Revista Vieirense Nº 14 (2023) - Colégio Antônio Vieira

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Ensino Médio

Magis

Diferenciais que ampliam horizontes na preparação para o Enem

Protagonismo

Juvenil

Conheça núcleos e projetos liderados por jovens estudantes

ENTREVISTA

Fernando Guidini

Diretor da Rede Jesuíta de Educação traça perspectivas

formação de excelência do Vieira agora em tempo integral
12
14
2023
A
Publicação do Setor de Comunicação do Colégio Antônio Vieira Ano
• nº

Educação com

entusiasmo

Uma educação que gere entusiasmo nas crianças e jovens do século 21. Um projeto educativo que os incentive a viver a vida com propósito, que os norteie enquanto cidadãos globais e os torne aptos a fazer a diferença no mundo.

É a proposta do Colégio Antônio Vieira e das demais unidades educativas que integram a Rede Jesuíta de Educação.

Uma missão que mobiliza a escola inteira a promover e acompanhar o desenvolvimento do estudante, em todas as conquistas que ele vai realizando ao longo do ano – a partir de uma educação pautada na solidariedade, na fraternidade, comprometida com valores humanistas, que promove o conhecimento integrado com a vida. Uma formação integral, portanto, em que a excelência humana e a excelência acadêmica caminham juntas, passo a passo.

Expediente

CONSELHO DIRETIVO

Mariângela Risério

Diretora-geral

Ana Paula Marques

Diretora acadêmica

Sérgio Silveira

Diretor de Gestão de Pessoas

Juliana Argollo

Diretora administrativa e financeira

Pe. Emmanuel Araújo, SJ

Assistente espiritual

A Pedagogia Inaciana retroalimenta cotidianamente o nosso projeto educativo, gerando em nós entusiasmo e gratidão. É o que também nos revelam aqui os temas tratados nesta edição da Revista Vieirense. Um dos destaques é a tão esperada novidade do Vieira para este ano de 2023: o Vieira TOP, como carinhosamente chamamos o nosso tempo integral.

Que, inspirados e entusiasmados pelos ensinamentos de Santo Inácio de Loyola, possamos trilhar e avançar cada vez mais juntos –educadores, famílias e estudantes – em nossa tão importante missão educativa.

Boa leitura!

Mariângela Risério

Diretora-geral

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Aidil Brites (DRT/BA 2619)

JORNALISTA RESPONSÁVEL

Joyce de Sousa (DRT/BA 1689)

JORNALISTAS ASSISTENTES

Malu Vieira (DRT/BA 6798) e Rodrigo Marques (DRT/BA 3190)

FOTOS

Paula Isa, Nicolas Arize, Pedro Nunes e banco de imagens.

PRODUÇÃO

Daniela Fernandes

ASSISTENTE DE PRODUÇÃO

Marcos Antônio Querino Jr.

APOIO

Salomão Alves (designer)

REVISÃO

Cristiane Sampaio (DRT/BA 1272)

GRÁFICA

Ultrapress Ltda

DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Diretores

Yêda Nunes Leandro Maia

4 revista vieirense | #14 EDITORIAL
www.colegioantoniovieira.com.br vieira_oficial Tel: 71 3328-9500
Diretora na solenidade em que o Vieira recebeu a comenda do Conselho Estadual de Educação (2022)

Pág. 06 >> Identidade conectada ao tempo presente

Pág. 10 >> A experiência de chegar ao Vieira

Pág. 20 >> 6º ano: ingressando no Ensino Fundamental 2

Pág. 28 >> O educador e a aprendizagem intergeracional

Pág. 30 >> Eletivas Magis: o diferencial do Novo Ensino Médio no Vieira

Pág. 33 >> Protagonismo juvenil

Pág. 40 >> Projeto Noites Plurais

Pág. 42 >> Pe. Smyda, SJ: Olhar Inaciano

#14 | revista vieirense 5 SUMÁRIO
tempo integral qualificado
bilíngue integrada Oficinas RobotiCAV
Guidini,
da
A
indígena na Educação
Vieira TOP: um
14 18 22 24 36 Educação
ENTREVISTA: Fernando
diretor
RJE
questão

VIEIRA:identidade conectada ao tempo presente

Há mais de 100 anos, o colégio sempre se renova, preservando princípios educativos

Poder contar com uma rede de escolas jesuítas, pautada em uma formação integral e humanista, ganha um significado singular nos tempos atuais, em que, muitas vezes, a educação é tratada como um mero produto de mercado.

Com 17 unidades educativas em todo o País, a Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) preserva um legado de mais de cinco séculos, inspirado nos valores e princípios de Santo Inácio

de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. O diferencial da qualidade educativa na contemporaneidade tem uma razão muito especial: o fato de se manter firme em sua identidade, propondo uma educação sempre atualizada para o tempo presente, de excelência cognitiva, mas sem deixar de valorizar as dimensões socioemocional e espiritual-religiosa.

ESPECIAL

Na Bahia, o Colégio Antônio Vieira é o único que integra a RJE, compondo, na Educação Básica, um braço do conjunto de ações apostólicas jesuítas no estado que abrangem ainda unidades de Educação Popular, ações sociais diversas e núcleos de formação espiritual.

COMENDA

Assim, há mais de 100 anos, “o Vieira tem sido uma referência para a história da educação na Bahia”, como declarou o presidente do Conselho de Estadual de Educação, professor Paulo Nacif, ao conceder, em 2022, a Comenda Anísio Teixeira à instituição. O próprio Anísio Teixeira, patrono do CEE-BA, por ser considerado um dos maiores educadores da história nacional, integra a relação de ex-alunos ilustres do colégio. Se o passado edifica a tradição educativa, é o olhar no futuro, transbordan-

SE O PASSADO

do competência e afetividade, que consolida o Vieira como um dos colégios mais bem conceituados e amados de Salvador. São gerações e mais gerações de famílias vieirenses que se tornaram exemplo da missão da instituição de formar cidadãos competentes, conscientes, comprometidos, compassivos e criativos, a partir de uma identidade única que, assim como a escola, os torna especiais no mercado profissional e na vida pessoal: afinal, são vieirenses. Sempre inovando, as novas gerações de vieirenses terão ainda mais experiências de aprendizagem para sentir e saborear, como bem dizia Santo Inácio. É que agora o colégio oferece tempo integral, iniciando pelas três primeiras séries do Ensino Fundamental. É o Vieira, cada vez mais completo e inteiramente seu!

#14 | revista vieirense 7
OLHAR NO FUTURO, TRANSBORDANDO COMPETÊNCIA E AFETIVIDADE, QUE CONSOLIDA O VIEIRA COMO UM DOS COLÉGIOS MAIS BEM CONCEITUADOS E AMADOS DE SALVADOR Educação Jesuíta no Mundo + de 70 países + de 850 colégios
universidades e faculdades
Educação
Brasil, 1
EDIFICA A TRADIÇÃO EDUCATIVA, É O
200
2.700 centros de
Popular 17 no
na Bahia (Vieira)

VIEIRA Momentos

ESPECIAL

VALORES

para além do ensino O acolhimento na chegada ao

Ao pensarmos, eu e meu marido, sobre uma escola para nossos filhos, já tínhamos o Colégio Antônio Vieira como uma grande referência. Temos primos e amigos com filhos estudando na escola e que nos incentivaram ainda mais a seguirmos com nossa escolha. Nossa preocupação não era só com a qualidade de ensino, mas, principalmente,

Vieira

sobre valores necessários na formação de um indivíduo.

Confesso que, no começo, fiquei mais preocupada com Gustavo, nosso filho mais novo, de seis anos. Como seria ingressar em uma escola tão grande? Como seria sua chegada? Como seria acolhido e supervisionado? Afinal, ele ainda é tão pequeno... Mas, logo na visita para conhecermos as instalações, ficamos encantados,

muito seguros e tranquilos com o ambiente para o 1º ano do Ensino Fundamental e com todo o conteúdo que nos foi apresentado.

Gustavo e Beatriz estão adorando a escola, foram muito bem recebidos por todos e tiveram uma excelente adaptação. A equipe, tanto de professores, coordenadores e de apoio, é muito atenciosa e cuidadosa com nossas crianças.

CONEXÃO FAMÍLIA E ESCOLA
Por Adriana Casqueiro, analista de sistemas e mãe vieirense

PROJETO CONTEMPORÂNEO

Como pais, nossa experiência nos mostra uma escola muito organizada, com excelente projeto pedagógico, atualizado em relação às novas tecnologias e preocupado com temas da nossa atualidade, que são trazidos para o dia a dia dos estudantes.

E o mais importante: uma escola preocupada com a formação humana das crianças e adolescentes, uma escola que traz valores de família, de amor e respeito ao próximo, de integridade e de formação religiosa nas suas ações diárias e que são tão importantes para a nossa família.

Assim, a cada dia, a certeza de que fizemos uma boa escolha se mostra mais presente na nossa casa, e isso nos deixa felizes e tranquilos.

