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Capítulo 1: A Bíblia Sagrada como Palavra de Deus

CAPÍTULO 1 - A Bíblia Sagrada como Palavra de Deus

Esta obra tem como base a Bíblia Sagrada. E acerca disso, eu preciso te falar que: A Bíblia não é um livro qualquer. É muito difundido, sobretudo nas universidades, que uma pessoa para se tornar cristã precisa cometer “suicídio intelectual”, ou então, que um cristão possui uma “fé cega”, distante de bases racionais.

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No entanto, isso não é verdade. Concordo com F. R. Beattie (1903) quando afirma: “o Espírito Santo não opera, no coração, uma fé cega e sem fundamentos”.

A fé em Jesus Cristo é uma fé inteligente (João 8.32; 2 Timóteo 1.12). Jesus disse:

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua inteligência.” Mateus 22.37

Josh McDowell em seu livro “Evidência que exige um veredito.” (1972) nos instrui acerca da singularidade da Bíblia. A estupenda unidade da Bíblia é um argumento para sua inspiração. É como Cole (2004) em seu livro “A doutrina de Deus” diz: “Este é um milagre em si mesmo”. Porque a unidade da Bíblia é um milagre?

Porque foi escrita em dois continentes; em três línguas; sua composição e compilação estenderam-se através da vagarosa progressão de dezesseis séculos; teve aproximadamente quarenta autores; partes dela escritas em tendas, palácios, cárceres, cidades e desertos; escrita em tempos de perigos e em períodos de júbilo; entre seus autores – juízes, sacerdotes, reis, profetas, ministros, pastores, escribas, soldados, médicos e pescadores; entretanto, mesmo com estas circunstâncias, condições e obreiros tão variados, a Bíblia é um Livro. Ela mantém sua unidade. Existe afinidade entre uma parte e outra. Quanto mais se pondera nesta verdade, mais admirável se torna a Bíblia.

Concordo com a comparação que Cole (2004) faz:

“Imagine quarenta pessoas de diferentes nacionalidades, com diferentes culturas musicais, visitando o órgão de alguma grande catedral e em longos intervalos de tempo, e sem qualquer fraude, tocarem sessenta e seis notas diferentes que, quando combinadas, produzissem um grande tema musical sacro. Tal fato não mostraria que, por trás destas várias pessoas, existia um mestre que presenciava, programava e dirigia a peça? Quando apreciamos uma orquestra que mesmo com tantos instrumentos produz uma melodia harmoniosa, compreendemos que por trás destes diversos músicos existiu o gênio de um compositor. E quando entramos nos corredores da Academia Divina e escutamos os corais celestes que entoam o Hino da Redenção, todos em perfeito acordo e em união, sabemos que é o próprio Deus que escreveu a música e colocou este canto em suas bocas”.

(COLE, 2004, p.24)

O elemento humano na produção da Bíblia é bem reconhecido – como já mostrado acima. O Livro nos veio através do agente humano, mas o elemento humano não teve permissão de pôr em perigo a precisão e infalibilidade do Livro. A Bíblia é tão exata e infalível quanto se Deus a tivesse escrito sem o agente humano. Por isso que o Apóstolo Pedro disse:

“Porquanto, jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens santos falaram da parte de Deus, orientados pelo Espírito Santo.” 2 Pedro 1.21

A Bíblia se divide em duas partes, comumente chamados o Velho e o Novo Testamento. Eles não são dois, mas um só livro. Cole (2004) em seu livro já citado acima explica que no Velho Testamento o Novo está coberto; no Novo Testamento o Velho é esclarecido. No Velho Testamento o Novo está encoberto; no Novo Testamento o Velho é revelado. O Velho é patente no Novo; o Novo é latente no Velho. O Velho é predição; o Novo é cumprimento. Os dois Testamentos têm o mesmo autor: Deus, e o mesmo assunto: Cristo.

A mensagem da salvação encontra-se através de toda a Bíblia. Podemos começar em qualquer parte e pregar sobre Jesus. Em ambos os Testamentos está registrado que o Senhor diz: “No rolo do livro está escrito de mim” (Salmo 40.7; Hebreus 10.7). E Apocalipse 19.10 diz que o testemunho de Cristo é o espírito da profecia. Cole (2004) disse:

“O homem encontra-se no escuro a seu próprio respeito. Ele precisa de uma revelação escrita que diga: o que ele é, de onde velo, e para onde vai.” (COLE, 2004, p.22)

Essa revelação que o homem precisa é a Bíblia! Ela responde a todas as questões em relação ao eterno bem estar da alma humana (Salmos 119.162163). Ela convence cada homem de seu pecado e lhe diz como ser salvo (João 16.7-11). O homem necessita de uma revelação e Deus é capaz de dar tal revelação, e a Bíblia é o tipo de revelação que o homem precisa. A Bíblia satisfaz a alma sedenta (Salmos 42.1; João 3.14).

