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LITTERA - CINCO MULHERES PERGUNTAM PARA ESCRITORA RITA ELISA SEDA.

CINCO MULHERES PERGUNTAM PARA ESCRITORA RITA ELISA SEDA.

Vera Lúcia Figueiredo:

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Estamos vivendo hoje uma revolução no que diz respeito às formas de publicar literatura. Temos as editoras independentes, as plataformas de auto publicação, as redes sociais, blogs, canais do Youtube... como você vê esse novo contexto? O que traz de ganhos ( e/ou talvez perdas) para a literatura? Qual sua experiência nesse universo?

Querida Vera Lúcia Figueiredo, essa revolução literária dentro da informática, o que chamamos de terceira dimensão da tecnologia, é uma realidade que não podemos fugir dela. Muitos paradigmas foram vencidos e novos rumos estão sendo traçados. Com o imediatismo inerente às redes sociais (Instagram, Facebook, Tik Tok, WhatsApp etc) uma nova geração já está condicionada a ficar apenas alguns minutos lendo ou assistindo uma publicação, se passa de cinco ou sete minutos eles simplesmente não assistem até o fim e passam para outra publicação. Nesse universo tão novo da comunicação, a escrita passou a ter mais abreviações e simplificação de conteúdo escrito. Em 2010 eu previ essa nova abordagem e escrevi para o jornal Valeparaibano uma crônica com essa nova tendência, era nova demais para a época e minha crônica nunca foi publicada. Não posso dizer que tenho uma visão privilegiada a esse respeito, porém no ano 2000 eu escrevi um livro com a história de uma tribo de internautas que usavam essa linguagem eletrônica, eles também mudaram o comportamento social; o que me levou a prestar muita atenção nessa nova tendência, vi que era o começo para uma nova etapa mundial, o meu livro Ciber@migos

Para você ter uma ideia, fui criticada na época e guardo com carinho os jornais onde amigos intelectuais literatos disseram que meu livro de nada valia porque essa tal de Internet não ia evoluir, ia cair no esquecimento. Foi uma grande lição esse acompanhamento que fiz com esse grupo internauta, onde meus filhos, adolescentes na época, faziam parte, através deles e os acompanhando nos encontros internautas, presenciei a transformação passo a passo. Hoje continuo em adaptação às novidades. Estamos acostumados às modificações à escrita da Língua Portuguesa (brasileira) através de Leis que nos obrigam a usá-la, quando aparece algo novo que não foi imposto por lei, temos a decisão de discordar ou aceitar. Essa é uma das partes mais sensacionais dessa evolução, nada foi imposto; mas se não nos adequarmos e aprimorarmos nossa escrita para atingir as crianças e jovens, estaremos fadados a não sermos lidos e entendidos. Sempre estou conectada e atuando; tenho site, blog e páginas em diversas redes sociais. É preciso entender essa evolução eletrônica e aprender com os erros. Não sou expert, várias vezes tenho de pedir socorro para meu filho que é muito talentoso nessa área; muitas vezes até tenho certa resistência em aceitar os novos parâmetros desse universo, mas penso muito que a única maneira de atingir o coração do jovem... é falar a linguagem dele. E, creio, o futuro a eles pertence.

Esther Rosado:

Diante de tantas definições para a literatura do nosso tempo, com seus vieses e meandros, pode se acreditar que, neste instante, no Brasil, existe de verdade o que poderíamos denominar de literatura do feminino?

Querida Ester Rosado, atualmente a literatura do feminino está em toda escrita de autores e autoras que fazem uma conexão com essa maneira peculiar do Ser. O feminino nem sempre é a mulher, mas sempre é a porção materna da natureza em todos seus sentidos. Essa é uma denominação que há algumas décadas contornam a disciplina do nosso olhar para o belo. Não podemos criar uma falésia da visão entre feminino e masculino, é preciso apurar os sentidos e ver com maestrina a porção de cada um.

Cecília Regina de Abreu Dellape:

No processo de criação da sua escrita, você considera a total liberdade de expressão, usando uma linguagem que atinja a todas classes sociais ou prefere usar uma linguagem dita "formal”?

