74
2.5.3. PERDA DE MEMÓRIA POR TRAUMAS
As implicações de perda de memória por trauma estão relacionadas a um distúrbio caracterizado pela dificuldade em se recuperar depois de vivenciar ou testemunhar um acontecimento assustador. A condição pode durar meses ou anos, com gatilhos que podem trazer de volta memórias do trauma acompanhadas por intensas reações emocionais e físicas. Entre os sintomas estão pesadelos ou lembranças repentinas (flashbacks), fuga de situações que relembrem o trauma, reações exageradas a estímulos, ansiedade e humor deprimido. Estudos como o Trauma: o avesso da memória Maria Manuela Assunção Moreno e Nelson Ernesto Coelho Junior nos mostram como isso é possível. ‘’A memória, portanto, está na ordem da substituição, pouco guarda da percepção e do evento original. A noção de impressão, ou signo de percepção, alude à origem da memória, ao primeiro momento de elaboração mnemônico. As impressões são marcas de um processo energético, mas não podem produzir uma lembrança do acontecimento. Consideramos que o traumático deixa suas marcas sob a forma de impressões traumáticas, sinais de um processo energético aos quais uma qualidade psíquica rudimentar vem se ligar. O casal Botella afirma que: “Se há memória na neurose traumática, ela só é concebida enquanto memória sensorial, ou traço perceptivo, não tendo alcançado a qualidade de representação do traço mnésico” (2002, p.166). Retomando a concepção de Freud, os autores frisam outra distinção fundamental: o ‘tornar-se consciente’, no sentido de acesso à consciência dos ‘traços perceptivos’ desprovidos da qualidade de representação, se dá sob uma forma quase alucinatória próxima da dinâmica da neurose traumática, por meio do enlace da imagem e não da representação-palavra.
Sendo assim, é possível afirmar que as experiências traumáticas de um indivíduo são tão fortes que essas memórias se escondem no nosso cérebro, tornando as dificuldades de acessá-las. Mas que essas memórias suprimidas podem causar uma série de problemas psicológicos graves, desde ansiedade e depressão a desordens de estresse pós-traumático ou dissociativas. Como explica a Jelena Radulovic, professora da Universidade Northwestern: