Jogos Florais 2021

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NÚ ME RO ESPE CIAL

R E V I RAVO LTA E M T RÊ S PA RT E S

Considero-me perseverante. Há quem diga que sou inteligente, mas não gosto do encómio. Prefiro dizer que tenho dias em que o sou, mas noutros, talvez jumenta. E sofri por isso. Pergunto-me às vezes, como não fui capaz de ver o que se passava defronte do meu nariz. Perguntarme-ão, com propriedade, o que é que a perseverança, a inteligência ou a falta desta, têm uma a ver com a outra. Etimologicamente nada. No conceito não se lhe encontra verosimilhança e se uma fosse o fruto da outra, não seria assim tão óbvio. É por isso que gosto de contar esta parte da minha história criando esta expectativa. Hoje consigo fazê-lo, já não como catarse, tão pouco para expiar “coisas” mal resolvidas, mas porque no fim das contas, acabou por sair melhor do que a encomenda, se é que se pode também aplicar a expressão popular, quando nada aqui foi propositado ou de encomenda. Antes pelo contrário. A verdade é que hoje vivo muito melhor. Foi bom ter aprendido! Vamos então por partes. Desde a minha tenra adolescência que me agarrei com unhas e dentes a um namoro que não resultou. Isto parece banal, comum a muitas mulheres e homens, mas nunca uma expressão teve um sentido tão literal. De tal modo foi literal que eu virei-me para a outra e disse-lhe que se ela não deixasse de andar a dar em cima do meu namorado, que lhe daria na cara. E não é que chegámos mesmo a vias de facto? Dessa vez venci eu, ele veio jurar-me a pés juntos que era de mim que gostava, que eu não ligasse, que ele não tinha tido nenhum caso com a outra, não passava de gabarolice da idade. Gabarolice dela, diga-se em abono da “verdade dele”, que a ele eu, de facto, fingi nunca ter ouvido vangloriar-se. E assim fui namorando com aquele rapaz, homem de um metro e noventa e oito, que para os meus quase cento e setenta e seis centímetros acima do chão, não destoava muito. O meu rapaz era, no entanto, um pouco menos aplicado do que eu na escola. E por isso, mas também para o poder controlar, quero dizer, para poder estar mais perto das companhias dele, resolvi perder um ano. E claro que, nessas alturas, há sempre a desculpa do tal professor que embirrava com a gente, quer estudássemos ou não, não passaríamos de ano e, nós a tentarmo-nos convencer desta “verdade”, como se o fosse. Bom, nós é uma maneira de dizer. Eu! E lá fiquei um ano a marcar passo, para poder andar na mesma turma do “meu” Anselmo, esse tratante, como mais à frente irão constatar. O meu Anselmo, entretanto, desistiu de estudar no nono ano. Ele não passava daquilo e eu, nem mesmo por amor, decidi continuar a marcar passo. Fui continuando os estudos, andei no décimo, andei no décimo primeiro e fiz o décimo segundo. Quase, quase! Deixei sempre a matemática por fazer. Não como aquele bicho de sete cabeças, porque eu não a considerava assim,

H I S T Ó R I A D E V I DA – ME N Ç Ã O HO N RO S A

Desilusão, perseverança, felicidade


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