petrificadas continuam até hoje flutuando no mar de Itaguaçu. No local, não se sabe se houve mais festas sem a presença do diabo, mas há um lindo monumento em memória ao folclorista 64

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Franklin Joaquim Cascaes, ornado com um admirável boitatá de bronze dourado com os dizeres: Ao mestre o reconhecimento e a homenagem da gente de Florianópolis. Entre as crendices populares existem muitas lendas de bruxas recolhidas na literatura oral. Peninha adverte: quem gosta de contar estórias de bruxa, atrai os males para si, portanto, precisa se proteger contra os poderes maléficos. Ensina usar o símbolo de Salomão, uma vela ascesa (que foi benta na sexta-feira santa) e rezar a seguinte oração contra os males do bruxedo: Treze raios tem o sol, treze raios tem a lua. Salta demônio para o inferno, pois esta alma não é tua. Tosca Marosca, rabo de rosca. Aguilhão nos teus pés, freio na tua boca. Por cima do telhado São Pedro, São Paulo e São Fontista. Dentro da casa, São João Batista. Bruxa tatarabruxa, tu não me entres nesta casa, nem nesta comarca toda. Por todos os santos, dos santos, Amém! Em outro conto, Peninha diz que Nossa Senhora, rainha do mundo, queria conhecer a Ilha da Magia, mas não tinha ponte, nem canoa. Ao avistar um vaidoso linguado, perguntou para ele se a maré ia encher ou vazar. O linguado malcriado, arremedou, repetindo a frase de maneira jocosa: Me nhe nhe, me na ná. Um siri, que estava ali na margem e presenciara a cena vergonhosa, interferiu e ofereceu-se para dar carona, levando-a até na outra margem. Nossa Senhora, agradecida, levantou os babados da longa saia, subiu no casco do siri e lá se foram eles cruzando o trecho mais estreito do canal que separa o continente da Ilha. No meio do canal surgiu uma manta de tainha que fez um lindo cortejo prateado até às margens do mar da Ilha de SC. Diz a lenda que o linguado ganhou um castigo, ficou rastejante com os dois olhos no mesmo lado e a boca torta. Já o siri, foi agraciado e ganhou de presente, no casco, uma linda imagem de Nossa Senhora coroada, segurando a saia rodada. Nas escamas da tainha a imagem aparece sutilmente representada por um longo véu multicolorido. Essas são algumas das lendas da encantadora Ilha da Magia que corre a boca pequena entre os habitantes de Florianópolis e litoral próximo. Bibliografia e referências Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso/Gelci José Coelho(Peninha)-Fpolis: Santa Editora, 2019. O Fantástico na Ilha de Santa Catarina/Franklin Cascaes.5.ed.rev.-Fpolis, Ed. da UFSC, 2003.103p. (Volumes 1 e 2) Entrevista com Gelci José Coelho(Peninha) em 16 de agosto de 2020. http://www.dicaautolocadora.com.br/praias.html


História

Registros Antigos e Modernos da História de Pernambuco por Maria Nazaré Cavalcanti

fato da apropriação pela visão de uma paisagem desconhecida uma forma de riqueza para além daquela propiciada pela economia colonial. Especular sobre a história da cidade do Recife tem sido uma tarefa instigante e inconclusiva. Damos conta com múltiplas narrativas. Para fazer esta discussão constituindo a história da cidade e de sua cultural, passamos por alguns relatos de alguns portugueses e holandeses que aqui estiveram nos primeiros tempos da colonização, séculos XVI e XVII – as nossas origens revisitadas, são narradas pelos geógrafos e jornalistas das décadas de 1930 e 1950. A disposição urbana do Povoação dos Arrecifes, era simples e condicionada pela estreita faixa de terra seca.

A colonização portuguesa no Brasil, entre 1537 e 1630, teve a Capitania de Pernambuco como um dos seus principais centros de irradiação. O dinamismo dessa economia colonial tinha no porto, nos engenhos de açúcar e no acesso à propriedade da terra seus elementos principais. O Recife, interdependente da "senhorial Olinda", teve a formação de sua estrutura social relacionada a esses elementos e foi composta por pescadores, canoeiros, jangadeiros, artífices, colonos, soldados, mercadores, negociantes, funcionários e clérigos.

O ano de 1630 marca uma ruptura na colonização portuguesa com a chegada dos holandeses a Pernambuco, trazendo nas diversas comitivas outros memorialistas que vão registrar um outro tempo, uma outra maneira de apropriar-se de uma natuOs registros feitos pela gente da terra confirmam reza desconhecida e extasiante. Joannes de Laet, esta dependência, como também expressam a visão historiador holandês dos feitos praticados no Brasil arrebatadora àqueles que conhecessem o povo e a até o ano de 1636, registrou passo a passo os devila de Olinda, sugerindo constituir-se o simples sembarques das tropas, os ataques aos portugueses e a conquista da cobiçada capitania de Pernambuco. Será conveniente que digamos um pouco da situação e grandeza da Capitania de Pernambuco. Realmente uma das maiores que se encontravam em todo o Brasil (...). Em suma, tanto pelos seus recursos e vantagens, como pela sua segurança, podia considerar- se a Capitania de Pernambuco como o paraíso do Brasil e tão boa como um reino. Riqueza, abundância e grandeza foram os significados econômicos conferidos à Capitania de Pernambuco, porém, não são eles que denotam a sinRevue Cultive - Genève

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História gularidade do local e o sentido de estranhamento dos portugueses e holandeses. Entre o rio Beberibe e o mar, estende-se uma estreita península, em cuja ponta está uma povoação chamada Recife, onde fazem o embarque e o desembarque de todas as mercadorias e onde habitava muita gente. Perto está o Poço, no qual grandes navios podem ancorar. Do outro lado do Poço, na ponta do recife de pedra, estava um fortim ou torre redonda, construído, havia muitos anos, de pedra duríssima, quase dentro do mar, e, fazendo face a esse terreno reduzido de terra ou península do Recife, havia outro a que os portugueses chamavam S. Jorge. Pedra furada, arrecife, porto, surgidouro, poço, barreta, estreita península, ou melhor, "por esta boca entra o salgado terra adentro", são palavras que imprimem um sentido de territorialidade incerta, não dominada.

e barcas para o serviço dos moradores por debaixo das pontes de madeira, com que atravessou em algumas partes este dique a modo de Holanda, de sorte que aquela ilha ficava toda rodeada de água: também ali fez uma casa de prazer, que lhe custou muitos cruzados, e no meio daquele areal estéril, e infrutuoso plantou um jardim, e todas as castas de árvores de fruto que se dão no Brasil. Pôs neste jardim dois mil coqueiros, trazendo-os ali de outros lugares, porque os pedia aos moradores, e eles lh'os mandavam trazer e assim também lhe ajudaram a fazer as suas casas, assim está o jardim aonde morava, como a da Boa Vista sobre o Capibaribe aonde ia muitos dias passeando a se recrear, porque uns lhe mandavam a madeira, outros a telha, e o tijolo, outros o cal, e finalmente todos o ajudaram no que puderam; e ele se mostrava tão agradecido, e favorecia de sorte aos portugueses, que lhe parecia que tinham nele pai, e lhe aliviava muito a tristeza, e dor de se verem cativos. A natureza já não era tão estranha e o ambiente era ao gosto dos novos governantes holandeses, com a realização de intervenções urbanísticas que agradavam a todos. É importante dizer que, após o incêndio de Olinda, em 1631, o Recife deixa de ser apenas um porto e torna-se o centro político do governo holandês no Brasil. Torna-se a cidade Maurícia.

No tempo dos holandeses, os portugueses também escreveram narrativas sobre a capitania de Pernambuco, como a do frei Manuel Calado do Salvador. Esse frade, da Ordem de São Paulo dos Eremitas da Serra d'Ossa, participou da guerra da resistência contra o holandês, gozou da amizade de Maurício de Nassau e, ainda, registrou os fatos ocorridos sob o domínio dos holandeses no Brasil, entre 1634 e 1646. O aspecto de Olinda foi caindo e de Maurícia que não se hesitou em decidir qual dos dois espetáculos é mais satisfatório.

As memórias escritas por professor holandês, registram os feitos da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, principalmente aqueles empreendidos sob o governo de Nassau, enaltecendo a defesa militar utilizadas por esse governante. Recife

Andava o Príncipe Conde de Nassau tão ocupado em fabricar a sua cidade, que para afervorar os moradores a fazerem casas, ele mesmo, com muita curiosidade, lhe andava deitando as medidas, e endireitando as ruas, para ficar a povoação mais vistosa, e lhe trouxe a entrar por meio dela, por um dique, ou levada, a água do rio Capibaribe a entrar na barra, por o qual dique entravam canoas, batéis, 66

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História Recife é a principal sede do governo, do comércio e da guerra, e também rica em fábricas de armas.

gura e certa do porto.

Em Olinda, ainda está destacada a existência de

duas baterias de canhões de bronze, localizadas junto à costa, no porto, além dos seguintes fortes: o de SÃO JORGE, no caminho de Olinda, e, próximo a esse, os do BRUM e do Reduto ou Torre, o de WARDENBURCH, ao pé de uma salina entre os rios Capibaribe e Beberibe, o do Príncipe Guilherme, no rio dos Afogados, guardando as estradas que levavam ao sertão, o de Ernesto e o de Frederico ou CINCO PONTAS.

O orgulho holandês não estava restrito às milícias militares e igualmente, a realização de grandiosos empreendimentos urbanísticos. Isso fez Nassau repartir o seu governo entre tantos negócios de peso, quis ocupar-se primeiro em construir um palácio para si e depois duas pontes, aquele mais para uso seu e estas para utilidade pública. O palácio por ele construído (chama-se Friburgo, isto é, cidade da liberdade) tem duas torres elevadas, surgindo do meio do parque, visíveis desde o mar e servem de faróis aos navegantes. Uma delas, tendo no topo uma lanterna, para o forte da costa, indicando-lhes a entrada se-

Outros empreendimentos urbanísticos constituíram, também, a cidade Maurícia, como o sistema de canais, o jardim botânico, a ponte de ligação com a ilha do Recife e outra de comunicação com o continente, o palácio da Boa Vista e o museu.

A construção dessa cidade propiciou, então, a formação de outras significações para o Recife. Palácios, pontes, parques, museus, sistemas de canais vêm substituir a dominância das palavras associadas às defesas e conquistas militares, indicando um deslocamento das representações relativas ao desbravamento e domesticação de uma natureza exótica para um ambiente laico e mundano. O Recife passou a ter o sentido de "cidade da liberdade". Industria A primeira Industria do Recife ocorreu a partir de 1875, voltada para os bens de consumo, como o ramo têxtil abrangendo vários bairros, como Santo Amaro, Boa Vista, Cordeiro, Várzea, Macaxeira e Torre. O poder político provinha quase exclusivamente dos usineiros e dos fornecedores, inclusive na ocuRevue Cultive - Genève

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História pação de cargos públicos no executivo e legislativo, entremeando, por vezes, políticos da cidade e clientela da zona do açúcar O orgulho holandês não estava restrito às milícias militares, mas comportava-se, igualmente, a realização de grandiosos empreendimentos urbanísticos.

A Vila de Olinda, tornada cidade em 1676, apesar das dificuldades políticas na disputa pela sede da capitania, mantinha sob sua jurisdição um território extenso. Mas isso não impediu que fosse desertada pela nobreza da terra e se tornasse basicamente espaço de moradias populares: Em 1691, os senhores de engenho que atuavam como oficiais da Câmara chegaram a escrever ao rei solicitando Outros empreendimentos urbanísticos consti- a reconstrução dos edifícios da governança, a sede tuíram, também, a cidade Maurícia, como o siste- da Câmara e a cadeia, arruinados desde o período ma de canais, o jardim botânico, a ponte de ligação holandês, pois, segundo eles, o abandono desses com a ilha do Recife e outra de comunicação com o prédios contribuía para "ficar despovoado o alto da continente, o palácio da Boa Vista e o museu. Cidade" que, antes do incêndio da vila, era ocupado preferencialmente pelas elites. A construção dessa cidade propiciou, então, a formação de outras significações para o Recife. Palá- Olinda foi antigamente muito populosa, rica e aucios, pontes, parques, museus, sistemas de canais torizada, com grandes e formosas casarias de pedra vêm substituir a dominância das palavras associa- e cal, todas de dois e de três sobrados, e famílias das às defesas e conquistas militares, indicando um muito nobres, donde havia grande e considerável deslocamento das representações relativas ao des- negócio e muita abastada de riquezas.Hoje não há bravamento e domesticação de uma natureza exó- mais que umas memórias dos arruinados edifícios tica para um ambiente laico e mundano. O Recife que ainda hoje estão mostrando o que foram. passou a ter o sentido de "cidade da liberdade". Apesar desse desprezo que um capitão, um moraA situação política entre Olinda e Recife também dor do Recife, demonstrava para com a sede da Case alterava. A povoação do Recife crescera consi- pitania, consonante com o despertar das disputas deravelmente no período holandês e com ela sua entre as duas cidades, Olinda continuava a ser um população urbana e seu grupo de comerciantes. centro influente sobre a sociedade açucareira que Ao assumir a capitania, o governador Barreto de se estendia do Recôncavo baiano às vizinhanças Menezes, um português com interesses comerciais, de Natal, no Rio Grande do Norte. Em sua câmara mantendo a capital no Recife, apesar dos protestos se abrigavam os senhores de engenho, que constidos senhores de engenho sediados em Olinda. No tuíam a elite dos restauradores e que usavam o Seentanto, quando André Vidal de Negreiros, senhor nado para defender as mercês. de engenho paraibano, substituiu Menezes no governo, Olinda voltou a ser a capital. Mas as queixas Do outro lado do rio Beberibe, entretanto, o Repolíticas entre os senhores de engenho, comer- cife crescia e com ele uma nova elite de mercadores ciantes e governadores portugueses apenas come- e grupos sociais que permaneceria à margem das çavam, tendo como pano de fundo o crescimento queixas políticas da elite açucareira. demográfico e comercial do Recife em contraste com a estagnação de Olinda. Estagnação, todavia, A CIDADE MAURÍCIA que não ofuscava a grande influência política que sua Câmara detinha junto ao governo da capitania O chamado Recife holandês era constituído de e às 7 capitanias anexas . um núcleo urbano, do porto e da Cidade Maurícia. Antes do estabelecimento do domínio neerPor sua vez, o Recife continuava a exercer a função landês, o Recife era apenas um povoado submetide centro defensivo, com a reelaboração da linha do ao controle da Vila de Olinda e que tinha sua física de defesas e a reorganização das tropas régias. vida marcada pelas funções portuárias, sendo por Era em suas ruas que estava estacionado o princi- isso chamado arrecife dos navios. Com a presenpal quantitativo militar em Pernambuco, e, das ça batava, esse povoado e o porto se tornaram o fileiras dos seus pobres, é que logo sairia a maior principal centro administrativo da região. A vinparte dos braços armados litorâneos empurrados da do conde João Maurício de Nassau, em 1637, para a conquista do sertão. para ocupar o cargo de governador, capitão e al68

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História mirante general do Brasil em nome da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, e a estabilização do domínio neerlandês contribuíram para que o núcleo urbano sofresse ainda maiores transformações. Além de transferir o centro político de Olinda para o Recife, Nassau investiu na construção de uma cidade, a Mauritstad (Nova Holanda, também conhecida como Brasil Holandês, foi uma colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais que ocupou grande parte da região Nordeste do Brasil entre 1630 e 1654. O território ocupado correspondia principalmente ao leste da Capitania de Pernambuco). O Recife teve sua paisagem urbana bastante altera-

sua cidade não passava de um areal infrutífero. Construir uma cidade em espaço colonial, implicava não só no controle sobre a região, como também a domesticação da natureza selvagem, como podemos notar através dos desafios enfrentados pelos neerlandeses para construir a Cidade Maurícia. Pontos turísticos no Recife / PE. Para começar, a Praça do Marco Zero, ponto onde a cidade foi fundada, é um dos cenários mais bonitos de Recife e repleto de construções antigas, em frente ao Parque das Esculturas. Os museus são outro ponto forte da cidade. Ali está o famoso Instituto Ricardo Brennand, considerado o melhor da América do Sul. Outras ótimas instituições são o Museu Cais do Sertão (sobre a cultura sertaneja nordestina), o Museu da Cidade do Recife (instalado no Forte das Cinco Pontas), a Oficina Francisco Brennand, o Paço do Frevo, entre muitas outras atrações. Com várias praias, a mais famosa é a Praia de Boa Viagem, com 8 km de orla e piscinas naturais formadas pelos recifes, também pode aproveitar outros destinos, como Porto de Galinhas e Olinda.

da sob o domínio batavo (relativo a Holanda), com o surgimento de seus sobrados «altos e magros», para usar expressão de Gilberto Freyre. É frequente relacionar o crescimento do local com a presença dos comerciantes, que ali viveram e eram também altos funcionários da Companhia das Índias Ocidentais. Este fato fez com que alguns trechos da paisagem urbana do Recife lembrassem a paisagem do norte da Europa. Ao lado do prédio do Conselho Político, ali se encontravam a alfândega, o armazém e o porto, o que fazia do Recife um verdadeiro empório neerlandês encravado na América.

As festas populares de Recife duram o ano inteiro. O Carnaval da cidade é um dos maiores do Brasil, sempre ao som de ritmos como o frevo, o maracatu e o forró. Também vale conferir os festejos de São João e o “Boi Voador”, uma tradição que remete à época de Maurício de Nassau e do domínio holandês. Instituto Ricardo Brennand Mais recentemente, em 2002, foi inaugurado uma das maiores instituições em Recife/PE, que salvaguarda um valioso acervo artístico e histórico originário da coleção particular do industrial pernambucano Ricardo Coimbra de Almeida Brennand. Também conhecido como “Castelo de Brennand”, instituição sem fins lucrativos que foi reconhecida como o melhor Museu da América do Sul, é composto por pinacoteca, biblioteca, um auditório, jardins das esculturas, galeria para exposições temporárias e eventos, restaurantes e a Capela Nossa Senhora das Graças.

O crescimento da cidade simbolizou o triunfo da Companhia sobre a região até aquele momento dominada pelos portugueses. Logo que chegou à América, o conde de Nassau fixou residência no Recife. Assim que as batalhas em terra diminuíram, o Conde decidiu construir uma cidade que fosse sede de seu governo e também sua moradia. O local escolhido, a Ilha de Antônio Vaz, era um terreno sáfaro e inculto, apenas um matagal situado entre o Forte Ernestus e o Forte das Três Pontas. A ilha era um terreno alagadiço. Para Frei Manuel Fortes de Pernambuco Calado, o sítio escolhido por Nassau para erguer

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História Forte das Cinco Pontas

colonial. É também conhecido como 'Fortim do Queijo'. Fica no Largo do Fortim, bairro do Farol (Olinda). Forte Orange

Foi iniciado, a partir de maio de 1631, como uma fortificação de campanha, por forças neerlandesas, tendo recebido a denominação em homenagem à Casa de Orange-Nassau, que então governava os Foi construído em 1630 pelos holandeses. Ori- Países Baixos. O objetivo era a conquista da Vila ginalmente, era feito de taipa. Os portugueses o da Conceição, atual Vila Velha. No final da décachamavam de Forte das Cacimbas. A fortaleza foi da de 1630, a primitiva fortaleza, em faxina e taipa, totalmente destruída em 1677 e restaurada por Fer- foi substituída por uma nova construção em pedra nandes Vieira, desta vez, reconstruído com apenas bruta. quatro pontas. No também denominado Forte de São Tiago, encontra-se um monumento em home- O forte Orange, na entrada sul do canal, que é o nagem a Frei Caneca, que foi líder da Confedera- principal porto da Ilha de Itamaracá. É um forte ção do Equador. O local também funciona como quadrangular com 4 baluartes, elevado, tendo em Centro Turístico e abriga o Museu da Cidade do certo trecho um fosso, mas pouco profundo e seco; Recife e o Teatro do Forte. O forte fica no Largo das está cercado por uma forte estacada. Aí estão 12 Cinco Pontas - São José - Recife. peças, 6 de bronze e 6 de ferro. Forte do Brum

Danças típicas do estado de Pernambuco

Construído em 1629, o Forte do Brum era uma estratégia de proteção da entrada do porto do Recife. Em 1669, a fortaleza foi parcialmente destruída. O local só foi restaurado 21 anos depois. O Forte do Brum serviu de abrigo aos refugiados da Revolução Pernambucana de 1817. Hoje, funciona como um museu militar, que exibe armas, canhões, fotos e até o esqueleto de um soldado da época da invasão holandesa. Abriga a Capela de São João Batista. Fica na Praça Comunidade Luso Brasileira Recife Antigo.

Bumba meu boi O Bumba meu boi, também chamado de BoiBumbá, é uma dança tradicional brasileira típica das regiões norte e nordeste. Embora tenha maior representatividade nas culturas dessas regiões, atualmente podemos encontrar essa manifestação cultural em todas as partes do Brasil. Em 2012, o Bumba meu boi foi incluído na lista de Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Forte de São Francisco Construído no final do século XVI, o Forte de São Festas do Bumba meu boi Francisco está localizado na avenida Beira- Mar de Olinda. A arquitetura simples e rústica tem estilo As principais festas do Bumba meu boi também 70

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História muito conhecida no Maranhão, inserido na cultura popular. É no estado do Maranhão que a festa do Bumba meu boi tem maior representatividade, nas festas em comemoração aos santos populares. A festa ocorre nos meses de junho e julho, em São Luís, desde o século XVIII. A festa de Bumba meu boi é muito conhecida no estado do Amazonas, e é comemorada no dia 30 de junho.

A espiritualidade é um traço característico nas manifestações do maracatu, sendo presente a sua relação com as religiões de matriz africana.

A origem do Bumba meu boi vem da Europa do século XVI, mais especificamente na Península Ibérica. Diz-se que havia um conto ibérico de enredo muito semelhante ao da história da lenda do As danças, que apresentam semelhanças com o candomblé, são bem elaboradas, especialmente as Bumba meu boi difundida no Brasil. das baianas e das damas do paço. Na maior parte Trazida ao território brasileiro pelos colonizadores das vezes são as baianas que cantam, no entanto, portugueses, a história foi se modificando ao incluir todos podem participar do coro. alguns aspectos das culturas africana e indígena. Foi durante o período colonial, com a escravidão Como surgiu o Maracatu? e a criação de gado, que a lenda associada a essa manifestação teve sua origem tal qual a conhecemos hoje. Maracatu

O maracatu é uma manifestação do folclore brasileiro que envolve dança e música. Sua origem remonta a época do Brasil Colonial e consiste em uma mistura das culturas africana, portuguesa e indígena. É portanto uma expressão genuinamente brasileira e foi criada no estado de Pernambuco, sendo presente, sobretudo, nas cidades de Olinda, Recife e Nazaré da Mata cidade na região da Mata.

O maracatu tem origem afro-brasileira e surgiu no estado de Pernambuco no século XVIII. Tem a sua expressão mais antiga datada de 1711. Suas origens são incertas, mas relacionam-se com o candomblé e com a coroação dos reis do Congo. O rei do Congo foi uma figura que surgiu para administrar os povos negros trazidos para o Brasil a fim de serem escravizados. Dessa forma, os colonizadores portugueses incentivavam as homenagens prestadas e utilizavam a coroação como técnica de dominação. Revue Cultive - Genève

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História Com o seu fim, surge o cortejo, que representa uma corte simbólica e que passa a fazer parte do carnaval de Recife; o mesmo aconteceu com o frevo.

Frevo

Tipos de Maracatu Há dois tipos de maracatu: o maracatu nação e o maracatu rural. O cortejo do Maracatu Nação é formado entre 30 e 50 componentes e segue essa ordem. Porta-bandeira ou porta-estandarte, que se veste à moda de Luís XV. No estandarte, além do nome da agremiação, também consta o ano da sua criação. Dama do paço, que são 1 ou 2, e que carregam a calunga. Calunga, a boneca negra que representa uma rainha morta. Corte, formada pelo casal de duques, o casal de príncipes e o embaixador. A figura do embaixador não é obrigatória. Realeza, o rei e a rainha. Escravo, o qual carrega um pálio ou um guarda-sol que protegem a realeza. Yabás, conhecidas como baianas. Caboclo de pena, representa os índios, e também é uma figura facultativa. Batuqueiros, os que utilizam os instrumentos, sendo assim responsáveis pelo ritmo da dança. Catirinas ou escravas, dançarinas que puxam a dança. O rei e a rainha do maracatu são títulos conquistados de forma hereditária.

O frevo é uma dança folclórica típica do carnaval de rua do Brasil. É uma das principais danças tradicionais brasileiras e uma das manifestações culturais mais conhecidas na região nordeste do país. Merece destaque no carnaval pernambucano, sobretudo, nas cidades de Olinda e Recife. Essa dança popular foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2007.

Em 2012, o frevo foi incluído na Lista RepresentaMaracatu Rural ou Baque Solto tiva do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas (UnesTambém conhecido como Baque Solto, esse tipo co). de maracatu é típico de Nazaré da Mata, município localizado na Zona da Mata de Pernambuco. Sua Origem e História do Frevo origem apareceu posteriormente ao Maracatu Na- O frevo tem origem no século XIX na cidade de ção, despontando por volta do século XIX. Recife, em Pernambuco. Foi decorrência da rivalidade entre as bandas militares e os escravos que Seus participantes são basicamente trabalhadores tinham se tornado livres. rurais. Há uma figura bastante importante nesse tipo de vertente, que é o caboclo de lança, sendo o A palavra frevo surge como uma corruptela do verpersonagem de destaque. bo ferver (“frever”), isso porque o frevo é uma dança frenética, de ritmo muito acelerado. O contexto Ele se veste de forma bastante característica, com histórico em que essa expressão cultural desponum grande volume de fitas coloridas na cabeça, tou era igualmente frenético em termos políticos uma gola coberta de lantejoulas e uma flor branca e sociais. Vivia-se o pós-abolicionismo, enquanto pendurada na boca. surgia uma nova classe operária. Alguns instrumentos usados no maracatu são de Por possuir um grande valor cultural, dia 09 de fepercussão, como: caixas, ganzás, gonguês, taróis vereiro é comemorado o Dia do Frevo. e tambores, conhecidos como alfaias no maracatu. Também são utilizados instrumentos de sopro Características do Frevo como trombones e cornetas. 72

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História Frevo-canção: esse é o frevo orquestrado, o qual apresenta um ritmo mais lento. Frevo de bloco: é cantado, assemelhando-se a uma marchinha de carnaval.

Presença de música e dança; Música tocada por instrumentos de sopro; Rítmo acelerado; Movimentos acrobáticos; Inserção de elementos de outras danças folclóricas; Inserção de elementos da capoeira; Figurinos coloridos e o utilização de pequenas sombrinhas.

Em 2014 foi inaugurado o Paço do Frevo, na parte antiga e histórica do Recife. Trata-se de um local que reúne a história dessa expressão cultural, bem como oferece formação referente ao frevo. O objetivo é valorizar e divulgar a arte que compreende as áreas da dança e da música que faz parte do folclore brasileiro.

Portanto, Recife, capital de estado do Pernambuco fica no nordeste do Brasil, distingue-se pelos vários rios, pontes, ilhéus e penínsulas. À parte história de Recife, fica junto ao porto e o centro histórico do século XVI, ao sul fica a popular Praia de Boa Viagem, protegida por arrecifes. Atualmente, cheias O frevo caracteriza-se por ser uma marchinha ace- de prédios modernos, hotéis e restaurantes, que ao lerada ao som de uma banda que segue o estilo dos meu ver, tirou a enorme beleza da praia. blocos de carnaval. Ele incorpora elementos de outras danças, tais como maxixe, polca e, inclusive, a Assim é o meu Recife, muito calor, sol e praias, onde as minhas saudades e recordações maravilhocapoeira. sas tenho no meu coração. A orquestra do frevo recebe o nome de Fanfarra. A música executada no decorrer da dança, por sua Maria Nazaré Cavalcanti vez, também é chamada de frevo. Não há apenas um tipo de frevo. O mais comum não é cantado, mas apenas executado por instrumentos de sopro e de percussão. Os instrumentos musicais mais utilizados são o trombone, o trompete, o saxofone e a tuba. Uma das características mais marcantes é a utilização de sombrinhas coloridas, objeto que assume um papel importante na dança. Elas auxiliam na coreografia ajudando os dançarinos a obter equilíbrio ao executar passos acrobáticos. Além disso, trazem um colorido especial à dança. Os passistas, como são chamados os dançarinos do frevo, usam roupas bastante coloridas também. Tipos de Frevo São três os tipos de frevo, sendo que o mais tradicional é o frevo de rua. Frevo de rua: não é cantado, mas executado ao ritmo dos instrumentos musicais. É o frevo da dança. Revue Cultive - Genève

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História

A REMOÇÃO DA FAMÍLIA REAL PARA O BRASIL por Carlos Manuel Campos Alves Moreira

No verão de 1807, Portugal foi envolvido no conflito entre a França e a Inglaterra. Napoleão Bonaparte precisava fechar o canto sudoeste restante estratégico no seu Sistema Continental, um bloqueio destinado a paralisar o comércio britânico. Portugal era governado pelo Príncipe Regente Dom João (ver Figura 2), em nome da sua mãe insana, a rainha D. Maria I. O objetivo principal de Dom João era preservar a neutralidade portuguesa. No entanto, em 12 de agosto de 1807, a França apresentou um ultimato com demandas específicas: Portugal deveria retirar o seu ministro de Londres; afastar o representante inglês em Lisboa, Lord Strangford; declarar guerra à Grã-Bretanha; confiscar todas as propriedades britânicas e fechar os portos a todos os navios britânicos. A falta de conformidade significaria a guerra e invasão de Portugal. Dom João não podia mais manter a neutralidade. Inicialmente, ele estava disposto a romper relações diplomáticas e bloquear todo o comércio com a Grã-Bretanha. Mas, rapidamente o Conselho de Estado advertiu que nem uma simulação de aceitação das condições francesas seria suficiente; a comunicação com as colónias portuguesas deveria ser interrompida. Depois de algum tempo vacilando entre as posições de cada partido, Dom 74

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João procurou a Grã-Bretanha como o aliado mais adequado, em busca da melhor saída diplomática possível. Rapidamente, uma frota britânica chegou ao porto de Lisboa no dia 16 de novembro, liderada pelo almirante Sir Sidney Smith. As suas ordens eram para bloquear e destruir os navios portugueses caso Portugal se juntasse com a França, ou escoltar a família real para o Brasil. A decisão final recaiu sobre o Prince Regente. As tropas francesas já haviam invadido o território português; os britânicos aconselharam Lord Strangford a forçar Dom João a aceitar uma proposta para sair do país para o Brasil,

onde a dinastia de Bragança ficaria segura. O Príncipe Regente escolheu a última opção. Quando as tropas do marechal Junot chegaram a Lisboa em 29 de novembro, descobriram que toda a corte portuguesa havia escapado para o Brasil, escoltada pelos navios de guerra do almirante Smith (Manchester, 1964: 54-68; 1969: 149-53). O grau de envolvimento da marinha britânica na fuga da monarquia e do governo portugueses destacou um aspeto fundamental: a total dependência de Portugal sobre o poder político e militar do seu antigo aliado. Ao contrário do que se esperava, a fuga precipitada da corte portuguesa não foi uma verdadeira tragédia. Incorporou a conclusão de um projeto antigo, datado da década de 1580, e reforçado pelo terremoto de Lisboa de 1755 e pelo surgimento da revolução francesa. Nos meses anteriores a novembro de 1808, havia muitas evidências de planeamento antecipado para esta transferência. Por conseguinte, os académicos modernos concordam que, apesar da sua aparência, a remoção da corte não era uma verdadeira fuga. Era uma manobra políti-


História ca inteligente e perspicaz, em vez de uma destruição cobarde. Eles consideram isso o resultado de uma decisão política perspicaz (Manchester, 1969: 155, 174). Para muitas fontes contemporâneas, incluindo a Igreja, a transferência da corte foi fruto do design providencial. O Rio de Janeiro tornou-se de repente a nova Lisboa, a "nova Atenas", a "nova Jerusalém", à medida que assumia o papel da metrópole imperial americana. Além disso, fundar uma nova capital no Brasil expressou uma expiação quase histórica e divina pelos erros cometidos pelas antigas políticas coloniais. Inevitavelmente, as visões da unidade imperial também abriram o caminho para as reivindicações de independência dos independentes nacionalistas no Brasil (Schultz,

2001: 86-7, 277). De volta a Portugal, a invasão francesa de novembro de 1807 foi a primeira campanha do que se tornaria a Guerra Peninsular. A regência deixada em Lisboa pelo Príncipe Regente não tinha outra alternativa além de cumprir a administração francesa. O marechal Junot aboliu a regência e governou Portugal diretamente, alcançando o objetivo final

de Napoleão - a deposição das Braganças. Depois disso, o Brasil transformou-se em um estado independente de facto (Bernstein, 1969: 207). GOVERNO NA VERSALHES TROPICAL Figura 2 - Príncipe Regente Dom João, pintado por Debret c. 1817. Óleo sobre tela. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. Comércio Dom João chegou à província da Bahia em 22 de janeiro de 1808. Essa foi a primeira e única vez na História que uma corte europeia foi deslocada para uma colónia formal em outro continente. As comunicações com os portos portugueses na metrópole e no estrangeiro foram interrompidas devido ao bloqueio imposto a Portugal, enquanto os estoques de açúcar, algodão e tabaco reabriam os armazéns brasileiros. A solução era desenvolver imediatamente o comércio brasileiro para compensar o comércio perdido da metrópole sufocada em crise (Manchester, 1969: 164-5). Enquanto estava na Bahia, Dom João decretou, em 28 de janeiro de 1808, a abertura dos portos a todas as nações amigas, com importações sujeitas a direitos aduaneiros de 24%. Sendo a Royal Navy a senhora dos mares, a Grã-Bretanha estava numa posição forte para exportar diretamente para o Brasil. As mercadorias estrangeiras já não tinham de entrar em Lisboa para depois serem reexportadas para o Brasil. Com a maioria dos portos europeus inacessíveis devido ao Bloqueio Continental, o Brasil tornou-se assim uma saída natural para os industriais britânicos (Manchester, 1964: 71-2). A decisão reforçou os laços entre as elites fazendeiras brasileiras e Dom João, pois todos tinham interesse em comum por um comércio mais livre. Toda a região do centro sul, e a Bahia no Nordeste, viram os lucros crescerem nas exportações de açúcar e algodão. As exportações de café do Rio de Janeiro também aumentaram bastante (Bethell, 1987: 174). Dom João estava agora em dívida para com a Grã-Bretanha, dada a ajuda prestada durante a remoção da corte. Ele não podia dar-se ao luxo de escolher outra opção do que a de agradar os desejos britânicos de desenvolver o comércio com o Brasil. A Grã-Bretanha exigiu maiores vantagens e privilégios aos seus mercadores. Por isso, Canning ordenou a Lord Strangford que negociasse com Dom João um tratado que assegurasse os interesses Revue Cultive - Genève

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História comerciais britânicos. O objetivo era transformar o Brasil em um «empório das manufaturas britânicas» para toda a América Latina. Após as pressões diplomáticas de Strangford, Dom João finalizou em 19 de fevereiro de 1810 um Tratado de Comércio e Navegação que concedeu direitos preferenciais à Grã-Bretanha. Aprovou direitos de importação máximos de 15 por cento nas mercadorias britânicas, inferior aos 16 por cento pagos por Portugal, e contra os 24 por cento pagos por outras nações (Manchester, 1964: 78-102). Mais tarde, em 1825, o Reino Unido aproveitou a oportunidade de reconhecer a independência brasileira para rever o seu tratamento preferencial. Ambos os países acordaram um novo tratado comercial em 1827, continuando a mesma tarifa máxima de 15 por cento nas importações britânicas, garantindo direitos legais especiais aos britânicos, e o fim iminente do tráfico de escravos (Manchester, 1964: 202-10; Bethell, 1987: 192). O historiador Pinto de Aguiar (em Bernstein, 1969: 210-1) salientou o quanto a Bahia ganhou com a abertura dos portos. O Príncipe Regente sabia que a indústria brasileira demoraria muito para se recuperar, apesar do novo começo. Com uma incipiente indústria tropical e uma indústria deteriorada na metrópole, Dom João esperava convencido de que o comércio era a solução para reiniciar a economia portuguesa. Ele escreveu um manifesto para os três estados da Cortes em Portugal: «Não se preocupem que a entrada de manufaturas bri-

tânicas possa pôr em perigo a vossa indústria». A fim de contrabalançar a tarifa muito mais baixa das mercadorias britânicas, ele sugeriu e promoveu o desenvolvimento de produtos agrícolas em Portugal, incluindo o vinho e as azeitonas. Quando Dom João promulgou o Reino Unido de Portugal e Brasil em 1815, ele acreditava que a nação beneficiaria significativamente da concessão aos interesses britânicos no que diz respeito à abertura dos portos. Os benefícios caberiam a ambos os lados do Atlântico (ibid.). Apesar dos críticos, havia vários defensores dos tratados com a Grã-Bretanha. Silva Lisboa, um dos negociadores céticos do acordo de 1810, tornou-se depois um dos mais fervorosos defensores dos princípios do liberalismo econômico. Ele publicou panfletos e saudou os benefícios do comércio britânico para o Brasil, onde a vida se tornou mais barata (Lima, 1989: 145; Schultz, 2001: 2167). No geral, o resultado da abertura dos portos foi único. A diplomacia britânica garantiu privilégios que não podiam ser encontrados em outros lugares da América Latina por muito tempo (Miller, 1993: 42-4). Extraido da dissertação «Discussão da relação entre a fuga da família real portuguesa e o império britânico informal no Brasil no período 1808-1850» Carlos Manuel Campos Alves Moreira Dissertação em Humanidades Universidade de Exeter 2020

Du 28 / 10 au 01/11/2020

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jusqu’à Remise de 15%

34 Salon du Livre à Genève

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ème


História A redação da REVUE CULTIVE parabeniza

A CIDADE QUE EU AMO

OSMARINA MA- por Osmarina Maria de Souza RIA DE SOUZA

Uma pequena história em homenagem a um pepelo seu texto: A CIdacinho do Brasil, Florianópolis, cidade que tanto DADE QUE EU AMO. eu amo.

