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Capítulo 5: O mal: Atuação do Diabo na queda do homem e no mundo de hoje

CAPÍTULO 5 – O MAL: ATUAÇÃO DO DIABO NA QUEDA DO HOMEM E NO MUNDO DE HOJE

O primeiro passo que Satanás deu na direção de conduzir o homem à condenação foi logo no início, no Éden5 , onde Deus colocou o homem – o qual se chamava Adão - e o autorizou a se alimentar livremente de todas as árvores, menos uma – aquela que lhe causaria a morte (Gênesis 2.15-17). E foi justamente essa única árvore, que o homem influenciado pelo Diabo comeu.

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Ryrie (1925) explica que essa restrição era o teste supremo era se Adão e Eva obedeceriam a Deus ou não. O modo como provariam isso era não comer o fruto de uma das árvores do jardim: a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.17). Em certo sentido, essa era uma proibição insignificante em comparação com as muitas árvores do jardim das quais poderiam comer. Por outro lado, era uma questão fundamental, pois essa era uma maneira específica de demonstrar sua obediência ou desobediência a Deus.

Ao estabelecer um teste, Deus demonstrou que seu desejo era que os homens escolhessem, voluntariamente, obedecer e servir ao Senhor. Ele não queria que fôssemos como robôs, sem a liberdade de escolha. Deus concedeu a sua criação – a saber: os anjos e os seres humanos – o livre arbítrio, que é justamente a liberdade de escolher, principalmente entre o bem e o mal (Gênesis 3; Ezequiel 28).

Já vi pessoas questionarem assim: se Deus é onisciente então ele sabe de todas as coisas. Se Ele sabia que Lúcifer ia se rebelar por que o criou? Se Ele sabia que Adão ia escolher o mal por que o criou? Se Deus sabia que Hitler iria matar milhões de pessoas por que o permitiu ser concebido?

5 A Palavra de Deus nos mostra que na região do Éden nascia um rio que irrigava todo o jardim e depois se dividia em quatro: 1- Pisom; 2- Giom; 3- Tigre; 4- Eufrates (Gênesis 2.10-14). Segundo Faber (2011), os rios Tigre e Eufrates são existentes até hoje, e se localizam no atual Iraque. Isso é uma amostra da literalidade do texto, ou seja, o Éden não foi uma localidade fictícia, foi um palco real de uma história verídica.

Dr. Rodrigo Silva (2018) diz que Deus não duela com seu caráter. E Deus fala sempre a verdade, Ele não é mentiroso (Números 23.19; João 14.6). Silva (2018) ilustra isso com uma história:

- Certa feita um professor chegou a sua classe e disse:

- Quero que vocês me avaliem como professor! Vou dar um papel para vocês, e quero que nesse papel vocês escrevam o que acham de mim como professor. Vocês podem me dar nota 0 ou nota 10, não tem meio termo. Depois disso vou entregar todos esses papéis para o diretor.

- E então os alunos fizeram como o professor havia ordenado, e o professor foi para sua casa com os papéis. Chegando em sua casa ele pegou todas as notas 0 que recebeu e incinerou, e então entregou todas as notas 10 para o diretor.

Moral da história: o professor mentiu, porque não entregou todos os papéis, entregou só os bons! Pense que as notas 0 tipificam as pessoas más, como Hitler por exemplo, e as 10 são pessoas boas. Se Deus só permitisse nascer pessoas que Ele sabia que iam ser pessoas boas e tementes a Ele, como as pessoas iriam exercer o livre arbítrio?

E se Deus impedisse Lúcifer de se rebelar, Adão de desobedecer, então não teria de fato o livre arbítrio, e Deus estaria mentindo. O livre arbítrio é real, o homem tem a liberdade de escolher, veja:

“Porém, se não vos parece bem servir a Yahweh, escolhei agora a quem quereis servir: se as divindades às quais serviram vossos antepassados além do rio Eufrates, na terra da Mesopotâmia ou os deuses dos amorreus em cuja terra agora habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR!” Josué 24.15

Josué disse para o povo de Israel que escolhessem o caminho que iriam trilhar, justamente porque cada um tem domínio sobre suas próprias escolhas, e não acerca das escolhas dos outros. É isso que ele demonstra quando diz que já havia se decidido: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”!

E é aí que nasce o problema. Billy Graham (1984) escreveu:

“Este é o verdadeiro âmago do problema, pois a partir do momento em que um homem recebe liberdade, ele se depara com dois caminhos. A liberdade não tem sentido se há apenas um único caminho possível a seguir. A liberdade implica o direito de escolher, selecionar, determinar o próprio curso de ação.” (GRAHAM, 1984, p.37)

Graham (1984) ainda diz que existem pessoas que se orgulham de ser boas, quando, na verdade, é o seu ambiente ou modo de vida que as impede de ser más. Ele diz que não podemos nos atribuir o mérito de resistir à tentação, se nenhuma tentação aparece à nossa frente! E Deus não concedeu a Adão nenhuma das vantagens deste tipo. Conferiu-lhe livre-arbítrio e deu-lhe todas as oportunidades de usá-lo. E, porque Deus não poderia fazer nada que não fosse perfeito, proporcionou a Adão o cenário perfeito para provar se serviria ou não a Deus.

Vale ressaltar que Adão e Eva foram criados com uma santidade tamanha que o capacitavam a desfrutar de uma completa comunhão com Deus (Gênesis 3.8). Apesar disso, como já dito acima, eles tinham total liberdade e uma mente capaz de avaliar suas escolhas. Acerca disso, Calvino escreveu:

“Portanto, Adão poderia manter-se, se o quisesse, pois que não caiu senão por sua própria vontade. Já que, entretanto, flexível lhe era a vontade para um a e outra direção, nem lhe fora dada constância para se preservar, por isso veio facilmente a cair. Contudo, livre lhe foi a escolha do bem e do mal. Não apenas isso, mas sua mente e vontade estavam possuídas de retidão consumada, e todas as partes orgânicas estavam adequadamente ajustadas à obediência, até que, perdendo-se a si próprio, corrompeu todo o bem que nele havia.”

(CALVINO, 1985, p.211)

Parece até absurdo o fato do ser humano desobedecer à única proibição feita por Deus que visava seu próprio bem (Jeremias 29.11). Entretanto, vale lembrarmos como isso aconteceu, no intuito de entendermos as motivações por trás da queda do homem. Está registrado:

“A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos, que Yahweh Deus havia feito. E aconteceu que ela questionou com a mulher: “Então foi isto mesmo que Deus falou: ‘Vós não podeis comer nenhum dos frutos das árvores do jardim?’ Ao que declarou a mulher à serpente: “Nós podemos comer

dos frutos das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no centro do jardim, Deus disse: ‘Dele não

comereis, nele não tocareis, para que não morrais!’” A serpente então alegou à mulher: “Com toda a certeza não morrereis! Ora, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e vós, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal!” Quando a mulher observou que a árvore realmente parecia agradável ao paladar, muito atraente aos olhos e, além de tudo, desejável para dela se

obter sagacidade, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que estava em sua companhia, e ele

igualmente comeu. Então os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; em seguida entrelaçaram folhas de figueira e fizeram cintas para cobrir-se.” Gênesis 3.1-8

A primeira maneira que Satanás escolheu para se mostrar à humanidade foi uma serpente (Gênesis 3.1). Essa caracterização está de acordo com o Satanás apresentado no Novo Testamento (2 Coríntios 11.3; Apocalipse 12.9), pois indica sua sagacidade e astúcia. Ryrie (1925) acerca desse acontecimento escreveu:

“Com astúcia, Satanás usou uma criatura que Eva conhecia, em vez de apresentar-se em sua verdadeira aparência. Isso provavelmente teria chamado sua atenção, pois seria algo fora do comum, o que a deixaria em estado de alerta. Satanás usou um a serpente real, uma vez que esse animal foi amaldiçoado

após a queda juntamente com o diabo. Por algum motivo, Eva não ficou assustada quando a serpente falou com ela. “O tentador dirigiu-se à mulher, provavelmente [porque] [...] ela não recebera pessoalmente a proibição de Deus, como ocorreu com Adão (v.16,17).” (RYRIE, 1925, p.233)

Concordo com Savioli (2018) quando ele explica que Satanás agiu assim, pois caso se apresentasse com sua real aparência provavelmente teria espantado Eva.

