É esta a minha preocupação preponderante, e foi sempre, sempre, sempre. Os senhores encontram o reflexo desta preocupação na “Oração da Restauração”438. É o inexorável receio de não ter sido o que deveria ser, gemendo aos pés de Nossa Senhora e pedindo para ser, afinal, o que devia ser. Aí os senhores têm o ponto central em torno do qual está sempre meu pensamento. Lembro-me de que, quando comecei a ler os Salmos, li este versículo que até hoje me está no espírito: “Tibi soli ego peccavi, et contra me peccatum meum est semper”439. “Tibi soli ego peccavi”. Não adianta dizer que é pequeno: é um pecado e não devia existir. Eu, só, pequei diante de ti. Quer dizer, não me venha com circunstâncias que “outros ajudaram”. Pequei porque quis pecar. Logo, o responsável essencial sou eu, o resto é lorota440. O espírito de sacrifício até o holocausto e o desejo de reparação É preciso ver aqui o que se entende por holocausto: não é necessariamente a morte, a imolação da vida. É o ato pelo qual a pessoa que sente em si o enlevo, que foi habitada por ele, deseja três coisas que constituem uma espécie de hierarquia: dar; dar de si; dar-se por inteiro. Primeiro grau do enlevo: dar. Quando uma pessoa está em contato com uma ideia, com um princípio, com uma instituição, com uma pessoa que lhe produz enlevo – digo mais, às vezes até com uma obra de arte – ela é tendente, num primeiro grau, a dar. É o dar por um puro amor à coisa, 438 O texto desta oração é o seguinte: “Há momentos, minha Mãe, em que minha alma se sente, no que tem de mais fundo, tocada por uma saudade indizível. Tenho saudades da época em que eu Vos amava, e Vós me amáveis na atmosfera primaveril de minha vida espiritual. / “Tenho saudades de Vós, Senhora, e do paraíso que punha em mim a grande comunicação que tinha convosco. / “Não tendes também Vós, Senhora, saudades desse tempo? Não tendes saudades da bondade que havia naquele filho que fui? / “Vinde, pois, ó melhor de todas as mães, e por amor ao que desabrochava em mim, restaurai-me: recomponde em mim o amor a Vós, e fazei de mim a plena realização daquele filho sem mancha que eu teria sido se não fosse tanta miséria. / “Dai-me, ó Mãe, um coração arrependido e humilhado, e fazei luzir novamente aos meus olhos aquilo que, pelo esplendor de vossa graça, eu começara a amar tanto e tanto. / “Lembrai-Vos, Senhora, deste Davi e de toda a doçura que nele púnheis. Assim seja”. 439 Chá SB 12/6/95 440 Chá SB 12/6/95 188
MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL