

































ANO 02 N°08
FEVEREIRO\MARÇO DE


2020
Diretor Defesa Profissional: Carlos Eduardo
Todo conteúdo opinativo da revista Plantão é de responsabilidade de seus autores, devidamente identificados nos artigos.
























ANO 02 N°08
2020
Diretor Defesa Profissional: Carlos Eduardo
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mentos familiares. Os dados foram separados por faixas etárias, entre homens e mulheres, a partir dos 30 anos. Os pesquisadores avaliaram a ingestão das calorias diárias de cada grupo e quanto dessas calorias tiveram como fonte os alimentos ultraprocessados. Em seguida, foram considerados os dados sobre mortalidade do mesmo período e, por fim, os dados foram cruzados.
O professor Eduardo Nilson, também pesquisador do Nupens e autor do artigo, ressalta que as informações recentes, de 2017/2018 mostram que houve um aumento de consumo de 20% de calorias vindas de ultraprocessados em relação ao mesmo tipo de levantamento realizado em 2007/2008, também pelo IBGE.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), junto aos dados de mortalidade dos brasileiros, permitiram a pesquisadores da USP calcular o impacto do consumo de ultraprocessados nesta população. O cruzamento de informações estimou que 57 mil pessoas morrem prematuramente a cada ano por consumirem alimentos ultraprocessados, o que corresponde a 10,5% de todas as mortes precoces de adultos entre 30 e 69 anos no Brasil.
O conceito de morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a probabilidade de morrer entre 30 e 70 anos em decorrência de doenças cardiovasculares, câncer, diabete e doenças respiratórias crônicas. Segundo o professor Leandro Rezende, um dos autores da pesquisa, filiado ao Núcleo
de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, já existem evidências suficientes nos estudos epidemiológicos que associam o aumento de consumo de ultraprocessados com o risco de se desenvolver as DCNT. Ele também inclui o excesso de peso e a obesidade devido à ingestão de ultraprocessados como fatores que contribuem para uma pessoa desenvolver essas patologias.
A metodologia do estudo envolveu o uso de dados abertos coletados por meio de questionários para avaliar o consumo de alimentos a partir de diferentes variáveis. Este tipo de enquete é realizado pelo IBGE a cada dez anos e está publicado no site da instituição (para visualizar, clique aqui). Trata-se de uma série de perguntas para investigar o consumo alimentar individual por todo o País, que faz parte de uma pesquisa ampla sobre o perfil dos orça-
Ainda segundo Eduardo Nilson, este aumento se deve a uma série de fatores, como as campanhas de marketing em torno desses alimentos e à maior subida de preços dos produtos frescos em relação aos ultraprocessados. Além disso, ele aponta, “a substituição aconteceu em todos os grupos da sociedade, independente da renda. Mas tem mais impacto na população vulnerável. O macarrão instantâneo e o biscoito recheado são alimentos-símbolo dessa situação.”
O artigo também faz um cálculo de quantas mortes poderiam ser evitadas em diferentes cenários de diminuição do consumo de ultraprocessados. Com a redução para 10% das calorias diárias consumidas em ultraprocessados, 3.500 pessoas não morreriam de doenças crônicas ao longo do ano. E esse número aumenta à medida que se diminui a quantidade de ultraprocessados ingeridos.
A Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes completará 410 anos de realização em 2023 - se consolidando como a maior e mais tradicional devoção e louvor ao Espírito Santo no Brasil. As festividades contam com uma expressiva participação popular em eventos exclusivos e característicos, como o Império do Divino, Entrada dos Palmitos, Alvorada, Procissão de Pentecostes, entre outros, que ajudam a manter as tradições culturais nos dias atuais.
e-mail: culturamogi@mogidascruzes.sp.gov.br, pelo site da Secretaria Municipal de Cultura ou presencialmente na sede da pasta, que fica na rua Senador Dantas, 326, 3º andar, no Centro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h30
Até o dia 29 de julho, o Museu Histórico Professora Guiomar Pinheiro Franco recebe a mostra “Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes - Professora Amália Thereza Manna de Deus”. As obras apresentadas são do acervo mantido pela Associação Pró-Festa do Divino com fotos, cartazes, obras de arte, livros, objetos devocionais, bem como materiais de divulgação e registros, com apoio da Prefeitura de Mogi das Cruzes, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
“Destacar a trajetória de mais de quatro séculos da Festa do Divino, uma das mais antigas celebrações nacionais é uma oportunidade especial de pensar em como podemos garantir uma melhor qualidade de vida para as atuais e futuras gerações. Nossa gestão está comprometida em preservar nossos legados e construir pontes entre gerações de maneira sustentável e acessível”, conclui Ramos.
Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 4798-6900, pelo
“Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes - Professora Amália Thereza Manna de Deus”
LOCAL:
Museu Histórico Professora
Guiomar Pinheiro Franco (rua José Bonifácio, 202 - Centro Centro - Histórico - Mogi das Cruzes - SP)
VISITAÇÃO:
Até 29 de julho (de segunda a sexta- feira, das 9h às 16h)
ENTRADA: GRATUITA
Jornal da USP
Os microRNAs são moléculas com função regulatória fundamental para o metabolismo do corpo humano. Ao inibir a expressão de determinados genes, sua ação incide em vias bioquímicas e processos celulares essenciais para o organismo. Além disso, a alteração da expressão dos microRNAs tem sido associada a diversas doenças. A partir de experimentos com animais, pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP identificou microRNAs alterados pela insuficiência cardíaca e que tiveram sua expressão normalizada por meio do treinamento �sico. Um deles, o micro-RNA 205, é diretamente responsável pelo metabolismo do músculo esquelético, afetado pela doença. A descoberta é um passo inicial para o desenvolvimento de medicamentos para insuficiência cardíaca que tenham os microRNAs como alvos terapêuticos.
“Nosso trabalho contribui com mais uma peça para o grande quebra-cabeça que é a busca por ferramentas e tratamentos para as doenças cardiovasculares”, afirma Bruno Rocha de Avila Pelozin, que realizou a pesquisa, sob orientação do professor Tiago Fernandes, da EEFE. “Também demonstramos uma regulação das alterações musculoesqueléticas por meio do microRNA-205. Por fim, mostramos o efeito dos treinamentos nesses mecanismos e alterações”, afirma.
O estudo realizou um mapeamento dos microRNAs expressos em ratos com insuficiência cardíaca. Os animais foram divididos em dois grupos, os que se mantiveram sedentários e os que realizaram uma rotina de exercício �sico aeróbio durante dez semanas. As análises demonstraram um padrão de expressão completamente diferente entre os animais doentes e aqueles que realizaram o treinamento. Dentre os microRNAs analisados pela varredura, 15 tiveram a sua expressão alterada pela doença e restabelecida pelo exercício �sico, e um deles, o microRNA-205, foi responsável por controlar as características estruturais e o metabolismo do músculo esquelético.
Por meio de biópsias de pessoas com insuficiência cardíaca, foi constatado que esse microRNA estava aumentado e que o treinamento �sico aeróbio nesses pacientes foi efetivo em normalizar a sua expressão. A conclusão é relevante porque a insuficiência cardíaca reduz a eficiência do coração em bombear o sangue, diminuindo a irrigação sanguínea para os diversos tecidos do corpo. No músculo esquelético, isso pode culminar na miopatia, cujo sintoma principal é a intolerância ao esforço �sico, dificultando atividades cotidianas como subir escadas ou caminhar por distâncias mais extensas.
Pela alteração do microRNA-205 com o quadro de insuficiência e sua normalização com o exercício �sico, a molécula foi reconhecida como um potencial alvo terapêutico para o desenvolvimento, no futuro, de tratamentos para a doença. Pelozin comenta que a utilização farmacológica dos microRNAs ainda está em fase inicial, mas acredita que eles podem ser importantes ferramentas no combate às doenças cardiovasculares e seus efeitos periféricos.
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício da EEFE, e é descrita na dissertação de mestrado de Pelozin. Um artigo sobre o trabalho foi apresentado no XXX Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão, realizado entre os dias 10 e 22 de agosto de 2022, onde foi contemplado com o prêmio de Melhor Pesquisa Básica. Atualmente, o pesquisador está na fase de finalização dos experimentos em laboratório com cultura celular (células primárias musculares) para avaliar o ganho e perda de função do microRNA-205. Finalizada essa etapa, o trabalho será publicado e os estudos sobre o microRNA-205 serão expandidos.
Com informações da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE.
casos, que corresponde a 43,7% do total. Os encaminhamentos e notificações geralmente são feitos para o Conselho Tutelar. Durante os anos do estudo, o órgão público foi acionado em 56.090 casos (34,7%), e em sequência aparecem a rede de saúde (29,4%) e a de assistência social (15,4%).