A CIDADE QUE EU AMO é um texto extraído do livro «Crônica da Vovó» escrito por Osmarina Maria de Souza. Ela Nasceu em 17-11-1929 na cidade de Florianópolis SC -Brasil. De origem humilde lutou muito para alcançar a posição de escritora e poeta, título que ostenta com orgulho. Vencendo pesistentemente os preconceitos pelo caminho hoje ela é reconhecidamente uma poeta do Desterro premiada e homenageada por diversas a academias e instituições culturais. Ela é Co-Fundadora da Academia de Letras de São José –ASAJOL, da Academia de Letras de Biguaçu (ALBIG), da Academia de Letras de São Pedro de Alcântara (ALCALLE), da Academia Desterrense de Literatura (ADELIT), da Academia Brasileira dos Contadores de História (ABCH) da Associação dos Cronistas Poetas e Contistas Catarinense ACPCC). Pertence ao Grupo de Poetas Livres, a Federação Brasileira das Academias de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro, é Membro Internacional Cultive e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Tem seis livros publicados; Divagando, Dona Clarinda, Relicário de saudade, Era Uma Vez eu e a Felicidade, Baú de Crônicas e Crônicas da Vovó e mais dois no prelo. Publicação em 56 Antologias. Participação em muitos Fóruns Congressos e Conferência sobre a Política da Pessoa Idosa e diversas cidades do Brasil e apresentação sobre Cultura Açoriana em Setúbal Portugal e Universidade Federal dos Açores. Como Monitora da Ação Gerontológica foi voluntária na UFSC durante 24 anos (1994-2018).

Lá pelos anos de 1650 o senhor Francisco Dias Velho, um abastado cidadão da vila de São Vicente, pediu ao Rei um pedacinho de terra no sul do país. Ele se comprometia a colonizá-la e fazê-la próspera. O Rei deu as terras e o senhor Francisco colocou em seu pequeno navio toda família: esposa, filhos netos genros e um certo número de escravos e partiu para a “Terra Prometida. Era primavera, e ao chegar ali ele viu duas baias de mar sereno e azul, peixes pulando em volta da embarcação. Abraçado à esposa, no convés, olhou para o lado direito viu montanhas com árvores floridas e uma praia de branca areia. Olhou para a esquerda e o mesmo cenário, montanhas com árvores floridas e praia, e dunas. Sentiu o perfume das flores e das frutas silvestres, pois ali mais parecia um pomar: laranja, ameixa, banana, pitangas, mexericas, araçás, carambolas e tantas outras frutas. Ele viu bandos de borboletas e aves de belas plumagens e lindos trinar. Viu as brancas gaivotas sobrevoando o seu navio. Disse então à esposa: OH! Que lindo pedaço de terra! E nosso amigo ficou ali, ajudado pelos índios carijós que já habitavam aquela ilha. Francisco edificou sua casa, plantou suas roças e construiu uma capela que dedicou à Nossa Senhora do Desterro.

Vez ou outra apareciam navios, ora para se abastecerem de frutas e peixe, ora para reparos ou abrigarem-se contra ataques piratas, porém um dia Francisco soube que um daqueles navios estava carregado de ouro. Nosso amigo Francisco prendeu o pirata e o ouro mandou de presente para o A CIDADE QUE EU AMO relata de forma resumiRei. Francisco soltou o pirata que jurou voltar e vinda e cativante a história da cidade de Florianópogar-se. E voltou, e vingou-se. Matou nosso amigo lis. A fluência dissertativa transforma a monotonia Francisco e alguns familiares, outros se embrenhade um relato histórico em um relato fantasioso e ram pelas matas e a vila ficou ao deus-dará. atraente, sobretudo quando a autora insere um personagem analfabeto que decide escrever uma Esta história, em 1937, uma menina de oito anos carta para o céu. O relato é, além de tudo, criativo ouviu da professora Altair Barbosa, no Grupo Ese rico de imagens. Revue Cultive - Genève

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História colar Lauro Müller. Quando chegou em sua casa caso do Brigadeiro Silva Paes que nasceu em Pordisse à mãe que ia escrever uma carta para o céu. E tugal. Veio para governar e para proteger esta vila a mãe retrucou: dos ataques invasores. Construiu as belas fortalezas que hoje são pontos turísticos na cidade. Oswaldo - Você não sabe escrever! Rodrigues Cabral, grande médico e escritor que chegou a Presidente da Assembleia Legislativa foi - Mas vou escrever e rabiscou muito em justamente quem melhor escreveu a história desuma folha de papel achando ter escrito o seguinte: ta vila. Houve também, meu amigo Francisco, um jovem de nome Claudio Alvim, que nasceu na vila Amigo Francisco aquela vila que fundaste deu de Biguaçu, a treze quilômetros daqui e veio para bons frutos, enumerá-los todos seria impossível, completar tua frase quando disseste; Que lindo pemas vou te dizer alguns: Aquele que perpetuou a daço de terra! Ele é o autor do hino da cidade e cena da primeira missa no Brasil, o grande Victor assim completou: Meirelles, nasceu ali naquela rua estreita ao lado dos Correios, o Príncipe dos poetas brasileiros o “Jamais a natureza reuniu tanta beleza, jamais algrande Luiz Delfino também nasceu ali naquela gum poeta teve tanto pra cantar, um pedacinho de rua que hoje chamamos de João Pinto. terra perdido no mar”. João Pinto, o maior poeta simbolista do Brasil ou até do mundo, o negro João da Cruz e Sousa, nasceu em uma senzala que havia ali nos fundos da Igreja do Rosário; o Marechal Guilherme de Sousa que substituiu Caxias na Guerra do Paraguai e foi quem criou o negro Cruz e Sousa, também nasceu nesta vila; o modelo de soldado brasileiro que lutou na batalha de Itororó comandando um batalhão, o grande Fernando Machado, também nasceu nesta vila; O Barão de Batovi que chefiou batalhões na mesma Guerra, governou um estado brasileiro e conquistou inúmeras medalhas por seus feitos heroicos, e que foi covardemente fuzilado em Anhatomirim a mando de um presidente doente, também nasceu nesta vila; a primeira mulher negra no Brasil a ser eleita Deputada e por duas legislaturas, a professora Antonieta de Barros também é fruto desta vila; o grande orador sacro que na hierarquia da Igreja chegou ao cargo de Arcipreste, o grande Joaquim Gomes Paiva, também nasceu nesta vila. Teve um jovem, meu amigo Francisco, de boas posses, que despiu-se de seu bom traje, vestiu um camisolão e descalço saiu pelo mundo pedindo esmolas e com o que arrecadou ajudou na construção do nosso Imperial Hospital de Caridade, na Santa Casa de Porto Alegre, na Santa Casa de Santos, de Itu de Jacuecanga e a Casa dos Meninos Desvalidos da Bahia, o nosso Irmão Joaquim, considerado o São Francisco Brasileiro, nasceu em uma casa que havia ali na Rua Felipe Schmidt onde hoje tem um bar que chamamos Ponto Chic. Houve também, amigo Francisco quem não nascesse aqui, mas que amou muito esta vila, como é o 78

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Tudo porque amigo Francisco: Ela é linda, e tem a figueira, e tem as praias. É hospitaleira. E tem a lagoa, tem uma história, o seu passado é uma gloria. De gente linda, de mar azul, na minha terra, tem vento sul. Tem velhas igrejas, românticas pracinhas, tem ruas estreitas e belas mocinhas. O seu amor vem dos Açores, terra de Deus e de Louvores. Não se envergonha se não é uma acrópole Porque ela é muito mais linda, é Florianópolis.


História

Dias Campos

Isso gerou mais de um despeito, ainda mais quando seus colegas de curso se lembravam de que não lidavam com um conterrâneo ou um europeu, mas, autor de diversos textos li- sim, com um exótico sul-americano. terários; autor e coautor de livros e artigos jurídicos. Mas se alguns o invejavam, a maioria o admirava, e as amizades iam crescendo e se solidificando.

OS VOOS DE UM HERÓI

Numa dada manhã, João Ribeiro foi convidado para a festa de aniversário da única prima de um seu colega de curso, e que aconteceria na noite seguinte. E ele aceitou.

A II Guerra Mundial terminara havia dois anos. A tarde estava fria e chuvosa naquele meado de julho. E João Ribeiro ia e vinha na cadeira de balanço, na varanda de sua fazenda Irissanga, absorto e completamente descrente dos homens que se mantinham no poder. E assim teria ficado, não fosse um cutucão dado pelo carteiro.

Quando chegaram ao local da festa, João Ribeiro ficou assombrado. Não que já não conhecesse os ambientes requintados... Afinal, vinha de uma família abastada, graças à riqueza que a lavoura do café produzia. É que a residência que surgia aos seus olhos era tão faustosa que deixaria em segundo plano o castelo onde morava O Grande Gatsby. Havia tantos convidados, que os amigos mal podiam se locomover; e muito menos conversar. O jeito foi apanhar cada um o seu champanhe e rumar o mais rápido possível para fora da mansão, onde, em princípio, poderiam curtir a festa como tinham imaginado.

As três primeiras cartas, o aviador jogou ao chão. Na última, no entanto, reluzia a chancela dos Estados Unidos da América, o que despertou a sua atenção. Quando foi ao remetente, suas mãos tremeram, a boca secou, e a vista ficou turva. E todo um passado começou a se desenrolar...

Quando alcançavam o jardim principal, a anfitriã logo reconheceu o seu sobrinho. Foi o bastante para que ela o agarrasse pelo braço e o cobrisse de afagos, carinhos esses que o deixaram bastante envergonhado e proporcionaram contidas risadas a João Ribeiro.

Estimulado pelas proezas recém-alcançadas por portugueses e espanhóis, o paulista João Ribeiro, um apaixonado pela aviação desde a juventude, resolveu buscar a glória, junto ao Aeroclube Brasileiro.

Depois das apresentações, a tia coruja perguntou se já haviam dado os parabéns à aniversariante. E como dissessem que não, ela fez questão de levá-los à presença da filha, que se entregava a uma sessão de fotos, ao lado da grande fonte.

Uma vez conquistado o brevê internacional, da Ligue Internationale des Aviateurs, e contando, apenas, vinte e cinco anos de idade, o ambicioso aviador buscou se aprimorar, e regressou às terras do Tio Sam para um curso de pilotagem e navegação aérea.

Mary Mayer Wordsworth estava deslumbrante! Moça lindíssima, de estatura mediana e corpo bem talhado, pele alvíssima e cabelos negros, era, sem dúvida, a joia mais reluzente da festa.

Às vezes, o melhor que se tem a fazer é não reavivar o passado. Mas não foi o que aconteceu ao comandante João Ribeiro de Barros.

E se esse anjo aprisionou a atenção do estrangeiro, os olhinhos negros da única herdeira também se Admitido com louvor, seus instrutores ficaram bo- ofuscaram ao fixarem o garboso rapaz – era bonito, quiabertos diante da familiaridade que demonstrou tinha porte atlético, olhos e cabelos castanho-escucom a novíssima tecnologia, e da gana que transpi- ros, e bastos, e possuía um sorriso único –, e a levarou ao buscar a excelência. ram a um sorriso absolutamente cativante. Revue Cultive - Genève

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História Ao saber que estava diante de um legítimo brasileiro, e de um aviador, o coração de Mary Mayer descompassou, pois ela enfim encontrava o homem que povoava a intimidade dos seus sonhos juvenis, aquele que reunia a beleza tropical à extrema coragem.

filha abraçada àquele “índio”. Mas como a sabia extremamente voluntariosa, e como não queria nenhum escândalo, resolveu engolir a seco o insulto e deixar que a festa seguisse. No dia seguinte, eles teriam uma conversa mais amena, em que ele a faria perceber a insanidade que cometera.

Não se precisaria dizer que a festa passou a ter um gosto bem especial ao casal, fato esse que não passou despercebido à matriarca, ao seu sobrinho, e muito menos ao pai da adolescente, o calculista George Mayer Wordsworth.

Desde que retornaram ao salão principal, o casal não mais se desgrudou; salvo quando o pai de Mary Mayer apareceu e, com ares de cortesia, quis saber quem era o felizardo que monopolizava a atenção do seu mais valioso tesouro.

Em que pese ser muito requisitada – incluindo, aí, três possíveis pretendentes escolhidos a dedo por seu pai, graças ao brasão e à fortuna que ostentavam –, Mary Mayer não se deixou intimidar, e, não se fazendo de rogada, tratou ela mesma de convidar o forasteiro para dançar.

Feitas as apresentações, o patriarca trocou meia dúzia de palavras com João Ribeiro, por mera formalidade. Em seguida, e porque não aguentasse o sangue que fervia, alegou as obrigações de anfitrião e se afastou.

Mary Mayer, que bem conhecia seu pai, sentiu que algo ficava no ar... Mas como o momento era de felicidade, retomou o conversa com seu par. E quis saber muitas coisas sobre sua terra natal, e muitas mais sobre o próprio João Ribeiro. Ficou surpresa quando ele disse que já estivera nos Estados Unidos, seis anos antes, para se aprofundar nos estudos de engenharia mecânica, e ficou maravilhada No entanto, como voar era bem mais fácil que dan- quando contou sobre os vários reides que realizara çar, a jovem acabou desistindo, e o convidou para nos três últimos anos pelo interior do Brasil. um passeio. Lá pelas tantas, a adolescente perguntou a João RiComo o terreno, que era a perder de vista, incluía beiro, e não sem um certo interesse, quais seriam um bosque, os dois caminharam a passos lentos em os seus próximos planos. direção às árvores, até que conseguiram ficar a sós. Mas se João Ribeiro demonstrou ser um zero à es- O piloto respondeu que tão logo concluísse o curquerda em matéria de foxtrote, no quesito conquis- so que fazia, pretendia se inscrever no de acrobacia ta ele confirmou a sua natural habilidade, a de um aérea, cuja escola ficava na Alemanha. ás. Daí que, Mary Mayer sorriu orgulhosa. Afinal, quem de aproveitando-se da mudez que o momento impu- suas amigas teria um namorado que fosse boninha, ele, de súbito, a enlaçou e a beijou com ardor. to, aviador, e audacioso? Nem namorado elas tinE podem ter certeza de que não houve nenhuma ham!... resistência de sua parte. E como João Ribeiro estivesse muito feliz, e um Como a ausência da rainha da festa já se fazia sen- tantinho alegre, graças às taças de champanhe que tir, o casal resolveu voltar aos convidados; mas não consumiu, acabou segredando ao ouvido da garota sem se darem os braços, o que deixou o colega de a sua mais audaciosa pretensão, aquela que o eleJoão Ribeiro impressionado, e aqueles três candi- varia ao patamar de herói nacional, e mundial! – o datos a pretendentes, com cara de patetas. primeiro reide transoceânico realizado por meio de um único avião, sem a garantia de amparo que E se a mãe de Mary Mayer ficou surpresa, mas fe- os navios prestavam até então, e que ligaria Gêliz, o Sr. Wordsworth sentiu-se ultrajado ao ver a nova, na Itália, à represa de Santo Amaro, em São Mesmo sendo o charleston a dança da moda, e a predileta da aniversariante, João Ribeiro nunca se arriscara a um único passo. Esse visível desconforto foi logo percebido por Mary Mayer que, por entre risos e toques insinuantes, ainda tentou ensinar ao desconcertado paulista um e outro passos.

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História Paulo, Brasil. A extrema coragem demonstrada por João Ribeiro deixava o coração da jovem palpitando de euforia. Tanto que ela nem pensou nos riscos e perigos que adviriam de uma empreitada dessa magnitude. Em seu mundo, riquíssimo e sonhador, Mary Mayer sequer supunha que outros já tinham tentado a travessia, e acabaram morrendo. Assim, e num lampejo de ideal, ela já se via ao lado de um herói mundialmente conhecido, frequentando festas e fotografando para os jornais. E nesse júbilo seguiu o casal noite adentro, trocando, por vezes, disfarçadas carícias. Ela só despertou desse sonho quando seu primo veio lembrar a João Ribeiro que já era hora de partirem.

que todos os passos que João Ribeiro daria teriam que ser no mais absoluto sigilo. Afinal, a glória internacional estava em jogo. Assim, para atravessar o oceano Atlântico, ele precisava de uma aeronave com determinadas especificações, e de muito dinheiro. Este empecilho foi afastado com a venda da sua parte da herança aos irmãos. Quanto ao outro, a tentativa frustrada de chegar ao Brasil com um hidroavião Savoia Marchetti, empreendida pelo conde Casagrande, e sua consequente devolução à fábrica, aliada à engenhosidade do piloto paulista, foram as peças que faltavam ao prosseguimento do projeto.

João Ribeiro recomprou esse monstro de madeira e lona, e que pesava mais de quatro toneladas, e o modificou de acordo com as dificuldades a serem vencidas – retirou tudo o que fosse desnecessário, No dia seguinte, todos os argumentos levantados incluindo o equipamento de rádio, pois também pelo Sr. Wordsworth foram infrutíferos. E como pesava; trocou os dois motores por outros mais poos ânimos já se acirravam, Mary Mayer deixava tentes; substituiu os dois botes gêmeos (scafi) por escapar, e não sem aumentar bastante a verdade, duas unidades de proa alta e de melhor hidrodinâque João Ribeiro a pediria em casamento tão logo mica; e o concluísse a conquista do oceano Atlântico. E para dar mais fôlego à sua versão, fez questão de apon- transformou em um grande tanque de combustível tar a destreza que alcançaria com o novo curso que voador, com dezesseis reservatórios (oito em cada faria na Alemanha, e de enaltecer os pontos que di- scafo), o que, segundo os seus cálculos, proporferenciariam a sua travessia das anteriores. cionariam a necessária autonomia para vencer a enorme distância que separava os dois continentes. O patriarca calou-se. Se sabia que sua filha não Por fim, rebatizou-o Jahú, em homenagem à sua apostava sem cacife, não ignorava que, nos moldes terra natal. pretendidos por João Ribeiro, tal façanha nunca seria concluída, pois as aeronaves não tinham auto- Nesse meio tempo, a tripulação já estava completa nomia para grandes distâncias, e, por isso, os países – o tenente Arthur Cunha seria o segundo piloto, que bancavam esses reides jamais se arriscariam a o capitão Newton Braga, o navegador, e o amigo tamanha loucura. Sendo assim, preferia apostar no Vasco Cinquini, o melhor dos mecânicos. tempo e na distância como os coveiros mais eficazes ao sepultamento desse arroubo juvenil. Com tudo pronto, João Ribeiro tornava público ao mundo o reide que idealizara. E todos os holofotes O tempo passava, a distância que separava os na- para ele se voltaram, incluindo os do pai de Mary morados era enorme, e permanecia... Mas a paixão Mayer, que quase enfartou. que os unia só fazia aumentar. E as cartas que trocavam – todas lidas às escondidas pelo patriarca – À medida que se aproximava a data anunciada para eram as provas mais sublimes. a decolagem, mais radiante revelava-se o semblante de Mary Mayer, e mais odiento se tornava seu pai. Essa persistência muito enraivecia o Sr. Wordswor- E por entre praguejares e vociferações – ditos, th. No entanto, como João Ribeiro nada dizia sempre, na clausura do seu escritório, para não baem suas cartas sobre a pretendida travessia, essa ter de frente com sua filha –, o milionário vislum“condicionante matrimonial” permanecia no lim- brava algo que resolveria de vez o problema do cabo, o que amenizava a sua cólera. samento. E quanto mais aprimorava a ideia, mais sinistro se tornava. A autoria da sabotagem? Ora, Esse silêncio tinha, sim, os seus motivos, uma vez a autoria!... O orgulho europeu, estampado na freRevue Cultive - Genève

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História nética competição pela supremacia aérea, vinha pensar, outra ideia veio reconfortá-lo... muito bem a calhar. E, concluía orgulhoso, que se deixasse a polêmica para os historiadores! Quando o Jahú alcançou a Praia, no arquipélago de Cabo Verde, João Ribeiro teve três desagradáveis O Jahú foi, então, transportado para Gênova. E em surpresas, uma em seguida da outra. A primeira 13 de outubro de 1926, decolava sob as ovações veio do seu segundo piloto. Cooptado pelo jornal dos italianos, para a primeira fase do reide, rumo carioca A Pátria, o tenente Cunha exigiu que João a Gibraltar. Ribeiro lhe entregasse o comando da aeronave e da tripulação. Seria ele muito bem recompensado por No entanto, com apenas cinco horas de voo, a tri- revelar à população, e ao mundo, o furo de que o pulação teve um sobressalto, pois os dois motores Jahú chegaria ao começaram a ratear perigosamente. Rio de Janeiro, mas sob o seu comando. A segunComo o dinheiro do Sr. Wordsworth já havia al- da foi a descoberta de que o responsável pela sacançado Gibraltar e garantido um informante, e botagem também tinha introduzido um pedaço de como as horas passaram muito além do previsto bronze no cárter do motor traseiro, como garantia para chegada do Jahú, o do serviço. E a terceira foi o recebimento de uma carta, assinada por Mary Mayer, em que a jovem pai de Mary Mayer recebia um telegrama, cujo tex- rompia o namoro, justificando uma nova paixão to levava a crer que o hidroavião caíra ao mar. por um advogado muito bem sucedido. E terminava desejando todo sucesso à aventura. George Mayer exultou! A sabotagem dera certo, e ele não mais precisava se preocupar com a des- É claro que a carta fora escrita a quatro mãos, senprezível ideia de ser sogro de um caipira metido a do que o falsário contratado pelo Sr. Wordsworth herói. também escrevera para Mary Mayer, fazendo-se passar por João Ribeiro. Dizia-se cansado de tanta A verdade dos fatos, porém, era bem outra. João infantilidade e terminava o relacionamento, pois Ribeiro foi forçado a amerissar em Dénia, no golfo encontrara uma mulher muito mais bela e madura, de Valência, de onde seguiu para Alicante, que não ideal para se constituir família. tinha sido prevista na rota original. Lá, foram detidos pelas autoridades espanholas, que deles nada João Ribeiro resolveu o primeiro inconveniente sabiam. A intervenção da diplomacia brasileira, desligando o amotinado e o enviando, “gentilcontudo, permitiu fossem soltos. De volta ao hi- mente”, para Lisboa. O segundo problema não pasdroavião, e sem terem condições de reparar os sis- sara de fogo-fátuo, e não impediu a continuação temas de alimentação dos motores, o Jahú tornou do reide, uma vez que o sabotador, talvez no afã a decolar rumo a Gibraltar, mas com o mecânico de bem servir, acabou exagerando no tamanho da Cinquini alimentando os motores manualmente. peça, o que fez com que ela permanecesse no fundo Chegados a Gibraltar, Cinquini e João Ribeiro do cárter, evitando maiores danos ao motor. A terprocederam a uma inspeção dos motores. E qual ceira surpresa, contudo, foi demais para o desteminão foi a surpresa quando constataram a presença do piloto... João Ribeiro perdia talvez o seu maior de uma borra abrasiva nos filtros de combustível, estímulo a que prosseguisse neste arriscadíssimo uma mistura de terra, areia e sabão caseiro! reide, o seu grande amor, e, por isso, deixou-se levar pelo desânimo. E como se isso não bastasse, a Ao constatar que estavam vivos, o informante en- prostração a que se entregou foi ainda potencialiviou um outro telegrama, relatando o que de fato zada por quatro acessos consecutivos de malária. tinha acontecido. Não obstante tudo por que passou, João Ribeiro readquiriu forças para prosseguir na viagem, seja O Sr. Wordsworth espumou, e surtou! E depois graças ao emocionado e auspicioso telegrama que de proferir outras tantas pragas e frases coléricas, recebeu de sua mãe, insistindo para que prossejurou que sua filha jamais se casaria com aquele guisse, seja pela chegada do tenente João Negrão, aventureiro. Mas como conseguiria o seu intento, aviador da Força Pública Paulista, o que permitiu se até o ato extremo fracassara? E depois de muito recomporem a tripulação. 82

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História E agora, anos depois de estancada a ferida, a carNão se poderia descrever o que sentiram João Ri- ta que acabava de receber rasgava de novo a sua beiro e seus três amigos quando alcançaram a en- carne, reacendendo todo esse rancor. Leu, com os seada norte de Fernando de Noronha, já em ter- olhos úmidos, que Mary Mayer casou sem amor, ritório brasileiro. O país não teve filhos, e que foi morta pelo marido, homem ciumento e violento. E como não aguentasse inteiro explodiu em hurras para homenageá-los, mais ser espicaçado pela própria consciência, o vele as recepções foram simplesmente apoteóticas, ho Wordsworth buscava na confissão um alento ao sobretudo nas demais etapas por onde o Jahú ame- seu remorso. E terminava pedindo perdão. rissou – Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, e, por fim, São Paulo, onde o reide foi concluído. As Diante desse golpe, e percebendo que sua vida festividades prolongaram-se por três meses, sendo poderia ter tomado outra direção, repleta de felique o comandante do Jahú recebeu mais de cem cidade, João Ribeiro sucumbiu à depressão, e foi medalhas de outro e platina, adornadas com pe- cerrando os olhos ao longo de uma semana. dras preciosas, além de dezenas de cartões de ouro e troféus, isso sem contar as inúmeras condecora- Enganam-se, porém, os que pensaram que João ções que recebeu dos países estrangeiros! Ribeiro nunca mais voaria. Ao reabrir os olhos, o herói contemplou Mary Mayer, que o esperava com Mas se o intrépido aviador conquistou a glória que aquele mesmo sorriso que tanto o cativara. tanto almejara, seu coração ainda sangraria por um longo tempo...

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o Brasil. Ela teria de enfrentar o oceano bravio, como também sua insegurança rumo ao desconhecido. Depois de uma viagem que durou 85 dias, finalmente, Leopoldina chegou ao Rio de Janeiro em novembro de 1817. Sua primeira impressão foi registrada em carta destinada a Maria Luisa, sua irmã mais velha: (...) Nem pena nem pincel podem descrever a primeira impressão que o paradisíaco Brasil causa a qualquer estrangeiro (...) — declaração de dona Leopoldina ao avistar o Rio de Janeiro.

DONA LEOPOLDINA Uma mulher extraordinária por Anapuena Havena

Para melhor compreensão, precisamos voltar um pouco na história:

Mas foi no Brasil que a jovem arquiduquesa encontrou o seu príncipe: sua mão foi dada em casamento a d. Pedro, príncipe herdeiro do trono português. E embora tenha sido este um casamento arranjado, Leopoldina apaixonou-se pelo futuro marido tão logo recebeu o retrato dele. O casamento aconteceu na Áustria, por procuração, em 1817.

Em 1808, o Brasil, que era colônia de Portugal, passou a ser centro do governo português. Isso aconteceu quando d. João, que governava Portugal na condição de príncipe regente, decidiu transferir sua corte para o Brasil; uma estratégia para livrar-se das tropas napoleônicas. O Rio de Janeiro, a capital da época, passou por rápida transformação com a instalação da corte: criação de museus, bibliotecas, faculdades, Banco do Brasil, academias, Imprensa Régia, universidades. Enfim, toda uma estrutura foi montada para que o Brasil pudesse ser o centro administrativo de Portugal. Em 1815, aconteceu uma nova mudança: o Brasil foi elevado a reino, passando a integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. E à medida que o tempo passava, d. João VI, já na condição de rei, demonstrava grande afinidade por seu novo país e nenhuma intenção de voltar a Portugal.

O passo seguinte seria encarar a longa viagem para

Mas os portugueses ansiavam pelo retorno de seu

Dona Leopoldina nasceu em Viena, em 1797. Filha do imperador Francisco I da Áustria, a arquiduquesa foi esposa de d. Pedro I e primeira imperatriz do Brasil. Recebeu uma educação primorosa na corte vienense; tinha inclinação à botânica e mineralogia, falava diversas línguas e entendia sobre assuntos políticos.

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As primeiras cartas escritas por d. Leopoldina em solo brasileiro demonstram o seu fascínio pelo Brasil e o intenso amor que nutriu pelo esposo. Contudo, pouco depois, suas cartas seriam marcadas por lágrimas e ressentimentos. Seu sonho de ter um casamento perfeito foi destruído pelo marido que ela tanto amou. Dom Pedro não escondia os inúmeros casos extraconjugais que mantinha, sendo este o motivo de grande sofrimento de dona Leopoldina. Porém, jamais ela deve ser lembrada apenas como uma esposa frustrada. Leopoldina teve atuação grandiosa e fundamental para a independência do Brasil.

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História rei e, então, em 1821, após a Revolução do Porto, d. João VI se viu obrigado a voltar, pois temia perder o trono. Ele partiu e deixou seu filho, d. Pedro, como regente no Brasil.

dezembro de 1826, o Brasil passaria por profunda comoção: a morte da querida imperatriz. Todo o Rio de Janeiro chorou a morte daquela que tanto amava os brasileiros, da bondosa mulher que adquiria dívidas para ajudar os carentes, da mulher Acontece que a permanência de d. Pedro no Brasil que passou por cima de toda humilhação moral causou grande descontentamento aos portugueses. por acreditar que tinha uma causa nobre a zelar, As Cortes Portuguesas exigiram também o retorno da mulher que sonhou em construir um país livre do príncipe. Dom Pedro até sentiu-se indeciso, mas e próspero. sua esposa - d. Leopoldina - envolvida com a causa política brasileira, estava decidida a defender os in- Ela, que tinha apenas 29 anos, faleceu dias após teresses dos brasileiros. Utilizando-se do pretexto sofrer um aborto. Novos estudos revelaram que a da gravidez, ela reprovou a ideia de embarcar para causa do aborto, como também de sua morte, foi Portugal e, assim, conseguiu persuadir o marido a uma grave infecção, desmentindo boatos surgidos ficar no Brasil. O dia em que d. Pedro declarou que na época. permaneceria no Brasil ficou conhecido como Dia do Fico, fato ocorrido em 09 de janeiro de 1822. As Cortes, contrariadas com a desobediência de d. Pedro, enviaram nova ordem exigindo o retorno imediato do príncipe. Porém, quando as determinações de Lisboa chegaram ao Rio de Janeiro, d. Pedro encontrava-se em São Paulo e d. Leopoldina governava em seu lugar. E foi após tomar conhecimento dessas ordens, e perceber as intenções de Portugal, que dona Leopoldina convocou, no dia 02 de setembro de 1822, uma sessão extraordinária do Conselho de Ministros. Ali, foi decidido que o Brasil se separaria de Portugal. Após a reunião, d. Leopoldina enviou uma carta ao marido, informando sobre o ocorrido e orientando-o a tornar o Brasil livre. “O pomo está maduro. colhei-o já, senão apodrece. (...) Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer.” — trecho da carta de Leopoldina.

Maria Leopoldina marcou a história do Brasil como a arquiteta da nossa independência. Uma personagem da nossa história que inspira bondade, determinação, comprometimento e coragem. A imperatriz residiu no Palácio de São Cristóvão, localizado na Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro. Neste palácio ela viveu os seus melhores momentos, como também suas maiores angústias.

Curiosamente, no dia 02 de setembro de 2018, D. Pedro recebeu a carta no dia 07 de setembro, quando completava 196 anos que d. Leopoldina quando passava pelo riacho Ipiranga, e foi exa- havia presidido a sessão que culminou na indetamente neste local que ele deu o grito da inde- pendência do Brasil, o palácio, sede do Museu Napendência. cional, sofreu um grande incêndio. Naquele dia, o país perdeu importante acervo científico e também O Brasil nascia como pátria independente e d. Leo- parte de sua história. poldina tornava-se a primeira imperatriz do Brasil. A cor amarela presente em nossa bandeira é em ------------------------homenagem à Casa de Habsburgo de dona Leopol- Anapuena Havena dina. Membro Internacional Cultive. Escritora, empresária e pesquisadora. Lamentavelmente, a imperatriz pouco viu o desabrochar da Nação que ajudou a fundar. Em Revue Cultive - Genève

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Viagem

Av a n i

DE VOLTA À CASA O voo estava marcado para às 15:45, com um atraso de quase meia hora. Bom mesmo seria poder usar das nossas asas e voarmos de volta ao Paraiso Nordestino, apreciando a natureza. Felizmente embarcamos. Ali entre as nuvens eu, em particular, me sentia as vezes anjo; (esqueci de perguntar a minha Nana se ela vivia essa mesma impressão). Também nem poderia. Ela já é um anjo. Num instante depois, tomada de novos pensamentos, via-me muito perto de capuchinhos de algodão com ânsia em tocá-los e experimentá-los, porque eram mesmo doces. Acordei ao chamando da minha Nana: - Mamãe! Você está sonhando. -

deslumbrante que os olhos podem ver: um mar azul, com todas as variações de cores azuis que a natureza caprichou e reservou para, nesse mar, viver, sem falar na sua transparência...tão cristalina dando a impressão (vale muito a pena dizer) que os peixinhos nadavam em grupos logicamente organizados.