A franqueza com que a Bíblia trata de seus heróis e autores é outro fator que nos mostra que Ela é a Palavra de Deus. As biografias humanas – geralmente nos dão somente as belas e melhores partes da vida de um homem. Elas exaltam suas virtudes e louvam seus feitos, mas dizem pouco ou nada a respeito das falhas.

Mas os personagens da Bíblia são descritos com os fatos da verdade, sejam bons ou maus. A Bíblia não encobre as falhas e faltas de seus personagens: vemos, na Bíblia: a embriaguez de Noé (Gênesis 9.21), a dissimulação de Abraão (Gênesis 12.11; 20.2), o assassinato de Moisés (Êxodo 2.12), a idolatria e luxúria de Salomão (1 Reis 11.1-13), o adultério de Davi (2 Samuel 11.4), a infidelidade de Pedro (Mateus 26.75).

É como o salmista disse no Salmo 119.160: “A verdade é a essência da tua palavra, e todas as tuas justas ordenanças são eternas.” Isso se dá muito porque a Bíblia é um livro prático. Paulo em sua carta a Timóteo disse:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver; a fim de que todo homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar todas as boas ações.” 2 Timóteo 3.16

Toda Escritura é dada pela inspiração de Deus e é proveitosa (2 Timóteo 3.16). É justamente isso o que diferencia a Bíblia de todos os demais livros do mundo, pois é um livro divinamente inspirado (Jó 32.8; 2 Timóteo 3.16; 2 Pedro 1.21). É devido à inspiração divina que ela é chamada a Palavra de Deus.

E o que vem a ser essa "inspiração divina"? Para melhor compreensão, vejamos primeiro o que é inspiração. Antônio Gilberto (1986) explica em seu livro “A Bíblia através dos séculos: A história e formação do Livro dos livros” que a inspiração pode ser primeiro entendida pelo sentido fisiológico:

“No sentido fisiológico, é a inspiração do ar para dentro dos pulmões. É pela inspiração do ar que temos fôlego para falar. Daí o ditado "Falar é fôlego". Quando estamos falando, o ar é expelido dos pulmões: é o que chamamos de expiração. Pois bem, Deus, para falar a sua Palavra através dos escritores da Bíblia, inspirou neles o seu Espírito! Portanto, inspiração divina é a influência sobrenatural do Espírito Santo como um sopro, sobre os escritores da Bíblia, capacitando-os a receber e transmitir a mensagem divina sem mistura de erro.” (GILBERTO, 1986, p.19)

A própria Bíblia reivindica a si a inspiração de Deus, pois a expressão "Assim diz o Senhor", como carimbo de autenticidade divina, ocorre mais de 2.600 vezes nos seus 66 livros; isso além de outras expressões equivalentes (GILBERTO, 1986).

Foi o Espírito de Deus quem falou através dos escritores (2 Crônicas 20.14; 24.20; Ezequiel 11.5). Deus mesmo dá testemunho da sua Palavra (Salmo 78.1; Isaías 51.15,16; Zacarias 7.9,12). Os escritores, por sua vez, evidenciam

ter inspiração divina (2 Reis 17.13; Neemias 9.30; Mateus 2.15; Atos 1.16; 3.21; 1 Coríntios 2.13; 14.37; Hebreus 1.1; 2 Pedro 3.2.)

Suas verdades não são dadas em termos científicos, antes são reveladas em uma linguagem simples – para que todos possam ter acesso. Gilberto (1986) confirma isso:

“Pela Bíblia, Deus fala em linguagem humana, para que o homem possa entendê-lo. Por essa razão, a Bíblia faz alusão a tudo que é terreno e humano. Ela menciona países, montanhas, rios, desertos, mares, climas, solos, estradas, plantas, produtos, minérios, comércio, dinheiro, línguas, raças, usos, costumes, culturas, etc. Isto é, Deus, para fazer-se compreender, vestiu a Bíblia da nossa linguagem, bem como do nosso modo de pensar. Se Deus usasse sua linguagem, ninguém o entenderia. Ele, para revelar-se ao homem, adaptou a Bíblia ao modo humano de perceber as coisas. Destarte, o autor da Bíblia é Deus, mas os escritores foram homens. Na linguagem figurada dos Salmos e das diversas outras partes da Bíblia, Deus mesmo é descrito e age como se fosse homem. A Bíblia chega a esse ponto para que o homem compreenda melhor o que Deus lhe quer dizer. Isto também explica muitas dificuldades e aparentes contradições do texto bíblico.” (GILBERTO, 1986, p.6)