E ADOLESCENTES, UMA ESCOLA QUE TRAZ VALORES DE FAMÍLIA, DE AMOR E RESPEITO AO PRÓXIMO, DE INTEGRIDADE E DE FORMAÇÃO RELIGIOSA NAS SUAS AÇÕES DIÁRIAS

E QUE SÃO TÃO IMPORTANTES PARA A NOSSA FAMÍLIA”

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Adriana e o marido Marcos são pais dos alunos Beatriz e Gustavo: família sente-se acolhida na escola
“UMA ESCOLA PREOCUPADA COM A FORMAÇÃO HUMANA DAS CRIANÇAS

Nova escola Momento singular na vida do estudante

Sabemos da importância do contexto escolar na vida de uma criança e de um adolescente. Nesse sentido, todo o momento inicial de adaptação a um novo ambiente requer um olhar cuidadoso, um acolhimento que perpassa

biente afetivo, onde valores como o respeito, a empatia, o amor e a solidariedade estejam presentes. Esses aspectos estão presentes na proposta educativa do Colégio Antônio Vieira, a qual é pautada nos princípios inacianos que buscam conhecer cada estudante de forma única, atentando para suas necessidades, valorizando a

“(...) TRATA-SE DE CUIDAR DA PESSOA, PORQUE ELA É SEMPRE O CENTRO DO PROCESSO, E, AO MESMO TEMPO, GARANTIR O ALCANCE DOS RESULTADOS NOS PROCESSOS QUE SÃO NOSSO COMPROMISSO INSTITUCIONAL COM ESTUDANTES E FAMÍLIAS. ”

pelo afeto, pela atenção e acompanhamento da equipe pedagógica para que possa colaborar de forma efetiva nesse novo caminho que se inicia.

Todo esse processo é gerador de muitos sentimentos, não apenas das crianças e adolescentes, mas também das famílias que necessitam ser compreendidas nas suas inquietações, expectativas e anseios frente a essa caminhada em um novo cenário educacional.

Ao ingressar em uma nova instituição escolar, toda a comunidade educativa precisa apurar seu olhar, atentar às demandas dessas crianças e adolescentes para que, juntos, possam criar um am-

sua identidade, seu potencial cognitivo e habilidades, oportunizando a ampliação dos vínculos afetivos nesse novo contexto educativo.

OLHAR CUIDADOSO

O Serviço de Orientação Educacional (SOE) do Vieira é composto por pedagogas, psicopedagogas e psicólogas que, com um olhar cuidadoso, empático e sensível, acolhem cada estudante reconhecendo todo o seu potencial e também suas limitações, encorajando-o, como novo aluno, a superar eventuais receios nesse caminhar. Esse acolhimento é intrínseco à Pedagogia Inaciana, que nos impulsiona a aprender coletivamente, visando uma formação integral do estudante, contemplando as dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa.

(PEC, 2021, P.50)

Para esse novo momento, portanto, toda a equipe pedagógica está atenta às expectativas, sentimentos e necessidades individuais e coletivas, pois entendemos a importância de um novo caminho que toque o coração e que essa nova trajetória venha repleta de possibilidades que gerem aprendizagens significativas para as crianças e adolescentes.

12 revista vieirense | #14 ARTIGO EDUCADOR
Por Lívia Farani , pedagoga, psicopedagoga, mestra em Gestão Educacional e gestora do Serviço de Orientação Educacional (SOE) do Vieira.
12 2022

TOP VIEIRA

A excelência da formação do Vieira agora também em tempo integral

Aponte sua câmera para o QR-Code e veja o depoimento de crianças sobre a oportunidade de ficar mais tempo no Vieira

As crianças adoram se divertir e aprender nos espaços de aprendizagem do Vieirinha. Elas se sentem à vontade nos ambientes da escola, pois percebem, no dia a dia, o compromisso do Colégio Antônio Vieira em promover uma formação integral, valorizando o brincar e toda a cultura da infância.

Ao perguntar às crianças como se sentem no período em que ficam na escola, muitas já têm a resposta na ponta da língua: “Gostaria de plantar, cuidar dos peixes e fazer uma horta”, revela Saulo Santos. “Ia brincar com meus amigos, ler livros e várias outras coisas, como arte e música”, completa Mallu Assis.

Um dos ambientes preferidos é o Espaço Criançando. O local tem parquinho

e área verde, com laguinho de peixes, minhocário, horta, túnel de bambu, entre outros, que ampliam as possibilidades de brincadeiras e novas descobertas a partir de interações multissensoriais e também com outras crianças.

Foi esse sentimento dos pequenos de “sentir-se em casa” que mobilizou boa parte das famílias vieirenses para que o colégio oferecesse o Tempo Integral. Assim, após várias pesquisas e escutas às crianças e suas famílias, o Vieira atendeu: o colégio, a partir de 2023, passa a contar com o Vieira TOP, como o projeto de Tempo Integral do Vieira foi batizado.

A proposta pedagógica, que carrega em seu DNA a formação integral diferenciada da Rede Jesuíta de Educação (RJE), foi cuidadosamente desenhada, permitin-

do uma ampliação do tempo do aluno na escola, por meio de atividades lúdicas e formativas, dentro do conceito do “aprender e brincar; brincar e aprender”.

A nova modalidade será oferecida, inicialmente, aos alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental (EF), crianças da faixa etária de 6 a 9 anos. O turno es-

14 revista vieirense | #14 CAPA

pecial começa às 7h, com as aulas regulares, estendendo-se até 17h, incluindo refeições orientadas por nutricionistas.

INFÂNCIA ACOLHIDA

“No Vieirinha Integral, seu filho e sua filha, seu neto e sua neta, seu sobrinho e sua sobrinha conviverão em um espaço privilegiado e em harmonia com a beleza da natureza. Estarão num lugar seguro, cercados do cuidado de profissionais competentes, passando mais tempo ao lado dos amigos que levarão para sempre no peito, além de desfrutarem de uma formação acadêmica e humana sólida, de excelência e para toda a vida”, ressalta o professor Renato Barros, coordenador-geral do Vieirinha, unidade destinada aos estudantes do 1º ao 7º ano do Ensino Fundamental (EF).

O professor, que acompanha diariamente a empolgação das crianças nos espaços de aprendizagem do colégio, vem sendo procurado pelas famílias interessadas em saber mais sobre a oportunidade de estar no Vieira TOP. Aumentaram também as consultas nesse sentido à Central de Boas-Vindas da instituição.

E não é para menos. Para compor a proposta do Tempo Integral, a comissão que está à frente do projeto fez visitas técnicas a unidades educativas da RJE no Brasil que já oferecem o serviço, buscando conhecer os melhores mode-

los que se adaptassem aos princípios do Projeto Político-Pedagógico do Vieira e à realidade local. A ideia é não apenas atender às expectativas das famílias que, muitas vezes, não podem estar com as crianças após o turno regular, mas oferecer um projeto de um tempo estendido na escola que seja realmente qualitativo, integrado ao currículo, mas que também encante as crianças.

“Todo processo educativo precisa ser muito refletido, estudado, pesquisado. Então, esse percurso de desenho do nosso Tempo Integral começou em 2019, sendo trabalhado por uma equipe multidisciplinar, até porque não queríamos oferecer mais do mesmo, mas, de fato, uma proposta consistente com a marca da formação integral da educação jesuíta, da educação que a gente acredita”, conta a diretora-geral do Vieira, professora Mariângela Risério, que é mestre e doutoranda em Educação. A proposta prevê que as potencialidades da infância sejam desenvolvidas considerando os potenciais da infância no tempo presente. “Elaboramos esse projeto pensando sempre na criança, cheia de possibilidades, nessa cultura da infância que a gente tanto valoriza. A nossa ideia é sempre preservar e também res-

#14 | revista vieirense 15
Mariângela Risério, diretora-geral

significar esse tempo, que é tão rico de construção de possibilidades, inclusive para o jovem que virá adiante, mas que, para tanto, precisa viver a infância bem, intensamente, com todo potencial que cada uma traz, somando-se ao Projeto Político-Pedagógico do nosso colégio, que traduz o que a gente entende por educação”, frisa a educadora.

APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS

Assim, a partir de propostas metodológicas articuladas ao turno regular, “o aluno do Vieira TOP terá mais tempo para estar no centro dos processos de aprendizagem e desenvolver o pensamento científico, crítico e criativo, assim como outras

a rotina diária do programa, que inclui muita descontração e brin cadeiras, mas sempre com intencionalidade formativa.

A diretora acadêmica do Vieira, professora Ana Paula Marques, também destaca as intencionalidades pedagógicas da proposta. “Trata-se de uma proposta que amplia e potencializa o processo formativo, por meio de atividades curriculares e propostas metodológicas articuladas aos componentes previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, diz ela, que também é mestre e doutoranda em Educação.

NOVOS ESPAÇOS

competências, habilidades e valores fundantes para a sua formação na contemporaneidade, partindo de uma metodologia de aprendizagem baseada em projetos”, complementa a professora Adriana Novis, coordenadora pedagógica do 1º e do 2º ano do Ensino Fundamental (EF) e articuladora pedagógica do Vieira TOP.