Maceió... nome de origem indígena, banhada pelo Oceano Atlântico e Lagoa do Mundaú, de clima tropical quente, rica em beleza natural, com as suas belíssimas praias, com os seus coqueiros seculares fazendo movimentos dançantes com o acoitar dos ventos, chegando a nós, causando uma sensação de bem-estar indescritível. Com as suas barracas na orla, com música ao vivo, convite aos turistas, e as pessoas da cidade para um bom “papo”.

A minha filha Nana sempre muito presente, (companheira das viagens e de todos os meus momentos). De repente ela me pareceu insegura, o que chamou também à atenção da aeromoça que tão logo veio nos ver e muito gentilmente começou a conversar e a perguntar-lhe qual a sua preferência musical, ao que ela respondeu imediatamente cantarolando: - “mergulhar no azul piscina da Pajuçara...Maceió, minha Sereia”- A partir daí, passamos Maceió, reduto dos grandes escritores e poetas braa ouvir as melhores canções e interpretações do sileiros, a exemplo de Graciliano Ramos com o seu cantor em referência. romance “Vidas Secas” e Jorge de Lima com o seu poema “Anjo Daltônico”. O avião se prepara para o pouso. Coloco o meu cachecol de tricô vermelho bordô, (feito por mim), Conhecer Maceió, (não é abrir nenhuma caixa de peça indispensável nas minhas viagens de avião surpresa). Ela é um Cartão Postal de única e exporque nele há uma história que, posteriormente, clusiva beleza, com os seus monumentos, históripoderei até contar. cos, com mais de dez Museus, com muitas galerias de Arte, com Teatros, a exemplos do Deodoro e o - “Senhores passageiros estamos chegando em MaGustavo Leite sempre com grandes espetáculos, ceió”.shows e belas exposições de Arte dos grandes artistas da terra. Na chegada, aprecei dar mais uma olhada pela janela. A paisagem vista a essa altitude era a mais 86

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Viagem A Fundação Pierre Chalita guarda um acervo fantástico de obras de arte do próprio pintor. Na sua arte ”a sedução do movimento e a profusão de cores, presentes em seu mundo e no ventre das suas alegorias pictóricas”. Pierre Gabriel Najm Chalita, nasceu em Maceió, de origem libanesa. Suas obras são internacionalmente conhecidas. O Museu de Arte Brasileira, em Maceió, é mantida pela Fundação Pierre Chalita com variado acervo de objetos artísticos, com ênfase na arte nordestina, especialmente a alagoana, obras nacionalmente conhecidas.

de artesanato, levados às exposições e muito apreciados pelos turistas do Brasil e de outros países. Os Folguedos de Alagoas, são espetáculos de muitas cores numa fusão de Reinados, Pastoris, Bumba meu boi, Quadrilhas e outras mais manifestações festivas com a presença marcante de dançadores e cantores que, em falas e cantos traduzem os seus anseios. Os Pastoris, há algum tempo, eram realizados em frente das Igrejas e eram formados de dois grupos ou dois cordões que eram: o cordão azul e o cordão encarnado. Experiência por mim vivida na mais tenra infância. Enquanto escrevia, em muitos momentos, me dei o prazer de viajar no mundo das artes, das poesias, das belas histórias contadas pelos romancistas e poetas em referência, e de outros tantos tão célebres quanto estes citados. Avani Peixe Lemos.

A cultura de Maceió em termos de Artesanato é bem vasta e passada de pais para filhos. São homens, mulheres e as famílias no trabalho artesanal das rendas nos mais diversos estilos sobressaindo o redendê, vagonite e filé bordado. Bordados estes, originários da terra, vendidos em lojas, em feiras

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Viagem - Portugal habitate em manadas sendo guardados para não se estramalharem, pelos campinos, que são homens considerados valentes onde o medo está ausente só a cautela permanece, ou não fossem descendentes de Viriato conhecido rei das Astúrias, muito valoroso que contribuiu para o que hoje somos.

Laura Moura Nunes NÓS QUE AMAMOS RIBATEJO O Ribatejo é uma província de Portugal, sua bonita capital, Santarém nome pelo qual é hoje conhecida outrora, se chamava Scalabis, de batismo nomeado pelo povo Romano que assim a designou e sofreu várias ocupações ao longo dos tempos, era a antiga Lusitânia, península Ibérica vários povos a habitaram, Lusitanos, Mulçumanos, Gregos Romanos e tantos outros a.C. Hoje seus habitantes são chamados de Scalabitanos. Diante destes fatos históricos da atualidade Ribatejana e sua cidade principal encontra-se em franca expansão com valências em várias áreas.

Os campos férteis chamados de Lezírias são conhecidos por várias culturas de vinhedos, olivais, árvores frutíferas extensões do plantio do tomate e morangos entre outros cultivos. Dir-se-á que o solo Ribatejano foi abençoado por Deus. E falar do Ribatejo é pulsar o coração de amor pela terra, pelo campo, homens e mulheres nos afazeres de cada dia, ao sol ao vento, sujeitos a todas as intempéries da natureza, mas fortes sadios e sempre com o sorriso estampado no rosto não esquecendo as tradições folclóricas, suas danças a mais conhecida internacionalmente o Fandango, premiado em vários concursos, o seu orgulho forte de cabeça erguida, orgulho de seu nascimento. Povo hospitaleiro sabendo receber como ninguém, à sua mesa sempre há o lugar para mais um. O Ribatejo bastante vasto abrangendo vários concelhos, o rio uma mais valia para os campos com suas enchentes de inverno que fertilizam os solos, suas praias fluviais, no verão podem competir com as outras famosas, onde o desporto náutico é rei.

As touradas com suas lides apeadas, é a luta do homem com o touro tentando o seu domínio com galhardia num bailado a vergá-lo com seu capote com passos que nem sempre o homem sai vitorioso, mas digno de um espetáculo majestoso. Temos A parte antiga um autêntico museu, formado por os Grupos de Forcados, formado por jovens coramonumentos, Igrejas, casarios, fortes e castelos josos em uma disputa de amadores que se dedicam entre eles se distingue a antiga Fortaleza (Portas a uma arte exclusivamente portuguesa dispostos a do Sol) guarnição de defesa militar, suas muralhas morrer pelo companheiro, onde a união faz a forguardam espaços em forma de jardins, acervo Ro- ça, um por todos e todos por um, embora o medo mano vestígios da passagem desses povos na anti- se faça presente, mas sem a culpa, mostram sua valentia, sua força e coragem para abrilhantarem guidade. o espetáculo. O viajante atento pode desfrutar da beleza arquitetônica gótica de tempos idos. O seu majestoso rio O apego ao chão que os viu nascer, quando estão Tejo um dos maiores deste país. A zona agrícola longe, o coração aperta pelo que tiveram de deixar com campos verdejantes a perder de vista, salpi- sentem em seus corpos o sol o luar os fortes vencados aqui e ali por pastoreio de manadas de cava- tos de longos invernos, a saudade bate forte, aquela los, touros (boi bravo) que emprestam uma beleza seiva que alimenta seus corpos, suas raízes sempre inigualável. As touradas desposto centenário enrai- latentes, gritam ao vento e cantam: amo o meu País, zado na cultura portuguesa é vê-los calmos no seu sou Ribatejano com todo o meu ser. 88

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Viagem- Suíça

Anne Xavier de Souza

podem aproveitar de graça com a Montreux Riviera Card:

Professora de francês, jurista, apaixonada por fotografia e viagens.

TURISMO NA SUÍÇA É POSSÍVEL!

Chaplin’s World: um museu espetacular criado na casa onde o comediante viveu os últimos 25 anos da sua vida. A exposição é super interativa e vai Nesse novo mundo, nossos hábitos tiveram que se cativar o público de todas as idades. Não deixe de adaptar. Com o COVID rondando, planejar nos- conhecer a área do estúdio de Chaplin que se ensas férias não está tão simples quanto antes, vários contra no anexo da propriedade e nos faz entrar no critérios devem ser levados em consideração nesse universo do cinema e da obra do artista. tempo de pandemia. Mas para quem não abre mão de aproveitar um tempinho para viajar, o Cantão de Vaud quer estimular o turismo em sua região e, para isso, está oferecendo vários estímulos para os turistas que se hospedam em hotéis do cantão. Além de um voucher de CHF 100.- para quem passa ao menos 2 noites em um hotel, o cantão também oferece a Riviera Montreux Card a seus hóspedes que dá gratuidade a transporte público, entradas para museus, teleféricos, cruzeiro pelo Lago Léman e até entrada para o Aquaparc para alegrar a criançada.

Cruzeiro na Riviera: ahhh como esse lago é lindo! Você poderá embarcar em qualquer cais que faz parte do tour, assim como descer em um lugar escolhido para conhecer. Esse passeio é lindo e im-

Os atrativos da região para o seu bolso não acabam aí, os investidores da região em apoio aos estabelecimentos locais também lançaram uma plataforma em que podemos encontrar parceiros que dão 20 de desconto em seus produtos. Como exemplo, você pode reservar hotéis e restaurantes com 20% de desconto. Encontre os parceiros no site do WelcomeQoqa.

perdível. Castelo de Chillon- já que estamos fazenEntão por que não passar um final de semana na do o tour no cruzeiro, por que não parar no Castelo de Chillon? A Fortaleza é impressionante e guarda região da Riviera Vaudoise? muitas surpresas lá dentro que fazem valer a pena Veja as sugestões de atrações que você e sua família a visita. Recomendo (mas não é obrigatório) fazer a visita com o audioguide, custa 7 francos por pesRevue Cultive - Genève

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Viagem- Suíça soa, mas não se preocupe, você poderá pagar com o cartão de CHF 100. - que o cantão te ofereceu na sua chegada. O audioguide te orienta na visita e você não perde tanto tempo procurando os lugares mais interessantes a visitar. O Castelo oferece também ateliers e visitas guiadas. Para saber dos horários e condições, ver no site.

Les pleiades: partindo da Gare de Vevey, o Trem das Estrelas- teleférico à crémaillère- te leva a um passeio na natureza com vista magnífica. A mais de 1000 metros, você poderá aproveitar para conhecer o famoso percurso didático Astropleiades sobre os planetas e as estrelas. No local tem um pequeno restaurante de montanha e cadeiras para relaxar e aproveitar da bela vista do lago e da cidade.

Aquaparc: toda a família vai curtir os dias quentes nesse parque aquático que faz a alegria dos pequenos e grandes com sua piscina de ondas, barco pirata e tobogãs. A diversão é garantida. Além dessas sugestões, muitas outras atrações estão disponíveis com a Riviera Montreux Card para os turistas que visitam o cantão de Vaud, não perca essa oportunidade para visitar a região economizando. Aproveite e bom passeio! 90

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Viajando pela Suíça

VISITA à CATEDRAL SAINT PIERRE EM GENEBRA por Ester Diamina

Catedral Saint Pierre

(São Pedro) em Genebra na Suiça, situada no centro histórico de Genebra, data de 1535 e é a principal igreja protestante da cidade. A Catedral foi construída no estilo romântico - gótico neoclássico. Sua consturção teve início no ano de 1150 - 1250 sofrendo várias reformas. E é um dos principais monumentos históricos de Genebra. Visite as torres da catedral subindo aproximadamente 157 degraus de escada. Você terá uma vista deslumbrante e panorâmica de 360 graus de toda a Genebra. O valor para subir a torre é de 5fcs .

Horário de visita 10as17hrs Culto aos domingos as 10hrs No coração de Genebra ...uma visita imperdível Revue Cultive - Genève

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Viagem-Suíça

Genebra A Bela

O Antigo e o novo se contrastam quando se encontram. A necessidade de se construir imóveis de habitação é evidente, pois existe falta de imóveis locativos para a população. Essa falta provoca o aumento dos preços para locação.

Genebra tem a beleza cuidada. Apesar de ser uma cidade que guarda muita tradição e observamos essa tradição nas suas construções antigas, o moderno aparece gentilmente, nas estações de trem, nas pontes, nos edifícios modernos, mesmo que obedeçam a uma determinada altura.

Apesar da carência de imóveis, existe um certo impedimento para se construir, isso devido a população não concordar com a expansão exacerbada de cidade. Antes de se aprovar um projeto de grandes proporções é preciso que seja votado certas regras pela população e a população antiga não está satisfeito com tantas mudanças. Genebra já cresceu muito. Os condomínios (dife92

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rente do Brasil) espalham-se ao redor do centro da cidade. E essa é a questão que mais preocupa a população, não existe uma vontade popular para se construir espigões. Não se pode construir na campanha, que por lei são áreas destinadas à agricultura. Até quando essas leis serão mantidas, não sabemos. A vinda de imigrantes aumenta anualmente e com isso a necessidade de moradia. Hoje Genebra ainda é circundada por uma campanha bela, florida e bem cuidada, caminhos projetados para passeios a pé e à bicicleta em qualquer época do ano, seja verão, seja inverno. Esses passeios agradáveis nos colocam em contato com uma natureza bem cuidada e preservada, são reservas de reprodução de animais e florestais no meio das plantações que convidam a população a fazer longos passeios à beira de riachos propositalmente protegidos para procriação de aves,

peixes e batráquios e proliferação de plantas aquáticas. Passear nesses ambientes nos traz um prazer indescritível. Tanto pela beleza das plantas e flores

selvagens, quantos pelo som dos animais nativos. Em cada estação presenciamos uma beleza diferente, mas sempre extasiante. Talvez o frio nos faça mais observador e mais atentos à chegada do sol para aproveitar do calor. O que não acontece num país tropical como o Brasil, porque nos acostumamos com o tempo quente, com o mar a qualquer época do ano. Em Genebra o período de calor nos abre um leque de possibilidades tanto partimos para aproveitar da natureza nas montanhas, nos parques verdejantes e floridos, dos rios e dos lagos. Revue Cultive - Genève

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Genebra é banhada pelo maior lago da Europa, o lago Léman, um lago maravilhoso com águas puras. Na primavera a paisagem do lago começa a se colorir com os veleiros e a sua volta, onde foram urbanizados locais para banho, as chamadas praias. Os banhistas começam a se expor ao sol. Essas praias atiram tanto população de Genebra como da França vizinha, é claro tudo é projeto com bom gosto, limpeza e beleza.

A maioria das praias são públicas, outras são pagas, uma pequena taxa de manutenção para os “estrangeiros” (estrangeiros nesse caso são pessoas que não moram na comuna (cidade recebe o nome de comuna), os moradores da comuna, geralmente têm entrada gratuita ou desconto. Algumas “praias”, são parques gramados, arborizados com lixeiras espalhadas, guardião, churrasqueiras à disposição e, é claro, o corpo de bombeiro que fica atento aos incêndios, há também placas indicando o que pode e o que não pode fazer e estacionamento. Nesse período que corresponde as grandes férias escolares, as praias ficam superlotadas e o cheiro de churrasco invade o ar, o lago torna-se colorido por causa dos spis dos barcos à vela. E torna transforma o visual num lindo quadro romântico e alegre.

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MUSEU SUÍÇO CHARLES’S WORLD O Museu Charles Chaplin fica em Vevey, uma cidadezinha na beira do Lác Léman próxima à Montreux. O Museu do Chaplin fica numa colina, na casa onde Charles Chaplin viveu uma belíssima propriedade. Um imóvel moderno foi construído no parque logo A visita começa com um breve filme com cenas de ao lado da casa que guarda intacta o mobiliário e aluguns filmes do Chales Chaplin. objetos particulares. No total são 1850m2 de exibições completas e experiências interativas. A primeira parte da visita começa no imóvel de arquitetura moderna e apresenta a obra e a vida profissional de Charlie Chaplin. Encontra-se nessa primeira etapa da visita, peças de cera que representam personagens dos seus filmes, salas de projeção, reprodução de cenários, galeria de fotos. O museu propõe uma visita interativa e maravilhosa dentro do mundo do cinema de Charles Chaplin.

O Museu Chaplin foi inugurado em abril de 2016. É um lugar onde se mistura entretenimento e cultura, filmes e personagens, experiências sensoriais e lúdicas com lições para toda vida. Você vivencia a vida de Chaplin junto às estrelas que devidiram com ele a cena do cinema. Um experiânica inesquecível a não perder.

Em seguida, percorremos vários cenários criados para interagirmos com os principais personagens das obras cinematográficas de Charlie Chaplin.

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Viagem -Suíça cena de filme de Charplin com personagens feitos de Cera

personagens de cera

A segunda parte do museu é a sua residência dedicada à vida particular do artista, contando detalhadamente sua rotina e suas excentricidades. O visitar poderá penetrar no cotidiano de Charles Chaplin entrar nos cômodos da casa, observar objetos pessoais e conhecer as principais polêmicas que rodearam Charlie Chaplin.

Sala de espelhos projetando imagens infinitamente De qualquer lugar da Suíça o visitante pode pode chegar ao Museu Chaplin de trem, neste caso, pegue um trem até Vevey e depois o ônibus de número 212 até a parada “Chaplin” ou de carro e deixe o carro no parkingo ao lado do museu. Museu Charles Chaplin: Route de Fenil, 2 – 1804 Corsier-sur-Vevey

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A HISTÓRIA DE UM SONHO A ideia de um grande museu dedicado a Charlie Chaplin e sua obra surgiu do encontro em 2000 entre o arquiteto suíço Philippe Meylan e o museógrafo de Quebec, apaixonado por cinema e Chaplin, Yves Durand. Um coletivo de empresários e artistas, atores regionais, equipes de arquitetos, engenheiros e designers, reunidos em torno da Fundação do Museu Charlie Chaplin, trabalharam na concepção do projeto. A nível das autoridades locais, em março de 2003, os conselhos municipais dos quatro municípios de Corsier, Chardonne, Corseaux e Jongny aceitaram amplamente a garantia bancária para este projeto. A Conferência de Curadores montou um grupo de trabalho que possibilitou o apoio de todo o distrito neste processo. Estudo de mercado e viabilidade, renovação das instalações, conceito cenográfico. Chaplin’s World é a culminancia de dez anos de estudos, consultas e diálogo com as autoridades suíças e partes interessadas. Este projeto inédito conseguiu unir os interesses de parceiros bancários e institucionais, como o cantão de Vaud, autoridades municipais, organizações turísticas e culturais e empresas da Riviera Vaudoise. UM PROJETO_COM BASE SÓLIDA Isso graças ao apoio da Fondation du Musée Chaplin, da Association Chaplin (herdeiros legais do artista), Roy Export SAS (dono dos filmes Chaplin filmados a partir de 1918) e Bubbles Incorporated SA (dona dos direitos relativos ao nome e à imagem Chaplin), do Chaplin Museum Development e da Nestlé Suíça, parceira no desenvolvimento do projeto, que Chaplin’s World se firmou como o projeto carro-chefe da vida cultural, turística e econômica de Vaud. O projecto contou ainda com o apoio do Cantão de Vaud, através da concessão de um crédito de apoio ao apoio ao desenvolvimento económico no valor de 10 milhões de francos suíços (8,2 milhões de euros), dos quais dez municípios vizinhos aderiram ao museu. garantias. Seu compromisso demonstra a importância econômica, cultural e turística do projeto.

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Educação por um modelo excludente, com privilégios para poucos, enquanto a maioria de povos da terra são alijados e jogados à própria sorte para sua formação educacional. Não deixemos que os sonhos de crianças sejam violados, pois elas serão o futuro, se existirem para a humanidade. Libertem os sonhos! Tinha feito um pedido a Deus que quando chegasse o ano 2000 pudesse escrever um artigo falando da terra onde vivemos, e chegamos ao ano 2020 e o mundo parou, mas os velhos hábitos ainda relutam a se manter nas pessoas, precisamos nos resignificar, em nossas relações, nossos espaços e a compreensão com o outro diferente, pois, conviver com as diferenças é um desafio que precisa ser exercitado.

por DAUÁ PURI

RECADO AO BRASIL

O ser humano precisa retornar aos conhecimentos dos ancestrais, com as plantas que curam, a cantar, contar histórias, celebrar a vida com atitudes de amor e solidariedade. Cultivar a doçura, a terra plantando árvores, pois lutamos por ar para respirar e água para o corpo vivo.

Nos textos que transcrevo dessa natureza, posso falar das árvores, animais, pedras, água, terra e Quando criança vindo do interior da cidade de ar. As histórias acontecem naturalmente, fico feliz Paraíba do Sul no Estado do quando as crianças relaxam e Rio de Janeiro, cheguei ao Rio viajam nas histórias. aos 8 anos de idade e nos dias iniciais da escola a Presidente O ambiente de criação Gronchi, a professora leu meu artística nome na lista de presença: Dauá! Respondi: presente. A Proponho confecção de turma riu e me perguntou: que instrumentos com bambu, nome é esse? Respondi: é um uma folha de árvore, uma nome indígena. Disseram: por pintura com urucum ou jeque você não troca? Respondi: nipapo, onde todos possam esse é meu nome. Ali, naquele criar e entrar nas histórias momento sofri meu segundo ou oficinas. No literário, buling. O respeito ao direito trazemos nossos animais de sua identidade originaria de nativos, a onça, o jacaré, o Povo Puri ou de outros povos gavião, o sabiá, o sapinho indígenas que ainda não são que conta histórias, ambienreconhecidos em nessa societando de acordo com nossas dade. Negar nossa origem às raízes indígenas do Sudeste. crianças, pela imposição de Com a argila podemos fazer uma cultura que não é a nossa, colocou os povos bonecos pintar o corpo, fazer painéis ou quadros. indígenas na invisibilidade. Com bambu podemos fazer viola, apito, tambores, reco-reco. Com caixetas de frutas podemos fazer Estudei, hoje sou escritor, educador, poeta, múuma bateria. Explorando as sonoridades de cada sico e ativista da libertação das infâncias negadas som percutido do próprio material. Até da casca 98

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Educação do abacate seco de tira som. Com as cantigas podemos saldar a natureza, as cores e as pessoas. Fazer a fogueira de cura, dançar em círculo nos eleva a dimensões outras de alegria e prazer. Dessa forma saudamos nossos ancestrais, nossas raízes fincadas na terra e a ela louvamos por nossa vida. Assim a arte indígena se propaga como um louva Deus pelos cantos de nossa gente. Desenvolver a sensibilização para melhor convívio entre as pessoas, a observação das manifestações dos ventos das nuvens, como se formam, ver o céu e as estrelas e não esquecermos que somos parte desse todo. Deixo uma poesia em língua Puri:

Oera miti miré chimam /hoje olhos estrada opeh petahra poteh sàna / sol lua luz caminho ah, dieh,churi kemum /eu voce estrela andar hakorrema,mlema omhim, aphon /homem mulher arco e flexa masche maki metlon imi /comer milho força corpo miligape montay mnhama cadando /guerra floresta agua doente ndond miri ucho inhan /cura olho terra mãe nà thamathi oera /bem vivo amanhã dia 18/03/2017 – Viçosa Ter mais tempo para ser, do que ter bens materiais. Nosso povo Puri traz o signo da liberdade, nascemos livres e lutaremos sempre por nossa independência. Somos da floresta da Mata Atlântica, do Cerrado, somos pedra que fala, e rolando pelos rios e cachoeiras vamos nos moldando ao hoje, ao agora no bem viver!

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Educação

Valéria Cristina de Souza Pinheiro

ENSINAR NA PANDEMIA De menina tagarela, sonhadora, que dava aula para suas bonecas, à mulher, professora, com vinte e sete anos de sala de aula, acreditando sempre, que a Educação é capaz de mudar a todos que conseguir atingir. Quando iniciamos cada ano letivo, começamos de forma lenta, conhecendo os perfis das nossas turmas, observando, nos adaptando. Em meados de março, estamos a todo vapor, conteúdos em ritmo normal, projetos em desenvolvimento, aprendizagens acontecendo, avaliações iniciando. E nesse ano, o corona vírus apareceu, a pandemia chegou e tudo mudou. Todos de quarentena. Os dias, esquisitos. O medo de morrer, presente. A ansiedade, borbulhante. A leitura, companheira. A angústia, atormentadora. A Ciência como cura das doenças, a certeza. A fé, forte. A esperança de que tudo irá passar, uma constante.

Será que meu aluno está assistindo as aulas? Será que estou sendo clara? Será que os conteúdos estão sendo compreendidos? Será que as famílias estão ajudando nas atividades? Essas perguntas estão constantemente em nossos pensamentos e nesse momento, acredito não ser possível respondê-las. As dúvidas sobre qual é o melhor caminho a seguir sempre nos cercarão, nos momentos presenciais ou distantes, e servem de incentivo para que busquemos, sempre, por uma Educação de melhor qualidade. A saudade da Escola e dos nossos Alunos é imensa. As trocas de experiências, o diálogo, a ajuda de carteira em carteira, o conhecimento científico trabalhado pelo professor em sala de aula são fundamentais ao desenvolvimento e à aprendizagem, são insubstituíveis ao processo educacional. As dores nas pernas, a rouquidão que ocorria frequentemente, o cansaço da intensa jornada, hoje, nos faz tanta falta. Porém, tivemos que aprender que “professorar” nesse momento de isolamento é estar disposto a partilhar conhecimentos de maneira criativa e significativa e tentar fazer com que o conteúdo chegue às casas, aos alunos e às famílias. Toda mudança é difícil, mas aos poucos vai acontecendo, mesmo estando longe, querendo estar perto. E os sonhos nessa Pandemia?

Sempre nos rodeiam e nos fazem amantes do saber. Repentinamente nos vimos em casa, longe dos São eles que nos movem ao caminho da coerência, nossos alunos e da nossa rotina escolar. Os estudos sensatez, da vontade de viver e fazer. para esse novo presente se fizeram necessários e intensos. Muitas lives e muita leitura sobre as tecnologias educacionais foram acontecendo e, aos poucos, fomos absorvendo. Devagarinho, a adaptação às novas plataformas que nos foram impostas foi acontecendo e o novo foi sendo incorporado. Os desafios ainda estão presentes em cada aula online planejada, mas se tornaram mais leves e claros. Aprendemos, reinventamos nossas metodologias e práticas, nos tornamos vozes distantes, mas, presentes. Ser professor nessa Pandemia evidenciou o que já sabíamos: só está envolvido com a aprendizagem significativa, aquele que está disposto a se entregar ao novo. Aquele que anseia aprender e aquele que faz acontecer. Aquele que cria condições agradáveis ao aprendizado e aquele que compartilha conhecimento. 100

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Educação Durante os 25 anos lecionando em escolas públicas fui progredindo e inovando, buscando me aproximar da realidade dos alunos, saindo das aulas puramente técnica, logo no início fui muito tradicional, ministrava aula de maneira arbitrária, focando nos erros e com o intuito de punir, eu era fruto de uma educação muito acadêmica e muito formal. Passei quatro anos em Garanhuns, Pernambuco, foi lá que fui apresentada às ideias de Paulo Freire, afinal, sendo um legítimo pernambucano, é muito querido e respeitado por seus conterrâneos. No início da minha carreira profissional fui trabalhar em Jucati, cidade próxima à Garanhuns, no distrito Povoado Neves, com uma população total em torno de 16.000 habitantes, com a agricultura sendo a principal renda dos moradores do lugar, com o plantio de feijão, mandioca, etc. As casas de farinha geravam renda naquela época, muitas crianças trabalhavam lá, nesse período não havia uma legislação direcionada ao trabalho infantil. Durante uma aula, onde eu explicava as normas cultas da Língua portuguesa, quando uma criança me chamou e pediu para não copiar a matéria pois estava com as mãos feridas de tanto descascar mandioca e quando olhei para as suas mãos fiquei pasma com suas feridas, suas chagas imensas, vermelhas e inchadas. E pensei: Meus Deus! Que horror, uma criança, fazendo um trabalho de adultos, Introdução fitei longamente para ela, tão magruinha para seus A Educação Popular visa à formação de sujeitos 12 anos, teria sido criança algum dia? Quanta dor com conhecimento e consciência cidadã e a orga- em seu olhar! Nunca esqueci do seu olhar. E a parnização do trabalho político para afirmação do su- tir deste choque, saí das aulas técnicas e me preojeito.“ A conscientização é uma das fundamentais cupei em trabalhar com a conscientização deles tarefas de uma educação realmente libertadora e para o trabalho árduo que exerciam, apesar de enpor isso respeitadora do homem como pessoa” (FREIRE, 1996).

Gesilane Domingos de Sousa

A CULTURA POPULAR PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES

Iniciei a trabalhar com a educação popular quando comecei a observar que o trabalho do educador está além do que é exposto em sala, mas isso não ocorreu de um dia para o outro, foi através da prática, do fazer pedagógico, com erros e acertos, e aos poucos percebendo sobre a real importância de uma edu- contrar resistência deles, pois diziam que precisacação voltada para o povo, e, é claro, baseada nas vam daquele dinheiro para ajudar a família. A parideias de Paulo Freire, numa educação libertadora. tir daquele dia passei a conduzir a aula utilizando as ideias de Paulo Freire, naquele dia aprendi sobre Revue Cultive - Genève

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Educação a importância de ser dono das suas ideias, pois ao se apoderar do conhecimento saberia se apresentar de maneira segura, sabedor de seus direitos, saberia argumentar e articular em qualquer lugar, independente da sua profissão saberia exercer o seu papel de cidadão conhecedor de seus direitos.

educação voltada para o povo. Em 1998 passei num concurso público estadual e fui morar no meu estado de origem, no Ceará, na cidade de Barbalha, já estava mais madura, mais informada sobre a educação popular, mais confiante, pois sempre acreditei numa educação libertadora. Em minhas vivências como educação guardei três falas de alunos que me fizeram ter a certeza de que estava seguindo no caminho certo sobre a ideia da conscientização do ser, pautada em Paulo Freire. Certo dia uma aluna me falou que só estava estudando por que a sua avó queria que ela aprendesse a escrever seu próprio nome, mas ela tinha percebido que para ser diferente da vida que levava precisava aprender muito mais, pois sem a educação não teria um futuro melhor. Achei essa sua reflexão excelente e comecei a falar sobre a importância dos estudos e dos direitos constitucionais dos cidadãos brasileiros de aprender e ter acesso ao conhecimento. Sempre utilizei em sala de aula assuntos voltados às questões de políticas públicas, com leituras críticas e do cotidiano deles, os problemas sociais, desemprego, discriminações, desigualdades, etc. Tivemos aulas práticas, andamos pela cidade, em favelas, comparando as realidades e suas diferenças discriminatórias. Estudaram os livros O Cortiço e Casa de Pensão de Aluísio Azevedo, como também o livro O Quinze de Raquel de Queiroz.

Comecei um trabalho muito relevante utilizando trechos da Constituição, enviei um projeto para Brasília e recebi uma caixa cheia de Constituições, foi uma maravilha pois tínhamos muito material para ser discutido em sala, trabalhei com muitos artigos, inclusive levei alguns palestrantes para falar sobre diversos direitos do cidadão, da mulher, do idoso, sobre o processo eleitoral. Foi gratificante ver o resultado ver no resultado deste trabalho, alguns alunos diziam que já estavam utilizando na prática, citando exemplos que usam como base seus direitos constitucionais, percebiam que as pessoas demonstravam mais respeito por eles, isso me incentivava a continuar. Fui assim me equilibrando entre as regras gramaticais e os estudos sobre a cidadania, políticas públicas, educação libertadora e a capacidade de transformação através do conhecimento. Além da constituição, levava jornais e revistas, debatíamos sobre política, assuntos polêmicos e de lazer, para diversificar fazíamos também gincanas, assistíamos filmes e nos divertíamos aprendendo.

E, mesmo fazendo um trabalho bem dinâmico, ainda me deparava com surpresas, um dia uma aluna me surpreendeu, na aula de Literatura brasileira, quando estávamos estudando uma poesia do Patativa de Assaré, recebi uma crítica de uma aluna que me falou assim, de maneira irônica: Por Já em outro momento, um aluno se queixou das au- que uma professora de Português gostava tanto de las e disse que não se interessava em aprender, pois um analfabeto que escrevia e falava errado. Ah! vivia na roça e do jeito dos seus pais, não deixa- Por um momento fiquei triste, paralisada e muda, ria aquela vida. Pude perceber a vergonha no seu e com respeito à sua opinião expliquei a ela e aos rosto desolado e triste. Neste dia conversei sobre outros alunos que aquele querido poeta desconhe102

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Educação Como integrantes desta sociedade é dever de todos criarem meios para que se favoreçam uma educação que possibilite aos seus alunos progridir através de seus esforços. Citando FREIRE (1985 p.38), “O destino do homem deve ser criar e transformar o mundo, sendo sujeito de sua ação. ” Essa mudança acontecerá, com uma prática e a certeza desta transformação, enfatizando o pensamento de que sem a participação e o envolvimento de um povo cia as regras gramaticais, mas era possuidor de uma nada será adquirido de maneira que favoreça a togrande sabedoria, inclusive já tinha escrito muitos dos. livros, sendo respeitado por muitas pessoas e estudado em várias universidades. Qual foi o resultado disso? Levei para sala de aula a história sobre as obras de vida do Patativa de Assaré, fizemos um sarau de suas poesias, como também, organizei uma excursão à Assaré para que os alunos pudessem conhecê-lo pessoalmente, fomos carinhosamente recebidos em sua casa, guardo essas lembranças com carinho.

Outras atividades foram feitas objetivando fazer um trabalho pedagógico com características da cultura popular, dos direitos do cidadão, das reflexões acerca da sua própria construção, e o papel como leitor facilitasse a sua integração com o meio no qual estavam inseridos. Com isso transformando vidas, sua vida e de outros, em progresso, se percebendo, se reconstruindo, tudo isso a partir da educação e da capacidade de reflexão e se agregando ao social. A escola tem esse papel, sendo um espaço de aprendizagem, que ao educar, de repente forma cidadão, alguém buscador de ideias, com interesse na cultura, no coletivo e na sua socialização. Uma escola que valoriza a cultura popular, o saber de um povo, seus costumes e ditos populares, será guardiã da cultura da nação e da sabedoria popular.

Agora sou uma professora aposentada, com boas lembranças, e ainda acreditando na educação como prática de libertação, eterna fã do educador Paulo Freire, admiradora do poeta Patativa, voltei aos bancos escolares, sou uma eterna estudante, fiz mestrado em Políticas Públicas, cada vez ciente de minhas afirmativas sobre o cuidado com aqueles que são injustiçados, e que precisam de apoio, contribui com isso através da educação, aprimorei minhas convicções através dos estudos sobre a política brasileira, sempre militando a favor dos direitos do trabalhador, indo para rua para reivindicá-los. Além dos cuidados que tive com a valorização do intelectual do indivíduo, serei também uma cuidadora da psique do ser humano, estou em processo de aprendizagem, fazendo faculdade em psicologia, formação em psicanálise, hipnoterapia e uma formação em saúde mental. Agradeço a todos que participaram e participam desta minha caminha pelo saber e pelo sentir.

