CONTEI ATÉ DEZ - VERA FRUCCI

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É COMO ANDAR DE BICICLETA Manoela ultimamente vivia assim, meio sem graça, sem vontades, sem desejos. Fazia um bom par de anos que não saia com ninguém. Não namorava, não paquerava, nem olhava mais. Não tinha e nem buscava oportunidades.

Andava pensando que talvez tivesse esgotado sua cota de prazer, o que de certo modo era uma forma de se consolar com a solidão. Difícil mesmo era se conformar! “Quem sabe as pessoas tenham uma cota de prazer, de dor, de felicidade... vai ver já vivenciei o que me cabe. Namorei, tive lá minhas paixões, meus casos. Acho que esgotei também minha cota de tesão”, conjecturava.

E assim seguia Manoela, um dia a dia banal dedicada ao trabalho, à família e aos amigos, sem qualquer expectativa amorosa. Um dia leu sobre um tal de Chip Fashion que entre outras coisas reavivava a libido. Esperançosa consultou seu ginecologista, mas ele desaconselhou: ─ Hum... hormônios! Sabe como são essas coisas... e os possíveis efeitos colaterais: pelos, voz grossa. Recuou. Dramática como ela só, se imaginou protagonizando o noticiário: “Mulher barbada ataca garotão em estacionamento de supermercado”. Foi quando, já decidida a aposentar a “dita cuja”, que, assim do nada, um ex-colega de trabalho a localizou por intermédio do Facebook.

Não se viam há mais de dez anos. Ele havia casado e fora 21


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