HOUVE UM CRESCIMENTO EXPONENCIAL NAS NOTIFICAÇÕES DE CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, TOTALIZANDO 202.948 CASOS
Foi divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde um Boletim Epidemiológico sobre as notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, com dados de 2015 até 2021. O documento considera crianças aquelas que têm de 0 a 9 anos, e adolescentes, de 10 a 19 anos. Os dados levam em conta características demográficas, como região do País, sexo da vítima, sexo do agressor, local de ocorrência e a quantidade de acontecimentos por criança e adolescente.
Durante os sete anos de análise, houve um crescimento exponencial nas notificações de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, totalizando 202.948 casos, dos quais 41,2% foram cometidos contra crianças e 58,8% contra adolescentes.
Somente em 2015, foram notificados 21.122 casos, e em 2019 este número havia subido mais de metade em relação ao início da pesquisa, chegando a 34.208 casos. No ano de 2020, essa quantidade declinou para 29.265, porém, a pandemia de Covid-19 pode ter afetado diretamente estes dados, visto que em
2021 o número de casos disparou para a casa de 35 mil notificações.
Na violência sexual contra crianças, estima-se que 76,9% das notificações ocorreram entre meninas. Os maiores índices de ocorrência, tanto do sexo feminino quanto do masculino, foram entre a faixa etária de 5 a 9 anos (55,1%), com valores correspondentes a 53,6% e 60,1%, respectivamente.
Observa-se que os tipos de violências mais cometidos são o estupro – 52.436 (56,8%) –, seguido de abuso sexual – 26.995 (29,2%). Entre os abusadores, 81% são do sexo masculino e 4,3% do sexo feminino. Os principais agressores dessa faixa etária são os familiares e amigos/conhecidos, com 41,1% e 26,9%, nesta ordem. Em disparada, o local com maior incidência são as próprias residências, com 70,9% dos registros, em sequência as escolas (4%) e vias públicas (2,3%).
O Sudeste destaca-se como a região com o maior número de ocorrências, registrando 36.482
O estudo aponta que, entre os adolescentes, a faixa etária quem mais sofreu algum tipo de violência sexual foram aqueles entre 10 e 14 anos. 35% das meninas e 41,6% dos meninos afirmam já terem sido violentados mais de uma vez, somando-se ao todo 52.968 adolescentes. O estupro, o assédio sexual e a exploração sexual são os tipos de violência que mais ocorrem com frequência, sendo o primeiro com 59,6% dos casos, e os outros dois aparecem com 27,4% e 4,2%, nesta sequência.
A própria residência é apontada como o local em que mais ocorrem crimes de importunação sexual, cerca de 63,4% dos casos; as vias públicas aparecem logo em seguida, com 10,5%. Em paralelo como os dados referentes à violência contra a criança, o sexo masculino também se manifesta como maior agressor, em torno de 86% dos acontecimentos.
Nesta perspectiva, a região Sudeste também se destaca, com 39.771 (33,3%) casos, seguida de Norte e Nordeste, com 19,7% e 19,3%, respectivamente. Para esta faixa, os lugares para onde mais são encaminhadas as vítimas de abusos sexuais são o Conselho Tutelar e a rede de saúde, com 30,9% e 30,2%; já a rede de assistência social ocupa a terceira posição, com 17,4%.
RECENTEMENTE, A ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (EPM/ UNIFESP) REGISTROU, EM MENOS DE SEIS MESES, O SEGUNDO CASO DE SUICÍDIO DE UM JOVEM RECÉM-FORMADO PELA INSTITUIÇÃO
Otriste acontecimento, infelizmente cada vez mais comum em muitas faculdades de Medicina, reforça que a depressão é uma doença grave e silenciosa, o que preocupa autoridades em Saúde e a sociedade no geral.
Como forma de acender o alerta para políticas de cuidado e prevenção, o coordenador do Programa Agentes da Associação Paulista de Medicina, Expedito Barbosa, foi convidado
para retornar à Comissão de Mentoria da EPM e participar do GT de Saúde Mental dos estudantes de Medicina.
Dentre os sintomas mais apresentados entre os estudantes estão a baixa qualidade de sono, estresse, sonolência diurna excessiva, uso problemático de álcool, ansiedade, transtornos mentais comuns, depressão e burnout. Segundo Barbosa, ao ouvir os Agentes APM, 15 deles relataram que
houve casos de suicídio em suas faculdades nos últimos 12 meses. No GT de Saúde Mental dos Estudantes, foi apresentado o dado que, em maio de 2023, 232 (49,15%) estudantes de Medicina apresentavam sintomas de depressão e ansiedade.