“É, de fato, um projeto que foi pensado de uma forma cuidadosa, muito criteriosa, com bastante amor e afeto, com um único propósito: que a infância do seu filho, da sua filha, possa se sentir em casa. Tudo em um ambiente seguro, cuidadoso, afetuoso e cheio de alegria, como a infância precisa”, frisa a professora Adriana Novis. Em reunião de apresentação do projeto às famílias, ela detalhou

“É um projeto em sintonia com as infâncias da contemporaneidade. Concebe cada criança como um cidadão de direitos em todas as suas dimensões, explorando o desenvolvimento cognitivo, mas também socioafetivo e espiritual, de modo que temáticas voltadas para o corpo, a saúde, a natureza, o afetivo, o social, a cultura, a espiritualidade, a ética e o simbólico sejam experiências de aprendizagem significativas e transformadoras para cada criança”, conclui.

16 revista vieirense | #14 CAPA
Área
descanso
Área de descanso
de
Área
externa Cozinha exclusiva Refeitório e espaço multiúso Sala de robótica e maker

AÇÕES E ATIVIDADES PREVISTAS

A partir de uma rotina de atividades, a serem distribuídas pelos cinco dias da semana, o Tempo Integral do Vieira prevê oportunidades de aprendizagens múltiplas, assegurando que o tempo da criança na escola seja qualificado tanto para as motivações dela, naturais da infância, quanto das famílias – naturalmente preocupadas em oferecer uma formação qualificada, que se reflita no presente e no futuro.

EDUCAÇÃO BILÍNGUE

ATELIÊ

É o momento para o aluno descobrir e explorar talentos, enquanto se diverte com os amigos. Um espaço potencial da autonomia da aprendizagem, desenvolvendo o conhecimento integral das crianças, por meio da investigação e experimentação de seus fazeres e saberes e de suas múltiplas linguagens, como a arte, a música, entre outras.

APROFUNDAMENTO DE ESTUDO

Os alunos já chegam em casa à noite com as atividades do turno regular realizadas, a partir da mediação qualificada de uma professora regente, que também vai trabalhar, gradativamente, a autonomia da criança como parte da rotina diária de estudos, visando novas etapas da vida escolar”, explica a coordenadora pedagógica e articuladora do Vieira TOP, professora Adriana Novis.

O Programa Bilíngue do Vieira já contempla, no turno regular (matutino), cinco aulas por semana, com uma aula todos os dias. No tempo integral, as crianças terão mais uma aula diária, no turno vespertino, intensificando esse contexto de imersão e contato com a segunda língua. “É uma proposta sempre pautada na ludicidade e em metodologias ativas para que a criança possa ir desenvolvendo essa competência bilíngue de forma bem natural e contextualizada”, frisa a professora Adriana.

MAKER E ROBÓTICA

Serão dois momentos previstos semanalmente para que as crianças possam trabalhar a partir da cultura de valorização da “mão na massa”. As atividades incluem conceitos de robótica, permitindo que os alunos desenvolvam o raciocínio lógico, a criatividade e noções de empreendedorismo, considerando a faixa etária.

PAUSA INACIANA

Momento para que a criança possa dar uma pausa para se conectar consigo mesma, com a natureza e desenvolver a sua espiritualidade.

BRINCAR E APRENDER/ APRENDER E BRINCAR

O Vieira compreende a cultura da infância, incluindo os momentos de brincadeiras e imaginação, como parte do processo natural de construção das vivências e conhecimentos. Por isso, o brincar e todo o seu potencial formativo também fazem parte do projeto pedagógico do Vieira TOP.

DIÁRIO DE BORDO

Um diário de bordo informa como foi o dia da criança no Vieira TOP. “É importante que a escola possa compartilhar com as famílias, e vice-versa, os avanços do processo de aprendizagem da criança, em um diálogo constante e em consonância com a missão da nossa escola de desenvolvimento pleno do sujeito em todas as suas dimensões”, diz a professora Adriana Novis.

ATIVIDADE CORPORAL/ ESPORTES

O projeto prevê alternância entre aulas divertidas de Educação Física e modalidades esportivas (natação, ginástica rítmica e futsal) para o desenvolvimento da consciência corporal das crianças.

ESPAÇO GOURMET/ HORTA PEDAGÓGICA

Mais do que assegurar uma alimentação de qualidade, supervisionada por nutricionistas, o Tempo Integral do Vieira abrange ainda todo um trabalho de educação alimentar, em espaços especialmente desenvolvidos para as crianças.

LABORATÓRIO

Conforme previsto na BNCC, a proposta também inclui atividades visando desenvolver o letramento científico das crianças. No Vieira TOP, elas, naturalmente curiosas e investigativas, também poderão ampliar suas descobertas científicas.

YES

Bilíngue

DESDE PEQUENININHA

As vantagens de a criança aprender uma segunda língua

Mais do que aprender estruturas linguísticas e palavras em uma língua estrangeira, a educação bilíngue para crianças deve promover o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais.

GOOD

Atividades interdisciplinares

Pesquisadores já comprovaram que a exposição a dois idiomas, enquanto estão aprendendo um, traz muitos benefícios para além do aprendizado da segunda língua, a exemplo da capacidade superior de se concentrar em um assunto e, rapidamente, pensar em outro, sem que se perca a conexão das ideias.

No Vieirinha, unidade do Colégio Antônio Vieira destinada às crianças, a aprendizagem do Inglês acontece de uma forma bem natural, a partir de metodologias ativas e atividades multidisciplinares que envolvem brincadeiras, jogos, música e arte, tudo sempre trabalhado de forma leve, em plena interação com a realidade da criança do século 21. O idioma foi escolhido por ser o mais usado no mundo ocidental.

O fato é que a educação bilíngue, como parte de uma formação integral pautada na cidadania global, tornou-se um dos diferenciais do Vieira. Em 2023, o colégio intensifica a proposta de imersão integrada dos alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fun damental (EF), contando com a parceria do Programa U-Education, da universidade jesuíta Unisinos, do Rio Grande do Sul.

CARGA HORÁRIA ESTENDIDA

“No U-Education, a educação bilíngue se compromete com a integração entre língua e conteúdo na proposta curricular, explorando diferentes espaços escolares e se integrando multidi mensionalmente. No caso do Vieira, a escola firma-se, assim, como unidade educativa com carga horária estendi da em língua estrangeira”, explica a equipe técnica da Unisinos. O progra ma promove formação especia lizada para toda a equipe pedagógica da escola – e não apenas dos professores que lecionam língua estrangeira –, “com um itine rário que amplia os olhares sobre a

educação bilíngue e currículo integrado”, frisa a coordenadora do Bilíngue do Vieira, professora

A professora Adriana tem percebido os avanços dos estudantes a cada ano, sendo a aprendizagem do Inglês um dos instrumentos trabalhados dentro da concepção de cidadania global. “A educação bilíngue, no nosso colégio, apoia os estudantes no desenvolvimento de competências para observar, refletir e mobilizar conhecimento, de modo que eles sejam, linguística e culturalmente, aptos e respeitosos para com a sociedade em que estão inseridos”, diz. “Trata-se de um currículo integrado e colaborativo que promove uma aproximação com a realidade, colocando as

18 revista vieirense | #14
CIDADANIA GLOBAL
HI! FUN

novo ciclo O início de um

Ingressando no Fundamental 2

O6º ano é uma série especial para os estudantes. Afinal, ela marca a chegada ao Ensino Fundamental 2 e ao início da pré-adolescência. No Colégio Antônio Vieira, a série é o ponto de partida para a ampliação dos conhecimentos e a construção de novos saberes.

Entre as novidades do conteúdo pedagógico estão os programas de Iniciação Científica e TecMaker, que, no currículo escolar, estão associados a outras disciplinas, como Matemática e Geografia. Nas atividades, os alunos são introduzidos à pesquisa científica e estimulados a criar soluções para problemas do dia a dia.

A coordenadora da série, Mariângela Rosier, explica que o 6º ano EF é o momento ideal para que os alunos deem esse ‘próximo passo’ no caminho do conhecimento. Mais maduros e com anseio por novas experiências, os estudantes

passam a participar de projetos que são um marco para a nova etapa de formação.

“A equipe pedagógica busca aprofundar o repertório desses alunos e estimulá-los a pensar de forma crítica. Além disso, investimos na autonomia e na autoconfiança de cada um deles, até porque este é um momento em que muitas mudanças físicas e emocionais acontecem”, explica. Por meio das metodologias aplicadas, os estudantes desenvolvem hábitos de estudo e pesquisa que serão explorados ao longo de toda a vida escolar. “Eles exploram o potencial criativo, pesquisam e debatem com os colegas. Tudo isso faz parte da formação integral e auxilia no desenvolvimento deles como estudantes e indivíduos”, afirma a coordenadora.

Aprendizagem na prática Pesquisa, trabalho em equipe, elaboração e apresentação. Na Iniciação Científica, os estudantes passam por todas as etapas de desenvolvimento dos projetos, que são realizadas de forma trimestral e em parceria com uma disciplina.

Para a professora Marize Coelho, uma das profissionais responsáveis pela Iniciação Científica no Colégio Antônio Vieira, a iniciativa estimula o pensamento criativo desde a infância. “Nós estimulamos que eles elaborem soluções de forma inovadora. Eles também começam a entender que iniciação científica não é só ciências naturais, ela está presente em toda e qualquer área do conhecimento”, explica.

Um dos estudos realizados durante o ano é a elaboração do projeto da ExpoCiência, mostra de experimentos e pesquisas científicas que acontece anualmente no Colégio Antônio Vieira. A partir do 6º ano EF, os alunos começam a desenvolver

6º ANO
20 revista vieirense | #14

COLÉGIO ANTÔNIO VIEIRA, O 6º ANO EF É O PONTO DE PARTIDA PARA A AMPLIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES

NO

projetos mais complexos, com base nos conhecimentos explorados nas aulas de Iniciação Científica.

De acordo com a aluna Milena Neiva, do 6º A, o projeto dá a oportunidade de os alunos colocarem em prática os assuntos aprendidos na sala de aula. “É como se a gente conseguisse sair da caixa, testar coisas novas. A ExpoCiência foi um dos meus trabalhos preferidos, porque cada grupo pôde escolher o próprio tema, o que deu mais liberdade para a gente explorar assuntos que gostamos”, afirma.

Mão na massa

Assim como a Iniciação Científica, o projeto TecMaker busca aprimorar áreas do conhecimento de forma prática e bem divertida. Nele, os alunos têm a oportunidade de criar projetos interdisciplinares para resolver problemas que os cercam, como questões da própria escola ou da comunidade.

A coordenadora Augustinéa Cortial explica que o projeto possibilita que os alunos do 6º ano EF intensifiquem habilidades como criatividade, pensamento crítico, resiliência ao erro, colaboração e empatia. “O aluno se torna protagonista do processo de construção do seu conhecimento, tomando decisões e conduzindo o desenvolvimento dos projetos. Ele deixa de ser um ouvinte passivo e atua com criticidade na construção do saber”, explica.

Para Fernando Bittencourt, estudante do 6º C, o TecMaker auxilia o aprendizado de diversas formas. Além de os

projetos estarem associados ao conteúdo da sala de aula, eles também permitem que os alunos desenvolvam habilidades motoras. “São projetos que nos dão mais maturidade e independência”, conclui.

#14 | revista vieirense 21

tecnologia

é coisa de criança

Oficinas Roboticav desenvolvem habilidades e estimulam a criação de projetos

No Colégio Antônio Vieira, o estudante conta com os benefícios das atividades extracurriculares desde o Ensino Fundamental (EF). A Oficina de Robótica é uma delas e, por meio de atividades práticas divertidas, reúne conhecimentos de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática para crianças do 1º ao 5º ano EF.

A oficina é dividida em três níveis e as aulas são desenvolvidas a partir das

séries dos alunos. Nos projetos, as crianças são estimuladas a construir soluções e protótipos robóticos para questões da vida real.

Para a supervisora de Mídia Educacional e Tecnologia do Vieira e coordenadora das Oficinas Roboticav, Cláudia Zimmer, os alunos exercitam o trabalho em equipe e, por meio da experimentação e da

ludicidade, adquirem conhecimentos a que só teriam acesso nas séries seguintes. “Através dos projetos, eles desenvolvem habilidades para pesquisar, pensar soluções de forma lógica e objetiva. As atividades contêm ainda assuntos de Física, por exemplo, uma matéria que eles só iriam explorar mais à frente”, explica.

ROBÓTICA

ENTRE OS PROJETOS CRIADOS EM 2022, OS ALUNOS DO NÍVEL MAIS AVANÇADO DECIDIRAM FOCAR NA SUSTENTABILIDADE. COM MATERIAIS RECICLÁVEIS E ELETRÔNICOS, ELES CRIARAM UM MODELO DE IRRIGAÇÃO AUTOMÁTICA, QUE FOI TESTADO NO BOSQUE DO VIEIRA.

Um dos resultados desse desenvolvimento é a participação de equipes da oficina na etapa baiana da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Antes da pandemia da covid-19, em 2019, dois grupos participaram do evento, em que tiveram que programar robôs para resgatar vítimas de um desastre.

DE OLHO NO FUTURO

Entre os projetos cria-

dos em 2022, os alunos do nível mais avançado decidiram focar na sustentabilidade. Com materiais recicláveis e eletrônicos, eles criaram um modelo de irrigação automática, que foi testado no Bosque do Vieira.

O monitor Flávio Brito conta que a iniciativa proporciona economia nos gastos de água e energia. “A irrigação automática mede a umidade do solo e ativa

uma bomba d’água, permitindo que a planta seja devidamente regada quando necessário. Isso gera economia no consumo de água e de energia”, contou. Júlia Assaf, do 5º ano EF, é da turma de estudantes que participou do projeto. Apaixonada pela Robótica, ela já faz planos para atuar na área. “É uma atividade que gosto muito: adoro fazer os códigos de programação, fazer circuitos e já me vejo desenvolvendo jogos no futuro”, afirma.

RJE em ação

À frente da Rede Jesuíta de Educação desde maio de 2022, o professor Fernando Guidini apresenta os planos da RJE, bem como os propósitos da formação oferecida às crianças e jovens pelas 17 unidades educativas que compõem a Rede em todo o Brasil, entre elas, o Colégio Antônio Vieira. Prof. Guidini é formado em Filosofia, mestre e doutor em Educação.

Revista Vieirense - Desde que assumiu a direção da RJE, o senhor tem destacado a importância do planejamento estratégico. Considerando este cenário, quais são os planos para os próximos anos?

Fernando Guidini: Nossa Rede tem sete anos e nasce praticamente com a Província dos Jesuítas do Brasil. São 17 unidades educativas, em nove estados. Temos um Projeto Educativo Comum (PEC), a partir do qual a gente estrutura as grandes dimensões da aprendizagem integral nos aspectos cognitivo, socioemocional e espiritual-religioso. Assim, a nossa Rede tem uma missão comum, uma visão, princípios, valores e também um planejamento estratégico. E este agora aponta para uma excelência ainda maior nas aprendiza-

24 revista vieirense | #14 ENTREVISTA » PROF. FERNANDO GUIDINI
Diretor da Rede Jesuíta de Educação anuncia planos e reafirma propósitos

gens, para a qualidade da formação dos nossos educadores, para os processos de comunicação e para as estruturas de governo. A partir desses quatro grandes eixos, a RJE começa a dar novos passos de solidificação da sua presença, dentro daquilo que compreende por aprendizagem integral, atuando no contexto de Brasil e também na missão da Companhia dentro da sua grande perspectiva missionária: a ação apostólica da Província. Estamos, portanto, muito otimistas como rede em nossos planos para os próximos anos, atendendo às culturas locais, aos contextos atuais, sempre atentos ao quanto nós estamos incidindo sobre a qualidade das aprendizagens dos nossos estudantes.

R.V. - Como manter essa identidade em contextos tão adversos?

F.G. - A nossa identidade parte da marca apostólica e pedagógica

da Companhia de Jesus. Seguimos os princípios da Pedagogia Inaciana que, por sua vez, vêm de toda a experiência espiritual de Santo Inácio de Loyola, no século XVI, e de toda a fundamentação dos documentos jesuítas ao longo dos tempos, a exemplo dos “Colégios Jesuítas: uma tradição viva no século XXI”. Então, nós bebemos dessas fontes. A partir delas, temos princípios, valores, temos toda uma raiz identitária. Aqui no Brasil, a nossa rede faz essa leitura das culturas locais e contextos globais e, a partir disso, vai definindo quais são os seus grandes horizontes, dentro da missão de promover educação de excelência, inspirada em valores cristãos e inacianos, buscando formar cidadãos conscientes, competentes, compassivos, criativos e comprometidos. É a nossa missão! Localmente, o Vieira e os demais colégios da RJE têm esta missão e, no currículo local, eles vão traduzindo o que mais atende aos estudantes, ao projeto da unidade, à realidade da cidade e, a partir disso, seguindo também a legislação nacional, vai

produzindo o seu Projeto Político Pedagógico local. E, assim, nesse caminho, vai-se fortalecendo nossa identidade.

R.V. - É assim também que as unidades jesuítas vão se mantendo como referência educativa na contemporaneidade?

F.G. - Sim. As instituições educativas da Companhia de Jesus são instituições que foram se constituindo ao longo dos séculos, mas elas foram se formando a partir de uma leitura contextualizada das principais necessidades daquele momento histórico. Então, uma determinada unidade, um determinado colégio, no século XVI, XVII ou XVIII, respondeu ao melhor, ao mais necessário naquele momento. Os jesuítas da época iam, por exemplo, para a Universidade de Paris (e também na Itália), viam o que tinha de melhor e traziam. Hoje, nós continuamos com esse olhar atento ao movimento da cultura, da educação, às principais características de contexto, às necessárias respostas, aos índices, às métricas... A partir dessas habi-

“Estamos, portanto, muito otimistas como rede em nossos planos para os próximos anos, atendendo às culturas locais, aos contextos atuais, sempre atentos ao quanto nós estamos incidindo sobre a qualidade das aprendizagens dos nossos estudantes”
#14 | revista vieirense 25
Prof. Guidini e os membros do Conselho Diretivo do Vieira

lidades, competências, aprendizagens mesmo, que são necessárias para o cidadão de hoje, no século XXI, nós vamos desenhando os nossos projetos.

