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Capítulo 8: A morte e ressureição de Jesus Cristo

CAPÍTULO 8: A MORTE E RESSUREIÇÃO DE JESUS CRISTO

O estudo da morte e ressureição de Jesus é muito importante, tendo a ver com o destino eterno da alma do homem. Huckabee (2018) explica que por causa de sua importância, tanto para a glória de Deus quanto para a esperança do homem, esse assunto há muito é alvo dos esforços malignos de Satanás, com o resultado de que é muitas vezes enfeitado com ideias carnais e errôneas (2 Coríntios 4.4). Por que Jesus precisou morrer na cruz para que tivéssemos nossos pecados perdoados?

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Concordo com o autor citado acima quando ele diz que é necessário ter uma perspectiva correta acerca do pecado. Ele diz que uma coisa que tenha levado a mais teorias errôneas acerca da expiação do que qualquer outra coisa é uma perspectiva falha sobre o pecado, pois não dá para se entender de modo correto a expiação sem que se tenha uma perspectiva correta sobre o pecado. Enquanto uma pessoa tiver uma opinião fraca sobre o pecado, sua opinião acerca da expiação de Cristo será de modo correspondente fraca e falha (HUCKABEE, 2018).

Se o homem jamais tivesse pecado, não haveria necessidade de uma expiação de espécie alguma; por outro lado, se a queda do homem não lhe fez mais mal do que uma ferida superficial no joelho ou uma unha encravada, espiritualmente falando, então é claro, a expiação necessária para consertar esse prejuízo naturalmente não seria muito importante. O Dr. J. M. Pendleton (1878) diz:

“Se o pecado não tivesse existido, não teria havido nenhuma expiação. Se não tivesse havido expiação, saberíamos bem menos de todos atributos divinos do que sabemos hoje, e consequentemente muito menos do caráter divino. Assim parece que a existência do pecado, a coisa abominável que Deus odeia, foi de tal forma anulada a ponto de dar ao universo perspectivas mais sublimes e abrangentes da perfeição de Deus. Essa é a maravilha das maravilhas.”

(PENDLETON, 1878, p.237)

Como já dito antes, considerando a partir do ponto de vista humano, o pecado é a maior calamidade que poderia sobrevir à humanidade. Concordo com as premissas estabelecidas por Huckabee (2018) para explicar a expiação, premissas essas que já foram explicadas com maior detalhe nos capítulos anteriores:

1 – A raça humana inteira estava verdadeiramente em Adão, na sua semente, e quando ele foi colocado no jardim do Éden, foi uma representação federal, ou seja, ele representou a todos (Romanos 3.23; 5.12).

2 - Adão pegou o fruto proibido no jardim de forma consciente, e que seu ato não foi inconsequente, mas foi uma rebelião absoluta contra a vontade claramente revelada de Deus, e foi de fato o homem declarando sua independência de Deus (Gênesis 3).

3 - Esse ato estava carregado das consequências mais terríveis (Gênesis 2.17), pois trouxe um estado de apostasia em todas as pessoas, de modo que desde esse tempo em diante todos os filhos de Adão nasceriam no mundo com uma aversão a Deus e uma vontade inclinada para com o pecado (Gênesis 8.21; Salmos 51.5).

4 - Essa condição, sendo forjada na própria constituição natural do homem não dá para modificar nem remediar, mediante nenhuma sabedoria, obra ou vontade interna do próprio homem (Romanos 7.21).

5 - Esse estado de depravação se estende totalmente a todas as faculdades do homem, colocando-as debaixo do domínio do pecado, de modo que “Não há um justo, nem um sequer” (Romanos 3.10,12). O que se quer dizer com depravação total não é que toda pessoa já é tão má quanto possa ser, mas apenas que por natureza não há nada de bom em nós (Romanos 7.24).

6 - A vontade, intelecto e emoções do homem estão completamente num estado de escravidão pecaminosa da qual não podemos nos libertar e nem

podem funcionar de um modo espiritual a não ser se a graça de Deus entrar em atividade (Efésios 2.8-9).

7 - A única solução possível para esse estado horrível do homem está em um plano que foi originado, operado e comprado divinamente para remover a pecaminosidade do homem e para recriá-lo em santidade. Esse plano divino conhecemos pelo nome de expiação.