Davis W. Huckabee (2018) em seu livro “Fundamentado pela graça” explica como Satanás começou a enganar o homem, e causou a queda dele de seu estado de inocência. Podemos elencar algumas estratégias:

1 - Insinuou-se dúvida acerca do que Deus queria dizer: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?” (Gênesis 3.1). Essa é uma forma bem comum de tentação, pois se o diabo puder fazer com que o homem questione o sentido ou aplicação de um dos mandamentos de Deus, ele fez muito progresso em induzir o homem a desobedecer a esse mandamento.

2 - A serpente dirigiu atenção a uma limitação, em vez da permissividade ampla e quase sem limite. Só uma coisa Deus havia negado ao homem no Jardim - tudo demais lhe era livremente dado, e não havia falta de nada que o homem pudesse precisar ou desejar (Gênesis 2.16). No entanto, ele esqueceu tudo isso, e a serpente dirigiu atenção a única coisa que seria pecado se o homem tivesse participação (Gênesis 3.5).

Huckabee (2018) ainda explica que não daria para incitar rebelião se a atenção do homem fosse direcionada somente para o que era lícito ao homem, para que seja levado a se rebelar contra a vontade de Deus, o homem tem primeiramente de ser induzido a desejar o que é proibido e ilícito.

3 - A serpente fez um acréscimo à Palavra, e assim reverteu seu sentido: “A serpente então alegou à mulher: “Com toda a certeza não morrereis!” (Gênesis 3.4). Com uma pequena alteração, mudou completamente o sentido do mandamento. Precisamos considerar como o diabo ainda está usando esse

mesmo modo de corromper a Palavra ao conduzir homens negligentes a corromper gradualmente a Bíblia com suas paráfrases inadequadas e traduções livres (2 Pedro 2.1).

4 - A serpente contestou os motivos de Deus por negar o fruto dessa única árvore ao homem: Ora, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e vós, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal!” (Gênesis 3.5). O próprio nome “Diabo” significa “difamador”, e é isso o que o diabo faz; ele difama Deus ao homem, conforme ele fez aqui, então ele difama os homens salvos a Deus, conforme fez em Jó 1.9-11 e em 2.4-5.

Para Eva, Satanás difamou Deus, e afirmou que o único motivo de Deus ao negar a eles o fruto dessa árvore era impedi-los de se tornarem como Ele: “Deus sabe que… sereis como Deus” (palavra hebraica Elohim = o Deus Triúno).

Huckabee (2018) explica que ele fez com que os motivos de Deus para negar essa única coisa a eles fossem totalmente egoístas, pois se ele puder fazer Deus parecer egoísta, ele poderá dar alguma desculpa aparente ao homem para agir de modo egoísta.

5 - Essa tentação que a serpente apresentou para Eva era de natureza muito semelhante à natureza mediante a qual o próprio Lúcifer havia caído - ele incitou rebelião através de uma ambição profana de ser como o próprio Deus (Gênesis 3.5) - e ele expressou sua própria ambição profana desse mesmo jeito: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14.13-14). Acerca disso, Huckabee (2018) escreve:

“Ao incitar o primeiro casal a se rebelar, a serpente usou um pouco de verdade, pois a falsidade pura apresenta pouca tentação, pois é vista em toda a sua feiúra excessiva, mas se incluir um pouco de verdade, o homem se justificará e cairá presa fácil à tentação. Se Adão, em seu estado de inocência, caiu nesse pecado sabendo plenamente que era pecado, conforme assim logo veremos, então é de pouco maravilhar

que o homem em seu presente estado caído ceda tão fácil às seduções do maligno quando lhe são apresentadas de forma tão atraente.”

(HUCKABEE, 2018)

O autor continua explicando que: “O pecado é a declaração do homem da sua independência de Deus.” Concordo com ele quando ele conclui que na verdade, em análise final tudo se resume a isso. É simplesmente uma questão da teimosia e egocentrismo de nossa parte, em vez de submissão à vontade de Deus e ao mandamento de Deus. Todos os demônios do Diabo não poderiam forçar o homem a pecar (Deuteronômio 30.19-20), o Diabo de fato o incitou a pecar (Mateus 4.1; Tiago 4.17), mas foi uma transgressão voluntária do homem, pela qual apenas ele tem de dar contas no tribunal final diante de Deus (Eclesiastes 12.14).

Pois bem, quando Eva viu que o fruto parecia agradável ao paladar, atraente aos olhos e desejável para dar entendimento, comeu (Gênesis 3.6). Afinal, se ela seria como Deus, já não haveria mais motivo para dar satisfação ao seu Criador (1 Timóteo 2.14). Deu do fruto para Adão, que também comeu. É como Savioli (2018) diz: O homem preferiu acreditar na promessa do Diabo, ao invés de confiar em Deus (Romanos 6.16).

Como já dito antes, o livre arbítrio é real. O homem tem a liberdade de escolher entre o bem e o mal. O que o homem não tem é a liberdade de escolher as consequências de suas decisões, não podemos evitar as consequências de nossos atos. A Bíblia diz:

“Portanto, tudo o que o ser humano semear, isso também colherá!”

Gálatas 6.7b

Temos a liberdade de decidir o que plantamos, mas não temos a liberdade de escolher o que colhemos, é como alguém já disse: somos reféns de nossas escolhas. Por isso que a Bíblia continua:

“Pelo que tenho observado, quem cultiva o mal e semeia maldade, isso também colherá.” Jó 4.8

“Quem semeia a injustiça colhe a maldade; o castigo da sua arrogância será completo.” Provérbios 22.8 Foi exatamente isso que Satanás em sua sagacidade omitiu. Todas as consequências dessa escolha do primeiro casal de desobedecer a Deus. O livre-arbítrio foi exercido, se deixaram ser enganados pelo Diabo e com isso escolheram o mal, e as consequências vieram. Entender essas consequências é fundamental para entendermos o porquê existe céu e inferno e o porque de tanto mal no mundo de hoje.

CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA

1 – Sujeição à morte:

O primeiro e maior resultado do pecado do homem foi a morte que havia sido ameaçada desde o início por comer do fruto da árvore proibida. No entanto, isso não foi principalmente morte física, embora seja evidente que a morte física é consequência desse pecado. Adão foi criado para nunca morrer fisicamente, mas com o pecado a morte física passou a ser patente de todo ser humano:

“porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!” Gênesis 3.19b Antes que participasse do fruto proibido, o homem havia sido seriamente avisado de que a morte seria a consequência do ato de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2.17). A. W. Pink (1969) vê no alerta feito contra o ato de comer do fruto proibido um sentido triplo da palavra “morte”, pois ele diz:

“Quando Deus disse a Adão, “No dia em que dela comeres, certamente morrerás”, Ele quis dizer, em primeiro lugar, morte espiritual, isto é, estar separado da fonte da vida divina. Em segundo lugar, no devido curso do tempo, morte física: o corpo irá apodrecer e voltar ao pó. Em terceiro lugar, morte eterna, sofrer “a segunda morte” (Apocalipse 20.14), ser lançado ao fogo, ali para sofrer para sempre.”

(PINK, 1969, p.48)

Sanchez (2011) explica que a morte física é quando o nosso espírito é separado do nosso corpo, e quando isso acontece nosso corpo fica inanimado e apodrece.

A morte espiritual significa a separação espiritual de Deus. A Bíblia considera a pessoa sem Deus, morta espiritualmente. Essa morte espiritual se dá por causa do pecado que reina em nossa vida (Romanos 6.23). Sem Cristo todos nós estamos nessa condição de morte espiritual. Perceba:

“Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e pecados.” Efésios 2.1 Esse é um versículo de Paulo aos cristãos de Éfeso6, e aqui o apóstolo explica que eles estavam mortos espiritualmente, mas através do relacionamento com Cristo foram vivificados espiritualmente. É como vemos no verso bíblico, todos estamos mortos espiritualmente (separados de Deus pelo pecado). Porém, essa condição de morte pode ser mudada pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, que é a nossa salvação, dita pelo Apóstolo nesse mesmo capítulo:

“Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efésios 2.8 A morte eterna é a morte mais terrível e é decorrente da morte espiritual. Ela também significa uma separação espiritual de Deus, mas dessa vez uma separação eterna. Os que passarem por essa morte, que também é chamada de “segunda morte”, terão como destino final o local de tormentos eternos comumente chamado pela Bíblia de inferno e lago de fogo (Apocalipse 20.1415).