É justamente por isso que surgem muitas teorias falsas acerca da inspiração da Bíblia, tais como as citadas por Gilberto (1986):

1 - A teoria da inspiração natural, humana, ensina que a Bíblia foi escrita por homens dotados de gênio e força intelectuais especiais, como Milton, Sócrates, Shakespeare, Camões, Rui, e inúmeros outros. Isto nega o sobrenatural. É um erro de consequências imprevisíveis para a fé. Os escritores da Bíblia reivindicam que era Deus quem falava através deles, e através dos textos podemos ver que tinham razão (2 Samuel 23.2; Atos 1.16; Jeremias 1.9; Esdras 1.1; Ezequiel 3.16,17; Atos 28.25).

2 - A teoria da inspiração divina comum ensina que a inspiração dos escritores da Bíblia é a mesma que hoje nos vem quando oramos, pregamos, cantamos, ensinamos ou andamos em comunhão com Deus. Mas isso não se aplica, porque a inspiração comum que o Espírito nos concede:

a) Admite gradação, ou seja, o Espírito Santo pode conceder maior conhecimento e percepção espiritual a alguém, à medida que este ore, se consagre e procure a santificação (Ezequiel 47.1-12), ao passo que a inspiração dos escritores na Bíblia não admite graus - o escritor era ou não era inspirado.

b) A inspiração comum pode ser permanente (1 João 2.27), ao passo que a dos escritores da Bíblia era temporária. Centenas de vezes encontramos esta expressão dos profetas: "E veio a mim a palavra do Senhor", indicando o momento em que Deus os tomava para transmitir a sua mensagem.

3 - A teoria da inspiração parcial ensina que algumas partes da Bíblia são inspiradas, outras não; que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas apenas contém a Palavra de Deus. Se esta teoria fosse verdadeira, estaríamos em grande confusão, por que quem poderia dizer quais as partes inspiradas e quais as não inspiradas?

A própria Bíblia refuta isso em 2 Timóteo 3.16. Também em Marcos 7.13, o Senhor aplicou o termo "A Palavra de Deus" a todo o Antigo Testamento. Quanto ao Novo Testamento, podemos ver escritos favorecendo essa ideia de que a Palavra de Deus é toda inspirada em João 16.12 e Apocalipse 22.18,19.

4 - A teoria do ditado verbal ensina a inspiração da Bíblia só quanto às palavras, não deixando lugar para a atividade e estilo do escritor, o que é patente em cada livro. Lucas, por exemplo, fez cuidadosa investigação de fatos conhecidos (Lucas 1.4). Esta falsa teoria faz dos escritores verdadeiras máquinas, que escreveram sem qualquer noção de mente e raciocínio. Deus não falou pelos escritores como quem fala através de um alto-falante. Deus usou as faculdades mentais deles, por isso vemos estilos literários distintos.

5 - A teoria da inspiração das ideias ensina que Deus inspirou as ideias da Bíblia, mas não as suas palavras. Estas ficaram a cargo dos escritores. Mas

veja, o que é a palavra na definição mais sumária, senão "a expressão do pensamento" (DIAS, 2011)? Será que conseguimos formar uma ideia sem palavras?

No mínimo difícil! Uma ideia ou pensamento inspirado só pode ser expresso por palavras inspiradas. Ninguém há que possa separar a palavra da ideia. A inspiração da Bíblia não foi somente pensada, mas foi também falada (1 Coríntios 2.13; Hebreus 1.1; 2 Pedro 1.21).

Assim, as palavras foram também inspiradas (Apocalipse 22.19). De um modo muito maravilhoso, vemos a inspiração das palavras da Bíblia, não só no emprego da palavra exata, mas também na ordem em que elas são empregadas no original (Jó 37.9; 38.19; 1 Coríntios 6.11).

A teoria correta da inspiração da Bíblia é a chamada Teoria da Inspiração

Plenária ou Verbal. Ela ensina que todas as partes da Bíblia são igualmente inspiradas e que os escritores não funcionaram como máquinas inconscientes, ou seja, houve cooperação vital e contínua entre eles e o Espírito de Deus que os capacitava (2 Timóteo 3.16). Homens escreveram a Bíblia com palavras de seu vocabulário, porém sob uma influência tão poderosa do Espírito Santo, que o que eles escreveram foi a Palavra de Deus.

