IMPÁVIDOS

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A PANDEMIA E A PRECARIEDADE DO SANEAMENTO BÁSICO

Milhares de vidas perdidas por consequência do descaso do poder público federal, que foi agravado pela demora da atuação daqueles que tinham obrigação de agir pela segurança da sociedade. A estratégia do governo federal de imunidade por rebanho não priorizou investimentos em vacinas e culminou no atraso da imunização da população mais vulnerável. Com isso, a demora do governo em agir foi um dos principais agravantes para o avanço da Covid 19, em meio a guerra política com governadores e prefeitos, enquanto a população se protegia por conta própria. No entanto, os corpos que estão sob risco de morte são aqueles em razão da classe social, pois as principais medidas de controle a disseminação do vírus são a vacinação, distanciamento social, e higienização. Contudo, com demora para o investimento em vacinas os grupos que não tem acesso a saneamento básico e que não dispõe de renda, nem moradia fixa acabam sendo os mais vulneráveis ao risco de morte. Outro fator relevante para permitir que as pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social se exponham mais aos riscos é a questão do saneamento básico.

O déficit de atendimento aos serviços de esgotamento sanitário é uma das situações mais precárias em comunidades pobres no Brasil, que além de tudo, enfrentam problemas com coletas de lixo e abastecimento de água. O saneamento básico interfere em quatro medidas essenciais garantidas pela constituição brasileira: acesso à água potável, coleta e manejo de resíduos sólidos, drenagem urbana e manejo das águas pluviais, coleta e tratamento de esgoto. Quando essas medidas - que são direito de todos – não são garantidas, além dos reflexos ambientais, o problema se estende para a saúde pública devido a contaminação da água provocando doenças diarreicas, e infecções como hepatite A, cólera ou até mesmo cisticercose cerebral. Na luta por moradia, as pessoas da ocupação Cuca Legal , localizada em Olinda no Estado de Pernambuco enfrentam entulhos de lixo, falta de água potável, falta de alimentação, esgotos abertos, estrutura inacabadas, falta de iluminação elétrica além de outros riscos de acidentes fatais ao dividir os espaços com moscas, ratos e baratas. Esses são alguns cenários que foram presenciados nesta comunidade, mas que não se limitam a ela, onde as famílias vivem de forma invisível e totalmente insalubre, evidenciando o termo cunhado por Achille Mbembe, necropoder.

25 Impávidos | revista de fotografia, 2021.


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