A atualização em nossa Rede é, portanto, uma resposta às necessidades, mas também um olhar sempre à fren-

te do que pode e deve ser trazido no currículo para que responda melhor a esse estudante que hoje está conosco, mas que daqui a alguns anos estará na vida adulta. Por isso, a importância desse passo sempre à frente das nossas instituições.

R.V. - Como estar à frente em meio a esses tempos de alta tecnologia e velocidade da informação, já tão dominados pelas crianças e jovens nativos digitais?

F.G. - O Vieira e as demais unidades da Rede no Brasil buscam estar atentas e constantemente desenvolver estudos sobre o contexto e os sujeitos com os quais a gente trabalha. Assim, a perspectiva da aprendizagem integral se dá sobre o viés do estudante: quem é essa criança, quem é esse adolescente, quem é esse jovem? Como ele aprende, quais são os seus tempos e espaços? Quais as melhores mediações? O que inovar, o que atualizar, o que trazer de tecnologia? Desta forma, vai se organizando toda a

perspectiva curricular dos colégios, sempre atenta à nossa matriz identitária e ao que a legislação nacional ou local nos pede, a exemplo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre outros referenciais curriculares. A finalidade é a tecnologia? Não. A finalidade do nosso projeto é a formação integral do estudante. Os meios tecnológicos são um dos recursos para isso, mas sempre pensados, a partir dos propósitos da didática, com o coletivo dos professores discutindo sempre, avaliando, se informando, estudando e, aí, tendo o discernimento tão próprio da nossa Pedagogia, a gente vai avançando, dentro da reflexão constante sobre o que é melhor para os nossos estudantes.

R.V. - O senhor destaca a importância dessa formação da equipe pedagógica, do discernimento... Como isso se dá na prática?

F.G. - A educação é feita por pessoas. E são os educadores que estão à frente, são a referência. Então, a gente tem

ENTREVISTA » PROF. FERNANDO GUIDINI
“A atualização em nossa Rede é, portanto, uma resposta às necessidades, mas também um olhar sempre à frente do que pode e deve ser trazido no currículo para que responda melhor a esse estudante que hoje está conosco, mas que daqui a alguns anos estará na vida adulta”
Na abertura da reunião de elaboração do Planejamento Estratégico do Vieira

INTERGERACIONAL NA ESCOLA DEMOCRÁTICA:

um caminho possível

Tornou-se recorrente nas escolas brasileiras e nos discursos que as constituem uma preocupação com a atividade dos estudantes, uma nova valorização dos seus desejos, escolhas e propósitos. Diferentes atores públicos e privados têm incentivado a retomada de um importante princípio da escola progressista: a centralidade dos estudantes

As novas políticas educacionais também têm convergido a esta intencionalidade, colocando em atuação as noções de direitos de aprendizagem, protagonismo, projetos de vida, itinerários formativos ou mesmo competências socioemocionais. A combinação dessas ideias tende a compor uma nova gramática curricular, centrada nas escolhas individuais daqueles que aprendem na escola.

Preciso chamar a atenção que estas concepções são significativas e merecem um tratamento conceitual em nossas reflexões. Todavia, tenho insistido na condição paradoxal que perpassa a emergência das escolhas individuais como um imperativo curricular: a constituição de estudantes autorreferentes pode inviabilizar a construção de modos de vida democráticos e intensificar as desigualdades educacionais, especialmente em contexto de vulnerabilidade social.

ÂMBITO CURRICULAR

Tenho reposicionado minhas inquietações sobre esta questão a partir das leituras das obras de Michael Fielding, importante educador crítico. De acordo

com sua perspectiva, a valorização da voz dos estudantes precisa ocorrer em um cenário de aprendizagem intergeracional , de modo que as crianças e jovens não sejam abandonados a suas condições existenciais (e ao cardápio de escolhas que lhes corresponde).

Os estudos sobre a voz dos estudantes congregam uma variedade de iniciativas voltadas para os processos de tomada de decisão na escola, seja numa perspectiva da gestão educativa, seja no âmbito das questões curriculares e didáticas. Na obra Radical Education and the Common School, em parceria com Peter Moss, Fielding detalha sua percepção de que as formas privilegiadas de protagonismo dos estudantes ocorrem em um contexto em que as decisões são compartilhadas – crianças, adolescentes e adultos –, criando condições para a emergência de uma efetiva cultura democrática.

APRENDIZAGEM
O importante papel do educador para que a valorização da voz dos estudantes se dê em uma disposição pedagógica
ARTIGO PROFESSOR
Por Roberto Rafael Dias da Silva. Professor da Escola de Humanidades da Unisinos/ RS e um dos palestrantes do Programa de Formação Docente do Colégio Antônio Vieira.

RECONECTANDO VALORES

Para concluir, poderíamos interrogar: toda aprendizagem centrada nos estudantes é democrática? Todas as metodologias ativas promovem uma cultura de participação? Concordando com o autor mencionado, a resposta seria negativa. A atividade dos estu-

dantes precisa estar inscrita em uma disposição pedagógica definida por três características importantes: a) ambiência horizontal para a aquisição de conhecimentos; b) responsabilidade compartilhada; c) possibilidades para construir novos futuros.

Certamente que estamos recom-

pondo os processos de aprendizagem na escola, por meio de atividades que valorizem a voz do alunado. Nossa tarefa para o século XXI, talvez o próximo passo, está em reconectar os valores da escola democrática com os desafios da aprendizagem intergeracional. Eis a tarefa de uma escola humanista!

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DOCENTE

A atualização constante da formação da equipe de professores, orientadores educacionais e coordenadores pedagógicos é uma das ações que asseguram uma escola sempre conectada ao tempo presente.

É por esta razão que o Colégio Antônio Vieira, seguindo os princípios da Rede Jesuíta de Educação (RJE), promove anualmente e de forma continuada seu Programa de Formação Docente, com a participação de especialistas da Rede e de universidades de todo o país, a exemplo do Prof. Dr. Roberto Rafael Dias, da Unisinos.

Os profissionais também são incentivados a realizar cursos de pós-graduação e participar de eventos de formação no Brasil e em outros países, assim como tratam de temas contemporâneos de pesquisas acadêmicas na área, nas reuniões semanais de coordenação pedagógica (RCPs).

“Os estudos sobre a voz dos estudantes congregam uma variedade de iniciativas voltadas para os processos de tomada de decisão na escola, seja numa perspectiva da gestão educativa, seja no âmbito das questões curriculares e didáticas”
Videoconferência com o Prof. Dr. Roberto Rafael Dias (Unisinos/RS) Atividade formativa com coordenadores pedagógicos do Vieira e das escolas jesuítas de Educação Popular Formação com a Profa. Dra. Paula Sibilia (UFF/RJ) RCPs com caráter formativo
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Palestra com a doutora e mestre em Comunicação Rosângela Florcsak (ESPM/SP)

O Novo Ensino Médio do

Vieira

Compromisso com uma formação integral para a cidadania global

OEnsino Médio vem ganhando cada vez mais espaço no cenário educacional, apresentando-se como um veículo potente para a qualificação das aprendizagens, tendo em vista o desenvolvimento de habilidades e capacidades específicas, como maior autonomia e pensamento crítico. Assim, a Lei nº 13.415/2017, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), estabeleceu uma mudança na arquitetura curricular para o que se chama Novo Ensino Médio

Vieira desenvolveu um projeto robusto e inovador, comprometido com as diretrizes locais e nacionais, mas também com os princípios educativos da Companhia de Jesus, seguindo seu propósito de formação integral para a Cidadania Global, a partir da valorização do protagonismo e da autonomia dos jovens.

Na sua arquitetura curricular, além das áreas do conhecimento e das disciplinas previstas na BNCC e orientadas pelo Conselho Estadual de Educação da Bahia, o Vieira oferece, na parte diversificada, itinerários formativos, eletivas e um projeto de vida profundamente comprometidos com uma aprendizagem significativa, transformadora, personalizada e implicada com as exigências do mundo contemporâneo.

Por Ana Paula Marques e Léa Pontes, respectivamente, diretora acadêmica e coordenadora pedagógica da 1ª série EM no

Definiu-se, assim, uma nova organização curricular, mais flexível, que contempla, ao mesmo tempo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a oferta de diferentes possibilidades de escolha aos estudantes, com itinerários formativos e eletivas, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional, fazendo com que o aluno aprofunde conhecimentos em áreas de maior aptidão e interesse.

A partir dos novos caminhos propostos pela Lei do Novo Ensino Médio, o

Para além do Enem Ao oportunizar aos estudantes possibilidades de escolhas, de acordo com o seu projeto de vida e seus centros de interesse, sem abrir mão da formação geral básica e de toda a preparação necessária para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os principais vestibulares do Brasil, o nosso projeto oferece também disciplinas, oficinas, trilhas de aprendizagem e núcleos de estudos diversos. São opções que estimulam o protagonismo e promovem experiências para além do conhecimento histórico e universal, desenvolvendo um conjunto de habilidades e competências diversificadas numa perspectiva de formação integral.