Com isso, não quero negar que houve partes em que foi necessária uma revelação da parte de Deus. Revelação é a ação de Deus pela qual Ele dá a conhecer aos escritores coisas desconhecidas, o que o homem, por si só, não podia saber (Daniel 12.8; 1 Pedro 1.10,11).

A inspiração nem sempre implica em revelação. Toda a Bíblia foi inspirada por Deus, mas nem toda ela foi dada por revelação. Lucas, por exemplo, foi inspirado a examinar trabalhos já conhecidos e escrever o Evangelho que traz o seu nome (Lucas 1.1-4). O mesmo se deu com Moisés, que foi inspirado a registrar o que presenciara como relata o Pentateuco. Mas houveram sim partes que usam de revelação, vejamos exemplos de partes da Bíblia que foram dadas por revelações:

a) Os primeiros capítulos de Gênesis. Como escreveria Moisés sobre um assunto anterior a si mesmo? Vemos nesse mesmo livro José interpretando,

através da revelação de Deus, os sonhos de Faraó (Gênesis 40.8; 41.15,16,38,39).

b) Vemos Daniel declarando ao rei Nabucodonosor o sonho que este havia esquecido, e em seguida interpretando-o, através da revelação que havia recebido de Deus (Daniel 2.2-7,19,28-30).

c) Os escritos do apóstolo Paulo são outro exemplo de revelação. Paulo não andou com o Senhor Jesus. Gilberto (1986) diz que ele creu por volta do ano 35 D.C., porém, em suas epístolas, conduz-nos a profundezas de ensino doutrinário sobre a Igreja, inclusive no que tange a eventos futuros. Como teve Paulo conhecimento de tudo isso? Ele mesmo diz:

“Caros irmãos, quero que saibais que o Evangelho por mim ensinado não é de origem humana. Porquanto, não o recebi de pessoa alguma nem me foi doutrinado; ao contrário, eu o recebi diretamente de Jesus Cristo por revelação.” Gálatas 1.11-12

Tanto observando Gálatas 1.11,12 quanto Efésios 3.3-7 percebemos que Paulo recebeu sua mensagem por revelação. Nos seus escritos, há passagens onde essa revelação é bem patente, como em 1 Coríntios 11.23a, onde ele diz:

“Pois eu recebi do Senhor o que também vos entreguei” Quer ver outra coisa? Como já dito anteriormente: A Bíblia não mente. A Bíblia é um livro que trabalha somente com a verdade, por isso registra até mentiras que outros proferiram. Nesses casos, não é a mentira do registro que foi inspirada, e sim o registro da mentira. Por exemplo: A Bíblia registra que o insensato diz no seu coração "Não há Deus" (SaImos 14.1). Essa declaração "Não há Deus" não foi inspirada, até porque a Bíblia nos mostra que há um Deus, mas inspirado foi o seu registro pelo escritor1, no contexto específico.

1 Esse salmo foi escrito por Davi, no qual ele apresenta grande espanto com a corrupção produzida pelo pecado, mas é consolado com o fato de que Deus está entre os justos, que são aqueles que creem em Jesus Cristo como Senhor e Salvador, justificados por seu sangue e sua graça.

Outro exemplo marcante é o do caso da morte do rei Saul. Este morreu lançando-se sobre sua própria espada (1 Samuel 31.4), no entanto, o amalequita que trouxe a notícia de sua morte, mentiu, dizendo que fora ele quem matara Saul (2 Samuel 1.6-10). Vemos que o que se deu neste texto foi apenas o registro da declaração mentirosa do amalequita, mas isso não significa que a Bíblia minta.

Há muitos desses casos que os inimigos da Bíblia aproveitam para desfazer dos santos escritos. A Bíblia registra, inclusive, declarações de Satanás. Suas declarações não foram inspiradas por Deus, e sim o registro delas. Sansão mentiu mais de uma vez a Dalila; a Bíblia não abona isso, apenas registra o fato (Juízes 16). Não há erros na Bíblia, Gilberto (1986) escreve:

“Não há na Bíblia contradição doutrinária, histórica ou científica. Uma coisa maravilhosa é que esta unidade não jaz apenas na superfície; quanto mais profundo for o estudo, tanto mais ela aparecerá. Há, é certo, na Bíblia, aparentes contradições. Seus inimigos sustentam haver erros nela em grande quantidade. Mas o que acontece é que estando alguém com uma trave no olho (Mt 7.3-5), sua visão fica deformada. Um espírito farisaico, ceticista e orgulhoso, sempre achará falhas na Bíblia, geralmente porque já se dirige a ela com idéias preconcebidas e falsas. Há uma história interessante de uma senhora que estava falando das roupas amarelas que sua vizinha punha a secar no varal, porém, na semana seguinte, lavando ela sua vidraça e olhando para fora, disse - a vizinha mudou muito; suas roupas estão alvas agora... Mas eram suas vidraças que estavam sujas! A diferença estava aí.” (GILBERTO, 1986, p.22-23)

Ouço muitas pessoas dizer que as traduções dos dias de hoje estão deturpadas do sentido original, o que não é verdade. As traduções foram sempre feitas com muito cuidado e atenção para que não se deturpasse o sentido original.

Gilberto (1986) diz que havia um cuidado extremo na preparação e preservação dos manuscritos. O escriba não podia escrever uma só palavra de

memória. Tinha de pronunciar bem alto cada palavra antes de escrevê-la. Tinha de limpar a pena com muita reverência antes de escrever o nome de Deus. As letras e palavras eram contadas. Um erro numa folha inutilizava-a. Três erros numa folha inutilizavam todo o rolo. As traduções foram feitas com muita cautela2 .

Grandes mestres no estudo das Escrituras nos alertam que durante a leitura bíblica, é preciso verificar: quem está falando, para quem está falando, para que tempo está falando, e em que sentido está falando.

O valor da Bíblia vai além do valor dado pelo ser humano. A palavra de Deus não é uma palavra morta ou ineficaz. Ela possui vida. E por ter vida nela mesma, ela produz efeitos. Está escrito:

“Porquanto a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes; capaz de penetrar até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é sensível para perceber os pensamentos e intenções do coração.” Hebreus 4.12

Qual é o objetivo em dizer que a Palavra de Deus penetra a ponto de dividir alma e espírito? O objetivo é que a palavra de Deus nos revele a verdade sobre nós mesmos. Somos espirituais ou naturais? Somos nascidos de Deus e espiritualmente vivos, ou estamos nos enganando e mortos espiritualmente? Os "pensamentos e intenções de nossos corações" são pensamentos e intenções espirituais ou apenas pensamentos e intenções naturais. Apenas a "palavra de Deus" pode "julgar os pensamentos e intenções do coração" conforme diz Hebreus 4.12. Confirmando essa ideia, John Piper (2020) escreveu:

2 Se, em último caso, alguma falha for encontrada em alguma tradução da Bíblia, será sempre do lado humano. Portanto, se encontrarmos em alguma tradução da Bíblia um trecho discrepante, não podemos pensar logo que é erro! Saibamos refletir como Gilberto (1986) que explica que em um caso desses, ou ocorreu um mínimo erro do copista (já que as Bíblias antes de serem distribuídas são cuidadosamente revisadas por equipes de teólogos das distribuidoras bíblicas) ou então sou eu mesmo que não estou conseguindo entender aquele texto.

“Falando de forma prática, quando lemos ou ouvimos a "Palavra de Deus", nos sentimos penetrados. O efeito dessa penetração é revelar se há espírito ou não. Há medula e vida em nossos ossos? Ou somos apenas um "esqueleto" sem vida na medula? Há um "espírito" ou apenas "alma"? A palavra de Deus penetra fundo o suficiente para nos mostrar a verdade de nossos pensamentos e motivações, e do nosso ser.

Se entregue à palavra de Deus na Bíblia. Use-a para conhecer a si mesmo e confirmar sua própria vida espiritual. Se houver vida, haverá amor e alegria e um coração disposto a obedecer a palavra. Se entregue à essa palavra para que suas palavras se tornem a palavra de Deus para os outros e revele a eles a própria condição deles. Assim, derrame o bálsamo da palavra na ferida feita pela palavra.” (PIPER, 2001, p.1)

É um livro especial. É como Cole (2004) diz:

“Este livro veio de Deus e nos conduz a Deus. Sei que Ela veio de Deus, pois trata de assuntos além do intelecto humano. A Bíblia mostra o caminho a Deus, e como alguém pode se tornar justo diante da Santa lei de Deus. Ela é o manual da vida e conduta. Não foi dada como adorno à biblioteca, mas como guia da vida. Leia este livro para tornar-se sábio, creia nela para ter segurança e pratique seus ensinos para ser santo. Como alguém disse: “conheça a Bíblia na mente, guarde-a no coração, mostre-a na vida, e semeie-a no mundo”. (COLE, 2004, p.25)

As profecias cumpridas dão testemunho da origem Divina da Bíblia. Profecia é a predição de eventos antes que se cumpram. Esta é a prova da revelação Divina. O apelo de Deus ao cumprimento de profecias é notório através da Bíblia (Deuteronômio 18.22; Isaías 41.21-23; 2 Pedro 1.19-21).

