LITTERA 2

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LITTERA REVISTA Nº 2 Contos Poemas Entrevistas Quadrinhos Crônicas CINCO PERGUNTAS DE CINCO MULHERES PARA DUAS ESCRITORAS SONATA: POEMA SIMBOLISTA EM PROSA DE ERICO VERÍSSIMO e POR SOBRE JOÃO CABRAL E O SEVERINOTODOS-NÓS ARTIGOS Rita Elisa Seda e Erica van Dooren DICA DE LEITURA: NIKETCHE PELOS ALUNOS DO SEGUNDO ANO DE ADMINISTRAÇÃO DA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL –ETEC CÔNEGO JOSÉ BENTO

Janeiro/2022

Caro(a)leitor(a), Primeiramente, agradecemos por sua companhia, por estar conosco nesse início de ano, pensando, fazendo e desfrutandoliteratura.

Nesta segunda edição, a LITTERA traz um olhar particularmente feminino, com entrevistas de duas escritoras, respondendoaquestõestambémelaboradaspormulheres.Começamospor RitaElisaSeda,doValedoParaíba, São Paulo, jornalista, folclorista, arqueóloga e escritora; autora, entre outras obras, de “Retalhos de Outono” (poesia) e“RaízesdeAninha”(biografiadeCoraCoralina).Aautoralançourecentementeolivro “IrmãAmália: Estigmas,Êxtases,Mensagens&adevoçãoàsLágrimasdeNossaSenhora”,quecontaahistóriadamissionária irmãAmáliaAguirreQueija,umadasmaioresreligiosasmísticasdoséculoXX. AsegundaentrevistadaéErica VanDooren,jovemescritoraholandesa,colaboradoradarevista“StraatnieuwsUtrecht”. Emnossaseçãode leituras, apresentamosRóbinsonSilva(Robinho),autordolivrodepoesias“FrutificarVida”, comlançamentoprevistoparaaspróximassemanas.Oautor nosrevelaumapoesiauniversal,engajada,críticae bela.Leremosumdeseustextos,produzidoemalusãoao“DiadaConsciênciaNegra”. Temos ainda crônicas, poemas e contos assinados por Carlos Guedes, Pedro Paiva, Alison Silva, Cecília Dellape, André Siqueira e Vera Figueiredo , textos que reafirmam o caráter intimista e, ao mesmo tempo universal, que a arte literária proporciona. São produções curtas , sobre temas diversos, mas que convergem igualmenteparaaexpressãodecenasdaexistênciahumanas;sãofotografiasdemomentosvividosouimaginados. Comcerteza,leitor(a),vocêseveránumadelas.

Doisartigosintegramessaedição:EstherRosadonosapresentaumaanálisepessoaleprofundade“MorteeVida Severina”,deJoãoCabraldeMeloNeto,comreleiturasdetrechosmarcantesdaobra,atualíssimaem2022; Vera Figueiredofazumaanálisede“Sonata”,contodeEricoVeríssimo,dialogandocomoutrostextosdecaracterística simbolista.

NaDICADELIVRO,pormeiodeintercâmbiocomaescolaETECCônegoJoséBento,recebemosacontribuição dosalunosdo2ºanodo cursodeAdministraçãodeEmpresas,,orientadospelaprofessoradeLínguaPortuguesae Literatura, Elisiane Alves de Oliveira. A obra indicada, “Niketche”, é de autoria da escritora moçambicana PaulinaChiziane,vencedoradoPrêmioCamõesem2021.Uminteressanteenecessárioolharparaaliteraturados paíseslusófonos...

Estreamos nessa edição a seção LADO B, que se propõe a resgatar obras pouco divulgadas de autores consagrados,revelaraspectosinteressantes,originaiseaindapoucoexploradosdosgrandesnomedaliteratura, brasileira e universal. Começamos com dois grandes mestres: o poeta ultrarromântico brasileiro Álvares de Azevedo(1831-1852),eograndesimbolistaestadunidenseEdgarAllanPoe(1809-1849),cujopoema“OCorvo” constituiumaauladeconstruçãopoéticae perfazumdivisordeáguasnomododeentendereescreverpoesiano Ocidente.

Terminamoscomumconviteavocê,nosso(a)leitor(a):sedesejarterseutexto(conto/crônica/poesia)publicado emnossarevista,envie-oparaoe-mail cestadetextos@yahoo.com,comumabrevebiografia. Vocêseráo(a)autor(a)convidado(a)daedição.

Fechamos com uma frase dio poeta maranhense Ferreira Gullar, que resume nosso pensamento acerca da importânciadaliteraturaedaarte:

“Aarteexisteporqueavidanãobasta.”

Oseditores

EDITORIAL
ÍNDICE ARTIGOS: SONATA:POEMASIMBOLISTAEMPROSA VeraFigueiredotrazumaleituraaprofundadae intertextualdocontodeEricoVeríssimo. . PORSOBREJOÃOCABRALEOSEVERINO- TODOS-NÓS EstherRosado,comsuaprosapoética,nosmostra abelezadestebrasileiro. CINCO MULHERESPERGUNTAM PARADUASESCRITORAS RitaElisaSedaeÉricaVanDooren sãoasentrevistadasdestaedição POESIAS 09 Antes 10 O cara que eu não quero ser! e Os navios negreiros no poo Brasil Como "eles" Pensam O cara que eu não quero ser! e 11 Como "eles" Pensam Autoestrada 12 14 04 21 CRÔNICAS 18 Novembro de jasmins E orquídeas em braile 19 O rosto 20 Uma Caeirinha Vermelha e Branca QUADRINHOS 29 Liberdade CONTOS 23 Poética no abismo 24 Conto do amor perdido 26 27 Moletom cinza Tereza Dica de Leitura Lado b dos CLASSICOS LITERÁRIOS 32 Machado de Assis. Edgar Allan Poe Álvares deAzevedo 28

ARTIGO

Sonata éumcontodeEricoVeríssimo,publicado em1954. Foi adaptado para a Tv em 2001, como episódiodasérie“Bravagente”,daRedeGlobo,que traziaversõesdegrandesobrasdaliteraturabrasileira. Tambémdeuorigemaumapeçateatral,em2017.Eu olipelaprimeiravezem1985,aosdezenoveanos.E várias outras vezes, ao longo do tempo. Nesta narrativa,adelicadezasemisturaaosombrio,criando uma atmosfera de sonho e mistério que nos faz mergulhar avidamente na leitura. Narrado em primeira pessoa, o conto tem como personagem principal um homem tímido, solitário, professor de piano excêntrico e sensível, tido por todos como um “lunático”ou“bichodeconcha”.Asaçõesacontecem durante o período da Segunda Guerra, mas o protagonistaparecealheioaoturbulentomundoreale indiferente ao mundo capitalista à sua volta. Vive numa pensão simples e se satisfaz com poucos bens materiais. Apaixonado por música, passa noites inteiras ouvindo seus compositores preferidos e tentando compor a sua “sonata”, obra-prima de toda uma vida. O personagem sente-se em harmonia com umaúnicaestaçãodoano:ooutono,metáforadesua própria condição. Chama a atenção a forma como o autorutilizaascoresdestaestação,criandoumpoema simbolista em prosa. Há um interessante entrelaçamento entre a arte literária, do texto propriamente dito; da música, representada pela sonata,edeumapinturaimpressionista,criadacomas cores que oscilam entre luzes e sombras, outono e inverno.

Numamanhãdeabril,vagandopelacidade(Porto Alegre??????), o protagonista vai a uma biblioteca pública,ondelêumanúncio,de28anosatrás,1912, ano de seu nascimento, em que alguém declara precisardeumprofessordepiano,paraumamoçade família.Apartir deste ponto, o conto mergulha num clima surreal, que enreda o personagem e o leitor. O rapazvaiinstintivamenteatéoendereço,numacerta Rua do Salgueiro, num casarão onde haveria no jardim“umanjotriste”.E,comoselevadoporalguma força magnética, encontra a casa e o anjo de bronze, conforme o anúncio antigo que lera na biblioteca. Entra,érecebidopeladonadacasaecontratadopara lecionar piano e, finalmente, conhece a aluna, Adriana,queesperavapeloprofessordepiano.Neste ambiente,oprotagonistapareceencontraroseulugar no mundo, a sua essência. Todas as semanas, num exatomomento,saidotemporealevaiàcasadoanjo triste,ondeensinapianoàencantadorajovem.Osdois acabam se envolvendo amorosamente e, para Adriana,oprotagonistaconsegueenfimcomporasua sonhada “Sonata em Ré Menor”. Adriana, aliás, personificaparaeleaprópriamúsica,fugidiaevital. Mas a mãe de Adriana, senhora aristocrata e conservadora, flagrando-os num momento de extrema cumplicidade, proíbe o namoro e expulsa o professor, já que a filha estaria comprometida com outrorapaz.Oprofessordepianodeixaacasa,certo deterperdidoalgopreciosoeirrecuperável.Nooutro dia,retornandoaomesmolugar,nãomaisencontrao velhocasarãodoanjotriste,masumedifíciodevinte andares,dearesmodernoseimpessoais.