Os que passarão por essa morte serão todos os que rejeitaram um relacionamento com Jesus aqui na terra, sendo condenados pela justa justiça de Deus no último dia (Mateus 25. 41).

6 Segundo Gagarin (2010) a cidade de Éfeso do tempo de Paulo se localiza na atual Turquia.

Mas calma! A Bíblia nos dá esperança quando nos rendermos ao senhorio de Jesus Cristo, pela graça de Deus mediante a fé, somos justificados e não sofreremos a morte final, pelo contrário, gozaremos a vida eterna ao lado de Deus:

“Esclareceu-lhe Jesus: “Eu Sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá.” João 11.25

Huckabee (2018) explica que essas três mortes não estavam envolvidas na ameaça, mas ratifica que sem a menor sombra de dúvida todas essas três mortes foram consequência da queda do homem, porém apenas uma delas era a consequência imediata da transgressão de Adão.

O alerta como já dito antes era que “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”, mas Adão não morreu fisicamente naquele dia, nem sofreu a “segunda morte” descrita em Apocalipse 20.14 naquele mesmo dia. Ele morreu espiritualmente naquele dia, e se colocou imediatamente debaixo da maldição por quebrar a lei (Gênesis 3.23).

Sua eventual morte física veio acontecer muito tempo depois do acontecimento da queda (Gênesis 5.5). No entanto há indicação de que tanto Adão quanto Eva foram redimidos pelo Senhor, e assim nunca entraram naquele estado da “segunda morte” (Apocalipse 20.14). Tal redenção é tipificada nas vestes de pele que o Senhor fez para eles (Gênesis 3.21). A partir daí entendemos que nenhum ser humano tem como escapar da morte física, mas pode escapar da morte espiritual e da morte eterna. Robinson (1894) disse:

“Cristo não salva ninguém, e não prometeu salvar ninguém, da morte física, embora tivesse vindo para destruir a morte, a consequência do pecado, destruindo o próprio pecado. A salvação que ele concede a todo crente corresponde à ruína da queda, mas não ao ponto de livrar alguém da morte física. Se a morte terrena ou física tivesse sido a pena específica pelo pecado, então a morte literal de Cristo deveria ter destruído a pena, caso contrário à salvação que ele proporciona não é a

restauração de algo perdido, mas a concessão de algo totalmente suplementar aos dons originais do homem.” (ROBINSON, 1894, p.131)

Muitos se esforçam para eliminar a morte de sua conexão com o pecado dizendo que tal não pode ser o caso, pois bebês que jamais fizeram nada de bom ou ruim, mas apesar disso estão sujeitos à morte. Romanos 5.12 mostra com clareza o motivo por que todos os homens sem exceção estão sujeitos à morte: eles estavam todos em Adão quando ele pecou, e todos participaram naquele pecado com ele. Huckabee (2018) explica que toda a humanidade estava em Adão de duas maneiras quando ele pecou:

a) Eles estavam nele — para ser mais exato, na semente dele —, pois ele era o cabeça da raça humana, e toda a humanidade descende dele (Atos 17.26). b) Todos os homens estavam em Adão de modo representativo, pois ele não só era o cabeça natural da raça humana, mas também o cabeça central. Acerca disso fala Samuel Baird (1860):

“Com a frase, cabeça da aliança, não queremos dizer que Adão foi pela aliança transformado a ser o cabeça da raça; mas que, por ser sua cabeça, por virtude da natureza com a qual Deus o dotou, ele permanecia como tal na aliança. Adão foi assim constituído, e a aliança foi gravada em seu coração e natureza, já que ele era o progenitor, o pai da raça. Em todas as relações de Deus com Adão ele é visto e tratado não como meramente um indivíduo, mas representativo em sua pessoa todos os homens. Assim foi quando ele recebeu a imagem de Deus, e quando recebeu o nome de “Adão” — um nome não só adequado à sua pessoa, mas também na Bíblia constantemente reconhecido e usado como o nome genérico da raça humana. De modo que, de fato, quando dizemos que Deus fez uma aliança com Adão, equivale, pela própria força dos termos, a dizer que a aliança foi feita com a raça humana”. (BAIRD, 1860, p.305-307)

Adão, como representante da raça humana inteira, pecou e levou todos ao estado de sujeição à morte. No entanto, essa sujeição à morte que resultou da queda de Adão é uma coisa ruim apenas se rejeitarmos a solução que Deus deu; caso contrário, o homem caído ganha muito mais com a redenção de Cristo do que chegou a perder com a queda (João 3.16; Mateus 25.34). Outro fruto da queda foi:

2 – Escravidão ao pecado:

Ao comer do fruto da árvore proibida, Adão imediatamente se tornou uma criatura pecadora e caída, que estava debaixo da ira de Deus, e isso segundo Huckabee (2018) parece ser o principal sentido da palavra “morte” em Gênesis 3.

É verdade que Adão e Eva imediatamente ao comerem do fruto proibido se tornaram mortais, isto é, criaturas que morrem, e é também certo que eles foram julgados espiritualmente mortos até que nascessem de novo pela fé no prometido Redentor, mas a morte ameaçada era a ira de Deus que tem por necessidade de cair sobre todo filho de Adão até que ele seja redimido da queda (Atos 17.31).

O pecado possui uma natureza escravizadora natural, e escraviza gradualmente de tal maneira que poucos percebem sua verdadeira natureza até que se torne tão firmemente estabelecido e tão tirânico que não haja nenhuma esperança humana de escapar. Podemos ver suas manobras progressivas conforme declara Tiago:

“Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por esse iludido e arrastado. Em seguida, esse desejo, tendo concebido, faz nascer o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte.” Tiago 1.14-15

A tentação em si não é pecado se houver resistência, mas logo que alguém cede a uma sedução do pecado, ele se torna culpado de concupiscência, que, por sua vez, produz a real obra do pecado, e isso, por sua vez, quando atinge seu objetivo produz morte (HUCKABEE, 2018; Romanos 6.23).

O que indica essa natureza escravizadora do pecado é o fato de que o pecado “reina” sobre os homens que cedem a ele, e isso é tudo o que é necessário para que alguém se torne escravizado pelo pecado. Segundo a Palavra de Deus vemos que existem pessoas aprisionadas em distintos tipos de pecados – os quais são denominados por Paulo como obras da carne:

“Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatrias e feitiçarias; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e tudo quanto se pareça com essas perversidades, contra as quais vos advirto, como já vos preveni antes: os que as praticam não herdarão o Reino de Deus!” Gálatas 5.19-21

Algumas pessoas são escravizadas pelo pecado da imoralidade sexual, outras pela embriaguez, outros pelo ódio, outros pela ira, outros pela idolatria, outros pela impureza, dentre outros. Sei por experiência própria o que é ser escravo de um pecado, e é simplesmente horrível.

Augustus Nicodemus (2016) explica que um escravo não tem vontade própria, mas se atém em fazer a vontade de seu patrão. Já percebeu que existem pessoas que sabem que estão fazendo algo errado, querem fazer a coisa certa, mas não encontram forças para tal? É justamente por causa dessa escravidão ao qual estamos inseridos.