Essas eletivas, especificamente, são denominadas Ampliação de Co-

nhecimento e convocam os jovens a entender e se comprometer com o contexto local e global, apropriando-se de recursos tecnológicos, socioafetivos e cognitivos que possam contribuir na resolução de problemas nos mais diversos âmbitos da vida social. Nesse processo educativo, os jovens colocam em prática, de forma colaborativa, as competências e habilidades adquiridas, experimentando práticas sociais, culturais, políticas, acadêmicas, científicas e do mundo do trabalho.

Assim, dentre os itinerários e as eletivas, em conformidade com as diretrizes legislativas locais e nacionais,

30 revista vieirense | #14
ARTIGO EDUCAÇÃO DE JOVENS
Vieira. Profa. Ana Paula é mestre em Gestão Educacional e doutoranda em Educação. Profa. Léa é mestre em Gestão Educacional e especialista em Avaliação Educacional.

PROPOSTA CURRICULAR

FORMAÇÃO GERAL BÁSICA (BNCC)

12 disciplinas: Língua Portuguesa, Biologia, Matemática, História etc.

Projeto de Vida*

Componentes

Obrigatórios (1ª EM) ou

Itinerários Formativos (2ª e 3ª EM)*

Eletivas Obrigatórias*

CURRÍCULO FLEXÍVEL

ELETIVAS MAGIS**

DIFERENCIAL VIEIRA

APROFUNDAMENTO POR ÁREA OU BLOCO

O aluno escolhe de acordo com áreas de conhecimento de interesse e/ou expectativas de carreira profissional

Reforço das disciplinas básicas previstas em lei: Redação, Química etc.

Unidades curriculares que se articulam às diversas dimensões da formação integral para a cidadania

**Incluindo oficinas, atividades e trilhas temáticas que ampliam a preparação para Enem e vestibulares. ***Base Nacional Comum Curricular

AMPLIAÇÃO DO CONHECIMENTO

PARCERIA COM UNISINOS

TRILHAS TEMÁTICAS

LÍNGUA ESTRANGEIRA OFICINAS

NÚCLEOS DE PROTAGONISMO E PROJETO QUE PODEM SER APROVEITADOS COMO CRÉDITO

1. Ciência e Tecnologia como vetores para saúde e bem-estar

MODALIDADES ESPORTIVAS

ESPANHOL ESPANHOL

MAKER

BLOCO 1

Linguagens e Ciências Humanas

Ciências Humanas e Processos Criativos

Direito, Design, Arte, Jornalismo, Publicidade e Propaganda etc.

2. Pensamento projetual e criativo para as cidades sustentáveis.

3. Interculturality and global citizenship (totalmente em inglês)

APROFUNDAMENTO POR ÁREA OU BLOCO

BLOCO 2

Matemática e Ciências da Natureza

Ciências Naturais e Tecnologias

BLOCO 3

Matemática e Ciências Humanas

BLOCO 4

Ciências da Natureza e Ciências Humanas

Ciências Sociais e Exatas Aplicadas

Ciências da Saúde e Bem-estar Social

Engenharias, Administração, Química, Física etc.

Arquitetura, Economia, Ciências da Computação, Estatística etc.

Medicina, Psicologia, Biomedicina, Fisioterapia, Odontologia, Veterinária etc.

#14 | revista vieirense 31
ELETIVA
COMPLEMENTAR BNCC***
AMPLIAÇÃO DE CONHECIMENTO
*Conforme Documento Curricular Referencial do Conselho Estatual de Educação da Bahia
AVLA NEIMS NAIC NAV VOLUNTARIADO ONU COLEGIAL
BASQUETE
DANÇA
FUTSAL
VOLEIBOL GINÁSTICA
HANDBALL
*Exemplo válido para a 2ª série EM.

ARTIGO EDUCAÇÃO DE JOVENS

ciocultural; Processos Criativos; e Empreendedorismo Social

garantindo bons resultados acadêmicos e a inserção de novos estudantes nas melhores universidades do Brasil e do mundo, o projeto educativo do Vieira oferece experiências educativas conectadas com a realidade contemporânea, atendendo também aos eixos estruturantes previstos em lei. São eles: Investigação Científica; Mediação e Intervenção So-

Em consonância também com esses eixos, as nossas Eletivas de Ampliação de Conhecimento, por exemplo, oferecem Oficinas Maker, aulas de Espanhol, Projeto ONU Colegial e Intercolegial (em parceria com outras escolas da Rede Jesuíta de Educação), diversas modalidades esportivas e trilhas de aprendizagem, voltadas para temas, como cidadania global (bilíngue), empreendedorismo social, cidades sustentáveis, além de saúde e bem-estar social, em parceria com a universidade jesuíta Unisinos, do Rio Grande do Sul.

O estudante ainda pode aproveitar como crédito curricular sua participação nos núcleos de protagonismo estudantil, voltados para discussões práticas e intervenções socioculturais, no âmbito temático das expressões artísticas e culturais (Avla), das questões ambientais (NAV) e

minorias sociais (Neims), além do incentivo ao conhecimento acadêmico (Naic) e à solidariedade (Voluntariado).

Centro da aprendizagem

Todo esse projeto considera o estudante como o centro da aprendizagem, concebendo-o como participante e ator de suas escolhas. Para isso, nossa equipe de educadores favorece a construção do seu projeto de vida, que estimule e promova a reflexão, o autoconhecimento, a crítica, o discernimento e a participação nas realidades e dinâmicas sócio-históricas.

É todo esse diferencial que faz com que o nosso Novo Ensino Médio articule o conhecimento escolar às dimensões ligadas ao trabalho, à ciência, à tecnologia, à cultura, ao socioafetivo e ao humano-espiritual, elementos conectados constantemente com as permanências e transformações das sociedades contemporâneas.

Protagonismo Estudantil e Projeto de Vida

O pulsar das juventudes no Vieira

Aexperiência que eu tive com o protagonismo estudantil no Colégio Antônio Vieira me atravessa de uma maneira muito específica e constituinte de toda a minha prática enquanto estudante e profissional. Foi a partir dessa participação que vi o meu projeto de vida tomar forma, o que foi determinante para que eu pudesse atribuir sabor e sentido para os conheci-

Esse compromisso com a construção de uma escola mais participativa envolve a atuação efetiva e afetiva dos estudantes que se permitem viver essas experiências, trabalhando dentro das possibilidades dos espaços ocupados. A criação e permanência dos Núcleos Estudantis, por exemplo, conta com um professor articulador – que faz a mediação entre os estudantes e a escola, propõe reflexões e autocríticas essenciais –, porém ocorre, principalmente, de forma orgânica a partir da mobilização de estudantes, que sentem – nem sempre de uma forma direta – a ampliação de saberes como algo tão necessário quanto o conteúdo programático e criam um sentimento de pertencimento tão forte que, mesmo após concluírem o Ensino Médio, continuam contribuindo com a qualificação dos projetos de que participavam.

Por Mariana Ruback, ex-aluna e atualmente colaboradora responsável pela articulação dos projetos de Protagonismo Estudantil no Colégio Antônio Vieira.

do e com os demais. É, também, sobre fazer escolhas e saber priorizar aquelas que fazem mais sentido para o percurso escolhido.

mentos aprendidos em sala de aula.

E quando falamos de sala de aula, o espaço não se reduz a quatro paredes, um quadro e carteiras. A escola, como um todo, é viva, pulsante e construída coletivamente. E é pensando nessa construção coletiva que o protagonismo estudantil se enquadra: são estudantes que tomam as rédeas do próprio processo de aprendizagem e ocupam espaços de produção criativa, gestão de projetos, liderança com propósito, compromisso socioambiental, participação democrática…

Os Núcleos Estudantis, o Grêmio e os Representantes de Turma são possibilidades concretas, construídas e “(res)significadas” a partir de uma escuta ativa e cuidadosa, para que funcionem com todo o potencial criador e pulsante, característico da juventude. É sobre trabalhar com a formação integral desse indivíduo que se coloca como protagonista, e isso faz toda a diferença na sua construção enquanto sujeito crítico no mun-

A construção de alternativas possíveis para o meio ambiente; a sensibilização sobre os direitos das minorias sociais; a produção artística; a representação em espaços deliberativos… todas essas experiências geram produtos incapazes de ser mensurados quantitativamente, porque são práticas formativas para vida. E, para nós, isso não é extracurrículo, mas currículo.

Por isso a necessidade de termos projetos e espaços pensados com os alunos, em um exercício verdadeiro de diálogo, pois criar pontes entre o colégio e os estudantes é o melhor caminho para uma escola mais viva e mais inclusiva, que responda aos anseios da juventude. E é um pouco disso que estamos tentando fazer a cada dia: “Acompanhar os jovens na criação de um futuro promissor” (Terceira Preferência Apostólica Universal).