SONATA: POEMA SIMBOLISTA EM PROSA 4 LITTERA

Erico Veríssimo constrói e sustenta uma coerência internaquenosimpededeacharabsurdaasituaçãodo jovem, parecendo-nos natural suas oscilações entre passado e presente, para o mundo exterior e para dentro de si próprio. O autor consegue criar uma atmosfera de verossimilhança dentro de um grande absurdo!Amaneiracomoissosesustentaéquetorna Sonataumaobraúnicaebela! Devoltaaotempopresente,atordoado,eleretorna à biblioteca e lê notícias de fatos acontecidos no passado.DescobrequeAdrianasecasaraetiverauma filha.Eque,temposdepois,morrera.Omúsicodirigeseentãoaocemitério.Quandoseaproximadotúmulo deAdriana,éinterrompidoporumamoça,degestos ousados e marcantes, que traz “uma braçada de junquilhos”. É a filha de sua amada, que também se chamaAdriana.Curiosasobreapresençadoestranho ante o túmulo da mãe, a moça se aproxima do protagonista, oferecendo-lhe uma carona. Irresistivelmente, ele a segue. A Adriana atual é parecida fisicamente com a mãe, porém não tem a doçura e a singeleza das outra. Chegando à casa, o rapaz se vê novamente atado à magia do passado. Percebe num canto o “anjo triste”, tido pela jovem Adrianacomoumobjetoridículoeemdesacordocom oambientemodernoerequintado.Orapazcontapara a nova amiga que é um músico e ela então lhe pede para tocar algo ao piano. O rapaz resolve tocar a “Sonata em Ré menor”.Adriana, a filha, perplexa, o acusa de plagiário, por copiar a melodia que um admirador fizera para sua mãe, no passado. Para comprovar, ela lhe mostra um papel de música, amarelado,datadode1912,noqualelereconhecesua obramaior.Confrontado,eledisfarçaefogedaquela casa“parasempre”,enquantoamoçasaiparabuscar algo.Terminaassimoencantoeoconto.

Esteencantode Sonata estánasentrelinhas,nos contornosvagos,nojogodecontrastes.Aodescrever oclimaqueenvolveoprotagonistaaoseaproximarde suaamadadopassado,oautorutilizaascoresclaras, indefinidas. O outono envolve as pessoas numa surdina “lilás”; O mesmo outono é uma “opala “(pedra transparente, que muda de cor conforme a visão do observador); a rua aparece tocada duma “névoa leitosa de cambiantes arroxeados” e “Uma bruma dourada algodoava o ar”. A casa perdida no passado é “caiada “e tem “janelas azuis”; Adriana aparece“todavestidadebranco”etemosolhos“dum verdeúmidodealga”.Aquisetornapossívelimaginar a figura etérea da moça saindo de um poema de CecíliaMeireles,escritoramodernistaimpregnadade Simbolismo,espiritualidadeegostopelomistério.

ArLivre

Ameninatranslúcidapassa. Vê-sealuzdosoldentrodosseusdedos. Brilhaemsuanarinaocoraldodia. Levaoarco-írisemcadafiodocabelo. Emsuapele,madrepérolashesitantes pintamlevesalvoradasdeneblina.

Evaporam-se-lheosvestidos,napaisagem. Éapenasoventoquevailevandooseucorpo pelasalamedas. Acadapasso,umaflor,acadamovimento,um pássaro.

Equandoparanaponte,aságuastodasvão correndo, emverdeslágrimasparadentrodosseusolhos.

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Ascoresfriasediáfanastentamcaptarasformas de Adriana, que, por sua vez, personifica a sonata idealizada pelo jovem músico, tímido e incompatibilizado com seu tempo. Ao voltar para o presente, no entanto, o outono já se fora e o músico encontra um “céu de cinza”, e um inverno “longo e sombrio”Arealidadepresentesecoloredetonsmais fortes., contrastando com tudo que se relaciona a Adriana, sepultada no “Cemitério da Luz”, numa alegoria que lembra as imagens celestes dos poetas simbolistas. Stéphane Mallarmé, um dos iniciadores domovimentosimbolista“pretendeatravessarocaos do mundo sensível e do eu, para atingir um absoluto de pureza” (BOSI, 1975), assim como professor de piano deve sair do mundo em guerra para chegar ao seumundoperfeitoetranscendental,ondeencontrará a mulher amada e comporá a sua melodia perfeita. Pode-semesmoenxergarnacenadoúltimoencontro entreoprofessordepianoeAdrianaoclimasugerido no poema Cristais, de Cruz e Sousa, também um íconedoSimbolismo:

O protagonista, um desajustado (“outsider”, diriamosquepreferemexpressõeseminglês),precisa sair do presente e do mundo moderno, capitalista e acelerado, para se encontrar e conseguir, enfim, produzir a sua obra-prima. Mas esta já não lhe pertence,poisficarapresaaumtempoeaumespaço que não mais existem, condenando o personagem a uma eterna frustração. Neste momento, em que se prenunciaumarealidadeinsuportávelparaosensível professordepiano,anarrativaseencerra,antesquese acabe a arrebatadora sinestesia de cores e sons e se dilua o encanto do mundo paralelo encontrado pelo anti-herói,figurasemnome,queparecetambémsaída deumsonho...

Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava… Na dolência velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas em lânguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas… Tanta harmonia melancolizava. (.............)

Poderíamos observar que neste conto, os elementos primordiais da narrativa são o espaço e o tempo, que, fugindo ao traçado linear tradicional, arrastamàestranhezaosdemaiselementos.Portanto, as personagens, as ações e o próprio foco narrativo são “contaminados” pelo inusitado do tempo (oscilante entre passado e presente) e do espaço (a casa do passado e o prédio moderno da atualidade). Aliás, a narrativa em primeira pessoa é típica dos contos de mistério, pois confere veracidade a acontecimentos inacreditáveis, permitindo ainda ao narrador expressar ao leitor detalhes de suas impressões, que seriam menos críveis se narrados num outro foco. Exemplos deste uso da primeira pessoa estão em A queda da Casa de Usher (conto fantástico)ounomagistralOCorvo(poemanarrativo fantástico),ambosdeEdgarAllanPoe.

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Seria possível ainda fazermos um dialogismo entre o conto de Erico Veríssimo e alguns filmes bastante conhecidos, destacando Peggy Sue, seu passado a espera ( EUA, 1986, Direção de Francis FordCoppola),EmAlgumlugardopassado(EUA, 1980, direção de Jeannot Szwarc) , De volta para o futuro (EUA, 1985, Direção de Roberto Zemeckis), Meia-NoiteemParis(EUA/Espanha,2011,Direção deWoodyAllen).Nesteúltimofilme, oprotagonista entranumafendadotempoesevêrepentinamentena Paris do início do século XX , encontrando-se com artistas e intelectuais que admira, numa narrativa cativanteeimpregnadadefantasia. Parafinalizar,convémressaltarqueaapreciação de um gênero ou obra literária é sempre subjetiva, dependendo de fatores variados. Vários textos que nosfascinamnumdeterminadomomentoousituação, deixa de ter o mesmo efeito num outro tempo. Mudamos a nossa percepção do mundo e das obras artísticas. Para elaborar este artigo, pensei em diversas obras, em muitos autores, em referências apreendidasaolongodosanos,emtextosvivenciados por meus jovens alunos, em narrativas contadas por minha mãe na infância.Acabei por escolher Sonata porqueestanarrativadialogacomigodeumamaneira única,hojeesempre.AcríticavêemEricoVeríssimo uma“mediedade”(BOSI,1975),umacapacidadede expressar o pensamento e a psicologia do leitor tambémmédio,e“refletirastendênciaseosgostosde uma classe média em crescimento, incapaz de maior refinamento artístico” (BOSI, 1975). Para mim, leitora voraz do autor, importa mais o prazer da leitura, a emoção, a viagem. Como num poema simbolista,valemaisoapelosensorial,osperfumes, os sons, as sensações. Esses, a crítica especializada nemsempreécapazdecaptar.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS:

BOSI,Alfredo.HistóriaConcisadaLiteratura Brasileira.SãoPaulo:Cultrix,1975.

BRAVAGENTE(2000).In:WIKIPÉDIA,a enciclopédialivre.Flórida:WikimediaFoundation, 2021.Disponívelem: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Brava_ Gente_(2000)&oldid=62664704>.Acesso em: 10 jan. 2022.

MEIRELES,Cecília.ArLivre Antologia Poética.3ªedição,RiodeJaneiro:NovaFronteira, 2001.Pág.99.Disponívelem https://blogdospoetas.com.br/poemas/ar-livre/ Acessoem:11jan.2022.

POE,EdgarAllan.AquedadaCasadeUsher. Disponívelem: http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/traduzidos /download/A_queda_da_Casa_de_Usher.pdf Acessoem:10jan.2022.

POE,EdgarAllan.OCorvo.TraduçãodeFernando Pessoa.RevistaProsa,VersoeArte. Disponívelem: https://www.revistaprosaversoearte.com/o-corvoedgar-allan-poe-traducao-fernandopessoa/#:~:text=O%20som%20de%20alguém%20q ue,isto%2C%20e%20nada%20mais.” Acessoem:10jan.2022.

SOUSA,Cruze.Cristais.Disponívelem: www.brasilescola.com/literatura/cruz-sousa.htm. Acessoem:10jan.2022.

VeraLúciaFigueiredo: Contista,CronistaePoeta

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Aexistência descrita em poesia, rimasecores,pelosolhosdeuma jovem dos anos 1980. As experiências,angústias,sonhose divagaçõesdealguémque,naera pré-internet,ouveLegiãoUrbana e U2, enquanto mergulha na literatura e dela faz o seu caminhoeasuarazãodeexistir. São poemas intimistas, mas universais; doces, mas rebeldes; rimados,maslivres;antigos,mas atuais. PONTILHADO

Nos teus olhos vejo pontos, Pedaços incompletos, Frases soltas de um conto, Sem caminho ou rumo
você
espaço, Que eu não posso alcançar, Um caco, um estilhaço,
Pelas cerejas Escorre o licor... É sangue escarlate, Não mais chocolate. O sumo escorreu, Seu rumo perdeu... As frutas pequenas São vivas, apenas, Reluzem vazias, Assim como eu. hps://www.amazon.com.br/JUVEN%C3%8DLIA-Vera-Figueiredoebook/dp/B07W87QFJR/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5 %BD%C3%95%C3%91&crid=1ESQWGXW736SP&keywords=Juven%C3%ADli a+vera&qid=1642994223&s=digitaltext&sprefix=juven%C3%ADlia+vera%2Cdigital-text%2C286&sr=1-1
ceo. Em
há um
A metade de um luar. CEREJAS

ANTES

(PARA STEFANO E IGOR)

SAUDADE DE VOCÊS, MENINOS, ME ACORDANDO DE MADRUGADA, SEM MAIS QUERER DORMIR OU, QUANDO EU SAÍA PARA A LUTA, ME PEDINDO PARA NÃO IR .

