A Chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Subsidios para a integração da Paisagem no Território

Page 59

Concluindo: patrimônio cultural é paisagem. "Cabe a cada um de nós dispor dessas pequenas formas (elementos da paisagem, sensações olfativas e táteis e a literatura) para nossa própria apreensão, como cabe aos arquitetos paisagistas propor marcos ou armadilhas para nossa memória. No entanto, nem um, nem o outro, serão capazes de resolver a relação de essa grande forma constitutiva da paisagem que é a derrubada retórica do provável artifício da natureza-verdade." (Cauquelin, 2015, pág. 234)

Estamos numa nova fase de valorização do patrimônio cultural. Depois das diferentes etapas, sinalizadas por Castriota (Castriota, Paisagem cultural: novas perspectivas para o patrimônio, 2013), de preservação, conservação e reabilitação/revitalização entramos na era do patrimônio cultural entendido como paisagem (Hoyuela Jayo J. A., Paisagem como lugar versus Planejamento Sustentável, 2014 c), num amplo contexto, e desde uma visão que sintetiza ao tempo que entende e integra a diversidade. Dentro das paisagens cariocas e dos âmbitos analisados, as águas e as montanhas sempre cobram um enorme protagonismo. Como nas obras de Richard Long (Long, 1993) isso pode ser percebido desde o primeiro olhar, ou desde reflexões mais profundas, que entendam o patrimônio solo desde uma perspectiva paisagística, associada com os processos (principalmente os das águas), e com as sociedades que construíram e habitam essas paisagens. As serras dos maciços de Tijuca e Pedra Branca, e os morros das baixadas, assim como as águas, em movimento, ou paradas, doces, salobres, ou salgadas, sempre dominam e controlam a paisagem, tanto quanto justificam, definem e organizam o patrimônio cultural. Defendemos uma abordagem da paisagem cultural como objeto de análise e como novo paradigma, uma nova epistemologia que inclui um método e um conteúdo paisagístico. Não é simplesmente uma nova categoria de patrimônio, mas sim uma nova forma de entender o patrimônio cultural reconhecendo que todo patrimônio cultural, e seu entorno, são paisagem. Devemos superar a fragmentação e o isolamento do conhecimento setorial e das posições excludentes, que ainda são praticadas no campo do patrimônio cultural. A preservação deve abrir espaço para a trasformacao e o desenvolvimento de alternativas contemporâneas e utópicas, de novos projetos e horizontes. A paisagem deve integrar o patrimônio natural e cultural, o material e imaterial, o simbólico e o documental. As paisagens culturais devem entender e ordenar e gerir a totalidade sistêmica e complexa da realidade que envolve os bens reconhecidos e declarados. Essa visão holística e territorial, desde múltiplas disciplinas e diversas escalas, exigem, para uma gestao sustentável, a conexão com as políticas de planejamento territorial intraurbano e regional, desde os diferentes setores (ambientais, urbanísticos, turísticos...), com os diferentes atores, e nas diferentes escalas (espaciais, desde o local até o global). A patrimonialização das paisagens identificadas e valoradas como “excepcionais” ou “representativas” deve conviver com a comprensao e integração de aquelas ordinárias e cotidianas que as contornam, escalarecem e complementam, como componentes do território na sua complexidade. 59


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.