ARTIGO LÍDERES EM FORMAÇÃO
33

O que pensam

os jovens

Os projetos de protagonismo estudantil possuem importância imensurável. Eles nos possibilitam aprender não só o conteúdo didático, mas aprender a viver! O Neims, núcleo do qual faço parte desde 2020, ampliou meus conhecimentos sobre as questões sociais que afloram em nosso país, contribuindo para me ajudar a olhar criticamente ao meu redor e todas as realidades da sociedade. Além disso, proporcionou e proporciona conhecer novas pessoas de diversas turmas, favorecendo o meu aprendizado, me possibilitando exercer a liderança dentro da escola de uma forma diferente das convencionais. ARIELI LISBOA

Inicialmente, é essencial entender que os núcleos assumem um papel social muito importante na escola. Vivenciar a experiência do Ensino Médio com o Naic foi importante para mim em diversos sentidos. Um deles foi o autoconhe cimento. Os trabalhos e dinâmicas que desenvolvi com o Núcleo, como a palestra sobre saúde da mulher, proporcionaram até um melhor esclareci mento sobre a área de conhecimento que gostaria de seguir profissionalmente. Portanto, como cidadã e estudante, eu só tenho a agradecer e reforçar a importância de outros alunos de se darem a oportunidade de conhecer pessoas interessadas em mudar a realidade, com ações eficazes, construtivas e mais inclusivas. BEATRIZ SARNO (EX-ALUNA

Entrei no Vieira uma criança quieta, tímida até. Lembro, claramente, da época em que isso começou a mudar: no final do Ensino Fundamental (EF), participei da liderança de sala e me aproximei do Serviço de Orientação Religiosa e Pastoral (Sorpa). Entendi que havia como atuar e aprender no colégio, dentro e fora da sala de aula. Eventualmente, integrei a Avla, a ONU Colegial (simulação de conferência das Nações Unidas), o NAV, discutindo, neste último, questões relacionadas à sustentabilidade. Com os projetos de protagonismo me senti agente de minha própria formação, passando a me entender no mundo como alguém que pode ir além do que é proposto. GUILHERME FREITAS (EX-ALUNO)

ARTIGO LÍDERES EM FORMAÇÃO 34 revista vieirense | #14
Núcleo do Vieira Ambiental

Atuo como coordenador do Voluntariado e agora faço parte do time da ONU Colegial, um projeto que move e faz a diferença! Desde que escolhi o Vieira como colégio, sempre estive com um olhar atento ao desenvolvimento do protagonismo juvenil e do senso humanitário nessa instituição. Minha vivência e imersão dentre tantos projetos têm ressignificado o motivo de aprender com o próximo, refletir e en contrar soluções acerca das principais temáticas globais, além de me permi tir agir de maneira eficaz no desenvolvimento do meu lado humano. A ONU Colegial, por exemplo, me proporcionou, além de um grande aprendizado, conhecer pessoas incríveis que guardarei para a vida.

Aceitei o desafio de estar na secretaria e no setor de teatro da Avla, na coordenação do NAV e ainda participar da ONU Colegial. Esses lugares de protagonismo juvenil e liderança, que eu tenho tido a oportunidade de ocupar, vêm fazendo uma grande diferença em minha formação, não apenas como estudante, mas como ser humano. Graças a eles, além de aprimorar diversas habilidades inter e intrapessoais, fui capaz de desenvolver ainda mais um sentimento de pertencimento e integração tanto com o espaço do colégio quanto com a comunidade vieirense em si.

VIEIRENSE

Ser do Grêmio Estudantil do Vieira me fez crescer muito, desde ter a noção da responsabilidade – que é ser uma referência para os alunos, principalmente para os mais novos – até aprender sobre questões burocráticas. Acredito que viver a liderança vai muito além de ter um título: é conseguir enxergar no outro uma qualidade ou possibilidade que ele ainda não enxergou. Por isso nós, do grêmio, nos preocupamos tanto em promover atividades de integração entre os estudantes de todos os turnos e séries. Estar ativa nos núcleos, projetos e questões do Vieira me faz sentir muito mais parte do colégio, conseguindo perceber todos os esforços feitos para que cada vieirense tenha a melhor experiência possível!.

MARIANA LIMA Academia Vieirense de LETRAS E ARTES
#14 | revista vieirense 35

A questão indígena na educação

Quebrando estereótipos e preconceitos

Embora os indígenas tenham tido os primeiros contatos com os colonizadores portugueses há mais de 500 anos, na atualidade pouco se sabe sobre esses povos. O fato é que “o Brasil não conhece o Brasil, o Brasil nunca foi ao Brasil”, como bem ressaltam Aldir Blanc e Maurício Tapajós. Em geral, o conhecimento que a população brasileira tem sobre os primeiros habitantes deste país é superficial, homogeneizante e, muitas vezes, com base em visões preconceituosas e estereotipadas. Os indígenas e suas culturas são, na grande maioria dos casos, abordados na sala de aula de forma superficial, sem profundidade e a devida relevância que a questão exige.

O folclore idealiza o “índio” a partir da ótica do imaginário popular, não guarda, portanto, qualquer relação com os indígenas reais, existentes no Brasil, que são povos diversificados, com línguas, culturas, histórias e saberes próprios. Promover uma educação que esclareça a existência das duas diferentes perspectivas: o “índio” inventado na imaginação popular e os povos indígenas, originários deste país, é fundamental para evitar eventuais equívocos.

A folclorização cria índio que não existe, senão no imaginário popular. O problema é que muitas pessoas acabam confundindo as diferentes versões, como se elas fossem iguais. No folclore, o índio é equiparado à mula sem cabeça, ao saci-pererê, à mãe-d’água etc. Os objetos de desejo e admiração popular são os cocares, colares, arcos e flechas, pinturas… Contudo, o ser humano indígena, pessoa real, é descartado.

36 revista vieirense | #14 JUSTIÇA SOCIAL
Por Taquari Pataxó*, graduando em Direito

Ainda que o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, afirme que no Brasil existem 305 povos, com 274 línguas e uma população de mais de 800 mil pessoas, muitos brasileiros, erroneamente, ainda continuam a acreditar que os indígenas são uma porção homogênea e que, supostamente, seriam possuidores dos mesmos fenótipos e dotados dos mesmos atributos culturais. No entanto, esses povos são bastante diversos quanto aos modos de ser, viver e existir.

RESSIGNIFICANDO CURRÍCULOS

Os indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil, vivendo tanto na zona

rural quanto na zona urbana. Essa população cresce acima da média nacional e vem se organizando a cada dia para reivindicar seus direitos. Deste modo, os indígenas não estão acabando ou em processo de desaparecimento, como alguns teóricos, equivocamente, chegaram a afirmar Assim, faz-se fundamental que os educadores, e as escolas em geral, ressignifiquem seus projetos pedagógicos no sentido da valorização da temática indígena, até porque a prevalência de currículos escolares colonizadores ajudou a estabelecer uma visão superficial e limitada sobre os indígenas e suas culturas. Sendo assim, por muito tempo, as escolas negligenciaram as culturas, as histó-

rias e os aspectos sociais dos povos indígenas – o que deixa a impressão de que as contribuições desses povos seriam menos relevantes ou pouco significativas.

POVOS DO PRESENTE

Os indígenas têm lutado para ter espaço na sociedade e serem vistos como povos do presente, e não como parte do passado. Na maioria das escolas, a temática indígena só vem sendo lembrada, quase que exclusivamente, quando se estuda a “História do Brasil”, mais precisamente no chamado “Descobrimento” ou no “Dia do Índio”. Ou seja, a questão indígena é, por muitas vezes, tratada na sala de aula somente em momentos específicos, contribuindo para um ensino escolar cheio de lacunas e imprecisões.

Por fim, mesmo que nos últimos anos tenham surgido medidas normativas, a exemplo das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que obrigam o ensino das culturas e histórias indígenas e afrodescendentes nas escolas brasileiras, do ponto de vista prático são ainda raros os casos de instituições educativas que têm avançado em relação a essa temática.

*As fotos que ilustram este artigo são do fotógrafo Pedro Nunes. Elas fizeram parte da mostra “Maká-Makaú: unir e reunir”, que ficou em cartaz, de julho a setembro de 2022, no Colégio Antônio Vieira. *Taquari Pataxó (Genilson dos Santos de Jesus) foi um dos convidados especiais do evento de abertura da exposição.

Aponte a câmera do seu smartphone para o QR-Code e veja o vídeo em que Pedro Nunes fala mais sobre a exposição.

#14 | revista vieirense 37

CULTURA INDÍGENA

e formação cidadã Diversidade

Potencialidades de práticas pedagógicas voltadas para a transformação social

Fruto de uma educação que está sendo sempre ressignificada para o tempo presente, o Colégio Antônio Vieira, por meio do seu Departamento de História, “tem desenvolvido um trabalho sobre os povos e a cultura indígena com o objetivo de contribuir para a formação humana e cidadã, por

indígenas no Brasil e na América, objetivando uma preparação para o exercício consciente da cidadania. “O resultado é um conjunto de reflexões que abordam, com profundidade, temas como imposição cultural europeia, etnocentrismo, conflitos entre indígenas e europeus na América colonial, diversidade cultural indígena, os povos indígenas no Brasil

templação pelos estudantes, sendo adotado como proposta formativa em atividades interdisciplinares.

meio da busca de excelência em práticas educacionais, com cordialidade e equidade para a transformação social”. É o que explica o professor Thiago Palma, orientador das equipes de estudantes do Vieira medalhistas nas edições da Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB).

Segundo ele, a propos ta pedagógica visa proporcionar ao educando a formação necessária para uma melhor compreensão das sociedades

e a formação sociocultural brasileira, a questão indígena no Brasil contemporâneo, entre outras”, diz o professor.

Para além da sala de aula, o Vieira também promove exposições, palestras e atividades esportivas sobre a temática, a exemplo dos Jogos Indígenas. No caso da mostra de fotogra fias Maká-Makaú – com re gistros, feitos pelo fotógrafo Pedro Nunes e de expressões do povo pataxó no sul da Bahia –, o evento não se limitou à con

Outro exemplo foi a palestra sobre o projeto “As Cartas dos Povos Indígenas ao Brasil”, coordenado pela professora Suzane Costa, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Essas cartas traduzem e desmontam os ciclos de silenciamento e invisibilidade radicalmente vividos pelos indígenas ao longo da nossa história literária e política. Também acreditamos que são cartas de um Brasil ainda inexistente para muitos. Daí a importância e a urgência do seu estudo como material didático nas escolas”, diz a professora, que falou sobre o tema para estudantes do Ensino Médio Noturno do Vieira.

JUSTIÇA SOCIAL
38 revista vieirense | #14
O fotógrafo Pedro Nunes e Taquari Pataxó na abertura da exposição “Maká-Makaú” no Vieira

NOITES

plurais

Projeto amplia acesso à cultura e arte, desenvolvendo senso crítico de estudantes

Rodas de conversa, filmes e peças teatrais são algumas das atividades que fazem parte do currículo escolar dos alunos do Ensino Médio Noturno do Colégio Antônio

Por meio do projeto Noites Plurais, os estudantes têm acesso a apresentações artístico-culturais que promovem discussões sobre temas atuais e transversais, como racismo e xenofobia.

A iniciativa da equipe pedagógica do ensino noturno foi implementada no ano de 2022 e acontece uma vez por mês. O nome escolhido está alinhado com o que o projeto propõe: noites diferentes, fora da sala de aula e com acesso ao conhecimento de uma forma mais descontraída

Para a equipe pedagógica do Ensino Médio Noturno, os encontros permitem que o aluno desenvolva a observação, reflexão e senso crítico, habilidades importantes tanto na esfera acadêmica como na profissional e pessoal.

O objetivo do Vieira vai além da preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), incluin-

do uma formação para a vida. A equipe pedagógica frisa que, no colégio, quando se pensa em um ensino integral, o aluno acaba tendo acesso às diversas naturezas de conhecimento, e não só na teoria.

Na prática, o projeto desconstrói a ideia tradicional de que o aprendizado só acontece com um livro aberto e dentro da sala de aula convencional. Assim, o objetivo do Noites Plurais é levar a aprendizagem para além da sala, instigando o estudante a ampliar seu repertório cultural, que é tão diverso quanto o mundo à sua volta.

RECURSOS DIVERSOS

Um dos temas do Noites Plurais foi a exibição do filme Medida Provisória, uma adaptação da peça teatral Namíbia, Não!, escrita pelo ator e roteirista Aldri Anunciação. O longa debate o racismo a partir de uma distopia na qual as pessoas negras são mandadas para o continente africano. Após a exibição, os alunos conversaram com Aldri sobre as

temáticas abordadas no filme.

Da mesma forma, os alunos do noturno discutiram questões como o respeito aos povos indígenas, a partir da palestra da professa Suzane Costa, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Assistiram também à apresentação, em telão, da peça O Caminho dos Mascates, interagindo com a produtora cultural Poliana Bicalho, mestre em Artes Cênicas, sobre conflitos enfrentados pelos povos nordestinos.

O Ensino Médio Noturno do Colégio Antônio Vieira faz parte das ações filantrópicas da Província dos Jesuítas do Brasil, que oferece o curso inteiramente gratuito para jovens de famílias de baixa renda. As inscrições são abertas no final de cada ano para o período letivo seguinte. Além do acesso à qualidade do ensino da Rede Jesuíta de Educação, os estudantes ganham fardamento e material escolar, entre outros benefícios.

ENSINO MÉDIO NOTURNO
40 revista vieirense | #14

+IDENTIFICAÇÃO +CONHECIMENTO +OPORTUNIDADE Estudantes avaliam ação pedagógica

“O Noites Plurais traz pessoas com histórias parecidas com as nossas, como as pautas dos nossos ancestrais indígenas e quilombolas. Nos vemos nessas pautas e temos a oportunidade de expandir o nosso conhecimento. São temas importantes para a vida e que também servem de repertório para as nossas redações”

“É uma iniciativa muito interessante, principalmente pelo conhecimento que o projeto traz para os estudantes. Além disso, ele foge da sala de aula, é feito em uma outra modalidade de ensino, com palestras e apresentações artísticas. Isso é superimportante, até porque a redação do Enem exige que a gente tenha um repertório cultural, e o colégio nos proporciona isso” -

“É um dos projetos mais interessantes que a escola tem proporcionado, porque abre a nossa mente e nos faz refletir sobre como podemos tornar a sociedade melhor. Uma das palestras mais interessantes foi sobre as cartas que os indígenas já enviaram às autoridades brasileiras, como os presidentes. O acesso a esse conteúdo me fez entender a realidade atual do indígena no Brasil” - IAN VITOR DO ROSÁRIO

“É essencial irmos para a sala de aula todos os dias, mas também acredito que o Vieira considera muito importante o aprendizado social, que vai além da teoria. Em uma das noites, assistimos ao filme Medida Provisória, e eu refleti sobre muita coisa por causa disso. Esse projeto renova nossa energia, sempre repito que é uma oportunidade única” - LUCAS

Olhar que fica A

grande lição do Ano

Inaciano

Após o encerramento do Ano Inaciano, em julho de 2022, começamos uma nova etapa, que implica estarmos com o coração agradecido. Nós, comunidades jesuítas em todo o mundo, tivemos um período especial de convivência e crescimento espiritual a partir do olhar que Santo Inácio de Loyola experimentou: do Senhor misericordioso para com ele, que o resgata, enquanto homem cheio de desejos mundanos, para torná-lo, a partir da ferida em uma guerra, em um homem doce ao Espírito Santo e a serviço da humanidade, principalmente a serviço dos que sofrem injustiças sociais.

Essa mudança radical na vida de Santo Inácio nos alegra e fortalece para o mundo de hoje, tão injusto, cheio de guerras e sem perspectivas, mesmo quando, para

muitos, este seja apresentado como um “mundo de rosas” – quando, de fato, isso não é uma realidade para a absoluta maioria. Aqui, no Brasil, sobretudo, temos que refletir sobre o exemplo inaciano, cabendo a nós, em nossa comunidade, convidar cada vez mais pessoas para essa metodologia de buscar e encontrar a vontade de Deus. Até porque se O encontramos, encontramos o caminho, pois, com certeza, Ele irá possibilitar esse desejo em nós, para que caminhemos junto aos pobres, aos que sofrem injustiças.

Ao participar das celebrações de encerramento do Ano Inaciano na Catedral Basílica de Salvador, antiga capela do Colégio dos Jesuítas, o primeiro do Brasil, reafirmamos também o lugar da educação como fator relevante para buscarmos enfrentar as injustiças e oferecer um futuro melhor para as nossas crianças e jovens. Então, é esse olhar de Santo Inácio, de comprometimento, que os nossos jovens também devem trazer, mesmo em plena juventude, ao planejar a vida, pensando em contribuir para um mundo diferenciado,

ESSE OLHAR

QUE OS NOSSOS

JOVENS TAMBÉM DEVEM TRAZER, MESMO EM PLENA

JUVENTUDE, AO PLANEJAR A VIDA, PENSANDO EM CONTRIBUIR PARA UM MUNDO DIFERENCIADO, INFLUENCIANDO POSITIVAMENTE A SOCIEDADE, A HUMANIDADE”

influenciando positivamente a sociedade, a humanidade. Como bom polonês de origem e brasileiro de coração, torço para que um dia sejamos capazes de fazer deste mundo um lar para todos, pois só sendo mais humanos seremos capazes de incluir a todos. E que, juntos, vivamos sempre o lema do Ano Inaciano, com um novo olhar para todas as coisas, um olhar de Cristo para o mundo de hoje.

ARTIGO ESPIRITUALIDADE
Por Padre Mieczyslaw Smyda , SJ, Provincial dos Jesuítas no Brasil
42 revista vieirense | #14
“É
DE SANTO INÁCIO, DE COMPROMETIMENTO,
Pe. Smyda na inauguração do Painel do Ano Inaciano no Vieira
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