Os homens fazem, às vezes, predições gerais concernentes ao futuro, que muitas vezes não se cumprem. Entretanto, a Bíblia contém centenas de

profecias, que foram cumpridas literalmente, centenas de anos após serem escritas. Vou dar um exemplo:

Uma profecia que tratava de Josias, um rei de Judá, que reinou de 637- 608 a. C. Quando Jeroboão encontrava-se ao lado de seu altar para queimar incenso, um profeta desconhecido mandado por Deus veio de Judá e clamou contra o altar com estas palavras:

“E, por determinação de Yahweh, gritou contra o altar esta condenação: “Altar, altar! Assim fala Yahweh, o SENHOR: Eis que na casa de Davi nascerá um filho chamado Josias, que

imolará sobre ti os sacerdotes dos altares idólatras que, hoje queimam incenso aqui, e ossadas humanas serão

queimadas sobre ti mesmo!” 1 Reis 13.2

A data desta profecia foi 975 a. C. Aqui temos a predição do nascimento, nome e feito de um futuro rei de Judá, que aconteceu três séculos e meio mais tarde. O cumprimento desta profecia se encontra registrado na Bíblia:

“Josias também derrubou o altar que ficava em Betel e o altar construído sob as ordens de Jeroboão, filho de Nebate, que havia conduzido Israel ao erro e ao pecado. Ele queimou o altar, reduzindo-o a pó, e queimou o posteídolo. Contemplando o seu redor, Josias observou as sepulturas que estavam ali no monte; mandou tirar delas os ossos, e os queimou sobre o altar pagão, e assim o contaminou e o desonrou, segundo a Palavra

de Yahweh proclamada pelo homem de Deus que predisse tudo quanto estava acontecendo.”

2 Reis 23.15-16

O cumprimento aconteceu em 624 a. C., ou 351 anos após a profecia ser feita. Ainda temos muitos outros exemplos de profecias bíblicas que já foram cumpridas, outras que estão se cumprindo e outras que ainda vão se cumprir (Mateus 24).

As profecias concernentes a Cristo também são um tanto quanto impressionantes. Ele é um dos grandes assuntos da profecia – como já dito acima (Apocalipse 19.10; Hebreus 10.7). Miquéias predisse Seu lugar de nascimento (Miquéias 5.2). Isaías disse que Sua mãe seria uma virgem (Isaías 7.14). Temos várias profecias de coisas a respeito de Sua morte no Salmo 22 e em Isaías 53. No Salmo 16.10 encontramos uma profecia sobre Sua ressurreição. O detalhe é: todas essas se cumpriram, e muitas ainda se cumprirão!

A Bíblia também como nenhum outro livro, tem suportado os ataques malévolos de seus inimigos. Muitos têm procurado queimá-la, proibi-la e tornála ilegal, desde os dias dos imperadores romanos até os dias de hoje, em alguns países. Voltaire, o renomado francês, que morreu em 1778, afirmou que, cem anos depois dele o cristianismo estaria varrido da face da terra e teria passado à História. Mas aconteceu que, Voltaire passou à História, ao passo que a circulação3 da Bíblia continua a aumentar em quase todas as partes do mundo, levando bênçãos aonde quer que vá (MCDOWELL, 1972).

Penso que se a Bíblia fosse um livro comum, de origem humana, com certeza já estaria extinta, se tornando ultrapassada com o tempo. No entanto, apesar de sua “idade”, continua muito moderna para os tempos atuais, o que evidencia seu valor. Gilberto (1986) confirma essa ideia:

“O tempo não afeta a Bíblia. É o livro mais antigo do mundo e ao mesmo tempo o mais moderno. Em mais de 20 séculos o homem não pôde melhorá-la. Se a Bíblia fosse de origem humana, é claro que em dois milênios, ela de há muito estaria desatualizada. Uma vez que o homem moderno se jacta de

3 Percebe-se grande singularidade em relação a sua circulação, porque a Bíblia tem sido lida por mais pessoas e publicada em mais língua do que qualquer outro livro. Existem mais cópias impressas de toda a Bíblia e mais porções e seleções dela do que de qualquer outro livro em toda a história. Em termos absolutos não existe qualquer livro que alcance, ou que mesmo comece a se igualar à Bíblia, em termos de circulação (EBESP, 2000).