Em uma apresentação sobre o tema, ele destacou a importância da prática de
mentoria no âmbito da Educação médica, relembrando que o Programa Agentes APM conta com uma série de mentorias aos seus participantes, o que contribui para uma percepção mais ampla sobre a Medicina no geral, além de promover a união entre os acadêmicos e profissionais.
“Na mitologia grega, Mentor era um amigo de confiança de Odisseu, que foi encarregado de cuidar de seu filho, Telêmaco, enquanto estava em guerra. Quando Odisseu partiu, instruiu Mentor a ser um guia para seu filho, o ajudando a crescer e se tornar um homem forte e sábio. O papel de Mentor como guia e conselheiro de Telêmaco tornou-se tão famoso que o termo ‘mentor’ passou a ser usado para descrever qualquer pessoa que orienta e aconselha outra com menos experiência ou conhecimento”, explicou.
De acordo com o coordenador do Agentes APM, a mentoria na Educação médica acontece quando alguém com mais experiência (um médico ou um professor, por exemplo) se interessa em fornecer ajuda aos mentorados (alunos do 1º ao 6º anos), por meio do compartilhamento de diferentes conhecimentos, contribuindo, assim, para que a pessoa que está sendo auxiliada possa desenvolver novas habilidades.
Os trabalhos de mentoria também podem servir como uma ferramenta de promoção à saúde mental, uma vez que avaliam nos estudantes a prevalência de problemas a ela associados. “Há vários artigos que argumentam que a mentoria pode ajudar a melhorar a saúde mental dos estudantes de Medicina. Os estudos dizem que ela pode fornecer um espaço seguro para discutir desafios e preocupações, bem como fornecer suporte emocional e orientação na carreira. Além disso, a mentoria pode ajudar a desenvolver habilidades de enfrentamento e resiliência, o que pode ser especialmente importante dado o estresse e a pressão associados à Educação médica.”
De acordo com Barbosa, os alunos demonstram que a mentoria é uma maneira necessária de humanizar o curso, além de relatarem que a prática se consolida como uma forma de contribuir para o bem-estar físico, social e mental, que ajuda na vivência saudável em grupo.
Além disso, é uma experiência que traz frutos positivos para os dois lados que participam da dinâmica.
“A mentoria é uma prática importante na Educação médica, pois permite que estudantes e residentes trabalhem com profissionais experientes para aprimorar suas habilidades clínicas e
obter orientação na carreira. Ela também é valiosa para os médicos com anos de atuação, pois lhes permite compartilhar seus conhecimentos com a próxima geração.”
No entanto, a mentoria enfrenta alguns desafios. Entre eles o interesse dos alunos para participar desses programas, a maneira de estabelecer os critérios para a escolha dos mentores e como garantir um treinamento de qualidade para eles – que seja focado, também, na saúde mental dos profissionais.
Atualmente, tanto a Escola Paulista de Medicina quanto a APM oferecem programas de mentoria focados na qualidade da formação e na humanização profissional. O Agentes APM conta com 194 estudantes de 42 escolas médicas do estado de São Paulo.
“Iniciei meu trabalho na Associação Paulista de Medicina no final do 5º ano. Meu objetivo na APM é aumentar a presença do estudante dentro da instituição. Com tudo que aprendi na EPM e com meus professores, criei o Programa Agentes APM, buscando formar estudantes de alta performance, jovens lideranças em suas respectivas comunidades acadêmicas”, finaliza o coordenador.
Aqualidade da formação, o número exponencial de profissionais no Brasil e a criação desenfreada de escolas médicas vêm sendo foco de atenção e de muita preocupação entre os médicos brasileiros. No intuito de pontuar as iniciativas que devem ser tomadas diante desta grave situação, o vice-presidente da Associação Paulista de Medicina e secretário geral da Associação Médica Brasileira, Antônio José Gonçalves, participou de uma audiência pública da Comissão Mista da Medida Provisória 1.165/23, do Mais Médicos, no último dia 16 de maio, realizada no Senado Federal.
Durante a apresentação, Gonçalves relembrou que esteve recentemente com o Ministério da Educação debatendo o assunto e reforçando dois objetivos fundamentais das Associações, de defender a dignidade e os interesses do médico e resguardar que
a população tenha uma assistência de Saúde com qualidade.
