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ENTREVISTA COM A CANTORA SUSANNA SHARPE
A EDIÇÃO DA REVISTA OLHA SÓ! ENTREVISTOU A CANTORA SUSANNA SHARPE
Foto de Brenda Ladd
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Foto de Susanna Sharpe

Foto de Susanna Sharpe

Denise: Como começou a sua relação com a música?
Susanna: A minha relação com a música começou desde a minha infância. A minha mãe foi cantora e compositora, e meu pai tocava violino em casa. A minha mãe sempre cantava comigo. Além disso, ela tinha um repertório em vários idiomas, então eu sempre tinha essa ideia que se podia cantar em qualquer língua.

Denise: Quando o idioma português entrou na sua vida?
Susanna Eu tinha pouca consciência do português até entrar na universidade. Eu já tinha um grande repertório em espanhol, porque eu falava espanhol e tinha vivido um tempo no Mexico. Eu conheci um amigo que era do Rio. Ele tocava violão e me ensinou umas músicas, e eu acho que ele me deu um disco da cantora Zélia Barbosa com músicas de protesto. Comecei ter curiosidade. Mas na universidade, o meu namorado me deu um ou dois discos do Chico Buarque. Eu lembro a minha reação ao ouvir as primeiras notas da música “Ela desatinou. ” Como dizemos em inglês: “I was hooked. ” Uma coincidência: A minha mãe, sendo também compositora de letras para músicas, tinha colaborado com os músicos brasileiros Luiz Henrique e Walter Wanderley, quando eu era criança. Ela escreveu versões de duas canções para um disco deles chamado Popcorn, para o mercado norte-americano. As músicas chamam-se “Blue Island” e “Dusty Road. ” Mas de criança, eu não tinha ideia nenhuma da música brasileira.
Denise: Quando você começou a pensar em projetos musicais em português?
Susanna: Acho que comecei incorporar algumas músicas brasileiras no meu repertório durante a universidade, mas eram poucas, OLHA SÓ! | 41
só músicas que eu podia tocar com minha técnica meio básica no violão. Quando me mudei para Austin, me juntei ao Brazilian Ensemble da escola de música da UT, e aprendi a tocar alguns instrumentos de percussão e a cantar algumas músicas com esse grupo. Depois, em 1986, fui convidada para cantar numa banda, Quizumba, que era talvez a primeira, ou entre as primeiras bandas, de música brasileira na cidade. Eu entrei como “substituta” porque o cantor tinha saído. Mas eu gostei tanto que fiquei. Essa banda tocava toda quarta-feira num clube no centro de Austin e foi um show amado por muita gente. O lugar ficava lotado com pessoas dançando até uma ou duas horas da manhã. Alguns anos depois, em 1988, eu fundei uma banda chamada Susanna Sharpe and Samba Police. Essa banda tocava música brasileira de vários tipos, principalmente para dançar, e durou até o ano 2000. Depois disso, continuei apresentando shows de música brasileira, além de música em espanhol, com vários músicos excelentes em Austin.

Denise: Como nasceu o projeto musical que é apresentado no seu quintal, na frente de sua casa?
Susanna: Essa é uma linda história. Mais ou menos no final de abril de 2020, depois de umas 6 semanas de lockdown, de medo, de confusão e isolamento, que vivemos no começo da pandemia, eu estava sentada no meu quintal com uma vizinha, bebendo uma Margarita (comprada de outra vizinha que fez um “side business” para vender Margarita. A vizinha viu o meu filho, Paulo Santos, um saxofonista, e pediu pra ele trazer o saxofone pra alegrar a nossa tarde. Na época, o Paulo era estudante da UT Butler School of Music. Ele foi pra casa dele, depois da vizinha insistir, e trouxe o grande sax, e fez para nós um show de uns 20 minutos de jazz, com improvisação. Já tinham chegado vários outros vizinhos com suas cadeiras, para ouvir a música. Eu já estava um pouquinho alegre por causa da Margarita, e falei “Que tal se a gente fizer um show aqui no quintal semana que vem? Chama o teu amigo que toca piano, e eu lhes pago!” O Paulo aceitou, e assim, fizemos o primeiro show no quintal, que foi livestreamed pelo Facebook, com o pianista Thomas Wenglinski. Depois de ver que os vizinhos tinham interesse e vontade de assistir shows, a gente começou chamar vários músicos e tentamos oferecer uma variedade de estilos, inclusive música brasileira. O público cresceu, e era tão generoso que os músicos ganhavam muito bem tocando no quintal, numa época em que os gigs tinham quase acabado. Este ano pensamos continuar com os shows.
Denise: É um grupo composto por? É uma banda fixa ou rotativa?
Susanna: A banda que tem tocado comigo recentemente está composta por: Marco Antonio Santos (violão, guitarra elétrica, arranjos); Juliana Silveira (teclados); Fabio Augustinis (bateria); Sergio Santos (percussão); Paulo Santos (saxofone); Ben Bradshaw (baixo); Susanna Sharpe (vocais).
Denise: Membros da sua família também são músicos e tocam no mesmo grupo?
Susanna: O Paulo é meu filho e o Sergio é meu esposo. Sergio e eu tocamos juntos desde os anos da UT Brazilian Ensemble, e ele sempre tocou comigo nas bandas que eu tive. OLHA SÓ! | 42
Denise: E os vizinhos? Foi tranquilo desde o início com eles ou já tiveram reclamações? Como foi resolvida questão?
Susanna: Nunca tivemos problemas. Até chamam amigos para assistir os shows. Às vezes as crianças andam de bicicleta na rua durante o show. Uma família falou para mim que o filhinho deles nunca tinha ouvido música ao vivo. Muitos vizinhos chegam para mim para agradecer, me deixam recados, etc. O show é de uma hora e acaba na hora do pôr do sol, então nunca tivemos reclamações. E temos uns vizinhos que são dançarinos de “tap, ” e eles fizeram uma performance uma vez que foi lindo.
Denise: O projeto tem um nome? Como nasceu a ideia do nome?
Susanna: O projeto dos shows no quintal tem o nome Karen Avenue Quarantine Concert Series. A minha banda não tem nome, então tenho chamado-a de Susanna Sharpe: Brazil Night.

Denise: As apresentações são gratuitas?
Susanna: São gratuitas, mas eu convido o público a dar gorjetas. Até hoje, as gorjetas têm sido tão generosas que nunca tive que pagar a banda (além da primeira vez, quando o show foi bem pequeno). Mas quero dar ênfase: os músicos não tocam de graça e não deveriam tocar de graça. E seu eu fosse dona de um bar ou um clube, eu nunca pediria para eles só tocarem por gorjetas. Uma das musicistas falou pra mim: “It’s the most wholesome gig in Austin. Susanna: Eu, com Brazil Night, vou fazer um show no Central Market dia 25 de março. Também gravamos um livestream no Monks Jazz, que está na YouTube aqui: https://www.youtube.com/watch? v=5kTWppNrbvU
Denise: Já gravaram CDs?
Susanna: Com este grupo, ainda não.

Foto Susanna Sharpe

Foto Susanna Sharpe