Quando cremos no Senhor Jesus e passamos a nos relacionar com Ele somos libertos do poder escravizador do pecado (2 Coríntios 5.17). No entanto, continuamos suscetíveis a pecar, por isso a recomendação de Deus para nós em sua Palavra é que não nos deixemos dominar por essas coisas. Por isso Paulo, em uma de suas cartas, disse:

“Portanto, não permitais que o pecado domine vosso corpo mortal, forçando-vos a obedecerdes às suas vontades.” Romanos 6.12

Há muitas passagens das Escrituras que falam da escravidão do homem ao pecado desde seu próprio nascimento, aliás, até mesmo desde sua própria concepção. Davi escreveu:

“Reconheço que sou pecador desde o meu nascimento. Sim, desde que me concebeu minha mãe.” Salmos 51.5 “Desde o nascimento se rebelaram os ímpios e se desviaram do Caminho certo todos aqueles que vivem mentindo.” Salmos 58.3

Existem outros textos que demonstram isso:

“Prometem-lhes total liberdade, porém eles próprios são escravos da corrupção; porquanto, toda pessoa se torna servo daquele por quem é vencido.” 2 Pedro 2.19 “Na esperança de que também a própria natureza criada será libertada do cativeiro da degeneração em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade outorgada aos filhos de Deus.” Romanos 8.21

Poderíamos citar muitos outros versículos no mesmo sentido, de que o homem é por natureza uma criatura caída e pecadora, escravizado à sua própria corrupção, mas Huckabee (2018) diz que o que é ainda pior do que a própria escravidão é o fato de que o homem é incapaz de quebrar seus grilhões e se libertar de sua escravidão ao pecado sozinho. E por natureza não tem desejo algum de se libertar, e quando o tem não tem forças para fazer isso sozinho (Romanos 3.23).

O Salmo 53.1-3 contém várias declarações da ausência total de qualquer bondade espiritual e da saturação total da natureza de pecado em todos os filhos de Adão. Desse modo, tanto do lado negativo quanto do positivo, o homem é totalmente incapaz de se livrar da contínua e crescente escravidão do pecado (João 8.34). Baird (1860) escreve:

“Tal era o caso com Adão. Não só ele transgrediu o mandamento de seu Criador — não só violou a lei da justiça — mas, ao assim agir, ele se distanciou de Deus, numa revolta

que abrangeu sua natureza inteira, impregnou seu ser todo e permeou qualquer força. Ao entrar na prova, ele gozava perfeita liberdade moral. Ele tinha força e liberdade para escolher santidade ou pecado, para adotar o mal ou o bem. Com sua apostasia, ele se submeteu a uma absoluta tirania de corrupção, uma escravidão muitíssimo humilhante ao pecado. De modo que agora, não mais em condições de escolher o bem ou praticar a justiça, ele estava livre apenas para o mal, e livre para ser conduzido cativo em correntes de inimizade a Deus, para cometer maldade com avidez.” (BAIRD, 1860, p.396)

Tal escravidão, ao prender o homem em seus pecados, não é uma condição da qual o homem possa sair por esforço ou dinheiro. Veja:

“Ninguém é capaz de redimir seu próprio irmão, ou pagar a Deus o valor de sua vida, porquanto o resgate de uma vida não tem preço. Não há pagamento que o livre, para que viva para sempre e não sofra a natural decomposição dos corpos.” Salmos 49.7-9

Jesus – através de uma história simples - ilustrou a impossibilidade de o homem chegar a ter condições de saldar sua dívida de pecado diante de Deus, e efetuar sua liberdade da escravidão ao pecado (Mateus 18.23-35). Essa história é conhecida como a Parábola do Credor Incompassivo.

Nessa parábola Jesus fala que o reino dos céus pode ser comparado a um rei que desejava acertar as contas com seus servos. Um desses servos lhe devia dez mil talentos. O ponto importante que desejamos notar é a dívida incalculável que o primeiro servo devia: eram dez mil talentos, o que Huckabee (2018) explica que era uma quantia aproximadamente igual a quinze milhões de dólares em nossa moeda atual, mas com o poder aquisitivo daquela época quando o salário do dia era apenas um centavo (Mateus 20.2), ou seja, a quantia é colossal. Pagar uma dívida de 15 milhões de dólares ganhando 1 centavo por dia. Essa quantia era mais do que ele poderia ganhar em dez vidas.

Como o servo não tinha como pagar a conta, o rei mandou que ele, sua esposa e seus filhos, fossem vendidos com tudo o que possuíam para que a dívida fosse quitada.

Então o servo prontamente se prostrou diante do rei e suplicou por misericórdia. Ele disse: “Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo” (Mateus 18.26). Diante do pedido do servo, o rei teve muita compaixão, cancelou a dívida e o deixou livre.

Essa parábola mostra a impossibilidade de qualquer pessoa chegar a saldar sua dívida de pecado e se ver livre da escravidão ao pecado sem precisar de Deus pelas seguintes razões:

a) Não podemos fazer expiação por nossos pecados passados porque todas as boas obras e serviços que podemos render a Deus no futuro já era exigido de nós antes, já que fomos criados para uma vida com Deus (Eclesiastes 12.13). b) Acumulamos novos pecados infinitamente mais rápido do que nos livramos dos velhos pecados (Eclesiastes 7.20; Romanos 3.23). c) Toda boa obra que fazemos perde qualquer valor que poderia ter tido quando o fazemos a partir de um motivo egoísta, que geralmente é o caso quando fazemos na esperança de nos justificar com boas obras.

Só aquelas coisas que são feitas por puro amor a Deus encontram aceitação diante de Deus (Lucas 16.15; 20.46-47). d) Todas as obras do mundo não poderão mudar a natureza pecadora do homem, que é a fonte de todos os seus atos de pecado. O pecado do homem é principalmente uma questão da natureza, não de ações: as ações são apenas frutos do pecado como uma natureza (Gênesis 4.7).

Deus disse após o dilúvio e consequente sacrifício de Noé:

“Jamais amaldiçoarei a terra por causa do homem, porquanto

seu íntimo é completamente inclinado para o mal, desde o

nascimento. E nunca mais destruirei todos os seres nos quais há o fôlego da vida, como fiz desta vez.” Gênesis 8.21

Huckabee (2018) disse: “O pecado, antes que possa ser remediado, tem de ser reconhecido pelo que é — um grande mal — e pior, um mal progressivo; nunca fica melhor, exceto quando a graça intervém para desarraiga-lo da alma”. 3 – Cegueira espiritual:

Umas das consequências da queda é a cegueira espiritual:

“Do céu, observa Deus os filhos dos seres humanos, a fim de ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram, semelhantemente se corromperam; não existe alguém que pratique o bem, não existe nem mesmo uma só pessoa.” Salmos 53.2-3

Essa passagem não só declara que o homem não tem nenhum entendimento espiritual, mas também que esse estado é uma ignorância por vontade própria. Isso não é dizer que os homens não têm uma sabedoria mundana7, porque isso muitos têm, mas é uma sabedoria na iniquidade (Jeremias 4.22; Lucas 16.8).

O mundo se concentra em seus avanços nas esferas intelectuais e científicas (o que é muito bom), e considera esses avanços como sabedoria, o que não é muito apropriado, já que a verdadeira sabedoria não está nessas coisas, porém no temor reverencial do Senhor:

“O temor do SENHOR é a chave da sabedoria e conhecer a Divindade é alcançar o pleno sentido do conhecimento!” Provérbios 9.10

Muitas vezes o mundo faz de seus avanços intelectuais e científicos desculpa para sua impiedade e meio para se rebelar mais contra Deus (Romanos 1.2122; 1 Coríntios 1.20-21).

7 Existe um e-book meu chamado “Em busca da sabedoria” (2020) onde me proponho a estudar a sabedoria segundo a Palavra de Deus. Lá explico o que é sabedoria mundana e o que é a sabedoria celestial. Caso se interesse se aprofundar no tema, recomendo a leitura.

As Escrituras deixam claro que o mundo jamais consegue achar Deus, nem se salvar mediante sua própria sabedoria (1 Coríntios 1.27). A Bíblia diz:

“Considerando que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, foi do agrado de Deus salvar os que crêem por intermédio da loucura da proclamação da sua mensagem.” 1 Coríntios 1.21

Em vez de se revelar a nós pela sabedoria humana8 Ele escolheu se revelar de uma maneira diferente, através da proclamação de sua mensagem – o Cristo crucificado e ressurreto (1 Coríntios 1.23).