Querida Cecília Regina de Abreu Dellape, ao longo de 26 anos de crônicas e 21 anos de livros publicados, eu desenvolvi uma linguagem coloquial para atingir todos os níveis de leitores. Tenho uma coleção de livros infantis, poesias, coleção de romances e muitas biografias. Mesmo nas biografias deixei o refinamento para a parte da inclusão de documentação inédita, histórica. Aprendi que mais vale ser lida por todos do que ser aplaudida por apenas literatos acadêmicos que, na maioria das vezes, nem comentam a leitura que fizeram do livro.

Camila Navarro Motta:

Com um mundo tão caótico com toda a Pandemia e o Novo Normal que se aproxima, qual é o papel da Literatura e dos Escritores nesse cenário?

Querida Caminha Navarro Motta, todos aos movimentos literários tiveram que se adaptar a mesma questão pela qual estamos agora; no tempo dos Noigandres, do Modernismo e tantos mais, a bandeira da revolução literária foi hasteada para que a cultura continuasse o caminho. Escrevi durante a pandemia Covid-19 a biografia da Irmã Amália de Jesus Flagelado e, em maio de 2020, tive de me aprofundar a respeito da pandemia Influenza, que aconteceu em 1918-19; e aprendi que todas as organizações sanitárias para que a pandemia não evoluísse em 2020, eram idênticas às de um século atrás. Fiquei ciente disso, não por entrevistar pessoas que passaram pela Influenza, mas sim, porque li reportagens e crônicas em jornais da época e pelas teses e livros escritos a esse respeito. Então, Camila, devemos escrever muito os fatos atuais para que, daqui a 100, 200 ou 1000 anos, estejam lendo e se inteirando dessa etapa da evolução humana pela qual estamos atravessando. Sugiro aos escritores que escrevam bastante todos os tipos de informações e, mais que isso, os sentimentos em relação à Covid-19.

Thaís de Godoy Morais:

A criatividade, a inovação, ao longo da história da literatura, ora foi pouco valorizada, devido à obediência servil de autores a modelos canônicos, ora foi a qualidade máxima desejada por escritores e pela crítica literária. Diante da constatação de que tudo já foi dito e tudo já foi escrito, ou seja, diante da visão de que a criatividade está em franca decadência, e chegou a um esgotamento, como podemos criar, inovar, dando frescor a arte da escrita?

Querida Thaís de Godoy Morais, a criatividade é o que nos impulsiona a escrever. Atualmente os métodos tradicionais ainda servem para uma avaliação acadêmica; porém, muitos se soltaram das amarras e navegam suas letras em largos oceanos e não se deixam represar. Nem todos aceitam essa novidade. Se você ler Menalton Braff verá que ele já tem uma identidade na escrita, ele se solta na imaginação e, com isso, deixa o leitor navegando em águas profundas, não há separação entre as falas e pensares dos personagens, Braff nos dá desenvoltura de entendimento, sem as amarras. Júlio Cortázar, em seu conto: As babas do diabo; esmiuçou esse tipo de escrita, ao contemplar as aves sob a visão de um fotógrafo, um flash da realidade aparente. O poema concretista é uma brincadeira singular com a inovação tecnológica da época... a máquina de escrever. Vamos nos unir para garantir para a geração futura uma adaptação aos métodos contemporâneos de escrita, sem deixar de valorizar o antigo. Criar um amálgama na literatura dará reestruturação ao dialogismo de Bakhtin, que nos ensina que nada se cria, tudo se transforma através do que lemos, escutamos, vemos e tocamos. O que mais empobrece nossa literatura são as rupturas de pensamentos, a não aceitação do outro, o querer impor a própria opinião a qualquer custo, só viver em grupos homogêneos que promovem uma empatia literária sem dar espaço para outros pensadores.

Noigandres foi um grupo de poetas formado em 1952, em São Paulo, Brasil. Era integrado por Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos e, posteriormente, por Ronaldo Azeredo e José Lino Grünewald. Wikipédia

A escritora Rita Elisa Sêda é santarritense de nascença (MG), joseense de coração (SP) e vilaboense de alma (GO). Suas atividades são moldadas com formação em: fotografia, jornalismo e arqueologia.

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