Van der Staal (2020) explica que expiação significa fazer o que é necessário para trazer a reconciliação ou a reunião de duas partes que estão em desacordo. Envolve fazer reparações, ou pagar uma compensação por uma transgressão, um erro ou uma lesão. É o nivelamento de um desequilíbrio criado pelo erro.

A expiação de Cristo é a obra redentiva de Deus em favor do homem pecador. J. M. Pendleton (1878) define a expiação:

“É óbvio que a expiação é aquilo que conserta um dano, dá satisfação, faz reparação. Com essa perspectiva da importância do termo, vamos considerar a expiação de Cristo. O que é? É a expiação do pecado mediante a satisfação prestada à lei e justiça de Deus mediante a obediência e morte de Cristo.”

(PENDLETON, 1878, p.223)

E. G. Robinson (1894) dá uma definição de certo modo mais abrangente acerca da expiação quando diz:

“A palavra expiação é usada com grande extensão de significado; para denotar o que os estudiosos queriam dizer com satisfação e o que as Escrituras querem dizer com propiciação e reconciliação; uma palavra que tem dois lados, representando, com relação a Deus, a expiação da culpa, e, com relação ao homem, sua reconciliação com Deus. Por ser uma reconciliação, deve-se entender o termo, quando empregado para designar o ofício sacerdotal de Cristo, como incluindo, como seu sacerdócio, tudo o que ele realizou por nós

em sua vida bem como tudo o que ele conquistou para nós em sua morte. A expiação de Cristo foi sua inteira obra objetiva na terra, garantindo naqueles que crêem nele sua renovação subjetiva, e assim a salvação final deles.” (ROBINSON, 1894, p.255)

Billy Graham (1968) escreveu acerca da importância da expiação:

“Na morte de Cristo na cruz, Deus e o homem, que estavam separados pelo pecado, foram unidos pela cruz. Se os pecados do homem pudessem ter sido perdoados de qualquer outro modo, Deus não teria permitido a Seu Filho ir ter à cruz. Se os problemas do mundo pudessem ter sido resolvidos de algum outro modo, Deus não teria permitido a morte de Jesus.” (GRAHAM, 1968, p.130)

Vamos entender: Adão foi o primeiro pecador, mas ele pecou também na posição como representante. Portanto, foi inteiramente natural que a primeira promessa da expiação lhe fosse dada. Por isso, está escrito que o Senhor disse à serpente na presença de Adão e Eva:

“Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o descendente dela; porquanto, este te ferirá a cabeça, e tu lhe picarás o calcanhar”. Gênesis 3.15

Entretanto, não só foi dada essa promessa, que incorporava a expiação, mas também a expiação era de forma descritiva representada diante dos olhos de Adão e Eva quando:

“Fez Yahweh Deus túnicas de pele e com elas vestiu Adão e Eva, sua mulher.” Gênesis 3.21

Aqui a Bíblia descreve a expiação de modo belo em que:

1 - A nudez representa o estado espiritual do pecador diante de Deus — desprovido de qualquer cobertura de justiça, e incapaz de prover tal cobertura para seus pecados.

2 - Deus cuidou desse assunto todo; o homem nada fez para remediar sua situação.

3 - Essas vestes de pele exigiam a morte de animais e o derramamento de seu sangue a fim de cobrir esse casal culpado, e tudo isso prefigura a crucificação do imaculado Cristo para que pudéssemos ser purificados de nossos pecados, e para que Sua justiça fosse imputada ao homem culpado, de modo que ele possa ficar na presença de Deus, plenamente aceito.

Percebemos que Adão e Eva entendiam o aspecto espiritual porque Abel tinha consciência da necessidade de um cordeiro morto para um sacrifício expiatório (Gênesis 4.4) e ele só podia ter essa consciência como resultada dos ensinos de seus pais ou de uma revelação direta de Deus (Hebreus 11.4). Huckabee (2018) diz que:

“Quase desde a abertura do livro de Gênesis vemos um sistema de sacrifícios que os homens ofereciam a Deus a fim de aplacar a ira dEle por seus pecados, e até hoje em terras em que a religião cristã não tem grande influência há ainda o costume de se oferecer sacrifícios aos deuses locais. É natural à própria natureza do homem a disposição de adorar algo, e embora a queda tenha pervertido a adoração pelo homem, ele ainda sente a necessidade de algum tipo de sacrifício expiatório. Os primeiros sacrifícios que o homem fez dos quais temos registro são quando Caim e Abel trouxeram seus sacrifícios ao Senhor (Gênesis 4), mas o ato de imolar animais a fim de se fazer vestes de pele para Adão e Eva em Gênesis 3:21 era, como dissemos antes, um ensino da expiação de sangue. Essa foi, assim cremos, a fonte de conhecimento que, em grande parte, Caim e Abel tinham acerca da adoração; eles haviam aprendido com seus pais a adorar a Deus por meio de um sacrifício sanguinoso, mas Caim, como tantas pessoas hoje, não queria confessar que precisava de um sacrifício

expiatório, e assim trouxe uma oferta de gratidão das obras de suas próprias mãos. A instituição original do sistema sacrificial era de Deus, e tinha como objetivo servir de símbolo até que se cumprisse em Cristo.” (HUCKABEE, 2018)

Pendleton (1878) diz que o rito sacrificial foi ordenado por Deus logo após a queda do homem. Lemos que Abel ofereceu a Deus um sacrifício mais excelente do que Caim - ele colocou no altar um dos primogênitos de seu rebanho (Gênesis 4.4). Ele se aproximou de Deus por meio de sangue. Abraão ofereceu sacrifícios (Gênesis 22.13), e Jó fez a mesma coisa (Jó 1.5).

No monte Sinai, houve um aumento do sistema sacrificial, muitas adições lhe foram acrescentadas, e fez-se provisão para maior regularidade e solenidade em suas ofertas (Levítico 1-27). O que é nos é esclarecido na epístola aos Hebreus é que todos os sacrifícios das eras patriarcais e judaicas prefiguravam o único Sacrifício na cruz, todo altar enviava seu sangue e fumaça na direção do Calvário. Os rios de sangue animal tipificavam o sangue de Jesus. Os muitos sacrifícios chamavam a atenção para o único sacrifício a ser oferecido “na consumação dos séculos” (Hebreus 9.26).

Conforme já falado acima, o sistema sacrificial era mais simplificado antes da entrega da lei de Moisés, após o que o sistema foi ampliado e se tornou mais detalhado11 . Huckabee (2018) explica que deveria ter havido essa referência antecipatória da morte expiatória de Cristo, pois caso contrário todos os regulamentos sacrificiais teriam sido sem significado. E em relação aos sacrifícios houve uma significância nítida. A Epístola aos Hebreus prova

11 Havia cinco grandes ofertas ordenadas sob a administração mosaica, e Levítico capítulo 1 a 5 descreve com detalhes essas ofertas. As cinco eram a oferta queimada, a oferta de alimentos, a oferta do sacrifício pacífico, a oferta da expiação do pecado e a oferta da expiação da culpa. Se perguntassem o motivo por que havia necessidade de mais de uma oferta sacrificial, creio que a resposta está em duas coisas: as necessidades do homem são múltiplas porque o pecado operou imenso mal. E segundo, várias ofertas são necessárias para que tipifiquem de modo adequado tudo o que Cristo realizou com Sua obra expiatória.

suficientemente desse ponto de vista do assunto. Dale (1896) em seu livro “The Atonement (A Expiação)” explica:

“Todas as ofertas não eram de uma espécie. Algumas delas tinham a intenção de expressar, como suas ideias principais, a entrega perfeita da alma a Deus; outras tinham como intenção expressar a feliz comunhão com Deus e sinceras ações de graça. Mas havia uma categoria de sacrifício — uma categoria separada em dois grupos — que tinha como objetivo específico fazer expiação por certos tipos de crimes contra a lei de Moisés. O infrator trazia seu sacrifício ao sacerdote, e a oferta do sacrifício garantia o perdão.” (DALE, 1896, p.84-85)

I. M. Haldeman (1925) explica essa relação entre as 5 ofertas do livro de Levítico com o sacrifício de Jesus:

a) Na oferta queimada temos Cristo se entregando para Deus como sacrifício de cheiro suave:

“e andai em amor como Cristo, que também nos amou e se

entregou por nós a Deus como oferta e sacrifício com

aroma suave.”