Mas por que não conseguimos entender essas coisas com a capacidade da mente natural? Simplesmente porque se estamos sem Cristo, estamos cegos espiritualmente, e só é possível entender essas coisas espiritualmente (1 Coríntios 2.14). Acerca dessa cegueira, Paulo explica em uma de suas epístolas:

“Contudo, se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que está encoberto. O deus, desta

presente era perversa, cegou o entendimento dos descrentes, a fim de que não vejam a luz do Evangelho da

glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” 2 Coríntios 4.3-4

Conegero (2020) explica que o “deus deste século” citado acima é uma referência a Satanás, que cega o entendimento dos incrédulos, influenciando a humanidade a um modo de vida contrário à Palavra de Deus (1 João 5.19).

8 Claro que creio também que podemos glorificar a Deus por meio da ciência. É o que fez o Dr. Ken Ham (2011), que é especialista em ciência aplicada, quando juntamente com uma equipe de doutores e pós-doutores em física, astronomia, matemática, escreveu um livro comprovando argumentos criacionistas com evidências científicas. Recomendo muitíssimo a leitura.

O próprio fato da condição caída e perdida do homem o torna incapaz de entender as verdades espirituais do evangelho, pois Satanás – com a queda do homem - ganhou legalidade para cegar as mentes de modo que as verdades espirituais pareçam ilógicas, irracionais e completamente tolas para o homem que não foi renovado (1 Coríntios 3.19).

Huckabee (2018) ainda nos diz que essa cegueira está sujeita à intensificação à medida que o indivíduo ouve e rejeita a verdade do Evangelho, pois tal descrença dá ao diabo uma vantagem por meio da qual ele pode escurecer ainda mais a mente, e endurecê-la contra a verdade. Aliás, o próprio pecado tem um efeito cegador subjetivo sobre o indivíduo, conforme está escrito:

“Sendo assim, eu vos afirmo, e no Senhor insisto, para que não mais viveis como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão com o entendimento mergulhado

nas trevas e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, devido ao embrutecimento do seu coração. Havendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram a um estilo de vida depravado, cometendo com

avidez toda a espécie de impureza.” Efésios 4.17-19

Muitas pessoas que se relacionam com Deus se encontram chocadas com o fato de que as pessoas não salvas não consigam ver o perigo em que estão, e que elas não aceitam o testemunho de servos de Deus. No entanto isso não é tão difícil de entender se aceitarmos as declarações das Escrituras do que sobreveio à humanidade como consequência do pecado de Adão (Gênesis 3). A.W. Pink (1969) bem disse:

“A mente é aquela faculdade da alma pela qual primeiro se conhece e se compreende os objetos e as coisas. Ao distinguir o entendimento da mente, a mente é aquilo que pesa, discrimina e determina, julgando entre os conceitos formados no entendimento, sendo o guia da alma, escolhendo e rejeitando aquelas noções que a mente recebeu. O pecado desajustou tanto um como o outro, pois lemos que “os seus sentidos foram endurecidos” (2 Coríntios 3.14) e

“entenebrecidos no entendimento” (Efésios 4.18). ‘A queda fechou totalmente as janelas da alma do homem’, mas ele não está ciente disso; aliás, ele nega isso de modo enfático.” (PINK, 1969, p.137)

É o que Huckabee (2018) enfatiza: muitos de nós não conseguimos pensar direito acerca das coisas espirituais, pois o pecado tanto cegou quanto escureceu nosso raciocínio. Podemos ver isso claramente em alguns versículos:

“Para as pessoas puras, tudo é puro; no entanto, para os corrompidos e descrentes, nada é puro; pelo contrário, tanto a razão quanto a consciência deles estão pervertidas. ” Tito 1.15

“Há caminhos que ao ser humano parecem ser as melhores opções de vida, mas ao final conduzem à morte” . Provérbios 14.12

“As pessoas que não têm o Espírito não aceitam as verdades que vêm do Espírito de Deus, pois lhes parecem absurdas; e

não são capazes de compreendê-las, porquanto elas são

discernidas espiritualmente.” 1 Coríntios 2.14

Nessa última passagem, a palavra “natural” mostra que essa é uma condição de todo indivíduo ao vir ao mundo, e até que a graça de Deus nos transforme não precisamos cometer algum pecado grande e horrendo a fim de cair nessa condição - estamos nessa condição por nosso nascimento numa humanidade caída (Romanos 3.23).

Mas essa cegueira espiritual não se restringe apenas à mente do homem, pois também envolve uma cegueira do coração (Efésios 4.18). Huckabee (2018) escreveu:

“O amor do homem pelo pecado é a causa de ele negar Deus e se rebelar contra Ele; logo que o coração do homem é consertado das devastações do pecado ele amará a Deus, exatamente como ele foi criado para fazer desde o começo.”

(HUCKABEE, 2018)

A atual condição do coração do homem se declara em Jeremias 17.9 que diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”

Por isso que precisa ser radicalmente transformado antes que seja capaz de amar e servir a Deus. A solução de Deus à necessidade do homem é assim declarada: “E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” (Ezequiel 11.19). Com isso, Deus remove a cegueira do coração que tem um efeito direto na cegueira do intelecto, de modo que na salvação Deus remove a cegueira espiritual do homem, e lhe dá a capacidade de ver e entender a verdade espiritual.

A única maneira de remover essa cegueira é com a renovação que ocorre na mente e no coração durante um relacionamento verdadeiro com Jesus (Efésios 4.22; Colossenses 3.9-10).

4 – Escravidão ao Diabo:

O próprio Satanás caiu em pecado por causa de uma ambição profana de ser “semelhante ao Altíssimo”, como vemos em Isaías 14.14. Essa ambição é uma de suas iscas favoritas para apanhar em armadilha os homens e torná-los escravos dele. Note a semelhança com as próprias ambições profanas dele quando ele tentou Eva dizendo: “sereis como Deus” (Gênesis 3.5). Até hoje, Satanás ainda sugere coisas proibidas diante dos olhos dos homens a fim de escravizá-los a si, mas de acordo com sua natureza, ele sempre adultera essas coisas para o homem. Existe um versículo que confirma isso:

“Vós pertenceis ao vosso pai, o Diabo; e quereis realizar os desejos de vosso pai. Ele foi assassino desde o princípio, e jamais se apoiou na verdade, porque não existe verdade alguma nele. Quando ele profere uma mentira, fala do que lhe é próprio, pois é um mentiroso e pai da mentira.” João 8.44

Huckabee (2018) diz que é isso o que torna tolice do pior tipo debater ou argumentar qualquer assunto com o diabo, pois ele é o mestre do engano e das mentiras, e enganará quem quer que lhe dê atenção a fim de que ele os torne seus escravos (2 Coríntios 11.14-15).

Porque na maioria das vezes não repudiamos o pecado, mas temos prazer em continuar nele? Isso é uma evidência de que temos a mesma natureza caída que Adão tinha depois de sua transgressão, e que – quando não estamos debaixo do senhorio de Cristo - consequentemente estamos também na mesma escravidão a Satanás em que Adão estava (Gênesis 3).

Essa é a condição natural do homem, e só uma mudança radical realizada no homem por um poder fora e acima dele poderá soltá-lo dessa escravidão a Satanás. O texto que prova que o homem está nessa condição é Efésios 2.1-3:

“Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e pecados, nos quais andastes no passado,

conforme o curso deste sistema mundial, de acordo com o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando

nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também caminhávamos entre eles, buscando satisfazer as vontades da carne, seguindo os seus desejos e pensamentos; e éramos por natureza destinados à ira.” Perceba que, quando uma pessoa aceita a Jesus, as trevas deixam de exercer certo domínio sobre ela: “Ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado.” (Colossenses 1.13). Mediante o poder de Deus, e por causa da obra expiatória de Jesus Cristo, nós somos libertos da escravidão a Satanás, e de seu reino, e somos trasladados para o reino do Filho de Deus, e essa é uma obra que o homem natural não pode fazer por si, conforme é evidente em 2 Timóteo 2.26:

“Para que dessa maneira retornem ao bom senso e se livrem da armadilha do Diabo, que os capturou, a fim de agirem conforme a sua vontade.”