SAUDADE IMENSA E DOCE DE MEUS MENINOS DE ANTES BRINCANDO NO MEIO DA SALA, DERRUBANDO LEITE NO CHÃO, SENTADOS SOBRE O TAPETE, COMO SE AGORA FOSSE.... SAUDADE DO MACACÃOZINHO AMARELO, ATOALHADO, DA ROUPA , SUJA DE BALA, DOCE DE FRUTA, TODA MANCHADA.... DO CHORO IRRITADO, DO RISO ALTO, PURO E SINCERO. QUE OUVIR EU QUERO, MAS JÁ NÃO POSSO.

DO CHORO NA PORTA DA ESCOLA, QUE EU CHORAVA TAMBÉM. AFLITA, A ESPERAR .... DOS MÁGICOS INSTANTES, DAS CANTIGAS DE NINAR ...

SAUDADE DO SER FRANZINO, PEQUENO E FORTE, QUE EU TROUXE DA MATERNIDADE. SAUDADE DO SONO QUIETINHO NO MEIO DA TARDE, DO CHEIRINHO DO SABONETE, DAS DOBRINHAS DO NENÉM...

DOS DESENHOS NA TEVÊ, DO CADERNO RABISCADO, DO UNIFORME APERTADO, DA TAREFA POR FAZER .... DOS BRINQUEDOS ESPALHADOS, FIGURINHA, CARRINHO E BOLA... O COMEÇO DE UMA VIDA HISTÓRIA AGORA JÁ LIDA QUE AJUDEI A ESCREVER .... ( 22/02/2020)

VeraLúciaFigueiredo: Contista,Cronista

Poemas
ePoeta 9 LITTERA

SOB O CÉU AZUL DA COLÔNIA POR MAIS DE TREZENTOS ANOS REINOU O TRÁFICO HUMANO BRASIL! PORTO SEGURO PARA TAMANHA ATROCIDADE RECEBIA COM JÚBILO OS NAVIOS NEGREIROS TUMBEIROS! DE SOMBRIOS CALADOS CALADOS! NAVES SOTURNAS, FATÍDICAS, DESUMANAS. MOVIDAS PELO IMPIEDOSO LUCRO ERAM MÁQUINAS DE TRISTEZAS E LÁGRIMAS CRUELDADE E DOR . HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS DESENTRANHADAS DA MÃETERRA LIBERDADES TOLHIDAS, VIDAS DESPEDAÇADAS DESVENTURA! VIAGEM SEM ESPERANÇA SÓ O PAVOR DA SEPARAÇÃO O MEDO DO DESCONHECIDO SAUDADE, MELANCOLIA E SOLIDÃO.

AMONTOADOS COMO MERCADORIAS ENTREGUES AO DESUMANO TRÁFICO NEGREIRO! COMÉRCIO INFAME E NEFASTO QUE DESUNIU FAMÍLIAS DESTRUIU SONHOS DESFIGUROU DESTINOS DESAGREGOU POVOS E REINOS APAGANDO COSTUMES, CRENÇAS E TRADIÇÕES.

DO NASCENTE AO POENTE DA NOITE PARA O DIA DE LIVRES A ESCRAVOS MÃO DE OBRA SEM CUSTOS A MOLA PROPULSORA DA EXPLORAÇÃO COLONIAL: AÇÚCAR , CAFÉ, PRATA, OURO, CACAU... GERANDO RIQUEZAS COM A DESGRAÇA ALHEIA PROSPERIDADE! PARA O DESUMANO CAPITAL.

RóbinsondaSilva(Robinho): Poeta

OS NAVIOS
PORTO BRASIL
NEGREIROS NO
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E SE ELA FOR? QUEM VAI FAZER O MEU RISOTO? QUEM VAI ME ESPERAR NAS NOITES EM QUE NÃO VOLTO? EM ALGUMAS NOITES A ESPERO. NÃO SEI POR QUE DEMORA, TENHO NECESSIDADES E, ÀS VEZES A QUERO! NÃO GOSTO QUE ELA USE MINISSAIA OU SHORTS! IMAGINA ELES A OLHAREM DA MESMA FORMA QUE AS VEJO! LAVAR , PERFUMAR E PASSAR! EU TRABALHO! EU TENHO QUE ESTAR MUITO BEM VESTIDO PARA IR AO BAR! MAS ... SE ELA TRABALHAR? SE ELA FOR? SE ELA MUDAR? O QUE SERÁ?

O CARA QUE EU NÃO QUERO
ePoeta COMO "ELES" PENSAM Ilustrações [Álbum
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SER! A CULPA FOI DA SAIA CURTA, OU DA MINI SAIA! A CULPA FOI PELOS SEUS VERDES OLHOS OU NEGROS! SE ESTIVESSE NA IGREJA, NÃO ACONTECIA! PARA QUE VOLTAR TÃO TARDE DA ESCOLA! SE CASADA ESTAVA SALVA PedroPaiva: Contista,Cronista
dedicadoaErnestoSenna

AUTOESTRADA

devagar viver a moe tão distante como a sombra que nos pega pelo pé insumo mocho do espaço divagar a derribada companheira no rolê discreto quando a cegueira brilhou cornucópia calma devagar correr a vida mais ou menos engolida mandacaru na garganta

divagar rodando sempre dizer bora bora para a lentidão da ferida mesmo sendo inútil já que sumimos lentamente como os cabelos os fios sendo enxame das esperas do zumbido fatigado tão careca de viver

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ANDRÉSIQUEIRA: Poeta

As “ManhãsFechadas“ éumlivrode poesia, com 24 poemas em verso livre, onde o eu lírico se mostra decepado,dilacerado,ounomínimo estranho ante o cotidiano da cidade, da casa que cada um de nós carrega dentrodacontemporaneidade.Esseé oprimeirolivrodoautorlançadopor uma editora, a Gataria, no ano de 2020.

Aindavivoedisperso

Oexamepelamanhãsemardor. Dêesseatestadodeimpossibilidade, impropriedadesgramaticaise sentimentais.Sofáperfuradoque esvaziaàtoa-oocoassopra. Obafodasaladeesperame acertounoqueixocomoum boxeadornato.Pioréasaudade damaresiaquerefletiasuafoto. Elasubiumuitodessavez.Pouso quesussurranoventreeesbarra nobatentedaportaquenão abre.Leia-menolumeardente despreparadodentrodoseu bafodemaresiamulher. *** hps://www.editoragataria.com.br/produto/52675 4/as-manhas-fechadas-de-andre-siqueira

PARA DUAS ESCRITORAS

RITA ELISA SEDA

VeraLúciaFigueiredo:

Estamos vivendo hoje uma revolução no que diz respeito às formas de publicar literatura. Temos as editoras independentes, as plataformas de auto publicação, as redes sociais, blogs, canais do Youtube... como você vê esse novo contexto? O que trazdeganhos(e/outalvezperdas)paraaliteratura? Qualsuaexperiêncianesseuniverso?

Querida Vera Lúcia Figueiredo, essa revolução literária dentro da informática, o que chamamos de terceira dimensão da tecnologia, é uma realidade que não podemos fugir dela. Muitos paradigmas foram vencidos e novos rumos estão sendo traçados. Com o imediatismo inerente às redes sociais (Instagram, Facebook, Tik Tok, WhatsApp etc) uma nova geração já está condicionadaaficarapenasalgunsminutoslendo ouassistindoumapublicação,sepassadecincoou seteminutoselessimplesmentenãoassistematéo fim e passam para outra publicação. Nesse universo tão novo da comunicação, a escrita passou a ter mais abreviações e simplificação de conteúdo escrito. Em 2010 eu previ essa nova abordagem e escrevi para o jornal Valeparaibano uma crônica com essa nova tendência, era nova demais para a época e minha crônica nunca foi publicada. Nãopossodizerquetenhoumavisãoprivilegiadaa esse respeito, porém no ano 2000 eu escrevi um livro com a história de uma tribo de internautas que usavam essa linguagem eletrônica, eles tambémmudaramocomportamentosocial;oque me levou a prestar muita atenção nessa nova tendência, vi que era o começo para uma nova etapa mundial, o meu livro Ciber@migos

Para você ter uma ideia, fui criticada na época e guardo com carinho os jornais onde amigos intelectuais literatos disseram que meu livro de nada valia porque essa tal de Internet não ia evoluir, ia cair no esquecimento. Foi uma grande liçãoesseacompanhamentoquefizcomessegrupo internauta, onde meus filhos, adolescentes na época, faziam parte, através deles e os acompanhando nos encontros internautas, presencieiatransformaçãopassoapasso. Hoje continuo em adaptação às novidades. Estamosacostumadosàsmodificaçõesàescritada LínguaPortuguesa(brasileira)atravésdeLeisque nos obrigam a usá-la, quando aparece algo novo que não foi imposto por lei, temos a decisão de discordar ou aceitar. Essa é uma das partes mais sensacionais dessa evolução, nada foi imposto; massenãonosadequarmoseaprimorarmosnossa escritaparaatingirascriançasejovens,estaremos fadadosanãosermoslidoseentendidos. Sempreestouconectadaeatuando;tenhosite,blog e páginas em diversas redes sociais. É preciso entenderessaevoluçãoeletrônicaeaprendercom os erros. Não sou expert, várias vezes tenho de pedirsocorroparameufilhoqueémuitotalentoso nessaárea;muitasvezesatétenhocertaresistência em aceitar os novos parâmetros desse universo, maspensomuitoqueaúnicamaneiradeatingiro coração do jovem... é falar a linguagem dele. E, creio,ofuturoaelespertence.

CINCO PERGUNTAM MULHERES
Fizemoscincoperguntasparaduasescritorasdepaísesdiferentes.As escritorasmineiraRitaElisaSedaeaholandesa EricavanDooren .
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PARA TRÊS ESCRITORAS

EstherRosado:

Diantedetantasdefiniçõesparaaliteraturadonosso tempo,comseusviesesemeandros,podeseacreditar que,nesteinstante,noBrasil,existedeverdadeoque poderíamosdenominardeliteraturadofeminino?

QueridaEsterRosado,atualmentealiteraturado femininoestáemtodaescritadeautoreseautoras que fazem uma conexão com essa maneira peculiar do Ser. O feminino nem sempre é a mulher, mas sempre é a porção materna da natureza em todos seus sentidos. Essa é uma denominaçãoqueháalgumasdécadascontornam adisciplinadonossoolharparaobelo. Não podemos criar uma falésia da visão entre femininoemasculino,éprecisoapurarossentidos evercommaestrinaaporçãodecadaum.

CamilaNavarroMotta:

ComummundotãocaóticocomtodaaPandemiae oNovoNormalqueseaproxima,qualéopapelda LiteraturaedosEscritoresnessecenário?

Querida Caminha Navarro Motta, todos aos movimentosliteráriostiveramqueseadaptara mesma questão pela qual estamos agora; no tempodosNoigandres,doModernismoetantos mais, a bandeira da revolução literária foi hasteada para que a cultura continuasse o caminho.

CecíliaReginadeAbreuDellape:

Noprocessodecriaçãodasuaescrita,vocêconsidera atotalliberdadedeexpressão,usandoumalinguagem queatinjaatodasclassessociaisouprefereusaruma linguagemdita"formal”?

QueridaCecíliaReginadeAbreuDellape,aolongo de 26 anos de crônicas e 21 anos de livros publicados, eu desenvolvi uma linguagem coloquialparaatingirtodososníveisdeleitores. Tenho uma coleção de livros infantis, poesias, coleção de romances e muitas biografias. Mesmo nasbiografiasdeixeiorefinamentoparaaparteda inclusãodedocumentaçãoinédita,histórica. Aprendiquemaisvaleserlidaportodosdoqueser aplaudidaporapenasliteratosacadêmicosque,na maioria das vezes, nem comentam a leitura que fizeramdolivro.

Escrevi durante a pandemia Covid-19 a biografia da IrmãAmália de Jesus Flagelado e, em maio de 2020, tive de me aprofundar a respeito da pandemia Influenza, que aconteceu em1918-19;eaprendiquetodasasorganizações sanitárias para que a pandemia não evoluísse em2020,eramidênticasàsdeumséculoatrás. Fiquei ciente disso, não por entrevistar pessoas quepassarampela Influenza,massim,porqueli reportagens e crônicas em jornais da época e pelasteseselivrosescritosaesserespeito. Então,Camila,devemosescrevermuitoosfatos atuaisparaque,daquia100,200ou1000anos, estejam lendo e se inteirando dessa etapa da evolução humana pela qual estamos atravessando.

Sugiro aos escritores que escrevam bastante todosostiposdeinformaçõese,maisqueisso,os sentimentosemrelaçãoàCovid-19.

CINCO PERGUNTAM MULHERES
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PARA DUAS ESCRITORAS

ThaísdeGodoyMorais:

A criatividade, a inovação, ao longo da história da literatura, ora foi pouco valorizada, devido à obediênciaservildeautoresamodeloscanônicos,ora foiaqualidademáximadesejadaporescritoresepela críticaliterária.Diantedaconstataçãodequetudojá foiditoetudojáfoiescrito,ouseja,diantedavisãode que a criatividade está em franca decadência, e chegou a um esgotamento, como podemos criar, inovar,dandofrescoraartedaescrita?

QueridaThaísdeGodoyMorais,acriatividadeéo que nos impulsiona a escrever. Atualmente os métodos tradicionais ainda servem para uma avaliação acadêmica; porém, muitos se soltaram das amarras e navegam suas letras em largos oceanos e não se deixam represar. Nem todos aceitamessanovidade.SevocêlerMenaltonBraff veráqueelejátemumaidentidadenaescrita,ele se solta na imaginação e, com isso, deixa o leitor navegandoemáguasprofundas,nãoháseparação entre as falas e pensares dos personagens, Braff nos dá desenvoltura de entendimento, sem as amarras.JúlioCortázar,emseuconto:Asbabasdo diabo;esmiuçouessetipodeescrita,aocontemplar as aves sob a visão de um fotógrafo, um flash da realidade aparente. O poema concretista é uma brincadeira singular com a inovação tecnológica daépoca...amáquinadeescrever. Vamos nos unir para garantir para a geração futura uma adaptação aos métodos contemporâneos de escrita, sem deixar de valorizaroantigo.

Criar um amálgama na literatura dará reestruturaçãoaodialogismodeBakhtin,quenos ensina que nada se cria, tudo se transforma atravésdoquelemos,escutamos,vemosetocamos. O que mais empobrece nossa literatura são as rupturas de pensamentos, a não aceitação do outro, o querer impor a própria opinião a qualquer custo, só viver em grupos homogêneos que promovem uma empatia literária sem dar espaçoparaoutrospensadores.

ERICA VAN DOOREN

VeraLúciaFigueiredo:

Estamosvivendohojeumarevoluçãonoquedizrespeito às formas de publicar literatura. Temos as editoras independentes, as plataformas de auto publicação, as redes sociais, blogs, canais doYoutube... como você vê esse novo contexto? O que traz de ganhos ( e/ou talvez perdas) para a literatura? Qual sua experiência nesse universo?

Achoqueenfatizarasmídiassociaisnemsempreéum enriquecimento da literatura.Aprópria escrita pode ser esquecida. Ainda assim, estou fazendo isso. Aproveitoaoportunidadedeseradministradordeum fórum de redação no Facebook. Isso me deu mais conexões e, como resultado, minhas histórias e colunas em minha página de perfil são lidas mais. Como resultado, recebi agora uma designação paga para uma revista. Devido aos muitos "escritores corona",édifícilencontrarumeditornaHolanda. Elesestãosobrecarregadosdemanuscritos.Eàs vezesatéimpedemdeenviá-los.Ofuturomostrará qualseráarelaçãoganho-perda.

CINCO PERGUNTAM
MULHERES
16 LITTERA

CINCO PERGUNTAM MULHERES PARA DUAS ESCRITORAS

EstherRosado:

Diantedetantasdefiniçõesparaaliteraturadonosso tempo,comseusviesesemeandros,podeseacreditar que,nesteinstante,noBrasil,existedeverdadeoque poderíamosdenominardeliteraturadofeminino?

Só posso falar pela Holanda. Acho que não há distinção. A pesquisa mostrou que os leitores do sexomasculinoleemmaislivrosdeautoresdosexo masculino do que de autoras do sexo feminino. Para as mulheres, geralmente não importa o gênerodoescritor.

CecíliaReginadeAbreuDellape:

Noprocessodecriaçãodasuaescrita,vocêconsidera atotalliberdadedeexpressão,usandoumalinguagem queatinjaatodasclassessociaisouprefereusaruma linguagemdita"formal”?

Não estou conscientemente envolvido nisso e escrevo com minha própria voz. Com minhas letras acho que alcanço todas as classes sociais. Alguns textos literários se prestam a uma formulaçãoformal.Issodependedocontexto.

CamilaNavarroMotta:

ComummundotãocaóticocomtodaaPandemiaeo Novo Normal que se aproxima, qual é o papel da LiteraturaedosEscritoresnessecenário?

Tão grande quanto antes da pandemia. Haverá tantasopiniõesetantaspessoasquepodemounão concordarcomaopiniãodoescritor.

ThaísdeGodoyMorais:

Acriatividade, a inovação, ao longo da história da literatura, ora foi pouco valorizada, devido à obediência servil de autores a modelos canônicos, orafoiaqualidademáximadesejadaporescritorese pela crítica literária. Diante da constatação de que tudojáfoiditoetudojáfoiescrito,ouseja,dianteda visão de que a criatividade está em franca decadência, e chegou a um esgotamento, como podemos criar, inovar, dando frescor a arte da escrita?

Colorindo fora das linhas. Não se apegar demais às regras e às crícas de pessoas que se atribuem o papel de crícos consagrados. Os tempos mudameaescritatambém.Enfrentealínguacom osolhosabertos.