Efésios 5.2

Conforme mostra Levítico 1.3-4, a oferta12 tinha de ser sem mancha, tinha de ser oferecida voluntariamente, tinha de ser oferecida à entrada do tabernáculo e o ofertante tinha de colocar a mão na cabeça da oferta para mostrar sua ligação com ela. No caso de ofertas menores, como ovelhas ou pombas, esses requisitos diferiam. Contudo, cada uma delas se chama “oferta queimada, de cheiro suave ao SENHOR” (Levítico 1.9,13,17).

12 A oferta queimada poderia ser qualquer um de vários animais, ou até mesmo de pombos, de modo que ninguém era impedido de ofertar por causa de pobreza, mas a oferta tinha de ser feita de certa maneira para que a representação não fosse distorcida (Levítico 5.6-7).

Huckabee (2018) explica que como tal, descrevia a devoção absoluta de Cristo à vontade do Pai (Efésios 5.2). Esse versículo revela que essa oferta se cumpriu na obra redentiva de Cristo. Sua devoção à vontade do Pai é revelada em vários lugares (João 4.34; Mateus 26.39; Hebreus 10.7). A expiação não só foi decidida e decretada por Deus o Pai, mas também foi missão voluntária do Filho. O próprio falando de sua vida, disse:

“Ninguém a tira de mim; antes Eu a entrego de espontânea vontade. Tenho poder para entregá-la, e poder para retomála.”

João 10.18

b) Na oferta da expiação do pecado temos Cristo se entregando por nós:

“Ele, que se entregou a si mesmo por nós para nos remir de toda maldade e purificar para si um povo todo seu, consagrado às boas obras.”

Tito 2.14

“Fui crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E essa nova vida que agora vivo no corpo, vivo-a exclusivamente pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim.” Gálatas 2.20

Segundo Huckabee (2018) a oferta da expiação do pecado era suprida para lidar com a natureza pecadora, ou princípio de pecado. A oferta da expiação do pecado era para lidar com a raiz do pecado. A oferta da expiação do pecado devia ser feita para todas as classes de pessoas, e detalham-se quatro exemplos específicos (Levítico 4.3,13,22,27), pois embora haja diferença no grau de pecado em diferentes pessoas, não há diferenças no fato do pecado, pois está escrito:

“Qual a conclusão? Estamos nós em posição de vantagem? Não! Já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão todos subjugados pelo pecado.“ Romanos 3.9

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” Romanos 3.23

No caso de um sacerdote pecando ou a congregação inteira pecando, o touro era levado para fora do acampamento e queimado, e assim uma expiação era feita e seus pecados eram perdoados (Levítico 4.20-21). Até nisso vemos a perfeição do sacrifício de Jesus, pois ele também foi levado para fora da cidade:

“O sumo sacerdote leva sangue de animais até o Santo dos Santos, como oferta pelo pecado, mas os corpos dos animais são queimados fora do acampamento. Por isso, para santificar o povo por intermédio do seu sangue, Jesus igualmente sofreu fora da porta da cidade.” Hebreus 13.11-12

c) Na oferta do sacrifício pacífico temos Cristo nos reconciliando e nos trazendo a Deus:

“E a vós outros também que, no passado, éreis estranhos e inimigos de Deus conforme demonstrado pelas obras más que praticáveis, agora, entretanto, Ele vos reconciliou no corpo físico de Cristo, por meio da morte, para vos apresentar santos, inculpáveis e absolvidos de qualquer acusação diante dele.”

Colossenses 1.21-22.

Levítico 3 apresenta a oferta de sacrifício pacífico, que descreve mais o resultado da obra expiatória de Cristo do que a própria obra. A oferta poderia ser um macho ou fêmea, ou um boi, ovelha ou bode, mas tinha de ser sem mancha (v.1). O ofertante tinha que se associar a essa oferta colocando sua mão sobre a cabeça dela, então depois que a oferta era feita tanto o ofertante quanto o sacerdote recebiam uma parte do animal para comer. Acerca disso, escreveu I. M. Haldeman (1925):

“Sua característica peculiar é que o ofertante e o sacerdote cada um recebia uma parte dela. Devia ser comida diante do

Senhor. Comer diante do Senhor é ter comunhão com o Senhor. É um quadro de Deus e o pecador em paz um com o outro, todas as questões entre eles perfeitamente resolvidas. É paz na base de um sacrifício mutuamente aceito. É um quadro de reconciliação. Pela morte da cruz nosso Senhor Jesus Cristo satisfez a lei, o governo e a natureza divina. Em virtude dessa satisfação Ele reconciliou o mundo a Si; conforme está escrito: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados” (2 Coríntios 5:19).” (HALDEMAN, 1925, p.355)

