LITTERA REVISTA Contos Poesias Entrevistas Quadrinhos Crônicas Nª 1 CINCO PERGUNTAS, TRÊS PAÍSES, UMA LÍNGUA PORTUGUESA. COM: Menalton Braff Afonso Valente Batista Dionísio Muzime UM OTHELO À BRASILEIRO. UMA ANÁLISE SOBRE O PERSONAGEM BENTINHO, DE DOM CASMURRO.
Quem já se emocionou com um poema, um texto, uma canção? Aquele momento em que surge uma
sensaçãodesurpresaeencantamentoqueéquaseindescritível,indecifrável,incomparável.
Orisofácildeumacriança,otoquesincerodequemvocêama,oabraçoemumasituaçãodifícil,oafagono bichinhodeestimação...Oquantoessasaçõesnoscomovem,nospreenchemdevida,deânimo,debelezae coragem.
Odiaficamaisfácilquandodeixamosnosguiarporaquiloquenosalegra.Eénessemomento,oinstanteda entrega,quetemosachancedeacreditarquenadaéemvão.Avidavalemuitoapena. Cadapequenaatitude,cadasorriso,cadaapertodemão,temumvalorquenãoconseguiremosmensurar Aletra damúsicaquenosemocionouontempodenostrazerlágrimasnovamenteamanhãeatémesmo depoisdeanos. O poema que lemos e os quais nos inspiramos a escrever podem ser atemporais.Apoesia intrísica em cada detalhenuncairámorrer!Otempopodepassar,masessessentimentosexpressosemfrases,letraserimas,são eternos.Registradosemcorações,emvidas,emlaçosqueforamconectadospelosimplesdeleiteepelacrença dequeamissãoquenosfoidadafoicumprida.
MicheleCorrêa2020
Perguntas dos Leitores
Primeiraediçãodenossarevista,evenho
pediraosleitoressuascríticaspositivase negativasparaquepossamosmelhorarnas próximasedições. clubedeleituralittera@gmail.com
LITTERA REVISTA Nª 1
LEITURA: UM DELEITE ATEMPORAL
PREZADO LEITOR:
Caro(a)leitor(a):
Comalegriaeexpectativas,trazemosavocêaprimeiraediçãodarevistaLITTERA.
ApublicaçãonascecomoumdesdobramentodasaçõesdoClubedeLeitura Littera,iniciadoem2018, nacidadedeJacareí,noValedoParaíba, estadodeSãoPaulo,Brasil.Nãopoderíamos,portanto,falardarevista semcontarahistóriadoclubedeleitura,que nasceucomapropostadeacolhereintegrarpessoasapaixonadaspor literatura,ouainda,pessoasquenãoofossem,mastivesseminteresseemadentraresseuniverso.O Littera nãoé, portantoumclubeacadêmico.Tambémnãosedirecionaatemasespecíficosenemesperadeseusmembros um perfil determinado. Qualquer pessoa está apta a participar, de qualquer idade ou grau de instrução. A ideia é exatamentemostraradiversidadecomquealiteraturaseapresentaàvidadecadaum:háoleitorfascinadopelos livros,maspoucoconhecedor dateoriaquederivadaarteliterária(sim,porqueprimeironasceramasobras,depois asteorias);háoprofessor/estudioso,quelidacomatarefagigantesca deformaracompetêncialeitoradecrianças oujovens,conduzindo-osaomundodasletras.Tambémexisteojovemqueconheceualiteraturanaeradainternet, queacompanhablogsecanaisderesenhas,equegostadaliteraturamaisatuale reverenciadanasredessociais,em que o sucesso de uma obra/autor é muitas vezes mensurado por quantidade de seguidores ou likes Temos os apreciadoresdosclássicos.Eosleitorescasuais,queaindanãosãoapaixonadospelaarteliterária,masaceitamjá ser“paquerados”porela;tambémosestudantes,quebuscamogrupocomoumcomplementoaseuaprendizado escolar.Recebemosaindaosescritoresiniciantes,“caminhantes”eveteranos,quefazemumintercâmbiodesuas obras, ajudam-se mutuamente e encontram conosco um canal de divulgação e aprofundamento de questões pertinentes ao seu trabalho. Esperamos que outros perfis, histórias e circunstâncias venham a compor o Littera futuramente, pois nossa marca é exatamente não ter uma marca única, mas unir vários modos de reverenciar a literaturaecolocá-laemnossasvidas.Diantedessaproposta,oclubetemsemostradodinâmicoaolongodesua curta, mas frutífera trajetória, com idas e vindas, membros que chegam e ficam; outros que são trazidos pelos primeiros; alguns que permanecem desde o início. É nossa premissa, aliás, não haver pressão nem obrigatoriedade.Aspessoasdevemparticipardosencontros/açõessemquesesintamcobradasoupressionadas para tal. Não vemos a literatura, no âmbito do Littera, como uma obrigação, mas como um estilo de vida, um prazerasercompartilhado,cuidadoecultivado.Destaco,porfim, opapeldeumarededeapoio(in)visível,que espontaneamentenosacompanha,estimula,alimentaeenriquece.Sãoamigosefamiliaressimpatizantes,quenão participampropriamentedogrupo,masdãosuporteanossasações,divulgamoseventos,compartilhamtextose ideias,valorizamnossasatividades,leemnossosescritos.
EDITORIAL
ARevista LITTERAsurge,assim,comoumcanalparadivulgarasideiasdestegrupo:trazerà discussão questõesrelevantessobreopapeldaliteraturanasociedadeeemnossasvivênciaspessoais, acadêmicas,profissionais,cotidianas,oudepurolazer. Comentrevistas,artigos,textosliterários,dicas deleituras,lançamentos.Falaremosdeautoresconhecidosháséculos.Edaremosespaçoaquembusca publicarseuprimeiropoema,numa“miscelâneaorganizada”,quesóépossívelexistircomaparticipação e dedicação dos membros, uma vez que a publicação é coletiva, e a participação, voluntária. O projeto prevêumapublicaçãobimestral on-line,comseçõesfixas,espaçoparaarticulistas, ecomopressuposto de abrirnovasfrentesepossibilidadessempre.
