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2.3. A NARRATIVA HERÓICA SERIALIZADA
de Zack Snyder por Joss Whedon, que teve a missão de mudar o tom do filme, mas que não teve sucesso da mesma forma. Apesar do sucesso de uns e dos erros de outros, a indústria do cinema dos super-heróis não para. Depois dos filmes supracitados, tivemos muitos outros lançamentos, como exemplos temos HomemAranha: Longe de Casa e Sem Volta para Casa, de 2019 e 2021 respectivamente, Viúva Negra também em 2021 e agora, recentemente uma nova versão do homem morcego em The Batman. E tudo isso tende a continuar, vem aí o multiverso do MCU, assim como novos filmes de Aquaman, Shazam e outros heróis da DC. Mas diante dos problemas da pandemia de COVID-19, que deixou os cinemas de todo o mundo fechados por cerca de dois anos. Os gigantes do entretenimento voltaram-se para um mercado em ascensão, as plataformas de streamings. Dessa maneira, Netflix, Amazon Prime Video, HBO Max, entre outras passaram a ser destinos de muitos super-heróis, sejam novos ou velhos conhecidos, em séries e lançamentos dos filmes.
2.3. A NARRATIVA HERÓICA SERIALIZADA
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Com as narrativas de Super-Heróis dominando as telas, grandes e pequenas, ditando tendências da cultura pop na última década, ao mesmo tempo, novas tecnologias surgiram e novos hábitos de consumo se criaram. Os quadrinhos se tornaram uma mina de ouro para explorar temas sociais, personagens e compartilhar universos. Com o streaming virando mainstream, o expectador virou uma criatura insaciável, precisando de cada vez mais conteúdo para consumir, numa velocidade cada vez mais rápida. Os filmes se tornaram serializados e as séries de TV cada vez mais cinematográficas. O formato de série possibilitou essa expansão e exploração de universos, aprofundamentos de personagens e longevidade de narrativas.
“Afinal as séries são a narrativa do século XXI. Elas são para o nosso século o que o romance foi para o século XIX e o cinema para o século XX”
(RODRIGUES, 2014, p.5).
Contamos histórias desde os homens das cavernas e através delas os mitos surgiram. Campbell afirma que foi quando nos demos conta da morte que nos
tornamos humanos. De lá para cá a narrativa foi se adaptando aos seus diversos ambientes, com a tecnologia avançando e possibilitando diferentes formatos. A câmera para TV só foi inventada em 1927. Levou-se muito tempo para que esse novo eletrodoméstico de fato fizesse parte dos lares, e até mesmo por parte da indústria foi considerada de menor valor e quase nenhum prestígio. Pensando que a ida ao cinema era um “evento”, o filme Cine Majestic (Frank Darabont, 2001) até brinca ao dizer que você não se arruma para assistir televisão, não põe as suas melhores roupas. E é justamente no cinema que a proposta de uma história contada de forma serializada surge e vai percorrer o caminho para ganhar a dimensão que tem hoje. Como as sessões entre os filmes eram em horas redondas, surgiu a necessidade de preencher esse espaço. Então em diferentes lugares do mundo, animações, esquetes, adaptações de folhetins e histórias de detetives ocupavam esse espaço. A TV foi ganhando seu espaço e se reinventando. Ganhou cores. Veio a tensão da guerra e o poder do audiovisual de ditar uma narrativa.
“A TV aos poucos deixou de ser um aparelho doméstico da segunda onda
da Revolução Industrial para se tornar o principal eletrodoméstico do lar, o maior meio de divulgação de notícias, alertas, ideias e produtos.”(CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021 p.26).
Até então, Jacqueline Cantore e Marcelo Rubens Paiva definem três eras de ouro da televisão, marcadas por uma guerra de domínio entre estúdios. Na primeira, iniciando nos anos 40, ABC, NBC e CBS dominam a TV aberta nos Estados Unidos, até o nascimento da Fox. As séries já dominavam horário nobre na época, pensando sempre num padrão publicitário como era no rádio, e alguns programas se destacando pela sua estranheza das tramas e pelos personagens complexos. Um exemplo é a aclamada The Twilight Zone, de Rod Serling, cujo o piloto foi escrito por Alfred Hitchcock. Na segunda Era de Ouro surge a TV a cabo e o público de nicho. A TV não está apenas na sala, se individualiza indo para os quartos. A mulher se emancipa. A TV paga tem uma censura mais branda quanto a nudez, por exemplo, do que a TV aberta. Quem não tinha TV a cabo poderia comprar ou alugar os DVD’s com todos os episódios, surgindo já um novo hábito. É dessa época Chumbo Grosso (1980) e Twin Peaks (1990). A terceira onda é marcada por séries que
revolucionaram o formato e pelo advento dos streams. Séries como Sopranos, Breaking Bad e Mad Man mudaram toda uma indústria com seus personagens complexos, contraditórios e moralmente duvidosos. A pioneira Netflix, responsável por mudar boa parte dos hábitos de consumo de toda uma geração, além da possibilidade de poder escolher o que quiser (produto), de onde quiser (plataforma TV, celular, Tablet) e quantas vezes quiser (consumidor), quebra o mercado ao lançar todos os episódios de uma temporada de uma só vez. Então, como dito, com o avanço da tecnologia e o aumento da velocidade da internet surgiu a possibilidade do chamado serviço on demand, sob demanda. Possibilitando assim ao usuário não mais ter de baixar o conteúdo antes de assistir. As plataformas de streaming de vídeo começaram a operar nos Estados Unidos a partir de 2006. No entanto, é somente a partir da década de 2010 que elas ganharam estrutura e adoção dos clientes, e conseguiram assim redefinir a forma pela qual muita gente consome conteúdo hoje. Segundo uma pesquisa liderada pela Finder, nosso país é o segundo maior consumidor de serviços digitais de transmissão do mundo. De acordo com os dados da pesquisa, cerca de 64,8% dos brasileiros afirmaram possuir ao menos uma assinatura de plataforma de streaming. A disputa entre essas plataformas está cada vez mais acirrada, e para um diferencial, algumas delas adquiriram os direitos de importantes títulos de superheróis. Em 2009, a Marvel foi adquirida pela Walt Disney. Logo com o lançamento do serviço Disney+, dez anos depois, em 2019, todos os títulos dos super-heróis da Marvel estão disponíveis no catálogo da plataforma. Além disso, séries originais da Marvel que fazem parte do MCU foram lançadas no Disney+. Temos Wanda Vision, Falcão e o Soldado Invernal, Loki, Gavião Arqueiro e recentemente Cavaleiro da Lua, todas dentro do universo Marvel e que inclusive a maioria conta com superheróis, e seus intérpretes, saídos dos filmes. Com isso, a Disney é um ótimo atrativo para os fãs de super-heróis e quadrinhos. Mesmo que você não saiba por onde começar, a plataforma tem nos filtros opções das fases dos filmes separadas, além também de uma ordem cronológica para ver na sequência. A Netflix, como pioneira das plataformas de streaming, já teve em seu catálogo títulos da Marvel, com séries originais como Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, o Justiceiro, entre outras. Além de ter séries da DC, como Flash,
Supergirl, Arrow, Legends of Tomorrow, tem também originais como Titãs e Gotham. Ainda possui séries de super-heróis originais como The Umbrella Academy, que retrata temas importantes como racismo, brutalidade policial, religião, drogas e temas LGBTQIA+. Netflix recebeu também recentemente a trilogia Blade da Marvel para se juntar à sua biblioteca. A HBO Max possui o acervo de filmes e desenhos animados da DC. Desde longas clássicos, como o primeiro Batman de 1989, até The Batman de 2022. Todos estão disponíveis na plataforma de streaming da Warner Média. Das séries atuais, podemos destacar Peacemaker, cujo personagem principal é derivado do filme O Esquadrão Suicida, de 2021. Com criação e direção de James Gunn, também diretor do filme, a trama conta com muita violência brutal, palavrões, sexo e nudez, num tom de humor crítico do anti-herói do lado B da DC. No entanto, embora exista uma variedade considerável de nomes no mercado, apenas algumas se consolidaram entre as mais populares, e, hoje, lideram os rankings de transmissão, assinaturas e rentabilidade. O que podemos prever no futuro é o crescimento e a exploração desse universo cinematográfico. Se com a jornada do herói possibilitamos entender a vida em si, que passamos por ela em diversos momentos, com o formato de séries podemos compreender melhor o ser humano e como as pessoas e suas relações mudam com o passar do tempo. Personagens que antes eram aliados, se tornam inimigos. Amadurecimento que surge e nos posicionamos de forma diferente diante de antigos dilemas, mas, como a vida é assim, novos dilemas são encontrados para amadurecermos novas partes de nós mesmos. Diferentes assuntos são possíveis de tratar numa série, ao contrário de um filme. Tendo um começo, meio e fim muito bem definidos, o personagem “resolve” as suas questões e se compara ao “felizes para sempre” dos contos de fada. Isso não acontece numa série. Além de adiar o
encontro com o vilão, o amadurecer, até mesmo a morte, até um ponto crítico e inevitável para que a história continue, a promessa que é feita quando o personagem é apresentado, podem durar anos. Outra possibilidade que uma série permite é a transição de protagonismo. Podemos inclusive matar um protagonista e seguir a história com outro. A ideia de que aquele personagem está seguro porque ele é o principal e vai sair dessa já não
tranquiliza mais o espectador, algo que séries como House of Cards, Game of Thrones e Doctor Who trabalharam de diferentes maneiras.