Por mais que tentemos, não podemos nos libertar por nosso próprio esforço (Romanos 3.23). Huckabee (2018) diz que tentar se libertar é como um homem

se mexendo numa areia movediça, onde ele só afunda mais e mais com seus esforços, pois enquanto ele confia em sua própria força e rejeita Jesus Cristo, ele cai mais plenamente no poder do maligno.

Ele continua dizendo que nessa questão a vontade humana não vale nada; o homem pode se gabar o quanto quiser de que sua vontade é “livre” para fazer o que bem entender, mas a verdade é que o homem natural está “preso à vontade do diabo”, e o homem só pode se ver livre com a ajuda de alguém “mais forte” do que o homem valente armado (o Diabo) - segundo vemos em Mateus 12.28-29. Há somente um poder adequado para quebrar o poder do diabo sobre o homem e esse poder é do Deus Todo-poderoso (João 1.12-13).

OUTRAS CONSEQUÊNCIAS:

Ryrie (1925) ainda cita outras consequências da queda do homem além das já citadas acima:

- Sentimento de culpa evidenciado pela tentativa de encobrir seu ato (Gênesis 3.7)

- Perda da comunhão do homem com Deus, como fica evidenciada em sua tentativa de esconder-se de Deus (Gênesis 3.8). Isso resultou na morte: tanto física como espiritual. Adão e Eva experimentaram imediatamente a separação espiritual e entraram no processo de decadência do corpo, cujo resultado final foi à morte física (Romanos 5.12).

- A serpente foi condenada a rastejar, o que indica que ela era uma criatura que andava antes dessa penalidade ter sido imposta. Ryrie (1925) explica que essa condição continuará por muito tempo (Isaías 65.25). E continua dizendo que todo o reino animal foi afetado pela queda. Ele diz:

“Isso ocorreu para que o homem, em sua condição caída, pudesse continuar exercendo certo grau de domínio sobre os animais (Romanos 8.20).” (RYRIE, 1925, p.235)

- Inimizade entre a descendência de Satanás (segundo Ryrie (1925) representação de todos aqueles que expressamente rejeitam a Deus, segundo

vemos em João 8.44 e Efésios 2.2) e a descendência da mulher (ainda segundo o autor os que se submetem a um relacionamento com Deus).

- Morte para Satanás e ferimento para Cristo. Uma pessoa da descendência da mulher (Jesus Cristo) iria golpear mortalmente a cabeça de Satanás. Isso ocorreu na cruz (Hebreus 2.14; 1 João 3.8). Além disso, Satanás faria com que Cristo sofresse - “ferirás o calcanhar” (RYRIE, 1925).

- Dor na concepção. Uma das consequências da queda é que com a entrada do pecado na humanidade são os sofrimentos que a mulher sente na gravidez. O nascimento de seus filhos passaria a ser acompanhado pela dor (João 16.21).

- O desejo da mulher seria para o marido. Ela teria o desejo de controlar o marido, algo que contraria a ordem estabelecida por Deus (Efésios 5.22-24).

- Com o pecado, o homem além de morrer fisicamente e espiritualmente, também transferiu o direito legal de posse da terra ao Diabo. O apóstolo João disse em uma de suas epístolas:

“Estamos cientes de que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno.” 1 João 5.19 A palavra “Maligno” nesse contexto é usada por João como uma referência a Satanás. Então é nesse ponto que o apóstolo indica que na verdade só existem dois grupos de pessoas: os filhos de Deus e os filhos de Satanás. É exatamente essa realidade que João expõe ao dizer: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo jaz no Maligno” (1 João 5.19). Segundo esse verso não há uma terceira possibilidade. Ou uma pessoa pertence a Deus, ou ela pertence ao sistema corrupto e iníquo deste mundo que é dominado por Satanás.

Segundo Conegero (2020) isso também implica na verdade de que ninguém é capaz de escapar da influência do diabo e da tentação e condenação do pecado sem o socorro de Deus (João 15.5).

O episódio da tentação de Jesus também nos ajuda a compreender a declaração de que o mundo jaz no Maligno. O texto bíblico diz que Satanás mostrou ao Senhor Jesus todos os reinos do mundo e disse a Jesus:

“Então o Diabo o levou a um lugar muito alto e lhe mostrou, em uma fração de tempo, todos os reinos do mundo. E lhe propôs: “Eu te darei todo o poder sobre eles e toda a glória destes reinos, porque me foram entregues e tenho autoridade para doá-los a quem bem entender.” Lucas 4.5-6

Perceba que o próprio Satanás diz que a autoridade que ele possui não lhe pertence em origem, mas que lhe foi dada. Conegero (2020) explica que desde a Queda do Homem Satanás assumiu o controle deste mundo caído através do engano (Gênesis 3.1-19). Ele tem se empenhado em cegar o entendimento dos homens distanciando-os cada vez mais da verdade. Por isso o próprio Jesus chama Satanás de “príncipe deste mundo” (João 12.31; 14.30; 16.11). Contudo, isso não significa que ele possui plena autonomia para fazer o que quiser como quiser. Satanás opera dentro da soberania de Deus. Ele nunca pode ir além do que Deus lhe permite. A história de Jó é um exemplo claro disso (Jó 2.6). Deus é o soberano de todo o universo. O salmista já disse:

“O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina sobre tudo o que existe.” Salmos 103.19

Ryrie (1925) explica que o objetivo de Satanás é criar um sistema que se opõe ao reino de Deus, mas que exclui o Senhor. A ideia é promover uma ordem falsificada. Basicamente, o mundo é mau porque busca ser independente de Deus. Pode conter aspectos bons e, também, alguns totalmente maus, mas seu mal inerente está em ser independente de Deus e em opor-se a ele (Tiago 1.27; 1 João 2.16).

Para alcançar seu objetivo, Satanás procura fazer com que os valores desse sistema sem Deus pareçam atrativos. Assim, ele age de modo que as pessoas

deem total prioridade a si mesmas e vejam o “aqui” e o “agora” como os aspectos mais importantes da vida. Vejamos:

“Não ameis o mundo nem o que nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo: as paixões da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens não provém do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, assim como sua volúpia; entretanto, aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente.” 1 João 2.15-17

Através das paixões da carne, da cobiça dos olhos e da ostentação dos bens Satanás tem se esforçado para manter muitas pessoas longe de Deus. Ryrie (1925) escreveu:

“O conselho de Satanás é: “satisfaça os desejos da carne”. Ele quer que busquemos alcançar o que os desejos desordenados dos olhos nos fizeram cobiçar. Pede para tomarmos uma atitude arrogante de auto-suficiência que surge quando nos orgulhamos das posses que conseguimos reunir durante a vida. Esse egoísmo, claro, é a filosofia predominante no mundo e provém de Satanás, que desde o início busca promover a si mesmo. Satanás também procura fazer com que as pessoas olhem som ente para o presente em vez de pensar na eternidade. E por isso que, em 1 João 2.17, o apóstolo João nos lembra de que “o mundo passa [...] aquele, porém , que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. Portanto, Satanás procura alcançar seus propósitos ao tentar modificar nossas prioridades (primeiro eu) e nossa visão da vida (o mais importante é o aqui e o agora). Mas a verdade é que Deus deve vir primeiro, e a eternidade continua sendo o mais importante.” (RYRIE, 1925, p.155 e 156).

Mas Deus já anunciou que o mundo será julgado e terá fim. O sistema rebelde de Satanás terminará um dia. Nabucodonosor viu isso em um sonho interpretado por Daniel. Ele viu uma pedra (o reino de Deus) que destruiu a

estátua e tomou conta da Terra (Daniel 2.34,35-44). Esse evento é descrito em Apocalipse 17-19 e resumido em 1 João 2.17.

Quando o Senhor Jesus voltar, o reino de Satanás será substituído pelo reino de Cristo, que governará a Terra. E importante ressaltar que a arena da vitória de Cristo será a mesma em que Satanás estabeleceu seu reino, a Terra. No mesmo lugar em que Satanás reinava, Cristo sairá vitorioso (Apocalipse 5.10; 20.1-6).

A partir da queda, esse episódio onde Adão e Eva desobedeceram a Deus, toda a descendência de Adão, que inclui eu e você, nasceu separada de Deus (Romanos 3.23), a semelhança de Adão (Gênesis 5.3; 1 Coríntios 15.49). Nós nascemos pecadores em um mundo governado pelo Diabo (Romanos 5.19).

