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ENTREVISTA COM O PROFESSOR DE PERCUSSÃO STEPHAN MÜLLER
A E D I Ç Ã O D A R E V I S T A O L H A S Ó ! E N T R E V I S T O U O P R O F E S S O R D E P E R C U S S Ã O S T E P H A N M Ü L L E R
Denise: Poderíamos começar tua entrevista com uma apresentação pessoal tua? Quem é o Stephan por ele mesmo?
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Stephan: Então, eu me chamo Stefan, eu nasci em Erfurt, a capital de Turíngia aqui na Alemanha. Agora eu estou morando em Leipzig, desde 2016. Fiz um mestrado em Viena na àrea de língua estrangeira, porém, antes disso tudo, (...) eu estudei e trabalhei no Brasil 2 anos e 1 semestre durante a minha graduação.
Denise: Em quais cidades brasileiras você esteve e por quanto tempo? Você lembra?
Stephan: (...) Entre 2006 até 2011 eu estudei alguns semestres em Belo Horizonte no Centro de Extensão da Faculdade de letras da UFMG (Cenex FALE), onde além de estudar, eu fiz estágio no qual eu dava aulas de alemão como língua estrangeira. E depois de concluir meu estágio em BH, eu voltei para Alemanha para terminar minha graduação. (...) Voltei ao Brasil e trabalhei por mais dois anos em Curitiba e em Belém do Pará.
Denise: Foram muitos anos de ponte aérea entre Brasil e Alemanha?
Stephan: (...) Sim, de 2010 até 2011, voltei em 2013 e fui para Curitiba. Em 2014, voltei para cá (Alemanha) e trabalhei por um ano dando aula de percussão de samba aqui. Entre 2015 e 2016, estive em BH, no Belém do Pará e em Curitiba.
Denise: E como surgiu teu interesse pela música e especialmente por percussão?
Stephan: (...) Foi totalmente por acaso. Não procurei e não tinha nenhum contato com a música brasileira, ouvia muitos estilos mas não tinha vontade de aprender sobre musicalidades brasileiras até que (...) a energia da percussão, da Batucada, me encantou muito. Então eu comecei a frequentar esses ensaios e era tudo novo e uma loucura para mim. Eu ia para dois ensaios por semana. E realmente me deixei levar por aquelas músicas dos ensaios. Elas me puxavam muito. Então de lá pra cá eu comecei (...) a ouvir música brasileira, e ouvia tudo em português, então tinha que aprender português mesmo (risos). Eu uni o útil ao agradável.



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Denise: Como foi o teu contato com os estilos de músicas das cidades que você conheceu?

Stephan: Lá em BH (...) fui para algumas apresentações de um cortejo de Maracatu, um grupo formado por mulheres. (...) Eu lembro muito bem dessa experiência. Eu nunca havia ouvido Maracatu de perto e foi muito impressionante. Não só a energia das mulheres e do batuque dos tambores mas também o canto das mulheres (...), sem dúvida foi uma experiência muito forte. Em Curitiba a galera não conversa muito sobre samba, mas lá eu conheci uma galera de um bloco que se chama Garibalde (...) já faz 20 anos que esse bloco existe e lá comecei a tocar ritmos carnavalescos de bloco de rua. Nesse grupo tive contato com mais instrumentos e comecei a estudar até ir me aperfeiçoando. Quando fui para o Rio de Janeiro, tive a oportunidade de estudar o samba dentro da escola de samba, lá junto com os percussionistas. (...) Na bateria de uma escola de samba você pode errar nos ensaios, mas a escola de samba não te permite errar na apresentação na avenida (no desfile de Carnaval). Num desfile tudo conta, vale ponto para escola e também tem muiro dinheiro envolvido. (...) Tem toda aquela pressão em cima da bateria.
Denise: Quando você começou a dar aulas de percussão?
Stephan: Eu faço parte de uma associação na Turíngia que tem grupos em Erfurt e (...) lá eu dou aulas e faço meus ensaios, e posso ganhar dinheiro com isso também. (...) Eu trabalho nas segundas e sextas-feiras. Na sexta, antes desse de dar aulas nessa associação, eu dou aula numa escola pública para alunos da 5ª série. É uma parceria bem legal com a escola e professores das ciências exatas, porque eles usam o samba como uma ferramenta para ensinar matemática.
Denise: No total você está dando aula de percussão há quantos anos? OLHA SÓ! | 48
Denise: E como foi para você trabalhar na pandemia com percussão. Foi possível ter aulas virtuais?
Stephan: Não tive muitas aulas. Eu gravei alguns vídeos para o pessoal estudar um pouco em casa, mas isso não é uma coisa muito muito legal, é uma situação muito louca. Então tive a ideia de ouvir música brasileira e reunir meus alunos uma vez por semana. Vi que meus alunos não escutavam música brasileira, e para tocar uma música você tem que escutá-la e se familiarizar com o estilo. Começamos a ouvir música brasileira e eu dava sugestões de como toca-las. (...) A gente ouvia a música juntos, eu compartilhava com um vídeo no YouTube e juntos falávamos sobre os estilos porque tem tantos estilos musicais no Brasil, tem tanta música diferente. E algumas músicas nos fizeram conversar sobre questões sociais e outro assuntos importantes.

Denise: Você tem ido ao Brasil?
Stephan: Não voltei mais para o Brasil, mas eu tenho planos de fazer uns trabalhos por lá em breve. Porém, no momento, devo me estruturar por aqui mais um pouco. Eu tenho saudades do Brasil e das pessoas que conheci por lá. Queria voltar para visitar (...), quem sabe no ano que vem? Seja o que Deus quiser, né? Espero que o Brasil tenha um governo novo e que tudo possa estar um pouco mais tranquilo outra vez.



Fotos: https://www.escola-popular.de/blog/