Erica van Dooren

colaboradora da REVISTA: Straatnieuws Utrecht. hps://straatnieuwsutrecht.nl/straatnieuws-12022/voor-hetvoetlicht/?clid=IwAR0arhoSHuQHvRuaw8nzEYYyS ncF4AO7RaLtKp2bwIzY-vU9B2DIC6nb4CU

17 LITTERA

NOVEMBRO DE JASMINS E ORQUÍDEAS EM BRAILE

Às vezes, senmos no pescoço essa adaga e sua lâmina afiada; mas, por detrás do silêncio, também sabemos ouvir a música da chuva, embora muitas vezes pensemos ter perdido a chave de nós mesmos, a senha do cofre e dos cartões de crédito. Aos poucos, aprendemos a gostar do silêncio e das formigas, das tardes chuvosas de que senmos falta e viramos a página do nosso livro sem nenhuma mágoa ou dor: a história foi, certamente, inventada por um maluco autor que, na pressa de terminá-la, deixou tantas páginas em branco... Então, podemos colocar um fecho usando as palavras que nos interesse:brandas,intensasealegres. Há dias que somos feitos de palavras e elas saltam no ar, ferem ou consolam, com sua música mais que exata. Se ferem, bom é pular este dia, tomar cuidado paraquenãoalcancemquemesperadenósaalegria. Há dias em que o sol brilha em nós e iluminamos; há outros que somos pura sombra, ignorância, egoísmo e magoamos, ferimos. Por quê? Não sabemos. Humanos, ferimos inocentes, tecemos vinganças. E nosapossamosdaraiva.Porquê?

Há dias em que somos feitos de silêncio e asperezas; outros em que nosso amor transborda por tudo quanto nos cerca, desde as árvores de casca grossa e ampla copa até a fila de formigas marrons, inquietas, rápidas, que correm sobre a grama em busca de alguma coisa escondida, folha verde, resto de pão ou libélula morta... E que pressa têm! Há muitos silêncios no mundo e sabemos que são quebrados por gritos de angúsa, mas há também grandes inventos, vacinas, máquinas, robôs, remédios para a dor e os ódios, um labirinto e seus jardins secretos, suas portas falsas, seus bancos de pedra lisa e brilhante. Reinventamos, então, o nome de todas as coisas e vamos escrevendo histórias para o tatear dos cegos: orquídeas em Braile, laranjas que, apalpadas, deixam senr um cheiro doce e sua redondez , um poema que dedos decifram ávidos pelas rimas, uma folha e suas nervuras, um fruto e suasemente,umgalhoeseupequenoninho. E então descobrimos o porquê de nascerem jasmins do Marrocos e seu perfume delicado como um sussurro, e porque descobrimos, esta adaga afiada já não corta mais, não há tanta dor na vida, mas a música alegre do mundo. E por ser dezembro, já não temos medo de nada. E por ser dezembro, eu quis roubar um jasmim do Cabo que, intromedo, saiu foradagradedeumjardim.Eroubei.

Crônicas
Contista,CronistaePoeta 18 LITTERA
EstherRosado

O rosto

Eu nunca esqueci um rosto, desde criança todo rostoquevejo,delesempremerecordo.Lembroque meu pai tinha muitos amigos: o homem da camiseta azulquetinhaumbraçosó,omulatoaltoquefalavao “carioquês,”outroqueusavaumconjuntotiposafárie sempre levava uma mala na mão, o tapeceiro baiano altotinhaóculosgrandescomlentesescuras,emuitos outros homens que naquela época já embeveciam ideais de transformarem o mundo para melhor. Está gravadoemminhamemóriaorostonegroebonitoda dona Maria, amiga da minha mãe, que tinha peitos grandescheiosdeleiteeamamentavameuirmãomais novo.Além de lembrar o rosto, lembro-me também donomedetodoseles,masissonãovemaocasonessa história. Jamais esqueci o rosto do palhaço do circo, ora alegre ora triste, nem o rosto do vendedor de pipocas que andava com pernas de pau e ao mesmo tempo tocava violão, o rosto da índia que vendia sabãofeitocomcinzas,jamaisesqueci.

Não sei por que, mas acho que o rosto revela a essênciadoser,revelaoquêsentimos,oquesomos,o que queremos dizer O rosto é a nossa estampa, a nossamarcamaisprofunda.

Ofatoéqueeunãomeesqueçodorostoquevejo. NacidadedointeriordeSãoPauloondemoro,vejoas pessoas andando nas ruas, olho para elas e vou reconhecendoumaauma,emboraelasnãotenhama mínima ideia de que são reconhecidas e muitas não reconhecem aquela que as reconhece Um dia encontreiumamigonopontodoônibus,quehámuito nãoovia,timidamentecumprimentei-o,logoentendi queelenãomereconhecera,inicieiumaconversa: —Lembra-sedemim?Perguntei,testandooquejá sabia,poisacontececomtodos.

—Não,respondeuele,desinteressado.Forçandoa conversa para ver até onde iria a memória ou a displicênciahumana,disse-lhe.

—Ora!SouairmãdoNoel,lembra?Olhando-me comatestafranzida,falourapidamente Ah! Então você é irmã da Maria? Rindo, respondi

—Não!EusouaMaria,lembra?Nãofoisurpresa, mas ele ficou muito encabulado por não ter me reconhecido. Só agi desta maneira, porque ele era uma pessoa com quem eu tinha tido amizade de sairmosjuntosnaadolescência,paraencontraroutros amigos. Bem, o fato de eu acreditar que o rosto é a expressão humana, simbólica e caracteriza qualquer ligação de sentimento entre os seres humanos, seja bomoruim,bonitooufeio,fazcomque,desdequeeu oveja,delenãoesqueçajamais...

CecíliaReginadeAbreuDellape: Contista,CronistaePoeta

19 LITTERA

Uma VermelhaCarteirinha e Branca.

Na sua infância, qual foi o maior presente que você já ganhou? O meu foi uma carteirinha vermelha e branca!

Devia ter uns sete a oito anos. Eu e meus irmãos estávamos na sala, e um por um foi chamado pelo meu pai e minha mãe para receber ¨A carteirinha ¨ . Quando peguei a minha, corri para a casa de meu primo, que morava na mesma vila familiar. Quando fui mostrá-la, qual minha surpresa? Ele também tinha uma. Parece que havia sido combinado, todos os garotos e garotas da “Vila do Sossego” eram sócios do “ESPORTE CLUBE ELVIRA”.

Cambada! Esta era a expressão usada pelo meu pai à garotada que saía da Vila lá da Rua Pompílio Mercadante em direção ao clube, alguns de ônibus, a maioria a pé. Naquela época precisávamos passar por uma ponte de madeira para atravessar o rio Paraíba. A atual ponte do “São João” estava sendo reconstruída e tornava nossa caminhada mais interessante.

O ginásio “Milton Scherma” ainda não existia e ali era a entrada do clube. Havia um casarão, as quadras de bocha, uma quadra poliesportiva e finalmente as piscinas, que eram o que imaginávamos. E tinha mais! Um parquinho para as crianças, o bar do seu “Dito” e os vestiários, e neste caminho, dezenas de árvores frutíferas: mangueiras, jabuticabeiras, pitangueiras, abacateiros ...

As piscinas! No início eu ficava com minha mãe na piscina de crianças. Na semana seguinte, já estava na piscina de adultos. As brincadeiras eram muitas, descer de joelho o escorregador azul, mergulhar e atravessar a piscina por debaixo d'água, ou apenas ficar tomando sol. Aquele carrossel azul de madeira do lado da quadra, eu, meus irmãos e primos o fazíamos rodar a “ cem por hora”, parecia que seríamos jogados para fora a qualquer momento. Também tinha o escorrega metálico, as balanças e, por um tempo, até a roda gigante.

Na hora do almoço íamos no bar do “seu Dito”. O sistema era de ficha, a gente pagava e depois comia, era sempre um cachorro-quente e uma coca cola. O pessoal sempre dizia: “tem que esperar duas horas”, a gente não esperava nem cinco minutos para voltar para a piscina. Algumas vezes minha mãe fazia tortas de camarão ou frango e ali, com a visão do Rio Paraíba, em mesinhas de concreto fazíamos nosso piquenique. Aprendi várias coisas neste clube: nunca ensinar uma prima a nadar, ela pode se afogar; nunca jogar bola com os adultos, quebrei um braço; nunca jogar bola contra meu irmão “Neto”; ele sempre vai ganhar; nunca empurrar os outros quando a piscina estiver lotada, meu irmão “Duza” caiu de cabeça em cima de uma senhora, e não fui eu quem empurrei!

O seu Dito se tornou grande amigo de meu pai. Depois que ele saiu do Elvira, fomos algumas vezes em seu bar lá em São José dos Campos. Aquele lugar que meu pai chamava de “Náutico” se transformou em “Educamais”, onde entrei apenas uma vez com meu filho, para matar as saudades de um tempo diferente.

20 LITTERA

Por sobre João Cabral e o Severino-todosnós

Quemmeensinouacatarfeijãoealerversossonoros, duros,deixandoquenelescantasseumsozinhogalopela manhã,foiJoãoCabraldeMeloNeto.

Estavaantes,quandoconfessouquequeriamorrer,só nãosabiacomo,dequejeitoouquando.

Catar feijão e esse galo cantando foram exercícios difíceisderealizarequeeu,confessopublicamente,às vezes me dei mal ao fazer: achava aquela linguagem dura demais, Cão sem Plumas, que me educou pela pedra,farpanomeucoraçãodespreparado.MasliJoão CabraldeMeloNetointeiroquandodescobri,quasesem querer,osversosdeMorteeVidaSeverinapelaprimeira vez. E chorei aquele Severino ali se apresentando, pedindo licença para migrar, percorrendo desvãos de vidaondeamorteeraconstância.

NotrechoAmulherdaJanela,aprendiareconheceros versosmaisbonitosdequetenhonotícia:

"Desejamesmosaber oqueeufaziaporlá? Comer,quandohaviaoquê, e,havendoounão.trabalhar..."