tanto saber, era de esperar que já tivesse produzido uma Bíblia melhor! Realmente isto é uma evidência da Bíblia como a Palavra de Deus! Tendo em vista o vasto progresso alcançado pelo homem, especialmente nos dois últimos séculos, só podemos dizer que, se ele não produziu um livro melhor, para substituir a Bíblia, é porque não pôde. Muitos também reclamam por não ser estritamente científica a linguagem da Bíblia. Ora, a Bíblia trata primeiramente da redenção da humanidade. Além disso, termos científicos mudam ou ficam para trás, à medida que a ciência avança. Sempre temos termos novos na Ciência.”

(GILBERTO, 1986, p.26)

Wilbur Smith (1961), que formou uma biblioteca pessoal de 25.000 volumes, chegou a uma conclusão: “esse é o livro mais notável que já foi produzido nestes aproximadamente cinco mil anos que a raça humana domina a escrita”. Billy Graham em seu livro “Em paz com Deus” (1984) afirmou:

“Deus fez com que a Bíblia fosse escrita com o propósito explícito de revelar ao homem seus desígnios para a redenção. Deus fez com que este Livro fosse escrito, para que pudesse tornar Suas leis, eternas, claras para Seus filhos, e para que estes pudessem ter Sua grande sabedoria para guiá-los e Seu grande amor para confortá-los à medida que caminham pela vida. Pois sem a Bíblia, este mundo seria de fato um lugar escuro e assustador, sem sinalização ou farol.” (GRAHAM, 1984, p.18).

Deus se revela a nós na Bíblia. Na Bíblia temos uma revelação de Deus, e com base nela, podemos satisfazer nossas mentes e saciar nossos corações (Hebreus 4.12). Podemos ficar seguros de que temos a resposta certa, de que estamos a caminho do conhecimento e do entendimento da verdadeira natureza de Deus (João 5.39; Provérbios 30.5-6).

Não é somente interessante, mas instrutivo também ver os símbolos ou figuras sob as quais a Palavra de Deus é estabelecida. Perceba:

METÁFORAS OU SÍMBOLOS DA PALAVRA DE DEUS

1 - Ela é assemelhada a uma lâmpada ou luz. Vejamos:

“Tua Palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho!”

Salmos 119.105

Quando alguém anda na escuridão a chance de tropeçar é muito grande. Quando se tem luz para poder enxergar onde se pisa, os passos se tornam muito mais firmes e a caminhada muito mais segura. O salmista aqui fala da Palavra de Deus como sendo a luz que ilumina nossa vida e nos conduz pelo caminho correto. Está escrito:

“Porquanto, o mandamento é lâmpada, o ensino é luz, e as advertências da disciplina são o caminho que conduz à vida.” Provérbios 6.23

Aqui é interessante perceber que o salmista diz: “lâmpada que ilumina os meus passos”. Isto significa que o salmista sabia que não era qualquer tipo de palavra que poderia lhe prover luz para os seus passos. A única lâmpada que fornece a verdadeira luz que precisamos é a Palavra de Deus – a Bíblia.

Ao falar sobre a superioridade da Palavra de Deus, o apóstolo Pedro escreve:

“Sendo assim, temos ainda mais concreta a Palavra dos profetas, e fazeis muito bem em prestar atenção a ela, como a uma candeia que brilha nas trevas, até que todo o dia se ilumine e a estrela da alva nasça em vossos corações.” 2 Pedro 1.19

Conegero (2020) ainda diz que a Palavra de Deus é moralmente o mesmo que uma lâmpada ao homem fisicamente. Este mundo se encontra num estado de escuridão moral, mas a Palavra de Deus é a luz, brilhando em um lugar de escuridão (Salmos 119.130).

2 – Ela é assemelhada a um instrumento de purificação. Isso acontece por meio da água e do fogo:

“Maridos, cada um de vós amai a vossa esposa, assim como Cristo amou a sua Igreja e sacrificou-se por ela, a fim de santificá-la, tendo-a purificado com o lavar da água por meio da Palavra.”

Efésios 5.26

O mesmo livro que nos revela nossa sujeira moral (Romanos 3.23; 6.23; Eclesiastes 7.20), providencia também o banho:

“Como pode um jovem conservar puro o seu caminho? Vivendo-o de acordo com a tua Palavra.”. Salmo 119:9.

“Vós já estais limpos, pela Palavra que Eu vos tenho transmitido.” João 15:3.