“Mata-se um personagem de front e se introduzem outros, quando quiser existe uma fonte inesgotável de atores, conflitos e tramas.”(MCKEE, 2017,
p.56).
Da mesma maneira, séries longínquas como Criminal Minds e Grey 's Anatomy tiveram recorrentes mudanças de cast por diversos motivos, desde confusão nos bastidores a desistência dos atores. Quando as séries começaram a ganhar tamanho espaço e as grandes estrelas das telas grandes passaram a migrar para esse novo formato, houve certa resistência do cast, já que poderiam ficar anos presos a um papel, ou marcados por determinado personagem. Esse preconceito vinha da própria Hollywood que inclusive tinha o Emmy - premiação da televisão - como uma versão brega do Oscar. O cenário mudou e as séries viraram uma companhia de longos anos, e com o avanço da tecnologia, em diferentes plataformas. Percebeu-se então o poder de mais horas para contar uma história, do que as duas horas que poderiam durar um filme. Começou o intercâmbio de atores e aproveitamento de formatos. Filmes que poderiam virar séries (Missão Impossível, As Panteras) e séries que poderiam virar filmes (Breaking Bad, Sex and the City). Peças de teatro e livros que poderiam virar séries (Fleabag e Bridgerton). No Brasil, há enraizado o hábito de assistir novelas. É importante ter bem claro a diferença de formatos entre novela, seriado e séries. Para tanto, uma novela é dividida em capítulos, e uma série em episódios. Um capítulo é um pedaço de um todo, como num romance, ainda podendo haver ganchos. Por outro lado, um episódio é algo “em si”, isto é, algo que tem começo, meio e fim, mesmo que possam ter causas que lhe antecedem e consequências posteriores. Na novela, temos muitos mais cenários e personagens para caracterizar os seus núcleos; na série construímos o que Sonia Rodrigues irá chamar de “Mundo Inconfundível”. Mantendo pontos recorrentes com o “Mundo Comum'' e “Mundo Especial” definidos na Jornada do Herói, esse ambiente é coeso com a narrativa,
amarrando seus personagens para que não possam sair, assim como o espectador,
no caso de um seriado, personagens e contexto não mudam, tendo cada episódio começo, meio e fim que não precisam ter continuidade entre si. Definindo então séries de TV:
São histórias que repetem uma mesma estrutura narrativa em episódios autocontidos, seriados. Ou são episódios em que a narrativa prossegue e não se encerra em uma única exibição, muitas vezes no formato cliffhanger (a tradução seria algo como se segurar em um gancho à beira de um abismo), isto é, uma situação limite de perigo em que um herói salva outros personagens. (CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p.21)
Apenas estudar narrativas não é o suficiente para escrever séries. É preciso compreender suas particularidades. No cinema, temos a atenção do espectador por duas horas. Esse é o tempo necessário para que o protagonista enfrente suas falhas e saia dessa jornada transformado. Numa série isso levará anos. Para tanto, o que Robert Mckee vem chamar de “ideia governante” e Sonia Rodrigues de “pensata”,
todos eles se baseiam em entender qual é o tema ou o princípio moral que irá guiar aquela narrativa. Não importa quantas temporadas venha a ter, a série pode até mudar de cenário, mas sua linha dorsal permanece. As convenções de beats, cenas e atos já conhecidas na dramaturgia para cinema, permanecem, mas elas são separadas em diferentes quadros, já que as séries contemplam temporadas. Novamente, o amadurecimento e/ou grande encontro são adiados ao máximo, e é aqui a grande oportunidade de explorar as diversas camadas do ser humano com o personagem. O que fascina nas séries são seus protagonistas, independente da trama.
Porque as séries fascinam? Porque na maioria das vezes elas contemplam as quatro camadas de conflito - física, social, interior e de relações pessoais - de forma equilibrada e com personagens complexos. E têm tempo para expandir suas camadas. Essa possibilidade foi explorada e se fortaleceu na virada do milênio, numa era da televisão. (CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p.35)
Uma série geralmente tem um caminho longo a percorrer, desde sua storyline, o que define sobre o que é a história em poucas linhas, até um roteiro propriamente dito. A prática do Showrunner e do writer 's room dão uma dinâmica de criação completamente única para as séries. Enquanto no cinema um roteiro é desenvolvido
e escrito de forma solitária, depois vendido e desapegado de seu criador, é o diretor quem vem empregar a sua visão sobre ele; nas séries o Showrunner geralmente é o criador e chefe da sala de roteiro. Para além disso, ele participa de todas as etapas, influencia no casting, está presente para não perder o “tom” do projeto. O roteiro de uma série é geralmente resultado do trabalho de um grupo de roteiristas, com diferentes bagagens, estilos, e visões de mundo para dar mais substância e camadas para o produto. O ego fica de fora e tudo é pensado em favor do que seria melhor para a série. Tais práticas ainda não são tão utilizadas no Brasil, algo que o país não é exceção.
Poucos países têm legislação ou sindicatos fortes para representar interesses da categoria, além de não ter a tradição de um agente como intermediário na negociação e de um roteirista como o chefe artístico de toda a produção. (...) Essas diferenças, aliadas aos orçamentos cada vez maiores das séries americanas, causam cenários cada vez mais desiguais entre a qualidade das produções americanas e no resto do mundo. (CANTORE E RUBENS PAIVA, 2021, p.112).
Voltando a estrutura de uma série, apesar de listar os “Gêneros do Cinema” em seu livro “Story”, vale lembrar novamente as diferenças entre os formatos, e Cantore e Rubens Paiva citam novas definições do mesmo autor, só que dessa vez específicas para série que ele compartilhou em seu seminário sobre Gêneros:
Podemos dividir as séries em seis tipos: Antologias: Episódios únicos e fechados ligados pelo tema através da temporada (como The Twilight Zone, Black Mirror, American Crime Story, American Horror Story). Minisséries: Episódios abertos levemente serializados em uma única temporada. Em geral são baseados em fatos reais, romances ou biografias (como Chernobyl, Sharp Objects, Band of Brothers, The Night Of, Manhunt: Unabomber e Unbelievable). Séries longas, possíveis de serem reprisadas: Episódios autocontidos, que se resolvem dentro do próprio episódio, sem arcos de temporadas (como Law and Order, CSI, Bones, Elementary, House, Grey’s Anatomy e Two and a Half Men).
Séries com arcos de temporada: Episódios abertos ou fechados, levemente serializados e ligados por um arco maior ao longo de diferentes temporadas (como Sex and The City, Veep, The Americans, Catastrophe, Brooklyn Nine-Nine, Blacklist e Stumptown). Séries que se encerram a cada temporada: Episódios serializados cuja história termina a cada temporada (como The Killing, Homeland, Stranger Things, Mindhunter, Homecoming e 24 horas).
Séries longas que não se encerram a cada temporada:
Episódios levemente serializados com várias temporadas (como Mad Men, The Sopranos, Game Of Thrones, Orange Is The New Black, O homem no castelo alto, The Deuce, Treme, This Is Us, The Boys, Breaking Bad e Boardwalk Empire). (CANTORE e RUBENS PAIVA, 2021, p. 84-85)
Sendo uma história serializada ou um episódio autocontido, uma série precisa ter seu gênero bem definido. Tratando-se aqui de gêneros narrativos, eles são ferramentas de antecipar, e consequentemente, concretizar expectativas do público.
Cada gênero impõe convenções no design da estória: cargas de valores convencionais no clímax” (MCKEE, 2017, p.93).
Sonia Rodrigues vai chamar isso de categorizar uma série e enfatiza a importância de tê-la bem definida, já que esses elementos pré-estabelecidos pelo gênero irão delinear a trama e posteriormente, impacta em como a série será vendida.
Uma policial que apanha do marido, tem conflitos com os filhos, vem de uma família de comportamentos abusivos não será necessariamente uma boa protagonista de um drama policial. Essa personagem pode estar mais para um drama familiar. (RODRIGUES, 2019, p.214).
No exemplo, não é porque a profissão da personagem é policial que a série será policial.
“O que vai definir categoria da série é o problema que o protagonista enfrenta” (CANTORE E RUBENS PAIVA, 2021, p.14).
