1 minute read

8. EXPRESSÕES

EXPRESSÕES

Dizem que algumas coisas a gente nunca esquece: o primeiro beijo, o primeiro sutiã, uma expressão impactante. Dizem também que a ingenuidade é irmã da sinceridade. Se não dizem, digo eu. Recém-formada eu era toda certinha e quase não falava palavrão. Estimulada por uma amiga me candidatei a uma vaga em multinacional de prestígio; seria meu primeiro emprego com carteira assinada. Na entrevista com o diretor de marketing, após algumas perguntas sobre experiência anterior, expectativas, etc. veio a fatídica: ─ E como você se vê daqui a cinco anos? ─ Casada com filhos! respondi com olhar sonhador.

Advertisement

Hoje, mais madura e menos ingênua provavelmente responderia: “No seu lugar” e talvez tivesse me saído melhor, ou não! Fui contratada. Fazer parte de tão prestigiada empresa me enchia de emoção e orgulho. Estava sempre alerta querendo acertar e disfarçar minha pouca experiência. Uma das primeiras reuniões da qual participei envolvia o alto escalão. A sala enorme, o clima formal e a presença predominante do sexo masculino ampliavam minha insegurança. Meu chefe − dizem que quem tem chefe é índio, não perco esse vício − fazia uma apresentação e num dado momento, contrariado com alguém ou algum fato, já nem me lembro mais, esbravejou: ─ Quero ver fulano botar o pau na mesa!

Toin!!! Hein? Como assim, o pau na mesa? Vesti um sorriso amarelo tentando fingir naturalidade. Olhos arregalados fitando o nada, não pude evitar de imaginar a cena literal e comecei a rir. ─ Rindo de quê, mocinha? Não concorda? ─ perguntou o diretor. ─ Eu? Sim! ─ gaguejei corada. Depois, com voz firme: ─ Claro que concordo! Nem quero ver, mas que coloque, sim, o pênis na mesa!