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Educação

G R U P O FOLCLÓRICO CIRANDA DOS PEQUIS

presentantes do folclore e da música no município. O lugar escolhido foi o bairro Jardim dos Pequis, Um conjunto habitacional, cuja população apresenta perfil de público alvo à assistência social, área de extrema vulnerabilidade, território de grandes desafios de subsistências campo fértil onde a falta quase tudo, mas sobra talento, sim, talento, pois a falta faz com que o indivíduo se reinvente cotidianamente. Estandarte do Grupo Nesse cenário de faltas e talentos surgiu a possibilidade de se criar um grupo de dança folclórica, demanda advinda da Prefeitura Municipal de

“...Oh, Esse coqueiro que dá coco Onde eu amarro a minha rede Nas noites claras de luar Brasil, prá mim, Brasil!!...” (Aquarela do Brasil Ary Barroso) No Brasil, entre as montanhas de Minas Gerais, no município de Sete Lagoas, foi criado o Grupo Folclórico Ciranda dos Pequis no ano 2015, através das veias criativas da analista socioambiental e arte terapeuta Waldorf Cláudia Leocádio juntamente com Paulinho do Boi e o Mestre Saúva, todos reSete Lagoas-MG, objetivou o desenvolvimento de trabalho social e fortalecimento de vínculos. Assim, após processo licitatório, firmou-se o contrato entre a Prefeitura de Sete Lagoas e a SOLARIS Consultoria Socioambiental, cuja diretora é Cláudia Leocádio. Contrato assinado, desafio firmado, fortalecer a convivência e mobilização social através do resgate das cirandas, das cantigas de roda e do folclore. Tudo isso em meio a uma comunidade que aprecia o funk, vale ressaltar. Iniciamos nossas atividades no auditório do CEU (Centro de Esportes Unificados) das Artes. Sempre digo que as portas do “CÉU” se abriram para nós, graças ao apoio de Edson Abreu, coordenador do espaço 104

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Educação cultural. Os cirandeiros recebem aulas de prepara- o resgate das cantigas de roda tocaram a alma dos ção corporal, expressões folclóricas, coreografia, participantes. Em meio à era digital, foi acesa uma percussão, dança e educação ambiental. lanterna lúdica, um toque na sensibilidade. O Começo de tudo Assim, nesse contexto, foi iniciada uma tarefa de ressignificar vidas pelas vias da arte, do folclore e da alegria. Deu certo! Assim, o ritmo, o embalo e a melodia da cultura popular brasileira tomaram formas e se manifestaram através das danças

folclóricas na roda da ciranda. É o do Brasil apresentado na pontas dos pés - através da leveza, da criatividade harmoniosa de crianças, adolescentes e idosos de um território cuja marca registrada do cotidiano é a falta.

Em 2017 encerrou-se o contrato com a Prefeitura Municipal de Sete Lagoas, mesmo assim, Cláudia Leocádio deu continuidade às atividades e a falta de recursos financeiros não foi empecilho. O projeto contou com a ajuda de alguns colaboradores, garantiu transportes para as apresentações, lanche e figurino. O Grupo Folclórico Ciranda dos Pequis soma em seu portfólio 100 apresentações, levando por onde passa o resgate da cultura brasileira e a defesa do meio ambiente através das danças. A ideia de agregar os valores culturais do Brasil e despertar a noção de pertencimento cultural junto

aos participantes foi a trajetória percorrida vencendo as barreiras da resistência. Atualmente os cirandeiros dançam as regiões brasileiras através do folclore. É um verdadeiro espetáculo que contempla o Carimbó, o Forró, o Vanerão, a Milonga, o Samba, as Cantigas de Roda. Foram introduzidas Essa ciranda não é só minha ela é de todos nós. Foi as Eco danças - sim Eco danças. Somos agentes amassim que se deu início ao grande trabalho que hoje bientais, através das danças folclóricas levamos o é reconhecido em toda a região. A criatividade e legado da consciência ambiental. Revue Cultive - Genève

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Educação dar!!! “... O trem de ferro quando sai de Pernambuco, vai fazendo fuco-fuco até chegar no Ceará...” “...Tá caindo fulô, tá caindo fulô, tá caindo fulô. Lá no céu cá na terra, ê tá caindo fulô...”

A arte do folclore brasileiro na periferia de Minas Gerais Rumo ao novo desafio, nossa meta atual é a criação do Instituto Cirandar, já em fase de legalização, ação essa que irá favorecer a ampliação das ações junto à comunidade. A ideia é implantar oficinas de arte sustentável, oficinas de capacitação para preparar os adolescentes para o mercado de trabalho. Oficina de Maria para Maria, com o objetivo de incluir as mulheres da comunidade na roda da ciranda.

“Eu vou com minha lanterna E ela comigo vai No céu brilham estrelas Na terra brilhamos nós” Rudolf Steiner

Neste ano de 2020, em meio ao distanciamento social, ainda assim estamos em fase de planejamento. Cláudia Leocádio informa que o próximo festival do Grupo Folclórico Ciranda dos Pequis será a Carta da Terra, em homenagem a Agenda 21 e afirma que o Festival a Carta da Terra, serão enviadas através da dança folclórica, de norte a sul do Brasil, as boas notícias de amor e cuidado com Brasil e com o planeta. E você ... Vem, vem conosco ciran106

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Nossos contatos Telefone (55) 31 9 9909.3324 E-mail claudiasolarisconsultoria@gmail.com Instagram - @cirandadospequis


Educação

UMA GRANDE IDEIA, UM GRANDE PROJETO por Fátima Lemos

patronos e lendo trabalhos de sua lavra. Muito talento, seriedade e amadurecimento precoce.” Diante dos exemplos de vários movimentos literários do Ceará, desde os Oiteiros, 1813; a Padaria Espiritual, 1892; a Academia Cearense de Letras, fundada em 1894, dentre outros grupos ao longo dos últimos dois séculos, está a Academia Maria Ester de Leitura e Escrita a escrever na história da literatura cearense, neste novo século, desafiando outros interesses do mundo tecnológico, da sociedade pós-moderna e encontrando espaço para uma grande lição de vida, de amor, de respeito e principalmente a valorização da nossa cultura.

Na cronologia da literatura cearense podemos destacar a Academia Maria Ester de Leitura e Escrita – AME – movimento literário fundado com o obMuitos jovens que passaram por essa dinâmica jetivo de contemplar os talentos dos adolescentes e Academia se somarão em um futuro próximo aos jovens. grandes nomes da literatura cearense e brasileira. Salve a Academia Maria Ester de Leitura e Escrita! Acompanhamos esses jovens estudantes na caminSalve a Educação! hada desse projeto, influenciando outros a abraçarem o livro, a leitura, a construírem um caminho Salve o processo de ensino e aprendizagem, quanque os guiará para um espaço privilegiado do mudo o grande Mestre Paulo Freire nos diz: “Quem ndo letrado. ensina, aprende ao ensinar, quem aprende, ensinar ao aprender.” São palavras do educador e escritor Edinilo Soárez, quando se referiu em texto de sua autoria, sobre a citada Academia de jovens: “Já os vi inúmeras vezes, na Academia Cearense de Letras, na Academia Fortalezense de Letras, na Bienal do Livro, em lançamento de Livros e em outros locais, desempenhando, com uma dedicação apostolar o seu papel de responsabilidade social…” A jornalista e escritora Adísia Sá, assim referiu-se à Academia Maria Ester de Leitura e Escrita – AME: “Assisti à sessão da Academia e me emocionei vendo e ouvindo os jovens imortais apresentando seus Revue Cultive - Genève

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Atualidade

Bernardeth Martins

Sou , nasci em belo horizonte, minas gerais, em 05.06.1960. Graduada em administração. Trabalhei na organização internacional do trabalho (oit)/brasil, por 32 anos. Dentre outras funções, atualmente, sou proprietária da loja cirandinha; idealizadora do Brasilia Trends Fashion Week; Presidente da BPW Brasília/DF (Business and Professional Women); Diretora do Sindivarejista/DF; e Diretora da RIEX (Rede Internacional de Excelência Jurídica).

sarelas e alcançando diversos setores e segmentos. Compreendeu que a moda está presente não apenas no vestuário, mas também na arte, na música, no design, na tecnologia, em tudo aquilo que envolve o desejo humano e a interação coletiva, e que é capaz de promover inovação, ditar tendências e influenciar o próprio comportamento humano.

O evento tem caráter inclusivo e é aberto ao público em geral, oferecendo uma excelente oportunidade de lazer, cultura e acesso ao promissor mercado da moda brasiliense, além de fomentar a descoberta de novos talentos e a capacitação de profissionais desse setor. Assim, busca proporcionar um ambiente agradável ao lazer e diversão para as famílias ao mesmo tempo que atrai comerciantes e empresários do setor da moda, design, arquitetura, arte, lojistas, expositores e comerciantes que trabalOrganizar um evento é sempre um grande desafio: ham ou desejam trabalhar com a moda, modelos e são muitas as variáveis envolvidas no processo. É jovens aspirantes ao mercado da moda. Além dos lidar com uma quantidade absurda de informações desfiles, palestras, músicas, oficinas, atividades lúe saber gerenciar várias equipes, coordenar diver- dicas e dinâmicas que proporcionam um ambiente sos fornecedores, definir uma logística eficiente e, propicio à interação e à realização de novos negóclaro, agradar aos convidados cios.

EVENTO ORGANIZADO, E AGORA?

A pergunta que mais nos assusta responder é... como organizar um evento de sucesso? Organizar um evento é contribuir a disseminar conhecimento. É uma excelente maneira de comprovar a autoridade da sua marca, ganhar visibilidade no mercado e se tornar referência no meio. Mas quando falamos sobre eventos de grande porte, para muitos participantes, com muitos dias de duração, muitos temas ou ambientes, o desafio é ainda maior. E foi com essa garra que duas mulheres visionárias decidiram depois de uma lacuna sem programações relevantes para o mercado de moda e design no Distrito Federal (DF), Lorraine Bonadio e Bernardeth Martins, decidiram, em 2018 realizar a primeira edição do Brasília Trends Fashion Week, que se tornou o maior evento de moda e design do DF. O conceito do Brasília Trends Fashion Week rompeu com a visão segmentada do universo da moda para compreendê-lo em sua integralidade. O evento trouxe para a Capital Federal um conceito em moda que buscou mudar a visão segmentada do universo da moda e passou a compreendê-lo em sua integralidade, transbordando o espaço das pas108

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O Brasília Trends Fashion Week tem como objetivo gerar negócios e democratizar o acesso ao universo da moda, compreendendo a integralidade e interação desses dois conceitos nos diversos segmentos como o vestuário, a arte, a música, a dança, e em tudo aquilo que é capaz de promover inovação, ditar tendências e influenciar o próprio comportamento humano. Além disso, faz parte do leque de serviços que são ofertados: desfiles, treinamento, orientação e descoberta de novos talentos. Além de ser uma das idealizadoras, eu, Bernardeth Martins, sou proprietária da Loja Cirandinha, marca de roupas infantil, a única loja do Distrito Federal que faz todos os seus desfiles, totalmente, inclusivos, dando oportunidade para crianças com deficiências participarem do desfile, juntamente, com crianças sem deficiências, pois considera que o mundo deve ser igualitário e sem discriminação. O desfile da Loja Cirandinha é caracterizado pela emoção que compõe a sua diversidade, onde entram na passarela, sempre ao som da voz do cantor Wellyngton Abreu, modelos com deficiência visual, cadeirantes, e com síndrome de down. O objetivo principal é justamente contemplar o respeito e a igualdade deixando o preconceito de lado.


Atualidade O Brasília Trends trabalha para movimentar a cadeia produtiva do mercado da moda. Valoriza, da mesma maneira, o trabalho de estilistas já consagrados e os nomes ainda em início de carreira. Seu objetivo é fazer com que os brasilienses reconheçam os talentos que, por vezes, ainda são pouco divulgados. O respeito às diferenças de gêneros, altura, peso, etnia, idade e classe social é o alvo principal da moda. Tudo isso se resume na organização de um evento. Nos obriga a ficarmos atentos aos detalhes; definirmos um tema; conhecermos nosso público; escolhermos melhores datas, horários e local; selecionarmos uma equipe fantástica; estabelecermos quais são os gastos essenciais e quais são os gastos variáveis; definirmos um orçamento; escolhermos fornecedores confiáveis; estabelecermos uma estratégia de divulgação; escolhermos bem os palestrantes; termos uma programação clara, um staff acessível e uma localização eficiente. Tudo isso tem que estar planejado meses antes da realização do evento.

eventos e a maior atenção à sustentabilidade financeira e em materiais são pontos de extrema importância para minimizar os impactos no setor. A utilização da tecnologia revolucionou o mundo atual e a utilização dela como serviço complementar aos encontros presenciais é um fator que veio para ficar. É necessária a atuação conjunta das entidades que apoiam a realização de eventos. Trabalhando junto é possível elaborar projetos que promovam a recuperação da economia e, consequentemente, a geração de emprego e renda. Mas, como disse acima, o importante é não desistir. Sonhos são feitos para serem realizados. Os sonhos alimentam a alma e dão asas à imaginação. Os sonhadores fazem da derrota o pódio para a vitória. O que significa uma trajetória de vida se não conseguirmos transformar riscos em acertos? Lutas, em vitórias? Obstáculos, em crescimentos? Viver é ter ousadia com criatividade. Nós somos do tamanho dos nossos sonhos, por isso nunca devemos desistir de sonhar, pois são eles que fazem a grande diferença no nosso viver.

Mas sabemos que é normal que surjam imprevistos durante a organização de um evento, e temos que estar preparados para resolvermos cada um deles. Mas, quando o imprevisto está muito além de nossa capacidade de solução, como a pandemia provocada pela COVID-19, nos deixa em uma situação de impotência que nos obriga a pensar.... Evento organizado, e agora? Como organizar um evento aonde o isolamento social é uma das medidas preventivas para conter a aglomeração de pessoas e, assim, evitar a proliferação no novo coronavírus? A terceira edição do Brasília Trends Fashion Week estava programada para ser realizada no mês de setembro, mas tivemos que parar, pois no Distrito Federal não se sabe quando se poderá realizar eventos. Com o sentimento de impotência e de sem saber o que fazer, a primeira providência foi adiarmos a sua realização para novembro, na esperança de que até lá as coisas possam voltar a sua normalidade. Nesse momento, estamos recomeçando a programação do zero, pois a ordem agora é inovar; estudando, avaliando, buscando respostas para a nova pergunta: o que fazer nesse momento de pandemia? Surgem várias ideias, quem sabe uma versão figital? Mas o importante é não desistir. A incorporação da tecnologia na realização de Revue Cultive - Genève

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Atualidade

QUARENTA ANOS DE LITERATURA Por Luiz Carlos Amorim –

Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br Com a edição de número 153 do SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, de junho de 2020, comemoramos o quadragésimo aniversário da revista e do Grupo Literário A ILHA. São quarenta anos de literatura, de divulgação de novos escritores, de abertura de espaços para levar a literatura catarinense e brasileira aos quatro cantos do mundo. E não só a literatura brasileira é contemplada nas páginas da revista longeva, escritores de outros países também comparecem, para temperar o conteúdo de muitas edições. É uma revista literária internacional. Se você não leu ainda, vá à página do Grupo Literário A ILHA no Facebook. O linke da revista está lá em formato e-book.

O Grupo Literário A ILHA e a sua revista, o Suplemento Literário A ILHA, nasceram em 1980, na ilha de São Francisco do Sul. Em 1982 migrou para Joinville, também em Santa Catarina, movimentando por quase vinte anos a cultura da maior cidade do Estado. Em 2000, migrou para outra ilha, Florianópolis. Sempre divulgando a literatura brasileira pelo país e pelo mundo, publicando a obra de nossos escritores em várias mídias, como a revista do grupo, o SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, o portal PROSA, POESIA & CIA., na internet, em http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br, através da Editora A ILHA, com mais de uma centena de livros solo e antologias de prosa e de poesia já publicados, através do Varal da Poesia - que transformou-se no Projeto Poesia no Shopping, através da participação em feiras do livro, em salões internacionais do livro e feiras em países como Portugal e Suiça, Cuba, Espanha, Estados Unidos, e através de outros projetos como Poesia na Rua, Poesia Carimbada, O Som da Poesia, Pacote de Poesia e outros. São quarenta anos de trajetória, sempre adaptando-se às novos mídias, às novas tecnologias de informação para chegar até o leitor. Começamos com a revista só impressa, depois colocamos também a publicação na internet e agora ela é on line. As Edições A ILHA publicam, atualmente, além dos livros solo dos integrantes do Grupo A ILHA e das antologias, uma nova revista literária, a ESCRITORES DO BRASIL, também on line, que veio para ampliar o espaço do Suplemento Literário A ILHA, que já estava ficando pequeno, apesar do crescente número de páginas. E está fazendo o maior sucesso, com mais de seis mil acessos a cada edição.

Há que se comemorar um marco tão importante, há que se comemorar o grupo e a revista mais perenes do gênero - afinal, são quarenta anos de existência e resistência, sem nunca depender de nenhum órgão oficial. A nova antologia com a participação de todos os membros do grupo, que seria lançada neste mês de junho, foi adiada para o fim do ano, devido à pandemia. A mais recente antologia do Continuaremos na caminhada, divulgando a litegrupo foi Poetas da Ilha, lançada em 2018. Tam- ratura dos brasileiros para os quatro cantos do mubém faria parte das comemorações do quadragési- ndo. mo aniversário a participação do grupo na Feira do Livro de Lisboa e da Feira do Livro do Porto, já que a redação da revista funcionou, temporariamente, na capital portuguesa, neste primeiro semestre de 2020. Mas também devido à pandemia, as feiras foram adiadas e o Grupo A ILHA participará no próximo ano. Mas apesar da pandemia, o Grupo Literário A ILHA festeja, sim, com a edição do mês de junho, comemorativa dos quarenta anos de trabalho em prol da literatura brasileira, desta nossa revista vitoriosa que é o SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA. 110

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LANÇAMENTOS

Eloah Westphalen Naschenweng Professora graduada possuindo também Curso Superior em Tecnologia em Automação de Serviços Executivos, reside em Florianópolis/SC, desde 1970. Funcionária Pública, aposentada. Como escritora e poeta é membro do Grupo de Poetas Livres e Neo Acadêmica da Academia de Letras e Artes de Goiás e membro da LITERARTE /Associação Internacional de Escritores e Artistas, membro fundador do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Portugal, embaixadora da Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture, membro da ALB, seccional Suiça , membro Le Cercle des Écrivains Luso-Suisse de Géneve , membro da Civil Society Europe of Phine Arts, Delegué da Cultive Art Littérature Solidarité/ Genebra/Suiça, Diretora Institucional da Academia de Letras de Palhoça/SC, Diretora Cultural da Academia de Letras de São José/SC e Tesoureira da Academia Desterrense de Literatura. Lançou no 33º Salão do Livro em Genebra, abril de 2019, seu Livro “ Porque hoje é Domingo” Seu trabalho cultural é reconhecido nacional e internacionalmente através do recebimento de várias honrarias. OBRAS PUBLICADAS: 19 solos e participou como coautora em 57 Antologias, destas 16 em Portugal, 2 em Paris/França e 3 na Suíça e as demais no Brasil.

Publicações Traduções Diagramação Revisão Divulgação Isbn suíço Registro bilioteca Nacional Suíça Romance Contos Poesias Livros de Arte Livros Infantis Albuns personalizados Publicações comemorativas Revue Artplus Orientação aos novos escritores Revue Cultive Orçamentos sem compromisso contato: edicaocultive@gmail.com

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Atualidade de video games até as artes em geral mais tradicionais (museus, teatro, biblioteca, arquitetura, radio, TV, moda, música e dança). Mesmo a cultura e a criatividade, não estando presente em todas as atividades da cadeia de bens e/ ou serviços, ela pode impulsionar outros setores formando assim um ecosistema.

por FLAVIA JOVER advogada, professora de dança, ativista cultural

Além disso, é um ótimo potencializador de inclusão social, atua nos setores mais vulneráveis, direcionando mulheres, artesãos de rua, jovens com baixa escolaridade formal, ensinando muitas vezes um ofício, além de poder dar oportunidade à inserção no mercado de trabalho dentro das indústrias criativas ou não para estes atores.

A melhora na educação, o financiamento e a tecnologia embasada por um marco legal, legislação, propriedade intelectual, direitos do autor impulsionam este novo ramo econômico. No entanto, quando se fala em criatividade nem sempre a mesma joga o papel principal durante todo o processo comercial, o que fará a diferença serão as habilidades dentro do mercado e suas conexões baseadas A criatividade aliada a cultura pode desempenhar muitas vezes no marketing. um papel com um fim econômico importante nos dias atuais. A inteligência artificial pode substituir Segundo estudos do Banco Internacional de pessoas e concatenar muitas informações, mas a Desenvolvimento (BID) esse setor sofre em razão criatividade é o fator diferencial que poderá ser a da falta de compreensão por parte de seus agentes resposta para diminuir os impactos da mesma na do funcionamento do seu negócio. vida social. A falta de conhecimento do mercado, de planificaA Economia Laranja surge para dar a criatividade ção e muitas vezes caixa deficitário e de estratégias um papel fundamental na busca de soluções origi- de marketing e conhecimentos de informática, não ajudam a ampliar e conhecer melhor seu público. nais e inovadoras. A falta de apoio por mero desconhecimento de Na América Latina e Caribe – ALC, onde a cultura pessoas que passam pela mesma situação e a falta diversificada faz parte da identidade da formação de conexões são outro fator negativo, bem como a de seus povos, encontramos um potencial natural não dedicação total ao seu empreendimento. A caque permaneceu mais preservado, devido a não pacitação através de Universidades, cursos on line, integração total da globalização no interior destas conhecidos como MOOCs ( ver a sigla) e Bootcamps ( a imersão aprendendo- fazendo) podem sociedades. ser a solução para os problemas descritos.

Breve apontamentos sobre a Economia Laranja

A manutenção de festas tradicionais, culinária, artesanato e até mesmo de movimentos esotéricos, deu abrigo a um fator que pode contribuir com o aumento do Produto Interno Bruto e pode ser um grande motor de desenvolvimento identificado na cultura.

Positivamente com os smarts fones, o acesso rápido em qualquer momento e lugar nos coloca diante do mundo, acessando mercados antes inimagináveis. As plataformas digitais (reds sociais) ajudam a promover os trabalhos criativos dentro da rede, podendo ser fonte de inspiração e contato com Os produtos culturais podem ser mais complexos outros artistas, aproveitando para fazer conexões como softawares, indústria cinematográfica, jogos ampliando seu público consumidor e até mesmo 112

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Atualidade possíveis financiamentos.

dinheiro, melhorando a qualidade do bairro.

Os financiamentos podem vir do setor privado ou do setor público com as políticas públicas como no exemplo de revitalização de bairros, dentro de grandes cidades em que a criatividade é o ponto essencial de mudança, exemplos: em Buenos Aires com o distrito tecnológico; Honduras com casa Quinchón (distrito criativo), com seus coworkings (espacos coletivos de baixo custo para uso de trabalhos criativos colaborativos ou não). Esses bairros são um ecosistema, onde se desenvolvem a economia criativa e começam a gerar empregos paralelos no setor de alimentação, aluguéis, pequenos comércios, fazendo assim interagir as pessoas e o

Como projetos concretos neste ramo de economia temos o parque temático no México. As iniciativas conjuntas também são importantes para revitalizar centros antigos desativados pode ser uma solução feita por associaçoes que ajudam a melhorar zonas perigosas. A COVID quebrou o paradigma em relação ao teletrabalho em larga escala o que está diretamente ligado à informatização, devemos pensar de forma positiva como uma boa plataforma para a expansão da criatividade.

Du 28 / 10 au 01/11/2020

34 Salon du Livre à Genève ème

28/04 au 01/05/ 2021

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u l t i v

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Exposition et lançement de livres, conférence, Exposition d’Arte - Genève 2020 Exposition Image poétique Lançament de la Revue Artplus Lançement de «Anthologie Mil Couleurs du Brésil» Era Uma Vez Les Um Anjo Conférence Lançement de l’Anthologie contato : cultivelitterature@gmail.com www.cultive-org.com

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Atualidade

PAPO LITERÁRIO TV CEARÁ

equipe Papo Literário

Quem somos A TV Ceará é uma emissora pública que existe desde 1974. Tem compromisso com a cidadania, com a informação e com a divulgação dos valores cultu-

Monica Silveira rais do estado. A TVC alcança grande parte do ter- Papo Literário ritório cearense, sendo a primeira emissora pública a transmitir sua programação em sinal digital de Pioneiro do gênero a ser produzido no Ceará, o “Papo Literário” trata de assuntos profundos e dialta qualidade. versificados da literatura utilizando uma lingua114

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Atualidade gem coloquial e de fácil entendimento do público. Há 11 anos o programa vem conquistando a audiência dos telespectadores da capital e interior. O Papo Literário é apresentado pelas jornalistas Soraya Santos e Mônica Silveira, que também é escritora. Veiculado pela TV Ceará canal 5. O programa vai ao ar no sábado ao meio dia com horário alternativo na segunda-feira às 19h.

tação. Com isso, todos ganham você que se tornará nosso parceiro na educação. O espaço reservado à divulgação da sua marca ou produto será através de chamadas das apresentadoras do programa. Cabe ao programa à divulgação da marca da empresa nas vinhetas de abertura e passagem de blocos. O programa tem duração de 30 min, contando com os intervalos com chamadas da programação

Entre as muitas atrações do programa estão: en-

da própria emissora. O valor cobrado pela inserção da marca da empresa apoiadora do programa na abertura e nas passagens de blocos do Papo Literário é de R$ 2.000,00 por mês. Isso corresponde a duas inserções de 15 segundos a cada break. O apoio tem duração de 6 meses a um ano, conforme negociação entre as partes. Será muito bom contar com sua parceria!

trevistas com personalidades do mundo das letras como Lira Neto; reportagens especiais sobre Literatura; dicas do “Livro de Cabeceira”; “Clipoemas” (clipes feitos com poesias) entre outros que compõe o roteiro do programa.

Contatos: Soraya Santos / Mônica Silveira (+55 85) 9 8735.9381 papoliterario@tvceara.ce.gov.br sorastos@gmail.com / monicawebsilveira@gmail. com

Soraya Santos

Parceria Para que todo esse trabalho aconteça, sendo o programa um forte aliado na divulgação da produção literária, buscamos a sua parceria. O Apoio Cultural é a forma de patrocinar todo o trabalho, que consta de Produção, Gravação, Edição e ApresenRevue Cultive - Genève

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Atualidade dades brasileiras no exterior: - Cartilhas para o Imigrante Brasileiro. - Cartilhas de Empreendedorismo brasileiro no exterior. - Cartilha do INSS para os países sem acordo (início do trabalho em maio de 2018). - Cartilha de ida e Cartilha de Retorno para auxiliar os brasileiros que pretendem emigrar. Acordos bilaterais de Previdência Social. Desenvolvimento e manutençāo de debate com os órgāos responsáveis pela mudança de legislaçāo referente à cobrança de 25% do imposto sobre as aposentadorias pagas no exterior.

Dedé Vargas,

Presidente e Porta-Voz do Conselho de Cidadãos Brasileiros de Mendonza, escreve sobre :

Eventos

CRBE - 10 ANOS - DE CONQUISTAS Dedé Vargas - Quais foram as conquistas realizadas pelo seu Conselho que beneficiaram diretamente a comunidade brasileira na sua jurisdiçāo? Informações recebidas pelos coordenadores das mesas temáticas do CRBE e porta-vozes de diversos Conselhos de Cidadāos e Cidadania. O Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior atua em diferentes frentes com foco nas demandas da comunidade brasileira no exterior, buscando contribuir no desenvolvimento de políticas públicas em benefício dos emigrantes brasileiros. Desde sua criaçāo, em 2008, muitas foram as ações, os projetos, os debates e as conquistas dessa instituiçāo. Esse documento pretende listar, de forma sucinta, as principais conquistas que beneficiaram os brasileiros no exterior e que tiveram participaçāo direta do CRBE, dos Conselhos locais ou de parcerias com os Consulados, a DBR e demais órgāos governamentais: Temas Socias e Questões de Gênero Desenvolvimento de Cartilhas para as comuni116

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-Eventos sobre as mulheres e para as mulheres no exterior. -Feiras de saúde. -Treinamento comunitário de preparação para desastres naturais. -Assistência Social para brasileiros necessitados tais como visitas a presos, apoio a brasileiros moradores de rua, problemas de saúde, tradução de documentos, tráfico de pessoas, desempregados, violência doméstica e em situaçāo de vulnerabilidade. -Assuntos Consulares -Lista de profissionais no site de Consulados. -Mudança da obtençāo do atestado de antecedentes criminais por via eletrônica, na hora e sem custo. -Vídeos para sala de espera do Consulado com informações para a comunidade. -Ampliaçāo do prazo de validade do passaporte brasileiro para 10 anos


-Ampliaçāo e manutençāo de Consulados Itinerantes em cidades desprovidas de Consulados. -Campanhas para a obtençāo da matrícula consular.

rior. -Política linguística para o Português no exterior como questão estratégica para a nação brasileira.

Inclusāo de serviços diversos oferecidos pelos Consulados no exterior como registros civis, casamentos, divorcios concensuais, etc. -Atendimento consular através dos Consulados honorários. -Ampliaçāo de sessões eleitorais no exterior. -Campanhas para o eleitor transferir o titulo eleitoral para o exterior.

-Programas de formação de professores de português, oferecidos pelo Itamaraty em diversas regiões, a partir do modelo de sucesso de oficinas realizadas em nível local nos Estados Unidos.

Cultura -Desenvolvimento do Guia Prático para Eventos Culturais no exterior. -Realização de inúmeros projetos de cunho cultural, tais como o “Dia do Brasil”, ciclos de cinema, exposições, oficinas sobre identidade cultural, programas de radio, feiras de cultura, oficinas de artesanatos, capoeira, gastronomia, entre outros. -Educação -Criação da página Brasileiros no Mundo dentro do website do Ministério da Educação. -Participação do conselho no processo da proposta e criação de duas Audiências públicas para o envio de professores de português, Benefício direto. -Eventos e congressos, de cunho acadêmico e prático sobre o Português como Língua de Herança. -Participação de Conselheiros na Câmara do Livro Brasileira. -Aplicação do exame supletivo ENCCEJA. -Realização de Feiras de Educação no exte-

Associativismo

Associativismo e constituiçāo de parcerias com os governos locais nos países de residência, com empresas de capital brasileiro no exterior e com associações para desenvolvimento de projetos direcionados para as comunidades locais. Criaçāo e parcerias de Câmaras de Comércio com o Brasil com participação direta dos Conselheiros. Reuniões plenárias do Conselho, abertas à participação da comunidade. Comunicaçāo Criaçāo de canais de comunicaçāo dos Conselhos locais direto com a comunidade, através de websites, redes sociais como o Facebook e WhatsApp, possibilitando a real função dos Conselhos que é ser o "elo" entre a Comunidade e os Consulados. Empreendedorismo Criaçāo de guias práticos de como empreender em sua cidade ou jurisdiçāo. Eventos como do Dia do Trabalhador e a Feira do Emprego. Revue Cultive - Genève

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Atualidade Ciclos de Palestras sobre Empreendedorismo. Assuntos Jurídicos Consultoria jurídica gratuita e acompanhamento gratuito. CRBE em números

no Exterior -2017. Este relatório foi apresentado durante a VI CBM em Salvador na Bahia no dia 24 de maio de 2018 pelo Conselheiro Dedé Vargas de Mendoza com colaboraçao da Conselheira Denise Frizzo de Melbourne. Obs: Este documento nao tem como objetivo ser Dez anos do movimento um relatório histórico completo de todas as atividades desenvolvidas pelo CRBE e pelos Conselhos, Total de CBMs (Conferência Brasileiros no Mun- mas sim um material de apoio e divulgaçāo para do) – Seis (6). → Conferência Diálogos Sobre Polí- ser usado por conselheiros e porta-vozes junto as tica Externa – 2014. suas comunidades e meios de comunicaçāo local. Conferência sobre Questões de Gênero – 2015. fotos de Dedé Vargas na Festa da Confraternização Conferência de Atenas – 2017. doBrasil em Mendonza Conferência do Micro e Pequeno Empreendedor

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ANAPUENA HAVENA NO CAFÉ PATRIOTA

UM CAFÉ QUE CONTA HISTÓRIA!

à personagem? Será o desejo de Ceci a voz do meu inconsciente? Bem, ainda não tenho esta resposta, mas posso dizer que não sonhei sozinha e tive o apoio do meu esposo, Lincoln Chaves, para a realização do projeto.

Certamente, muito me envolvi com o desenvolvimento da obra ao pesquisar sobre o café, pois o fruto faz parte da cultura brasileira e está intimamente Um lugar para se tomar uma boa xícara de café e ligado à História do Brasil. viver, literalmente, uma boa história. Lugar que concentra História do Brasil, literatura, música O café está representado na nossa primeira bandeierudita e gastronomia. Um projeto transforma- ra como nação independente; por causa do café do em espaço histórico e cultural, localizado em as primeiras ferrovias foram implantadas em solo Quixadá, no interior do Ceará, e tem o nome de brasileiro; o excedente do lucro do negócio cafeeiCafé Patriota. ro permitiu o investimento na industrialização do país. O café também brinda momentos especiais, E tudo começou com um livro... é uma maneira gentil de receber pessoas queridas, Escrevi o romance de época “Encantos do Café” em acompanha prazerosas conversas. Ele tem cheirin2016. O enredo se passa numa importante fazenda ho de afago, de carinho, de lembrança boa... cafeeira, na região do Vale do Paraíba. Seu ponto inicial é a mudança de uma família italiana para Definitivamente, o café faz parte do brasileiro! o Brasil, tendo como destino a fazenda Boa Fé. A fazenda guarda as histórias vividas por gerações e É interessante também recordar o que ambiente também suas tradições, inclusive, a tradição do ne- de cafeteria representou no passado: lugar de comgócio cafeeiro. Até que a jovem Ceci, herdeira da partilhamento de informações; onde escritores, família e uma apaixonada por História do Brasil, jornalistas e políticos frequentavam para divulgar decide conquistar os seus próprios sonhos - isto no e debater suas idéias. Consideramos interessante segundo volume do livro. resgatar este conceito e tornamos o Café Patriota um lugar de interação e aprendizagem, por meio Tamanha foi minha inspiração ao finalizar a obra de realização de palestras e aulas gratuitas, com o que desejei transformar o sonho de Ceci em reali- propósito de facilitar o acesso ao conhecimento. dade. Ou será que emprestei o meu próprio sonho Uma questão que sempre me incomodou foi perceRevue Cultive - Genève

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Atualidade ber que muitas pessoas não se interessam pela história de seu próprio país. Tem uma frase de Heródoto que gosto muito: Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. Um povo que não sabe de onde veio, não pode saber para aonde vai! Diante deste pensamento, passei a direcionar a minha escrita ao gênero romance, como estratégia para propagar a história e a cultura brasileira. Acredito que, utilizando-me de linguagem simples e de um romance envolvente, posso apresentar ao leitor o conhecimento histórico de maneira mais leve e atrativa. Despercebidamente, o leitor entra em contato com importantes elementos da História do Brasil, aprende e pode despertar o seu interesse sobre o assunto.

histórico – a encantadora união de história e poesia. Seguimos com a missão de valorizar a cultura brasileira, de apresentar um Brasil rico em história, cultura e sabores. Costumo dizer que quero deixar como legado para os meus filhos a construção de um Brasil melhor e o Café Patriota faz parte disso. Ganhe o livro «Persuasão»

E como sou uma incentivadora da prática de leitura, sortearei o livro “Persuasão”, da autora Jane Austen, entre os leitores desta revista. Para participar do sorteio, você deve entrar no meu perfil @anapuena no Instagram e enviar uma mensagem Este conceito também está no nosso espaço. A com o seguinte texto: História do Brasil é apresentada por meio de quadros, arquitetura e decoração ambiente, plantas, Quero participar do sorteio do livro! objetos, livros e réplicas de documentos, e o delicioso aroma de café dá o toque todo especial! Uma Entrarei em contato com o ganhador. Boa sorte e verdadeira imersão no passado. uma ótima leitura! ___________________ Livros jamais poderiam faltar! Afinal, foi um livro Anapuena Havena que deu vida ao Café Patriota. Temos uma livraria, também biblioteca, que contém desde os princi- Escritora, pesquisadora e empresária cearense. pais clássicos da Antiguidade aos contemporâneos. Membro internacional Cultive. A intenção é que nossos frequentadores tenham Encantos do Café vol. I contato com a literatura e se tornem leitores, que eles tenham acesso facilitado ao conhecimento. Desejamos enriquecer intelectualmente a população.