Liinfinitasvezesotrecho,semprecomosolhoscheios deáguaqueSeverinobuscavaparamitigarasuasedede peixe.JoãoCabraltocarameucoraçãopequenoeescuro edespertaraemmimodesejodepassarasuamensagem. Foientãoquemonteicommeusalunosapeça.Etantas vezesquantasavisendoapresentada,chorei.Confesso queaindachorodeemoçãoquandomedeparocomesse Severino de pernas finas e cabeça grande, em busca de umlugarparaoquenelerestou.

Solidário,eleajudacarregararedeondevaiumoutro Severinomorto,oSeverinoLavrador"quejánãolavra".

Em seu périplo até o Recife, saído do sertão duro e inóspito, Severino representa a pobreza nordestina, esquecida pelos políticos e pela vida, tentando tirar do chãodurooquechãoduronãodá.

Quem, entre os que se alimentam, não se emociona comoFuneraldoLavrador?

21 LITTERA

"--Édebomtamanho, nemlargonemfundo, éapartequetecabe nestelatifúndio."

E, ao chegar ao Recife, encostado àquele muro de cemitério, ouve dos coveiros a sentença: veio acompanhando seu próprio enterro; Severino se desespera:nãohámaissaídaspossíveis.Maistarde, na presençadeSeuJosé,mestreCarpina,perguntaráinfeliz senãovalemais"saltarforadaponteedavida"... Pernambucano, diplomata, perseguido e acusado pela PolíciaPolíticadeGetúlioVargas,JoãoCabral também era um Severino-retirante: para o Rio, para a Europa, paraospaísesdaAméricaLatina.Espéciederetiranteda diplomacia,serviuoBrasilpor 35anos. Estavavelho,cansado,cego. Naúltimaentrevista,dissequenãopodiamaisescrever porque para escrever precisava "ver" o poema. Disse que queria morrer Quando li isso, fiquei tristíssima, confesso,epenseiemJorgeLuísBorges,tambémcego, também poeta. No entanto, os dois não podem ser comparados:Borgeséopoetadascoisasdeummundo melhorado, João Cabral canta o universo cortante e árido, embora tenha frequentado lugares sofisticados comoBorges.

Lembro-medaliçãofascinantede"umgalosozinhonão teceamanhã/éprecisoqueoutrosgalos..." Consola-meaideiadequehajanomundooutrospoetas. Mas Severino, certamente, está órfão. Quem, senão João,oarquitetodapalavra,mostrariatãobelamenteum homemeseupercurso?Umdestinoesuasesperanças? Também peço licença para iniciar viagem, me integro aos outros.Afinal, somos muitos Severinos, iguais em tudo e na sina... e desejo ardentemente que Caronte conduza a barca do poeta com firme remo, para águas sonhadas, para águas que vão além dos mangues do Capibaribe.

E que todos os galos, João, sempre te saúdem na nova manhãqueseinicia,sejaondeestiverescomsuapoética cheirando a poeira da estrada por onde viajou a pé o Severinoretirante,passo apasso,atéchegarasimesmo.

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EstherRosado: Psicanalista,professora,ocupaa cadeira17,Profa.Philomena Pinheiro,daAcademiaJacarehyense deLetras.

Poética no abismo

Sou o viajante que surgiu sobre as cordas dos sonhos , na corda de aço ensaio meus passos , na linha de angústia vou detalhando um resto de sombras,seiqueédifícilcaminharsobreoabismo daexistência,láembaixo,opúblicoaplaudedentro de seu medo , minha queda terá um preço de liberdade , um pedaço estraçalhado da existência, desacredito que no ar minha vida se refaz em desespero , sei me transformado em fogo e indiferença, um perdido incêndio feito palavra e ódio e minha metamorfose será mais importante que meu destino nesta corda bamba, sombras que mereservamparaestaestrada,emquecadapasso busco o equilíbrio, meu sistema nervoso explodindotodasasformasdeumgrandedesastre, minha mulher esperando o espetáculo terminar, o show , para comprar seu remédio , fraca, nervos doentios , e minha estrada de cordas de aço , são deslizadas de grandes angústias , e as palavras se perdemnaalturaemquemeencontro,percodeser emser,meuprecipíciotemtonalidadesescuras,o princípio de uma grande fatalidade que um dia há de se cumprir , a dor dentro de meu tempo, a esperança é uma lembrança morta, minhas primeiras lições de andar sobre cordas foi com os macacos de um circo, fui sempre aumentando minha altura, já estava nos cinquenta metros de altura,talvezumdiaatravessasseoNiágara,masa minha esperança fica na indiferença do tempo, a ventaniaaumenta,balançaosgalhosdasárvores,as cordasdançamdentrodeumequilíbrio,exigema precisão dos passos , e minhas palavras são como pássaros negros escondidos dentro desta vida sem rumo de encontros , estou alojado de lembranças viajantes , meu destino quebrado de cristais em lembranças , um fruto da realidade se esconde dentro destes abismos que recrio em cada apresentação, meu sustento refeito no soar das cordas como um pedido de socorro, a traição de umavidaquereviaemmistérios,eramasruas,,

Poéticanoabismooasfalto,osipêsamarelos,saber que meu andar estava pairando acima de tudo, o acrobataemmimviviadasorteesvaziadademinha realidade , o tremor de saber que tudo tem o princípiodofim,eraumateianoespaçoemqueos tentáculos da aranha eram meu guia , cego me esticavacomosaberdeondepisar,eraasolidãode estar sobre cordas e abaixo a negritude de um grande abismo e minhas palavras, meus sussurros não eram de preces, mas de sentir o peso de um mundo que perdeu seu significado, queria estar perto de um desconhecido céu em que pássaros voassemaomeuredor,péapóspéiaseguindo,o pensar no equilíbrio , na altura tudo se transforma emmatériadememória,poderiacairdentrodeum mito, escrever na corda o mistério do medo , as metáforasdeumacaminhadaentreapontequeme separava de meu silêncio e os gritos , novos aplausos, ali estava o público , morando em cada ansiedade, tenso em cada escorregada , leve chuvisco umedecendo as cordas , minha vida esparramadanumgritointerior,ficoachandoquea lógicadotempoestádentrodecadaagoniadequem assiste , a cada momento estou inundado de reflexões montadas sobre o aço das palavras que fazempartedemeuuniverso,pensonodesenlace, naminhadestruição,naamarguradetentardesistir de minhas ilusões , da amargura de tentar me reconstruir numa nova vida, desistir das lembranças, do último adeus de minha família em seguir um grupo cigano, um pedaço de aço que perfuraminhasveiasdoentesdeindiferençaseque meconduzparaumnada,aventaniaaumenta,sinto adificuldadedemeequilibrar,tudobalança,meus olhospercebemoesparramardamultidão...meus olhosseturvamesintoqueestouapagandodentro daventaniaedeumcéuazuleseiquevoucair...o corpo s e divide entr e espasmos...agora talvez o infinito de se dissolver entre o vento e a queda, último momento do viajante equilibrista em retornaràsuavidaevoarjuntoaospássaros.

Contos
ePoeta 23 LITTERA
CarlosBuenoGuedes
Contista,Cronista

Conto do amor perdido

Umjovemrapaz,apaixonado,procuravaseu amor, olhava e olhava como olhava para as floresdojardimdasuacasa.Dentreasflores mais belas, queria a garota que mais brilhasse. Vivia a suspirar a imaginar como seriaviverseuprimeiroamor,esonhavaque aqueletivessequeseroúnico. Certodia,aoacordareabrirajaneladoseu quarto, avistou uma família que estava se mudandoparasuarua,foiquandoseurosto enrubesceu, por ver a menina dos seus sonhos,queacabavadesetornarsuavizinha. Elaeralinda,morenadosolhospretos,deum sorriso inebriante. Logo se levantou, não quis nem saber do café da manhã. Foi logo cuidardojardimdasuacasa.Passouamanhã toda lá, esperando vê-la, mas ela entrou na suacasaenãosaiumais. O coração do jovem rapaz ficou pálido, seu sorriso sem verdade, e seu olhar sem cor. Passado algum tempo, estava cuidando do seu jardim, e nem havia percebido que a menina estava no seu portão, quando o cumprimentou. O coração do rapaz quase saiupelaboca,easuavozquaseseescondeu norecônditodentrodesi.Elalhepediuuma informação,falouonomedela,eperguntou o dele. Quase sem ar, deu a informação e falouseunome.Aquilopareciaumsonho,o rapaz voltou a brilhar, e a sonhar com a garotadeolhosnegros.

Passadoalgumtempo,orapaz,apaixonado, quis cortejá-la, tomou a iniciativa e falou comela.

— Oi, queria saber se qualquer dia desses, poderíamostomarumsorvete?

Ela pareceu um pouco surpresa, abriu um sorrisoerespondeu:

— Podemos sim, só acontece que aquele rapazquemoranaesquinatambém convidouparatomarmossorvete. Olhou para o rapaz da esquina, olhou para ela, seu semblante murchou, ela sorridente lhedisse:

— Faremos assim, proponho aos dois que, aquele que for o mais romântico, me leva paratomarsorvetenosábado.

O rapaz, mal pôde acreditar. Foi correndo proseuquarto,ligouseucomputador,entrou nositedepesquisas,epesquisou“Comoser romântico?”. Logo apareceram vários artigos sobre o romantismo durante os séculos, mas se interessou por algo mais recentedoseutempo,ascartasdeamor,que jánãoexistiammais,pensou oquãooriginal e romântico seria. Então logo começou a escrever sua carta de amor, uma carta cheia desentimentosvivos,alicolocouseupróprio coração, passou seu perfume na carta, comprou uma caixa de bombom, cortou a rosamaisbeladoseuJardim. No dia seguinte, o rapaz, que mal dormiu, muitocedoabriuasuajanela,seaprumoue se pôs a esperá-la. Em sua mente, o rapaz cantava canções, tão belas quanto as dos pássaros. Quando chegou ao lugar combinado, a garota ainda não havia chegado,maslogoelaapareceutãobelaetão feliz.Lhedisse: —Trouxeparavocê... — Uma carta? Uma rosa e uma caixa de bombom? Carta de amor não existe mais, nãosouvelhaparaganharflores,enãoquero engordarcomendoumacaixadebombom. Ela mostrou o lindo anel que ganhara do vizinho do rapaz, e foi embora. Jogou tudo ao chão e correu para sua cama. E assim, viveusuaprimeiratragédiadeamor.Como coração dolorido, pôs-se a chorar, e achou queoamornãoeratãobomassim.Malsabia queaindanãohaviaconhecidooverdadeiro sentidodoamorromântico.Estefoioconto doamorperdido.