Esses padrões que foram observados desde Aristóteles e aprimorados com o passar do tempo, os quatro gêneros básicos (Trágico Simples, Trágico Complexo, Cômico Simples e Cômico Complexo) chegaram a 25 diferentes gêneros e subgêneros classificados por Mckee. Estórias refletem sua sociedade e o indivíduo, e com o passar do tempo, além de sistemas que evoluíram com a prática, eles podem se fundir e mudar de acordo com diversidade de assuntos, ambientes, papeis, eventos e valores. São eles:
1. Estórias de amor 2. Filme de terror 3. Épico moderno 4. Faroeste 5. Filme de guerra 6. Trama de maturação 7. Trama de redenção 8. Trama de punição 9. Trama de provação 10. Trama de educação 11. Trama de desilusão 12. Comédia 13. Crime 14. Drama social 15. Ação/Aventura 16. Drama histórico 17. Biografia 18. Docudrama 19. Mockumentary 20. Musical 21. Ficção científica 22. Filmes esportivos 23. Fantasia 24. Animação 25. Filme de arte
Dentro de cada um deles é possível uma série de variações e combinações. De qualquer forma, o espectador de determinado gênero é um exímio conhecedor com extenso repertório. Fica a cargo do(s) roteirista(s) satisfazer a expectativa criada e ainda trazer elementos novos. Tais convenções mudam e evoluem junto com as mudanças da sociedade.
“Pois os gêneros são meras janelas para a realidade, várias maneiras para o roteirista olhar a vida” (MCKEE, 2017, p.98).
Aqui vamos nos ater ao item 13
13. Crime. Subgêneros variam primordialmente de acordo com a resposta para a seguinte pergunta: de qual ponto de vista enxergamos o crime? Mistério de Assassinato (PV do detetive-chefe); Caper (PV do chefão do crime); Detetive (PV do policial); Gângster (PV do mafioso); Thriller ou conto de vingança (PV da vítima); Tribunal (PV do advogado); Jornalístico (PV do reporter); Espionagem (PV do espião); Drama de Prisão (PV do prisioneiro); Filme Noir (PV de um protagonista que pode ser parte criminoso, parte detetive e parte vítima de uma femme fatale). (MCKEE, 2017, p.89).
Categorizar uma série e lhe atribuir um gênero é um desafio. Como dito, é possível uma série ter diferentes variações e combinações. A série Hannibal (NBC 3 temporadas), por exemplo, é classificada como terror psicológico, thriller psicológico, drama policial e thriller criminal. De qualquer forma, o gênero crime gira em torno de um ou mais assassinatos, a busca pela verdade ou prêmio, e a força da lei para punir o(s) culpado(s). Para melhor compreensão, também podemos observar e combinar características estabelecendo-as da seguinte maneira:
- Perícia:
Peritos usando apenas elementos de cenas de crimes ou análise de corpos para pegar os culpados. NCIS, CSI.
- Psiquê Criminosa:
Geralmente envolve a BAU (Behavioral Analysis Unit), ou Unidade de Análise Comportamental que é um departamento do Centro Nacional de Análise de Crimes Violentos do Federal Bureau of Investigation (FBI), que usa analistas comportamentais para auxiliar nas investigações criminais. Soluciona-se crimes com base na psique dos criminosos. Criminal Minds, MindHunter.
- Psicopatas:
Seguindo a linha do anti-herói, nessas histórias sabemos que os (as) protagonistas não são boas pessoas. Geralmente são muito carismáticos e o fato de matarem pessoas é compensado por algo que eles nos dão em troca. Dexter, que poderia ser uma série de perícia, é muito mais sobre ele fazer o favor de matar pessoas que ele sabe que são culpadas, mas saem impunes pela falha justiça. Dexter, Killing Eve.
- Os bandidos são os heróis:
Vemos os bandidos executando os crimes e torcemos fervorosamente por eles. A polícia não pode pegá-los. Fazem jogos com a força da lei para mostrar que estão acima dela. La Casa de Papel, The Blacklist. Não policiais que ajudam a polícia. Personagens protagonistas que não são oficialmente policiais, mas se associam a um detetive ou algo semelhante e passam a ajudar a solucionar crimes. Castle, Lúcifer.
- Detetive:
O mais clássico e conhecido. Um cruel crime, geralmente envolvendo assassinatos, faz com que um atormentado detetive precise lidar com seus próprios demônios e encontrar o assassino. The Sinner, Mare of Easttown.
- Super Detetives:
O poder de dedução e análise do detetive beira ao místico e sobrenatural. Sherlock, The Mentalist.