Segundo Huckabee (2018) o ato de comer esse sacrifício descreve o ato de se apropriar da paz de Deus, mas não só a apropriação que ocorre pela fé no momento da salvação, porém em vez disso aquela constante apropriação dela em nossas vidas diárias, conforme está escrito:

“Portanto, havendo sido justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem obtivemos pleno acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmados, e nos gloriamos na confiança plena da glória de Deus.” Romanos13 5.1-2

A paz nos foi comprada pela obra expiatória de Jesus Cristo conforme declaram muitas passagens das Escrituras (Efésios 2.14-18; Colossenses 1.20-22; 1 Pedro 5.14; Lucas 7.50; Atos 10.36). Entretanto, para que possamos gozá-la de modo pessoal, temos de nos apropriar dessa paz pela fé de maneira pessoal no nosso cotidiano, como está escrito:

“Ó Yahweh, tu guardarás em perfeita paz aquele cujo propósito está alicerçado em ti, porquanto deposita em ti toda a sua confiança!” 13 Alguns manuscritos requerem que essa passagem seja traduzida assim “… tenhamos paz”, que frisa o fato de que temos de nos apropriar dessa paz diariamente (HUCKABEE, 2018).

Isaías 26.3

d) Na oferta da expiação da culpa temos Cristo fazendo provisão em Sua morte por nossos fracassos quando Ele recebe nossas confissões, trazendo-nos absolvição, completo perdão e purificação:

“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para

nos perdoar todos os pecados e nos purificar de qualquer

injustiça.” 1 João 1.9

Segundo Huckabee (2018) a oferta da expiação da culpa era para lidar com os pecados da natureza, ou práticas de pecado. A oferta da expiação da culpa era para lidar com o fruto do pecado.

A oferta da expiação da culpa é tratado em Levítico 5, e apresenta a provisão do Senhor para lidar com os frutos do pecado, onde vários exemplos dessa provisão são dados nos versículos 1-5. Neste capítulo, repete-se quatro vezes a declaração de que quando um homem oferecer uma oferta, o sacerdote fará expiação pelo seu pecado, e lhe será perdoado, o que mostra que o Senhor fez um sacrifício adequado, não só pelos pecados cometidos até o tempo da salvação, mas todos os pecados subsequentes também.

Entretanto, é claro, assim como o homem em Levítico 5 tinha de trazer sua oferta, e com isso confessar seu pecado antes que ele pudesse receber a garantia do perdão. É o que vemos em 1 João 1.7-10:

“Se, no entanto, andarmos na luz, como Ele está na luz, temos plena comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se declaramos que não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele

é fiel e justo para nos perdoar todos os pecados e nos

purificar de qualquer injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, nós o fazemos mentiroso, e sua Palavra não está em nós.”

Dá para se observar aqui como em Levítico 5 que o sangue que inicialmente purifica na salvação continua a purificar os pecados após a salvação, e aqui mais do que em qualquer das outras ofertas vemos a suficiência da expiação de Jesus e a conexão da expiação com perdão (Levítico 5.10,13,16,18).

e) A oferta de alimentos era a oferta sem sangue. Apresenta a nós todos os símbolos da pessoa e caráter do Senhor Jesus Cristo. Era composta de farinha fina. Era farinha que havia sido moída de modo completo, sem nenhuma pelota. Não havia nenhuma irregularidade nessa farinha. Mostra a humanidade perfeita e equilibrada do Senhor (João 14.6; Colossenses 2.9).