Destaco, nessa primeira edição, as entrevistas com autores de três países ( Brasil, Portugal, Moçambique), que trazem discussões sobre o papel da literatura e do escritor na sociedade contemporânea.Entreosentrevistados,MenaltonBraff,ganhadordoPrêmioJabutinoano2000,melhor livro de ficção, com “À Sombra do Cipreste”, e autor de “Além do Rio dos Sinos”, melhor romance brasileiro em 2020, pelo prêmio da Biblioteca Nacional.Temos ainda o jovem escritor moçambicano Dionísio Muzime (Damy), que escreveu “AForça do Desejo” e, como terceiro entrevistado, o escritor portuguêscontemporâneoAfonsoValenteBatista,donodeumaprosavigorosa,originaleousada,autor de“OFadárioasMulheresInsolentes”,obradaqualtrazemostambém oprefácio, elaboradoporCarlos BuenoGuedes,íconedaculturaemnossacidadeeregião. Contamosaindacomotextodaprofessora universitária, escritora e psicanalista Esther Rosado, que nos fala de um clássico indispensável: “Dom Casmurro”,deMachadodeAssis.Completandoestaedição,apresentamoscontribuiçõesdeAlisonSilva, Vera Figueiredo , Michele Corrêa; e de Pedro Paiva, primeiro idealizador desta publicação, e que trabalhoudemodoentusiasmadoeincansávelparaa REVISTA LITTERA pudesseserlidahoje.Aele,em especial,nossoreconhecimento.
Você, nosso leitor, é convidado a participar também. Esperamos por seus comentários, críticas, textos, contribuições. Saber que nossa revista fez parte de alguns momentos do seu dia, será a certezadequenossatrajetóriavaleuapena.
Atéapróxima!!
VeraLúciaFigueiredoBarbosa(professoradeLínguaPortuguesaeLiteraturaBrasileira,revisorade textos,iniciadoradoClubedeLeitura“Littera”) Demaismembros,colaboradoresesimpatizantesdouniversoLittera.
POESIAS 07 F ografia Ípe amarelo, 08 Vendedor de goma de mascar ÍNDICE 05 UM OTHELO À BRASILEIRO. A PROFESSORA E PSICANALISTA ESTHER ROSADO ANALISA O PERSONAGEM BENTINHO, DE DOM CASMURRO. CINCO PERGUNTAS, TRÊS PAÍSES , LÍNGUAL UMA PORTUGUESA. 09Fizemoscinco perguntasparatrês escritoresdelíngua portuguesa.O brasileiroMenalton Braff«Vencedordo Jabuti»,opoeta portuguêsAfonso ValenteBatistaeo moçambicanoDionísio Muzime. CRÔNICAS 12 Para nunca mais 13 Tola espe esa, Lugar mágico QUADRINHOS 14 Liberdade CONTOS 16 Cobra coral 17 Um passeio pelo Passado, Flor minha:mo e 18 Estranhos 19 PrefáciodoLivro«AGaleriados Notáveis Invisíveis» do poeta português «Afonso Valente Batista» Redigidopor CarlosBuenoGuedes Nossos livros 24 ILUSTRAÇÕES DO S É C U L O X I X PA R A R E F L E X Ã O DICA LITTERA:
D. Casmurro é, sem dúvida alguma, um dos mais belos romances da literatura delínguaportuguesa.Construídosobo signodadesconfiançaedociúme,éaOthelo,de Shakespeare, que podemos compará-lo. Hoje centenária, a personagem Capitu ,aquela que ostentavaosfamosos “olhosdeciganaoblíqua edissimulada”,é amaisintrigantedetodasas criaturas construídas pelo Bruxo do Cosme Velho e, por isso mesmo, encanta, seduz, inquietaefazcomqueoleitorqueirachegaraté ofimdahistória.
Ao narrar sua vida, Bento Santiago conta-nos sobre outras vidas, ações, ambições e esperanças e desfila diante dos nossos olhos uma fauna humana urbana e inquieta, interdependente: retratos da família, retraços,
D.Casmurro,escritoporumnarrador-protagonista(o advogado Bento de Albuquerque Santiago, o Bentinho)écompostode 148capítuloscurtos,cuja linhatemporalestáorientadaparaarememoraçãoeosafetos eseinicianotempopresentequandoonarradortem pertode 55 anos e mora só com um criado na casa que mandou construiràimagemesemelhançadeoutra,aqueladaruade Mata-cavalosemquehabitaranainfânciaentrecriaturascujo destino fora malogrado: a mãe, D. Glória, jovem e viúva, acompanhada de mais dois outros viúvos: prima Justina, uma linguarudainsatisfeitaeinvejosaetioCosme,irmãode D.Glória,advogadoqueperderaavontadedeestarnalutae se acostumara a pilhérias e jogos de gamão.Além deles, o agregado José Dias, cujo prazer era usar adjetivos no absolutosintético.
É na presença desses contratipos psicológicos que cresce o garotoórfãodepaicuja promessadamãecarolaerafazê-lo padredaigrejacatólica.Noentanto,odestino,ouoquequer quefosse,apresentara-oàCapitolina,aCapitu,aos14anos. Eporelaseapaixonara.
Apósmuitasperipéciasehesitações,D.Glóriamanda-opara o seminário, o que o garoto sente como uma traição e um desligamento da família e de Capitu. Frágil nos afetos, desconfiado,transfereassuspeitasparaamulherqueamae um amigo (Escobar Ezequiel que o auxiliara com uma estratégiaasairdoseminário).
UM
OTHELO À BRASILEIRO.
6 LITTERA
AalmadeBentinhoédesassossegada;oplano
interior da personagem é de uma inquietude que faz doer: talvez não se ache digno do amordeCapitu,talvezdesconfiedoamordamãeque otraiueencaminhouaoseminárioàrevelia. Como conduzir o leitor a acreditar que a amada é desleal? Certamente que colocando ao longo da leitura a manipulação como instrumento: casados, nãotêmfilhos;apósumavisitanoturna deEscobar emsuaausência,Capituengravida.Acriançaémuito parecidafísicaeemocionalmentecomonarrador. Aqui e ali, despontam sempre desconfianças muitas: ainda na adolescência a proximidade entre Capitu e Escobar,aseduçãodequeécapazaamada,furtandolhe beijos apressados num tempo que os meninos eramosquetomavamainiciativa. Um narrador adulto conta a sua história e persegue respostas que jamais chegam plenamente. Com a competência de um advogado, Bento constrói uma peça de acusação da qual não se envergonharia nenhum saber jurídico. Contra Capitu pesam as provas construídas (e observadas) apenas pelo narrador, vez que ela está morta quando se inicia a narrativa, não pode defender-se e sua “culpa” se baseiaem“evidências”muitoparticulares,ouseja,o acusador julga-se vítima, confessa sua fúria e desencanto e não abre mão do que conceituou como indignidadeporpartedamulher.Leiaotrechoabaixo, quando Bento Santiago passa a crer que Ezequiel, supostamente filho dele com Capitu, tem como origem o triângulo amoroso cuja ponta mais alta é Escobar,seuantigoamigodeseminário: “Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava as, para me não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigodeumdiaparaoutro.”
O que resta a nós, leitores senão acreditar nesse OtheloetambémcondenarCapitu?Elatraiumesmo Bentinhooufoitudoengendramentodonarrador?
ESTHERROSADO PROFESSORAEPSICANALISTA
OLHO PARA
IPÊ DENTRO DA SALA ACREDITO QUE UM
PORQUE
FLORES ESTÃO VOLTANDO VELANDO VIDAS COLORINDO O AR A MOÇA QUE PLANTOU O IPÊ AMARELO ENCHEU DE LUZ A SALA VAZIA AGUARDANDO A HORA DE QUEM VAI CHEGAR A MOÇA QUIS ESPALHAR A MAGIA E NO SEU
OLHO
DA SALA AGORA VOO NO
AMARELO
UM
CHORAR . IpÊ AMARELO CecíliaReginadeAbreuDellape: Contista,CronistaePoeta NA FOTOGRAFIA, RETRATO ETERNO, DORME UM GATO SONO PROFUNDO NO ALTO ACIMA DO MUNDO DAS DATAS, DAS HORAS DO AQUI, DO AGORA, DO DIA QUE VAI SE DESFAZENDO... LÁ NO TELHADO, NO
AZULADO SEM FAZER PLANO, INDIFERENTE, SEM SOBRESSALTO, DORME O BICHANO... AO SOL DE INVERNO SE DELICIA, SEM COMPROMISSO, COMO DIZENDO: “E EU COM ISSO?” FOTOGRAFIA Poesias VeraLúciaFigueiredo: Contista,CronistaePoeta 8 LITTERA
O
NOVO AMANHÃ VIRÁ
AS
SONHO SÓ QUIS SONHAR
PARA O IPÊ DENTRO
MEU PENSAR AINDA ACREDITO QUE O IpÊ
QUE FOI PLANTADO DENTRO DA SALA É SÓ
MOTIVO PRA EU NÃO
CÉU
JoãoJoséesperava...esperavaakombi passar...
Nãoestavasó!Erammaisseiscrianças, Omaisnovotinhasete;JoãoJosé,dez;eo maisvelho,doze. Iamparaocentro...vendergoma...gomade mascar!
Akombichegou...aportaseabriu...eochato falou.
“Éduascaixaparacada! Umédois!Trêsé cinco!”
“Astrêshorasvoupassarparapegar” Lembroudesuamãequeaindanãoacordou, Pensounoseupaiquenuncaviu.
Eemcadaesquinaumacriançafoificando, JoãoJosédesceupertodaestaçãodaSé, Duascaixasdegomademascar, Doispãescommortadelaparaodiapassar, Elegritava“Umédois!Trêsécinco!”
Pobrecriançasemfé!
JoãoJoséeraesperto...ianoscarroscom vidroaberto... “Umédois!Trêsécinco!Compraparaas criançaslinda,madame”, “Umédois!Trêsécinco!Compraparaas criançasbonita,senhor”, CantavaopobremeninonaesquinadaSé! Vendeuumacaixaemuminstante!
Algunspagavam,masnãolevavam, Outrosdavamunstrocados, Outracaixasefoi, Eaindafaltavamduashorasparaohorário marcado.
EmumcantodaSé!JoãoJoséparoupra comer Pãocommortadela;contouseudinheiro, Apareceuumbandoleiro, EspancouelevouodinheirodeJoãoJosé, Eficoucaídoedesacordadoemumcantoda Sé!
Baseado naobra: Apequenavendedoradefósforos. Autor:HansChristianAndersen. Ano:1845
Comotinhamuitoscaídos, NinguémreparouemJoãoJosé, Umafinachuvadejulhocaiu, Suaroupamolhou, Akombipassou... emuitodepoisomeninoacordou!
Estavacomorostomachucado! Estavasujo! Asroupasrasgadas! Pediuunstrocados! Jánãoeraabençoado!
Anoitecaiu!
Fria!Comoasnoitesdejulho! Queriaterfósforosparaumafogueira, Emcadarostooolhardeseuopressor, Imaginouoqueeraumalareira, Osolhossefecharam, Nãosonhoucomamãe,nemcompai.
Nooutrodia... Danoitemaisfria, Nadamudou...
JoãoJosé... bemaolado... DacatedraldaSé! Ele,quenãosabiarezar... Nãoacordou...
PedroPaiva: Contista,CronistaePoeta
O
VENDEDOR DE GOMA DE MASCAR
5 9 LITTERA
TRÊS PAÍSES ,
UMA LÍNGUA
PORTUGUESA.
Fizemoscincoperguntasparatrêsescritoresdelínguaportuguesa.O brasileiro Menalton Braff «Vencedor do Jabuti», o poeta português AfonsoValenteBatistaeomoçambicanoDionísioMuzime.
MENALTOM BRAFF
01 O que podemos fazer para que mais pessoas tenhamacessoàliteratura?
Essaéumaquestãosocialproblemáticaemum país que há pouco mais de cem anos ainda praticava o escravismo. Nossa população letrada ainda é diminuta, mas estamos avançando. Não adianta ter pressa: a eliminação do analfabetismo, inclusive o funcionaléumprocessoquedemandamaisde algumas gerações. Podemos fazero que temos feito,poucomaisqueisso.
03 Que autores tiveram influência em sua formação comoescritor?
Todos. Na verdade tudo que se lê é introjetado, para o bem ou para o mal. Claro que alguns influem mais e outros menos, mas todos influem. Os temas, os estilos, as técnicas narrativas, o humor ou sua ausência, tudo isso é influência. Quando termino de ler um livro que abomino, significa que ele me influenciou negativamente. Posso dar uma pequena relação daqueles que mais amo: Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Dostoievski, James Joyce, Virgínia Woolf, WilliamFaulkner,bomachoqueésuficientepara mostrar como são escritores sem relação nenhuma aparente entre si, mas que da mesma maneirasãoamados.
02Osignificaliteraturanestestempos?
Como em qualquer tempo, a literatura é a expressãodoníveldecivilizaçãodeumpovo.Não éseuretrato,comoqueremalguns,masinformao quelê,oquepensa,qualsuavisãodemundo.
04Equallivromudousuaformadepensar?
Impossível dizer, mas acho que todos de alguma maneira influíram na minha forma de pensar. Mas o livro que me influiu fortemente na formação moral, coisa que não esqueço, foi Olhai os lírios do campo, do Érico Veríssimo.A escolha por uma posição social mais elevada em detrimento de outros valores como verdadeiro desastre.
05Foraaliteratura,qualsuaoutrapaixão?
Minhamulher,claro.Casadosháquarentaanos, continuamos namorados. Nós dois comungamos damesmapaixãoporpolítica.
CINCO PERGUNTAS,
10 LITTERA
TRÊS PAÍSES , UMA LÍNGUA PORTUGUESA.
AFONSO VALENTE BATISTA
01 O que podemos fazer para que mais pessoas tenhamacessoàliteratura?
Aeducaçãoéofatordeterminanteparaquese gostedelivrosedeliteratura.Énaescola,com programas bem cuidados e professores empenhadosquesepodeedevecriaroamorao livro. O ambiente familiar é outro fator fundamentalnaeducaçãodogostopelaleitura. É difícil concorrer com o imediatismo do mundo cibernético e digital mas deve fazer-se entenderosbenefíciosqueumleitorpodeobter no contato com o livro, a história e o autor.As políticas editoriais, infelizmente vocacionadas no atual, para uma visão economicista é outro dos fatores essenciais para a divulgação do livroeapromoçãodaboaliteratura.