Poeta
Alison
e
24 LITTERA

São versos proibidos aos olhos, ardem como uma chama que não se apaga.Édoolhar,prestesapartir.Da surpresadoadeus.Daúltimapalavra, é tentar explicar o porquê de existir, existirem os sentimentos, os olhares queseprendemComosepudéssemos viver, o amor. Mas não é verdade, alguns amores não existiram pra seremvividos. Ecomodesejarumarosa,amaislinda do mundo, e não poder tocá-la. Alguns olhares se cruzam, e grudam na memória e no coração, sem respostas,fazemocoraçãobatermais forte,semtermotivo?

Sinopse Existevidaapósoamor? Existevidaapósviciarnoteuolhar? Euexistodepoisdisso? Oqueexistedevocê? Oqueexiste? Existimos?

Tereza

Tereza voltava para sua casa, em sua mão uma sacola comumagarrafadepingaeoutradeconhaque.Suapele manchadaecorpoobesoescondiamabelezadeoutrora, apenasseusolhosverdesficaram.

O trabalho de gari foi árduo, o pior era quando a molecadacaçoava.

—Terezacafetina!

—Terezinhacafetina!

Suahistóriaeraconhecidaemtodacidade.

Chegou em casa, deixou as duas garrafas em cima de uma mesinha de canto, foi à cozinha e voltou com um copo americano, abriu a garrafa de pinga e tirou uma dosedametadedocopo,tomouemumgolesó,fechou osolhoserespirou,voltouparaacozinhaerequentoua sopadoalmoço.

Após a sopa, foi com seu copo até a mesinha, colocou outradosedepingaetomou.

—Mãe!

Olhoudeumlado,deoutro.

—Mãe!

Efinalmenteviuofantasmadesuafilhamaiornumdos cantosdocômodo.Edisse.

—Oquevocêquer?Jáfaleiparavocêsnãoaparecerem maisaqui!

—Porquevocêfezaquilocomagente?

—VocêCátia?DisseTereza,colocandomaisumadose —Nuncaquisnadacomnada,sóquerianamorar;sair comosmeninos;nãotrabalhavaenemmeajudavaem casa.

—Eusótinhadezesseteanos!

—Eeraumavagabunda!Emvezdeserputaaqui,foi seremSãoPaulo.

—Eminhasirmãsmereciamomesmo?Elasestãoatrás dasenhora!

Terezaseviroueviuosfantasmasdesuasoutrasduas filhas.

—Cássia!Carla!

— Cássia tinha quinze anos, e eu apenas treze! Disse Carla.

—Vocêsiamvirarputasmesmo!

—Talvez,masestaríamosvivas! DisseCássia.

Terezacolocoumaisumadosedepinga.

—Quantorecebeupelagente?PerguntouCarla.

—Foramcincomilecinquentareaisemaisumlitrode “RedLabel”,quebebinamesmanoite.

Terezasorriuecontinuou:

— O dinheiro durou três meses, gastei no forró com homensebebidas. Cássiaseaproximou.

—Mamãe!ViCarlatossiretossirnasmadrugadas,em semanas seu catarro era só sangue, morreu em uma calçadaàscincodamadrugada.

Tereza esvaziou sua garrafa de pinga em um só gole. Cássiacontinuou.

Cátia morreu em seu ponto, espancadas pelos carecas nazistas, os malditos usaram correntes, a calçadaficousujadesanguepordias.

—Evocê,Cássia,comomorreu?PerguntaTereza.

—Fugidemeucafetão,elemeencontrou,apanheitanto quefuipararnohospital,trêsdiasdepoismorri.

Terezaabriuoconhaqueetomounobicodagarrafa.

—Oquevocêsqueremdemim?

—Carlaseaproximouedisse:

—Viemostebuscar,mamãe!

Terezasoltouagarrafadeconhaque,quesequebrouno chão, caiu de joelhos nos cacos, em seu cérebro veias explodiram, olhou as filhas, elas sorriram e desapareceram.Terezamorreu.

Foienterradaemumacovarasanocemitériodacidade.

Umanodepois,umabelamoçaparouemfrenteàcova rasadeTerezaedisse:

— Foram seis anos, queria te ver viva, desculpa, mas nãoconsigochorar Tirouumcelulardobolsoedigitoualgunsnúmeros.

—Alô! Carla! Ela está morta, agora viva, sou só eu e você.

— Cátia! Quando você volta? Perguntou Carla pelo celular.

Disseumaeoutrapalavraparaairmã,desligou,olhou paraacovaedisse. —Adeus,mamãe!

Cátiafoiemborasemolharparatrás.

PedroPaiva: Contista,Cronista

ePoeta 26 LITTERA

MOLETOM CINZA

Acordei num sábado muito frio, sem ter o que fazer. Meus pais não queriam sair de casa, na televisão tudo já estava muito enjoado, nem dava parajogarfutebol.Olheipelajaneladoquarto,via lá embaixo poucas pessoas andando bem encolhidinhasnarua.

Então, de repente, vi bem claramente o meu primo,Marcelo,meacenandodelonge.Pediapara que eu fosse até onde ele estava. Não entendi porque não veio ele até minha casa, num frio daqueles. Há muito tempo não via Marcelo. Crescemos juntos, ele foi como um irmão para mim.NãoconseguialembrarbemporqueMarcelo tinhasumido.

Saí de casa, sem que minha mãe e meu pai vissem.AdistânciaatéMarcelopareciagrande,ele estava sentado no banco da pracinha amarela, usandoomoletomcinzaquetinhasidomeu.Como euerabemmaisalto,faziadeMarceloumherdeiro para minhas roupas, embora ele fosse apenas três mesesmaisnovodoqueeu.

—Eaí,Renato?

—Vamosláparacasa,Marcelo.Quefrio!

— Não vamos, não. Quero te convidar para passear comigo, ver uns lugares diferentes .Não vamosdemorar...

— Que ideia! Mas, se for rápido, vamos! Não tenhonadaparafazer,mesmo!

Começamosacaminharladoalado.Paramosno pontodeônibus.

—Estranho,Marcelo.Nuncaviesteônibusaqui. Deveserdeumaempresanova.

—Vem,Renato.Esteônibusdemora.Seperder este,édifícilpegaropróximo.

Entramos. Poucas pessoas viajavam, a maioria idosos.Sentamos.Oônibuscomeçouarodar,ofrio aumentou,fuiolhandoasruasconhecidas,comecei acochilar

Acordei num lugar diferente, que nunca vou acharpalavrasexatasparacontarcomoera.Pedras coloridas no chão, estranhas pedras, mas lindas. Várias pistas de skate. Sim, skate era o esporte preferidodoMarcelo.Naturezanosquatrocantos, muitoverdeesol.Masnãofaziacalor Tambémnão sentia o frio de antes. Marcelo parecia conhecer bem o lugar, ali se sentia à vontade.Andamos de skate, jogamos no “Play Station”, compramos sanduícheserefri.Otempovoou.Acheiquemeus paisdeveriamestarpreocupados,nãosabiamonde eu estava. Resolvi voltar. Marcelo e eu fomos ao ponto de ônibus. Vi se aproximar o ônibus alaranjado.SubiechameiMarcelo.

— Vem, cara! Passa o fim de semana com a gente.LigaparaatiaAlda!

—Não,Renato.Vocêpodevoltarnesteônibus. Eu não. Mas você será sempre o meu primo mais próximo,omeumelhoramigo.Entendeu?

Repentinamente, compreendi tudo. Subi no ônibus. Voltei para casa. E vi pela última vez, ao longe,acaminhodapistadeskate,afiguradomeu primoMarcelo.Enquantooônibusseafastava,eu tentavadistinguirentreocinzadapaisagemeacor domoletomusadopormeuprimo.

VeraLúciaFigueiredo: Contista,CronistaePoeta 27 LITTERA

Dica de Leitura: Niketche

Vencedora do Prêmio Camões 2021, Paulina Chizianeéescritorade“Niketche”,umdosromances moçambicanos mais renomados do século XX. O enredocontaahistóriadeRami,umafielesubmissa esposaconformeatradição,eque,mesmoassim,não consegueoamordeseumaridoTony.Certavez,Rami descobrequeomaridopossuiváriasamantesefilhos espalhadosportodooMoçambiqueedecideconhecer todasasmulheresdeTony A partir desse encontro, uma mudança acontece na vida de todas. “Eu, Rami, sou a primeira-dama, a rainha-mãe. […] O nosso lar é um polígono de seis pontos.Épolígamo.Umhexágonoamoroso”,diz. Deorigemsimplesehumilde,PaulinaChizianefoia primeira mulher moçambicana a publicar um romance.Em“Niketche”,elaconcentrabomhumor, consciência social e lirismo para traçar um vigoroso painel da condição feminina e da sociedade de seu país. Coragem também é uma palavra que revela o espíritodaautora,muitobemrefletidonaprotagonista Rami;coragemparaexporosentimentodasmulheres emrelaçãoaoseumatrimônio,parareconheceroseu papel, afirmar sua personalidade e não se deixar anular. Unida à força, essa ousadia mostra a importância de sair do anonimato, da passividade, e demonstrar a competência natural para resolver problemasaindaquetãoarraigados.