Ganhe um Livro Anapuena está oferecendo Um livro para sortear entre os leitores da sua coluna Como ganhar o livro? Entre no instagram

@anapuena Como autora, quero inserir os colegas da área neste @anapuena Escreva: projeto e é exatamente com este propósito que promovemos concursos literários, para valorizar e inEu quero participar do sorteio centivar o autor local. Do nosso último concurso resultou a obra “Brasilidade, um canto de amor à Pátria”; obra que reúne poesia cearense e conteúdo 120

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Atualidade

P r ĂŞ m i o ConexĂŁo ItĂĄlia-Brasil

Itålia Brasil seguida de uma visita guiada com todos os participantes. O número måximo serå de 10 pessoas em respeito às regras restritivas ante Covid19. A comemoração do aniversårio da FEB jå acontece todos os anos na Itålia em outras regiþes na Toscana e Emília Romagna. E por isso, Brescia poderå ser inserida pela primeira vez no roteiro histórico da FEB.

Coletiva de Imprensa

Memorial Meeting No prĂłximo dia 4 de setembro, serĂĄ realizada, Ă s 21 h a coletiva de imprensa “Memorial Meetingâ€? na sala de convenção do Museu das Armas-Marzoli na ProvĂ­ncia de Brescia Lombardia na ItĂĄlia, um museu considerado uma das mais memorĂĄveis riquezas culturais dos brescianos e estĂĄ localizado no Castelo de Brescia.

Dentre os apoios ao evento estão: o Instituto Interamericano de Fomento a Educação, Cultura e Ciência, Clube de Veículos Militares Antigos CVMARJ-Rio de Janeiro, Revista Itålia Nossa, Movimento People Moving e distância militar na Itålia.

O objetivo central desse encontro com a mĂ­dia ĂŠ a realização da Terceira Edição do PrĂŞmio ConexĂŁo ItĂĄlia Brasil, bem como, a apresentação Pela valorização e resgaste histĂłrico serĂŁo condeda visita da delegação FEB-Força ExpedicionĂĄria corados com o prĂŞmio: o adido militar Brasileira 2021 na ItĂĄlia. O patrocĂ­nio Cel. Santos Franco e o dir. AdministraĂŠ da A.I.M-Associação per l’ItĂĄlia nel tivo do Museu das Armas - Dr. Marco Mondo e Amigos da ConexĂŁo ItĂĄlia Merlo. Essa homenagem representa um Brasil. A organização se encontra aos agradecimento pelo excelente trabalho cuidados da Vice secretaria Nacional que vem sendo desenvolvido em prol da para o Brasil, Sandra Bandeira Nolli. integração das Forças Armadas e interBrixia Brasil O evento contarĂĄ com participaçþes Em Versos locução histĂłrico cultural entre ItĂĄlia e ConexĂŁo ItĂĄlia ilustres e personalidades da comuniBrasil Brasil. dade bresciana. Dentre as participaçþes mais importantes, estĂĄ o adido militar Nessa passagem em Brescia o Cel. SanBrĂŠscia ItĂĄlia Set 2019 do exĂŠrcito na ItĂĄlia o Cel. Santos Frantos Franco participarĂĄ ainda do evento co; o Dir. Administrativo do Museu cultural “PrĂŞmio LiterĂĄrio Nacionalâ€? das Armas Marzoli de Brescia - Dr. Marco Merlo; das vinĂ­colas Franciacorta que se realizarĂĄ no dia o pesquisador Silvio Ferraglio; o secretĂĄrio e a te05.09 Ă s 15:30 h no Castelo de Bornato-Cazzago soureira da Associação Veneta Brasiliana de PaSan Martino. O adido militar, juntamente com a dova sra.Gleydna Fernandes e Francesco Palombi; jornalista Sandra Bandeira Nolli, foram convidados o Dr. Marcos Bresciani agente da Procuradoria de para compor o comitĂŞ de honra. Uma ocasiĂŁo para Justiça de Brescia e jornalistas da imprensa local e encontrar as principais autoridades, associaçþes e nacional. instituiçþes brescianas. Brixia Brasil Em Versos BRIXIA BRASIL EM VERSOS ConexĂŁo CONEXAO I ALIA BRASIL ItĂĄlia Brasil ' T I S

T H E

S E A S O N

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Autores : JĂ´ Dallera Sandra Bandeira Abelardo Nogueira Prof.Silvio Ferraglio Massilon Silva

Durante o debate com os jornalistas presentes serão relembrados e recontados os feitos dos Pracinhas Brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial serå apresentado o programa da visita da delegação FEB-2021 na Itålia e a entrega do prêmio Conexão

Na divulgação do evento estão participando as rådios brasileiras Mar Azul FM 87,9, Radio Oasis FM 87,7 , Radio Felicidade FM-IFEC e Radio Webmusic. Revue Cultive - Genève

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Minha Missão de Vida

Conhecendo e assumindo a LUZ de Deus-Pai e o AMOR de Deus-Mãe em si mesmo (que vibra no coração / Chakra Cardíaco Por Rosa Marta Gerber. de cada ser através da sua Sagrada Chama Trina), teMinha Missão: «Reconectar cada Ser ao seu Divino remos a união dessas duas Ser na Luz-Amor». plenas energias, que resultará em uma terceira frequência, Deus-Filho representado pelo tracinho ( ), o Filho Divino / nosso Mestre Interno, nosso EU Iniciei a canalizar o termo Luz-Amor através de SOU, aquele que somos em essência e tudo o que meu trabalho interno, de autoconhecimento e podemos manifestar nesse plano: a obra, a criação, autotransformação, desde 2002 (nessa época eu o fruto... o propósito de nossa alma, nossa missão usava o termo Luz e Amor ao final de meus tex- de vida, nossos dons divinos. tos e despedida de e-mail: Abraço de Luz e Amor), tendo seu ápice a partir das minhas Sintonizações No sentido mais pleno deste termo: Luz = sabedono Reiki a partir de 2007. Em Dezembro de 2010, ria divina; Amor = nutrimento divino e, represendurante uma meditação para escolher um nome tado pelo tracinho ( - ) = a nossa co-criação divina, fantasia para meu MEI (Micro Empreendedor In- a união, a ponte, o elo entre Luz e Amor. Ou seja, dividual), captei dos Mestres para colocar o nome cada um é convidado a atuar através da sabedoria Espaço Holístico Luz-Amor, pois o termo Luz e de seu coração (seu Mestre Interno) e manifestar a Amor deveria ficar acessível para uso de todos os sua missão pessoal, o seu propósito de alma, com seres, algo que seria apresentado para a humani- consciência, responsabilidade e sabedoria. dade mais adiante. Cheguei a pesquisar na internet e realmente não encontrei nada que indicasse que Enfim, consiste numa Frequência Energética da esse termo Luz e Amor, muito menos Luz-Amor, Nova Era para a Reconexão e Manifestação da estavam sendo usados. Mais ou menos em 2012 Mestria Pessoal através da Sabedoria do Coração e encontrei alguns textos na internet canalizados e essa é minha missão: “Reconectar cada Ser ao seu assinados por Kryon e Arcanjo Metraton usando Divino Ser na Luz-Amor”. esse termo ao final das suas mensagens. QUEM É VOCÊ, ROSA? Ainda nessa meditação, lembro que questionei os Mestres sobre o porquê do tracinho entre Luz Nasci em 30 de agosto de 1964 na cidade de Floe Amor ( - ). Então me repassaram o que segue, rianópolis / SC. Formei-me em Psicologia pela como um download. Universidade Federal de Santa Catarina em 1988, 122

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Saúde e energia tendo atuado como psicóloga por 22 anos, principalmente nas áreas clínica, social, educacional e institucional, inclusive com a Educação Especial. Esses anos de experiência profissional na área da Psicologia me enriqueceram muito no sentido de me levarem a buscar sempre outras formas de entender o Ser humano no seu todo, holisticamente (no físico, mental, emocional, energético e espiritual). Nessa caminhada pela busca em entender melhor a mim mesma e o sofrimento do Ser humano, fui conhecendo as terapias complementares, iniciando pelos Florais de Bach em 1992. Passei a me aplicar essas técnicas como forma de me trabalhar e os resultados alcançados foram maravilhosos, me instigando a prosseguir nessa busca pessoal e profissional. A partir de 2007 ampliei minhas buscas, principalmente devido à grande inquietação que vivia e que me levaram a procurar vivências de autoconhecimento e de autocura nas terapias complementares. Neste período em diante, realizei diversos cursos na área holística. De todos esses cursos, a minha Sintonização em Reiki foi um marco em minha trajetória pessoal e profissional, pois assinalou o início de uma crescente e marcante transformação interna que me levou, em 2009, a me tornar Mestre-Professora em Reiki e a decidir seguir o caminho profissional pelas Terapias Complementares e Integrativas. Oficialmente, desde 2010 atuo como Terapeuta Holística Quântica, oferecendo um trabalho diferenciado que fui canalizando: Projeto Luz-Amor, Terapia Quântica Luz-Amor©, Reiki Luz-Amor©, Reiki Intuitivo Luz-Amor©.

consciente e responsável, em sintonia com a nossa mais Divina Essência, nosso EU SOU pessoal, nosso Mestre Interno. BREVE CURRÍCULO Rosa Marta Gerber é natural de Florianópolis / SC / Brasil. Atuou como Psicóloga e Psicoterapeuta de 1988 a 2010, com especialização em Psicodrama Infantil, Gestão de Pessoas, Terapia Familiar e de Casal, Violência Contra Crianças e Adolescentes. Experiência nas áreas de Educação Infantil e Educação Especial, Hospital Psiquiátrico, Consultoria Organizacional, ONGs, Consultório Psicológico, Palestrante Motivacional, Auto-Conhecimento e Capacitação Profissional. Elaborou e desenvolveu Projetos Educativos com Professores/Pais/Educandos na rede pública educacional dos municípios de São José e Palhoça/SC/Brasil. Em 1992 iniciou sua formação nas terapias holísticas, integrativas e complementares, passando a atuar como Terapeuta Holística Integrativa a partir de 2007. Em 2010 iniciou como Mestre-Professora de Reiki Usui – Integrando os Sistemas Tradicional e Moderno, e criou o Espaço Holístico Luz-Amor. Em 2011 canalizou o Sistema de Reiki Luz-Amor®, a Terapia Quântica Luz-Amor® e o Reiki Intuitivo Luz-Amor®. Em 2017 lançou seu primeiro livro “Reiki LuzAmor Para Crianças”.

“Reiki Luz-Amor Para Crianças”.

“Nesse livro, a autora catarinense, Rosa Marta Gerber, conduz seu leitor através de uma linguagem bem acessível e lindas ilustrações, a vivenciar as frequências de Luz-Amor de sua própria Criança Interna, que habita seu coração. O Reiki é uma técnica energética milenar muito especial, que nos ensina a captar a energia universal para uso próprio e para outros seres. O objetivo principal da energia Reiki é proporcionar o autoconhecimento e a auDesta forma, procuro levar às pessoas um pou- totransformação. A proposta da autora é a de oporco do que encontrei em minha trajetória pessoal: tunizar que, desde cedo, as crianças tenham acesso a satisfação pelo autoconhecimento e a liberta- a esses conhecimentos, de que todos somos Seres ção de quem realmente somos, de forma segura, de Luz-Amor Divinos. As crianças têm tudo o que Em outubro de 2017 lancei meu primeiro livro Reiki Luz-Amor Para Crianças, o qual apresenta uma frequência quântica (principalmente através das cores) que conduz o leitor nas curas da sua Criança Interna e ajuda as crianças a não esquecerem que são Seres de Luz-Amor em essência; além de relembrar e resgatar nos “adultos” suas frequências sagradas.

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Saúde e energia Exercício Libertação da Conversa Mental Objetivo: Proporcionar liberações com qualquer pessoa e situação. Duração: 15 a 20 minutos. Frequência: Repita 1 vez ao dia por pelo menos 7 dias seguidos. O ideal é fazer por 21 dias seguidos.

que seja apenas uma), elogie essa pessoa / situação com sinceridade (caso não consigas encontrar qualidades, diga uma qualidade como se ela já fosse real). 4. No terceiro passo você vai falar como gostarias que fosse a relação entre vocês / situação (com harmonia, respeito, etc) ou como fosse a situação entre vocês, pensando no melhor para todos os envolvidos.

Onde fazer: Escolha um local onde possa ficar a vontade, sem ser interrompido (a). 5. O quinto passo é muito importante. Você vai pedir perdão a essa pessoa / situação, não importa Preparação: Sente-se com quem está com a razão: a coluna reta, de preferên“(Diga o nome da pescia apoiando os pés no soa / situação), eu peço chão. Faça respirações properdão por tudo o que fundas, inspirando e levaneu possa ter feito, nessa do o ar abaixo do umbigo, vida e em outras vidas, segure um pouco o ar e, que te magoou e te fez depois, solte o ar pela boca sofrer. E eu te perdoo (repita 3 vezes). Agora leia (diga o nome da pessoa o que segue, em voz alta, / situação) por tudo o para que possas te ouvir. que me fizesse, nessa vida e em outras vidas, Decreto inicial: “Peço a que me magoou e me presença de meu Divifez sofrer. Eu me perno Ser e do Divino Ser de doo e te perdoo, eu me (nome da outra pessoa), liberto e te liberto de para que intercedam nessa toda essa situação atual. conversa, atuando desde a Estamos livres. Gratidão causa raiz, de acordo com ao nosso Divino Ser as Leis Divinas e Univerpelas bênçãos que estasais, pela Misericórdia Dimos recebendo. GRAvina, para o bem de todos TIDÃO, GRATIDÃO, os envolvidos”. (Quem for Sintonizado no Reiki GRATIDÃO”. ative os Símbolos Sagrados nesse momento). 6. Repire fundo e imagine uma radiante luz violeta 1. Imagine que estás na frente de uma tela de cine- te envolvendo por inteiro (a) e todo o local onde ma sozinho (a) e que, nessa tela, aparece essa pes- estás. Respire profundamente essa luz violeta para soa com quem estás tendo conflitos, mas somente dentro de você e, ao soltar o ar, sinta que teu corvocê vai falar e ela vai somente te ouvir. po inteiro vai ficando leve e radiante de uma linda luz branca cristal. Podes fazer essa respiração por 2. Primeiro você vai falar para essa pessoa / situa- 3 vezes. ção tudo o que te incomoda e te faz sofrer, os defeitos dessa pessoa / situação, tudo o que tu vê como Rosa Marta Gerber negativo/ruim etc. Se der vontade de xingar, dizer Master Reiki, Terapeuta Holística e Integrativa palavrões, deixe sair, pois tudo estará sendo trans- CRTH-BR 4952 ABRATH mutado pelo Divino Ser de ambos. Autora do livro REIKI LUZ-AMOR PARA CRIANÇAS. 3. O segundo passo é falar das qualidades que Minha Missão: "Reconectar cada Ser, ao seu Divino consegues observar nessa pessoa / situação (nem Ser, nas frequências da Luz-Amor". 124

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Saúde e energia ndo e vivenciar a espiritualidade, a partir de minha identidade de mulher rezadeira. O ofício de rezadeira ou benzedeira é uma prática de cura ancestral, atemporal, cultural, sem religião específica; saber popular plasmado no poder da natureza e da oração, que resiste aos avanços tecnológicos e medicinais alopáticos. Como me tornei rezadeira?

CLESLEY MARIA TAVARES DO NASCIMENTO Professora Adjunta e subchefe do Departamento de Geociências da Universidade Regional do Cariri - URCA. Coordenadora do grupo de Pesquisa Educação Holística: um olhar integral na formação do docente de Geografia, cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Geografia (PROPGEO) da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Doutora em Geografia pela UECE. Mestra em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará -UFC. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú- UVA. Rezadeira. Guardiã do Círculo de Mulheres Solar Beija-flor.

Rezadeira: Saber Tradicional do Sertão Brasileiro Essa prosa trata-se de um relato de história de vida que diz muito sobre minha forma de estar no mu-

Esse saber foi repassado pela tia avó Maria Lina. Embora eu tenha nascido no meio urbano, minha família é de origem rural do semiárido do nordeste brasileiro, assim os hábitos, costumes e medicinas do sertão (rezas, chás, lambedores, garrafadas, banho de ervas) sempre estiveram presentes no meu cotidiano, naturalmente, sem alardes ou extraordinariedades. Durante as visitas de minha tia avó à capital do Ceará ou nas férias escolares passadas na fazenda do meu avô, quando eu caía de uma árvore, uma das brincadeiras favoritas, e machucava alguma parte do corpo, isso era curado com reza para “triadura ” (triadura – termo usado na oração para osso trincado, quebrado ou contundido), minha tia rezava na parte do corpo lesada e depois emitia com precisão o diagnóstico, se estava quebrado ou era apenas uma contusão. Rezadeira renomada, suas curas não se restringiam aos familiares, se estendiam aos moradores do lugarejo onde morava, que a procuravam quando acometidos de males como, dor de dente, engasgo com espinha de peixe, dor de cabeça, quebranto, mau olhado, espinhela caída (esses três últimos mais comuns em crianças), erisipela e cobreiro, para cada um deles tinha um rezo diferente. Eu ficava encantada com a “mágica” da cura através das orações, e pedi para ela me ensinar aquelas rezas bonitas e curadoras. Comprometeu-se a repassar suas rezas quando estivesse mais velha e perto de morrer, pois se o fizesse antes disso suas orações perderiam a força. Então tive que conter a ansiedade juvenil e esperar ... Nesse ínterim presenciei o pedido de outras “candidatas” a essa herança imaRevue Cultive - Genève

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Saúde e energia terial, todos negados, esclarecia que já tinha pro- alma é algo historicamente presente nas mais divermetido passar o conhecimento das orações para sas regiões do mundo. Assim como o benzimento, há o reiki, passe espírita, johrei, chi kung, coupe mim. feux, dentre outras intervenções de cunho holístico Conheci outras rezadeiras, como a Dona Mun- no tratamento da saúde física, mental e espiritual. dita, que morava na rua da minha avó Carolina, rezava principalmente em crianças, era bastante Aqui no Brasil, apesar dos desafios, preconceitos respeitada devido sua conduta e o poder de suas e outros contratempos, as rezadeiras se mantêm orações. Tinham todas elas o mesmo discurso, di- ressignificando práticas tradicionais, abrindo esziam que não curavam ninguém, que quem curava paços nos meios acadêmicos, programas de saúde pública (Programa era Deus e a fé. InsSaúde da Família) tigante essa fala, e socioculturais. pois «Hipócrates, no século V a.C., Em 2019 tive a afirmava que “foroportunidade de ças naturais, dentro participar como de nós, são as verrezadeira, no III dadeiras curas de Encontro de Sadoenças”. beres da Caatinga, no sertão do AraQuando alcanripe de Pernamçou os 80 anos de buco – Brasil, que idade, mandou me tem como objeavisar que tinha tivo promover a chegado o momentroca de saberes to de repassar a entre raizeiros(as), reza, que estava benzedeiros(as), cansada, não tinparteiros(as) e poha mais energia vos da Caatinga, para curar as pessoas, e que a partir dali só rezaria Gratidão! em crianças, pois eram “menos carregadas” e por isso não exigiam tanto de sua já parca energia vital. Contribuindo para o fortalecimento cultural da Passou-me então as instruções: Utilizar 9 ramos de sabedoria tradicional nos processos de cuidado e plantas, rezar antes do por do sol e não cobrar pelo cura. Participam desse Encontro pessoas de várias benzimento, pois não podíamos cobrar por aquilo regiões do Brasil e países da América do Sul, como que nos foi dado. Nunca cobrou pela sua reza, mes- Argentina, Colômbia e Venezuela. mo passando necessidades financeiras, porém, era comum receber como agradecimento mantimen- Considero minha participação nesse Encontro tos, produtos alimentícios como galinha, ovos, como début entre as rezadeiras da Caatinga, foi muito emocionante ser reconhecida e validada por leite. elas. Aprendi muito sobre a rezadeira que habita em Admirava de sobremaneira a humildade e o al- mim e o que isso significa para e na minha travessia truísmo dessas mulheres, motivo decisivo para que nesse planeta chamado Terra. eu quisesse me tornar uma delas. Queria ser uma rezadeira como minha tia Maria Lina, mulher de “rezo” forte e simplicidade constante, sabia da indissociabilidade entre espírito e corpo, que a saúde de um depende da saúde do outro. Promover a cura não só do corpo, mas também da 126

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Saúde e energia 2.500 anos dos Temperamentos Musicais.

Dianna Therssia Aranha Ruas Profissional experiente na industria de hotelaria e resort com foco em Spas e Retiro de bem-Estar. As áreas de especialização incluem desenvolvimento de marca, atendimento ao cliente nos mais altos níveis de luxo, Medicina Tradicional Chinesa, Ayurveda, Medicinas Ancestrais, Treinamento e Operacional. Coach de Bem-Estar e medicinal nutricional e autorreguladora. Grande paixão por programas de Bem-Estar e equipes brilhantes

CURA PELA TERAPIA VIBRACIONAL

O diálogo entre o homem e a natureza. A filosofia pitagórica baseava-se no dualismo, especificamente dez dualidades, sendo a primeira e mais importante a relação entre o limitado e o ilimitado. Pitágoras foi o primeiro a expressar esse conceito em números e um de seus símbolos numéricos mais importantes foi a tetractys da década, um arranjo de pontos em forma de triângulo. A contribuição mais ampla de Pitágoras para a teoria musical foi a descoberta da relação entre proporções matemáticas e intervalos harmônicos. A afinação pitagórica é um sistema de afinação musical em que as relações de frequência de todos os intervalos se baseiam na relação 3: 2, conhecida como quinta perfeita “pura”, uma das mais consoantes e mais fáceis de afinar de ouvido. Como disse Novalis (Georg Philipp Friedrich Freiherr von Hardenberg, de 2 de maio de 1772 a 25 de março de 1801, um poeta, autor, místico e filósofo do Romantismo alemão primitivo), «As proporções musicais parecem-me proporções naturais particularmente corretas.» Alternativamente, pode ser descrito como a afinação do temperamento sintônico em que o gerador está na proporção 3:2.

Pitágoras se perguntou sobre a relação dessas proporções com o mundo maior. (A palavra grega para Pitágoras, o pai da Cura Sonora, era conhecido por proporção é logos, que também significa razão ou usar canções musicais como remédio. Provou que palavra), considerando que os sons harmoniosos certas frequências podiam não só libertar a negati- que os humanos fazem, seja com seus instrumenvidade como a raiva e ódio, mas também restaurar tos ou em seu canto, eram uma aproximação de e curar, ele entendeu que as frequências sonoras uma harmonia maior que existia no universo, tamcorretas eram as chaves não só para curar e recupe- bém expressa por números, que era «a música das rar doenças e fertilidades, mas também ajudando esferas”. a nos tornarmos versões mais completas, felizes e bem-sucedidas de nós mesmos, pois além de traze- Os pitagóricos “supunham que os elementos dos rem benefícios ao corpo, essas frequências também números eram os elementos de todas as coisas, que têm o poder de se comunicar eletromagnetica- todo o céu era uma escala musical e um número”. mente com o cérebro, melhorando sua poder men- As esferas celestes e suas rotações pelo céu produtal. ziram tons em vários níveis, em conjunto, esses

tons faziam um som harmonioso que a música humana, no seu melhor, poderia se aproximar. A música foi tornada numérica audível. A música era A ideia da centralidade da música e sua expressão a participação humana na harmonia do universo. matemática para a nossa compreensão da nature- Essa descoberta foi carregada de significado ético. za, um conceito chave em música e arte, ciência e Ao participar da harmonia celestial, a música pode filosofia. induzir harmonia espiritual na alma.

Legado pitagórico

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Saúde e energia Segundo Pitágoras, “o ritmo e a harmonia encontram seu caminho para os lugares internos da alma, nos quais eles se fixam poderosamente, transmitindo graça e tornando graciosa a alma daquele que é devidamente educado” Hertz é a medida de um ciclo vibracional por segundo, sons são formas de energia que afetam nossas moléculas e a cada frequência emitida, as células respondem agrupando-se em padrões diferentes. No meu novo curso “Caminhos dos Sintomas e da Dor” “A Cura Pela Terapia Vibracional” usamos os diapasons nos pontos de acupuntura, reflexologia e pontos gatilhos para promover a cura através da vibração sonora, a cada um dos 4 Temperamentos, (Fleumático, Melancólico, Sanguíneo, Colérico) tem associado seus pontos de acordo as suas conexões com os órgãos através do ambiente metabólico.

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GEOMETRIA E O DIA A DIA Christiane Couve de Murville Em geometria, um ponto representa uma posição no espaço, sem comprimento, largura ou altura. Se esticarmos o ponto para um dos lados, obteremos uma reta, representando uma dimensão, no caso o comprimento. Se puxarmos a reta em sentido perpendicular a ela, teremos um quadrado, formando um plano bidimensional, com comprimento e largura. Continuando com esse exercício, ao elevarmos o plano, chegaremos a um cubo tridimensional. O hipercubo de quatro dimensões, ou tesseract, se obtém na sequência, movendo-se o cubo em uma suposta direção perpendicular às três anteriores. Podemos chegar a uma representação esquemática de um hipercubo de quarta dimensão a partir de animações que mostram como ele seria, visto de diferentes perspectivas. E é curioso notar que, ao observar o hipercubo 4D, o cubo que vemos dentro e o que vemos fora estão constantemente trocando de lugar, movendo-se de dentro para fora e de fora para dentro, em um movimento contínuo. Temos uma representação de quarta dimensão onde tudo está em movimento, nada é o que parece ser, o dentro também está fora, o fora dentro, ambos alternando-se constantemente. Também existem representações ainda mais sofisticadas de hipercubos de dimensões mais acima, de 5D, 6D ou mais, que sugerem um centro aparentemente estático com, à sua volta, diversos hipercubos movendo-se, alterando lugares e transformando-se, em uma dança incessante. Mas o que tudo isso teria a ver com o nosso dia a dia? Será que podemos estabelecer algum paralelo entre as características observadas nessas representações de entidades geométricas e estados de consciência ou modos de perceber e compreender o mundo no qual vivemos? Quando com a consciência em um referencial tridimensional, percebemo-nos em movimento, em um mundo que nos parece fixo e perene, como o cubo

Saúde e energia também parado e fixo. Experimentamos a sensação de tempo passando e acreditamos no tempo linear, com passado, presente e futuro, nascimento, vida e morte. Vivemos em uma realidade determinada, estática e engessada, que consideramos única e a mesma para todos. Acessamos a quarta dimensão, quando consideramos e interagimos com um mundo invisível para o referencial 3D, mais sutil, com qualidades oníricas, onde o que pensamos acontece instantaneamente e onde se pode estar em qualquer lugar, a qualquer instante. Como na representação do hipercubo 4D, tudo pulsa, liga e desliga, é e não é, alternando positivo e negativo, afirmando e negando qualquer realidade ao mesmo tempo. Nem cabe tentar definir o que é bom ou ruim, pois esse tipo de julgamento deixa de fazer sentido, visto que a realidade que percebemos inclui céu e inferno alternando-se rapidamente no mesmo lugar e não podemos ficar apenas com 50% da vida, com a parte que mais nos agrada. Reparamos que estamos mudando sempre, em uma realidade igualmente em constante metamorfose. Não dá para querer manter um ponto fixo, ficar no mesmo lugar, em uma mesma realidade, apegado ao que se conseguiu agregar à sua volta, à imagem pessoal formatada ao longo dos anos, aos títulos adquiridos e tudo mais que criamos para a gente. Na consciência, o mundo interno está parado e tudo em volta está em movimento. As representações de hipercubos de dimensões superiores nos dão pistas de como a realidade é de verdade. Observamos que múltiplas estruturas geométricas em movimento coexistem, gravitando ao entorno de um centro sagrado fundamental. De modo semelhante, múltiplas realidades oníricas acontecem simultaneamente, bastando focalizar uma ou outra em específico para congelá-la e nos transferirmos para o mundo que chamou a nossa atenção. Mas quando saímos de uma visão de realidade fixa e única, percebemos o universo com uma infinidade de realidades possíveis, onde tudo existe ao mesmo tempo e está em constante metamorfose. As fronteiras entre os seres se diluem e acordamos cada dia em uma realidade, morremos e renascemos várias vezes. Pois, conforme mudamos de ideia, alteramos sentimentos, emoções ou pensamentos, adentramos uma nova realidade, pulamos para outra possibilidade de arranjo das energias que compõem o universo. Revue Cultive - Genève

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Cultive Atual

ASSOCIATION CULTIVE - CLUB INTERNATIONAL DE LITTÉRATURE D’ART ET SOLIDARITé Lança: Antologia Cultive Era uma vez um Anjo Um projeto histórico que será lançado no Salão do Livro de Genebra 2021. Antologia Era uma vez um Anjo Por que fler sobre anjos? São autores e não puderam baixar a cabeça diante da situação atual. Levantaram seus lápis e escreveram! Nada pode ofuscar sua criação! Produziram e criaram textos falando dos anjos que os cercam nesse momento e que são tantos ! São anjos amigos, anjos médicos, anjos entregadores de pão, anjos que mantém a cidade limpa, que mantém o alimento, anjos nos bastidores, anjos que telefonam, anjos que curam, anjos que se preocupam com o próximo, anjos que fazem campanha para ajudar o próximo, nos auxiliam nos nossos afazeres e a melhorar nossa saúde, anjos que curam, que nos ajudam a levantar o moral, anjos que oram, que cantam, que pintam, que encantam, que recitam, que tocam, que se arriscam, anjos poetas, até anjos animais, anjos, anjos, anjos.... Anjos por toda parte e em todo o tempo ou qualquer lugar e sempre presentes. Para esses anjos com asas ou sem asas foram escritas homenagens em forma de cartas, poemas, contos, mensagens de amor.

po, porém os autores guardarão seus melhores momentos e com muita emoção registram suas experiênicas nessa antologia histórica que a Cultive propõe. Contam sobre os seus pensamentos e sentimentos. Aliviam o coração, em histórias do presente nas quais foram protagonistas ou apenas testemunharam. Mesmo que a história não seja real, que seja apenas uma história de ficção centrada num anjo servindo de apoio, coragem e força para quem lê seu texto, ela vai trazer alento e mensagem de paz.

Essa Antologia vai criar asas angelicais com os texOs autores registraram momentos únicos que pas- tos escritos por anjos das palavras. Não deixe de saram e difíceis de serem esquecidos. Nesse mo- encomendar seu livro! mento as reflexões se acumularam e o que pensam mais sobre si, sobre o outro, sobre a natureza, sobre Era uma vez um Anjo, um livro que passa esperano que nos afeta e sobre a sociedade marcam a obra. ça, apoio e coragem para quem precisa. As lembranças ficarão mais suavizadas com o tem130

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Reserve o seu:


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Autores da Antologia ERA UMA VEZ UM ANJO Revue Cultive - Genève

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Autores da Antologia

ERA UMA VEZ UM ANJO 132

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Cultive EVENTOS NO BRASIL V Campanha da Felicidade Camurupim-PB III FEC - Alagoa Nova-PB II CICBS - Brasil CONCURSOS CULTIVE I Concurso Estudantil Internacional Cultive Prêmio Gilberto Freire Concurso Internacional de Conto e poesia

ASSOCIATION CULTIVE CLUB INTERNATIONAL DE LITTÉRATURE ART ET SOLIDARITÉ

CANAL CULTIVE YOUTUBE : https://www.youtube.com/channel/UCs4lSycWybAZfCNCEiTV93w?view_as=subscriber

Esse Canal, que entrará brevemente no ar, tem o objetivo de criar um espaço acessível para descobrir e incentivar artistas e autores, seja jovem, criança ou adulto. Nele, todos podem desenvolver seus talentos. Através da divulgação das obras, das criações dos autores e dos artistas, todos terão suas carreiras consolidadas. Esse canal servirá de ponte para a comunidade artística internacional. Através das múltiplas ações o canal pretende motivar a A Cultive está programando a agenda de eventos cultura e estimular a educação. de 2021. Autores e artistas brasileiros ou não podem entrar em contato se desejarem participar dos Apoio: eventos propostos. Association Cultive Club d’Art Littérature et Solidarité De 28 de abril a 1° de maio 2021 Revue Cultive 34° Salão do Livro de Genebra Revue Artplus Lançamentos de livros:

Agenda de eventos 2021

Antologia Era uma vez um Anjo Livros solos Exposição Imagem Poética Exposição de Arte Premiação: III Concurso de Literatura Cultive Adulto III Concurso Cultive de Literatura Infantil Exposição de ARTE da Galeria Artplus

Produção/Organização Valquiria Imperiano Jacqueline Assunção Henrique Ferresi Colaboração e parceria Chá & Poesias Com Elas - conduzido pela autora Eluciana Iris Almeida Cardoso

I Encontro Internacional Cultive de Cultura em Odivelas - Literatura, arte, música, artesanato Revue Cultive - Genève

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Cultive

Cursos Cultive realizados na sede da Cultive em Genebra

CONCURSO LITERÁRIO NACIONAL CULTIVE Resultado SANTA CATARINA CATEGORIA POESIA DE 12 A 14 ANOS

1° LUGAR

www.cultive-org.com 2° LUGAR

3° LUGAR

CATEGORIA POESIA DE 15 A 18 ANOS

1° LUGAR

2° LUGAR

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Cultive 3° LUGAR

2° LUGAR

3° LUGAR CATEGORIA CRÔNICA DE 12 A 18 ANOS

1° LUGAR

2° LUGAR

3° LUGAR

CATEGORIA CONTO DE 12 A 18 ANOS

1° LUGAR

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Publicações Traduções Diagramação Revisão Divulgação Isbn suíço Registro bilioteca Nacional Suíça Romance Contos Poesias Livros de Arte Livros Infantis Albuns personalizados Publicações comemorativas Revue Artplus Orientação aos novos escritores Revue Cultive Orçamentos sem compromisso contato: edicaocultive@gmail.com

PUBLIQUE SUA OBRA COM A EDITORA CULTIVE- EDITORA SUÍÇA Registro na biblioteca nacional suíça PRODUÇÃO E EDIÇÃO DE LIVROS ROMANCE POESIA ANTOLOGIAS LIVROS DE ARTE LIVROS INFANTIS ALBUNS PERSONALIZADOS BIOGRAFIAS PAPEL E-BOOK OUTROS SERVIçOS TRADUçÕES DIAGRAMÇÃO DESIGNER QUEM PODE PUBLICAR AUTORES ISNTITUIçÕES ACADÊMICAS ESTUDANTES NÃO AUTORES REVISTAS PRODUçÃO DA REVUE ARTPLUS REVUE CULTIVE TODAS AS OBRAS PUBLICADAS PELA EDITORA SÃO LANçADAS NO SALÃO DO LIVRO DE GENEBRA E EM OUTROS EVENTOS.