Nolasco (2015) disse: “A Palavra de Deus é como água porque limpa as nossas vidas do Pecado. Davi quando pecou se viu como sujo e clamou ao Senhor que o lavasse (Salmos 51.2,7)”. A palavra de Deus também é como fogo que purifica e queima todo mal e pecado (Deuteronômio 4.33), por isso que o próprio Deus disse:

“Não é a minha Palavra como o fogo mais poderoso?”, indaga Yahweh, “e como uma marreta que despedaça a rocha?”

Jeremias 23.29

A melhor maneira de quebrantar os corações de pedra é com a Palavra de Deus. Não há coração duro demais para a Palavra, quando tocado pelo Espírito. Ela fez o carcereiro de coração duro perguntar: “Que é necessário que eu faça para me salvar” (Atos 16.30)?

3 – A Palavra de Deus é como uma semente:

"Eis, portanto, o esclarecimento desta parábola: A semente é a Palavra de Deus.” Lucas 8.11

Jesus falou isso quando explicava às pessoas o significado da parábola do semeador. A parábola é simples: Jesus falou sobre um homem que saiu a

semear. Enquanto o homem semeava, uma parte das sementes caiu ao pé do caminho. Então vieram as aves e comeram as sementes que caíram.

Outra parte das sementes caiu em meio às pedras, onde não havia terra suficiente. Essas sementes logo germinaram, mas foram queimadas rapidamente pelo sol, porque não tinham raízes. Outra parte das sementes acabou caindo entre espinhos. Os espinhos cresceram e acabaram sufocando as sementes que tinham caído ali. Finalmente outra parte das sementes caiu em boa terra. Essas sementes germinaram, cresceram e deram fruto: um, a cem; outro, a sessenta; e outro, a trinta (Mateus 13-3-9).

A semente da Parábola do Semeador é uma representação da Palavra de Deus – como já dito acima. O semeador é uma figura do próprio Cristo e, consequentemente, de todo aquele que se ocupa do serviço de proclamar o Evangelho. Os solos citados na Parábola do Semeador, cada qual com sua particularidade, são uma indicação do coração humano e suas diferentes reações ao Evangelho (CONEGERO, 2020). O homem que recebe essa semente de bom grado, frutifica (Mateus 13.8).

As palavras dos homens têm poder:

“A língua tem poder sobre a vida e sobre a morte; os que a usam habilmente serão recompensados.” Provérbios 18.21

Elas comunicam sentimentos e ideias, criam culturas inteiras, levam homens à paz ou à guerra, mudam o curso da história, matam ou vivificam. Se a palavra dos seres humanos tem esse poder, quanto mais a Palavra de Deus (Apocalipse 1.3). Earnhart (2017) escreveu:

“Esta parábola está nos dizendo, em linguagem simples, que a própria palavra de Deus é a semente germinante da vida (Filipenses 2.16), e não a palavra mais algumas misteriosas obras do Espírito Santo. É por esta própria palavra viva, que transmite energia, que o Espírito Santo não somente nos leva ao renascimento espiritual (Efésios 1.13; 1 Pedro 1.23-25), mas nos transforma na imagem do Filho de Deus. E tudo isto é

possível porque em suas palavras Deus nos abriu seu coração e derramou as profundezas de sua verdade e graça (1 Coríntios 2.10-13). No evangelho, ele nos fez olhar na face de nosso crucificado Salvador (2 Coríntios 3.18). E isso tem poder!” (EARNHART, 2017, p.1)

4 – Claro que ainda existem muitos outros símbolos da Palavra de Deus, tais como:

- Espelho (2 Coríntios 3.18; Romanos 3.19; Tiago 3.25)

- Alimento (Jó 23.12; João 6.32-35)

- Espada do Espírito (Efésios 6.17)

Deus se revela ao ser humano principalmente através da Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus e nela Deus nos revela quem Ele é. Por isso, vamos nos ater nos próximos capítulos em compreender:

Quem é o Deus da Bíblia? Como Ele é? Como é o nome Dele? O Diabo realmente existe? Como ele trabalha? Existe realmente céu e inferno? Por que nem todos vão para o céu? Por que o inferno existe? Se Deus é bom, por que vemos no mundo tanto sofrimento e dor? Qual a explicação das tragédias e de todo o mal que vemos no mundo? Por que se diz que Jesus morreu por nós? O que significa dizer que Ele vai voltar?

Pretendo, ao final desta leitura, te deixar a par da resposta bíblica para cada um destes questionamentos. Vamos por partes:

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