Ler Paulina Chiziane também é compreender que os valores estão acima das tradições, valores como o amor, a verdade, o respeito, a honestidade, a fidelidadeeasolidariedade.Porisso,aobracativade leitores adolescentes a adultos, trazendo uma temáticauniversaleconhecimentosobreumcontexto local. Ao ler, logo passamos a refletir sobre as condiçõesdanossasociedade,dasmulheresurbanase sertanejas,doshomenschefesdefamíliaemancebos, eoquepodemosfazerparamelhorar,assimcomofez Rami, que lutou pela independência de todas as companheiras e mostrou como os valores supracitadosprecisamserocernenoseiofamiliar. Porfim,NiketcheconfirmaoquedisseoProfessore críticoliterárioAntonioCandido:

Entendo aqui por humanização (já que tenho falado tanto nela), como um processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, comooexercíciodareflexão,aaquisiçãodosaber,a boadisposiçãoparacomopróximo,oafinamentodas emoções,acapacidadedepenetrarnosproblemasda vida,osensodabeleza,apercepçãodacomplexidade domundoedosseres,ocultivodoamor Aliteratura desenvolveemnósaquotadehumanidadenamedida emquenostornamaiscompreensivoseabertosparaa natureza.(Candido,1989)

Alunosda2asériedoEtimAdm(EnsinoTécnico emAdministraçãointegradoaoMédio)que apresentaramsemináriosobreaobrae participaramdadica:

AmandaHilario

AndersonJúnior

JoãoDarque

JoãoCapucci

LiviaSousa MatheusPrado

OtávioLemes

ElisianeAlvesdeOliveiraProfessoradeLíngua PortuguesaeLiteratura: Escola:EtecCônegoJoséBento

28 LITTERA
LIBERDADE - PARTE II 10.000anosatrás ZEUS SE APROXIMOU DA MONTANHA EM UM CAVALO ALADO E NEGRO. A ÁGUIA AINDA ESTAVA FAZENDO SUA REFEIÇÃO. AQUELES QUE SE ACOSTUMAM SÃO OS MESMOS QUE SE ENTREGAM! OGRANDETITÃJÁSE ACOSTUMOUCOMA DOR? JÁSABESOBREA ATLÂNTIDA? SIM!DEUSGENOCIDA! MAISDETREZENTASMILPESSOAS... SÓPORQUECONSTRUÍRAM UMTEMPLO PARAME HOMENAGEAR. DOMESMOTAMANHO DOMEU. PORQUENÃODESCARREGA SUAIRANESTETITÃ? LANCESEUSRAIOS, MEFAÇAEMCINZAS! 29 LITTERA

Por que não descarrega sua ira neste titã? Lance seus raios, me faça em cinzas!

Você sabe que não posso.

Pobre deus onipotente, não será hoje que você terá sua informação!

Fique em seu suplício, maldito titã!

Antes de ir, diga o motivo de sua ira!

Você preferiu amar a eles.

Pedro
30 LITTERA
ZEUS SE AFASTA EM SEU CAVALO NEGRO. CONTINUA....
Paiva

O leitor atento se surpreende e comemora, ao perceber que a protagonista é contemplada com umaliçãodevaloresnãoefêmeros, que se quer ensinar à sociedade, geração após geração. São eles o respeito,aalteridadeeaempatia. O livro é um presente para jacareienses e estrangeiros. Além de mostrar que as ciências física e matemáticapodemcontribuirpara transformar o passado num presente melhor, deixa o leitor curiosoparaentendermaissobrea vidadeLetícia.

hps://www.amazon.com.br/Let%C3%ADcia-no-MAV-PEDROPAIVA-ebook/dp/B09MRK86R8

Mitosbrasileiroscontadosemumoutroformato que nos levam a uma época remota e nos mostram figuras que fazem parte do imaginário coletivo: o coronel, os escravos, os índios, a mocinha bonita, o rapaz que volta da cidade, formado, para a casa dos pais. No meio disso tudo, um mosaico rico dos sentimentos e elementos que compõem a existência humana: amor,medo,morte,desejo,hipocrisia,ganância, maldade, vingança, arrependimento. Nas entrelinhas,críticassociaisimportantes.Nacena emqueorapazvaiaomanicômio,porexemplo, e encontra ali pessoas que simplesmente não eramaceitaspelasociedade. hps://www.amazon.com.br/Meus-P%C3%A9s-Virados-CaminhamDificuldade/dp/6500104544/ref=tmm_other_meta_binding_swatch_ 0?_encoding=UTF8&qid=1643155208&sr=1-1

LIVROS E FLORES

Lado b dos CLASSICOS LITERARIOS
,
SE LEIA
FLOR
C í r c u l o V i c i o s o BAILANDO NO AR , GEMIA INQUIETO VAGA-LUME: - QUEM ME DERA QUE FOSSE AQUELA LOURA ESTRELA, QUE ARDE NO ETERNO AZUL, COMO UMA ETERNA VELA ! MAS A ESTRELA, FITANDO A LUA, COM CIÚME: - PUDESSE EU COPIAR O TRANSPARENTE LUME, QUE, DA GREGA COLUNA Á GÓTICA JANELA, CONTEMPLOU, SUSPIROSA, A FRONTE AMADA E BELA ! MAS A LUA, FITANDO O SOL, COM AZEDUME: - MISERA ! TIVESSE EU AQUELA ENORME, AQUELA CLARIDADE IMORTAL, QUE TODA A LUZ RESUME ! MAS O SOL, INCLINANDO A RUTILA CAPELA: - PESA-ME ESTA BRILHANTE AUREOLA DE NUME... ENFARA-ME ESTA AZUL E DESMEDIDA UMBELA... PORQUE NÃO NASCI EU UM SIMPLES VAGA-LUME?
de Assis.
TEUS OLHOS SÃO MEUS LIVROS. QUE LIVRO HÁ
MELHOR
EM QUE MELHOR
A PÁGINA DO AMOR? FLORES ME SÃO TEUS LÁBIOS. ONDE HÁ MAIS BELA
, EM QUE MELHOR SE BEBA O BÁLSAMO DO AMOR? Machado de Assis.
Machado
OLHA: VEM SOBRE OS OLHOS TUA IMAGEM CONTEMPLAR , COMO AS MADONAS DO CÉU VÃO REFLETIR-SE NO MAR PELAS NOITES DE VERÃO AO TRANSPARENTE LUAR! OLHA E CRÊ QUE A MESMA IMAGEM COM MAIS ARDENTE EXPRESSÃO COMO AS MADONAS NO MAR PELAS NOITES DE VERÃO, VÃO REFLETIR-SE BEM FUNDO, BEM FUNDO - NO CORAÇÃO! REFLEXO ÁLVARES D'AZEVEDO CIÊNCIA! DO VELHO TEMPO ÉS FILHA PREDILETA! TUDO ALTERAS, COM O OLHAR QUE TUDO INQUIRE E INVADE! POR QUE RASGAS ASSIM O CORAÇÃO DO POETA, ABUTRE, QUE ASAS TENS DE TRISTE REALIDADE? PODERIA ÊLE AMAR-TE, ACHAR SABEDORIA EM TI, SE OUSAS CORTAR SEU VÔO ERRANTE E AO LÉU QUANDO TENTA EXTRAIR OS TESOUROS DO CÉU, MESMO QUE A ASA SE ELEVE INDÔMITA E BRAVIA? NÃO FURTASTE A DIANA O CARRO? E NÃO FORÇASTE A HAMADRÍADE DO BOSQUE A PROCURAR , FUGINDO, ESTRÊLA MAIS FELIZ, QUE PARA SEMPRE A ESCONDA? NÃO ARRANCASTE À NINFA AS CARÍCIAS DA ONDA, E AO ELFO A VERDE RELVA? E A MIM, NÃO ME ROUBASTE O SONHO DE VERÃO AO PÉ DO TAMARINDO? SONÊTO À CIÊNCIA Edgar Allan Poe 33 LITTERA
COLABORADORES ANDRÉ SIQUEIRA, VERA LÚCIA FIGUEIREDO, CECÍLIA REGINA DE ABREU DELLAPE, PEDRO PAIVA, ALISON SILVA, CARLOS BUENO GUEDES, ESTHER ROSADO, Róbinson da Silva . Revisão: Vera Lúcia Figueiredo Arte gráca: Pedro Paiva Editores: Vera Lúcia Figueiredo e Pedro Paiva LITTERA REVISTA Nª 2 Agradecimentos: Rita Elisa Seda, Erica van Dooren, Elisiane Alves de Oliveira Professora de Língua Portuguesa e Literatura e Alunos da 2a série do Etim Adm (Ensino Técnico em Administração integrado ao Médio) Escola: Etec CônegoJoséBento
LITTERA REVISTA Contos Poesias Entrevistas Quadrinhos Crônicas Nº 1 CINCO PERGUNTAS, TRÊS PAÍSES, UMA LÍNGUA PORTUGUESA. COM: Menalton Braff Afonso Valente Batista Dionísio Muzime UM OTHELO À BRASILEIRO. UMA ANÁLISE SOBRE O PERSONAGEM BENTINHO, DE DOM CASMURRO. hps://drive.google.com/file/d/1qJatL_ncstcEwQ4m1uKt3x1MkLGvrnkF/view?usp=sharing CONHEÇA A EDIÇÃO ANTERIOR DA“ LITTERA” (NOVEMBRO/ 2021):

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