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INSCRIÇOES para a revista N° 2 ATÉ O DIA 30 /09/2020 N° 3 ATÉ O DIA 30 DE MAIO 2021 literatura arte atualidade contarto: revuecultive@gmail.com


Literatura

A DÃO ZINA

Inteligente mente Aberta conhece A poesia vazia Dita o poeta Desperta alerta Consciente de mente.

Nascido a 22 de Março em luanda, No bairro petrangol distrito do sambizanga (Ngola Kiluanje) , Filho de Agostinho Zina e de Josefa Maximiano. Formado em Contabilidade e Gestão,. Ao esquema da morte Bungula minha alma É Poeta e Escritor, autor do livro O SENTIMEN- Soltam-se os pés de cazumbi TO NA ESCRITA, seu primeiro poemario, Editado Vendados com véu de espíritos e publicado pela Editora do Carmo no brasil em Deambulando no espelho da alma. 2016 e depois publicado em angola em 2017 na catedral do livro, União dos Escritores Angolanos. Sombras acobertam Tem na forja o seu segundo e o terceiro livro de Reflexos da minha vergonha poemas com primazia o livro de poemas infantil Trajados com panos pintados em calundus todos eles virados para crianças. Ao som de um místico batuque.

ESPELHO DA ALMA

ANTES DE MIM

Rasgado farrapo Pó encarnado Lado a lado o fardo Sujeito eleito em peito. Dança á pança Corre em cores Negro ego Luta curta Justa luta Surda muda. Nascido lindo A arte em parte Joga agora em hora Roda força Nota solta em música. Tateando ando Em universo escrito Insisto existo Mundo mudo Fraco falho Em dom dado. Baralho malho Sabedoria ibrida

A minha alma Apodrecida em cheiro de carne Exibe-se no âmago da morbida vaidade Fotografando maturidades nuas Numa insônia medíocre. Macumbas no espelho da alma Xinguilam retratos em vôos Destinados ao paraíso de cegos Aonde trovejam virgindades Num selo tradicional.

EU SOU NINGUÉM Eu não sou Eu sou/ um rabisco em Pessoa/ Humilhado pelo tempo/ Este que se descreve em metáforas/ Diagramadas num exemplo de escritor aprendiz/ Sou poeta homem de alma nua/ Visto de um lado por outro/ Aberto como um livro ao vento Estudado pelo tempo/ Sou palavras descritas nos livros de reflexões/ Venerando memórias pintadas Em tons de luzes/ Holofotizadas Num celebre momento / Batizado com as salivas dos mídias. Revue Cultive - Genève

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Literatura

AMAURI HOLANDA DE SOUZA.

Formado em Ciências da Religião, bacharel em Direito. Psicopedagogo Clinico e Institucional. Professor concursado. Foi destaque em alguns concursos de poesia e conto no país. Ganhou um festival de musica com letra e musica de sua autoria. Participou como Conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará. Estudante de Neuropsicopedagogia.

O sertão Meu sertão é quente O sol é intenso O tempo inteiro Se pede chuva Para a mata ficar verdinha Sempre vem uns "doutores" de vez em quando Com promessas de que vai mudar Sobram votos... Mas nada de enrigar O meu sertão quando chove aí é que dá gosto de

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viver O sofrer desaparece Muita gente agradece Ao Senhor oferece A sua gratidão Em sua oração Da mais humilde expressão... O jeito nobre da fé Se envolver com o sofrer Do homem sofrido, mas honesto Do sertão com amor Sua dor se vai com a doce alegria de viver Da fartura que se vê em sua mesa todos os dias, com alegria Nasci aqui nas bandas do sertão mesmo Sei de cabeça a canção Que fala de boi e de saudade... Que sente o homem da cidade ao relembrar, por amar, sua terrinha distante... Os tempos da memória sem nunca esquecer Da felicidade que traz a boa lembrança do sertão, se envolver de coração Com muita emoção, Eu sei também que falta o Homem de terno e gravata assinar... Direcionar sua vontande Para o meu torrão ser ainda melhor Aqui se têm orquestra dos pássaros cantando o dia inteiro O céu é sem dono e lindo E os açudes são nossas piscinas gratuitas Ser feliz não é tão exigente assim Se têm frutas fresquinhas Na casa da dona zefinha Se toma um café delicioso Se ganha até de presente ovo de galinha e pata, e nata se quiser Não quero sair daqui por nada desse mundo A liberdade da vida simples me fascina As plantações Tudo aqui é natural Me perdoe agora seu leitor... Estou indo para aquela Serra que não ves, onde está meu amor me esperando na janela Para nosso encontro cuja passarela são as estrelas e a lua Nessa terrinha abençoada Que amo desde quando fui gerado e aqui batizado


MARIA INÊS BOTELHO POETANDO ENQUANTO A TEMPESTADE PASSA

Quando a tempestade passar... Quando a tempestade passar Abraços desejados serão dados, encontros esperados acontecerão. Será eliminado o vazio deixado pelo isolamento e a proximidade desejada acontecerá. Com o tempo posto de igual forma a todos, a felicidade acontecerá na medida certa, deixando de sermos prisioneiros de um vírus tão pequenino, mas que tem poder de causar dissenso e problemas de forma global. Será que após se vencer a validade deste vírus a vida será mais valorizada? Quando a tempestade passar será que a abertura provocará mais encontros, e os abraços ganharão mais força? Será que a presença de Deus será mais sentida em todos os momentos da vida? Será que teremos um mundo valorizando mais o Ser do que Ter? Será que a sensibilidade, que atingiu a todos de igual forma, fará com que os corações ditem regras e leis mais sensatas? Os homens serão mais felizes e prósperos no lançar ao espaço desejos de vida mais adequada aos padrões da humanidade? As respostas que estas perguntas poderão trazer terão que aguardar as portas serem abertas, autorizações de mobilidade serem postas, a luz solar novamente acalentar os dias e a presença de Deus der sinais de que é Maior e deseja o melhor para todos os homens.

Meus Olhos... Ah! Estes meus olhos, abençoados e alegres, que volvem vida a todos os lugares que alcançam. Ah! Estes meus olhos , ora azul cor de anil, ora azul esverdeado que se voltam a observar ao redor o que a vida de bom traz. É preciso registrar que os meus olhos vertem sorrisos porque o que há ao redor traduz paz, amor, harmonia, alcance do que se deseja. Tudo de bom, com eles, acontece em minha vida. Ah! Estes meus olhos... Que bom que assim são e agem! Que bom que trazem o mundo positivo às minhas mãos. Maria Inês Botelho Mandaguari (PR-BR), 19 de abril de 2019

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Literatura de pedinte. Disgusting, diriam os gringos de nariz empinados. Como não havia pensado antes, Aninha? Uma vez, eu me vesti de nega maluca, tive que pintar meu rosto, braços e pernas de tinta preta! Lavável, né? Mas valeu, fiquei linda com aqueles cachos negros e toda maquiada, você não lembra? Tirei o segundo lugar. Não fosse a Carol, de grega... Aninha e Mariana ficaram pensando quem seria aquela maluquete. Quanta coragem! A fantasia era realmente original e isso elas temiam. Não acha que a espertinha pode ganhar? Nem pensar, a nossa modalidade é luxo e a dela é lixo. Você é má, amiga!

NORMA B. DE BRITO Baile à Fantasia

A desconhecida não conversava, mas sorria muito, parecia feliz. Onde ela conseguiu uma máscara como aquela? Até faltam dentes. Se essa rua fosse minha/ eu mandava ladrilhar/ com pedrinhas de brilhante... Música preferida delas. Caíram no frevo. Intervalo. Os foliões cansados dirigiram-se às mesas. Senhoras e senhores, um minuto da sua atenção, por favor.

Dentro de alguns instantes daremos início ao Quase tudo para, ninguém trabalha. Ninguém não. Concurso de fantasias, todos devem conhecer as Os garis, donos e funcionários de pensionatos, ho- regras. Não precisam desfilar, os componentes do téis e restaurantes, estes sim, trabalham e também júri estão espalhados pelo salão, de olho em vocês! faturam muito. Passados uns quinze minutos, outro aviso: Pedimos É carnaval. Na TV, os desfiles de escolas de sam- aos que se inscreveram no concurso que se dirijam ba parecem inatingíveis. Nas ruas, os camelôs ao salão. Aos poucos, meninas e meninos com fanse enchem de alegria, suas barracas não deixam tasias brilhantes, originais e bonitas se aglomeraos foliões na mão: têm máscaras, fantasias, bijus, vam no salão, um ao lado do outro. O júri estava no confetes, serpentinas, brilhos coloridos, tubos de palco. Atenção, por favor. Vamos anunciar agora os vencedores. espuma. Estou ansiosa pelo baile, e você? Já comprou a fan- Sussurros, gritinhos nervosos, unhas roídas, muita tasia? Sim, mas é segredo, você só vai saber na hora. expectativa. Também não vou dizer qual é a minha. A melhor fantasia de luxo feminina é a de CleópaTodo ano era assim, a cidade em alvoroço ansiando tra de Marta Souza Mello. Parabéns. Fantasia rica, pelo Baile Anual de Fantasia no clube local. Bem, maquiagem perfeita, linda. Aplausos. Agora, na modalidade original, a fantasia Emília do sítio do os foliões. Pica Pau Amarelo de Luísa Santos. Vejam senO grande dia. Pierrôs, odaliscas, colombinas, ín- hores, o material usado nesta fantasia: palha, palidios, noivas, piratas, dentre outras. No meio da fes- tos de fósforo, tranças de cabelo de milho... Quanto ta, uma fantasia inusitada: a de pedinte. Uma ga- tempo você passou juntando o material? Um ano, rota, aparentando dezesseis anos, estava fantasiada eu acho. Pedi palitos a todo mundo que conheço. 140

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Muito bem, parabéns. Mais aplausos. Assim prosseguiu com a categoria masculina. Os ganhadores, Jorge Cortez fantasiado, de Rei Arthur, modalidade luxo. A de originalidade foi para o Corcunda de Notre Dame, de Fabiano Cruz. Nossos sinceros parabéns aos vencedores deste concurso. Agora, como fazemos todo ano, temos um prêmio surpresa - o Hours Concours - Senhoras e senhores, caros foliões, por unanimidade, o prêmio vai para a garota fantasiada de mendiga! Só não conseguimos ainda identificá-la. Não há inscrição para essa modalidade, mas os jurados decidiram considerar. Um rapaz levou a moça que já estava saindo à francesa. Ela parece muito tímida, senhores! Venha, você ganhou dois mil reais! Titubeante, subiu ao palco. Qual é o seu nome? Como você pensou nessa fantasia? É muito original! A garota baixou a cabeça. Me chamo Mundinha e não estou fantasiada. Ooooooooh! Surpresa geral. Muitos comentários. Mas uma pessoa começou a bater palmas e, aos poucos, todos o seguiram. Não estava pensando no prêmio, vim porque achei um convite na rua. Sempre sonhei em participar de um baile, queria ver como era. Onde você mora? Num barraco, perto do rio. Meu pai era lavrador, tinha até um sitiozinho e duas cabeças de gado, morreram na seca em Cabrobó. Antes, dava pra gente viver trabalhando na roça e com o apurado do leite. Eu estudava na escola rural. Aí painho veio mais mãe, eu e meus irmão tentar a sorte aqui no Recife. Não achou trabalho. Ele cata lixo e nós ajudamo ele, às vezes pedimo esmola pra comer. E agora? Opiniões divididas. Alguns protestos, outros se sensibilizaram. O baile por um momento virou um tumulto, todos falando ao mesmo tempo. Os jurados deveriam reunir-se novamente. Alguns instantes depois, a decisão: Mundinha ganhou o prêmio de originalidade no Hours o quê? Não importa agora, correu para dar o prêmio aos pais.

Outono

IZABELLA PAVESI

Folhas de outono

Pululam pela relva orvalhada Galhos secos Dias cinzas Flores envelhecidas Bancos vazios. Tempos breves, ítens dispersos. Só o leve balançar de brisas E de sonhos ondulantes.

Os Chamarizes Da Ganância Uma ligeira sacudida abriu a fenda No eixo da Terra. Eram demasiados... Os chamarizes da ganância de consumo, Por demais da conta luxos vãos. As vaidades desnudas se recolheram, E os almejados quereres também. Encerrados em si, por fim, Faces nuas se veem no espelho. Seres humanos se rendem a sua essência, Se entreolham na espiral da rotina Pare!... essa é a ordem. Se olhe! Perceba o flutuar de tua alma! Erga o olhar! Faça uma prece! E, que novamente, se agite a flâmula da Paz!

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Literatura

SALETE TIMBÓ A descoberta de Isadora Em um lugar bem distante vivia uma menina chamada Isadora. Tinha necessidades específicas, era carinhosa e amiga. Gostava muito de brincar e fazer travessuras, só não se interessava muito pelos estudos. Na escola a professora Elisa chamava sua atenção para as atividades escolares e ela pouco se entusiasmava. Em uma das atividades, a professora contou a história “O menino que cooperava”, destacando a importância dos dons e de como usá-los para ajudar os outros.

mais interessante, dava- lhe comida na boca, penteava seus cabelos carinhosa-mente como se fosse uma boneca, e assim sempre cuidava de sua vovozinha... A noite, Isadora, em seus sonhos, ouviu uma voz suave que ao seu ouvido dizia: ___ Menina, o seu dom é o mais sublime de todos os dons. O dom do AMOR. Ela ficou a imaginar e sorriu alegremente. No outro dia, ao chegar na escola. Isadora contou para a professora Elisa e seus colegas o que fazia todos os dias ao chegar e falou de seu sonho. Todos aplaudiram o lindo gesto de Isadora.

De repente as crianças começaram a falar do que A professora logo lembrou as crianças que cada um sabiam e gostavam de fazer. tem um dom, e esses dons são como sonhos que vocês guardam no coração. Todos os dias abram a Ariela falou: ___ Sei cantar muito bem, com minha portinha de seu coração e cuidem bem dos dons. voz alegro e encanto a todos. Os desafios fazem fluir os nossos dons que também são como sementinhas, joguem-nas sempre Milena disse: ___ Professora, eu sei escrever histo- em um lugar fértil e eles se tornarão realidades e rinhas e sonho em ser renascerão a cada dia. escritora. Neste dia, Isadora teve a melhor aula de sua vida. ___ Eu danço muito bem, quero ser bailarina – falou Cecília. Savio que ouvia atentamente interferiu: ___ Eu aprendi vários idiomas. Isadora ouvia calada, então a professora perguntou-lhe: ___ E você Isadora? ___ Não sei professora, até hoje eu não descobri nenhum dom. Ela pensou, pensou e ficou muito triste, por não apresentar seu dom. A professora Elisa gostava muito de Isadora e fazia de tudo para ajudar a menina. Entendia suas limitações na sala de aula, utilizava atividades de forma lúdica a fim de envolve-la e motivá-la. Isadora amava a professora! De volta para casa, como sempre fazia Isadora, ia direto para o quarto de sua vovozinha que vivia em meio a solidão. Isadora a levava ao ar livre, ouvia suas histórias e o 142

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Literatura ficaram perdidos ante à crueza do vilão, razão da incerteza, sem importar ao beija-flor. IV O mundo parou quase inteiro, quarentena era o novo sensor; rua vazia não é chão pro invasor. Na escola, só estava o porteiro; Comércio fechado dizia o letreiro, sem importar ao beija-flor. V Médicos arriscando a vida, enfermeiros, à luz do pavor, contágios soltos no corredor; à cruz da parede, prece erguida, rogando ajuda para a ferida, – nasceu em Toledo-PR (1953), formação superior; sem importar ao beija-flor. Presidente da Associação das Academias de Letras, VI Ciências e Artes do Paraná; Presidente da Acade- Via-se a morte na geometria mia de Letras de Toledo-PR; membro do Clube da avançar sem nenhum pudor; Poesia de Toledo-PR; coordenadora e fundadora velório proibido, enterro na dor, do Grêmio Haicai Sakura de Toledo-PR; Delega- placar do medo de cada dia, da da UBT – União Brasileira de Trovadores em mal pra Saúde, pra Economia, Toledo-PR; Coordenadora Geral da Revista Philos; sem importar ao beija-flor. poeta multipremiada em concursos literários. Tem VII O homem tornou-se mais solidário, livros publicados. trocou egoísmo por atos de amor. Até a natureza renovou seu vigor, animal e planta viraram cenário, entre o bálsamo e o fel do calvário, sem importar ao beija-flor. VIII Tempo sombrio da pandemia, de um vírus corona e migrador, ao príncipe e plebeu, traz dissabor. Em campo minado, a geografia Invisível e sorrateiro, entoa a mais triste melodia, o inimigo se sentiu senhor; sem importar ao beija-flor. sem arma alguma, o predador IX levou quem o testou primeiro. Para abençoar-nos do Vaticano, Avançou feito um vespeiro, seguiu sozinho o nosso Pastor. sem importar ao beija-flor. Via-se em Francisco certo pendor II por carregar o pesar humano Venceu muralhas, países a fio, aos pés do filho de um Deus soberano transpôs a linha do Equador; sem importar ao beija-flor. ocupou o palco e o bastidor, X atingiu plateia, artistas de brio, Em fevereiro de dois mil e vinte, marcou trilhas, nenhum desvio, início do drama assustador. sem importar ao beija-flor. Em novo ninho, no ramo em flor, III filhotes em coro, em tom pedinte, Fomos tomados de surpresa, esperam da mãe o inseto seguinte, sem manual e nenhum instrutor. zelo que importa ao beija-flor. O líder democrata e o ditador

LUCRECIA WELTER RIBEIRO

Não Importa ao Beija-Flor

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Literatura

PÉROLA BENSABATH PÉROLA MARIA MARIANI BENSABATH OIYE: nasceu em Salvador/BA. Recebeu prêmios literários no Brasil e em Portugal. Presidente Fundadora da Academia de Letras do Brasil/seccional Bahia. Verbete da Enciclopédia da Literatura Brasileira Contemporânea. Autora dos livros: Gotas de Pérola, Reflexos de Pérola, Só Pérola e Pérolas de Fogo. Comendadora e Embaixadora Humanitária da Paz do Word Parlament of Security of Peace. Diretora Secretária da Casa do Poeta Brasileiro/ seccional Bahia. Declamadora. Presidente do Movimento Nacional Elos Literários – MNEL. Gestora Cultural – Coordenadora das Coletâneas: ELOS LITERÁRIOS. MOVIMENTO e EXCLUSIVOS.

POESIA ETÉREA Soneto que não deixo escrito, não quero qu’ele me condene, não uso de talento ou rito e nem permito teor solene. Não escrevo, no entanto, à toa não é de minh’alma radiografia, nem a triste música que nele ressoa é muito menos u’a fotografia. Inspiração, hoje, está morta. Desisto da música, que já nem ouço Hoje, a rima é uma chave sem porta! Desisti do afeto, do homem que amei, já não o tenho como meu colosso e já nem lembro das rimas qu’escutei.

FILOSOFANDO

por recordações de sentimentalismos, crescimento, insanidade, desejo incontido, afeição, dúvidas e fé... Mas precisamos reconhecer em que “sala” os acontecimentos nos transportam, onde estão localizados no nosso ego, id, córtex, cerebelo e todos estes lugares-do-cérebro-símbolos-científicos-psicológicos da nossa alma imortal: em que plano, em que ambiente? Precisamos reconhecer onde estão localizados os verdadeiros “muros” que nos cercam. As verdadeiras “janelas abertas” que nos são oferecidas. Sem atender às mensagens opressoras, aos apelos do consumismo, sem nos deixar levar pelo desejo de sermos diferentes fisicamente do que nós somos sem nos abatermos ou nos vangloriarmos de sentimentos engrandecidos de vaidade. Não nos deixemos abater pelas “ilhas” em que vivemos, pelo mundo que nos transmite mistérios, inseguranças e medos... Tenhamos certeza de que um MUNDO MELHOR pode ser construído com SOLIDARIEDADE, e ESPERANÇA.

IMAGENS POÉTICAS IMAGENS POÉTICAS arcaicas, falsas, que não dizem nada. Vazias, descabeladas, insanas, loucas, tênues e imaturas, reunidas, em séries numeradas. IMAGENS POÉTICAS que acasalam, que se chocam, se afagam, que estremecem, que significam e indicam saudade... Uma IMAGEM devassa, corriqueira, mais donzela que meretriz enfeitada, escondida na maciez do cetim carmim... IMAGENS POÉTICAS transgressoras que findam e ressuscitam em atitudes inusitadas, amargas, irreverentes, zangadas! Ou que traduzem doçura, azedume, amargor e que choram o amor! Vingativas, sôfregas, contritas, incompreendidas, esperançosas, engrandecedoras, confusas, raras... Que se apresentem em tom de ocre ou que, em negritude, explodem num colorido apocalíptico.

Aprendi que mesmo cercados de paredes com janelas que descortinam um campo verde, ou com grades aprisionadoras, acompanhados ou sozin- IMAGENS POÉTICAS em sonoras rimas dançarihos, aquele não é o local em que nos encontramos. nas no seu linguajar de poesia... simplesmente caA verdadeira “sala” que ocupamos é construída lam e permanecem apoteóticas... pela memória, pelos relacionamentos, por fatos, por todo tipo de forças invisíveis. Às vezes por ilusões e sonhos. Às vezes ira, revolta, inconstância, desamor, solidão e influências. Uma “sala” ocupada 144

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Literatura

Ne u s a B e r n a d o Coelho PRESENÇA DIVINA Vejo Deus em cada esquina A cuidar dos filhos seus Presença divina... Entre crentes e ateus Sou cristão e acredito Na sua santidade Criador do universo infindo Pai da fraternidade Na sublime fonte da criação Vejo a criança nascer A natureza crescer E Deus em cada irmão Os rios descerem às montanhas Até ao mar adentrar Pujança de água cristalina Exuberante salitrar Beija-flores, borboletas e afins Ao teu reino dão boas-vindas Arte sensível colorida A bailar nos campos e jardins Mensageiro da boa nova Mestre dos mandamentos Em cada oração, o acalento Onde a fé se renova O evangelho guia o povo crente Narra a vida de Cristo e ressurreição Ao espírito onipotente Rogo paz e proteção Oh Deus, faça das ruas o dossel Onde clama a humanidade Brilhe tua luz e bondade Assim na terra como no céu.

MARGARIDA MACIEL ALMEIDA RAMALHO

foi contrabaixista do conjunto musical feminino e filantrópico “uirapuru”; lançou seu primeiro cd, entitulado “dádivas”, a música dádivas” (primeiro lugar no femusic. compôs diversas outras músicas sacras, hinos de paróquias .Pós -graduada em gestão escolar, professora, historiadora, bibliotecária e sócia-fundadora da sopoespes – sociedade dos poetas e escritores de pesqueira.

MINHA PESQUEIRA Se você não viu ainda O céu encontrando a terra E beijando aquela serra Tão linda do ororubá Se você não viu ainda Por trás da serra, a brancura Das lindas noites de lua Que na minha terra há Se você não ouviu ainda Da passarada o canto As flores, os mil encantos A alegria lhe embalar E se não conhece ainda A renda e a rendeira O doce e a doceira Não fique a imaginar Se não caminhou ainda Prá os pés da virgem maria das graças Que aquele monte abraça Numa harmonia sem par E se não sentiu ainda O aconchego gostoso De um povo generoso Que lá se pode encontrar Vá nos ver de perto E você verá, fique certo Como pesqueira, não há. Revue Cultive - Genève

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ISABEL FURINI

DESÍGNIOS DO TEMPO

O gesto e o navio é escritora, poeta e pa- o mar e o temperamento arredio lestrante. Autora de 35 li- sobres ambos as âncoras do passado vros. - o passo do tempo modifica o gesto e o navio a juventude se afasta DANÇAR NAS SOMBRAS e a velhice mostra suas rugas seus medos e seus terrores noturnos dançarei quando as sombras mais profundas tentem afogar a minha alma MAGNUM OPUS porque a dança desata torrentes de emoções O poeta faz acrobacias nos trapézios de arqueolóe sorrisos gicos alfabetos sem necessidade de articular palavras. coloca emoções ideias palavras afetos conceitos no alambique do coração constrói um atanor de versos na cabeça RETICÊNCIAS... reinventa rimas estuda fórmulas antigas da alquimia Quem se apoia nas reticência mergulha na subjetividade para escrever e para socoreografa o silêncio breviver e avança três passos rumo ao vazio pois os três pontos interrompem todos os poetas (bruscamente) as águas do rio (admirados – portentosos – ignorados ou desprezados) e o que é a interrupção? todos os poetas fazem parte de uma espécie de é a suspensão, a espera ou a ausência seres muito estranhos dançando ao som do bandonião poetas sãos seres mutilados como o som do arrabalde pois para realizar a Magna Obra ou um tango antigo que escorrega não é suficiente poetizar oceanos pelos muros da emoção. nem perseguir os voos dos urubus nem misturar o sal o mercúrio e o enxofre nem dançar entre as plantas de bambu é necessário devastar o próprio coração desamparado A FRAGRÂNCIA DA ROSA com o poder do veneno da cobra real reerguer-se das sombras do mundo astral Uma rosa pode corroer a negatividade e nutrir-se do coração do nada e roer os calcanhares da noite porque a beleza da rosa se aferra aos muros e desperta sentimentos puros a fragrância da rosa pode atravessar o medo e a escuridão e expandir amor na imensidão do universo.

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o poeta precisa socavar o próprio coração (mantendo o oceano do amor inalterado) para realizar a Obra Magna.


Literatura

ELUCIANA IRIS ALMEIDA CARDOSO De Belo Horizonte, Brasil. Escritora, poeta, nutricionista, Bacharel em Direito. Vice Presidente da Academia Mineira de Belas Artes; membro da Academia Luminescense Francesa e da Academia Núcleo de Letras Y artes de Buenos Aires, da Associação Cultive e da AJEB MG (Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil). Autora do livro Comidas Afetivas & Poesias Combinação Perfeita, e participação em diversas antologias. Recebeu o título de Doutora Honoris Causa em Dietoterapia e Nutrição Clínica 2020. Idealizadora do Chá & Poesias Com Elas às segundas feiras. Eluciana é uma dessas pessoas que se envolve com a literatura. Além de escrever ela divulga autoras e livros no seu Chá & Poesia Com Elas que apresenta no Canal do Youtube. No Chá & Poesia Com Elas, Eluciana fala da obra de uma autora, ler um texto do livro apresentado. Poesia, livro infantil, contos ou romances são comentados por Eluciana enquanto degusta um chá. Esse canal é aberto às escritoras e Eluciana as recebe com muita simpatia. A visitar youtube: https://youtu.be/ileEBx4NpNI instagema: @elucianairis

Sentir a plenitude da vida, descortinada para os aplausos internos.

LOUCURA OU LUCIDEZ Sensação de estar vivendo em outro planeta Nas ruas o cheiro do medo Da insegurança Armas invisíveis, destroem os quatros cantos do planeta Desconhecem a Convenção de Genebra Destroem famílias Não perdoam mulheres Não perdoam idosos Não perdoam crianças Sem regras Impiedosas Insensíveis O mundo acabou e não percebemos?

INCERTEZA Talvez a incerteza de um gesto seja flecha mortífera Quantas vezes o veneno alheio me acerta Tenho resistência Antídoto natural De onde vem a imunidade? Incerto Intrigante Não sei

Certo que sobrevivo Nas veias correm sangue de guerreiras e guerreiros SIMPLICIDADE Na linha de frente gigantes e titãs Com escudos de aço combatem as invasões A simplicidade está na percepção de quem vê, ouve Nas batalhas, enfraquecem, curvam se, ajoelham se e sente O simples paira no ar Feito relâmpago Escorre pelo chão As Forças renovam se Impregna as pestanas Agigantam se E na batalha diária fazem que eu tenha um novo Feliz aquele que blinda seu corpo contra as armas suspirar da amargura Permite-se sorrir Confiante Cantar Resistente Contemplar Envolvente E por várias horas amar Despertam as emoções outrora envenenadas e por E nas horas vagas, conectar-se com a natureza ora transformadas em luz, amor, calor, vigor. Despido de predefinições e preconceitos Revue Cultive - Genève

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Literatura car quieto. Olhando bem firme para os olhos do estranho, disse: - O de casa está aqui! O que vosmecê deseja? Seu Jorge, com muita educação e respeito, tirou o chapéu da cabeça, comprimentou seu Etelvino: - Seu Etelvino, eu soube que o senhor é benzedor de fazendas empestadas de cobras. Me disseram que quando o senhor benze, as venenosas vão embora. Será que o senhor poderia benzer minhas terras? As venenosas estão matando muitas cabeças de gado lá. Só este mês já morreram 6 animais. Todos picados pelas peçonhentas. Estou aqui para pagar o quanto o Senhor cobrar para benzer o meu pasto. Seu Etelvino, coçando a cabeça muito devagar, com a fala bem mansa, retrucou:

Izabel Hesne Marum

, natural de Nova Europa, interior de São Paulo. Mora atualmente em Florianópolis. Dedica-se a escrever histórias infantis, coletâneas, contos e crônicas. Seus livros infantis publicados são: "A Luna da Lua", "A bruxinha que virou sereia", "Cotinha a Galinha Dengosa" e "O boi de mamão (verde)".

O BENZEDOR

Seu Etelvino Arueira Valente morava no cantão de Goiás, divisa com Mato Grosso. Homem de pouca estatura, poucas palavras, mas, muito crente em Deus e em Nosso Senhor Jesus Cristo! As 11 horas da manhã, seu Etelvino ouviu palmas na porta da sua casa. Uma voz bem forte chamava: - Ô de casa! Ô de casa! - E as palmas continuavam sem parar. Leão, o cachorro de seu Etelvino, chegou perto do estranho, abanando o rabo, e lambeu a bota daquele senhor, que tinha aspecto de homem rico, e era muito bem educado. Seu Etelvino foi chegando passo a passo, pitando seu cigarro de palha, pedindo para o cachorro fi148

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- Como é vosso chamado? -Eu me chamo seu Jorge Miguel e moro muito longe daqui - respondeu o moço. - Seu Jorge, vosmecê primeiro entra por riba da minha casa. Vamos entrando que quero lhe perguntar umas coisas pra vosmecê. Pode sentar perto do meu fogão de lenha, tem bastante brasa acesa. Quero que vosmecê pegue uma brasa pequena e assopre ela até apagá-las em suas mãos. Se vosmecê conseguir apagar, nós vamos conversar. Seu Jorge, sem entender o que o maluco benzedor queria, foi entrando e sentando perto do fogão de lenha, pensando na fria que tinha entrado. Pensou “brasa nas mãos? Eu hein!!”. Mas, quando lembrou dos seus gados mortos pelas peçonhentas, não titubeou. Foi chegando no fogão, procurando a brasinha mais pequena, e numa fração de segundos pegou-a, assoprando avidamente, pulando de uma mão para outra, até conseguir apagar. Se queimou um pouco, mas, valeu a pena. Quando tudo virou cinzas, seu Etelvino disse: - Não deixe as cinzas cair no chão. Venha até aqui, seu Jorge. Sente-se perto da porta e deixe eu ver suas mãos. Seu Jorge, com as mãos abertas, um pouco tostadas, branco como cera, sentou-se perto da porta. Seu Etelvino, rezando sua rezas bem baixinho, foi tirando as cinzas das mãos do seu Jorge bem


Literatura devagar. Depois de 10 minutos de rezas, benzeduras e cochichos, parou e disse: - Seu Jorge, o senhor é uma pessoa benta, as cinzas me disseram que posso ir benzer os vossos pastos. As cobras são minhas companheiras. Elas só fazem o mal para as pessoas maldosas. Suas terras foram invejadas. O senhor nunca as matou, e por isso eu vou até lá para benzer suas terras. Após isso, seu Etelvino falou:

- Olhe para o chão e não tenha medo.

Quando seu Jorge olhou, tinha 2 baitas cascavéis, uma do lado da outra, bem perto da sua cadeira. Seu Jorge, branco como cera, ficou paralisado, e, mesmo que quisesse, não se mexia e nem emitia nenhum som. Seu Etelvino, rezando suas preces e benzendo por cima das peçonhentas, foi fazendo o sinal da cruz,e elas foram saindo devagarinho.

eu vim. Depois que eu morrer, não vai ter mais ninguém para salvar estas bichinhas. Mas, Deus é bom. Um dia ninguém mais vai matar minhas parentes. Seu Jorge balbuciava: -Sim, é… sim senhor… é… sim... Seu Jorge quis pagar seu Etelvino, mas aquele estranho homem recusou, dizendo: -Esse dinheiro, vosmecê dê para os pobres. Dê para aquele que mais precisar. Agora eu me despeço de vosmecê e lhe abençôo.

