CONTEI ATÉ DEZ - VERA FRUCCI

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ALPINISTAS Sidneia entrou e parou maravilhada. Girou os olhos da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, como naqueles exercícios de musculação facial.

Um duplex minimalista, de muito bom gosto. Observou a sala: a mesa de jantar branca e brilhante como o manjar que sua avó fazia nas datas especiais. Mais à frente um sofá de três lugares em couro fendi e um par de poltronas em linho cinza. Empilhados sobre a mesa de centro, três livros enormes: Manual da Escalada, O Meu Everest, Resgate Vertical. O pé direito duplo fazia a sala ainda maior. O janelão nu mostrava parte da varanda − gourmet! Sidneia − “Sidy, com ípsilon no final!” − como fazia questão de esclarecer, é dessas pessoas que dão um valor excessivo às aparências: das coisas e dela mesma. Sempre atenta ao seu melhor ângulo, ao cabelo, aos adereços, parecia não relaxar nunca. Seu desejo de estar em evidência punha de ponta cabeça a Pirâmide de Maslow, não estava nem aí para as necessidades fisiológicas, segurança, amor ou estima, sua preocupação era a realização pessoal. O pai sempre dizia: “Estuda filha! Estuda para ser alguém na vida.” A mãe, pragmática, recomendava: “Vê se arranja um bom partido, casa com um homem rico.” Não gostava de estudar, mas lia muito. Devorava revistas de fofocas e notícias sobre celebridades e locais badalados. Conhecia todos os restaurantes da moda, de nome. 11


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