03 Que autores tiveram influência em sua formação comoescritor?
Desde muito cedo iniciei a minha convivência com os livros. Sou do tempo em que o livro e o jornal eram figuras fundamentais no nosso dia a dia. É difícil: isolar um autor que me tenha influenciado na vontade de escrever. Cito, todavia, que nos meus tempos de liceu um professor de português, também escritorVergílio Ferreira um dos maiores escritores portugueses-quemeentusiasmoupara aescrita e para esse mundo encantatório. Depois for um mundo de gente, principalmente escritores portugueses que me influenciaram, mas também de outras geografias e diferentes géneros literários. O realismo fantástico de Juan Rulfo e GarciaMarquezforamumaescolainiciáticabem como a poesia do Carlos Oliveira e José Gomes Ferreira.
02Osignificaliteraturanestestempos?
A literatura, o livro e os escritores que ainda teimam em escrever livros jogam um papal de resistência contra a desmaterialização da memóriaporforçadoassaltodo mundovirtual, facilitadopelasredessociais.
04Equallivromudousuaformadepensar?
A forma de pensar vai-se moldando pelos acontecimentos da vida. Todavia, pela sua importância há livros que nos marcam e fazem parte do nosso património intelectual. Podia citarDonQueixotedeCerventes,AnoiteeoRiso deNunoBragança,CemanosdesolidãodoGabo Marquêz. Mas foram tantos livros que me ensinaramaveramundoqueéimpossíveleleger
05Foraaliteratura,qualsuaoutrapaixão?
A família. A minha mulher que me incita a escrever e não dar descanso à imaginação. A música, a pintura, a natureza, as pessoas, os amigos, a solidão, o silêncio... são tantas as paixões que ainda consigo viver e que me dão força e coragem para ainda acreditar que este mundo pode ser um pouco melhor. A literatura tem,ai,oseupapel.Umpapelimportantíssimo.
CINCO
PERGUNTAS,
11 LITTERA
PERGUNTAS, TRÊS PAÍSES , UMA LÍNGUA PORTUGUESA.
DIONÍSIO MUZIME OU SIMPLESMENTE
DAMY.
.
Sou um Moçambicano, na África, na arena literária tenho, publicado um livro, e, participeideváriasantologias.
01 O que podemos fazer para que mais pessoas tenhamacessoàliteratura?
Eu peço que o ainda se pode fazer, de modo a fortificar nas pessoas a paixão pela leitura, é expandiraindamaisasescritas,sobretudo,da formadigital.Vistoqueaspessoasestãomuito concentradasnomundovirtual.
02Osignificaliteraturanestestempos?
Eu penso que a literatura neste tempo, significa uma chave da vida, neste caso, ajuda-nos a entendercertascoisasrelevantessobrenós,sobre ascoisasqueestãoaonossoredor
03 Que autores tiveram influência em sua formação comoescritor?
Autores moçambicanos: Mia Couto e Paulina Chiziane,
AutoresBrasileiro: AluísioAzevedo
04Equallivromudousuaformadepensar?
PaulinaChiziane-Abaladadeamoraovento
05Foraaliteratura,qualsuaoutrapaixão?
Motivaraosmeusirmãosnãopensamemdesistir dosseussonhos,porcausadasdificuldadesquea asamena.TantoquetenhoumcanalnoYouTube. Mas,otelemóvelqueusavaparagravarosvídeos, estragou-se,tantoquetivequeparar,porfaltade condiçõesparacompraroutro.
NB:importaressaltarqueemMoçambiqueainda édesafiadorterumageraçãoquegostadaleitura, visto que, é um país pobre e as pessoas não têm tido tempo para ler, porque se preocupam em ganhar um pão pra sobreviver, outras não têm condiçõessequerpracomprarumlivro.
CINCO
12 LITTERA
PARA NUNCA MAIS
Penso em algumas pessoas que surgem em nossa vida, ficam por minutos,ouhoras,trazemalgopara ser lembrado Depois nunca mais as vemos,nãosabemoscomoestãonemonde vivem. Sabemos, talvez, que não as veremosmais.Pensosetiveramumpapela cumprir em nossa existência. Ou se foi tudoaleatório,frutodoacaso.
Lembro de uma moça, magrinha, usando saia branca, que se encontrou comigo quando éramos ambas muito jovens, estávamos em busca de um emprego. Ìamos à Cooper, procurando o que seria nosso primeiro trabalho formal. ElasechamavaJosileneouJosiane,minha memórianãocaptaonome.Passamosodia juntas, andamos de ônibus. Demoramos a acharaempresa.Passamospelaentrevista evoltamosjuntasatéocentro.Nuncamais avi.Nãofuiselecionadaparaavagaeaté hoje penso se Josiane teria sido. Chego a imaginá-la, hoje, se aposentando naquela mesmafunção.
Outra figura passageira e doce foi umasenhoraqueencontramosnoônibus,a caminhodeCaraguá.Meufilhovomitoue passoumalnadescidadaserra.Elacuidou dele, foi solícita, teve paciência para os vômitoseapalidezdomenino.Omalestar dele sumiu na água do mar. Ela, nunca maisveremos...
Houvetambémumrapaz,cujonome não lembro mais, que veio a minha casa certo dia, para trazer uma pasta de documentos que eu havia deixado cair na rua. Eu estava grávida e o laudo do meu ultrassom estava lá. Eu nunca mais vou encontrá-lo, eu sei, mas a recordação do bemqueelemetrouxeestarásempreaqui, mesmoquedesfocadapelotempo...
Nos últimos dias, dois outros visitantes estiveram em minha vida. O primeiro, Alexsandro, veio até mim para trazer um pendrive cor-de-rosa, que meu filho caçula perdeu na escola , há mais de um ano. Misteriosamente, este pendrive teriaidopararnafaculdadeondetrabalhaa esposa do Alexsandro, no mesmo prédio da escola. Ele o encontrou e veio me devolver, depois de pesquisar o endereço nainternet,comajudadealguémqueviuo currículo do meu filho mais velho, num documento do pendrive, e localizou o endereço.Destavezeuconseguiretribuira generosidade dele. Levei um presentinho de Natal à esposa, Vanessa, no dia seguinte Porque quero que eles se lembremdemim,também...