Seu Jorge, pela primeira vez na vida teve um ímpeto incrível. Pegou as mãos daquele benzedor de cobras, o profeta das cobras, ou sabe-se lá o que e beijou-as com muito respeito. Passaram muitos anos e seu Jorge, já bem velhinho, contou-me esta Seu Jorge sentiu uma pontada bem forte na bar- história. E… depois do acontecimento, nunca mais riga, e depressa perguntou para seu Etelvino onde morreu gado mordido de cobra. Sempre que se faera o banheiro. lava nesta história, seu Jorge sorria e dizia: Após seu Jorge ter ido no banheiro, os dois se deslo- - Fui benzido pelo benzedor de cobra, caram para a fazenda. e quando eu morrer, vou ver no céu o santo que Seu Etelvino, chegando na fazenda disse: amava as cobras. - Vosmecê tem que tirar toda a gente das suas terras. Não pode ficar ninguém. Avise todo mundo! Pois se alguém ficar, um dia vira cobra. E vosmecê vem comigo só até a entrada das suas terras. Após isso, o senhor vai embora, e só volta aqui depois de dois dias. Acompanhando seu Etelvino até a porteira da fazenda, seu Jorge despediu-se dele. Saiu devagarinho pensando naquele homem tão estranho. Depois de dois dias, seu Jorge, ainda assustado, chegou na entrada da porteira e viu seu Etelvino, fumando seu “pito” com a mesma tranquilidade de sempre. Os dois ficaram em silêncio por minutos, quando finalmente seu Etelvino falou: - Seu Jorge, vosmecê pode ficar tranquilo. Minhas companheiras já se foram e por muitos anos elas não voltarão para suas pastagens. Ninguém vai padecer de mordedura delas. Agradeço vosmecê por nunca ter tirado a vida delas. Por isso

Revista Artplus impressa, bilíngue francês /português Participe da próxima edição 2021 edicaocultive@gmail.com Revue Cultive - Genève

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Literatura experimentei o murmúrio acompanhado de lágrimas. Passei a escutar a dor – ah, sim ela tem som – convocando a energia presente pelo benefício da calma. E assim adormeci e sonhei que estava curada. Um bálsamo tomou conta do corpo dolorido e a alma feliz saiu pululando no espaço. Não sei se a experiência própria já fez outros protagonistas. Luiz Gonzaga, o grande mestre da sanfona, aboiava – diziam – para libertar-se das dores provocadas pela osteoporose que o consumia. Gonzaga não foi vaqueiro, mas cantou a aventura de ser, assim como a faina dos nordestinos pela sobrevivência. Hoje, a dor tem como causa o medo: pela vida, pela família. A dor é mais moral do que física, sendo assim, nem a Medicina e muito menos os medicamentos irão curá-la. No entanto, o remédio nós sabemos o nome criado pela nossa invenção. Tem quatro letras apenas, um resumo para algo tão grandioso que nos foge a compreensão: amor. Fátima Abreu

Ser madura Amadurecer... ah que pausa boa nas perspectivas conflitantes da vida. Como é bom flagrar em si o afrouxamento das rédeas das situações que nos circundam, das quais ainda agentes ativos, mas sem querer ser a única mão que aperta o laço. Que ter sempre razão é cansativo, que ser feliz é a Ficou ali quedada a observar o quarto vazio. meta sob quaisquer circunstâncias, sem negligenNunca um lugar foi tão preenchido de saudade. ciar com o dever que abraça. Achava esquisito não ouvir a resposta da conversa Que a frase “deixa pra lá” é mais bem vinda do que contínua que tinham. “deixa que vou resolver isso”. O sorriso na foto - que não será renovado - e as Que deitar na rede à noite, depois de um dia lonmãos quentes que aliviavam o frio nos pés. go de trabalho, é traduzido como um dos maiores A solidão chegou sem convites e não se obriga à prazeres. retirada. É mostrar os braços sem tentar explicar a pele que A morte tem esse poder de trancar a vida. se distende. Fátima Abreu É reunir amigos para um longo bate papo e dar altas risadas sem se preocupar em demonstrar isso. É banir o juiz que julga, julga, julga... Amadurecer não é o entardecer da existência. É, na verdade, a contemplação do que pode ser. Fátima Abreu Minha mãe costumava dizer que a dor ensina a gemer. O gemido seria um mantra solicitando alívio. Pode até não ser considerado analgésico, mas já

FÁTIMA ABREU Viuvez

A dor ensina a gemer

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Literatura

JP SANTSIL

foi ofertado pelos deuses tecnológicos exigia de nós sabedoria para possuí-lo. Essa poderosa espada mágica Kaledvouc’h como se outrora pensava, estava inacessível ao grande público há tanto tempo, encrustada na grande pedra, pelo nobre motivo daquele a quem seria o seu possuidor, ter que passar por ensinamentos de vida rigorosos, pelo o seu espírito e o seu coração fossem metiA UNIÃO DO COMPLEXO qual culosamente testados. Só assim, teriam a primazia de obter a força dos deuses para puxar a espada MEDO ATRAENTE da grande pedra. Essa sagrada espada é raramente Penetrara no karma atual da moderna sociedade denominada “Excalibur”, e é retirada por Arthur virtual em que nasceu, cresceu e ainda vive, mer- como símbolo milagroso de sua Nobreza e direito gulhado numa atmosfera de medos e complexos ao trono da Bretanha. que lhe foi imposto por uma sociedade de valores hipócritas e sentimentos ilusórios. Essa triste “rea- Entretanto, agora se questionara: Será que todos lidade” que até então vivenciava, teve sua extrema possui esse direito e nobreza do Rei Arthur? abrangência com o poder que lhe foi outorgado Fomos preparados e disciplinados para empunhar através da internet e seus recursos digitais. Passara tamanho poder? em muito pouco tempo de um simples telespectador para um aspirante astro internauta autodida- Virtualmente, se deparou com os muitos casos de jovens que por uma simples brincadeira nas redes ta. sociais, acabaram causando dor e destruição a si Através da internet e suas redes sociais, como um mesmos e aos outros. Como foi o caso da menina cyberpunk moderno, percebeu que a espada en- russa de 17 anos que morava nos Estados Unidos, cantada cravada na grande pedra, não pertencia que filmou um ato de estrupo em um aplicativo de somente ao lendário e valente Rei Arthur e seus postagens de vídeos, com duração de nove minucavaleiros da távola-redonda, como era antes o tos, só para obter likes. Intentara que naquele mocaso monopolista da grande mídia. Agora sabia mento durante a filmagem, a jovem poderia usar o que também ele obtivera o direito de possuir sua seu dispositivo para pedir ajuda ligando para políprópria espada mágica, e, foi encantado e possuído cia, ou um adulto responsável, também notara, que as pessoas que estavam assistindo o vídeo online, por ela. No início não podia prever as consequências de tal em vez de dar likes, poderiam aconselhá-la para poder. Tudo era maravilhosamente maravilhoso. impedir aquele ato brutal. Que alcançou milhares Estava perplexo diante dos inúmeros portais má- de visualizações. gicos que lhe fora aberto por esses dispositivos radiativamente encantados, onde tudo começou com Daí, meditara, que o poder sem a responsabilidade o poder telepático de enviar e receber nossos pen- é cegamente egoísta e brutal. samentos, desejos e sentimentos nos virtualizando em palavras, falas e imagens. Abrangendo nossas Entretanto, dualisticamente, não esquecia ele, que perspectivas limitadas, além dos nossos vínculos Excalibur é uma espada pontuda afiada de dois sociais mais próximos, alcançando o desconheci- gumes que corta, penetra e dilacera. Podendo afasdo em milésimos de segundos, entre os milhares tar as pessoas, ou uni-las. Mas, nesse bidimensioquilômetros de distâncias. Até o Mago Merlim se nal mundo de algoritmos binários computacional aqui entre nós, nesse momento, estivesse, ficaria e ilusório, afirmava ele somente conhecer causas e impressionado com tamanho poder e proeza ou- efeitos mecânicos, e nunca as Sagradas Leis Naturais em si mesmas. Por isso, que ao unir as pessoas, torgado a todos. afastava a solidariedade entre elas, em que camuflaPorém, a espada de Arthur continha dois gumes e do e protegido em sua privacidade, por detrás das telas negras caleidoscópicas brilhantes, o indivíduo cortava dos dois lados. se julgava ir além do respeito e dos sentimentos Percebeu-se ainda, que, não tarde, o poder que lhe fraternos, soltando sua naja língua pensante, em Revue Cultive - Genève

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Literatura seus rápidos dígitos dedos, envenenada nos seus mais mesquinhos sentimentos obscuros de inveja, cacoetes, ego e porcas maldades. Que no mundo fenomenal das aparências, só percebia bidimensionalmente ângulos e superfícies, e nunca o integral das coisas. Obviamente, ele sabia que a dialética da consciência da proximidade física dos corpos pensantes, que tudo entende por intuição, através das palavras audíveis, figuras simbólicas, gestos, movimentos, olhares e expressões voluntárias e involuntárias fora cruelmente ofuscada pela dialética racional do intelecto presente nas redes sócias, fóruns e plataformas proprietárias de mensagens instantâneas baseadas em nuvem, que nada tem de essência natural humana, e sim, apenas o ilusórico poder formulativo de ideias e conceitos lógicos preconcebidos, que por mais brilhante que seja, e por mais que se julgue de qualidade e de utilidade nos inúmeros aspectos da vida prática e cotidiana, nada tem de valor para existência e ecologia humana, resultando apenas em obstáculos subjetivos, incoerentes, torpes e pesados para nossa simbiose como seres fraternais coletivos, e que nada tem de verdade. No fim, diante da verdade, percebeu-se sendo o pobre poderoso, precisando de alento (likes, em legais polegares opositores), precisando de algo que o anime (coraçãozinhos vermelhos, e rostos redondos sorridentes amarelados), sentiu-se com o ego demasiadamente forte e personalidade terrivelmente débil, por sua própria mesquinha natureza apodrecida em si mesmo, encontrando-se numa situação completamente desastrosa, e sem vantagens, em que o sono lhe foi roubado, a ansiedade descontrolava as batidas do seu coração, e a vaidade tomara o controle de sua alma, tendo a depressão como amante e companheira.

tir os muitos lugares paradisíacos, ou nos aventurar em trilhas, escaladas e caminhadas nos ditos ambientes naturais e ecológicos. Essa coisa alheia que hoje denominamos “NATUREZA” era intimamente o único e o primeiro mundo vital e cultural que existíamos. Nossos antepassados não só viviam em contato íntimo com as outras criaturas vegetais, animais e inanimadas, como se comunicavam diretamente com os seus espíritos e coração. Daí que surgem as fabulosas histórias e contos de fadas, gnomos, duendes, devas, ninfas, curupiras, orixás, anjos, caboclos, entre outras inúmeras manifestações do que hoje classificamos como “espíritos inorgânicos da natureza” em diversas culturas humanas espalhadas pelo mundo. Por isso, ficou muito difícil para o seu entendimento humano separar a sua espiritualidade, cura e boa qualidade de vida da Mãe Natureza. E, entendeu o porquê dos diversos movimentos esotéricos, xamanísticos, taoístas, hinduístas, budistas, cabalistas, sufistas, gnósticos, wicca, candomblé, entre outros da busca da espiritualidade, como também os movimentos de cura, saúde mental, e medicina ancestral e alternativa se situarem em ambientes naturais abertos e ecológicos.

Nisso, percebeu que ao longo do nosso rigoroso processo civilizatório, em que gradualmente nos separamos do nosso natural habitar, que o SAGRADO em nós foi naturalmente esquecido. Deixamos de ouvir as MENSAGENS DOS VENTOS, paramos de falar a LÍNGUA DAS ÁRVORES E MONTANHAS, abandonamos o afeto de SENTIR COM O CORAÇÃO, e os nossos olhos se cegaram para o MUNDO INVISÍVEL. E, para piorar mais ainda a sua situação, vira que como espécie se transformara no pior predador que já existiu em todos os tempos, ‘Satânico Aniquilador’ das muitas culturas E no seu estado deprimente, porém, contempla- existenciais em todos os aspectos da natureza, e, tivo, sabia ele que nos primórdios da nossa exis- dele mesmo. tência como uma das muitas espécies que habita esse ecossistema terráqueo, éramos simplesmente Meditara ainda mais profundamente de que como um ser coabitando e interagindo com os outros espécie, nos tornamos existências humanas deseninúmeros seres aqui existentes. Não víamos a na- cantadas, prisioneiras de nós mesmos em frente tureza como esse belo quadro pintado a óleo ou a uma tela Touch Screen de valores, e, de falsas aquarela, ou como as ‘pixeladas’ imagens digitais concepções virtuais, mendigando uma irreal atenno fundo dos nossos desktops eletrônicos e dis- ção em salva de palmas, likes e emotions de corapositivos móveis. Não ansiávamos pela chegada çãozinhos vermelhos, rostos redondos amarelados do tempo limitado do fim de semana para passear (caras de bolachas) e legais polegares opositores. com a família nos bosques e pradarias, e nem tão Vira que as proximidades humanas se basearam pouco esperávamos a chegada das férias para cur- em distantes conexões WI-FI, em que ignoramos 152

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Literatura cruelmente os nossos presentes íntimos entes queridos a nossa volta, em ser um direto participante na criação do Aqui e Agora, para nos tornar um observador e um observado distante do passado alienado dos desejos, anseios, críticas e felicidades do desconhecido “amigo” internauta. Preferimos viver solitários com políticas de privacidade essa virtual ruptura do contato natural, nos separando plenamente do sentido existencial da vivência humana, e minimizando a nossa consciência social, afetiva e emocional ao estado simplista do observador e do observado, e de que a tecnologia não promove e nunca promoverá, assim, como, as propostas da comunidade científica, uma fusão harmoniosa com a existência humana e a natureza. Sua meta desde a revolução industrial é unicamente modificar. Acreditando melhorar, otimizar, maximizar, implantar, oportunizar e assegurar um conceito evolucionário de humanidade ciberneticamente supranatural, onde poderíamos viver sem depender dos recursos naturais e afetos sociais para nossa existência. Para assim, em vez de (como eles acreditam) subsistirmos, ‘sobre-existirmos’ na lua, em Marte, ou em uma cosmológica galáxia distante como prega e aliena a NASA e Hollywood. Sentira que perdera a simplicidade da vida e o seu primeiro amor, e se tornara um ser imediatista, arrogante, conformista, impaciente, tempestuoso, depressivo e penoso. Ignorava suas crianças, e assim, fazia com que elas o ignorasse, transformando-as no subproduto mesquinho dele mesmo. Nisso, vira que ignoramos os nossos semelhantes como nunca antes já vivenciado no mundo, em todos os tempos de nossa comunal existência, ofertando para os nossos irmãos e irmãs o que tem de pior em nós mesmos. E, dessa forma e maneira, acumulamos dores e sofrimentos para o nosso último sopro de vida, e assim, morremos existencialmente porque matamos nossa essência dentro dos nossos filhos e filhas, chegando a tal ponto de não mais nos perpetuarmos nos novos corpos. Percebera que a verdadeira expressão para o mundo tecnológico de hoje é ABSOLUTA TRISTEZA. E isso dói na alma… adoecemos! E o pior é de que não sabemos que estamos existindo enfermos. Acumulamos muitos bens do Aqui e pouca coisa do Agora, e a Magia da Alegria abandonou a Morada do Coração, e o Sagrado Entendimento que em tudo dança se ocultou. Então, eis a questão e desafio existencial da nossa cultura humana: ATÉ

QUANDO FICAREMOS CALADOS E INERTES, TRANSMITINDO PARA AS GERAÇÕES FUTURAS ESSA GRANDE DEPRESSÃO EXISTENCIAL, PELO QUAL NOS CONVERTEMOS NO TIRANO PROBLEMÁTICO DESTRUIDOR DA BELEZA DE TODAS AS COISAS? Entretanto, quem se movimentará e falará com loucura e paixão para o despertar da grande massa? Quem será esse novo Meshiach e Avatar? Mas, enquanto ELE ou ELA não chegar ficaremos inertes, atrofiando nossa mente e coração nas telas e internet? Imbuído nessas íntimas e totalitárias questões, analisara que os desafios para o retorno do SAGRADO em nossas vidas são tremendamente numerosos. E, contemplando todo aquele panorama, se viu com sua poderosa espada na palma de sua mão, a mágica Kaledvouc’h, o espelho negro. E como um pedaço de madeira arrastado pelo rio, tentando resolver as coisas por sua própria conta, reagindo ante qualquer dura palavra, qualquer problema e qualquer dificuldade, lamentavelmente, o medo empoderou o seu ser, fabricando nos cinco cilindros da máquina orgânica, em que lhe compunha e que o seu SER habitara, os inumeráveis multifacetados eus-demônios, aplicativos escravos de si mesmo.

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Literatura

EDSON SANTANA DO CARMO

ainda era muito comum; carrego dentro de mim toda esta bagagem de relacionamentos e amizades. Nas minhas férias escolares, eu me transportava para São Sebastião e Ilha Bela, onde o meu contato com o mar era ainda mais intenso, eu saia bem cedinho da casa da minha avó, no bairro Topolândia em São Sebastião, atravessava a balsa que ligava o continente a Ilha Bela, e por lá na maior liberdade possível, perambulava saindo da Barra Velha até a Igreja Matriz de Ilha Bela, passando pelo Perequê, onde morava a minha outra avó, por parte de Pai, pelo Campo da Aviação, pelo Engenho d’agua e finalmente chegava ao meu destino, e isto já avançava na parte da tarde, retornando então para São Sebastião, pela barca que ligava a Vila de Ilha Bela com o continente.

Foram anos e anos nesta rotina, que tinha também uma verdadeira aventura da viagem de ônibus do Administrador de Empresas; Guarujá, onde eu morava, até São Sebastião, o ôniConsultor em Estratégia, Gestão de Negócios e bus era o Expresso Rodoviário Atlântico (hoje ViaSustentabilidade, Memorialista e Palestrante; Direção Litorânea), ele serpenteava pelas praias, porque tor Secretário do Instituto Histórico e Geográfico ainda não existia a rodovia Rio-Santos, e quando a de São Vicente;Diretor Jurídico na Associação dos maré estava muito alta, as viagens eram suspensas. Capacetes de Aço de 1932 de São Vicente; Diretor de Cultura do Clube 21 Irmãos Amigos de Santos Quando o ônibus saia da parada em Boiçucanga, – representando o Estado do PARÁ; Acadêmico subia a serra de Maresias, e na descida desta serra, na Academia de Letras e Artes de Praia Grande – a gente já podia ver a ponta sul de Ilha Bela. Cad. 10 – Patrono Júlio Ribeiro; Associado Correspondente na Academia Contemporânea de Letras Depois que ele deixava a praia do Guaecá para trás – Cad. 34 – Patrono Júlio Ribeiro; Coordenador já estava bem próximo do meu ponto de chegada da Comissão de História do Brasil do Instituto para passar as minhas férias, eu descia no ponto Histórico e Geográfico de Santos; Membro da Asde ônibus da mangueira ao lado dos Armazéns da sociação do Combatentes de 1932 de Santos; AssoCNAG, pronto já estava na minha terra natal. ciado Correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos do Maranhão-MA, São Paulo-SP, PaAté os dias atuais sempre que viajo para o Litoral raná-PR, Bahia-BA e Jaguarão-RS. Norte ainda sinto um pouco das emoções que vivi, neste tempo precioso da minha infância e adolescência, recordações que me seguirão para sempre.

Uma breve história

Elas fazem parte importante da formação da minha Desde muito pequeno sempre fui muito curioso, e personalidade e do jeitão que tenho hoje, de fazer sempre prestava muita atenção a tudo o que estava amizades com facilidade e de me relacionar com à minha volta. sinceridade com todos que me conhecem. Nascido caiçara em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, sempre tive uma ligação muito forte com o mar, aquele que une dois ingredientes muito importantes para a saúde de todos nós, a água e o sal. Como sou de uma geração onde o contato com os avós e a família ampliada (tios, primos e vizinhos) 154

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Sou grato por este tempo, pelas pessoas que passaram ou cruzaram o meu caminho, elas cada uma da sua forma e maneira ajudaram a construir o que sou hoje.


Literatura

ANA ROSENROT

Ana Rosenrot, de Jacareí – SP, é Pesquisadora, Escritora, Editora, Ativista Cultural e Cineasta Independente. É criadora e editora da Revista LiteraLivre, membro do coletivo MALDOHORROR e dos Poetas del Mondo (Chile). Já teve trabalhos expostos no Consulado Brasileiro da Suíça e no Principado de Liechtenstein, integrou antologias nacionais e internacionais e recebeu vários prêmios literários Lançou os livros: “Cinema e Cult – Vol, 1”, em 2018 e “Três Momentos – Contos Espíritas” e “O Primeiro Baile e Outros Contos”, em 2019. Ocupa a cadeira de nº 51, na A.I.L. Academia Independente de Letras(PE). De Jacareí – SP.

Delírio nas nuvens Observo o céu, nuvens cobrem o sol com seu branco véu, meu olhar se perde nessa união, as nuvens e o sol em comunhão… Nesse momento, me sinto um fragmento, parte mínima do imenso mundo, quase nada, perante o céu profundo, poeira cósmica sobre o chão fecundo…

Ana Rosenrot produz também a REVISTA LITERALIVRE, editada em língua portuguesa e está na sua 22° edição. Ana obtém o título de ativista cultural ao incentivar a publicação de autores. São 7 edições anuais, 6 regulares e 1 especial, onde publicamos os melhores do anos escolhidos por leitores beta e leitores convidados. Ela recebe a ajuda direta do Julio Cesar Martins e do Alefy Santana e indireta de leitores beta que aauxiliam voluntariamente a selecionar os autores. Aceitamos, além de textos literários, fotos, poemas e microcontos, frases e haikais com imagens, tirinhas, fotos autorais, desenhos, pinturas e gravuras A revista é digital e gratuita para ler, baixar e participar. Está tudo em nosso site: https://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre [16:54, 09.09.2020] Esitora Ana Rosenrot Revista Literaria Revista Litera Livre: As edições são bimestrais e os e-mails para envio são: revistaliteralivre@yahoo.com revistaliteralivre@gmail.com

Ergo os braços no ar, tentando o sol abraçar, quero em combustão entrar, aquecer, ferver, evaporar, em nuvem me transformar, subir, voar, trovejar, em chuva me fragmentar, e sobre os campos secos me derramar. Revue Cultive - Genève

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JANETE VEIGA Itaiópolis -SC

Minha pátria Eu amo minha Pátria. Onde é essa Pátria? É aqui, é ali é lá. Pátria é todo lugar Chamado de Brasil. Amar a Pátria É amar o meio ambiente, Amar a natureza, Amar a escola, amar as pessoas. Respeitando tudo E fazendo coisas boas. Não é só 7 de setembro, Mas todos os dias do ano. Sempre vou dizer Brasil eu te amo. Ó Brasil Pátria amada! Quanta beleza. Quanta bondade de Deus. Olha a natureza. O voo da passarada. As estrelas brilhando Em noite de escuridão. Mas sei que só com a educação. Posso exercer a cidadania, Vivendo no dia a dia, Na paz e na alegria. Teremos mais saúde E liberdade em plenitude...

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JANICE REIS MORAIS

Natural de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, Brasil. Sócio fundadora da AMAR (Ponto de Cultura AMAR). Desde 2015, participa da Antologia Lafaiete em Prosa e Verso. Coautora em dezenas de obras coletivas no Brasil e no exterior. Tem participação em edições das Revistas Literárias SG MAG (Portugal), Evidenciarte e Caderno Literário Pragmatha (Brasil). Conquistou o Premio Cidade de Conselheiro Lafaiete do Concurso Internacional da Academia de Ciências e Letras da cidade (ACLCL) 2019.

Mago da imagem Olha o passarinho... voando no ar. A lua se exibe no céu, reflete na água As nuvens formam carneirinhos, flores se abrem, pétalas desenham tapete no chão... A natureza em pose Xissss olha o ângulo a luz o foco a emoção... É um dom Fotógrafo, mago da imagem. Fotografia, poesia, mensagem. Paisagem urbana ou rural, belo cartão postal! Olha o passarinho...xisss...click...


Literatura

ELISABETE PECORARE, professora do Ensino Fundamental, Pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Especialização em Educação Inclusiva, Especial e Políticas de Inclusão, Área e Conhecimento. Segundo lugar no Concurso Internacional de Poesias – XXXII Convenção Internacional da Federação Internacional Elos da Comunidade Lusíada. Publicou 5 livros de Literatura Infantil, no gênero: poesia, bem

COISAS PARA SE PENSAR Vou contar a vocês A história do Luquinha: Menino esperto como ele Naquela rua não tinha. Luquinha sempre foi Um menino diferente, Valorizava tudo que tinha E seus projetos eram pra frente. Sabia que não podia Desperdiçar nada em sua vida. Dizia sempre: economize! Este era seu ponto de partida. Quando ia a escola E seu amigo não cuidava Dos materiais escolares, Luquinha sempre reclamava. Quando via sua vizinha Toda a água desperdiçando, Corria pra lá e dizia: Desligue a torneira quando não estiver usando! Se visse sobras de alimento E não fosse de ninguém, Dizia ao garçom para reservar Que iria levar para quem não tem. Assim era o Luquinha: Um menino preocupado Com o mundo a sua volta E com todos ao seu lado. Se fôssemos como ele, Certamente tudo iria ser diferente. As pessoas teriam consciência, Assim viveriam mais contente.

SAUDADE Lá naquele jardim Nasceu uma perfumada flor, Vermelha, com folhas verdinhas Tratada com muito amor. Fica na casa da dona Maria Uma senhora bem velhinha, Que se dedica todo dia A molhar e cuidar da plantinha. Esta flor tem uma história, Um valor sentimental Dona Maria ganhou de seu bisneto Como presente de Natal. O menino chegou até ela Com aquela flor na mão Pediu para que não reparasse Mas o presente era de coração. Seu bisneto tinha apenas 4 anos de idade Fazia tempo que não a via Pois mora em outra cidade. Fica tempo sem ver a bisavó, Só vem no ano uma vez. Por isso dona Maria se emociona E adora a atitude que fez. Dia desses foi ao jardim E quando viu o botão, Se lembrou do bisneto Uma lágrima rolou de emoção. Se ela pudesse ter Seu bisneto mais perto, Faria de tudo Pra que isso desse certo. Como não é possível Mata a saudade com a flor. E cada vez que sente o perfume Lembra dele com amor. Revue Cultive - Genève

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Literatura

CARMEM APARECIDA GOMES Formada em Pedagogia, Bacharel em Direito, Especialista em Ensino superior e Mestre. Obras publicadas e comercializadas no Brasil e Exterior: A menina e o tesouro, A preguiça do cumpade Zé Cochoxi, O colecionador de tatuagens, Os sonhos mágicos de Eloan, *Amo eternamente uma única vez um belo romance erótico e Entre o sacro e o profano, primeiro livro poético solo .

GOTAS DE LIBERDADE

AMOR SEM REMISSÃO

Eu e você juntos... Seres do pecado Imundos e levianos! Trancados no quarto.

Eu e esse amor sem compaixão... Fez-me um ser de pura tristeza e avarezas. Ando perambulando sem alma Cheio de pecados envolto com desejos Dos loucos beijos e dos momentos em que meu corpo quente Pedia pelo o seu corpo misericórdia. Esse amor sem remissão me transformou num ser noturno e imperfeito. Só penso em me despir no negro da noite Sentir a brisa do vento em minhas partes secretas E como as sombras amar-te Dois em um como vultos. As mãos se entrelaçando, bocas coladas... Respiração ofegante, gotas de desejos na pele, pensamentos eróticos... Movimentos disfarçados de dança e os sussurros que parecem melodias na tarde fria. Ah... Privado desse amor sem remissão eu não sou nada! Eu só existo pecando, te amando... Sou um ser resumido em corpos despidos Bocas coladas e sussurros na negra noite. Ah... Esse amor sem remissão.

Seres lascivos... Nus, descobertos... Corpos pelados Cheiro de amoralidade Suor pingando na face. Não importa o mundo E menos ainda opiniões alheias E nem o castigo a nós profanos O que escorre em nossos corpos São as gotas da liberdade. Gotas de suor dos movimentos Selvagens, irracionais e sem razão Suando, gemendo aos sussurros Ofegantes... Os lábios com gosto de sal Do suor do pecado. Libertinos e lascivos Dois seres molhados de suor. Lábios úmidos com as gotas da liberdade... Escorrendo... Por todo o corpo... Nas partes secretas e ocultas... Entrando sem pedir licença em nossos lábios. Beijos quentes e libertos de tabus Lábios desonestos aproveitando se da liberdade Para provar o sabor de sal e de pecado.

VENTOS Em algum lugar dentro de nós, simples seres mortais habita a esperança. A esperança oculta a nossa tristeza e desalento e nos tornam pessoas sonhadoras.

E assim... No nosso tempo infinito Os sonhos de um ser esperançoso são como os venAfogando nas gotas da liberdade. tos mensageiros do infortúnio, Seres lascivos! Pecamos completamente pelados em nosso quarto. 158

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Literatura frios e gélidos que nos transportam ao desequilíbrio e nos amedrontam. E ainda insistem em ordenar que nossas emoções sejam recolhidas num baú amaldiçoado como vultos imaginários em noites negras e solitárias. Ventos que balançam árvores e arrancam a força e sem pedir licença suas folhas, despetalam rosas e flores e para nos adoecer esvoaçam as nossas cortinas trazendo nos medo e temor do que jaz lá fora no sepulcro do tempo. Tal medo e temor fazem de nossa liberdade uma reclusa. Não é justo! Ventos livres, bailando atrevidos adentrando jardins floridos e bulindo a meiga Azaleia.

CLEIDIRENE ROSA MACHADO-

Catalão - Goiás. Licenciada em Letras pela UFG. A Moça do Cerrado – Segredo do Jardim; Vermelho Sangue em Tom de Lá Maior.

Pelas ondas do amor Eu sinto o cheiro do amor Eu sinto o calor que vem dos céus A brisa da manhã que toca meus cabelos O vento dizendo que feche os meus olhos Ele me pede um suspiro..., mas que seja baixinho Ele quer que eu abrace o doce sossego Ele quer que eu apenas o sinta, O barulho das águas me pede para ir: Ele me diz para não ter medo e eu vou Mãos que buscam por todo meu corpo O azul das ondas me indica o infinito! Vida minha! Pólen que nasce do mel de uma flor Diz-me agora que o tempo parou! Eu sinto você! Eu respiro você! Tuas mãos, teu imenso amor... São as águas do mar... Um instante, somente um instante Mas, com ele agora eu estou...

Ventos audaciosos assoprando e derrubando para o solo o frágil ninho do Beija-Flor que com muita valentia não demora a reconstruir outro ninho mais perfeito, obedecendo à soberana natureza. Nós seres mortais com a nossa esperança oculta nos assemelham ao Jasmim soprado pelo o vento e no meio da tormenta adentrou a janela e se confinou atrás do inerte porta retrato. Aquele que pintou janelas da alma Só nos restam encontrar forças e nos agarrar a esperança para superar esse desequilíbrio que nos arrastam para labirintos como gotas de orvalhos sem destinos na escuridão. A nós só nos restam esperarmos o acalmar da tormenta para outra vez nos tornarmos seres livres e VIVOS. (Quarentena/2020)

E ele desenhou as pedras e rochedos Depois quis criar as folhas e verdes pastos De tudo ali, surgiu as sombras campestres A proteção para os raios do sol... O aconchego. E ele não parou por ali... Quis desenhar as chuvas, A madeira partida ao meio Uma fruta do conde Uma semente de gergelim Uma flor de girassol Um coração vermelho entrelaçado em caracol... Gaia, a terra intercedeu: São verdes meus olhos, Assim como as matas e recantos selvagens São verdes meus olhos, Assim como a natureza, sou grande mãe. Preserve minhas cores, minhas flores, meus bosques, Preserve a respiração de um novo dia, O frescor sublime que traz a presença da vida, Os sabores, minhas cores, nossa origem. E ele não parou por ali... Revue Cultive - Genève

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as mulheres estão incluídas neste grupo. É daí que surge o empoderamento. As mulheres precisam reconhecer que elas são capazes, para então poder começar a fazer mudanças.

JACIRA BARROS

nasceu em Recife-PE-BR Bacharel em Administração, membro da União Brasileira de Escritores-PE, e da Academia de Letras do Brasil-PE. Participa do Grupo Literário Dom Graciliano. Publicou contos em diversas antologias. Tem artigos e crônicas em jornais e revistas literárias. Em 2019 participou do Salão do Livro de Genebra junto à Cultive, e fez a apresentação do livro de sua autoria, A noite que não tem fim. Durante o evento fez palestra sobre A construção do Conto.

Marie Curie, Indira Ghandi, Simone de Beavoir, Madre Teresa de Calcutá, Malala Yousafai. Retrocedi no tempo e me surgiu na memória as mulheres que se destacaram, ícones femininos. Cientistas, escritoras, filosofas, ativistas, políticas e atletas, cada uma contribuiu ao seu modo para mudar os rumos da história. Vivemos nos dias de hoje a tão sonhada independência feminina graças a elas e suas conquistas, que na época pareciam improváveis.

A FORÇA DA MULHER Através das gerações os artistas de vários seguimentos enaltecem a mulher em telas e esculturas, poetas e músicos nos versos e canções românticas. Considerava-se a beleza um atributo essencial a valorização da figura feminina. A submissão, um símbolo da virtude, a mulher, o sexo frágil. No entanto essa é uma afirmação equivocada. Desde a idade média, à era contemporânea, o sexo feminino vem desempenhando papel de extrema relevância na história. Com o transcorrer do tempo e as grandes Dandara, Maria Quitéria, Chiquinha Gonzaga, transformações socioeconômicas os pensamentos Nisia Floresta, Tarsila do Amaral, Marta Vieira da Silva. evoluem e antigos conceitos se tornam obsoletos. Empoderamento feminino é o termo mais usado no Brasil nos últimos anos. Mas afinal o que é, a que se refere. É a consciência coletiva, expressada por ações para fortalecer as mulheres e desenvolver a equidade de gênero. Empoderar-se é o ato de tomar poder sobre si. As pessoas oprimidas ou que recebem menos atenção na sociedade, muitas vezes não tem consciência de seu próprio poder, e 160

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Entendo que para alcançar o tão almejado empoderamento é preciso que a mulher identifique seus objetivos pessoais e profissionais, trace as metas e permaneça resiliente na convicção de poder concretizá-los. Acima de tudo, ser verdadeira, ser mulher, preservando as características do sexo feminino com os quais a natureza a dotou.


Literatura

P a u l o Vasconcellos ,

cidade de Capanema-Pará, diversas livros autorais e antologias e em revistas eletrônicas e outros projetos. Tem na poesia, grande afinidade e desenvolve o seu trabalho de acordo com as oportunidades que vão surgindo.

VERDADEIRO AMOR Caminhamos lado a lado, fomos feitos um para o outro Está escrito no livro do saber Tu nasceste para mim e eu nasci para ti Ternura constante no contato de dois amantes Que não se desgrudam e nem se preocupam com o que possa acontecer A intimidade é mútua e o amor é verdadeiro Canto para ti e tu me contas algo natural Usando palavras desordenadas que combinam com o nosso romance Vivemos juntos, toda noite e todo dia A intimidade transpõe as portas da afinidade Formando conjunto onde há o êxtase frenético Sou realista e verdadeiro, não sou herético Continuo te amando e sei que sou correspondido Minhas declarações estão inseridas na conjugação do verbo amar Vivemos na intimidade, tu de lá e eu de cá A cumplicidade transformada em amor intransponível Uso minha inteligência, procuro não perder o prumo e nem o rumo Dedico a ti meu verso e minha prosa Sou o amante dos amantes, operador do desejo, não sou adepto da hipocrisia Não resisto aos seus encantos Não hesito ao declarar nossa cumplicidade Amor exuberante: A frase prometida, nós dois, de bem com a vida É irresistível, inigualável e indescritível Vou juntar prazer e harmonia Tu e eu, eu e tu Somos cúmplices primeiros, cônjuges verdadeiros Eu poeta e tu poesia.