“Nós temos nos preocupado, na AMB, com a questão geral do médico. Temos feito uma série de eventos no sentido de melhorar a formação. O total de médicos é por volta de 600 mil, e a nossa população é de 210 milhões. As capitais têm um índice de médicos completamente elevado, enquanto o interior sofre com o problema de que os médicos não se fixam ali, mesmo com as escolas instaladas na região, eles se formam e vão para os grandes centros”, explicou. Dentre os presentes na audiência, esteve o presidente da Comissão Mista e deputado federal Dorinaldo Malafaia; a relatora e senadora Zenaide Maia; o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Nezio Fernandes; o coordenador geral de Expansão e Gestão da Educação e Saúde do
Ministério da Educação, Pedro Luíz Rosalém; e o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Gutemberg Fialho, entre outros.
O vice-presidente da APM relembrou que, de 2012 para 2022, houve um aumento de mais de 84% de médicos formados no Brasil, passando de 260 mil para 495 mil, por conta das políticas públicas implementadas. “A abertura indiscriminada de escolas forma médicos com uma qualidade muito ruim. Isso se repete na residência. Porque eles não se formam bem, entram na residência com um alicerce que não está bom, vão tentar se especializar e isso faz a qualidade dos residentes também cair. Tanto que, recentemente, na residência de Cirurgia, tivemos que aumentar o tempo de dois para três anos, já que a formação que o residente recebia não era suficiente para poder sair operando”, relembrou.
Ele ainda destacou que, para implementar o Mais Médicos, o programa deve contar com uma boa estrutura de ensino e fornecer preceptoria e os mecanismos necessários àqueles que irão para regiões mais afastadas. “Ninguém pode ser contra oferecer Saúde para a nossa população, mas é qualidade que querermos. Queremos expandir e melhorar a desigualdade, mas queremos também manter a qualidade e estamos colocando as sociedades de especialidade e as nossas Federadas para ajudar nisto e fazer, então, um programa que seja realmente efetivo.”
O tempo de formação também foi um dos tópicos abordados pelo especialista, fomentando o esforço necessário para se colocar profissionais de relevância no mercado. “A formação médica depende de uma qualificação do professor, e não se formam professores de Medicina do dia para a noite. É preciso ter seis anos de graduação, entre dois e cinco de residência, dois de mestrado e mais quatro de doutorado. É uma formação longa, trabalhosa e extremamente importante. É isso o que não podemos abrir mão. Existe a necessidade de um cirurgião fazer 30 ou 40 cirurgias por ano de uma determinada doença para que ele se mantenha ativo e competente. Não precisamos formar mais médicos e cirurgiões, precisamos que eles sejam mais bem treinados.”
Atualmente, os estados com maior densidade médica são Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentam os menores índices. Se a tendência na abertura de escolas médicas continuar, até 2035, é esperado que o Brasil tenha mais de 1 milhão de médicos, levando à falta de oferta de emprego para todos esses profissionais e à desvalorização da profissão.
“Nós temos hoje 2,6 médicos a cada 1.000 habitantes. Serão profissionais mais jovens e há uma forte ascensão feminina no mercado, o que é bom porque humaniza a Medicina, porém, será uma distribuição desigual. Temos que ter uma política muito séria para que isso não seja perpetuado. Precisamos melhorar a qualidade, a preceptoria, ter hospitais adequados e equipamentos. Não adianta colocar o estetoscópio no pescoço e deixar o médico lá, precisa ter toda uma infraestrutura junto”, comentou.
Para Gonçalves, o exame de revalidação de diplomas médicos expedidos no exterior – popularmente conhecido como Revalida – e o exame de proficiência para os médicos formados no Brasil devem ser realizados por todos os profissionais que queiram trabalhar no Brasil. Além disso, o médico destacou que as normas do Ministério da Educação e da Associação Médica Brasileira são fundamentais para formar especialistas com capacitação.
“Nós não somos contrários ao programa Mais Médicos, mas precisamos aperfeiçoá-lo. Não adianta fazer como ele foi feito no passado e depois
deixá-lo morrer, isso é muito ruim. Precisamos de melhores médicos, e iniciativas como o Revalida, Exame de Proficiência e Prova de Título são fundamentais para isso. A competência precisa ser comprovada e conferida, não pode ser presumida”, concluiu.
Em março deste ano, Antônio José Gonçalves participou de uma reunião com Camilo Santana, atual ministro da Educação, para debater os rumos da educação médica no País, colocando a AMB e demais entidades à disposição para ajudar a lidar com este problema e, assim, contribuir para a reestruturação e melhoria necessária para o setor.
Em abril, o especialista e outros representantes da classe se encontraram com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, para uma reunião a fim de apresentar as demandas e preocupações dos profissionais em relação ao Mais Médicos e à abertura de novas faculdades.
Fotos: Divulgação