O último turista que aportou em minha vida foi Antônio Carlos, nome do meuavôpaterno.Queríamosumgato,para substituir o Miauzinho, que foi envenenado há quase dois meses, num momentoemquevivíamosumaseqUência de fatos negativos e tristes Vimos na internet as fotos de uma ninhada de siameses.EntreiemcontatocomAntônio. Elemoralonge,numbairroafastado.Mas combinamosdeiratéapraça,nocentroda cidade, onde Antônio, a caminho do seu trabalho, levaria o gato para nos entregar Assim foi feito. E eu nem sequer vi Antônio.Eleseadiantouechegouquando eu não estava, entregou o bichinho para meu filho e se foi. Creio que para nunca mais.
Fico pensando no mistério desses visitantes de uma só viagem Num determinado dia ou hora, cumprem papel vitalemnossaexistência.Surgemnomeio da multidão e agem para mudar algo em nossa vida. Desaparecem depois. Esquecemos deles e poucas vezes são trazidos de volta ao nosso pensamento. Imaginoseeufuiessaviajantenavidade outraspessoas.Talvez.
VeraLúciaFigueiredo: Contista,CronistaePoeta
13 LITTERA
Crônicas
TOLA ESPERTEZA!
Écomessasduaspalavrasquedefino esta crônica. Era a década de setenta, eu comalgunstrocadosnobolsoeloucopara comer um chocolate. Entrei no extinto Supermercado Popular, aquele que tinha como símbolo uma foca, lá pertinho da Vila familiar, chamada também como “ViladoSossego”,emqueeumorava.
O dinheiro que tinha dava para comprarochocolatemaisbarato.Eaíveio agrandeideia.Naqueletemponãoexistia código de barras, o preço vinha marcado noprodutocomumaetiquetinhadepapel. Nãohaviacâmeraseocaixaeraanalógico (mecânico) Então, peguei o chocolate mais caro e aquele mais baratinho e, quando não tinha ninguém olhando, troquei as etiquetas e com a maior calma passei no caixa. Paguei dois cruzeiros no chocolatequecustavacincocruzeiros.Eu nuncatinhacomidodaquelechocolate,era mais macio, mais doce, muito mais gostoso.
Na mesma semana ganhei mais dinheiro da minha mãe e quis ser esperto novamente Entrei no Supermercado Popular, caminhei pelos corredores de pisos avermelhados, escolhi dois chocolates, troquei as etiquetas, parecia fácil, dei mais algumas voltas pelos corredores e me dirigi ao caixa Ao entregarochocolatecomvaloradulterado, a caixa do Supermercado Popular deu um sorrisoeemtomdeironiadisse:"Opreço deste chocolate está errado, você pode pegaroutroalinaprateleira?".Avergonha eratantaquenãocabianaquelemeninode noveanos.Fuiatéaprateleiraepegueium que podia pagar Já não me achava mais esperto.
O pior é que, sempre que entrava naquele comércio, sentia que alguém seguia meus passos, como se eu fosse novamente praticar aquele crime das etiquetinhas.
Nãovoumentir,foinofinaldeminha adolescência que larguei estas tolas espertezas. Não conseguimos enganar todo o mundo em todos os momentos. Sempre há alguém mais esperto ou 'vacinado'.
Hojeonomedaquelesupermercadoé outro, e aquele menino que pensava ser esperto já não existe mais. Vejo essas “tolas espertesas” como uma “doença psicológicacultural”,emquepensamque omaisespertosemprevence!
LUGAR MÁGICO
Quando eu e meus primos passamos pelos portões enferrujados, vi flores gigantescas, anões passeavam de um lado para o outro, casinhas de um cômodo apenas, na cor de terra, com telhas de cerâmica.
Não me lembro o que fui fazer lá! Muitas lembranças são bem claras, os sorrisosenrugados,oscabelosbrancos,as mãos manchadas, pessoas felizes ao ver crianças. Não vou mentir, de alguns tive medo!
O clímax foi quando entramos em umacasinha.Adonasevestiacomroupas decigana,senteiemumacadeiranomeio do cômodo, e ela começou a benzedeira; disse palavras estranhas e tocava minha nuca. Em minha cabeça infantil percebi queacemmetrosdeminhacasa,depoisda rodoviária,existiaumlugarmágico.
Cresci,mudeidecasa,casei,mudeide casaemudeidecasa.Certavez,depoisde décadas, passei novamente pela rua da rodoviária e vi o terreno vazio. Hoje, um grandehotelsendoconstruído.
As flores gigantes eram girassóis, os anões eram anões comuns, e aquela senhora vestida como cigana era uma velhinha. Pessoas simples com sorrisos mágicos.
PedroPaiva: Contista,Cronista
Poeta 14 LITTERA
e
PARTE 1
estavaacorrentado
umamontanha,
refeição,uma
ela,
30.000anosartrás 15 LITTERA
LIBERDADE -
Prometeus
noaltode
aáguiajáfezsua
nuvemseaproximou;sobre
Zeus.
CONTINUA..... 16 LITTERA
Zeusseafastadamontanhaemsuanuvem.
A COBRA CORAL
Acobracoralbrilhavadebaixoda
cama da menina, ela pensando em se tratar de um colar de brilhante que antes nunca havia visto, quis pegá-la, mas a bicha percebendo a ameaça usou sua astúcia como fora no paraíso, desaparecendo entre os frisos do assoalho daquelavelhacasa.Ameninaemudeceu,não conseguia assimilar o sumiço de algo que julgava ser um objeto tão maravilhoso e valioso. Saiu do quarto atônita e não conseguiapronunciarumasópalavra,andava deumladoparaoutroengasgada,quandosua irmã viu que algo estava errado com ela. Chacoalhouameninagritando:
—Oqueaconteceu?Oquehouve?
Opai,amãeeosirmãosqueriamsabero que aconteceu, mas a menina não conseguia falar, trouxeram água, abanaram seu rosto e nada, nem uma palavra saiu, era como algo estivesse segurando a sua garganta e fechandosuaboca.
A irmã enlouquecida chacoalhava a meninasemparargritandoaomesmotempo edandoumastapinhasemsuascostasquando de repente, a menina soltou um gemido agudoedesatouachorar.
Todospreocupadosseaproximaramea meninafalou:
— Estava deitada, quando vi debaixo da cama um colar lindo de brilhante, mas quando fui pegá-lo ele desapareceu. Ela não conseguiudizernemumapalavraamais.
Opaiembriagadoouvindoorelatoda menina,semdemorafoiatéoquartoarrastou a cama e lá estava ela, toda formosa, empinada,arroganteemaisbrilhantedoque nunca agora já sem receio, sabia que agora eratudoounada,preparavaseuvenenopara atacar ou ser derrotada, e o velho também sempermissãoagarrouabichapelacabeça.
Elasentindo-sepresaenrolou-senamão do homem para o golpe final, sabia o que estavaporvir,ohomemcaminhouatéarua, os vizinhos curiosos vieram ver, a disputa agoraerasurreal,---,umacobraenroladana mão de um homem e ninguém sabia o que fazernemoquepoderiaacontecer
Afinal ela era pequena demais, do tamanho de um colar, e quantos homens vieram, um segurou-a pela calda o homem abriuamãoeatirou-anochãoeumoutrocom umpedaçodepaudeu-lheogolpefatal.
CecíliaReginadeAbreuDellape: Contista,CronistaePoeta
Contos
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PELO PASSADO
Joaquina da Silva, conhecida na
cidade como Dona Quininha, hoje já em sua idade um pouco avançada, mas com a memória e consciência vivaz,láiaelacaminhandonocentrodacidade deJacareí,otrânsitoestavaintransitável,parou unsinstantesemfrenteàigrejadapraçaConde de Frontin, um filme foi passando em sua mente....Antigamente bem ali, estava a linha férreadotremquecortavaacidadenomeioda praça, com o olhar triste viu, onde hoje está a igreja Universal antes era o Cine Rio Branco, que para o delírio dos jovens da época, apresentavaduassessõesnos finaisdesemana.
Amulhersuspirou,revirandoparaolado reviveuafonteluminosaquejorravasuaágua coloridaebrincavacomosorrisodascrianças, dos moços e velhos Rodopiando o corpo levementepodesentirasombradaAssociação Comercial com seu alto-falante gigante e fechando os olhos teve a sensação de ouvir o cantor Roberto Carlos cantando “Quero que TudoMaisVáParaoInferno”,maselaestava ali,paradaemfrenteaigrejadoBomSucesso. Sem temer e esperar pelo cansaço a senhora continuou a solitária caminhada e desceu a praça seguindo pela rua Alfredo Shuring até cruzar os quatro cantos da cidade e alcançar a Praça Anchieta, parou em frente à igreja , a igrejadaMatriz....pensounasuaadolescência, eraolugarondebrincava,ocoretoláestava,a bandatocavasóemsuamente,erafesta,enos velhos tempos a festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição era a maior e a mais frequentadadacidade,DonaQuininhadelirou e quase dançou no meio da praça, esta já mudada, sem gosto de festa com seus comércios,escritórioseconsultórios,emlugar dos casarões antigos de propriedade das ilustresfamíliasmoradorasdaépoca.
Agorajásentindoocansaçodominandoseu corpoinclinouacabeçaparaobservaro jardimmaltratadopelosvestígiosdapoluição doscarros,alembrançadamãeveioemsua cabeça,elaquecuidava econversavacomas flores,aavóquecuidavacomzelodaigreja, dosmeninosquebrincavamnocoretonas tardesdedomingo,
seguindo seu pensamento longínquo caminhou pelas ruas transformadas pelo tempoepeloespaço,voltouparacasa,abriu a porta, olhou para a moça do quadro na parededasala e suamemóriaretornou ao tempo presente,sentou-senosofápertoda janela, sentiu-se aliviada depois do passeio pelopassadoepor sentir-seemcasa,fechou osolhosedestavezDonaQuininhadormiu parasempre.
CecíliaRegina: Contista,CronistaePoeta
FLOR
MINHA: MORTE
Ea menina entra no quarto do avô, jámoribundo;ovelhosorriparae apequenininhapergunta:
—Vô! Verdadetambémestáindo?
— Sim! Minha netinha, fiz minha parte, conhecimuitagente,viajei,ameisuaavóe tem um momento para tudo e está chegandoestemomentoquetenhoqueir!
Para perto do papai? Pergunta a menininhacomosolhosvermelhos.
—Sim,minhapequena!
—Dáumabraçoneleedizquegostodele eestáfazendofalta.
— Abraço e digo, minha flor! Eu e ele vamos caminhar juntos e olhar por vocês, nãoseideondeoucomo,masvamos!
—Vô!Porquê?
— Tudo tem seu tempo, sua hora, e a minha está chegando, vou estar sempre comvocêemsuasmemórias,comoeleestá nasnossas.
—Vô,nãotenhapressa,gostomuitodete ouvir, olhar Lembrança é bom, mas você aquiémelhor!
—Tambémacho,minhaflor!
PedroPaiva: Contista,CronistaePoeta
UM PASSEIO
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ESTRANHOS
Nunca imaginei viver uma pandemia,
assim como nunca imaginei conseguir terdetudoumpoucodoqueeudesejei. Vocêpodeconquistarasmaravilhasdomundo, quem ou o que você quiser. Mas mantê-las em suas mãos não depende de você, nem do seu poder aquisitivo. As coisas acabam, ficam velhas, viram pó ou passado. As pessoas são mais breves ainda, se vão, quando encontram outrapessoa,outrarua,outrahistóriaparaviver.
—Éistooqueestáacontecendocomagente?
—Não,nãoé!
—Entãooqueé?
—Nãosei.
Lembrei-meentãodequandonosconhecemos, apenas nos encontramos num piscar de olhos e tudo parecia tão familiar, que parecia que sempre nos conhecíamos... Levantei para olhar no espelho, olho no olho, querendo encontrar uma resposta. Mas minha visão embaçou e nos vidançando,comoumcasalapaixonado,como umaxícaradecafébemforteebemquente,hoje nossos beijos são frios, nossos abraços sem braços.
Queria poder encontrar aquela rua novamente, aquela placa torta com o nome daquela rua, queria encontrar aquela esquina de onde você saiu,queriateconhecerdenovo,masachoque nunca conheci. Naquele momento o pensamentoficoueufórico,eperguntei:
—Euteconhecideverdade?
— Mas é claro que sim, tão verdadeiramente comovocêseconhece.
Maspenseiqueaspessoassemprepartissem,ou para a morte, ou encontram um norte, onde a intimidade que dividiram em um, se tornam passado, estranhos num encontro coincidente, como naquele dia que nos encontramos no ônibus,avipassarpormim,semmeolhar,nem eu olhei, apenas passou, sentou, e eu levantei e desci.Entãomedisse:
—Aquelediajáfazmuitotempo.
—Masparamim,não.Paramimpareciaquefoi ontemaúltimanoite.
—Aúltimanoiteéesta.
Apartir daquele momento, comecei a suar frio, minhas mãos tão trêmulas, que mal podia segurar o copo, que caiu e despedaçou-se. A madrugada estava avançada, silenciosa e calma, fria, tão fria quantoaqueleteuolhar Meumedoviraram lágrimasefuiparaobanho.Semacreditar, e sem sentir as lágrimas escorrerem pelo meurosto.Nãolembravamaisondeahavia deixado, se no quarto ou na sala, ou na cozinha.Nãosabiamaisnaquelemomento quandohaviapartidodemimrealmente.
—Masvocêmedeixariapartir.Vocêdeixou as portas, as janelas abertas, tão abertas quantoquandoocéuestáazul.
—Mashojeeuasfechei,assimcomoocéu destanoiteestáfechado.