Raquel Lopes da Silva, nascida em Jaboatão dos Guararapes

aos 13/12/1987,Pernambuco, Brasil. Membro da UBE/PE. Acadêmica na Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil. É pianista, estudante de filosofia, pesquisadora. Autodidata na Escola da Vida. Tem livros de poesia publicados pelo site Clube de Escritores e Amazon.

HORIZONTE INFINITO Só há alegria porque brinquei na vida e sonhei como toda menina E vivi em busca do amor correspondido Totalmente atendido por um simples viajante Um verdadeiro amante Não rabisco mais versos inversos As palavras dançam em sentidos dispersos As cores enfeitam a ignorante parede do subjetivo O tempo acena para ir ter contigo Enquanto observo pela janela meu querido amigo Meu belo pássaro voando leve e solto no horizonte infinito.

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Literatura se esperar, observa-se a reação em busca do continuar da vida, ajustando-o a uma nova realidade. Dentro deste torvelinho de dor e expectativas, lembra-se do começo de Madri, elevada à sede do reinado, transferida de Sevilha, no século XVI. Lá encontra-se um poeta que soube cantar a dor inimaginável da mudança brusca, em consequência das vicissitudes deixadas pelos mouros na Sevilha destroçada.

ESPECTRO DA LIDÃO URBANA

SO-

por Valdivia S. Beauchamp Vê-se hoje “a cidade que não dorme”, New York, com olhos de esperança e com resiliência, no desejo de, em um futuro próximo, restabelecida a sua identidade histórica e arquitetônica, reerguida e vencida a solidão urbana catástrofe de 2020, no continente norte-americano.

LOPE DE VEGA (1562-1635) nasceu em Madri, na mesma época de sua elevação à sede do reino. Naquele tempo, observa-se sucumbir a aristocracia espanhola, (diz A. Geysse / E. Bague), entendendo-se o porquê de seus fracassos que foram muitos: numerosas guerras, êxodo rural, expulsão dos mouros, aumento incomensurável do clero, além das concessões a diversos países e, principalmente, a redução das importações dos “tesouros” da Índia, Situações semelhantes interligam essas duas grandes cidades, embora distantes no tempo – New York, de hoje (com seus monumentos e seu capitalismo, momentaneamente, quebrado) e Madri, da época de Carlos V e de seu Filho Felipe II (sociedade espanhola na bancarrota).

Conta a lenda que Madri, do tempo de Lope de Vega, foi sempre muito celebrada por seu teatro, com personagens reais e não como no teatro francês de Racine, cujos personagens são arquétipos, símbolos de paixão, e a atração ficando por conta do autor comissionado. Aquele dava valor à alma, Algumas vezes, as contradições, entre o que é obri- os trabalhos eram mais intelectualizados. gatório e o facultativo, fazem com que a vida possa se tornar um fio tênue, resultando descontenta- Seu biógrafo, Montalbán, diz que o teatro de Lope mento, inconformismo, insegurança, procura an- de Vega era o melhor de todos os tempos: “uma siosa pelo divino, pânico que podem levar a um prova do mais extenso e rico saber, da teologia, judesatino. risprudência, filosofia, Belas Artes, mecânica”. Da mesma forma, o sonho dos que vem à New York é desfrutar da experiência de provar de tudo que há no planeta que aqui parece existir. A busca dessa sensação está, também, frustrada. São Tomás de Aquino diz: “a bondade de Deus não faz a mera transformação do indivíduo, mas sim pode influir nele, conforme a sua capacidade de percepção. E nós, seres humanos, como estamos nos comportando?

Todavia, o mais interessante da vida de Lope de Vega foi a sua atitude introspectiva, perante a tragédia de seu país e de sua própria vida, cheia de altos e baixos.

O escritor e teatrólogo, desenganado por amargura e pelo mal trato humano, escreve de dentro de seu coração a poesia “Soledades”. Seus mestres o consideravam homem recluso e sábio. Vê-se nela algo análogo à atual situação de solidão urbana, envolvendo, não só New York, mas também toda “A cidade que não dorme” sucumbe, silencia e nos a humanidade. colococa em grande isolamento. Daí, como era de 162

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Literatura

Soledades (algumas partes da poesia) “A mis soledades voy, de mis soledades vengo, porque para andar conmigo me bastan mis pensamientos. No sé qué tiene el aldea donde vivo y donde muero, que con venir de mí mismo, no puedo venir más lejos... ‘Sólo sé que no sé nada’, dijo un filósofo, haciendo la cuenta con su humildad, adonde lo más es menos... Dijeron que antiguamente se fue la verdad al cielo; tal la pusieron los hombres, que desde entonces no ha vuelto... Dijo Dios que comería su pan el hombre primero en el sudor de su cara por quebrar su mandamiento; y algunos, inobedientes a la vergüenza y al miedo, con las prendas de su honor han trocado los efectos... Con esta envidia que digo, y lo que paso en silencio, a mis soledades voy, de mis soledades vengo”.

Valeria Borges da Silveira

Nascida em Curitiba-Pr. Escritora, Poetisa e palestrante. Curso Técnico Desenho Artístico e Publicitário. Graduação: Administração-habilitação em Comércio Exterior. Especializações: 1. Direito e Gestão Empresarial; 2. Gestão, Orientação e Supervisão Escolar; 3. Gestão Cultural; 4. Gestão de Eventos; 5. Gestão em Projetos Turísticos e; 6. Credenciamento em Jornalismo.

«SÓS OU A SÓS» «Você está passando e nem vê... Nem me vê... Tudo está passando correndo E vamos esquecendo E nem notamos Que quem amamos Também passam por nós... Vamos vivendo e Vivendo... Muitas vezes nos deparamos sós Ou a sós... Vamos vendo e Sentindo Que nem sempre o que sonhamos Se traduzirá em futuros anos E dará voz Ao que almejamos... Sinto falta de você Mas... Você está passando e nem vê... Nem me vê...» Revue Cultive - Genève

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Literatura

MOISÉS TUNES ORTIZ

nos conselhos nem sempre atentos, através do que lhes dizem os mais "velhos" existentes arvorando sabedoria.

Na idade mais madura estão instados à procura nasceu em de caminhos compensatórios Piratini (RS-BR) em 06 de para toda esta amargura. abril de 1943. Reside à Rua Rio Grande do Começamos a procura, Sul, 307 - casa A, em Ponta por algo que se a nós afigura, Grossa (PR-BR) - CEP: 84015-02 a razão que nos conduza, A escolarização abrange o Ensino Médio. um guia que nos guie Possui diversos outros cursos de atualização e ou- e nos dite, afinal, a conduta. tras jornadas em áreas necessárias ao desenvolvimento da profissão. No final, ao envelhecer, Detém diversos certificados de "Honra ao Mérito", algumas lições aprendidas, outorgados por empresas farmacêuticas. podemos entender razões, Recebeu homenagem da Câmara Municipal de Cu- que a nós explique o que é o viver. ritiba por proposição do vereador Tito Zeglin. É membro de Ordens Iniciáticas: Maçonaria e Ro- Passamos a entender, sacruz. que tal nosso "entender" Tem diversos textos e poemas de sua autoria e dis- pertence a tão somente ao nosso ser. tribuídos à familiares e amigos. Está participando de coletâneas: Tornamo-nos mais complacentes 1. coordenada por Maluma Marques/Suru- na visão dos semelhantes, bin – Pernambuco (BR), e assim compreendemos a todos os entes, 2. da editora Alternativa – Porto Alegre (RS- nesta jornada, como irmãos viventes. BR). Ponta Grossa (PR-BR) Não há conclusão evidente, 24 de março de 2020 que indique o aparente, que a tudo se resume nesta vida existente.

SOBRE A VIDA

Acordar, dormir, sonhar. Sentir alegria, tristeza, ternura, decepção, sem jamais perder a razão. Encontrar amigos e irmãos, risos, choros e lamentações, meditar sobre tais fatos justificam nossa missão. Ver crianças a todo instante, com sorrisos constantes, no seu viver exultante, sem o pensar conflitante. Os jovens com seus dilemas, vendo sempre problemas, 164

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Cada um no seu pensar, sempre a filosofar, agradecer e orar, por um novo alvorecer.


Literatura mandato. Paulo Bretas também se dedica à literatura tendo três livros de poesias haicai publicados.

Haikais para terra (1) Uma flor nasceu E chorou de tanta dor Floresta em chamas! (2) Revirou livros Em busca da verdade Estava nele (3) Depois da chuva O sol entrou nas ruas E o ar aqueceu.

PAULO ROBERTO PAIXÃO BRETAS Mineiro de Belo Horizonte, 62 anos, possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialização no CEDEPLAR- UFMG e MBA em Gestão pela Fundação Getúlio Vargas – Rio de Janeiro. Atualmente é professor associado da Fundação Dom Cabral e Professor de História Econômica, Economia Brasileira Contemporânea e Desenvolvimento Socioeconômico do Centro Universitário UMA, em Belo Horizonte. Tem experiência nas áreas de Gestão Pública e Privada, Economia e Administração, com ênfase em Planejamento Estratégico e Finanças. Foi vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Diretor da Casa da Moeda do Brasil e Diretor da Empresa Gestora de Ativos do Ministério da Fazenda. Foi Secretário Municipal de Planejamento de Belo Horizonte e Assessor Parlamentar do Presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais na gestão do Deputado Dinis Pinheiro. Atualmente segue na assessoria parlamentar da ALMG. Paulo foi Presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais por três mandatos

(4) Havia a fome Nas ruas, vi multidões Seres desiguais (5) Pôde ouvir tudo Mas não acreditava Muitas mentiras (6) Chega a peste Trás doença e morte Homens se isolam (7) Os peixes mortos... No mar era tanto lixo Não se via água. (8) Na volta a vida Senti correrem os anjos Em terras quentes Revue Cultive - Genève

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Literatura

Lembranças vivas Conhecer o mundo, interpretando-o... Compreender um sonho, decifrando-o... Aceitar o desafio, encarando-o... Buscar resposta, lendo! Sentimentos distintos, e consenso geral: A arte é um dom, a palavra é o poder, um bem universal. Diferentes cores, entonações... Diálogos e emoções fazem-nos compreender um mundo de sensações. Liberdade desejada, porém nunca alcançada... Sonhos e ilusões tocam fundo os corações.

MEYRE APARECIDA PINTO BARBOSA

Ensinamento da vida... Aprendizado moral; Cotidiano vivido de uma forma imortal. Muitos artistas se foram, outros ainda virão; Notícias em versos altos com certeza nos trarão.

51 anos, divorciada, mãe de um rapaz lindo, Patrick Arthur, professora de Língua Portuguesa, Revisora Sênior de Materiais Didáticos da Unicesumar, em Maringá – Pr, e escritora, tendo publicado minha primeira obra, “Ela em 3 gêneros”, em 2019.

Assim vamos tocando em frente retirante ou passageiros sempre a sonhar, querendo entre palavras gritar ‘não’ ao verbo matar. Venha, é hora de saudade da infância, do passado porque o ritmo da vida é esse. Daquilo que soubemos vamos agora registrar: fomos passageiros da viagem a voar, sonhar e admirar... Fomos um e todos a contemplar a vida em seu ciclo determinar que aqui estamos só de passagem.

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Literatura de outubro, dia do Saci-pererê, Dr. Fausto Borges (geólogo e bem-sucedido empresário da mineração) tentara dar outro sentido ao pensamento da filha. A decoração deveria retratar o Sítio do Pica-pau Amarelo. Porém, Mirina não se curvou aos argumentos do pai. Antes de tudo, seduzida pela madrasta, estava decidida: a temática seria o Dia das Bruxas.

FRANCISCO B E R N I VA L D O CARNEIRO

nasceu em Jaguaretama-CE. É geólogo, com especialização em Engenharia de Saúde Pública e Ambiental, e escritor com oito livros publicados, sendo três do gênero técnico-científico e cinco de ficção (romances e crônicas) e outros cinco já pontos para a publicação (um romance, dois de contos e dois de crônicas), além do que tem mais de cem artigos publicados em diversos veículos de comunicação. Venceu alguns prêmios literários e é Membro Efetivo de três Academias de Letras.

O baile No salão de festas da Mansão dos Borges, em meio a cintilantes luzes multicores e ao som de uma harmônica e melancólica flauta de pan, jorrava de uma das estátuas gregas esculpidas em mármore rosa imperial a fonte de champanhe. Já no palco montado no jardim, rodeado de flores amarelas e também à espera dos convidados, vozes ensaiavam a apresentação circense. O mágico da ocasião, Cristian Borges, por sua vez, preparava-se para descer dos céus num balão colorido e pousar no campo de futebol. Não muito distante dali, palhaços pintados de alegria e animais contidos em grandes jaulas douradas recebiam a visita do domador. Como se fosse o centro de todas as atenções da noite, o Rei Leão saltava faceiramente entre arcos de fogo. Mal sabia o felino que, horas depois, os olhares ao seu redor se anexariam aos holofotes e juntos seriam desviados para outras direções.

E assim, inspirado no Halloween, o cenário ganharia outros adornos: abóboras reluzentes penderiam do teto em meio a lustres de cristais, esqueletos esculpidos em pedra sabão circunscreveriam a mesa dos doces de avelã, nozes, morangos e chantilly. Com ares de talismã, uma lua de pedras semipreciosas, que seriam ofertadas aos convidados no final da festa, resplandeceria cercada de bruxinhas de chocolate montadas em vassouras. Ambiente em que Mirina, trajada de Fada Sininho, receberia algumas jovens com asinhas e outros adereços, enquanto muitos seguiriam os pais fantasmagoricamente trajados de Drácula, caveiras, monstros e gatos negros. Malvina, a mãe da debutante, recém-chegada em voo fretado direto de Londres — onde vivia com o segundo marido, um ricaço inglês viciado em turfe, fantasiar-se-ia de Princesa Vampira. Após os parabéns, o amoroso pai dançou a valsa, agradeceu a presença de todos, ressaltou as qualidades de Mirina, enalteceu o empenho de Mortícia e saiu à francesa. Levava consigo o azedume da transgressão da mulher e da filha ao tema sugerido por ele. Minutos depois, já na suíte presidencial de um cinco estrelas de sua rede hoteleira, o foco era outro. Ele desfrutava festivamente das carícias da amante. Isso sem sequer sonhar o que aconteceria em sua mansão na virada daquela noite, quando cavaleiros de areia, como se fossem sobreviventes de antigas pragas bíblicas, sairiam dos quadros do Marquês de Sade, fixados nas paredes do salão de festas. Momento em que adultos seriam hipnotizados pela Medusa e transformados em estátuas de pedra. Ocasião em que as doze adolescentes, caídas em profundo sono, seriam possuídas por seres sobrenaturais, que — com pesadas sombras malévolas — beberiam o sangue da virgindade das jovens como se fosse vinho.

Algo, no entanto, não ia bem ao gosto do dono da casa. Lembrando que a festa se iniciaria em 30 Um castigo cuja duração foi proporcional à carga Revue Cultive - Genève

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Literatura dos prazeres mundanos até então vividos por cada um. E, de acordo com a bondade que pulsava em seus corações, o tormento se desfez sem deixar lembranças ou sequelas. Já os mais carregados de pecados, foram tomados por dores e agonia. Betinho de Codó, que, por pouco, não virou estátua de sal, foi o único da festa que, em momento algum, esteve alheio aos ocorridos. Já no primeiro sol do dia seguinte, ainda trajando seu elegante terno azul de Valentin e conduzindo faceiramente presentes para a filha, Dr. Fausto adentrou sua mansão. Na cesta (que mais parecia um arco-íris), pares de sapatos vindos das mais ambicionadas grifes europeias. Contudo, não encontrando uma vivalma no térreo, foi direto ao segundo piso. Ainda que tocado de maus pressentimentos, subiu a escada helicoidal sem que nada lhe denunciasse a madrugada macabra. Pelo contrário: as rosas brancas que ornavam o teto do pavimento inferior e o guarda-corpo pareciam lhe sorrir a cada degrau vencido. Já no hall do segundo andar, punhaladas em sequência penetraram fundo em seu coração de gemas preciosas. No primeiro quarto, a ex-mulher Malvina e o domador, como que tombados pelo castigo, ainda se mantinham petrificados sobre a cama, tal qual tinham sido surpreendidos pelo fenômeno sobrenatural. De igual modo, na suíte de casal, encontravam-se Mortícia e Cristian. Já no quarto seguinte, a filha jazia inerte sobre o leito de cor púrpura. Na ilusão de que os olhos abertos de Mirina eram sinal de vida, ao longo dos sete anos de coma da filha, Dr. Fausto Borges mergulhou no silêncio de suas próprias perguntas e orações, até que, numa sombria manhã, ambos dormiram definitivamente. Dias em que Mortícia, vivendo maritalmente com o cunhado Cristian, passeava de balão por outros céus. Já Betinho de Codó (então voando de telhado em telhado) narrava a insólita história do feitiço. Inicialmente, com retórica confusa, mas — logo adotado por um espertalhão que, de olho no faturamento turístico, ministrou-lhe cursos de boa dicção e oratória — passou a fazê-lo com admirável eloquência. E assim (de filhote de papagaio, quando fora colocado por Mirina na mesa do banquete) perpetuava-se como mito. Fazia a Mansão dos Borges crescer em visitação por místicos e curiosos procedentes das mais distintas e longínquas partes do mundo. 168

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ROSANNI GUERRA POETA, JORNALISTA E ESCRITORA

EU TE AMO, MEU BRASIL! Quero me encharcar de verde e amarelo E tomar um banho de brasilidade Exaltar-te nos meus versos Com amor e sinceridade Quero mergulhar em teus mares bravios, Nas águas de azul anil Dourar minha pele nos raios do teu sol E aquecer minha alma no calor do teu arrebol Quero sentir a brisa do vento Que balança os teus coqueirais Caminhar pelo verde das tuas matas Encantar-me com tuas riquezas minerais! Quero dançar no ritmo dos teus tambores Pandeiros, cuícas e agogôs Sentir o batuque da percussão Acelerar o pulsar do meu coração! Quero sambar na tua melodia E encher-me da tua alegria Quero levantar a tua bandeira! O meu sangue é verde, amarelo, azul e branco As cores da liberdade, da paz e da democracia Quando tentaram te destruir, o teu povo lutou E o gigante, que estava adormecido, acordou! És um país de um povo forte e de belezas mil Hoje quero gritar bem alto: Eu te amo, meu Brasil!


Literatura

Ana Claudia Teixeira da Silva Especialista em Controladoria pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e graduada em Administração de Empresas pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Possui MBA em Gestão de Pessoas e Gerência de Projetos. Atuou em instituições financeiras durante mais de trinta anos, com foco em controladoria e gestão de produtos e serviços. Escreve por hobby, tendo participado de diversos cursos de oficina literária e redação empresarial, além de atividades de trabalho voluntário. Participa da Antologia Era uma vez um anjo, Editora Cultive.

O Brasil que o Brasil não vê É feito de muitas facetas, trabalhadores anônimos, ônibus lotados, calçadas irregulares de subidas e descidas, gente pendurada nas plataformas do metrô, às vezes elevadas, outras subterrâneas. Garoa e frio, chuva e sol, muito sol. Poeira e calor, bicicleta pela estrada de chão. Às vezes com a enxada para o plantio, outras, com a foice para a colheita. Meu Brasil é gente alegre, que canta na rua, trabalha, cansa, mas insiste e continua. Não tem tempo para descansar ou se lamentar. Precisa ganhar o pão e alimentar a família. Precisa estudar para o sonho realizar. Precisa cantarolar para a tristeza espantar. Por falar em tristeza, vou logo dizendo que minha terra tem palmeira onde canta o sabiá, tem ipê roxo, amarelo e buritis pelo sertão. Tem mangueira, goiabeira, jequitibá. Tem também rosa vermelha, margarida e jatobá.

arrumar um bom marido. Tem criança na calçada pulando corda e amarelinha e a tia lá da varanda fazendo pano e rendinha. Minha avó mandou chamar. Está na hora da merenda: mesa posta, muita fartura, pão, bolo de fubá, café e queijo, muitos doces e pão de queijo também. À noite tem seresta e contação de história, enquanto as moças na janela contam as estrelas, sonhando com o dia do casório. O cheiro do manacá lembra as noites na fazenda. A lua cheia inspira saudade terna e profunda de alguém que partiu um dia prometendo fazer fortuna. A coruja cansa e a noite termina. Vem o sol forte rompendo os primeiros raios da manhã. O galo canta todo imponente em cima do muro, parece que é o dono do mundo. O menino senta na escadaria para olhar a boiada passar. Sonha em tocar, um dia, o berrante do vaqueiro e varar todos os pastos com seu cavalo alazão. Mas o sonho num instante termina quando sinhá grita: “vem fazer a lição!”. Pobre pequeno homem, precisa desbravar muitas páginas de leitura para chegar ao seu destino. A Maria Fumaça apita ao longe, avisando a quem espera outro alguém ou a quem queira partir: é chegada a hora. Pelo caminho, o cafezal em flor vai passando cada vez mais miudinho. O sol já vai a pino e a cidade se movimenta: do comércio de tecidos coloridos até o de anzóis para pescaria. O Brasil das pequenas cidades, o Brasil dos sítios e fazendas, das metrópoles e grandes indústrias ou das rodovias e ferrovias, traz em si as ferramentas que vão forjar as ideias e os sonhos de toda gente.

Aqui, tem-se de tudo: homem trabalhador, caboclo batalhador, mulher rendeira e cantigas de roda. Tem cordel, mungunzá e também moda de viola. Tem as moças na janela esperando o sino tocar para ir à missa, rezar para Santo Antônio Revue Cultive - Genève

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ART Plus

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Arte

ARTES PLASTICAS

tamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da vida. Voltando ao Brasil, teve à sua disposição Miss Browne, que a ajudou no desenvolvimento do uso da escrita e no aprendizado do desenho com a mão esquerda. Essa Miss Browne deve ter sido a educadoFilha do engenheiro italiano ra norte-americana Samuele Malfatti e de mãe Márcia P. Browne que norte-americana Eleonoassessorou Caetano ra Elizabeth «Betty» Krug, de Campos na reforAnita Malfatti nasceu na cima que empreendeu dade de São Paulo, em 2 de no ensino primário A boba dezembro de 1889. Segunda e normal em São Paulo, nos filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na primórdios da República. Miss Browne organizou mão direita. Aos três anos de idade foi levada pelos e foi a primeira diretora da Escola Modelo anexa à pais à cidade de Lucca, na Itália, na esperança de Escola Normal. corrigir o defeito congênito. Os resultados do traNa Alemanha e nos Estados Unidos, entre 1910 e 1915 - Anita Malfatti (1889-1964) Anita buscou formação junto a artistas e escolas de arte. Voltou para o Brasi e chocou São Paulo em 1917 ao realizar uma exposição com obras de marcada influência das vanguardas europeias.

Anita Malfatti

La rentrée

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Arte

Vi c ente do Rego Monteiro Nascido no Recife, Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) foi um dos principais artistas modernistas do Brasil. Inspirado pela cerâmica marajoara e pela cultura indígena, conferiu a suas telas densidade e volume, rompendo com o caráter plano da pintura e aproximando-a da escultura.

Alcançou com isso notável originalidade em uma obra marcada pela sinuosidade e sensualidade. Em sua produção, Rego Monteiro mostra-se ainda sintonizado com um estilo bastante específico do Modernismo, o Art Déco, através do uso de curvas que buscam uma elegante regularidade geométrica. Com isso, o artista promove uma refinada e original estilização da temática indigenista brasileira.

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Arte

IMPERIANO

VALQUIRIA

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Arte

MARIA TEREZA PENNA artista mineira, acrílico sobre tela

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Arte

Maria Lagranha

, artista plástica, pintora, desenhista e professora de Artes plasticas, nascida em Uruguaiana, estado do Rio Grande do Sul.

Dia de Festa Óleo sobre tela - 2018 (60 x 80 cm) “ Da série Gente do meu Lugar”

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Arte dir em Fortaleza. Convidado por um amigo suíço, em 1943, fixou residência em Fortaleza. Em 1944, formou a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), com Aldemir Martins (1922-2006)), Inimá de Paula (1918 -¬1999), Antônio Bandeira (1922-1967), Mário Barata (1914-1983), Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas (1919-2014), Clidenor Capibaribe, o Barrica (1908-1993), Zenon Barreto (1918-2002), Raimundo Feitosa e outros artistas locais. O objetivo do grupo era Introduzir o Modernismo nas artes do Ceará. O artista no Studio JSilvarte, concluindo a obra.

Alberto Marques

UNI EM VERSO VISUAL

O projeto UNI EM VERSO VISUAL, faz uma releitura de parte da obra de Jean Pierre Chabloz, com a intenção de resgatar a inestimável contribuição de um estrangeiro, que empresta sua visão universal (europeia) à poética arte visual nordestina, ampliando a possibilidade de difusão e aceitação da criatividade regional, tão pouco conhecida e valorizada nesse país continental. HISTÓRICO

A importância e motivação desse projeto, reside justamente no reconhecimento do papel de Chabloz, como catalisador dos anseios da frágil classe artística cearense da época e do quanto a sua presença e atuação estimulou a que os artistas, reconhecendo suas fragilidades, se unissem em torno da ideia de estruturar, consolidar e difundir a arte cearense para o país. O projeto UNI EM VERSO VISUAL, é composto de 13 quadros elaborados pelo artista Alberto Marques, sendo 12 telas no tamanho 30x30, pintadas a óleo, numa releitura da obra de Chabloz, baseada em seus estudos decorativos, paisagens, ilustrações para publicidade, retratos e estudos de figuras. A escolha dessas peças, na obra de Chabloz, baseou-se no universo de países e culturas nas quais ele conviveu e se influenciou para projetar na sua arte e no seu fazer social. As 12 telas rendem uma homenagem a esse universo visual que passa pela Suíça, França, Portugal, Itália, Rio de Janeiro e Ceará.

Fugindo da guerra na Europa, chegaram ao Brasil nos anos 1940 inúmeros artistas, sendo que a maio- E 1 tela no tamanho 60x60, pintura mista, óleo ria foi residir no bairro de Santa Teresa, no Rio de e acrílica, que representa um retrato do pintor Janeiro. exercendo seu ofício na praia de Iracema, em Fortaleza, numa das muitas pinturas ao ar livre que Para o Brasil veio também, motivado pela Segunda realizou. Guerra Mundial, o suíço Jean Pierre Chabloz, acompanhando a mulher brasileira ¬Regina, com a filha Dados do autor da obra UNI EM VERSO VISUAL Ana Maria, vão residir em Santa Teresa, na casa dos – Tributo a Chabloz sogros. Alberto Marques, Mestre em Administração pela O artista, sempre inquieto, buscando se adaptar aos UFBA, Administrador, professor e Coordenador ares dos trópicos e também movido pela reação a Acadêmico. Nascido em Salvador, BA, residindo críticas que fizera a artistas do Rio Janeiro que ainda em Fortaleza desde 2009, dedica-se a estudar arte buscavam se adaptar aos novos ventos modernistas desde 2010, na Escola de Artes do SENAC e em que sopravam desde a semana de arte de 1922, re- seguida no J. Silvarte Studio, onde aprimorou o solve aceitar o convite de mudar para o Ceará e resi- desenho e se especializou nas técnicas de pintura 176

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Projeto UNI EM VERSO VISUAL Composição: 12 telas pintadas a óleo 30 x 30cm 1 tela pintada a óleo e acrílica 60 x 60cm

a óleo sobre tela. Com uma paleta predominantemente em tons claros e suaves, privilegiando a luz e seus contrastes, o artista segue uma trajetória de consolidação da sua expressão artística, reconhecendo a influência exercida sobre o seu trabalho pelo estudo e observação de referências como Caribé, Mondrian e Amilcar de Castro.

Jean Pierre Chabloz, pintando ao ar livre na Praia de Iracema, em Fortaleza. Anos 1940.

Referências: Catálogo Jean Pierre CHABLOZ 1910-1984 Pinturas e Desenhos Perlingeiro, Max Galeria Multiarte Fortaleza CE - 2003 Maia, Nertan Dias Silva - A trajetória de Jean Pierre Chabloz na constituição do meio artístico da cidade de Fortaleza no âmbito das artes visuais. Dissertação de Mestrado Fortaleza CE - 2012. Revue Cultive - Genève

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Arte

Avani Peixe

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Arte

LU IMPERIANO mãe, artista, designer, poeta

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Arte

Maria Nazaré Cavalcanti

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Arte

Rita Guedes

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CONSULI

EXPÕE EM 2021 NO SALÃO DO LIVRO DE GENEBRA Consuli é um pintor brasileiro autodidata cuja aptidão despertou para as artes ainda na infância. Aos 35 anos ele libertou sua criação ao ter contato com as obras de grandes pintores cubistas e pintores da arte abstrata na livraria onde trabalhava. Inspirou-se em Pablo Picasso, Paul Cézanne, Modigliani, Monet e Renoir, porém seus pintores prediletos são os artista brasileiros Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Manasses, Adélio Sarro, Emiliano Di Cavalcanti. Consuli realiza suas obras com tinta acrílica cuja secagem rápida facilita seu trabalho. A palheta de Consuli é variada com cores fortes e vibrantes, característica peculiar do seu trabalho. A carreira artística profissional de Consuli iniciou em 2005 quando realizou sua primeira exposição na Casa da Moeda do Brasil e teve todos os seus trabalhos vendidos durante a vernissage, a partir de então participa regularmente de exposições no Brasil e no Exterior. A partir de 2017 expôs em Portugal, Suíça, Áustria, Galeria Serena na La Chaux de Fonds, Barcelona, Liechtenstein, Roma, Londres, Amsterdam e Paris. Consuli está sob a curadoria de Maria Hilda Bignens desde 2014 que se encarrega das suas exposições fora do Brasil. Contato: Maria Hilda Bignens +41 76 489 18 34 email: maria.bignens@outlook.com Veja as obras do artista no Catálogo Artístico Cultive que sairá em dezembro. 182

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Arte

MANOEL OSDEMI

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Arte

NIRAN GOES POETA, ARTISTA,

Desenho 3 184

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Arte

PAULO ROBERTO MONTEIRO

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Arte

IRATAN CURVELLO

óleo sobre tela

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EXPOSIÇÃO EM GENEBRA De 27/11 a 24/12/2020 inscrições abertas Artistas confirmados Valquiria Imperiano Avani Peixe Consuli Luciana Imperiano Niriam Goes Marcia Prata Maria Lagranha Maria Nazaré Cavalcanti

COLABORAÇÃO E APOIO

GALERIE HARMONIA

Galerie Harmonia “ A arte é um meio de cura e através das cores as pessoas encontram paz e equilíbrio. A observação de um quadro que agrada a um paciente é uma maneira de libertar o espírito numa viagem cromática que lhe traz paz de espírito e energia saudável às células.” Maria Hilda

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Atualidade

Texto interpretado por crianças durante a quarentena de 2020, dezenas de crianças na cidade de Araranguá-SC, alunos da Casa da Fraternidade interpretou essa mensagem e levaram consolo e esperança para a cidade.

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Literatura

Seção Livros em Destaque Paulo Bretas

Eloah Westphalen Naschenwng

«O doce livro dos Beijos Poéticos»

Haikai

Christianne Couve De Murville

Ivanilde Morais de Gusmão

Paulo Roberto Monteiro

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Literatura Lúcia Sousa

Norma Brito

Edenice Fraga

Izabel Hesne Marum Marivania Albergaria Reflexões sobre a vida Maria Albergaria

Em Reeexões Sobre a Vida, Mari Albergaria registra pequenos textos inspirados no cotidiano da vida. Seu olhar observador e perspicaz e seu espírito sensível captaram, dos fatos reais, ensinamentos e os transformou, em seguida, em textos. Nesse pequeno livro, as mensagens são reforçadas pelos ensinamentos bíblicos, que Mari utiliza como guia espiritual. São mensagens repletas de otimismo e de sabedoria centradas em Deus com o objetivo de levar, ao seu leitor, o acalanto e a coragem para superar as diiculdades e as tristezas.

Telma Brilhante Vera de Barcellos

Raquel Queiroz

Henrique Ferresi

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Literatura Valquiria Imperiano

Antologia Cultive

Osmarina de Souza Antologia Os dez mandamentos Em prosa e verso orgnizador : Cassio Cavalcante

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Literatura

Edições Cultive www.cultive-org.com

Revue Artplus- impressa língua Português/ Francês

Revue Cultive- online português

n°010 | Année 04 | março 2020

muLhErEs diamantEs

REVUE CULTIVE - ISSN 2571-564X

a tEmpo acEntua o briLho

EmpodEramEnto fEminino Corona Consciência 2020 Jóias da música cLássica

muLhErEs artEiras Arte Eternamente taLEntos catarinEnsEs Revue Cultive - Genève

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2a edição 2020

1a edição 2019

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SEJA ESTRELA NA REVISTA CULTIVE Divulgue sua atividade artística e literária nas 4 edições da Revista Cultive , seja membro. Membro Escritor da Revista Cultive - pode publicar suas atividades nas seções: Lançamentos de livros, ( 1 página: textos + fotos) Eventos ( 1 página: texto + fotos) Literatura( textos literários até 4 páginas + fotos) Membro Artista da Revista Cultive - pode publicar suas atividades nas seções: Evento de Arte - 1página: textos + fotos Exposição - (até 2 páginas: texto+ fotos) Textos: Biografia, crítica de arte - (textos + fotos) O membro recebe o link e o pdf por e-mail gratuitamente. Entre em contato e peça a ficha de insrição. edicaocultive@gmail.com Revue Cultive - Genève

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Revue Cultive Próxima edição: dezembro/2020 Enviar textos, fotos, biografia e contato telefônico até o dia 30 de outubro.

Editoriais: Tema: sobre natal ou não Atualidade até 4 páginas com fotos Associações em ação ( 2 páginas- trabalhos das associações em qualquer parte do mundo) Literatura (poesia ou prosa até 4 páginas - poesia livre) História ( história da arte, de estados e cidades) ( até 5 páginas c/ fotos) Viagem virtual - O bioma da minha terra ( 4 páginas - crônicas, pesquisa sobre os biomas de qualquer lugar) Educação - ( 2 páginas - crônicas, 4 páginas pesquisa sobre ações educacionais de qualquer lugar) Atualidade - (2 páginas - textos e fotos sobre qualquer tema sobre a cultura, saúde, música, cinema, teatro, eventos culturais e populares , folclore e outros não citados, ) Artuniversal - ( 2 imagens e descrição do trabalho) Saúde - ( 2 páginas) enviar texto em word doc assinado e fotos por email. PS: Todos os arquivos devem ter o nome do autor, arquivos que forem enviados sem o nome do autor não serão publicados Todos os participantes da Antologia Cultive, inscritos no Salão do Livro de Genebra e Membros Cultive entram automaticamente na edição; outros autores devem enviar os textos para seleção.

Informações: edicaocultive@gmail.com

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CULTIVANDO ARTE E CULTURA EM TEMPOS DE PANDEMIA Revue Cultive www. cultive-org.com

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