Após o episódio do dilúvio Deus disse:

“O SENHOR sentiu o aroma agradável da adoração e declarou a si mesmo: “Jamais amaldiçoarei a terra por causa do homem,

porquanto seu íntimo é completamente inclinado para o

mal, desde o nascimento. E nunca mais destruirei todos os seres nos quais há o fôlego da vida, como fiz desta vez.” Gênesis 8.21

Perceba que Deus disse que nós – seres humanos – somos inclinados para o mal desde o nascimento. E não há dúvidas que o Diabo colabora muito para que isso aconteça. Para entender como ele faz isso, precisamos entender qual a situação atual do Diabo: onde ele se encontra, o que ele sabe e o que ele pode fazer.

SITUAÇÃO ATUAL DO DIABO

Algo muito difundido é que o Diabo se encontra no inferno, rodeado por demônios. A Bíblia nos ensina que o destino do Diabo é o castigo eterno no inferno. Veja:

“Mas o Rei ordenará aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos! Apartai-vos de mim. Ide para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos”

Mateus 25.41

Entretanto, as Escrituras nos mostram que ele não está lá agora – mas que na verdade circula pela terra. No livro de Jó percebemos isso:

“Certo dia os anjos, isto é, os filhos de Deus, vieram apresentar-se perante Yahweh, o SENHOR, e Satan, o Acusador, aproximou-se também junto com eles. Então Yahweh questionou a Satanás: “De onde vens?” E Satanás deu-lhe a seguinte resposta: “De perambular pela terra e ir e vir pelos caminho do mundo!” Jó 1.6-7

Ele atua também nas “regiões celestiais” (2 Tessalonicenses 2.18; Mateus 4.1; Marcos 4.15), sendo chamado de “príncipe das potestades do ar” (Efésios 2.12). No entanto, isso não significa dizer que ele é onipresente, pois não está em todos os lugares ao mesmo tempo. É muito poderoso, mas não é onipotente (Judas 1.9), existem coisas que ele não pode fazer (Tiago 4.7), e só pode agir dentro do limite estabelecido por Deus (Jó 2.6).

Também não é onisciente, pois não sabe de todas as coisas (Provérbios 21.30) Ainda sim, é um ser milenar, que conhece a Bíblia e acompanha a história da humanidade desde o início (Mateus 4.6; 1 João 3.8). Ele raciocina, pensa, age e se aprofunda em deturpar a verdade – a fim de enganar e manipular o homem (1 Timóteo 3.7; 2 Coríntios 11.3).

Mas se ele não é onisciente nem onipresente, como ele sabe detalhes de cada ser humano que vive na terra? A resposta está na existência de demônios. Os anjos que caíram com Satanás, agora são demônios que atuam sob seu governo (Mateus 12.24-26; Apocalipse 12.7).

Inclusive, esses demônios – assim como no caso dos anjos de Deus – se organizam em hierarquia, existindo alguns menos outros mais poderosos (Mateus 12.43-35; 17.21; Colossenses 2.15). Por serem numerosos, a impressão que fica é que o Diabo é quase que onipresente (Lucas 8.30).

Segundo Savioli (2018) a forma de atuação desses demônios é bem variada, podem trabalhar tanto na base da influência – através de pequenas sugestões (1 Crônicas 21.1 – como podem até mesmo possuir o corpo de uma pessoa (Lucas 22.3; Marcos 1.23-26; Lucas 9.38-42), causar enfermidades (Lucas 13.11), curar enfermidades para produzir o engano (2 Tessalonicenses 2.9), induzir comportamentos, oprimir e até mesmo matar uma pessoa (Atos 5.3; Mateus 16.23; Atos 10.38; Mateus 8.28).

Vale lembrar que tudo isso é feito – preferencialmente – de maneira oculta, para que nem a pessoa afetada saiba que está agindo sob a influência de um ou mais demônios. É como Savioli (2018) acoplado a 2 Coríntios 11.14-15 diz: “A principal estratégia do Diabo sempre será a de permanecer oculto” E o que ele ganha com isso? Qual o objetivo dele com isso? Primeiramente vale lembrar que o Diabo é homicida, odeia o ser humano e tem prazer em nos causar sofrimento (João 10.10; Lucas 13.16). Em segundo lugar ele já está condenado, e lhe resta pouco tempo (Apocalipse 12.12).

Sendo assim, todo seu esforço está em levar o homem para a mesma condenação: a eternidade no inferno (Apocalipse 20.10). A principal forma de atuação e influência do Diabo – como já dito antes – é o engano. Não existe outro ser no universo que supere o Diabo na arte de convencer as pessoas a acreditarem na mentira e desprezarem o conhecimento da verdade, ou seja –desprezarem o conhecimento bíblico (2 Timóteo 2.25-26; 2 Tessalonicenses 2.8-12; Apocalipse 12.9). Para tal ele promove a idolatria, usando de:

1 - Falsas religiões: A fim de competir com Deus pelo domínio do mundo, Satanás, a quem Cristo chamava "o príncipe deste mundo", viu-se forçado a entrar no "mundo" da religião (João 14.30; Josué 24.2). Embora expulso do Jardim, o homem trazia ainda uma consciência de Deus em seu coração e a estratégia de Satanás era desviar essa fome inata, afastando-a do Senhor Deus. Assim teve lugar o aparecimento do que chamamos religião falsa, falsificada ou naturalista – e sua história é comprida e trágica. Billy Graham (1968) em seu livro “Mundo em chamas” explica:

“A Bíblia diferencia claramente entre a fé verdadeira e a mera religiosidade e nada poderia estar mais errado do que o surrado refrão onde se diz que qualquer religião é boa, desde que a pessoa seja sincera. Em nenhuma outra área da vida encontramos tanto erro, tanto engano e charlatanismo como na religião.” (GRAHAM, 1968, p.101)

Os dois sacrifícios, fora do Éden, exemplificam a diferença entre a religião verdadeira e a religião falsa (Gênesis 4.1-8). Um deles pertencia a Abel, que era pastor de ovelhas, trouxe o primogênito de seu rebanho como oferenda ao Senhor Deus. Ofereceu-o com amor, adoração, humildade e reverência, e a Bíblia nos diz que o Senhor se agradou de Abel e de sua oferta:

“Abel, por sua vez, ofereceu as primícias e a gordura de seu rebanho. Ora, o SENHOR aceitou com alegria a Abel e sua oferta.”

Gênesis 4.4

O outro pertencia ao irmão mais velho, Caim, que era agricultor, que trouxera “alguns produtos do solo”, e a Bíblia nos diz que de Caim e de sua oferta Deus não se agradou:

“Passado o tempo, Caim apresentou alguns produtos do solo, em oferenda ao SENHOR. Todavia, não se agradou de Caim e de sua oferenda; e, por esse motivo, Caim ficou muito irado e seu semblante assumiu uma expressão maligna.” Gênesis 4.3,5

Agora por que o Senhor não aceitou a Caim e sua oferta? Afinal de contas, Caim não estava igualmente tentando agradar a Deus, e não se apresentava com sinceridade perfeita? Graham (1968) explica que essa narrativa foi colocada na Bíblia a fim de ensinar que existe um modo certo e um modo errado de entrar em contato com Deus.

Abel fez seu sacrifício humilde e reverentemente, com espírito de sacrifício, trazendo a Deus o que de melhor possuía, as primícias e a gordura de seu

rebanho. Caim fez a sua oferenda de má vontade, com egoísmo e de modo superficial. Vemos isso quando Deus diz:

“Então o SENHOR abordou Caim: “Por que estás furioso? E por qual motivo teu rosto está transtornado? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não fizeres, sabe que o pecado espreita à tua porta e deseja destruir-te; cabe a ti vencê-lo!” Gênesis 4.6-7

Quando Deus não sancionou e abençoou seu sacrifício, Caim se enfureceu e matou o irmão:

“Contudo, propôs Caim a seu irmão Abel: “Saiamos, vamos ao campo!” E, quando estavam no campo, aconteceu que Caim se levantou contra Abel, seu irmão, e o matou.” Gênesis 4.8

Abel amava realmente a Deus e O adorava. A adoração de Caim, no entanto, era religiosidade desprovida de sentido, tão vazia e oca quanto se tornou sua vida, depois disso. Deixando a família, andou pela terra amargurado (Gênesis 4.13).