Alison
Contista,CronistaePoeta
19 LITTERA
Silva:
Prefácio do Livro « A Galeria dos N áveis Invisíveis» do poeta po uguês
«Afonso
Valente Batista», redigido por Carlos Bueno Guedes
Emseuultimolivro“AGaleriadosNotáveisInvisíveis“vemmarcadocomumaoriginalidade deumanarrativaautêntica,conseguemesclarumainusitadapoesiaemcada situaçãovivida,não existemdesperdícionas palavras,todasasnecessáriasparacriarumclimaoníricoesensual,sinto quepairaumdesastre,umainesperadamorteavir acontecer,caminhamparaeste últimomomento sempreaserafatalidadedoexistiremtemposdeindiferenças,vaiexplorandotodasasnuancesda solidãofísicaeespiritual,ummundoquenãoconseguimossera conformidadeexistencial,paridos na dor de ser a brevidade do esquecimento, o isolamento persistente, sua obra vai expondo descarnando anecessidadecruadenossadestemperança,aredenção humana ésituadanoplanode uma difícil essencialidade, um poder demiúrgico, em que se faz criador de novas realidades pela consciência revelada nos charcos das palavras, sendo massacrados pelo poder fora de nossa geografia sem forma que herdamos fora de nossas esperanças, as dúvidas, o arrependimento, a solidão,descrençasreligiosas quegiramemtornodeumaexplosãoíntimadecadapersonagem,a preocupação com o devir é sempre o constante, a morte é sempre o momento a esperar em cada situação,asalvaçãoescondidanosporõesemquenostornamosburocraticamenteapenasumasenha ,nadamaisqueisso,suaspersonagenscomoabadePrudênciotrancandoaportadaresidênciadivina , mesmo ao ouvir os gemidos lamentosos, todo este construir de situações geram a descrença da sobrevivência,“soucadavezmaisumtipocheiodenãopresta”arealidadedeseudizeracertaos incrédulos,sãoinúmeraspersonagensaviveremdentrodestemagnificolivroque seinseredeser interesseparaoleitor,equemleu“AIndiferençaémorrercomasolidãoaospésdacama“pode sentirumasimularaproximaçãocomestaatualgaleria,poistodasaspersonagenscaminhampara ummesmofim,cadaumcomsuaformadetormento,comcaracterísticaspróprias,ressurgemdentro daobraamanterumfôlegoderespirarosmesmosaresdissolutos,viajandopeloabismodesimesmo em quebrados cotidianos vivenciais, o cotidiano esfolado de desejos insatisfeitos, o olhar, a masturbação,personagensqueseimpregnamdeumabjetocotidiano,pintamonadacomascoresde umainsatisfeitarealização,umritualdesolidãoaserpedaçosdarealidadeasufocarosretalhosdas horas sem destino, moribundos acorrentados de estigmas, simples espectros de estarem enlatados numamorte recriadanosabismosessenciais deumaintensadescobertadeseusdesvios,tudopreste aumateísmomostradopelaóticadeuminfinito,poesiafixadanasecuradosinstintosnãosatisfeito sedisseminando naspencasdasordidez, Afonsorevolve,tocaemletrasrealistasasentranhasdas personagens, o mistério de sobreviver em tolerâncias, as tumultuadas relações que envolvem o humano, nolivroAfonsoalongasuavisãodedestrancarosinstintosmaissecretosasermoradasdos viventes,dosmoribundos, doobservadordaessênciadaperfeição,talvisibilidade criaoimpacto denosconduzirparaosentidodesuaincrívelversatilidadedenospasmaracadapequenaestória,um filosofarquerestauraohumano dentrodeseuprópriomundo, Prudênciosefazaserumobservador abuscarestaessênciadasmamas,todasasintençõesdoautoréreviraromundoemseuladoavesso, osanguedesuaimaginaçãocriadoraéinesgotável,pequenosdramasquetomamdimensõesinfinitas ,dedentrodaspersonagenstãovivas,residentesdenossouniversopessoal,éoplanohumanonum contextocomosocial,aspurgações,ohomemasersustentadospormuletas imagináriasemqueo autorrecriaemjustificarosentulhosemquepisamoscomospésnusdaindiferença,asestóriasvão sediluindodentrodeumamesmatemática,odeslizamentoqueleva
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aotombodacivilização,nossopesoéinevitáveldeequívocos,aíestáamaestriadoautordenos mostrarumalinguagememquenãopoupapalavrãoeasminúciasdeumaescritaemqueviajamos numuniversoparalelo,apalavrasempreressurgeinusitadadeinovações,ousadias,verdadesde severemmoradiassofridas,porõesemqueamortedeixaàmostra nossosossosecarnesparaser oalimentodevermesnoscaixõeslacrados,amnésiadesertodoesquecimentoedeseencontrarno alagado das circunstâncias, da consciência, nesta prosa do Afonso entramos numa cortina enfumaçada dasinjustiças,domedosufocantecomodoabadePrudêncioafugentandoseusfiéise as portas trancadas, por onde o vírus não o encontraria, sexualidade fixada e viajante de imaginação,sempreaserumlabirintosolitário,otemoremsairàsmargensdeseusconflitos,o Cuspidoradesafiaraleidalongitudecomseucuspoescarradoaovento,umdesafioaimpulsionar seuvicio, todooscontosecrônicastemumamesmaestradasemsetadechegada,umbaúemque oautorvairetirando,personagensinusitadas,trágicascomoo“GeldeBanho““maisumespecial conto, relevante de uma ciumenta tragédia, como as variantes deste escritor em tecer com seus dramasqueomistérioéapresençadarealidadesempreanosencontrar,comosepenetrassedentro de nosso mundo em, nunca a divina forma original de redenção, as soluções sempre à beira de muitas mortes a acontecer em tempos tão malfadados. Todas as características da obra deste valoroso escritor estão mantidas nesta urgente e magnífica obra editada, pois as personagens convertem-sedentrodeumaproblemáticasocial vistapelosladosdetodaopressão,emnenhum momento deixamos de admirar esta escrita tão fundamental, dar vida temporária aos prazeres, circunscreveraolimitedenãosermoseternos,otornacatalizador,apanhadordesobrevivências num carrossel de viventes desgarrados, a injustiça de um tempo em presentes tempestades, o erotismoassumeumaformadeserumarepresentaçãotípica dodesejoedassuasinclinações ou de como a sedução opera em cada situação a ser o inesperado, pois o nada é sempre o nosso imprevisívelmomentodeviver,mesmoquandoamortenãoécapazdeaguardarumasenhaaser talvezasalvação,somososmistériosdastransformações,nossocorposecurvaàsindiferençasde umamisériaalastradaparadentrodenossoprópriocorpo,otempoéolimitedetodasasvivências !Afonsoénarealidadeograndeescritorarealizarcomsualinguagem,suaimaginaçãoecoragem ograndeinvasordenossastotalidadesexistenciais,suaobratemamaturidadedeestarpresente pela força de uma escrita única e contemporânea para dentro da literatura portuguesa. Um magníficolivro,paraquemvaiteracoragemdeselançarparadentrodesualinguagem,umestilo próprioeúnicoqueesteAfonsoValenteBatistaregistraparatodosostemposemserpalavras!