Haldeman (1925) ainda diz que a humanidade sem pecado de Jesus foi uma base necessária para Sua expiação vicária, pois nenhuma pessoa pecadora poderia ter morrido vicariamente na cruz (Levítico 1.3). C. H. MacIntosh (1877) disse:

“A oferta de alimento… apresenta, de um modo bem distinto, “o Homem Cristo Jesus”. Como a oferta queimada tipifica Cristo na morte, a oferta de alimento O tipifica na vida. Em nenhum dos dois casos há a questão de se levar pecados… Mas na oferta de alimentos, não há nem mesmo a questão de derramamento de sangue. Vemos simplesmente, nessa situação, um lindo tipo de Cristo conforme Ele viveu, andou e serviu aqui na terra.” (MACINTOSH, 1877, p.48)

Vale lembrar que Jesus disse que Ele é o pão da vida:

“Diante disso, Jesus ministrou-lhes: “Eu sou o Pão da Vida; aquele que vem a mim jamais terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede.” João 6.35

O fato de que a oferta de alimentos devia ser sem fermento (Levítico 2.11) descrevia a ausência de pecado em Jesus, pois Ele “se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus” (Hebreus 9.14), e Ele era “imaculado” (1 Pedro 1.19). Segundo Huckabee (2018) a colocação de óleo na oferta de alimento tipificava

a unção de Jesus com o Espírito Santo (Mateus 3.16; Atos 10.38; Hebreus 1.9; Isaías 61.1). Todas essas características eram necessárias para provar que Jesus era ideal para ser o sacrifício expiatório para os pecados do homem.

JESUS CRISTO COMO EXPIAÇÃO PERFEITA

Claro que podemos entender a perfeição da obra de Jesus em muitos outros textos do Antigo Testamento, como:

- Utensílios, materiais e pessoas envolvidas na adoração do tabernáculo (Êxodo 25-31).

- Festas sagradas (Páscoa; Pães Asmos; Primícias; Pentecoste; Trombetas; Expiação; Tabernáculos) em Levítico 23.

No entanto, visando tornar essa leitura a mais simples o possível, podemos tratar dessas coisas em outra obra, se Deus assim permitir. Pois bem, uma coisa que chama minha atenção é que a realização da Expiação foi exatamente no tempo certo, de acordo com o programa de Deus, pois muitas vezes vemos, no início da vida e ministério de Jesus, as palavras “Sua hora ainda não havia chegado” (João 2.4), mas à medida que a Páscoa final em Sua vida terrena se aproximava, lemos:

“Assim, pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo de Deus, em que partiria deste mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” João 13.1

E novamente:

“Todavia, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido também debaixo da autoridade da Lei, para resgatar os que estavam subjugados pela Lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.”

Gálatas 4.4-5

A. W. Pink (1969) explica que a “plenitude dos tempos” significa mais do que a chegada da hora decretada; significava o tempo em que todas as operações preliminares da providência divina haviam se completado, tempo esse em que o palco estava completamente preparado para esse evento sem paralelo, em que a necessidade do mundo havia sido demonstrada de forma total.

O advento do Filho de Deus a esta terra não foi um evento isolado, mas o clímax de uma longa preparação. Que Ele era agora “nascido de mulher” era o cumprimento do anúncio divino em Gênesis 3.15 e Isaías 7.14. Que Ele era “nascido sob a lei”, qual Seu povo havia quebrado, fornece a chave para aquilo que em outras circunstâncias seria um mistério inexplicável — aliás, esse fato lança abundante luz nas experiências mediante as quais Ele passou de Belém ao Calvário (Mateus 1-28; Marcos 1-16; Lucas 1-24; João 1-21).

Com Sua vida e morte extraordinária, Cristo realizou o que a mente do homem não poderia imaginar, muito menos realizar; a expiação é um empreendimento divino do começo ao fim. Alexander Carson (1853) bem diz:

“O homem tem feito muitos esquemas de justiça, mas a expiação de Cristo é o plano de justiça de Deus. Todos os esquemas de justiça que o homem inventou foram edificados em cima da lei, mas o plano de justiça de Deus é sem a lei. Embora esse plano satisfaça a lei, porém a lei não contém cláusula alguma para esse plano, que está completamente além da lei. A substituição de Cristo como sacrifício, embora honre a lei, é uma constituição soberana do grande legislador… O povo de Deus é justificado, não por sua própria inocência, ou por suas próprias obras, mas livremente por Seu favor. Esse favor, embora lhes chegue gratuitamente, porém chega mediante a redenção que está em Jesus Cristo.” (CARSON, 1853, p.74-75)

Concordo com Huckabee (2018) quando ele diz que esse foi o principal propósito de Cristo ao vir à terra, realizar a expiação por nós na cruz. É claro que Ele curou grandes multidões (Mateus 19.2), ensinou verdades maravilhosas às pessoas (Lucas 5.1), e nos revelou um Pai amoroso (João

3.16), mas todas essas características tinham relação secundária com Sua vinda, pois o principal propósito da Sua vinda era reconciliar nós, seres humanos pecadores a Deus Pai (Romanos 5.10.11).

Como já dito antes, vários textos das Escrituras falam especificamente de Jesus como um sacrifício reconciliador (2 Coríntios 5.18-21; Efésios 2.16; Colossenses 1.20 22), enquanto outros se referem a Ele como sacrifício expiatório (Romanos 3.25; Hebreus 2.17; 1 João 2.2; 4.10). Agora, por que esse sacrifício teve que acontecer em uma cruz14?

A cruz já havia sido preordenada como o instrumento da morte de Cristo desde muito tempo, pois Deus mandou:

“Se um homem, culpado de um crime que merece a pena de morte, é morto e suspenso a uma árvore, seu cadáver não poderá permanecer na árvore durante a noite; tu o sepultarás naquele mesmo dia, pois o que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição do desprezo de Deus. Sendo assim, não tornarás impura a terra que o Eterno, o SENHOR, teu Deus, te dá como herança!” Deuteronômio 21.22-23

E o cumprimento dessa profecia vem declarado em Gálatas 3.13:

“Foi Cristo quem nos redimiu da maldição da Lei quando, a si próprio se tornou maldição em nosso lugar, pois como está escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro.” Por isso que Jesus precisou morrer em uma cruz (madeiro), pois uma das partes principais da expiação era Cristo tomar nosso lugar e levar nossa maldição, já que somos todos pecadores “dignos do juízo de morte” (Deuteronômio 21.23).

14 Ao falar da “cruz” devemos ter em mente que a importância não se atribui à cruz literal em si, mas em vez disso usamos a cruz como metonímia — ou seja, uma figura de linguagem em que o nome de uma coisa é usado para aquilo que ela sugere ou para aquilo com que ela tem ligação (RIGONATTO, 2020).

O grande ato de condescendência de Jesus Cristo ao ir para a cruz é descrito em uma das epístolas de Paulo:

“o qual, tendo plenamente a natureza de Deus, não reivindicou o ser igual a Deus, mas, pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo plenamente a forma de servo e tornandose semelhante aos seres humanos. Assim, na forma de

homem, humilhou-se a si mesmo, entregando-se à

obediência até a morte, e morte de cruz.” Filipenses 2.6-8

Repetidamente se frisa o fato de que a cruz era o principal propósito da vinda de Jesus à terra, para realizar uma expiação que reconciliaria o homem a Deus. Uma grande importância da obra de Cristo na cruz é percebida quando vemos que nos trouxe a remissão de nossos pecados, conforme Jesus disse na instituição da Ceia Memorial:

“Em seguida tomou um cálice, deu graças e o entregou aos seus discípulos, proclamando: “Bebei dele todos vós. Pois isto é o meu sangue da aliança, derramado em benefício de muitos15, para remissão de pecados.” Mateus 26.27-28

R. W. Dale (1896) acerca disso escreveu:

“Ele declarou, aliás, que era para a remissão de pecados que Ele estava para morrer. A morte dEle poderia realizar outras finalidades, mas num tempo em que poderíamos com razão supor que a mente dEle estaria cheia dos objetivos principais e diretos da Sua paixão, esse é apenas um dos quais Ele fala. Seu sangue foi derramado “para remissão de pecados”. (DALE, 1896, p.69)

15 Por que Jesus aqui usou a palavra “muitos” em vez de “todos”? A resposta é: Porque a remissão de nossos pecados nos é dada através da fé em Jesus Cristo, e nem todos vão crer no Senhor, mas aos que crerem, serão remidos seus pecados (Efésios 1.7).

E é neste sentido que Huckabee (2018) explica que a morte que Ele morreu na cruz foi uma morte única; uma morte tão diferente que ninguém jamais teve tal experiência16 (Lucas 23.33). Ele morreu como vítima inocente (João 18.38), mas levando os pecados de muitos. Ele morreu voluntariamente, mas compelido pelo amor (João 10.18).

Ele morreu na cruz, mas até mesmo quando a vida de Seu sangue estava terminando, Ele era onipotente (Lucas 23.44-45). Aí estava o paradoxo dos paradoxos: o Criador sendo morto por Suas criaturas, mas essa morte era parte integral do plano de Deus, e necessário para a redenção do homem (Romanos 3.25; Hebreus 2.17; 1 João 2.2; 4.10; Apocalipse 13.8). Alexander Carson (1853) escreveu:

“Mas a glória da expiação brilha de modo ainda mais surpreendente em sua eficácia para salvar os pecadores, até no momento da morte, livrando-os dos próprios portões do inferno. Os sistemas mundanos de religião não podem dar esperança alguma aos pecadores envelhecidos na maldade; mas o evangelho fala com a alma, como se estivesse pairando sobre os lábios do pecador moribundo. A filosofia não pode dar conforto algum ao travesseiro do homem moribundo, sem hábitos de virtude formados durante muito tempo; e sem tempo para praticar boas obras a fim de dar eficácia ao arrependimento, a religião mundana não ousa falar com nenhuma confiança para o pecador que está morrendo. Mas com a confiança máxima o evangelho chama o espírito que está partindo para olhar para Jesus na cruz e ser salvo. Essa doutrina lança o descrédito máximo em cima da pretensão da virtude filosófica, e é pois abominada por todo homem que acha que a felicidade futura tem de ser a recompensa de um curso de dificuldades e disciplina com renúncias pessoais. Essa perspectiva não coincide com nenhum dos sistemas de sabedoria humana, que tornam a felicidade futura a questão de

16 Com isso não quero dizer que Jesus foi o único a enfrentar uma morte de cruz, até porque do lado Dele estavam dois criminosos (Lucas 23.33). Digo no sentido da forma como foi, sendo totalmente inocente.

uma vida virtuosa, de acordo com a adequação, natureza ou razão das coisas. É igualmente abominável para o religioso austero, que acumulou vastos tesouros para obter sua salvação a partir de seus primeiros hábitos religiosos ou os de longa data, sua piedade e sua mortificação.” (CARSON, 1853, p.119-120)

O melhor de tudo: Depois de três dias morto, Ele ressuscitou! Algumas mulheres que acompanhavam seu ministério foram ao sepulcro, e chegando lá o sepulcro estava vazio! Foi aí então que dois homens com roupas reluzentes disseram:

“Por que procurais entre os mortos Aquele que vive? Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos de como vos preveniu, enquanto ainda estava convosco na Galiléia.” Lucas 24.5-6

Ressuscitou e vivo está até hoje, para ser o meu e o seu melhor amigo (João 15.15). Quando consideramos essas coisas, não é de admirar que essa expiação completamente suficiente e graciosa seja desprezada e rejeitada pela vasta maioria do mundo religioso. Essa expiação remove toda razão para o homem ter orgulho e glória, e atribui tudo a Cristo somente para receber a devida glória. A grande canção de redenção que os santos glorificados cantam revela que é somente Cristo que é digno da glória da redenção do homem:

“E eles cantavam um cântico novo: “Tu és digno de tomar o livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus; e assim reinarão sobre a terra”. Apocalipse 5.9-10

Entendido isso, podemos então falar acerca dos dois caminhos que todos nós temos que escolher em nossas vidas. A Bíblia nos lembra de que nossos dias são como a relva, nossa vida aqui na terra passa muito rápido (Salmos 103.15). São recheados de pequeninos minutos dourados pela eternidade

(Eclesiastes 3.11). Somos exortados a redimir o tempo porque os dias são maus (Efésios 5.16).

Billy Graham (1984) explica que a vida é uma oportunidade gloriosa, se for usada para nos condicionar para a eternidade. Se falharmos nisto, embora possamos ter êxito em todo o restante, a nossa vida terá sido um fracasso. Não há escapatória para o homem que desperdiça a sua oportunidade de se preparar para seu encontro com Deus.

Quando este corpo morrer e a nossa existência terrena estiver terminada, a alma ou espírito viverá para sempre. Daqui a cem anos estaremos mais vivos do que estamos neste momento. A Bíblia prega que a vida não termina no cemitério (Hebreus 9.27). Existe uma vida futura com Deus para aqueles que confiam em Seu Filho, Jesus Cristo. No futuro também existe um inferno, separado de Deus, para aqueles que se recusam em receber o Seu Filho, Jesus Cristo. Vamos entender:

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