Perspetivas
Das exigências de sustentabilidade ambiental a uma forma de vida ecológica
A
tualmente, as exigências de sustentabilidade ambiental estão na ordem do dia dos debates públicos, no planeamento da atividade de organizações e de empresas e nas preocupações quotidianas dos indivíduos. É adquirido por todos que o desenvolvimento tem de ser sustentável a nível pessoal, comunitário, local e global. Sem dúvida que existe, atualmente, uma muito maior consciência ambiental, com cidadãos e empresas a adotarem medidas “verdes”, procurando minimizar a poluição, reduzir o consumo de água e de outros recursos naturais, abrandar o consumo, entre muitas outras opções.
NECESSITAMOS QUE A ECOLOGIA SE TRANSFORME NUMA FORMA DE VIDA Mas é certo também que se impõe uma opção mais fundamental: tornarmo-nos “verdes” intrinsecamente, assumindo estilos de vida ecológicos. Necessitamos que a ecologia se transforme numa forma de vida, já que os grandes desafios que resultam dos desequilíbrios ambientais e económicos exigem que tenhamos uma consciência mais abrangente e que aceitemos transformar o nosso modo de vida. Os desafios globais têm de ser respondidos a dois níveis: na mudança de atitu-
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Margarida Alvim
— Engenheira florestal — Co-Fundadora e Diretora da Associação Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade (Ourém) — Vencedora do Prémio “Terre de Femmes”, da Fundação Yves Rocher
des e de comportamentos individuais, mas também na alteração de modelos de sociedade e de políticas públicas. Nos últimos anos, com as crises financeira, alimentar e ambiental, tornou-se evidente que algo está a falhar nas políticas de sustentabilidade, que parecem valorizar muitíssimo o pilar económico, desequilibrando o social e o ambiental. Precisamos de adotar um estilo de vida ecológico. Isto nasce, antes de mais, da consciência de que não estamos isolados no mundo, somos parte de uma humanidade e somos criaturas de um mundo vasto, somos habitantes de uma “casa comum”. É aqui, neste espaço comum, partilhado por inúmeras comunidades do planeta e por muitas gerações ao longo da história, que cada um de nós é acolhido – numa terra, numa comunidade, numa história. A consciência disto leva-nos a uma
atitude de agradecimento e de missão. Agradecimento, porque herdamos o fundamental daquilo que temos, os recursos de que dispomos; missão, para que esta vida seja possível para outros seres humanos e para as gerações futuras. Uma consciência ecológica interpela-nos, primeiro, a olhar à volta, a (re)conhecermo-nos a nós, aos outros e ao planeta, e a valorizarmos o que somos a partir desta perspetiva holística. É esse reconhecimento que nos permite desenvolver um sentimento de gratidão e de responsabilização pelas coisas, tomar consciência do tanto que nos envolve e nos une a todos e ao planeta. O facto de nos sentirmos parte de um todo maior e de sabermos que os recursos do mundo pertencem a toda a humanidade leva-nos a cuidar deles e a ser responsáveis no uso que fazemos deles,
OUT-DEZ 2021