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A pedra angular do amor à grandeza
que eles fazem em mim um ato de confiança muito grande, e eles devem sentir bem o respeito que tenho pela sublimidade do ato que eles praticam.
Portanto, trato cada alma com muita reverência e com muito respeito, embora exigindo a obediência que seja necessária.
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É um xadrez no qual se mexe cada peça com tanto respeito, que se tem quase as mãos trêmulas por causa do grande valor daquilo371 .
A pedra angular do amor à grandeza
Os três ângulos de Nosso Senhor que mais me impressionaram foram, de um lado, a sua grandeza incomensurável, misteriosa por todos os lados, inclusive por ser incomensurável. De outro lado, a doçura também insondável, para a qual não há limites que se possa imaginar. Por fim, como resultado disso, Ele tomar, por assim dizer, nossa proporção para conviver conosco, inclusive eucaristicamente.
Mas vejam bem que a grandeza está em primeiro lugar. E isto não é inteiramente alheio ao meu gosto pela nobreza. Todas as verdadeiras grandezas são reflexo da grandeza d’Ele. Fora d’Ele não existe grandeza, senão um reflexo da grandeza d’Ele.
Nesta perspectiva, notar nas coisas criadas sobretudo a grandeza que elas têm, absolutamente não é “democrático”, isto eu sei. Mas o fato de não ser “democrático” é uma razão a mais para eu gostar, tomando-se em consideração a “democracia” tal como a Revolução Francesa a tomou372 . *
Há algumas coisas que se conhece por uma graça. Se há alguma coisa em mim que conheço por uma graça, e de cujo conhecimento depende depois todo o resto, é a noção de grandeza.
Esta é a pedra angular de meu espírito, a partir da qual a pessoa compreende tudo quanto penso e digo, e sem a qual eu seria ou vazio, ou ininteligível, que é mais ou menos a mesma coisa que vazio.
Se os senhores se derem ao trabalho de analisar qualquer coisa de que eu goste, qualquer coisa que eu promova, que favoreça, vão encontrar no fundo algo que tem uma relação especial com a grandeza.
Se alguém quiser conhecer o centro em torno do qual gravita tudo quanto é o ponto de atração de minha alma, e a via pela qual creio que
371 Chá SRM 17/9/89 372 Chá EPS 18/11/92
recebo graças muito especiais para a Contra-Revolução, creio que é o amor à grandeza.
Nossa Senhora não me deu aquilo que os outros julgam ser grandeza. Ela não me deu coisas que os outros ainda admitem como um frangalho de grandeza, porque aí não apareceria a grandeza em seu estado puro.
Ela não me deu uma pobreza tal que prejudicasse a grandeza, mas ela não me deu uma riqueza tal – sobretudo isto – que obnubilasse a grandeza.
Se Nossa Senhora me tivesse dado a riqueza, por exemplo, muita gente admiraria em mim a riqueza, mas já não veria a grandeza. Ela me deu uma grandeza que ficaria bem na riqueza, mas que não some nem se desdoura no minguado da minha situação financeira.
Mas para quem quiser ver a grandeza, dá para ver. O meu livro sobre a Nobreza poderia se chamar “Livro da Grandeza”.
Não teria discernimento dos espíritos se não estivesse em condições de responder à seguinte pergunta ao tratar com uma pessoa: “Ele ama a grandeza? De que maneira ama? De que forma? Em que grau? Com que ênfase?”
Visto isto, dir-se-ia que o panorama interior da pessoa se ilumina.
Isto é o que está no centro da minha mentalidade, e sou propenso a admitir que esteja no centro da própria ordenação do universo. Todo o universo, toda a criação têm como eixo a grandeza. Se percebo como as pessoas estão em face desse eixo, percebo como a mentalidade delas está construída373 .
Outra mentira da Revolução é a seguinte: “Quando o homem faz esforço, ele sofre. Logo, a felicidade consiste em não fazer esforço. Portanto, quanto ele está completamente sem esforço ele está feliz”.
O corolário é: “Quando o homem reflete, faz esforço; logo, ele se sente mal. Logo, ele se sentirá bem se não refletir nunca”.
Se acreditarmos nessas mentiras, o resultado será: “O homem deve ser sempre risonho, deve tratar os outros com despreocupação e com confiança, como se fossem bons. A felicidade consiste em ser descontraído e fazer as coisas como lhe dá na cabeça, e em não ter regras de educação, regras de conduta, regras de nada. Para isto é preciso que não haja grandes nem pequenos, porque o grande, pela sua presença, impõe ao pequeno uma conduta respeitosa. Essa conduta respeitosa impõe uma inibição e uma reflexão. O resultado é que, diante dos grandes, sentimo-nos mal.
373 CSN 8/8/92
Sentimo-nos bem diante dos iguais. E a educação é um colete de ferro. A verdadeira alegria consiste em não ter educação”.
A grandeza é o contrário de tudo isso.
A grandeza é a seriedade, a grandeza é o pouco riso, a grandeza é a reflexão, a grandeza é a desconfiança, a grandeza é o esforço.
A grandeza não é só isso, mas traz necessariamente isto. E quem não quiser essas coisas, não tem grandeza, não sabe admirá-la, nem sabe viver com ela.
Isto levou a que meu modo de ser entrasse numa colisão violenta com o modo de ser daqueles que esperavam encontrar em mim uma ocasião para um convívio igualitário e apalhaçado. Encontravam da minha parte, pelo contrário, uma recusa e uma compunção a agir de acordo com o que eu queria.
O resultado disso era uma recusa da grandeza, porque a grandeza instituía condições de convívio que eles recusavam374 . *
Procuro fazer um apostolado da grandeza.
Por que razão faço isto? Para engrandecer-me? Não.
A razão mais imediata – não a mais alta – é ser fiel a uma tradição que herdei e que tenho que conservar.
A razão mais alta é para fazer a Contra Revolução. Pois se a Revolução é contra a grandeza, sou a favor dela. E, portanto, temos castanhas a quebrar375 .
A vida inteira julguei obrigação minha ser fiel a isto: onde eu estivesse, representar a grandeza.
Se eu quisesse seguir carreira, o que deveria fazer era me “democratizar” e me meter numa posição mais condescendente com tudo, e não procurar representar a grandeza em perpétuo estado de censura ao mal, mas num estado de espírito de quem não vê o mal. Então ser amável, ser gentil, ser lhano, ser desembaraçado, abaixar todas as pontes e inaugurar um regime de omissões, de silêncios e de me fazer aceitar.
Esta é a prova do desinteresse. Se eu fosse ambicioso, seria um cretino em querer usar os trapos velhos da grandeza quando o uso do short dá carreira para um homem: jogava tudo no lixo376 .
374 Chá SB 16/7/80 375 Chá PS 30/10/91 376 RE 15/10/67