CarlosBuenoGuedes
OBS-Amadoamigo,tenteidarformasescritasaomeupensardiantedestelivrotãofabuloso como os outros que tenho, se não tiver sua aprovação, não precisa colocar, seu livro é tão excelente,tenhoapreocupaçãodeestarmuitoaquémdaquiloquepretendia,escrevitentandoser conciso,poismuitaspersonagenstransitamdentrodesteálbumdenotáveisinvisíveis.Parabéns, mais uma vez por esta possibilidade de ser um dos primeiros a estar dentro da leitura, saio engrandecido de dentro destas humanas estórias, como tão engrandecido é nossa amizade! Abraços
Editora:PARSIFAL
Idioma:Português
Páginas:176 Encadernação:Capamole ClassificaçãoTemática:LivrosemPortuguês
Literatura.
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eu para falar mesmo elogiando minha escrita dileta? Para não cometer erros vou descrever aqui as palavras de Benjamin Moser que fez o prefácio desta preciosa obra da autora."Nós oitenta e cinco contos aqui reunidos, Clarice Lispector invoca, antes de tudo a própria escritora. Da promessa adolescente á segurança da maturidade até a implosão de uma artista á medida que ela se aproximadamorte-eatémesmo a invoca - descobrimos a figura, maiordoqueasomadesuasobra individuais - adorada no Brasil.
FalardeGuimarãesRosaéfalar de "Grande sertão: veredas, . Falar de Machado de Assis é falardeseuslivros, esódepois dohomemnotávelportrásdeles. MasfalardeClariceLispectoré falar de Clarice, um simples nomepeloqualéuniversalmente conhecida;éfalardamulherem si."Éissoaí,gente,façominhaas palavrasdoBenjamin Moser.
Cecília Regina de Abreu Dellape
DICA LITTERA:
TODOSOSCONTOS Autor:CLARICELISPECTOR 656pp.|14x21cm Assuntos:ficção–conto,ficçãonacional Selo:EditoraRocco 22 LITTERA
São versos proibidos aosolhos,ardemcomo uma chama que não se apaga É do olhar, prestes a partir. Da surpresa do adeus. Da últimapalavra,étentar explicar o porquê existir, existir os sentimentos,osolhares que se prendem Como sepudéssemosviver,o amor. Mas não é verdade, alguns amores não existiram praseremvividos. E como desejar uma rosa, a mais linda do mundo, e não poder tocá-la.Algunsolhares secruzam,egrudamna memóriaenocoração, semrespostas,fazemo coração bater mais forte,semtermotivo?
Mitos brasileiros contados em um outro formato que nos levam a uma época remota e nos mostram figuras que fazempartedoimaginário coletivo: o coronel, os escravos, os índios, a mocinha bonita, o rapaz que volta da cidade, formado, para a casa dos pais. No meio disso tudo, um mosaico rico dos sentimentos e elementos quecompõemaexistência humana: amor, medo, morte, desejo, hipocrisia, ganância, maldade, v i n g a n ç a , arrependimento Nas entrelinhas, críticas sociais importantes. Na cenaemqueorapazvaiao manicômio, por exemplo, eencontraalipessoasque simplesmente não eram aceitaspelasociedade.
A existência descrita em poesia, rimas e cores, pelos olhos de uma jovem dos anos 1980. As experiências, angústias, sonhos e divagações de alguém que,naerapré-internet, ouve Legião Urbana e U2,enquantomergulha naliteraturaedelafazo seu caminho e a sua razão de existir São poemas intimistas, mas universais; doces, mas rebeldes; rimados, mas livres; antigos, mas atuais. E-book. 99páginas.
O leitor atento se s u r p r e e n d e e c o m e m o r a , a o perceber que a protagonista é contemplada com uma lição de valores não efêmeros, que se quer ensinar à sociedade, geração após geração. São eles o respeito, a alteridade e a empatia.
Olivroéumpresente para jacareienses e estrangeiros.Alémde mostrar que as ciências física e matemática podem contribuir para transformaropassado numpresentemelhor, deixa o leitor curioso para entender mais sobre a vida de Letícia.
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Nossos livros :
O livro conta a história da vida do Dionísio, "Dämy", o m e n i n o a b e n ç o a d o . Nascido numa província rural de Moçambique, cujo pai sonha ter todos os filhos formados para que possam usufruir de uma vida melhor. As adversidades da vida trouxeram a doença à família, e Dämy sonha ser doutor para curar a doença do pai. A história, contada emprimeirapessoa, dosmomentosbons e menos bons que conduziram o D ä m y à Universidade. Um livro emocionante, de leitura fácil e muito prazerosa.
C O M P R A S : https://clubedeautor es.com.br/livro/aforca-do-desejo-3
A s M a n h ã s Fechadaséumlivro de poesia, com 24 poemas em verso livre, onde o eu lírico se mostra d e c e p a d o , dilacerado, ou no mínimo estranho ante o cotidiano da cidade, da casa que cada um de nós carrega dentro da contemporaneidade Esse é o primeiro livro do autor lançado por uma editora, a Gataria, noanode2020
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Na apresentação de meu livro escrevi estaslinhasparaum m a i o r entendimento da obra “Assim são as palavras, elas vão sendo colhidas, guardadas, e podemos desenhar a solidão, as letras vãoseencontrando, se juntando até o momento que conseguimos dar um sentido no campo do pensar, toda minha escrita se revela na perda dos sentidos de atingiraverdadede c r i a r u m entendimento, uma ponteentreopensar eoencontrar-se. compras: cabuge46@gmail. com
O espaço onde se desenrola o enredo é o Vale do Rio dos Sinos, lugar em que sedáoembatemorro x várzea, cerne dos conflitos dessa narrativa prenhe de i n f o r t ú n i o s silenciosos, não menos trágicos, todavia, do que a q u e l e s q u e e s t a m p a m a s primeiras páginas dosjornais.
A luta inglória dos solitários habitantes do morro infértil, cravado de pedras, e o sonho de habitar a várzea, menos inóspita àqueles que tiram da terra a sobrevivência...
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ILUSTRAÇÕES DO SÉCULO
REFLEXÃO [Álbum
Senna] 1884-1910 25 LITTERA
XIX PARA
dedicadoaErnesto
COLABORADORES MICHELE corrêa, vera LÚCIA gueiredo, CECÍLIA regina DE abreu DELLAPE, pedro PAIVA, ALISON silva, CARLOS bueno GUEDES, esther ROSADO. Revisão: Vera Lúcia Figueiredo Arte gráca: Pedro Paiva Editores: Vera Lúcia Figueiredo e Pedro Paiva LITTERA REVISTA Nª 1