Aí vemos o aparecimento de uma corrente de religiosidade, separando-se da torrente principal de verdadeira adoração do Senhor Deus. Por toda a história humana essa corrente está destinada a tornar-se um rio cada vez maior. O homem está eternamente hesitante entre o falso e o verdadeiro, entre a adoração de ídolos e a adoração do Senhor Deus, entre a sedução da religiosidade e o reconhecimento do claro ensinamento bíblico do caminho para a salvação.

No mesmo momento em que Moisés se achava no Monte Sinai, recebendo as tábuas da lei escritas pelo dedo de Deus, a religião humanista irrompia no campo de Israel. O povo disse a Arão:

“Vamos, faze-nos deuses que vão à nossa frente, porque a esse Moisés, a esse homem que nos fez subir da terra do

Egito, não sabemos o que lhe aconteceu!” Arão consentiu e orientou-os: “Tirai os brincos de ouro das orelhas de vossas mulheres, de vossos filhos e filhas, e trazei-mos!” Então todo o povo tirou das orelhas os brincos e os entregaram a Arão. Este, recebendo-os das suas mãos, os fez fundir em um molde e fabricou com esse ouro derretido uma estátua em forma de bezerro. Então o povo exclamou: “Esta é a figura dos nossos deuses, ó Israel, que vos tiraram da terra do Egito!” Êxodo 32.1b-4

Com a continuação do tempo, outros afluentes idólatras vieram a desaguar no curso principal da religião: Baal, o “deus” das tribos de Canaã, Quemos, o “deus” dos moabitas, Dagom, o “deus” dos filisteus, e Moloque, “deus” dos amonitas (1 Reis 18.28; Êxodo 5.17; 1 Samuel 5.2; Jeremias 32.35). Cole (2004) escreveu:

“Satanás tenta competir com Deus e é um falsificador de Suas obras. Portanto, podemos esperar encontrar nas religiões pagãs imitações em vários aspectos de seu caráter e governo.” (COLE, 2004, p.15)

Satanás tem influenciado homens e mulheres ao longo dos anos para criarem falsas religiões (Ryrie, 1925). Essas religiões ensinam que o sacrifício do Salvador não valeu nada, que a salvação é por obras e ensinam uma ética libertina, contrariando os ensinamentos bíblicos (1 João 4.1-4; 1 Timóteo 3.164.3; Apocalipse 2.20-24).

Se relacionássemos nominalmente todos os “deuses” da história humana até os dos dias atuais, seria necessário um grosso volume para reproduzir a lista. A afirmação implícita numa falsificação ou contrafação é que existe a coisa verdadeira, que se pretende imitar ou falsificar. Ninguém jamais falsificou uma nota de três reais, pois notas desse valor não existem (pelo menos por enquanto).

Toda a falsificação dá testemunho da realidade e existência daquilo que se tenta igualar e assim, em meio a todos os planos e programas que os homens

imaginaram para satisfazer seu impulso religioso, a religião verdadeira existe e está ao alcance de todos que desejem vir a Deus, mas sob as condições dEle (João 3.16; Mateus 7.13-14).

2 – Em relação às nações:

Em Daniel 10.13 vemos a seguinte situação:

“Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias. Então Miguel, um dos príncipes supremos, veio me ajudar a vencer o inimigo, porquanto não pude mais continuar ali com os reis da Pérsia.”

A Bíblia relata que o príncipe do reino da Pérsia resistiu à vinda de um anjo bom que levava uma mensagem para Daniel. Esse príncipe, por sua vez, foi resistido pelo arcanjo Miguel, indicando que o príncipe devia ser um demônio poderoso. Nolasco (2011) explica esse versículo:

“Durante a oração de Daniel, os anjos de Deus foram enviados para cumprir o propósito do Senhor, mas os demônios que atuavam nos reinos do mundo tentaram impedir a ação dos anjos. Para cada lugar do mundo, o inimigo envia espíritos territoriais como ‘padroeiros’, e Deus envia seus anjos para combater, quando o povo de Deus se coloca em oração. Estes

espíritos territoriais fazem com que exista um problema mais evidente em cada lugar, por exemplo: vícios, violência, prostituição, inveja, idolatria, mentira, etc. Por isso existem lugares em que um tipo de problema se destaca, pois há espíritos malignos atuando naquele

território como um principado.” (Nolasco, 2011, p.1)

Aparentemente, existe uma guerra entre anjos e demônios que envolvem as decisões das nações da Terra. Enganar as nações é parte do plano mestre de Satanás, e ele usa os demônios para cumprir seu propósito. Em relação à política internacional, ele trabalha para que as nações se tornem cada vez mais idólatras, incrédulas, eróticas, homicidas, e cada vez mais hostis ao povo de Deus (Apocalipse 16.13-16)

3 – Em relação às pessoas:

- Eles trabalham para gerar aflição. Os demônios têm a capacidade de causar doenças físicas (Mateus 9.33; 12.22; 17.15-18). Eles também podem gerar distúrbios mentais (Marcos 5.4,5; 9.22; Lucas 8.27-29; 9.37-42). Podem estar envolvidos na causa da morte de certas pessoas (Apocalipse 9.14-19).

Entretanto, nem todos os problemas físicos e mentais resultam de atividade demoníaca. Na verdade, a Bíblia faz uma distinção das doenças naturais e as causadas por demônios (Mateus 4.24; Marcos 1.32,34; Lucas 7.21; 9.1).

- Eles trabalham para gerar perversão. O fato de os demônios também serem chamados de espíritos imundos demonstra que tudo o que eles fazem perverte o que é limpo, nobre e correto. Ryrie (1925) diz que os demônios desejam perverter as pessoas, fazendo com que se afastem do plano de Deus e adotem o plano de Satanás.

Às vezes, fazem isso promovendo um sistema doutrinário e um estilo de vida aparentemente benéfico para os seres humanos (1 Timóteo 4.1-3). Em outras ocasiões, promovem o mal e as atividades impuras9 (Deuteronômio 32.17; SaImos 106.37-39).

Entendido que a Bíblia é a completa Palavra de Deus e fonte de toda a verdade (2 Timóteo 3.16-17), ela se torna o único livro no mundo capaz de revelar de forma segura, todas as mentiras do Diabo (João 8.32). Por isso que uma de suas estratégias é fazer com que o homem não leia, não entenda, não creia e não pratique a Bíblia (Salmos 119.160; Tiago 2.26; Lucas 6.49).

A ação do Diabo é através da mentira (João 8.44)! Ele mente sobre a salvação pela fé em Jesus Cristo (Efésios 2.8), mente sobre o perdão de Deus (Efésios 4.32), sobre a ressureição dos mortos (1 Coríntios 15.12-17), sobre o juízo de Deus (Mateus 25.46) – ele mente sobre tudo!

Por causa do pecado, nossa condição natural já é a de condenação (1 João 3.18). Ele apenas tenta nos manter em uma condição em que nós já nos

9 A imoralidade dos cananeus parece apresentar fortes indícios dessa atividade demoníaca (Levítico 18.6-30; Deuteronômio 18.9-14).

encontramos (Marcos 16.16; João 3.19). Ele procura esconder de nós o amor de Deus e a salvação que há em Jesus Cristo (Atos 4.12; Hebreus 2.14-15; 1 João 4.16).

O que Diabo tenta ocultar de nós, Deus – em sua infinita sabedoria – já nos revelou em sua Palavra (1 João 5.11; João 14.6). Aquele que é absolutamente justo e perfeito em tudo o que faz, já julgou e condenou o Diabo (Salmos 92.15; Romanos 16.20), mas nos deu a possibilidade de reconciliação com Ele através da fé em Jesus Cristo (Atos 26.18; Colossenses 1.21).

Esse capítulo nos serve de base para respondermos uma das perguntas centrais desta obra: Por que existe tanta morte e tanto sofrimento no mundo?

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